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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Ensaio sobre a cegueira - O cego que recuperou a visão


Ensaio sobre a cegueira - O cego que recuperou a visão
(Baseado numa história real)



Aos sete anos Paulo foi surpreendido por uma exclamação:

- Maria de Lurdes! Havia alguma coisa no correio? Estou esperando umas correspondências. (Era o pai dele indagando da mãe que tinha ido à caixa do correio. Moravam num quarto andar e a caixa ficava no hall de entrada, do lado esquerdo antes das escadarias de pedra mármore).

- Não!... Nada no correio hoje!

Tanto o pai quanto Paulo tinham visto que Maria de Lurdes guardara algo no regaço, entre os fartos e lindos peitos.

- Queres me fazer uma surpresa, não é? Ora mostra lá o que escondeste no peito... Não adianta porque eu vi!
Paulo assistiu ao que parecia ser uma brincadeira, uma discussão sem maiores discussões, até o final, quando a carta que Maria de Lurdes relutantemente queria ser preservada, foi lida pelo pai em voz alta. Era a carta de um amante da mãe contando de sua saudade dos momentos em que tinham passado juntos, descrevendo o sexo que haviam mantido. Acontecera numa casa de veraneio que ambos mantinham numa praia situada a 40 km de sua casa na cidade. Paulo viu seu lar se desmoronar num repente. Nesse mesmo dia, pela noite, depois de uns telefonemas, seu pai, homem proeminente da administração pública, abandonou o lar. Paulo sentiu uns lapsos de visão que foram se agravando ao largo dos meses seguintes. Aos nove anos tinha perdido a visão por completo. Naquela década de final dos anos cinqüenta, o lugar mais famoso para operações que tentavam reabilitar a visão se processavam na Bélgica. Paulo foi lá por duas vezes, e voltou desenganado.

Paulo tinha muitos amigos da mesma idade. Alguns deles se dispunham a acompanhá-lo em seus passeios por pura amizade e compreensão do que era perder a visão. Aprendeu Braille numa escola adequada e recebia livros de porte avantajado escritos em Braille que consumia rapidamente. Seus amigos aprenderam como se guiava em casa, como percebia que havia gente na sala, ao seu redor na rua, e como entendia e percebia os cheiros, os sons. Suas narinas se haviam aperfeiçoado no faro, seus ouvidos eram quase capazes de ouvir ultra-sons. Seu tato se ampliara à percepção de curvas da pele, dos objetos. A bengala servia apenas para afastar de seu caminho quem estivesse na frente e se desviar de obstáculos como postes, ou descer ou subir meio fios e degraus. Fazia quase tudo sozinho, comia, bebia, servia-se de vasilhames para beber sem extravasar do copo. Os dedos controlavam o recipiente, a dosagem, o nível do liquido .  
Evidentemente, nunca pensou em casar, embora não lhe faltassem mulheres. Inteligente, chegou a ter duas irmãs como amantes, depois de ter explicado aos pais delas qual era a situação: As duas gostavam dele, ele gostava das duas, e transavam juntos. Os três transavam juntos.
De vez em quando se lembrava da mãe que passou a morar num aparamento ao lado do seu, e jamais a perturbou por causa de seus companheiros. Maria de Lurdes tinha compulsão por sexo e casara muito nova, com dezesseis anos apenas. Para Maria de Lurdes, transar era uma questão diária de sobrevivência, mesmo agora com seus 63 anos. Não importava se o companheiro era um mecânico de automóveis, um funcionário público, um amigo juvenil do filho, daqueles mais velhos, mais espigados, mais experientes, mais soltos do controle dos pais. Maria de Lurdes era muito linda, dotada de um lindo corpo e suas roupas eram sensuais. Gostava de ser apreciada, despertar o tesão dos homens. Parecia-se com Greta Garbo.

Nunca soube como, mas um dia a visão voltou e já estava com 47 anos. Não era religioso não frequentava igrejas, e tanto quanto sabia já ninguém rezava pelo retorno de sua visão. Os santos já não faziam milagres como antigamente, quando a crença era mais forte, e nos dias atuais, já não se fabricam santos, talvez porque o sofrimento dos santos se estendeu a tanta gente que já nem se reconhece o mérito do sofrimento para se ser santo e sair por aí fazendo milagres. Quando a visão voltou, não contou para ninguém. Nem para a mãe. O mundo que era quase perfeito, tirando o incidente entre a mãe e o pai, anos atrás, desmoronou. Chegou a achar que era melhor ter ficado sem visão.  O que viu foi um retorno do passado, fruto de circunstâncias. Aconteceu justamente aos 48 anos quando resolveu casar com uma das irmãs com quem dividia o leito dos prazeres e que julgava conhecer tão bem.

Paulo atualizava-se como podia, por comentários com os amigos, pelas notícias da TV, ouvia o que se passava pelo que diziam pelas ruas. Nunca vira a cena da garota fugindo nua, queimada por napalm, por uma estrada do Vietnam nem cenas da queda do muro de Berlim, nem como as pseudodemocracias socialistas comunistas tinham virado a casaca e todos haviam passado para o capitalismo, este cada vez mais feroz, fazendo tantos ou mais estragos dos que o comunismo havia feito. Não viu nada disso. Apenas imaginou, mas logo que recuperou a visão entrou na Internet e as imagens eram tal como havia imaginado. Mas não estava preparado para ver num site pornográfico as belas imagens de sua amada esposa, nua, transando com vários companheiros de estúdio: Era uma atriz pornô, de renomada fama no meio dos internautas. Uma fama adquirida ao longo de quase cinco anos. Pior ainda, seu empenho no set de filmagem era muito mais ativo do que agora demonstrava no leito nupcial. Lembrava-lhe quando começaram a namorar e dividia o leito com a irmã.
Quando comentou o assunto com dois ou três amigos de infância que haviam sobrado em sua vida, percebeu que não era um defeito de sua esposa. O mundo havia mudado muito e ele não percebera que tanto homens quanto mulheres sempre haviam sido assim

Percebeu e constatou, isso sim, que não era apenas ele que ficara cego por anos.

Rui Rodrigues





segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Curiosidades sobre o planeta Terra



Curiosidades do Planeta Terra

Estamos sempre em comunhão ou em conflito com o que observamos à nossa volta, e de vez em quando nos surpreendemos em nossas observações. Cada um divide o que vê conforme a sua percepção. As melhores leem se nos livros das escolas. Esta divisão é apenas simplista. Poderíamos dividir o que observamos em:

  • Cosmos,
  • Céu,
  • Mar,
  • Paisagem
  • Obras,
  • Humanidade
  • Conhecimento.

É isto que vemos todos os dias com mais ou menos detalhes. O Cosmos só vemos à noite e mesmo assim se não estivermos numa grande Obra ou cidade muito iluminada; 

O céu é escuro durante a noite, mostrando o Cosmos, ou bem claro e transparente de dia, quando mostra o sol, mas de lá vem a chuva, raios e trovões; 



O mar nem todos o vemos, mas sabemos ser constituído de água, tem ondas, peixes e mariscos, grandes obras que navegam levando passageiros e carga e de vez em quando nos manda tsunamis que inundam cidades; 



A paisagem é tudo o que vemos vivo sobre um substrato inerte, aparentemente morto, como rochas, solos, pântanos, desertos de areia;





As obras são tudo o que a humanidade constrói, desde uma simples agulha a uma cidade enorme, inteira, com milhões de pessoas que nela vivem; 



A humanidade, uma multidão, é o conjunto dos seres vivos que povoam este planeta que faz parte do cosmos e que têm a particularidade de achar que, por pensarem, são feitos à semelhança de Deus, desprezando todos os outros seres vivos - que comem de diversas formas todos os dias - além de terem a característica de ora irem para um lado ora para o outro ao sabor de influências que nem questionam; 



O conhecimento, do qual fazem parte as ciências, é a nossa percepção e entendimento de tudo o que nos rodeia. Só o conhecimento não é material, e Cosmos, céu e mar parecem imutáveis. Todo o resto simplesmente é. 



