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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sobre o Parasamba e o direito a desfilar


Coisas das sociedades e organizações sociais
O parasamba

A Rede Globo sempre se posicionou pelos movimentos sociais, pela politicamente correto, embora no campo da política sempre haja quem pense que está do lado “errado”. Minha referência  à Rede Globo no contexto do título desta postagem, tem seu sentido, porque são poucos os atores e atrizes negras em seu elenco, jornalistas em seus jornais de notícias, deficientes físicos em suas reportagens de rua... Ela terá certamente os seus motivos e explicações se desejar explicar...

Entidades internacionais fundaram os jogos paraolímpicos, que tantas medalhas têm dado ao nosso Brasil, e que abriu um corredor imenso na divulgação das necessidades que as sociedades têm para com os seus deficientes visuais, paraplégicos, deficientes físicos em geral.

As ruas e praças do nosso Brasil mostram que  prefeituras, governos ainda não deram a atenção suficiente porque os passeios públicos estão intransitáveis para cadeiras de rodas e invisuais,  até mesmo para quem não têm deficiência física.

Mas o que não entendo são escolas de Samba desfilando na avenida sem que deficientes físicos façam parte de suas alas.

Não acredito que deficientes físicos não gostem de sambar. Estarão as escolas de samba descriminando os seus cidadãos?

Ou samba só vale se for “samba no pé” ?

Que sociedade somos esta ?

Rui Rodrigues

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Malvinas (complementando a atualidade)





Malvinas
(complementando a atualidade)


As Ilhas Malvinas, ou Falkland, têm petróleo. É natural que tanto a Inglaterra quanto a Argentina pugnem pelo seu controle e domínio, porque a ocupação humana das terras deste planeta sempre foram disputadas desde o surgimento das civilizações.

Vivem lá súditos britânicos, com residência fixa, e em dois arquipélagos adjacentes habitam cientistas. È perfeitamente possível que em 1982 os britânicos já soubessem da existência de petróleo. Nesse ano a argentina era apoiada politicamente pelos EUA, que na ocasião apoiavam e incentivavam todas as ditaduras da América do Sul, através de operações como a CONDOR, e de outras influências políticas e comerciais. De qualquer forma, excluindo atos de loucura de uma junta militar, a ocupação das Malvinas pode ter tido uma promessa americana de “interceder” pelos interesses argentinos junto ao governo britânico liderado por Margareth Thacher. A Argentina era governada na ocasião por uma junta militar. Não importavam quem fossem os presidentes, os atos foram sempre matéria de junta militar. É inadmissível pensar que a poderosa Grã-Bretanha permitisse a transferência da ilha para a geografia argentina, sem resistência ou revide, depois de uma ocupação militar sendo ano de eleições no Reino Unido.  Argentina e EUA faziam parte de dois tratados: a OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte e a TIAR – Tratado Interamericano de Ajuda Recíproca. Os EUA decidiram apoiar a Grã-Bretanha por muitos motivos previsíveis, dentre eles os laços que unem estas duas nações - que já foram colonizador e colonizado - mas que por questões de segregação racial, mantiveram a tradição, os laços familiares e a cor da pele da classe dominante nos EUA.

Os antagonismos entre Argentina e Reino Unido não são de hoje. Já em 1806 a Grã-Bretanha bombardeara Buenos Aires como atividade da expansão do Império Britânico.  As causas dos atritos remontam também à expansão do território brasileiro apoiado por aliança entre Portugal e Inglaterra desde 1373- a aliança mais antiga do mundo. A América do Sul, por suas riquezas e esperanças de desenvolvimento como uma grande nação, foi sempre do interesse das influências das maiores potências. Como Inglaterra e Espanha já disputaram o poder na Europa envolvendo-se em guerras, esta disputa de certa forma foi trazida pelos primeiros colonizadores espanhóis e portugueses que já disputaram o mundo.

A assembléia da ONU já tratou da questão das Malvinas em 1965, quando adotou a resolução 2065 (seguida por outras), reconhecendo a existência de uma disputa de soberania entre Argentina e Grã-Bretanha e instando as duas partes a buscar uma solução negociada e pacífica. Na Assembléia, não existe direito a Veto. Com o envio de um navio de treinamento de guerra inglês às Malvinas em fevereiro deste ano, a presidente da Argentina Cristina Kirchner levou novamente o problema à Assembléia Geral que reabre em Setembro.

