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sábado, 12 de novembro de 2011

As cigarras e a Primavera: O clima está mudando.





O clima está mudando e as cigarras são poucas

São poucas e cantam de modo diferente.

Décadas atrás, as cigarras eram muitas e quando uma começava a cantar, as outras lhe respondiam. Era sinal de primavera. Naqueles tempos não havia internet, muitas ditaduras iam pelo mundo, e as cigarras ficavam 17 anos enterradas no solo, sem cantar... Subiam à superfície na primavera, transavam freneticamente, e as fêmeas tinham tempo ainda de parir antes de morrer. Cigarra que ganhava asas para cantar e vinha á tona, não voltava às origens de seus subterrâneos.

Sempre gostei muito de cigarras, pelo cantar imperial, incisivo, forte, sonoro, começado a cantar baixinho, e elevando o tom, até se transformar num grito de guerra... São valentes as cigarras e muito pacientes... Ficarem caladas por 17 anos é sinal de grande paciência e perseverança.

Quando as ouvi cantar diferente, foi em Paris... Fazia uma semana que grupos de estudantes secundaristas e universitários se reuniam no Quartier Latin, bairro tradicional de Paris onde fica a Universidade de Sorbonne. Eles protestavam contra a Guerra do Vietnã, o autoritarismo do governo conservador de Charles de Gaulle e a prisão de estudantes em manifestações pela paz. Este cantar de cigarras francesas provocou movimentos semelhantes em todo o mundo e 1968 se transformou num dos anos mais agitados do século XX.  As cigarras voltaram a cantar com toda a força e em grande número na primavera de Praga (Praha). Coincidiu com o período de liberalização política na Tchecoslováquia durante a época de sua dominação pela União Soviética após a Segunda Guerra Mundial. Esse período começou em 5 de Janeiro de 1968, quando o reformista eslovaco Alexander Dubček chegou ao poder, e durou até o dia 21 de Agosto quando a União Soviética e os membros do Pacto de Varsóvia invadiram o país para interromper as reformas.

Desde essa época que associo as cigarras que anunciam uma nova primavera aos levantes democráticos de Paris e de Praha, duas lindas cidades que tive o prazer de visitar. Mas nessa época o cantar das cigarras tinha muito a haver com as ideologias. Talvez por isso cantassem diferente do que cantam hoje.

Começaram a cantar ainda diferente em 1986 quando Fernando Marcos, presidente das Filipinas após ter instaurado lei marcial e prendido opositores, se ter revelado como um defraudador das eleições políticas. Fugiu com Imelda Marcos, sua esposa, ex-miss Filipinas, idéia fixa em sapatos, dos quais tinha mais de 30.000 pares. Fugiram para o Havaí, porque naquela altura, os EUA não eram tão fixados em democracia representativa como são hoje. Naquele tempo, acobertavam e acolhiam ditadores.

Em 1989, as cigarras não se ouviram em outubro. Não era tempo delas, mas apareceram em Berlim sem gritos, sem avisos, sem violência, da noite para o dia, em 08 de novembro de 1989. Muito poucos cidadãos deste planeta, absorvidos ainda pelas ideologias e a guerra-fria, não perceberam que o cantar das cigarras não era ideológico. Era financeiro. Os países sob influência comunista da ex-URSS estavam falidos, tinham perdido a corrida espacial por falta de verbas para comprar tecnologia, materiais, pagar espionagem industrial... A Igreja Católica apressou-se a dizer que uma santa de sua preferência tinha convertido a URSS pelas orações dos fiéis... Gorbachev o grande mentor da virada russa com seu livro Perestróica, foi eclipsado por um bêbado, muito mais político que capitalizou o grande mérito de ter mudado a tendência política dessa grande nação, subindo em cima de um tanque, provavelmente de ressaca.  

Foi então que comecei a perceber que o canto das cigarras mudara profundamente. Não seguia uma linha clássica nem Rock de preferência, não era ideológico, mas dava lugar ao “rap”, ao hip-hop,  e às finanças, ao capital.

O cantar das cigarras na primavera modificava o mundo e modificava o seu cantar. Cantavam agora moralidade e ética. Cantavam agora moralidade e ética, nada de ideologias, partidos políticos, figuras de proa da política, encampadores de opinião. 

Foi assim que cantaram em 2007, em Israel, quando a justiça prendeu Moshe Katsav, culpado por estuprar duas vezes uma ex-funcionária do Ministério do Turismo, pasta da qual foi titular entre 1996 e 1999; por abuso e assédio sexual contra duas funcionárias da Presidência; e por delitos menores como abuso de poder, obstrução à Justiça e assédio a testemunhas.

Em 2010 e 2011 cantaram no Norte de África, na Tunísia, no Egito, na Líbia, e estão ainda cantando por lá, onde ditadores vitalícios fechavam suas sociedades ao progresso, á ética, á moral, e ao rap, ao hip-hop, e, sobretudo, a uma vida livre na expressão corporal e verbal.

Em 15 de maio de 2011, as cigarras de Madrid cantaram a mesma melodia do Norte de África: a Espanha, atravessando crise financeira sem precedentes, vai para as ruas, acampa com crianças, idosos, trabalhadores, gentes de todos os níveis, em protesto à deficiente, inconseqüente e depredatória forma de governar, que quase a levou á falência. O movimento 15-M se espalhou pela Europa, pelo mundo, e em 17 de setembro, em N. York, o povo acampou pelos mesmos motivos: O dinheiro público sumiu do tesouro nacional, foi entregue aos bancos a pretexto de uma crise, a qualidade do governo decaiu por falta de verbas.