Parece ser muito simples e resumido, mas complicado quando analisamos os detalhes, e alguns ficam tão longe que nem com luneta ou telescópios conseguimos enxergar bem e entender. Um dos mais interessantes e importantes tipos de obras que se conhecem são as escolas e as universidades. Nelas existem professores que nos ensinam o que já sabem a nós, ignorantes de tudo, que nos sentamos em bancos para aprender com eles.  Deveriam ser muito bem tratados, mas parece que a ignorância tem prazer em destruir o conhecimento. Sempre foi assim. Precisa mudar. A Ignorância não percebe que o conhecimento deve ser passado a todos para que se possa evoluir na esperança de aparecerem seres que percebam o que ainda se desconhece e nos ajudem com seu conhecimento a darmos mais um passo em nossa evolução.

Ainda nos dias de hoje tudo nos parece imutável, a não ser por um modelo novo de automóvel, de um ou outro aparelho eletrônico que nos desperta a necessidade de usá-lo, e temos a sensação de que todo o progresso e evolução que apreciamos é material. Quando olhamos a parcela da paisagem que parece não mudar e a que chamamos de natureza, é que percebemos como somos evoluídos, uma espécie diferenciada da natureza, incomparável em qualquer dos reinos em que ela se divide. Depois de “deus” somos nós os que reinam em todo o Universo. Quem não é religioso ou tem um deus diferente, pode pensar que esse ser, o Demiurgo, construíu algo tão grande que não pode cuidar de cada partícula, cada ser em simultâneo, e entregou essa tarefa às leis da natureza, à inteligência ou conhecimento puro, sem corpo alma ou espírito, e que evolui. Como se a inteligência fosse uma parte de Deus incorporada em cada ser vivo, transmitida através de uma molécula superinteligente chamada ADN, que apreende conhecimento, evolui e reproduz descendência viva.
O que sempre intrigou a humanidade à qual pertencemos é a imutabilidade da paisagem salvo grandes catástrofes que a mudam por alguns curtos períodos, mas que passada a ação, tudo volta ao normal, tudo volta a ser como era, no que pese a perda de algumas obras e entes queridos ou conhecidos, e até uma pequena parte da paisagem se transforme: São as inundações, os terremotos, os tsunamis, os furacões. Não percebemos todas as demais transformações que ocorrem a diário no seio de famílias que se formam, que aumentam de número, que se desfazem, de gente que morre em pequenas e grandes guerras entre seres humanos menos inteligentes, porque estão longe da paisagem e das obras que observamos. O conhecimento nos deu a oportunidade de sabermos notícias sobre estes acontecimentos, mas podem ser distorcidas, contadas em parte, umas se contam outras se tentam esconder, como parte do conhecimento a que chamamos de “política”.

O conhecimento tem um lugar certo onde se pode encontrar: o cérebro e o DNA. Antigamente, sem conhecimento, pensava-se que o conhecimento era o amor, os sentimentos, e estavam localizados no coração. Por isso ainda se diz que A ou B tem bom coração e C ou D têm mau coração. Pensava-se também que através da fala que expressa o mal, este fosse proveniente dos pulmões e de nossas entranhas onde se localizam as fezes, e por isso se dizia que “fulano ou fulana tem maus bofes”. A ignorância é uma porta aberta para as idéias e políticas dos outros, os que, embora não tenham o conhecimento de tudo – e ninguém o tem – sabem o suficiente para se tornarem os senhores absolutos da sua fé. Fé política, fé religiosa. Uma volta ao redor da Terra e veremos desfilar crentes políticos de todos os tipos, crentes religiosos de todas as religiões e a impressão que fica é a de que todos temos razões para termos fé, mas ninguém para acreditar no que não se pode comprovar e tem tantas interpretações diferentes. Somos todos ignorantes e não podemos ter a pretensão de que estamos sempre do “lado certo”, da religião certa, do político certo, do deus certo.

Nunca se pensou na possibilidade de esta vida ser apenas uma passagem obrigatória, sem ganhadores nem perdedores e que nos encontraremos a todos – os bons e os maus – num só lugar para discutir a existência, assim como quem discute uma relação, porém de forma “civilizada”, amargando os erros e regozijando-se com os acertos como prêmio e castigo de uma existência? Teríamos a oportunidade de ver Jesus, Buda, Maomé, Zoroastro, Moisés, todos juntos numa mesa, discutindo civilizadamente os seus erros e acertos?

Esperamos notícias fidedignas do além, em carta impressa, assinada e com identificação de legitimidade, selo de procedência.

Aqui na Terra, Paz aos homens e mulheres de boa vontade, sem guerras entre si. Quem sabe alguma coisa nova, deve passar adiante. Quem não sabe, não deve discutir o que não sabe. Pode parecer ridículo, a menos que deixe claro que é sua forma de pensar e que não está afirmando nada.

Rui Rodrigues

domingo, 20 de janeiro de 2013

A história da defloração da virgem da banana.


Aviso: Texto para maiores de 18 anos...


Aqui no Bar do Chopp Grátis ouvem-se histórias de todos os tipos. Esta conto em nome de quem me contou, na primeira pessoa.


A história da defloração da virgem da banana.

Elsa ainda seria virgem até hoje, com 25 anos, esperando o príncipe encantado, se não fosse por aquele desejo ardente por um dos que lhe apareceram na vida, alguns dias depois daquele em que, ardendo de desejos, resolveu usar uma banana amornada em água quente para satisfazer aquele desejo que lhe vinha lá do fundo do útero e lhe fazia tremer as pernas. Para todos os efeitos era virgem de homem, mas não de banana. Tanto pela frente quanto por detrás, porque havia muitas bananas disponíveis, eram baratas e gostava até de usar duas ao mesmo tempo. Por vezes as duas pela frente, em outras uma pela frente e outra por detrás, outras ainda as duas por detrás. Mas isso ninguém precisava saber. Era segredo que só ela e uma grande amiga sabiam. Por isso nunca entendeu como que o povo ficou sabendo e ela, que nunca tinha despertado interesse em homem, pelo menos era o que pensava, começou a ser perseguida por todos os homens do lugar. Ficou com tanta fama, daquelas que faziam os homens rirem, que um dia pegou um trem que ia para a Bolívia e fugiu de casa.
No trem despertou o interesse de um cara que olhava para ela discretamente. Boa pinta, olhar discreto, vestia sem chamar a atenção, olhar franco. Esse cara era eu.

Nessa oportunidade nem sabia que ela usava bananas nem se eram prata, ouro ou banana d’água. Convidei-a para jantar comigo no vagão restaurante porque era bonita, simpática, olhar de virgem ou pouco usada, parecendo inteligente.  Não sei porque razão, mas a conversa degringolou para o sexo. Então ela disse francamente, á queima roupa, que queria transar comigo. Perguntei, de forma que lhe poderia ter parecido idiota, se ela estava com muita vontade. Foi um sussurro perto do ouvido.  
- Queeero... - E o sorriso de Elsa me pareceu o de uma leoa quase urrando no cio, enquanto se abaixava para facilitar a entrada do leão em sua vida. A pele dela do pescoço parecia de galinha depenada: Toda eriçada!
- Como ela é? – perguntei-lhe enquanto pensava onde seria a transa, no meio de tanta gente, com as cabines todas ocupadas.
- Como ela é, quem? O quê? – Admirou-se Elsa com a minha pergunta.
- Raspadinha... Cabeluda... Esclareci-lhe.
- Haa... Ela! ... Já usei até rabo de cavalo nela, de tão cabeluda. Só um dia e de brincadeira.  Hoje tem apenas um ligeiro bigode de lado... De cada lado. Parece um “Ò” espremido – E fez um gesto com as mãos, fazendo primeiro um “O” e depois quase fechando as mãos, tornando o “O” ovalado – Toda molhadinha. Agora mesmo está tão úmida que está pingando – complementou a descrição. Olha só... (pegou minha mão e levou-a até o ponto de encontro das suas belas pernas. Meus dedos sentiram como estava úmida e quente. Meus olhos se reviraram nas órbitas, o coração deu três pulos de atleta de salto com vara, e os pulmões expulsaram o ar retido durante o seu toque como jato de baleia depois de meia hora debaixo de água na profundeza dos oceanos).

