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domingo, 13 de abril de 2014

Desvendado o caso do vôo Malaysia MH-370

Desvendado o caso do vôo Malaysia MH-370


“Ziru-Ziru-Eit” [1] é um agente triplo que trabalhou para o M-16 britânico, a CIA americana e a  Bu Guojia Anquan (ou Guoanbu) da China (中华人民共和国国家安全部中華人民共和國國家安全部). Cidadão nascido no território especial chinês de Macau, nos tempos do mandato português, quando se aposentou pegou em suas tralhas e veio para o Brasil. Ficou esquecido até que foi requisitado pela CIA por três motivos: Sua experiência, seus olhos puxados e a cor amarelada de sua pele que facilitavam sua penetração em países orientais e o previsto desaparecimento de um avião comercial em circunstâncias muito estranhas: O vôo MH-370 da Malaysia Air Lines.

  1. Espião de olhos amendoados interrompe coito – 28 de fevereiro 2014
Ziru-Ziru-Eit, ou melhor, Ziruziru, é um espião mais de origem britânica por força do trabalho (viveu muito tempo em Hong-Kong) do que portuguesa (nasceu em Macau), estava transando com uma chilena gostosa que conhecera em Búzios, quando o seu celular – cedido pela CIA caso viesse a ser necessário - tocou. Gritou um “puta que o paliu” sonoro, desmontou da chilena e foi atender enquanto a moça de coito interrompido acabava o processo de prazer manualmente, gritando extasiada: - No te pares... Hijoeputa... Hijoeputa...
Escutou atentamente o que lhe diziam do outro lado da linha. Ia aquiescendo com a cabeça como se tivesse alguém a seu lado atento e precisasse demonstrar-lhe sua aquiescência. Tinha uma memória sensacional como todo e qualquer espião digno do nome, de forma que nem precisou anotar nada do que lhe diziam. Terminada a ligação, dirigiu-se ao banheiro, lavou o saco no bidê, apanhou a sua mochila-kit – tinha várias todas sempre prontas para viajar – vestiu uma roupa leve e saiu batendo a porta depois de gritar para a moça quase desmaiada sobre a cama: - Eu te ligo logo que puder. É uma emergência.

Antes de bater a porta tirou um pequeno aviãozinho de papel de um compartimento externo da mochila – um origami - atirou-o na direção da cama onde estava a moça e saiu definitivamente. Cada mochila tinha um aviãozinho de cortesia sempre preparado para as suas saídas às pressas, um velho hábito de cortesia. A moça pegou o aviãozinho, viu que tinha um texto escrito e leu:
- Tive que sair às pressas. Voltarei em breve para você. Aguarde-me e me desculpe sempre que pensar em mim até minha volta.


  1. Algures na fronteira do Irã com a Ossétia do Sul – 01 de março de 2014
Noite escura e fria em céu enevoado que escondia a Lua. Primeiro desceu do céu, numa clareira da floresta, um helicóptero russo. Menos de dois minutos depois desceu e pousou um iraniano. De cada um dos dois helicópteros desceu apenas um homem que se dirigiram um em direção ao outro. Apertaram-se as mãos. Um raio de Lua que conseguiu furar o bloqueio de nuvens iluminou por segundos os dois homens: Dmitri Medvedev e Mahmoud Hahmadinejad. Era um encontro  sigiloso, importantíssimo. Ninguém sabia do encontro nem mesmo os pilotos, de total confiança dos serviços secretos das duas nações. A partir de certo ponto ainda dentro das respectivas fronteiras os dois helicópteros tinham sido dirigidos automaticamente através de GPS.  Essa era uma das funções dos satélites  estáticos russos. Mas lá em cima não havia apenas satélites russos. Muitos deles eram americanos. Pelo menos um era e estava assestado para aquela clareira.
Após uma conversa que não demorou mais do que dez minutos os dois se despediram e os helicópteros alçaram vôo retornando a seus territórios.
- Ai!... Cruz credo...De quem é este cachorro? – perguntou Medvedev, o corpo todo retesado, levantando o joelho esquerdo para cima do direito sobre o assento e levando as mãos para junto ao peito num gesto de nítida repulsa.
- Não é meu, disse o piloto. – pensei que fosse de Vossa Excelência, disse o segurança. 
Chegaram à conclusão de que o cachorro deveria ser selvagem daquela região, e entrara no helicóptero enquanto aguardavam o Hahmadinejad. Não viram problema nisso e resolveram largá-lo em Moscou quando chegassem lá.
Em menos de um minuto o Coronel Rinty (o cachorro era treinado pelo exército americano para cativar desconhecidos e tinha aparelhos eletrônicos de escuta e vídeo implantados. Fazia parte da operação de espionagem “Snowthen”). Mas a bordo começou uma grande amizade entre o São Bernardo, coronel Rinty, e Medvedev, a segunda estrela maior do kremlin depois de Putin, o presidente.