Em novembro de 2010, hoje, exatamente, dia 12 de ovembro, Silvio Berlusconni, presidente da Itália, acumulando a presidência de um clube de futebol milionário, que necessita de verbas milionárias, pediu demissão, porque a Itália está á beira da falência.

Entre 2010 e 2011, no Brasil, as cigarras também cantaram. Pouco, muito pouco, mas cantaram. Seis ministros caíram sem devolver as verbas públicas desperdiçadas, e sem dizer onde estavam. A justiça omitiu-se e deu os casos por encerrados, continuando a população sem saber para onde foi tanto dinheiro. Aprovaram uma Medida Provisória para que não se tornem públicos os processos para as obras do Mundial e dos Jogos Olímpicos no Brasil. Põe-se em votação limitada ao Estado do Pará, a sua divisão em três, sendo os dois novos, de clara influência da “Vale do Rio Doce”, empresa mista, com subsidiarias que são particulares, de onde partiu em 1987, o escândalo da Ferrovia-Norte sul. Se verificarem o custo do km de ferrovia, a sociedade era um ataque de nervos, as cigarras ganharão as ruas, o planalto.

Mas por enquanto, as cigarras estão relativamente calmas e são poucas. Talvez ainda estejam enterradas nas profundezas da terra, som ligado num hip-hop, num rap.

A primavera está acabando. Talvez na próxima possamos ouvir as cigarras em todo o seu esplendor, numa algazarra sem precedentes.

Rui Rodrigues

domingo, 6 de novembro de 2011

Onde moro ! (Do amigo Paulo Pacheco)

(Do amigo Paulo Pacheco)
(Obrigado, Paulo)


Onde moro!

Vem isto a propósito que, 
No meu quintal, tenho de tudo um pouco.
Tenho graviola, bananas e mangas, 
Tenho mamoeiros, maracujás e macieira.
Vejam como clima mudou,
Permite-me ter uma macieira linda,
Na quente cabo Frio.
Tenho ainda um cachorro amigo e 
Uma amiga gata de quatro patas.
Tenho pés de pimenta dedo de moça,
Erva cidreira e uns condimentos, 
Temperos para os peixes e as carnes.
O sal, apanho na água do mar, 
Que é limpa e mais saudável.
Os nasceres e os pores do sol,
São das cores róseas que imagino,
O céu seja composto.
As nuvens soltas nesse céu colorido, 
Cada uma mais bonita e gostosa que a outra,
Esvoaçando corpos que se formam
E logo depois desaparecem, 
Tal como o é o espírito feminino
Do esconde-esconde, 
Do quero, mas não dou,
Do dou, mas não quero.
Cidades, prá que?
Já lhes dei tudo que podia dar, 
Já me retribuíram o que deviam, 
Abandonei-as, pois agora, 
Só me tiravam o que me tinham dado.

Abraços, Rui Rodrigues!

sábado, 29 de outubro de 2011

O Vulto




O vulto

O vulto jazia na pequena sala em frente a um computador da moderna tecnologia, controlável por seu pensamento através de pequeno dispositivo disfarçado entre os seus cabelos longos e desarrumados: um aro de cabelo eletrônico que em nada lhe prejudicava a silhueta. Do outro lado da sala, uma bicicleta ergométrica lhe permitia o controle do peso. A parede da sala era o seu monitor. Por ele controlava todos os equipamentos do lar, desde o forno de micro ondas à pequena máquina de lavar a seco, regular a temperatura do chuveiro elétrico.  Sentiu um desejo incontrolável de ver neve, esquiar, sentir frio. Não buscava explicações em seus desejos. Para ele, os desejos não necessitavam de explicação. Eram vontades que podiam ou não podiam ser concretizados. Se podiam ser concretizados, ficava feliz. Caso contrário, mudava sua vontade para desejos que pudesse concretizar e continuava feliz do mesmo jeito.

Ligou o ar condicionado para o frio máximo, vestiu um abrigo quente, ligou a parede-monitor num programa de esqui na neve nos Alpes suíços, e postou-se adequadamente no meio da sala. Logo estava esquiando a toda a velocidade, seu corpo acompanhando a velocidade vertiginosa na descida da montanha... Sabia que há muito tempo atrás isso era possível fazer ao vivo, mas os turistas deixavam muito lixo desde o caminho de acesso até a sua saída do parque, e os hotéis não tinham nada de politicamente correto em meio a essa natureza, e acabaram fechando as portas. A natureza deveria ser conservada virgem... Achava em particular que era isso que se buscava na humanidade: a virgindade do planeta, a natureza pura, sem nada que a pudesse poluir. Buscavam o mesmo na consciência humana, O planeta todo clamava por pureza de sentimentos.