Não teremos uma nova guerra das Malvinas, certamente, mas temos certeza que a ONU continuará no seu caminho descendente de credibilidade por parte da comunidade internacional em resolver conflitos mundiais entre países com sociedades que possuem uma relativa dose mínima de educação e conhecimento... Ou têm o poder de dizer não a todo e qualquer organismo das Nações Unidas.  Já vimos antes a Sociedade das Nações acabar de forma abrupta e melancólica.  

Rui Rodrigues

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Um olhar cidadão sobre a greve dos policiais



Um olhar cidadão sobre a greve dos policiais

Até um sacerdote é, antes disso, um cidadão perante o Estado e a Nação. Muitos acham que Estado e nação são a mesma coisa. Seria, sim, se o governo da nação representasse os cidadãos. No entanto, atuam sem consultar os cidadãos, porque crêem ou pressupõem que têm o poder de pensar, adivinhar, julgar, saber ou inventar o que o povo deseja. Na minha modesta opinião somente pode haver certeza de saber o que os cidadãos desejam, perguntando a todos, um a um. Como não se pergunta aos cidadãos, a Nação é o conjunto dos cidadãos, e o Estado, é a Nação acrescida dos governantes e terceirizados, e de todos os que dependem de pagamentos ou favores do governo.

Sacerdotes, médicos, dentistas, engenheiros, fiscais, bombeiros, garimpeiros, atacadistas, comerciantes, embarcados, militares, encanadores, carpinteiros, varredores de ruas, empregadas domésticas, doutores, juízes, vereadores, senadores, deputados, presidentes da república, vice-presidentes, governadores e ministros... E todo e qualquer ser humano que viva no país e dele faça parte, é um cidadão, parte da nação, com os mesmos direitos, ou quase... Há restrições...

Policiais e membros das forças armadas não podem fazer greve...

Então, já não são cidadãos por completo... Falta-lhes algo: O direito de proclamarem sua insatisfação, por exemplo, com os salários.

Vemos vereadores, deputados, senadores... Juízes... Imaginem!... Aqueles que estão no topo da lei, fazendo e aprovando leis, dizendo-nos o que é moral e imoral... Votando os próprios salários... E como votaram!

Pelo amor de Deus... SE não tivessem esses cargos tão altos, poderíamos jurar que não sabem nada de matemática, porque se deram aumentos de centenas por cento e ganham hoje fábulas de dinheiro, mensalmente, dignas de contos das mil e uma noites...

Que dispositivo legal se implementará para que policiais e membros das forças armadas possam reivindicar melhorias de qualquer espécie, como qualquer cidadão?

Com que moral se pode exigir de um militar ou membro das forças armadas que engula o salário que lhes dão e os benefícios que lhes dão, e fiquem calados, inertes, obedientes, e sobretudo dedicados com prazer às suas funções ?

Pra nós cidadãos, como nos sentiremos com uma força policial e militares que estão insatisfeitos com a vida?

Inseguros!
Se todos nós estivéssemos insatisfeitos, diríamos a esses militares para se calarem e pararem de fazer greve porque todos nós estaríamos também no mesmo barco, sofrendo do mesmo mal que enfrentaríamos como nação...

Mas como sabemos, há gente, toda ela do governo, que não está no mesmo barco. Esses, não têm o salário que merecem.

Esses têm o salário que querem!.

Temos duas nações convivendo na mesma nação: a Nação dos que governam, e a grande nação do povo brasileiro, que assiste à deterioração cada vez maior da ética, da moral e do conceito de democracia.

A ditadura voltou. Não aquela das velhas ideologias, mas a que busca lucros, boa vida, prazer, poder...

Bem a propósito, onde anda o ministro das forças armadas que até agora não apareceu na cena? Aquele que se veste com gravatinha borboleta, como os dandys nos anos 60, época de revoluções socialistas, pregando a igualdade e a liberdade para os cidadãos, além de uma vida melhor?

Rui Rodrigues

Você é rico pobre ou miserável? - (Decida...)


VOCÊ É RICO POBRE OU MISERÁVEL? – (Decida...)

Ouvimos falar muito sobre pobreza[1], mas na realidade boa parte da humanidade não sabe o que ela realmente é, como é produzida, e, pior ainda, a propriedade a confiabilidade e a veracidade da definição de “pobre”.

Para o Banco Mundial, pobre é todo aquele que vive com menos de 1 USD (Um dólar norte americano) por dia, embora hajam outros índices que completam a definição de pobreza. Sabendo-se que o custo de uma passagem de Ônibus anda á volta desse valor, constata-se facilmente que um trabalhador iria trabalhar mas não poderia pagar a passagem de volta: Esse dólar por dia só seria suficiente para pagar a passagem de ida. Além disso, não teria dinheiro para roupas, residência, água, energia elétrica, alimentação, diversão.