- Vamos sair daqui que já não me agüento mais – disse Elsa, as pernas tremendo, as mãos úmidas, o olhar semicerrado, fazendo menção de se levantar. Senti que por ela, sentaria ali mesmo na mesa, abriria suas belas pernas e, em frente a todos os fregueses que almoçavam no trem, sem se importar com as conseqüências, transaria comigo. Uma vontade irresistível de dar-se por completo ali mesmo. Segurei-a pela mão e disse-lhe: - Aqui não podemos. Estamos no trem e as cabines estão todas ocupadas. O trem está lotado. Vem comigo.

Saímos daquele vagão e caminhamos até o primeiro logo a seguir à locomotiva. Paramos na plataforma de engate dos vagões. Naquele espaço esguio, apertado, balançando sob o vento frio da noite, ela tirou as calcinhas que me enfiou no bolso do paletó enquanto eu puxava o zíper e punha em liberdade o meu ansioso gluglu, que era assim que eu costumava chamar ao meu “documento”, um jovem companheiro de aventuras lúdicas. Elsa ficou um tempo acariciando-me, sentindo, afagando com extremo carinho, quase uma devoção, agachou-se e o pôs todo na sua boca quente e úmida. Depois se levantou, alçou uma perna e me aproximou o suficiente para que a penetrasse. Ficamos ali, beijando-nos em movimentos rítmicos, em puro êxtase, completando-a. Fomos interrompidos porque a porta se abriu e um casal, fazendo uma cara de admiração nos olhou de alto a baixo. Ela pôs a mão na boca em “ó” e seu semblante denotou um sorriso. Ele sorriu e voltou a fechar a porta não sem antes perguntar: - Desculpem... Mas já que interrompemos, vão demorar muito?
Terminamos talvez um pouco mais rápido o que havíamos começado. O casal nos esperava do outro lado da porta, com um sorriso. Retribuímos-lhes da mesma forma mas ficamos com a certeza de que as companhias aéreas, rodoviárias e de caminhos de ferro internacionais deveriam  ter sempre um compartimento exclusivo para dar uma rapidinho, para evitar de dar vexame. Lugar para sexo é tão importante como banheiro para outras necessidades. Ainda mais agora, nesta era de liberdade sexual, quando já não existem aquelas associações de velhinhas que saiam pelas ruas e pelos corredores dos congressos, em passeata pela manutenção das qualidades morais. Hoje ninguém segura as velhinhas...

Onde andará a Elsa?

Rui Rodrigues

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Ensaio sobre o meretrício

Durante milênios a cegueira proposital proporcionou o maior dos enganos da humanidade e criou vários mitos dos quais, bem a propósito, se ressaltam dois: As mulheres não faziam questão de atingir o clímax sexual, prescindindo dele e sendo por isso meramente passivas numa espécie de gozo eminentemente masculino. O outro era a “santidade” de mãe, irmã, prima, avó e todos os familiares em geral. Com tanta santidade apregoada nos templos, logo ficou claro que alguém deveria estar mentindo, porque na prática, a atividade sexual funcionava de outro modo, todos resguardando a honra das santidades.

Exatamente, esses, que liam os livros sagrados, com tantos exemplos falsos e verdadeiros de verdadeiras e falsas santidades, sabiam, mas não admitiam, que essa prática sexual era bem diferente, mas tinham de ser coniventes por receio das conseqüências e apologia de um comportamento que definia os limites da lei.



Esta cegueira proposital permitia que os homens tivessem haréns constituídos de acordo com o seu poder aquisitivo, mas provavam também que uma mulher, aliás, montes, quase todas as mulheres poderiam manter relações sexuais a critério de seu dono e senhor, a qualquer hora, mesmo que o odiasse. Na verdade era uma troca, um negócio: O senhor lhes dava boa vida, e elas retribuíam, gostando dele ou não, atingindo o clímax ou não. Se as mulheres do harém, numa relação perfeitamente legal dentro da lei dos homens e dos livros santos, podiam ter relações dentro destas condições, porque razão uma mulher não poderia agir da mesma forma sendo casada com um único homem? Havia várias formas de transgredir a lei de apenas o senhor do harém poder transar com as concubinas: Os eunucos mãos arriscados, castrados para guardá-las, e não podendo transar, ofereciam seus dotes a guardas bissexuais que em troca  recebiam os favores das concubinas mais espevitadas. Quantas mulheres na idade média ficaram por anos com seu cinto de castidade intacto, esperando os maridos, sem fazer amizade com o chaveiro do reino em troca de facilidades pessoais ou de bens? E podia o chaveiro ser velho, idoso, que isso não importava. Por outros favores, outros mais jovens entravam em seu leito com a conivência do ancião.

E por milênios assim foi e ainda é, porque os haréns ainda existem de forma legal ou sob a forma de “pirataria” onde não se respeitam os “direitos”. Existem também em África algumas tribos em que cada mulher tem vários homens, e um grupo de mulheres divide o mesmo homem ou os mesmos homens. Em outras tribos, o irmão herda a viúva. O amor é diferente por lá, ou não será amor o que vemos por cá, onde ainda estamos cegos, convenientemente cegos. Era preciso manter as aparências para as mulheres não serem apedrejadas ou desmoralizadas, os homens amantes não perderem a vida, a vida continuar como sempre fora, dentro da maior “santidade” e os costumes são a base de qualquer sociedade sobre os quais se constroem as leis. Sendo falsos os costumes, podemos avaliar da justiça das leis que neles se baseiam. Se nos fizermos a pergunta “Vivemos aparentemente num mundo que não é real, um mundo de faz de conta?” Poderemos ter muitas respostas. Todas dependerão de nosso grau de cegueira, conveniente ou não, de nosso apego aos costumes, à tradição.  O que prevalece sempre é a nossa “visão” ou “cegueira” da ou para a, realidade.


Sobre o que é real ou não em nossa existência, já existe um texto adequado neste blog. Mas para os efeitos deste ensaio, realidade é o resultado de nossa percepção isenta de julgamento próprio. Quando julgamos ou nos julgamos vemos que a realidade é diferente, e, ou fechamos os olhos para ela, ou mudamos o nosso comportamento.

Por exemplo, o que sempre definiu o que se entende por prostituição: Uma mulher ser remunerada por suas transas sexuais de forma contumaz com diferentes parceiros, fazendo disso um modo de vida. Ora, a ser assim, conhecem-se muitos homens que atuam da mesma forma para sobreviverem na vida.

O fato de se ter alegria e prazer no trabalho é uma questão que nem merece ser discutida para efeitos de definição de comportamento ou de trabalho. E afinal, o que se entende por “remuneração”, paga, pagamento, compensação? Dinheiro? Bens móveis e imóveis? Carinho? “Amor”? Passar bem e confortavelmente bem na vida?