O vulto sentiu-se cansado. Fazia meia hora que descia uma montanha que nunca tinha fim. Faltava naquele programa o “chegar ao fim”, tirar os esquis, colocá-los dentro de um carro, subir a montanha e tomar alguma coisa no bar do hotel. Desligou o programa, despiu os agasalhos, condicionou o ar para temperatura ambiente e foi até a geladeira. Apanhou umas pedras de gelo, e colocou num copo. No liquidificador bateu um tomate com sal, pimenta do reino, hortelã e coentro. Despejou tudo no copo com o gelo e tomou o seu “Bloody Mary” sem álcool. Tomar álcool era politicamente incorreto. O vulto  não fazia isso. Nem fumava qualquer tipo de qualquer coisa fumável. Não tomava drogas em absoluto. Sexo era coisa muito rara. Por vezes confundiam sua conversa com assédio sexual, e sentia-se desconfortável. Outras vezes constatava que não se tratava de uma mulher, como desejava, mas não podia reclamar, sem ser confundido com homofobico. Não tinha muitos prazeres diferenciados na vida. Limitara-se a viver dentro de uma estreita faixa de prazeres que podia alcançar, e qualquer outro que tivesse, por inesperado, era contabilizado como lucro do mais alto valor.

Acabou de tomar o drinque sem álcool, pousou o copo na pia da mini cozinha e apanhou uma folha de papel que passou cuidadosamente pelo copo até ficar limpo. Jogou o papel numa cesta de lixo, e apanhou outro com um forte cheiro de álcool. Repetiu a mesma operação. Agora o copo estava limpo e não gastara uma só gota de água, exceto pela que fazia parte do álcool adulterado que impregnara o segundo papel. Tinha consciência que adulterar o álcool não era politicamente correto, mas o governo estava trabalhando nisso com afinco. Um dia seria possível. Pensou no que poderia fazer para se distrair de uma forma diferente. Sentiu necessidade de sair. Precisava de companhia que não fosse virtual. Até recentemente fizera parte de grupos virtuais na NET, onde todos eram amigos. No início, quase todos expuseram as suas fotos, as fotos da família, dos amigos da vida real, e depois se arrependeram porque dos amigos virtuais, uns o eram, outros não. Com tantas perseguições que ocorreram já não se encontravam perfis virtuais que correspondessem a perfis reais. Aquela virgindade e pureza tão procuradas como modelos para a natureza do planeta e do espírito humano perderam muito com a realidade. Os grupos se transformaram, a NET se transformou. O mundo todo tinha mudado. Já não era possível usar um tipo de letra para postar. Era um modelo único, que despersonalizava, como se todos “falassem” impessoalmente. A NET agora servia apenas para consultas, comércio, e comunicação entre familiares e amigos no mundo real. O mundo ficara melhor nos conceitos, mas na pratica estava ainda pior. Era o que o vulto apreciava quando assistia a filmes antigos, reportagens antigas, descrição dos hábitos de um viver que ficara muito para trás, e que nem chegara a conhecer. Precisava sair e sorver um ar diferente.

Quando abriu a porta de acesso, junto ao muro do condomínio, relutou em prosseguir. A rua estava impossível de ser freqüentada. Estava quase vazia porque eram poucos os automóveis que eram permitidos circular por usarem combustíveis fósseis e poluentes. O uso de hidrogênio como combustível tinha sido banido por obrigar á decomposição da água, cada vez mais cara. O petróleo somente era usado por forças armadas por sua potência, que dava aos motores grande torque e velocidade. O álcool era impossível de usar por ser perigoso para a saúde humana: muitos o tomavam ou cheiravam e a falta de alimentos no planeta não podia desprezar mandiocas, batatas, milho, e outros alimentos desperdiçados para produzir álcool. Nada disto era politicamente correto, e as fábricas de automóveis foram á falência. Somente transportes públicos movidos a energia elétrica de proveniência eólica, da força das marés, de hidroelétricas eram permitidos. O mundo demorara quase duzentos anos para perceber isso, e alimentara muitas guerras pela posse de combustíveis fosseis caros e poluentes. Mas mesmo com as ruas quase vazias, o território da cidade era muito diferente daquele de que dispunha em sua casa com toda a privacidade. A rua não era lugar seguro. Ir a centros de convivência cultural, para que os seres humanos pudessem desfrutar do toque, da troca de informações reais, era quase o mesmo que o da NET e em pouco tempo deveria extinguir-se: A pessoas precisavam de muito tempo para se conhecer e adquirir aquela confiança que lhes permitia o abrir do espírito e o prazer de coexistir. No mundo, todos eram estranhos, difíceis de conversar, susceptibilidades á flor da pele.

O vulto deu alguns passos pela rua, até divisar numa esquina um assalto a um casal que passava desprevenido. Cautelosamente voltou sobre os próprios passos, e voltou a passar pelo portão que se abriu automaticamente. Subiu o elevador, entrou em sua mini sala, ligou a TV na parede monitora. Hora de noticiário. Uma agradável apresentadora dava as notícias do dia. Havia passeatas em frente ao Congresso reclamando por trabalho, uma guerra no Oriente Médio e outra em África, Um governador de Estado e dois senadores envolvidos em corrupção ativa e passiva dizendo que eram inocentes, e o Movimento pelo Direito das Crianças, com integrantes entre os oito e os 12 anos de idade, pediam liberdade de expressão, direito de liberdade em seus relacionamentos, e controle do próprio horário para estudos, para dormir, e de relacionamentos com privacidade total. Exigiam ainda independência completa para decidir sobre o que fazer com a mesada financiada pelo Estado, a ser paga quando se formarem e arranjarem emprego, ou protelar a dívida até que trabalhem, uma espécie de escravatura consentida disfarçava de legal por força de contrato que violava os direitos da criança.

O vulto desligou a TV escovou os dentes, e olhou-se no espelho antes de se deitar. Vivia sozinho e tinha apenas 13 anos  


Rui Rodrigues

terça-feira, 11 de outubro de 2011

E agora, senhores candidatos, com que cara nos vão pedir votos?