  1. Palácio do Kremlin, 01 de março de 2014.

Em sua enorme mesa envernizada sem qualquer documento para despacho, ornamentada apenas com o brilho do verniz e uns bricabraques de arte proletária russa – umas bonequinhas de encaixar umas dentro das outras – Putin, o presidente russo levantava e abaixava freneticamente o calcanhar direito para cima e para baixo como se movido por motor elétrico. Estava impaciente. Levantou-se, descalçou um sapato, tirou a meia, sentou-se no chão e começava a roer a unha do dedão do pé quando pelo interfone ouviu a comunicação da portaria: - O camarada Medvedev  chegou, camarada Putin.
Finalmente! Desabafou para si mesmo um Putin agora bem mais alegre. Voltou a vestir a meia mesmo pelo avesso, calçou o sapato que agora parecia mais apertado, passou a mão pelos cabelos olhando para um espelho imaginário e dirigiu-se à geladeira disfarçada de estante no fundo da sala. Quando Medvedev entrou, ele já estava com dois copos de vodka na mão. 
-Ele não é uma gracinha? Perguntou Medvedev enquanto soltava um cachorro preto enorme, um São Bernardo peludo.
Putin não teve tempo de responder. O cachorro atirou-se ao peito do presidente e o lambeu no rosto.
- Que porra de cachorro é esse, Med? Perguntou Putin.
- Encontrei-o na clareira ontem à noite quando me encontrei com o Mahmoud. Estava meio perdido na floresta e entrou no helicóptero. Foi amor à primeira vista. Ele não é uma gracinha, Putin?
- Depois vejo isso. Agora vamos a uma vodka e falar sobre o que interessa. Ele tem pulgas?
- Não... Só umas verruguinhas minúsculas sem importância. Mas deixa-te contar do encontro com o iraniano... Vai ser dia 07 de março deste ano. A operação foi elaborada para o 11 de setembro, mas substituída pela dos aviões que derrubaram as torres gêmeas, que foi muito mais eficaz. Agora foi implementada logo que os ucranianos se revoltaram contra a adesão à Rússia por prevenção. Como você mesmo disse, ou foi o Snowden, não me lembro, é bom ter sempre uns planos prontos em caso de necessidade.
- E como vai ser o plano? Perguntou Putin enquanto se servia de outra vodka e oferecia mais um copo a Medvedev.
- Mahmoud não deu a informação completa para não o comentarmos com ninguém, por segurança Pediu para ficarmos atentos ás comunicações malaias e chinesas. Isso é bom para nós para distrair as atenções da Ucrânia...
- Qual é o grau de certeza de sucesso? Putin estava preocupado, uma das raras vezes em que franziu o cenho em toda a sua vida.
- Cem por cento. Desastre aéreo, um só sobrevivente que já recebeu uma boa grana no Irã e que ao saltar de pára-quedas no meio do oceano índico será recolhido por um barco de pesca. Se a operação tiver dado errada, recolhem o sobrevivente e dão-lhe uns tratos adequados para sabermos onde se errou. Se a operação der certa, deixam o cara se afogar no oceano e vão pescar. Simples, né?
Ah... E não vão encontrar facilmente os restos do avião...
E Medvedev entornou a vodka de um trago só.


- Parabéns, meu amigo!... Ficaremos então atentos (disse Putin). Amanhã trataremos da crise da Ucrânia como ela merece. O mundo ficará dividido entre acompanhar a crise e o desastre aéreo. Beijinho para despedir...
E os dois se beijaram ao modo russo mais íntimo, na boca com direito a um linguado.   
- Aquilo é uma ereção? Perguntou Putin a Medvedev, apontando para o pênis do São Bernardo... É grande!
- É...- Respondeu Medvedev – nos divertimos bastante durante o vôo de helicóptero ontem à noite. Você vai gostar, prometo!

E Medvedev saiu da sala com o andar bamboleante digno de uma Marilyn Monroe em seus dias de maior glória.