Parece que as definições que temos disponíveis não nos livram muito da possibilidade de sermos todos – e todas – “meretrizos” e meretrizes, excluindo quem se abstém de qualquer pratica sexual. Seriam os santos, os interlocutores entre deus e a humanidade se não houvesse tantos casos de pederastia. E mesmo quando o prazer é “solitário” troca-se o ato pelo prazer e este é o “pagamento” do ato. Seria como um contrato pessoal particular de “gaveta”, desconhecido para o resto do mundo.


Parece ser que vivemos num mundo de faz de conta, escondendo-nos em banheiros para escondermos os nossos cheiros, transando às escondidas para ocultar a nossa moral, roubando ás escondidas para não sermos apanhados nas malhas da justiça. Estaremos em Sodoma ou em Gomorra? Não... O mundo sempre foi assim, sempre fomos assim. Antes havia repressão. Agora a economia e a política não o permitem. Os estados já não dependem das teologias.

Todos temos o direito de sermos felizes, levando a vida que queremos. As leis nos determinam os limites, e para políticos e para a economia, os limites estão ainda muito longe.

Não nos admiremos deste maravilhoso mundo novo. Ele é velho e só agora está sendo descoberto porque já nada se pode esconder. A luz se fez, finalmente! Por isso, olhe, escute, diga, sinta, e viva!E se alguém tiver a cara de pau de lhe atirar a primeira pedra, revide!

Mas... Sempre há exceções, mas não muitas... 

Para fazer um caldo de piranha sem espinhos, não se roguem.... Consultem... http://www.tudogostoso.com.br/receita/13757-caldo-de-piranha-sem-espinho-silvano.html

Rui Rodrigues

PS- A excelente e sensual foto no topo é de Paulo Carvalho, e sobre o assunto pode ser vista no site http://www.luizberto.com/vote-espia-so-paulo-carvalho/alto-meretricio-boemios-bares-e-bordeis-11 ( se houver reclamação desta postagem, mesmo fazendo propaganda do site, retirarei a foto)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ensaio sobre a existência


Prepare-se! Se nunca pensou sobre o assunto, depois de ler o que segue sua vida nunca mais vai ser a mesma.


É isso... Todos sentem o que está sentindo agora, que começa a ler, quando pensa sobre a existência. Uma parte do que sente se deve ao medo de saber sobre o desconhecido que atualmente não rege sua vida, e que poderá passar a reger se houver propensão de sua parte a aceitar o conhecimento. Mudar não faz parte de nossos planos, geralmente, a não ser no desespero, quando nossa vida toma rumos jamais imaginados. Outra parte é de descrença. Não se aceita levianamente que nossos pressupostos para a existência possam ser abalados. Afinal, há quantos anos já convivemos com nossos conceitos do que é “ser”, “estar”, “sentir”, “pensar”, “existir”!

Façamos uma experiência muito simples. Observe uma pessoa muito querida – ou não – de seu conhecimento quotidiano, daquelas com quem mais convive. O que pensa ver? O que sente? E se essa pessoa fosse diferente do que pensa num só quesito de sua identidade? Não seria a primeira vez que se surpreenderia, para bem ou para mal, ao verificar que alguma pessoa demonstrou ter qualidades ou defeitos que não esperava. Não esperava porque não sabia, não via, não sentia. O fato de não ver, não sentir, não saber, não se deve a um defeito seu, mas uma virtude de todos nós: Encobrimos certas facetas de nossa personalidade para que possamos conviver em sociedade. Se todos mostrássemos os lados perversos de nossas personalidades, não haveria relacionamento cooperativo, nem sociedades, famílias, agremiações, contratos, nações. A forma de convivermos – e isto é essencial para a nossa própria existência – é nos mantermos como seres sociais, que mostram sempre um lado bom que nos mostra como "semelhantes" e esconde um lado digamos, pior, ou até ruim. Somos seres individuais que lutam para sobreviver, sempre atentos tentando readaptar-nos a cada instante novo de tempo que nos aparece em nossas vidas, e isso acontece a cada micronésimo de segundo, de forma tão rápida que nos é impossível ter a rapidez de percepção suficiente para perceber esse novo micronésimo de segundo. Quando percebemos o que aconteceu já aconteceu há muitos micronésimos de segundo.

Poderíamos embrenhar-nos no pressuposto de que quem tiver uma velocidade de percepção maior que o seu semelhante terá a vantagem de “perceber” antes desse semelhante o entorno que o cerca e tirar vantagem disso. Lutadores de arenas que praticam em clubes esportivos ou que treinam em instituições militares sabem bem disso, e podem até intuir um ligeiro e fugaz movimento de corpo indicativo do movimento do adversário, de forma a que possa adaptar-se rapidamente, antecipar-se, e iniciar movimentos de contra-medidas e vencer a luta. Mas mais importante e difícil do que isso, que é basicamente físico, é perceber o “pensamento” do semelhante, saber do que é capaz, se é realmente nosso amigo ou amiga, se nos ama ou não. Estamos fartos de perguntar: - Você me ama? E raramente estamos absolutamente certos das respostas. Não é mesmo?

E buscamos indícios no olhar, no trejeito da boca, na expressão corporal, e os juntamos a reminiscências de passados que mantemos guardados para comparar e decidir se o que nos falam – ou a forma como agem – corresponde à verdade desse ser sob análise. Vemos-lhe a pele, o corpo com seus membros, mas não vemos como os órgãos reagem por debaixo dessa pele, se o estômago se contrai, se o esfíncter se aperta, se a bílis joga mais acido, se as veias do cérebro se contraem ou dilatam... E pior, muito pior, não se vêm as associações de pequenos flashes de imagem que se produzem em seus cérebros, buscando comparações no passado de forma a que possam definir um ”estado” de personalidade que lhes permita crer, duvidar ou rejeitar o que vêem, sentem, ouvem de nós.

De que existimos, não temos dúvidas. Renée Descartes já disse isso quando afirmou que “Penso, logo existo!”, mas... Quem, o “que” realmente nos parece existir?

Do exposto, parece ser que o que existe para cada um de nós, o “eu” de cada um, é uma “imagem”, uma “imaginação” do que realmente somos: O que queremos ser, ou o que gostaríamos que os outros e as outras pensassem que somos. Esta segunda hipótese, cultivada ao longo de anos, pode tornar-se uma fixação, de tal modo que nos podemos convencer de sermos assim realmente: Não como somos realmente e de fato, mas como “queremos” ou gostaríamos de ser, existir.

Temos agora dois vetores que nos criam uma certa confusão: O primeiro é que o tempo passa tão rápido, fora de nosso controle de percepção (esta é extremamente lenta) que corremos o risco de pensar flutuarmos no tempo, como se não existisse, existíssemos, como se fossemos produto de imaginação. O segundo é isso mesmo: Imaginamos que somos, existimos, com certas características, mas na verdade podemos comportar-nos de forma completamente oposta ou diferente em certos momentos de nossas vidas. Os exemplos estão por toda a parte, como a mãe que larga o filho num latão de lixo, no meio da rua, num filho que passa a expressar seu ódio aos pais, ou vice-versa, as mudanças de comportamento perante a família e os amigos. Mas isto não quer dizer que quem não muda o comportamento seja exatamente como “parece” ser aos olhos e sentimentos dos outros: Apenas é mais persistente na manutenção desse seu “eu” muitas vezes a um custo sobre humano que lhe pode custar um AVC, um ataque cardíaco, baixar as células T no organismo, ficar mais propenso a doenças... Há “custos” financeiros, morais e de saúde para a manutenção do “eu”. Quem já não ouvi a célebre frase: “- Imaginem! Convivi com fulano (a) por mais de vinte anos e agora ele (a) me apronta uma destas...”