E agora, senhores candidatos, com que cara nos vão pedir votos?


Os jornais estão cheios de notícias...

As TVs espalham notícias...

As redes sociais espalham notícias...

Em bares, restaurantes, casas de comércio, shoppings, ruas, praças, ônibus, metrô, aeroportos, estações ferroviárias... Escutam-se e transmitem-se notícias...

Assim ficamos sabendo, dentre outras coisas, que

1)    Estabeleceram mecanismo de censura às contas dos gastos públicos com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, anulando os termos do Decreto 2.300 sobre licitações, o bastião que em contratações determinava os limites da fé pública, da ética e da moral...

2)    De três ministérios desapareceram verbas que foram mal administradas, sendo os envolvidos afastados, e as verbas não devolvidas

3)    Se usaram verbas públicas para socorrer bancos quando ainda não havia crise real, para evitar a crise... O dinheiro desapareceu da viabilidade pública, a crise não foi evitada e agora os Bancos pedem mais... E se um dia necessitarmos de dinheiro, teremos que pagar-lhes juros sobre... O nosso próprio dinheiro que lhes foi disponibilizado a juros de padrinho.

4)    Antigamente os partidos políticos se digladiavam – sempre em nome do povo – por ideologias, mas que hoje nem discutem, por dividirem o poder distribuindo cargos importantes – onde se gerem as verbas públicas – numa distribuição que anula qualquer diferença entre partidos...

5)    Não basta tirar o povo da pobreza dando-lhe cesta básica, a modo de cala a boca... Tem que dar condições de saúde onde tudo falta; Educação em estado crítico pelos resultados e com roubos de merenda escolar; infra estruturas com água, esgoto, energia elétrica, telefone fixo, internet grátis para os jovens... isto está deficiente ao extremo

6)    Nosso prestígio internacional se deve a uma extorsão á poupança popular através dos bancos com juros altíssimos e pagando quase nada na poupança popular, que, aliado aos altos impostos que se pagam, fizeram do Brasil um caixa forte com dinheiro para emprestar ao mundo a juros baixos... Dinheiro que, como vemos, faz falta para aumentar os salários dos que realmente servem aos cidadãos, dentre outros, bombeiros, professores, forças armadas, correios, bancários, donas de casa, servidores públicos fora de palácios...

7)    É uma ignomínia pretender-se calar a voz da história afirmando em Congresso que o movimento dos caras pintadas que provocaram o impeachment de Collor jamais deveria ter existo, como se a ditadura ainda existisse neste país...

Não é apenas isto, mas muito mais do que isto que está levando o povo para as ruas... E quando forem certamente não faltará gás lacrimogêneo, balas de borracha, jatos de água... Mortos pela rua... E dirão que foi para manter a ordem, uma ordem que não existe no andar de cima da pirâmide do povo brasileiro em que nos apertamos e comprimimos para implorar o que é devido ao povo: Democracia geral para todos e não apenas em palácio, onde todos se entendem, independentemente de partidos políticos;

Com que cara virão a nós, senhores esses que buscam votos com tapinhas nas costas, camisetas e bonés, parafernálias mil pagas com dinheiro público e dádivas cobráveis de financiadores de campanha????

Com que cara????

Rui Rodrigues

sábado, 8 de outubro de 2011

Tabus Sociais e a Democracia Participativa







Dependendo das sociedades ao largo do mundo, são muitos os tabus.

Alguns dos tabus conhecidos envolvem a ingestão de carne de porco e de cão, o canibalismo, o consumo da canabis sativa, o consumo de tabaco que está se transformando em mais um tabu social, a quebra da monogamia, a virgindade feminina, a participação de homossexuais nas forças armadas, pronunciar o nome verdadeiro de Deus, a morte assistida para quem está desenganado da vida, o aborto, a manipulação de genes humanos, dentre muitos outros.

Como surgiram os tabus, não viria ao caso, mas vale lembrar que se relacionam com a convivência social, com a sobrevivência de grupos e sociedades, e certamente com os preceitos da moral e da religiosidade, estas duas estritamente ligadas ao longo dos séculos. A religião foi ditando os padrões morais às sociedades desde os primórdios das civilizações quando os governos eram exercidos por sacerdotes – as Teocracias, que ainda hoje existem em países muçulmanos.

Nossa opinião sobre o assunto é irrelevante. Muitos atos já foram proibidos e hoje não o são, por que a humanidade evoluiu, jogando fora o que não tinha sentido e aprovando práticas que fazem todo o sentido sem reservas práticas. Podemos dizer que os últimos tabus estão em vias de perder essa condição, que outros serão criados, e que alguns, como o canibalismo ficarão para sempre como uma característica intrínseca da humanidade em repudiá-lo. A queda de um avião na cordilheira dos Andes em 1972 provou que mesmo repudiado pode ser aceito sobre certas circunstâncias. No caso deste desastre, salvaram-se 16 de um total de 45.  