  1. Pentágono, EUA, 01 de março de 2014.
Uma sala enorme cheia de computadores telas de TV, mesas, gente trabalhando, mapas do planeta, comando de satélites, celulares, tinha sido montada para a “operação Snowthen” que visava a detecção de ações e de problemas envolvendo territórios, fronteiras e países de influência russa, o que compreendia países como a China, Malásia, Irã, Vietnam, Síria, Paquistão, dentre outros, e até  Brasil Cuba e Venezuela na América latina.
O coronel Tankersley começou a rir de forma quase incontrolável. Ele costumava ser muito sério, mas daquela vez não agüentou. Logo que se recompôs, sob os olhares admirados do pessoal da sala, pegou o telefone vermelho. Do outro lado, o presidente Barak Obama atendeu.
- Sim, coronel... Novidades? 
- Sim, senhor presidente... O coronel Rinty foi adotado...
- Desculpe, coronel Tankersley... Quem é o coronel Rinty?
- Bem, senhor presidente, eu comando a operação Snowthen, senhor, e combinamos um código... “Au-au”, lembra?
- Ah... Sim... Quer dizer que está atuando... E o que descobriram?
- Vou mostrar-lhe, senhor presidente, Via WEB. Por favor, ligue o seu computador. Aguardarei na linha até que me dispense, senhor... Mas saiba também que nosso agente especial está em campo, senhor.
- Certo... Espere... Já está... Estou vendo os dois... E... O coronel Rinty está com eles... Incrível... (E Barak Obama caiu na gargalhada...)
- Está dispensado, coronel Tankersley... Já desconfiava, mas não sabia que os dois se amavam tanto... Excelente trabalho, coronel... Um beijo pra você!  (e desligou rindo). Um coronel repentinamente sisudo remoeu meia dúzia de “fuck, fuck, fuck” enquanto teclava em ritmo alucinante em seu computador.  Esquecera de dizer ao presidente que o parlamento Russo autorizara Putin ao uso da força na Crimeia naquele mesmo dia. Estava lhe mandando um relatório sucinto, de uma página, para corrigir o esquecimento. Ficariam atentos ao dia 07 de março de 2014, mais especificamente na Malásia e na rota do vôo MH-370.

  1. Em um bairro de Kuala Lumpur, dia 02 de março de 2014.


Antigamente espiões tinham que fazer todo o trabalho no campo de operações. Agora eram simplesmente “uns braços humanos” do sistema. Tudo era feito nas agências de espionagem e os dados transmitidos por comunicação segura para o teatro de operações. Por isso a importância de Snowden, um agente americano que desertara de seu posto nos EUA e estava agora na Rússia, foragido. Ele sabia tudo sobre espionagem no éter dos bits que corriam em código pelas ondas das estações de transmissão de sinal para a Internet e outros “centros” secretos de comunicação política e militar. Até os celulares da ministra do Estado Alemão, Ângela Merkel tinha sido invadido, assim como membros do próprio senado americano. Snowden tinha um amigo colorido no Brasil e não era à toa. O Brasil é um país de largo uso da Internet, com acesso fácil, enorme volume de bits em circulação, uma dor de cabeça para o governo que quer reprimir a população impedindo-a de falar o que quer por essas vias de comunicação. Usaram Snowden e sua espionagem para votarem no senado uma lei para impedir e limitar a comunicação.


Ziruziru já em Kuala Lumpur, num hotel de terceira classe, sentiu vibrar o celular que tinha comprado ainda no aeroporto. Apertou a tecla para ligá-lo e viu na tela o aviso de um e-mail cujo emissor já conhecia. Acessou o e-mail. Imediatamente um programa foi descarregado em segundos. Seu celular agora era uma linha de bits impenetrável. Ninguém mais em lugar nenhum do mundo poderia interferir nessa “linha” de comunicação entre ele e o Pentágono. Desligou o celular e subiu para o seu quarto. Lá voltou a ligá-lo. O primeiro documento era uma lista de passageiros do vôo Malaysia MH-370 que partiria de Kuala Lumpur para Pequim na tarde do dia 07 de março ás 16:40.Na lista parcial, e do que lhe chamava a atenção, já confirmados, constavam três americanos (ele era um deles), dois canadenses e seis australianos que bem podiam ser também “americanos” com passaporte facilitado politicamente para efeitos de espionagem, um russo e dois ucranianos. O resto não lhe chamou a atenção. A maioria era chinesa. A lista definitiva ele saberia logo que se sentasse em sua cadeira de primeira classe, instantes depois da partida. No entanto algo lhe chamou a atenção. Faltavam os iranianos, como o Pentágono avisara para que ficasse atento, já que a operação era iraniana. Ziruziru tinha certeza absoluta que eles apareceriam no ultimo instante. Voltou a ligar o celular para ter certeza de que nenhum detalhe lhe passara, mas a mensagem havia desaparecido como que por encanto. Tinha que ficar muito mais atento da próxima vez que recebesse uma mensagem.