Mas quem é o Banco Mundial?

O Banco Mundial é uma instituição financeira internacional que fornece empréstimos para países em desenvolvimento para programas de capital. Financiado pelos países mais ricos do planeta, cobram juros, é um grande negócio.
O Banco Mundial é composto por duas instituições: o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e a Associação Internacional de Desenvolvimento (AID). O Grupo Banco Mundial abrange estas duas e mais três: Sociedade Financeira Internacional (SFI), Agência Multilateral de Garantia de Investimentos (MIGA) e Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (CIADI).
Com o limite tão baixo do valor que define como necessário para que se deixe de ser pobre, repito, um miserável dólar por dia, os pobres deixam de ser pobres, pagam imposto de renda, as estatísticas desses países melhoram no conceito mundial, os governos ficam satisfeitos, o Banco engole bilhões de dólares de lucro dos investimentos, lucro esse que cresce a uma taxa média de 20% ao ano... Grande negócio!

A definição de pobreza do Banco Mundial é uma mentira!

A definição pode servir isso sim, para estabelecer um limite á miserabilidade, mas falta o limite superior que defina o que é “não ser pobre”. Quem vive com até um dólar por dia vegeta nas ruas de cidades dormindo no chão, não se locomove, ficando sempre no mesmo bairro, e gasta esse dólar em um pão e uns goles de cachaça para esquecer que é miserável... Basta andar pelas ruas de Paris, Nova York, Rio de Janeiro, S. Paulo, e nem vamos falar nos países asiáticos, do Oriente Médio, nem de África...

Seria razoável definir a pobreza de outra forma: por País, em razão de um salário mínimo regional, o que ficaria mais próximo da realidade. Salário mínimo é o mínimo para não morrer de fome e se sustentar a si mesmo.

As cifras atuais de pobreza, com base no Banco Mundial são de cerca de 1.100.000.000 de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia, e cerca de 2.700.000.000 de pessoas que vivem numa “pobreza moderada” porque ganham menos de dois dólares por dia (3,4 reais, o que coloca todos os que vivem no Brasil com um salário mínimo como “pobres moderados”).

Mais razoável seria dizer que pobre é todo aquele que ganha até 3 dólares por dia, e nesse caso teríamos cerca de 4.000.000.000 de pessoas pobres no planeta, ou seja, sessenta por cento da população mundial é pobre...

Isso mesmo... O mundo é eminentemente pobre e miserável. Os índices que nos mostram são políticos de conivência com os governos. Bancos e governos dividem entre si o botim das verbas públicas e as aplicam como desejam. As propagandas que emitem regularmente visam tranqüilizar a população, como “conversa para boi dormir”.

Se quisermos acabar com este Status Quo da política internacional, devemos ter voz firme e ouvida nas Assembléias e parlamentos nacionais, através de voto pessoal e não representativo como tem sido em países que se “dizem” democráticos.

Isso se faz através da Democracia Participativa[2].

Não podemos esperar que governos “concedam” a seus cidadãos a prerrogativa de falar através de voto nas decisões mais importantes da nação, porque são enormes e ricos os interesses que motivam cidadãos a se candidatarem a falar, no governo, em nome dos cidadãos, mas vemos que usam seu poder para aumentar os próprios salários, dividir verbas, ocupar ministérios que fraudam descaradamente. Esses “representantes”, alguns ministros, aconselham presidências, como por exemplo, a “doar” verbas públicas a Bancos para “salvá-los” das crises – que não existiam, mas que por causa disso, apareceram.

A maioria dos ministros de economia dos países mais ricos veio de instituições bancárias. Isso não é por acaso.

Rui Rodrigues

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012



O que esperamos nós, amantes da ética, casados com a moral?


Parece que ser amante da ética é uma traição á moral com quem somos casados... Ou, se formos casados com a ética, uma traição ao sermos amantes da moral, mas ética e moral são irmãs gêmeas, habitando a mesma ilha de esperança onde vive a humanidade. Não fosse bigamia, para nossos padrões enrijecidos pela tradição, diríamos que seria legal – sob os dois aspectos- sermos casados com as duas...

Assim é na política e em seus efeitos sobre nossas vidas. Amamos a ética e a moral, mas vivemos numa ilha de esperança, cercados de amoralidade e falta de ética, num mar que nos assola as casas, nos destroça o futuro, nos rasga os desejos, nos come os ossos e bebe nosso sangue do nosso trabalho do dia a dia...