De todos os tabus, os mais polêmicos e que se vêm arrastando nas últimas décadas em discussões intermitentes, são o aborto, a morte assistida e a manipulação de genes humanos. Decidir sobre a legalização destes tabus é normalmente tarefa de senadores dos governos, eleitos para representarem os cidadãos...  Mas chegaram a um impasse: Afirmam que a Democracia Representativa  representa a vontade dos cidadãos, mas eles não sabem qual é a real vontade dos cidadãos, no que pesem as ordens religiosas com seus lobbies fazendo pressão para que continuem sendo tabus. Para saberem o entendimento popular sobre o assunto, teriam que perguntar à população, por referendo, ou seja, a população seria chamada a votar. Ora, este seria um precedente que atentaria contra a “representatividade” do senado: o senado não sabe o que o povo quer e tem que perguntar. Porque não perguntar então, sobre todas as coisas que, polêmicas ou não, promovem desagrados, controvérsias, questões, divergências, antagonismos? E a resposta, evidentemente, é que, com a tecnologia de hoje, já não há razão para que se protele a legislação a respeito seguindo a vontade popular: que se pergunte ao povo através de voto popular. Afinal, senadores e religiosos não saíram do próprio povo? Porque deixariam de ser “povo” logo que assumem postos de governo?

Não há a mínima razão para protelar estes assuntos. O povo sabe votar. Vox Populi, Vox dei.

Que os congressos estabeleçam a Democracia Participativa e chamem a população para votar o que costumam votar. A população não abandona a sala de votação para evitar que os projetos sejam votados.

Rui Rodrigues

Sobre a transição da Ditadura para a “Democracia” na República Federativa do Brasil, Argentina, Chile, Espanha e Portugal, e o senso de “justiça”.




imagens da ditadura

  

Desde a época do Barão do Rio Branco e de Ruy Barbosa, este o “Águia de Haia”, cidade onde está estabelecido o TIJ- Tribunal Internacional de Justiça, que nossos políticos brilham no cenário internacional. Políticos que demonstraram ter ética e moral, e em decorrência - como não poderia deixar de ser - tiveram posturas justas, que foram e são ainda reconhecidas internacionalmente.

Política internacional é assunto muito sério... Envolve pessoas que ocupam postos chave nos seus governos, são normalmente formadas em universidades, e sabem o que se passa, o que envolve os fatos. Não se deixam enganar, e crises internacionais não são bem vindas em lugar nenhum do mundo.

Política interna é outra “história”.

Se analisarmos livros de história de qualquer nação, veremos a diferença entre as duas políticas: Os livros de história internacionais contam uma história sobre o nosso país, e internamente nossos livros contam outra. Por vezes coincidem as opiniões, em outras não. Isto é válido para qualquer país, e de acordo com o regime político interno á nação, assim se revisam os livros para contar de forma adequada à filosofia que impera.

Vem isto a propósito das ditaduras implantadas nas Américas, das do mediterrâneo, e em particular das quatro mais conhecidas entre nós: a de Portugal de Salazar, a do Chile de Pinochet, a da Argentina de Videla, e a do Brasil de Golbery do Couto e Silva.

Em termos internacionais, foi com bons olhos que o mundo recebeu a liberdade destas nações, e elogiaram a “transição” democrática. Internamente, ainda há choro e ranger de dentes entre as famílias de desaparecidos, de vidas mudadas, de sonhos perdidos, e, principalmente ainda existe a sensação de injustiça... Os culpados não foram punidos.

Em Portugal, Salazar[1] governou por 48 anos com mão de ferro. Vivi o período em que numa prisão do Guincho, soltaram um preso político dizendo-lhe que estava livre e o fuzilaram pelas costas, porque sua imagem viva estava incomodando o regime. Em 25 de abril de 1975, com Salazar já beirando a cova, fizeram uma revolução brilhante, sem tiros, repuseram a democracia de fachada, os governos continuaram a agir sem consultar o povo, e os macacos da PIDE – Polícia Internacional e de Defesa do Estado, ficaram sem punição. Os perseguidos ficaram sem filhos, sem maridos, sem esposas, sem reconhecimento. Portugueses á margem do Estado. Até hoje, mesmo depois da revolução.

Francisco Franco[2] de Espanha era amigo íntimo de Salazar. Enquanto nos demais países em referência, a Igreja Católica estivesse do lado da liberdade democrática, ou quando muito, mantendo-se relativamente confortável apoiando os dois lados- ditadores e democratas- em Portugal e Espanha, era evidente o apoio dado aos dois ditadores. O conforto prestado aos perseguidos era inversamente proporcional às demonstrações públicas de que o regime ditatorial estava errado. A Igreja já não produzia santos mártires. O povo, então eminentemente religioso e católico, ficava em dúvida quanto aos interesses da Igreja católica. O cardeal Cerejeira era visto amiúde no Palácio de Belém e saía de forma contumaz e acintosa, em fotos com o ditador Salazar.
Em 1936, Francisco Franco, apoiado por Hitler, iniciou a revolução que terminaria em 1939, quando se iniciou a segunda guerra mundial. Nesse período, Picasso pintou o famoso quadro “Guernica”, nome de um vilarejo bombardeado pela aviação nazista alemã. A ditadura fascista de Franco durou até novembro de 1975, sete meses depois da derrocada de seu grande amigo Salazar, com quem costumava sair para caçar lebres e perdizes, enquanto discutiam os assuntos de interesse da Península, e firmavam acordos de cooperação de caça aos dissidentes democráticos.