  1. A situação se complica na Ucrânia. 06 de março de 2014.


Na Crimeia as coisas corriam ao agrado de Putin. Durante meses forçara o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych a trazê-la de volta para a esfera de influência russa. O povo, pelo contrário, queria que ela fizesse parte da União Européia. A população revoltou-se porque lhe parecia natural que se fizesse um Plebiscito ao melhor estilo democrático. Viktor não tinha a menor intenção disso em seu suntuoso palácio em Kiev. Nem ele nem Putin. Quando em 23 de fevereiro o presidente da Ucrânia foi deposto pelo Parlamento, Putin se preocupou bastante. Tinha que por em prática o plano “B”, bem mais difícil, que chamaria a atenção do mundo livre. Precisava de um terceiro plano que distraísse pelo menos um pouco a opinião pública. Algo de grande impacto emocional: Uma catástrofe!
Sabia que o Irã era um refúgio para os “heróis santos” do Islã, dispostos a morrer por uma boa causa islâmica, e alcançar o paraíso onde sete virgens os esperariam. Putin mandou então tropas para a fronteira da Crimeia, a primeira e mais importante parte a ser tomada da Ucrânia. Seu projeto maior era trazer para a esfera russa toda a Ucrânia, mas o destino obrigava a que a tomasse por partes. Hoje, dia 06 de março, o Conselho Supremo da Crimeia votou e aprovou sua anexação à Rússia.
Dias negros pela frente, pensou Putin, e o disse a seu amigo Medvedev que brincava na sala com o São Bernardo, deixando a mão escorregar de vez em quando pelos órgãos sexuais avantajados do animal que ficava todo excitado.
- Nós os pressionamos com o gás da Sibéria, Putin!
- Claro que sim... A Europa não têm como se abastecer de gás em outras fontes. Pelo menos num período próximo. Acho que vamos empurrar a Europa para abrir mais poços de gás, e extrair gás de xisto. Até lá tomamos conta da Ucrânia. Depois volta tudo ao normal.
- Amanhã é o dia. Prepara-te porque o mundo vai desabar em cima da Rússia pela Crimeia, e vamos torcer para não juntarem os fatos com o avião da Malaysia.
- Não importa... Disse Putin... Esta crise vai me reeleger na Rússia. Ou a mim ou a você... Fica tranqüilo. Aprendemos rapidamente como funciona o capitalismo democrático: Somos ricos. Se a coisa pegar por aqui, nos exilamos na Suíça ou no Caribe. Brasil, talvez...
E depois de um longo beijo de amor camarada, os três saíram do Kremlin.
No Pentágono, o coronel ria mais uma vez ás gargalhadas. Do outro lado do computador, Obama e Michele batiam com os pés no chão de tanta dor nas arcadas dentárias e nos músculos de seus cérebros de tanto rir.

  1. O embarque no vôo MH-370 da Malaysia Airlines. Dia 07 de março.
Do dia 02 de março até o entardecer do dia 06, Ziruziru dedicara-se a memorizar as listas de passageiros e os informes da Inteligência do pentágono, e a fazer algumas compras especiais. Recebera via inteligência, em Kuala Lumpur, uma máscara especial para gases, com ampola de oxigênio, que lhe permitiria passar pelo menos uma hora oxigenado. As exigências alfandegárias de verificação de bagagem em Kuala Lumpur eram suaves por que não havia terrorismo por lá. Quando no banheiro do aeroporto, minutos antes de embarcar recebeu uma chamada do Pentágono e conferiu a lista, notou que dois passageiros tinham embarcado com passaportes falsos. Os passaportes tinham sido roubados de dois italianos. As fotos deles estavam no relatório do pentágono. Eram dois iranianos, que finalmente haviam aparecido.
Desde que os localizou na fila de embarque passou a observá-los discretamente. Nenhum deles falou ou olhou para o outro. Não chamavam a atenção. Notou também os outros dois americanos. Provavelmente um deles seria da inteligência americana, mas por questões de segurança nenhum saberia da existência do outro. A medida destinava-se a uma possível falha de algum deles. Se um falhasse, o outro assumiria o seu trabalho. Duzentos e trinta e nove pessoas a bordo, incluindo 12 tripulantes.