É assim que emprestam nosso dinheiro aos bancos sem vermos retorno; nos cobram juros exorbitantes e nos acabam com as economias de toda uma vida; que elegem ministros que roubam, distribuem verbas como lhes apraz, e se vão ilesos na moral e na ética porque na realidade nunca a tiveram, e sem a terem, não há o que perder; emprestam nosso dinheiro do BNDES para a compra de aeroportos que pagarão se não forem á falência, a titulo de melhor administração; dão aumentos a si mesmos, mas não aumentam os salários dos que trabalham, como se o trabalho de nada valesse, porque distribuí-lo lhes dá maiores benefícios; alteram a constituição e as leis para que não se possa saber o quanto se gasta e como se gasta para as obras da Copa e dos Jogos Olímpicos; permitem que se roubem remédios caríssimos e que independentemente do custo, faltem remédios e médicos para a saúde pública; com as verbas dos impostos, permitem que empresas de saúde privada usem os serviços de saúde pública, já deficiente; usam as verbas das aposentadorias para financiar projetos cujos lucros jamais veremos, afundando cada vez mais a possibilidade de aposentadorias tranqüilas depois de décadas destinadas ao engrandecimento da nação; dizem que greves são ilegais, as daqueles que justamente exigem revisão de seus parcos salários, enquanto outros, sem estar sujeitos à “legalidade” da greve, se aumentam regiamente.

Que engrandecimento é esse? Que democracia é essa? Que estado Novo é esse, o da Nação?

E dão-nos festas pagas com nosso dinheiro, trabalho a cargo de prefeituras, para que nos possamos distrair enquanto nos roubam... E distraídos fiquemos imbecilmente alegres e despreocupados olhando e ouvindo, embevecidos, as propagandas do governo dizendo que somos os maiores do mundo... E sem educação, conhecimento, cultura, são poucos os que percebem que em meia dúzia de anos, as obras deixaram de se fazer por milhões, para passarem a custar bilhões... Uma inflação que não se pode explicar se não usarmos as cifras da corrupção para efetuar o cálculo.

Os maiores do mundo, assim de repente?

Quem acredita nisso?

Nesse mar de marolas sutis e falsas, bordejando uma ilha de esperança, logo virão as ondas fortes e as bravas, aquelas que afundam a esperança.

Por esse tempo, muitos já terão ido à míngua, ainda sem educação e sem estudos, sem infra-estruturas, ainda sem nada do que nossas esperanças nos gritavam que era nosso direito... Deixamos a luta para filhos e netos, com essa imensa porcentagem de nossos jovens fora da escola? Sem educação, nossos jovens não mudarão nada. Serão escravos do sistema, tal como nós, vivendo falsas democracias.

Somos assim tão covardes?

Quem se move?



Rui Rodrigues

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Gostei!- Cadê o perfume novo?


Gostei! - Cadê o perfume novo?...

Os tempos daquela excitação animal, heróica, já se tinham ido sem quase nem sentir. Um dia seu pênis não ficou tão duro como antes, mas não deu muita importância, porque ainda funcionava. Atribuiu o fato à perda do apetite pela esposa, coisa natural, depois de tantos anos fazendo amor. Conhecia todos os aspectos da mulher com quem se casara, todos os recantos, todas as vontades, preferências, cuidados. Talvez esse conhecimento fosse a causa maior de sua perda parcial do apetite. Os carinhos, esses, sim, ainda tinham um valor maior, porque eram mais complexos, envoltos em muitos sentimentos, que não os de puro prazer pelo clímax do gozo.