No Chile, governava Allende, comunista: a segunda Cuba da América Latina, mas enquanto em Cuba o governo foi tomado pelas armas, no Chile Allende foi eleito por sufrágio universal em 1970. Em 1973, Pinochet[3] invade o Palácio de La Moneda em Santiago e depois do palácio esburacado com projéteis lançados por tanques – note-se a desproporção – tem-se notícia de que Allende se suicidara... Há muitas formas de alguém se “suicidar”. Provas recentes confirmaram o “suicídio”. Pinochet ficou rico no poder. Tinha conta em Bancos instalados em Paraísos fiscais. Em 1990 o Chile iniciou o processo de transição para a democracia, sob pressão internacional. Pinochet, com medo de revanchismos, tornou-se Senador “hereditário”, uma forma de continuar guiando os destinos do Chile e de promover a “transição” para a democracia . Por essa época, a economia chilena dava mostras de uma revitalização fascinante, mas tal como nestes países de que falamos, essa revitalização e os números do PIB refletem que os ricos ficaram muito mais ricos, que as obras físicas realizadas fizeram das cidades e estradas uma paisagem mais atual, mas que os necessitados receberam as mesmas migalhas de sempre. Tal como em Portugal, as mães continuam chorando os filhos, os maridos, os familiares, ou os homens choram ainda as mulheres que tombaram pelo ideal de mudar a nação. Não há noticias de punições exemplares dos torturadores e assassinos chilenos...

Na Argentina, em 1966 iniciou-se uma revolução militar [4]que tomou e usurpou o poder. Foram vários os desastres sociais nesse período de ditadura, que terminou quase que efetivamente em 1973 quando se realizaram eleições, sem a participação de Perón por alegada ausência da Argentina por 18 anos – Perón estava exilado nesse período, e esse argumento já era uma demonstração de que a Argentina ainda estava em transição. EM 1976, novo golpe  militar de estado que só terminaria em 1983 com o governo do general Reynaldo Bignone, que queimou todos os arquivos da ditadura incluindo aqueles em que constava o paradeiro de milhares de crianças desaparecidas.
Foram julgados, condenados. Videla a prisão perpétua, outros a 25 anos de cadeira, porque na transição do presidente Menem se adotou um indulto para os crimes políticos. Neste período de ditadura, foram muitos os desvarios do poder, para os quais os militares não estavam – nem estão nunca preparados – porque governo é assunto político e soldados só sabem obedecer... Sem orientação política se perdem. Um deles, a guerra das Malvinas, contra a Inglaterra, e cuja derrota argentina promoveu Margareth Thatcher a mais um mandato à frente da Downing Street, 10 em Londres.

As mães da Praça de Maio continuam chorando. Muitos argentinos choram ainda seus mortos, e que jamais irão esquecer seus vivos ainda desaparecidos. De vez em quando, no Chile, na Argentina e no Brasil, descobrem-se valas comuns onde a ditadura jogava os corpos inertes e sem vida, ou ainda vivos, dos presos políticos.

No Brasil, e em março, dia 31, de 1964, a tranqüilidade do pacato, bem humorado, inteligente e humano povo brasileiro foram interrompidos por ato militar que instaurou a ditadura[5] militar. Ditaduras militares não aparecem por acaso, nem por vontade intrínseca e única dos exércitos. Eles se colocam ao lado de facções da sociedade que reclamam da liberdade para que possam mandar, deter o poder, fazer o que desejam, escravizando o povo, mesmo o que se põe de seu lado. Não benefícios a distribuir por todos os cidadãos que se colocam ao lado da ditadura: somente para os amigos que cooperaram. Foi assim em todas as revoluções citadas.
Quando o mundo colonial inteiro cedia a independência a suas colônias, Portugal de Salazar teimava em mantê-las, contra os ventos da história. A juventude portuguesa caiu em combate por ideais desmiolados da elite portuguesa que desejava manter os seus negócios, ainda tocados a chibata, em terras coloniais. No Brasil, somente em 1982, quando as ditaduras dos países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento estavam ruindo, se decidiu a reatar os seus amores com a bela democracia, anseio de todo o ser humano. Já no final da ditadura, José Sarney que liderava o partido aliado da ditadura, denominado de “oposição”, articulou a transição, com Golbery do Couto e Silva,a eminência parda da ditadura, ainda vivo e atuante.  
Porém, existem hoje no Brasil, milhares de famílias que choram os estupros em seus familiares, as mortes de seus familiares, os paus-de-arara em seus familiares, os choques elétricos, os baços rompidos em corredor polonês, carreiras perdidas. Não há notícia de perseguições democráticas aos ditadores e seus correligionários torturadores, alguns ainda privilegiados, porque o Estado atual, mesmo se dizendo democrático, pretende que a memória do Estado seja considerada como “secreta”, abafando a história, matando as ultimas esperanças de democracia que, a julgar pelas decisões que vemos sendo tomadas no Congresso com aprovação de aumentos de salários para os senadores, e seguidas emissões de alterações á Constituição, não reinará no Brasil tão cedo... A ditadura continua agindo no país, e José Sarney continua articulando no Congresso nacional...

O moral e a anestesia

Povos submetidos a ditaduras, falam pelas esquinas. Temem a perda do emprego, do trabalho, de suas economias, a perseguição, a morte, o pesadelo da tortura. Anos a fio, e durante 48 anos em Portugal, gera um moral baixo, uma submissão às coisas do Estado. Durante tantos anos, frases passam de pais para filhos. Frases como esta, ainda usada em Portugal: “Atrás de mim virá quem de mim bom fará”... Ou seja, moral tão baixo, que as esperanças se esvaem, e fica o sentido de que tudo vai piorar... Sempre. Fernando Pessoa tentou alertar o povo português de que não é necessário que seja assim.. Tudo vale a pena se a alma não é pequena... Ou seja... Lutar. Vale a pena lutar por ideais, pela vida, pela melhora da sociedade no sentido do social. Ditaduras baixam o moral e anestesiam gerações para o despertar da democracia verdadeira, da liberdade de se exigir dos governos o que nos é devido: a participação nas decisões do governo. Tudo o que se aprova nos Congresso, câmaras, prefeituras, governos estaduais, é ditadura. Democracia seria se consultassem o povo. Nem dez por cento do que propõem seria aprovado...