Seja como for, e usando nossa convicção de que existimos com determinadas características, pessoais e ou personalizadas, com segredos da vida e de nós mesmos que sempre carregamos, o fato é que “vivemos”, mas muitos de nós não temos uma explicação para o “porquê” de vivermos e muito menos do “para que vivermos”.

Há quem  acredite que teremos uma compensação após a morte.

Não temos na verdade nenhuma explicação convincente que nos explique porque vivemos e para que vivemos. Parece ser que, da forma como se morre, e das razões pelas quais se morre, que um Criador não estaria muito preocupado com cada um de nós individualmente, mas com o somatório dos que estão vivos, isto é, a humanidade. Mas se pensarmos nos dinossauros talvez constatemos que nem isso importa a esse Criador, porque foram extintos. E não podemos acreditar que esse Criador se tivesse enganado na espécie "preferida" depois de milhões de anos de evolução, eliminando-a de repente. Algo maior lhe interessará: A vida seja qual for a sua forma, e no caso de vida inteligente, seja qual for a sua forma e sua idiossincrasia, é o que parece interessar ao Criador. Albert Einstein perguntou-se se Deus jogava dados. Melhor nos perguntarmos se Deus gosta de assistir a competições, porque desde a formação da vida neste planeta, em particular, que espécies competem entre si, e no caso desta humanidade, todos nós entre si, em busca de um melhor emprego, de uma casa melhor, de um lugar melhor...Uma competição genética!Somos competidores inveterados, e pelos vistos, gladiadores do grande circo da vida com um criador que assiste mas não se intromete. Apenas assiste! Exceções ao resultado esperado não são fruto da ação do demiurgo. Existirá, mas não se intromete ou não haveria o que pensamos ser “injustiças” imerecudas por quem se acha "justo".

Há alguma conclusão?

Parece que sim: O segredo – ou a esperança - de continuarmos a existir, a ser, reside na convivência que podemos manter entre nós, nossos semelhantes e a natureza que nos rodeia. Não há outro modo. O espírito de competição, inerente a cada ser de cada espécie deste planeta, pode jogar tudo a perder, e no caso da competição humana, suportada pela ambição, pode ter resultados catastróficos. Sem nos mostrarmos como somos, de forma honesta e social, estaremos sempre sujeitos a conflitos que nem sempre poderemos controlar. Como canalizar os interesses comuns e fazer deles um modelo de convivência humana, poderia ser um bom tema a desenvolver de forma consciente pelos políticos internacionais, sem “puxar a brasa para a sua sardinha”, criando disparidades como as que vemos quando olhamos para potências mundiais, e comparamos com Biafra, Mali, Etiópia, ou para governos que tentam impor com a esperteza, analfabetas convicções ou por vaidade os seus valores ao restante da população sem lhes perguntar o que querem, por via direta que pode ser pelas redes sociais, de forma geral e não apenas por “amostragem” de pesquisas como atualmente se faz.

Esperança de um mundo mais justo, há  sim, mas há que olhar o tempo, que passa muito rapidamente. O que deve ser feito não pode esperar eternamente sem corrermos o risco de que o tempo passe e não nos vejamos no futuro. O planeta é de todos e de todos é a responsabilidade de o mantermos e nos mantermos: Somos os donos da casa!

Depois da morte?

Bom... Depois da morte veremos o que existe, se é que algo existe. Cada religião nos diz coisas diferentes do que existe para lá da morte, e pelos vistos, dificilmente todas terão razão porque se contradizem. Talvez até nenhuma tenha razão.

Rui Rodrigues







quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O incrível exército dos moribundos



Thriller de Michael Jackson? Não! 

É um exército especial, também de moribundos, mas que não dançam nem foram ainda para a cova. Saem das páginas de jornal, aos magotes, invadem nossas casas através dos aparelhos de TV, vemo-los nas ruas, nas praças, naquelas caixas obsoletas com rodas a que chamam de transporte público, e muitas vezes não os podemos ver porque estão numa UTI, dentro de ambulâncias ou nem foram notícia, mas até estes que sabemos existir, são moribundos e fazem parte do incrível exercito, cuja mascote é um enorme gato pingado sem cor por questões do “politicamente correto”, de olhos amarelos, inquisidor. Não é a mascote que traz o azar, nem este existe: A desgraça é um dos efeitos de uma causa que tem origem no tempo em que as múmias eram apreciadas, cuidadas e ainda não tinham ido para museus nem assustavam as platéias dos cinemas nem dos leitores de gibis: A forma de governar!

Tal como o “soldado desconhecido” ninguém sabe quem foi o primeiro grande herói deste incrível exército, mas já foi há muito tempo. Não tem estátua, ninguém lhe leva flores, não há carpideiras em seu túmulo, até porque nem se sabe onde estará enterrado, se seus ossos foram preservados, ou se jazem em alguma gaveta de arqueólogo, com um número impresso para posterior estudo. Talvez tenha sido Esaú, que a mãe enganou mandando o filho mais amado, Jacó, levar um prato de carneiro ao pai, que por cego de verdade, não percebeu que era o filho imberbe, coberto por pele de animal, que lhe levava o prato preparado pela mãe e lhe deu a primogenitura.  Esaú morreu também para a história. Jacó não: Foi o preferido da comunidade e ficou muito bem, de bela imagem na história. Não se sabe muito bem que conclusão tirar deste fato que se diz histórico. Uns pensam de um modo, outros acham que tirar vantagem é primordial. Ainda há quem diga que o pai era machista e que a mãe corrigiu o que deveria ter sido corrigido. O judeu errante já não é apenas judeu. Há errantes por toda a parte deste planeta e de todas as raças, idades, gêneros.

Há muitas mulheres neste exército. Uma jovem de 25 anos estava chegando em casa, de carro e um bandido atirou nela com um revólver para lhe roubar uma bolsa que acabou sendo abandonada na calçada ao lado do carro. Levou um tiro na cabeça e está em coma, na UTI, passando muito mal. Estava grávida de nove meses e a criança foi salva pela equipe médica. Dizem á boca pequena que a culpa é dos bandidos, mas esquecem, tanto as bocas grandes quanto as pequenas, que é o sistema que produz esses indivíduos. A educação em casa e nas escolas é fundamental, mas os governos nunca deram importância nem para a educação nas escolas nem em casa: os filhos pequenos têm que trabalhar para ajudar financeiramente em casa e não têm tempo para ir à escola, nem dinheiro para comprar livros e outros apetrechos. Os pais não podem ajudar na educação porque a falta de tudo os faz reclamar todos os dias da desgraça de vida que levam.

Uma senhora aposentada, com quase setenta anos, teve um ataque cardíaco e passa muito mal. Ganhando apenas dois salários por mês, morando sozinha, não sobra dinheiro para nada porque gasta quase tudo em remédios, os alimentos aumentaram de preço assustadoramente. Para se distrair, usava um modem que seu filho lhe tinha dado, com um computador velho, para acessar a Internet, mas o ataque cardíaco surgiu quando a luz mais uma vez se foi. A distribuidora de energia elétrica costumava falhar mais de três vezes por semana, todas as semanas, e os períodos sem energia não raro passavam das 48 horas. O sinal da distribuidora de sinal para a Internet, a que forneceu o modem, sempre apresentava períodos de baixo sinal, interrompendo os textos da senhora justamente quando ia dar um “enter” para postar nas redes sociais. Naquele dia passou oito horas para conseguir mandar um e-mail por deficiência de sinal, a comida estragou na geladeira por falta de energia elétrica, e a água da caixa acabou por falta de água da fornecedora de água. Quarenta e oito horas sem energia elétrica, os remédios estragados na geladeira, a comida estragada e sem dinheiro para comprar mais naquele mês – detestava pedir dinheiro ao filho que também vivia apertado – sem água para tomar banho, o coração da senhora não agüentou. Dois amigos seus já tinham falecido na fila de consultas em hospitais do Estado, uma menina, filha de uma amiga sua, morreu porque o médico de plantão faltou como todos costumam faltar porque têm dois empregos e há quem “segure as pontas” no emprego do Estado, porque nestes empregos do Estado, onde se fazem as maracutaias, todo mundo tem o rabo preso e por isso cada um se acha no direito de tirar o maior proveito, e não há moral para a “chefia”, normalmente de uma quadrilha, para os chamar à atenção...