Um dia saíra de casa com a cabeça cheia de minhocas de tristeza, aranhas de pensamentos de frustração pelo que a longevidade lhe trouxera, vivendo um mundo de saudades de sua juventude e adolescência. Macaquinhos pulavam agitados em seu cérebro, buscando a explicação da vida. Ainda se lembrava como costumava fazer amor muitas vezes sem amor, mas com uma vontade hercúlea de gozar, de sentir a umidade vaginal, símbolo maior de desejo, e do vai e vem de seu pênis, trabalhando forte e incessantemente para lhe dar o prazer de que tanto gostava. Gostava e necessitava. Certo dia, há muito, a umidade ficou menos úmida, e assim foi ficando, cada vez menos úmida, até cessar. A partir daí, pomadas faziam de conta que ainda havia aquele desejo úmido... Não era a mesma coisa. Na rua, dera umas voltas, e quando uma moça bem mais jovem lhe lançou aqueles olhares pagos, ainda relutou preso de um sentimento de vergonha insensata, mas explicável, temendo que a juventude da moça lhe exigisse mais do que lhe poderia dar. Quando finalmente se conscientizou de que o que importava á moça era o pagamento que lhe faria, decidiu-se e deitou-se com ela. Sua mulher jamais saberia desse fato. Afinal, ela era a mulher de sua vida, e essa fugida do cotidiano era como um bálsamo, uma aventura tardia, que nem era inconseqüente, porque sabia que não haveria conseqüências. Ficara três horas com a moça, que entendendo bem a sua idade, não o apressara, cheia de paciência que por momentos o incomodou, porque gostaria que tudo fosse diferente, e não necessitasse de compreensão para ir uma segunda vez ao céu. Quando finalmente conseguiu, sentiu-se um herói, merecedor de estátua, mas mudo. Teria que ficar mudo. Não poderia contar para ninguém sua façanha. Seus amigos não entenderiam. Quem sabe eles mesmos também tinham seus segredos semelhantes ao seu? Não pagaria para saber... Sua vida com a mulher valia muito mais do que esse prazer dúbio e estroncho de contar para os outros suas aventuras bem sucedidas para ganhar o quê? Fama? Respeito? Consideração? ... Não!... Ficaria calado e levaria para o túmulo esse seu segredo.  

Quando chegou em casa, sentiu-se um traidor alegre. Olhou para a cachorrinha que acolhiam em sua casa, e viu recriminação em seu olhar. Como a cachorrinha poderia saber? Talvez o faro de cheiros novos que os humanos não podem perceber. Afastou a idéia, mas quando a gata da família veio cheirar-lhe as calças, as mãos, temeu que também ela percebesse o seu ato impensado. Impensado, não. Ele pensara muito antes de receber os favores da moça. Decidira-se pelo último grito do guerreiro, algo que serviria para testar suas verdades, saber se sua aparente apatia sexual era fruto da longeva convivência com a mulher, ou se estava realmente ficando decrépito, senil, velho, um cacareco... Tirara sua dúvida, adquirira a verdade... Mas o que fazer com ela? Isto é, com a verdade e com a sua mulher? Era evidente que sua mulher não tinha culpa da natureza humana, quer física, quer moral. Ele também não tinha esse tipo de culpa, ou pelo menos não deveria ter. Que culpa poderia ele ter da falta de umidade vaginal de sua mulher? Que culpa ele poderia ter se a natureza o dotara de um apetite sexual que ainda estava vigente com essa sua idade já tardia? Afinal de tudo, o que era o amor? Certamente convivência, o lado a lado, o companheirismo, e sexo. Muitas vezes pensara no companheirismo com a sua mulher, ela gostando de umas coisas preferencialmente, e ele de outras, e das reticências no relacionamento que haviam causado. Mas apesar de tudo, sentia-se culpado. Esse sentimento de culpa ele tinha. Se contasse à mulher, o casamento poderia acabar, apesar dela ser extremamente compreensível, mas o descortinar da verdade, abriria as portas para que sua mulher tivesse também suas aventuras... E pensando bem, nada mais justo!... Decidido a morrer justo, apesar de culpado, abraçou a idéia de contar á mulher a sua aventura, explicando os motivos... Se sua mulher optasse por ter suas aventuras, correria o risco. Afinal, ele era um sujeito justo, que se sentia culpado, e queria morrer justo, com suas contas expiadas em vida...

Quando a mulher, vendo o cachorro e a gata o olhou nos olhos e se aproximou dele, sentiu um calafrio na espinha... Será que até ela percebera o seu pecado?

- Gostei! Cadê o perfume novo? – perguntou-lhe a mulher, sentindo umas réstias de perfume diferente no ar, que ele exalava.

Então, ele contou. Muito se discutiu naquela noite. À beira de um ataque cardíaco, fizeram confissões. Quando ele soube que ela o traíra com um homem mais novo, a quem ajudava até financeiramente de vez em quando, a dor veio lancinante. Era um ataque cardíaco sem dúvida. Ainda teve uns momentos breves de raciocínio consciente voltado para sua vida pregressa antes de apagar definitivamente.

Nos dias seguintes, mas já no velório, a viúva contava para suas amigas mais íntimas o quanto seu marido a enganara durante toda a vida, aquele safado, mentiroso, machista. Logo ela, que tanto o amara.

Rui Rodrigues