De perguntassem ao povo sobre o sigilo das ações da ditadura, o povo diria que sim, desejaria saber quem foram e o que fizeram, até como resgate histórico. Calando a história, abrem as portas para novas ditaduras, porque não há punição para culpados.

Punir não é matar, ferir, como fizeram – seriamos iguais a eles, e isso não somos – Punir, é limitar-lhes as aposentadorias, encarcerar os que mais prevaricaram, porque embora dos pobres de espírito seja o reino dos céus, porque não sabem o que fazem, esses, sim, sabiam o que faziam... E muitos o fizeram com prazer.


E há uma pergunta final: Considerando a perseguição nazista ao povo judeu como uma atrocidade que de fato é, e sendo julgados os nazistas no tribunal de Nuremberg, o que difere os nazistas dos torturadores que mataram por política ou seguindo ordens de políticos ainda que militares ? E para se ser democrático há que julgar o outro lado, a dos militantes armados que raptaram embaixadores, assaltaram bancos, mataram pessoas... Não são só as ditaduras que matam. E a receberem indenizações, ambos os lados as deveriam receber, embora, em particular, seja de meu julgamento que, a fazermos justiça com indenizações, teríamos que indenizar as populações índias e todos os crimes políticos do Brasil, incluindo os perpetrados pelo MST, pelos fazendeiros, pela polícia e pelos traficantes... A grande verdade é que a história que passa, passou, acabou... Nossto trabalho deve ser o de aprender com os erros e não permitir que voltem a acontecer.  

Em nome da transparência, da ética, da moral e da história do povo brasileiro

Rui Rodrigues


[1] Computando mortos políticos e as guerras coloniais, Salazar foi responsável por cerca de 300.000 mortes conforme referência em http://joaogil.planetaclix.pt/k.htm. Muitos se exilaram, outros emigraram. A referência cita outro numero que acho exagerado: 1.000.000, e não inclui as guerras coloniais. Em http://historiaeciencia.weblog.com.pt/arquivo/2003_09.html refere 8.000 mortos nas guerras coloniais.
[2]  Em http://www.notapositiva.com/pt/trbestbs/historia/09_guerra_civil_espanhola.htm o número de mortos pela ditadura de Franco, no período da revolução, é de 450.000. Há números que ascendem a 1.000.000. Afora os números da perseguição política . Em http://aeiou.expresso.pt/espanha-descoberta-vala-comum-com-600-corpos-de-vitimas-da-ditadura=f676971, só em duas valas, 2, 840 + 600 mortos. Quantas valas ainda ocultas ? Não encontrei na NET referencia ao total de mortos por perseguição política. Fico com o 1.000.000 na totalidade da ditadura, desde a revolução até o advento da democracia,
[3] Os mortos pela ditadura de Pinochet  no Chile, é de cerca de 50.000, conformehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_Pinochet
[4] Em http://cafehistoria.ning.com/group/groupoditaduramilitar/forum/topic/show?id=1980410%3ATopic%3A16691, o total de mortos argentinos perseguidos pela ditadura é de cerca de 30.000.

O despertar do Norte de África (O despertar da humanidade?)