Jovem, ainda com 45 anos, naquele ano foi para o hospital e faleceu. Mas enquanto vivo, fez parte do incrível exército dos moribundos. O ataque foi fulminante naquele dia fatídico e não foi por acaso. Foi causa. Aconteceu quando apareceu a fiscalização dos órgãos públicos que já o vinham assediando. Ele não tinha dinheiro e já caminhava com dificuldade por causa de problemas no coração. Era a fiscalização da Prefeitura, de uma APA, de Órgão Ambiental. Embora o loteamento fosse legal para todos os efeitos – a Prefeitura aprovava projetos e recolhia impostos e taxas – os órgãos do ambiente não o reconheciam como tal por falta de trâmites legais que aquela deveria ter tomado. Nem CEP existia e os correios não entregavam correspondência. Nem a câmara de vereadores resolvera esse problema do CEP. O coração do jovem batia mais forte, descompassado, toda vez que algum veículo de órgão público aparecia. Aos fiscais não importava o coração do jovem que providenciava a documentação que podia. Não havia prazos para a Fiscalização e embargaram a obra. Naquele dia, não apareceu um veículo apenas. Vieram os três veículos das três entidades fiscalizadoras e o coração não agüentou perante o panorama exposto pelos fiscais. Morreu nesse mesmo dia.

O incrível exército dos moribundos é enorme. Corresponde a mais de 20 por cento da população mundial. Nele existem doentes de todos os tipos que morrem por falta de remédios; por balas perdidas; por falta de atendimento médico; por falta de ambulâncias; por injeções de leite na veia, e até mesmo sopa na veia, ou ácidos; por falta de equipamento e programas de segurança em obras; em acidentes nas estradas porque são de traçado antigo, cheias de buracos e irregularidades e com poucas pistas para trânsito tão grande; por doenças provocadas por enfermidades adquiridas  em locais com esgoto a céu aberto, e são muitos estes locais; por aprovações indevidas de projetos em locais de alagamentos como Xerém e Teresópolis, muitas vezes a troco de propinas; índios e mendigos queimados com álcool em praças públicas; ônibus incendiados; ordenam-se mortes por celular de dentro de presídios de segurança máxima ... O caos impera e não há centuriões que imponham a ordem, juízes que moralizem e ordenem este caos. Há, mas muito poucos.

E não só destas enfermidades administrativas, porque muitos estão moribundos por faltas que não teriam se houvesse mais moral e ética na administração pública.

Entretanto, governos estaduais, municipais e federal continuam fazendo propagandas sobre seus governos e programas, exaltando obras que apenas servem para empresas e distração pública – no sentido de dispersar o pensamento, alienar da realidade -  sem que exijam a essas empresas que parte dos lucros seja aplicada na manutenção de sistemas de atendimento a toda a população.

Somos todos brasileiros, mas uns se refestelam nas arquibancadas da arena do Planalto ou dos governos estaduais, como o Genoíno, que condenado pela justiça assume como deputado “despistado”, enquanto outros trabalham sem parar para tapar os buracos financeiros criados no seio do governo.

Outros, uma enorme e cada vez mais crescente parte, milita no incrível exército dos moribundos rezando a Deus – cada um tem o seu – para que o manto da ética e da moral se estenda pelo planeta. Sabe-se que as verbas são atribuídas aos órgãos de governo, mas não se vê melhorar nada. Pelo contrário, tudo piora. Em algum lugar elas se escondem, e nem os tribunais de contas conseguem deslindar onde... É bem possível que nem saibam que as verbas se escondem.

Será Deus cego e surdo, que pelo menos mudo Ele é, ou teremos que ser nós, os que se preparam para entrar no incrível exército dos moribundos a mudar este estado de coisas?

A banda do incrível exército dos moribundos – os que vão morrer te saúdam, César – não toca hinos militares. Tocam apenas uma canção:

... Tristeza... Por favor, vai embora... Minha alma que chora...

No verso seguinte o exército em coro estufa o peito e não chora: Range os dentes, franze o sobrolho e irrita-se!

A cada dia que passa o incrível exército dos moribundos aumenta o efetivo!


Rui Rodrigues.

PS- A moça sofreu parada cerebral pela tarde de 10 de janeiro de 2013. Seus órgãos foram doados. A filhinha passa bem. Os dois bandidos ainda não foram presos, e certamente se o forem não ficarão na prisão por muito tempo. Voltarão a matar! As prisões não fazem santos.  




     

Ma’at e a existência humana.


Ma’at e a existência humana.

Religião e política nasceram dos mesmos conceitos que resumem as necessidades humanas mais prementes: Ordem e justiça. Sem estes dois conceitos, seríamos como aves em galinheiro, manadas nas pradarias, cardumes nos mares. Vaguearíamos pela terra, pelas águas, em busca de comida sem a mínima noção do mundo que nos cerca e de como viver para fazermos algo mais do que comer, dormir, mover-nos reproduzir-nos e morrer. Somos mais do que isso, muito mais, e até na ordem e na justiça é necessário haver ordem e justiça. Muitos dos que governam o mundo interpretam a justiça de forma injusta na mais perfeita desordem. Não conhecem o conceito de Ma’at e se conhecem, não lhes interessa aplicá-lo. Formam partidos políticos no dia de hoje para se aproveitarem dessa desordem, dessa injustiça. Mas o mundo costuma fazer justiça aqui no planeta, para aliviar o trabalho dos juizes que guardam as portas do paraíso, lá em cima, não se sabe onde, num ugar chamado céu que não sabemos como é nem onde fica. Cada religião imagina este lugar paradisíaco a seu modo. 

Um dos reis mais antigos do antigo Egito chamou a si mesmo de “Senhor de Ma’at” e alegou ter concebido Ma’at em seu coração e a promulgado com sua boca. O significado de Ma’at, para esse rei egípcio, que durou por bastante tempo, era o de ser uma “base”, tal como a base de um trono, por extrema necessidade do Estado Egípcio em evolução política, religiosa, com altos índices de natalidade. Além do mais, eram vários os povos que habitavam a região, tornando a sociedade complexa, com interesses conflitantes que era necessário controlar através de um código de leis. Não demorou muito para que este conceito, no fundo um código de leis, se transformasse em algo muito mais amplo e importante: A palavra passou a ser usada como um principio de ordem que regulava todos os aspectos da existência.

Para podermos entender melhor este princípio, basta analisar o modo de vida japonês, a ordem e a justiça que se notam nos princípios do povo, em sua participação como cidadãos, nos arranjos florais, no asseio, na apresentação da comida, na harmonia em todos os detalhes da vida, e, principalmente, na época dos samurais e ainda hoje, o alto conceito de honra que leva alguns a cometerem o sepukku ou hariquiri, um modo de suicídio efetuado a sós ou acompanhado de um ajudante que deverá decepar a cabeça do suicida após ter entranhado a espada até os intestinos, revolvendo-a para dilacerar os órgãos internos. A vida no antigo Egito era ordenada por Ma’at aplicada em todos os aspectos, inclusivamente na administração pública, sem o extremismo do suicido por “pecado” de honra dos japoneses da época feudal, milênios depois.
                                        
Foi na mais perfeita Ma’at que os egípcios construíram as pirâmides, os monumentos, criaram exércitos, levaram a administração até terras longínquas como o Líbano e o Sudão. Ma’at agora explicava o próprio cosmos, o equilíbrio do Universo, a coesão dos elementos, as estações do ano, o movimento dos corpos celestes e em particular o diurno do Sol. Este conceito estendia-se ao culto dos sacerdotes, ás obrigações pessoais de cada um e principalmente à correção, à honestidade e à sinceridade nas relações pessoais.