Todos nos perguntamos o que aconteceu no Norte de África que, de repente, Egito, Líbia, Tunísia, decidiram revoltar-se e exigir democracia... Mas se analisarmos os fatos à luz difusa de uma vela de humanidade, poderemos ver que não se poderia esperar outra coisa.
Foram muitos os séculos em que, em nome de Maomé aquelas terras foram conquistadas. O grande Islã não é fruto de uma revolução tecnológica, filosófica ou racial, mas sim de um movimento religioso que começou verdadeiramente no ano 610 DC, quando Maomé num de seus retiros para jejuar, nas montanhas da Arábia, julgou ter ouvido uma voz, a do anjo Gabriel, -personagem da mitologia cristã e judaica - incitando-o a “recitar”. O que Maomé recitou, movido pela fé, deu origem ao livro religioso o “Corão”. O que Maomé passou então a transmitir na península Arábica, foi uma religião baseada na Torá judaica e nos testemunhos de uma nova compilação de documentos a que se chamaria futuramente de Bíblia Cristã. O movimento correu o mundo do Norte ao Sul de África e estendeu-se até a Índia e à China. Encontrou resistência em Israel, na Europa, e quando o Novo Mundo foi descoberto em 1498 (América do Norte) e 1500 (América do Sul), o islamismo não ia a bordo das caravelas, Também não viajou a bordo dos navios que colonizaram a Austrália e a Nova Zelândia.
As guerras religiosas principalmente entre cristãos e muçulmanos explica-o amplamente, porque embora em seus livros esteja patente o amor ao próximo e a compreensão, a realidade se mostrou outra. Assim como o cristianismo foi perseguido em Roma, o islamismo foi perseguido na Europa Cristã. Ambos os movimentos eram expansionistas, tentando impor a sua religião ao maior número de fiéis, oferecendo-lhes o céu após a morte, assim agissem na terra dentro de padrões que, se por um lado beneficiavam a coexistência de homens e mulheres na sociedade, por outro os condicionava á obediência e à sujeição às leis. Sem o “direito romano”, a “Lei” eram os preceitos contidos nos livros sagrados das religiões. Foi por essa dúbia interpretação das leis, em que os dirigentes da nação tinham funções “divinas”, que cristãos e muçulmanos se declararam mutuamente guerras intermináveis e sangrentas. No Oriente Médio de hoje ainda perdura essa guerra, agora limitada a árabes e judeus, contida por sucessivos acordos de paz que são sempre rompidos, quer por novos assentamentos em terrenos em disputa para as fronteiras do povo palestino, ou por foguetes ou homens-bomba lançados da faixa de Gaza contra Israel.
Se olharmos desde o ano de 622 DC até os dias de hoje, poderemos ver que foram muitos os ditadores que governaram países da Europa e daquilo a que chamamos de mundo ocidental, mas foi no mundo islâmico que eles mais perduraram até os nossos dias, numa simbiose entre a educação de acato ao Corão por parte da população crente, de bons fiéis, por um lado, e de outro por esses ditadores que vivem em mordomias, são ricos, cercados de tudo o que a população não tem. O controle da população, nesses países de governo ditatoriais, tem sido feita ao longo da história através da aplicação da “Lei” que inclui o corte das mãos a ladrões, o apedrejamento de mulheres por motivo de traição sexual, a voz calada, os rostos das mulheres cobertos para não despertar desejos, sua participação na política e na religião completamente vedadas. Curiosamente, o marido é o pater-família do Código Romano, responsável por toda a família. Mulheres como objeto, podem ser prometidas em casamento por acordos entre pater-famílias sem direito a escolher. Mulher não tem posição social no Islamismo, são proibidas de dirigir automóveis. O que poderia mudar tudo isso no Norte de África, depois de 1.400 anos de tradição que imobilizou o desenvolvimento islâmico?
Nas duas últimas décadas do século XX, o desenvolvimento do mundo ocidental deu um pulo, um salto, graças ás descobertas em todos os níveis da ciência, colocando homens no espaço e na Lua, construindo satélites artificiais, desvendando o genoma do corpo humano, construindo uma estação espacial, vendendo nas lojas a preços populares bilhões de computadores e criando a Internet, uma forma de comunicação instantânea que acabava com os segredos dentro das fronteiras físicas de qualquer país. Este tipo de comunicação, aliado à tecnologia das câmaras digitais, derruba qualquer tentativa de qualquer governo de esconder o que se passa dentro de suas fronteiras, mas mais ainda, não impede que, de dentro de suas fronteiras, se saiba o que se passa no mundo. Quando na década de noventa do século XX a CE- Comunidade Européia se ampliou a 27 países e a Turquia, país islâmico, se candidatou à comunidade, o mundo se abriu ainda mais para o mundo islâmico. Era impossível esconder que as mulheres pintavam as unhas, mostravam os rostos e as curvas do corpo, dirigiam automóveis, tinham suas empresas, deixavam os filhos em creches, votavam para eleger seus políticos, e eram presidentes de suas nações. Como se não fosse bastante, marinheiros, pescadores, pessoal do corpo diplomático, funcionários das companhias de aviação, comerciantes, industriários e industriais, empresas estrangeiras com escritórios dentro das fronteiras desses países, ajudavam a divulgar as maravilhas do mundo ocidental. Como impedir este conhecimento?
Isso era impossível, e logo começaram as ondas de cidadãos atravessando o Mar mediterrâneo em busca de uma vida melhor e livre, arriscando a própria vida, tal como alemães da alemanha oriental o faziam atravessando o muro de Berlim para a parte ocidental. Então, uma a uma as ditaduras islâmicas do Norte de África foram caindo e nos dias de hoje só podem ainda apoiar ditadores e o “paredón” cubano aqueles que, por serviços prestados a partidos têm a esperança vã de um dia virem a fazer parte de governos de ditadura. O mundo já não tem fronteiras isoladas do conhecimento. Todas as portas da humanidade estão abertas. Por essas portas podem ver-se ainda os redutos de ditadura tradicional herdados do passado: As sedes de governo, onde tudo se resolve e leis são ditadas e impostas sem se consultar o povo. O despertar do Norte de África não é um caso isolado sobre o qual a imprensa mundial quase não fala. Não fala porque não entendeu ainda o que se passa, não com o Norte de África, mas com a humanidade, que sempre escolhe os seus caminhos por mais que lhe sejam impostos outros caminhos.
Assim como o poder corrompe, e o dos ditadores corrompe mais ainda, assim também a humanidade é capaz de corromper, convencendo os escalões dos governos ditatoriais que algo tem que mudar... Quem não vê que a humanidade caminha para a sustentabilidade? Quem não vê que, com os meios tecnológicos colocados à sua disposição, a humanidade já pode votar em tudo o que é votável, e tudo se pode votar? Instantaneamente, sem que sejam necessários alguns “eleitos” desconhecidos, indicados por Partidos Políticos, para decidirem em nome das sociedades? Porque razão tosca e primária, as sociedades se deverão submeter ás vontades nem sempre confessáveis de meia dúzia de eleitos que não se podem deseleger durante quatro longos anos?
Os tempos que vêm trarão um progresso inimaginável às sociedades e à humanidade. Podemos até pensar na vida eterna.
Rui Rodrigues