Hoje, provavelmente, seria julgado como um povo “ingênuo” por muitos outros povos deste planeta.

No pensamento egípcio a natureza e a sociedade eram os dois lados de uma mesma realidade. Tudo o que fosse harmonioso e regular em qualquer um dos lados era considerado Ma’at. Os próprios deuses eram Ma’at, ao contrário de todos os outros, sem exceção, que exigiam sacrifícios inclusivamente de seres humanos, mas, como há sempre o fator de conveniência para agradar a “gregos e troianos”, era permitido que faraós – considerados descendentes dos deuses – fossem acompanhados em sua viagem para o além, de todos os seus servos e servidores preferidos, os quais eram mortos caridosamente com venenos e enterrados no monumento fúnebre do faraó para que o pudessem servir no futuro. Animais de estimação sofriam o mesmo processo e eram igualmente embalsamados.

Assim, um dia imaginaram que o demiurgo, autor do Universo, da natureza e da vida, havia criado o universo fazendo aparecer o homem num outeiro primordial, banhado por água, exatamente em terras banhadas pelo Nilo. 

É inegável a influência da religião egípcia em toda a região do Norte de África e do Oriente Médio, mas como por lá prevaleciam deuses guerreiros, criados para a conquista de territórios, estes prevaleceram sobre os deuses egípcios.

Ma’at nunca chegou às civilizações ocidentais nem às Américas.

Nem ao Brasil!

Talvez um dia... Quem sabe?... Mas já estamos atrasados em cerca de 6.000 anos...

Rui Rodrigues

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Fácil entendimento dos Universos Paralelos


Fácil entendimento dos Universos Paralelos


Imagine o cenário como num filme: Uma sala, uma janela, um homem – ou uma mulher – uma cadeira, uma porta.

Num dos universos paralelos (existe uma infinidade deles), o homem sai de perto da janela, olha para a cadeira, senta-se. Num dos universos paralelos, o homem sai de perto da janela, olha para a cadeira, passa por ela, chega até à porta, abre-a e sai batendo a porta atrás de si. Num outro ainda, o homem sai de perto da janela, olha para a cadeira, passa por ela, chega até a porta e cai fulminado por um ataque cardíaco.

No conceito comum, universos paralelos seriam exatamente como películas de filme passadas lado a lado, mas com os mesmos personagens: você, eu, qualquer um de nós, o mundo em que vivemos. No entanto, enquanto a física quântica nos pode dar algumas esperanças de que os universos paralelos existam, a mecânica newtoniana e a própria mecânica quântica já nos tiraram definitivamente essas esperanças: Deve existir uma infinidade de universos que vêm nascendo, inflando ou estagnando, colapsando, desde um tempo infinito no passado até um tempo infinito no futuro. O tempo, desde que nasceu, não pára! Universos nascem, inflam ou não, equilibram-se ou colapsam, mas são tudo menos paralelos. Isso a que chamamos de “universos paralelos” deveria ter um outro nome mais adequado, como por exemplo, “opções divergentes no espaço tempo” de forma a retirar do termo a opção de serem universos de fato. Como as possibilidades de opções do “formato” do homem, da posição da janela, da posição dimensões e forma da cadeira e da porta são infinitas, haveria um número infinito de universos paralelos, e isto, em termos de mecânica newtoniana ou quântica, seria um desastre completo: todos implodiriam inevitavelmente devido à atração gravitacional. Universos paralelos não seriam universos se não tivessem massa, energia.

A esperança da física quântica aplicada às partículas nos daria uma pequena esperança, pelo fenômeno do “entrelaçamento quântico” segundo o qual, depois de se aproximarem, uma partícula girará em sentido contrário da outra, e mesmo que a afastemos, ela continuará girando da mesma forma. Se pudéssemos, lá longe, bem longe, mesmo a parsecs de distância, inverter o sentido de rotação de uma, a que ficasse aqui inverteria imediatamente o sentido de seu “spin” ou rotação. A esperança é a de que os universos pudessem existir sob esta forma, de modo que a ação tomada pelo homem da sala com a cadeira, ao tomar uma atitude, anulasse a mesma possibilidade em outros universos paralelos, mas não de forma total. Isto é, em muitos universos se sentaria na cadeira, mas num deles cruzaria as pernas, em outro ficaria com as pernas dobradas, em outros assumiria posturas diferentes, e num deles a cadeira quebraria.

O conceito de “universos paralelos” vem do lapso de quem inventou o termo: esqueceu-se – ou não sabia - dos efeitos da gravidade dentro da Física Newtoniana ou Quântica, de ambas ou de qualquer das duas.

Vivemos imersos em dúvidas sobre de onde viemos, porque estamos aqui, conscientes neste mundo, o que se espera de todos nós, para onde vamos após a morte. Quem não pode raciocinar sobre estes assuntos, e não tem opinião própria, acredita piamente, sem questionar, o que nos dizem outros iguais a nós que já formaram suas opiniões – certas ou erradas ou equivocadas – e as seguem como atos para a salvação eterna. No entanto, se temos certeza de algo é a de que existimos, e mesmo assim, segundo Stephen Hawking, existe a possibilidade de sermos formas holográficas de um ser idêntico situado em algum lugar que desconhecemos (ler “O universo numa casca de noz”). Quem busca explicações e medita sobre o assunto tem o pensamento livre para uma infinidade de opções, possivelmente todas carentes de comprovação. Mas há algo que não necessitamos comprovar: Seres holográficos ou de espaços-tempo paralelos, temos a “sensação” de existir e temos a opção de fazer o que desejamos, assim esteja na possibilidade de nossas forças, o que nos torna reais para todos os efeitos. Se conseguimos pensar, decidir, fazer algo, mover objetos, somos reais.  E como seres reais, podemos pensar neste planeta como parte de um ser ainda maior a que chamamos de humanidade.

O que acontecerá conosco, como humanidade, se não podemos fugir deste planeta quando vivos e ainda menos como mortos? Isto nos remete para a construção de um mundo auto-sustentável de perfeita convivência entre as sociedades e nações, como fato real, sob pena de perecermos e vivermos uma vida deplorável de incertezas, guerras, destruição.

Os mundos imaginários são imaginários, e por mais que acreditemos neles, a preferência para determinar as nossas ações, é para o real, tudo o que sentimos conhecer naquele em que vivemos. Precisamos urgentemente aprender a lidar com as nossas diversidades, descobrir as nossas possibilidades, construir um mundo novo mais inteligente, mais dedicado à nossa causa: A humanidade como um todo. E nos sentiremos como se estivéssemos no céu, no paraíso... Porque não trabalharemos nem construiremos para os ambiciosos, mas para nós mesmos. Os ambiciosos são poucos e covardes e a força que têm nós lha estamos dando.

Como tirar-lhes essa força, veja em http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

Rui Rodrigues.


domingo, 6 de janeiro de 2013

As sociedades e os mecanismos de fuga


As sociedades e os mecanismos de fuga

Impossível deixar de pensar em Sigmund Freud quando se fala em sociedades e mecanismos de fuga. Admiro o povo judeu: Já passou por muitas vicissitudes, por algumas diásporas, pelo holocausto, e aí está, firme em suas convicções, trilhando um caminho ao longo da história que sem dúvida é de admirar. Não entendo como se pode ser contra este povo, a não ser por ciúmes, inveja. Alguns povos querem ver o povo de Israel como perseguidor, pintando-o com terríveis cores. Ou não sabem ou não querem ver como foram perseguidos. São sobreviventes da humanidade cega, aquela que não quer ver nem ouvir nem sentir, porque estão alienados da verdade a braços com seus interesses, ou até mesmo sem interesse algum. A verdade está na história, e o povo de Israel nunca se alienou de suas convicções.

Neste artigo, que nem sequer se pode chamar de ensaio, será impossível navegar pelas sociedades e pelos mecanismos de fuga de forma científica, completa, de tal forma que não fiquem dúvidas. As dúvidas persistem sempre ou por falta de conhecimento, ou por medo de abandonar uma perspectiva confortável, ou até mesmo para não perder amigos num grupo que se identifica por partilhar essas mesmas perspectivas.  Isto acontece em qualquer roda de amigos, em qualquer sociedade, seja ela política, militar, comercial, religiosa ou qualquer outra. Indivíduos que abandonam os princípios ou as perspectivas de um grupo acabam por se verem obrigados a abandonar essa sociedade ou grupo, ou este as expulsa de forma induzida ou explícita.

De um conjunto de regras de uma sociedade há sempre uma ou outra com a qual não se concorda. Somos todos diferentes, não há nunca uma unanimidade, ainda que as aparências digam que sim, para não se perder a “aceitação” implícita no grupo. Porém, no íntimo de cada um, umas regras agradam, outras se suportam, outras são insuportáveis. Quando as regras afetam de tal modo o nosso íntimo, saímos da sociedade ou tentamos modificá-la, e esta última opção é sempre a mais difícil, quase sempre impossível. São precisos muitos e muitas que discordem para que a sociedade se modifique. Uma andorinha só não faz um verão. Nem meia dúzia delas, exceto numa sociedade a dois - ou a três, o famoso triângulo amoroso. Mas existem quadriláteros amorosos e até pentágonos e hexágonos. 

A menor sociedade que se conhece é a do casal com ou sem filhos. A grande verdade é que neste tipo de sociedade restrita não há regras. E mesmo quando se explicitam regras ao longo da convivência, elas vêm a ser alteradas de comum acordo ou de comum aceitação, sempre dentro das “regras” que norteiam qualquer sociedade: umas agradam, outras se aceitam e outras são quase insuportáveis. É hora de lembrar um ditado muito popular: “Cada cabeça, cada sentença”. Sociedades formam-se, desenvolvem-se e a não ser quando há uma bandeira e o envolvimento é muito grande, como no caso das nações, normalmente acabam ao longo do tempo. Não há sucesso nem vida eterna para as sociedades, qualquer uma, e mesmo as religiosas têm um triste exemplo histórico: Religiões é uma questão de milênios, porque novas verdades se descobrem sobre a existência humana que as tornam obsoletas. O que não nos permite atentar para este fato histórico, é o nosso bloqueio próprio: Como aceitar que o nosso mundo, agora tão estável, venha a desmoronar porque nos abateram as verdades e o desconhecido passa a governar nossos sentimentos e nosso futuro? Cremos que nestes casos, o melhor caminho é a alienação. Buscamos mecanismos de fuga. Reforçamos nossas convicções e morremos convictos. São as novas gerações que, livres das pressões de nós, os convictos, que mudam tudo neste mundo, mas convenhamos que, à velocidade de gerações, demoramos milênios para mudar.

“Vinde a mim as criancinhas...” ou traduzindo-lhe as palavras,  vinde a mim os que não estão ainda instruídos, amestrados pelos velhos conceitos e crenças, porque estão livres para aprender. É a juventude que tem a iniciativa de mudar, porque está menos compromissada com os velhos conceitos. O convívio com o inaceitável se faz, normalmente, quando é impossível desprender-se dessas sociedades, através da alienação ou de forma menos drástica, através de mecanismos de fuga. É a nossa relutância em nos mantermos dentro dos "princípios" que nos tornam obsoletos, velhos, descompassados do mundo mais jovem que se cria a cada ano novo.

A mulher – ou o homem – que querem impor a sua vontade ou o seu modo de vida ao parceiro ou parceira, o fazem de vários modos e em vários graus de dificuldade de aceitação. Quando a pressão é muito grande, e a parte pressionada se vê encurralada, sem contudo desejar sair da sociedade, busca um outro companheiro ou companheira que lhe “alivie” essa pressão. Pode ou não envolver sexo, mas a “fraqueza”, a debilidade, a frustração, são tão grandes na sociedade "oficial", que normalmente o sexo estará envolvido.  O bloqueio da constatação das verdades, a alienação e os mecanismos de fuga fazem parte da vivência humana. Viver de outra forma seria um sofrimento tal que seria realmente insuportável. Não raro o grau de insuportabilidade de uma relação é tão alta, que bloqueamos a verdade de sermos insuportáveis para a parceira ou parceiro, alienamo-nos dos compromissos e buscamos os mecanismos de fuga: Uma nova igreja, uma outra mulher ou homem, uma nova emissora de radio ou TV, uma nova pátria, uma nova cidade, um novo partido político, uma nova empresa. Não nos movemos sem que estejamos indelevelmente amarrados a decisões particulares tomadas com ou sem sentido, por motivos que sequer conhecemos, mas que desejamos por esperança ou crédito de que será ”conveniente” para nós mesmos. Por isso trocamos seis por meia dúzia, ou tudo por quase nada, ou , com muito sucesso, o que era imprestável por altos lucros morais, intelectuais, financeiros, vivenciais ou de qualquer outro tipo. Depois refletimos e decidimos o que faremos a futuro.

Cremos piamente que não podemos viver sem algumas coisas que obtivemos da vida, e quanto mais coisas conseguimos obter da vida, outras mais queremos, porque nos dão prazer. É assim que detestamos a rotina num casamento, e quando nada mais há para inovar a “rotina” se instala. É como brincar a vida toda com o mesmo “brinquedo”. Seria insuportável para qualquer criança. Assim também neste mundo cheio de oportunidades, desprezar uma mulher com perfume diferente, com rosto diferente, com lábios diferentes, com práticas sexuais diferentes, é sempre duro de desprezar, e isto tanto se aplica a homens quanto a mulheres.

Quando a vida, de modo geral, se torna quase insuportável, tamanhas são as dificuldades para uns, e para outros não, que as drogas invadem o quotidiano como mecanismo de fuga. Drogas alienam, entorpecem, fazem esquecer as dificuldades da vida. Sexo pode ser considerado como droga, porque provoca prazer através de endorfinas jogadas no nosso cérebro e que nos geram prazer. Sexo faz-nos sentir prazer até o delírio. Por uma mulher – ou homem - que satisfaça sobremodo, somos capazes de abandonar a família, trair todos os nossos conceitos. Dizemos eufemisticamente que estamos “apaixonados”. Na verdade, em fuga do que já não suportamos, ou em busca de endorfinas.

Mas não nos recriminemos. Jamais. Arquemos com as conseqüências e vivamos. Não deixemos que a vida nos construa, mas construamos a vida como desejamos. Não pode ser a vida que caminhe sobre nós, empurrando-nos como barco em tempestade, mas sejamos nós que caminhemos sobre o caminho da vida que construímos dia a dia. Sem reclamar, sem nos vingarmos nos outros, mesmo que os outros sejamos “nós”!

Por outro lado, os governos tripudiam das populações tornando-lhes a vida cada vez mais difícil a cada dia. Os governos têm que pensar no que é suportável e no que é insuportável pelas sociedades. As sociedades estão a ponto de se alienarem do sistema de governo..

Rui Rodrigues