Prestou atenção também no comandante, Zaharie Ahmad Shah, de 53 anos e no co-piloto, Fariq Abdul Hamid, de 27 anos que voava pela primeira vez como co-piloto e tendo apenas experiência em cinco outros vôos como “co-piloto de checagem”. Para a inteligência americana nenhum dos dois representava perigo algum. Tirando o restante dos tripulantes e dos passageiros, o principal perigo parecia vir dos dois iranianos. E preparou-se para o pior. Estava ali para isso. Tinha que voltar para sua chilena gostosa, lá no Brasil. Tinha que completar o coito interrompido. Tinha que sair vivo dessa, mas tinha suas dúvidas. Ás 16:41 o Boeing 777-200ER com 53.465 horas de vôo elevou-se nos ares a caminho de Pequim. Ouviu choro de crianças. Eram cinco: três chinesas e duas americanas.



8.      O vôo MH-370 da Malaysia Airlines. Quase uma hora de vôo, 17:30.



Por volta das 17:00, com mais ou menos meia hora de vôo, Ziruziru sabia que algo estava errado: O comandante pelo comunicador pediu educadamente que desligassem qualquer aparelho eletrônico por que “poderiam” interferir no computador de bordo.  Para o treinado Ziruziru, isso era sinal de que já estavam interferindo, porque o avião continuava “inclinado”, subindo sempre e já deveria estar “nivelado” pelo tempo de vôo. Se subisse a uma altitude próxima dos 13.000 metros, isso significava que haveria descompressão e todos morreriam a bordo. E se continuasse subindo isso só significava que ou a cabine de comando havia sido tomada ou que o próprio piloto ou co-piloto haviam programado um vôo “diferente”. Mas como “tomar” a Cabine de comando do Boeing, se ninguém tinha passado pela primeira classe, onde estava sentado, a caminho da cabine do piloto? Se sua hipótese estivesse certa, isso só seria possível se um hacker estivesse a bordo interferindo eletronicamente no computador do avião.Às 17:25 o avião ainda continuava desnivelado


Então Ziruziru resolveu agir. Primeiro consultou seu celular com GPS e verificou a altitude: 11.000 metros. Até aí poderia ser considerada uma altitude normal, embora não fosse comum. Só não poderia continuar subindo mais. Levantou-se e foi até a cozinha do avião na cauda da classe comercial. Os dois iranianos estavam tranqüilos, quase em meditação. Não olhavam fixamente para ninguém. Um deles logo na segunda fila da comercial. O outro a meio da aeronave. Logo em seguida sentiu seus ouvidos - treinados em tantos vôos que já efetuara – começarem a sentir uma leve descompressão. Sua adrenalina subiu repentinamente ao sentir o perigo e voltou rapidamente para a primeira classe. Ao passar pelo iraniano na segunda fila notou que ele tirara uma máscara e se preparava para usá-la. Olhou para trás e viu que o outro se levantava já usando também uma máscara. Não teve dúvidas que eles iriam tomar a cabine de comando onde havia condições de mantê-la pressurizada mesmo que houvesse despressurização no restante da aeronave. Não tinha tempo a perder. Sentou-se em sua poltrona, e tirou sua máscara que colocou discretamente cobrindo-se com o cobertor do avião. Ouviu murmúrios a bordo. Logo em seguida alguns gritos roucos de angústia. Em menos de 15 segundos só haviam mortos no avião exceto ele e os dois iranianos, mas não sabia se havia mais deles ou cúmplices com máscara. 

Quando os dois iranianos chegaram á porta da cabine, Ziruziru sacou sua arma e atirou. Os dois caíram mortos. Atirou na porta da cabine para entrar. Lá dentro, como suspeitava, também haviam morrido o piloto e o co-piloto. Verificou os aparelhos da aeronave. Todos desligados, incluindo o “transponder” [2]. Agora era o único ser vivo a bordo, sem qualquer comunicação possível. Sentou-se confortavelmente na cadeira do piloto e tentou manobrar o avião manualmente. Olhou o relógio. Eram 17:35. Conseguiu manobrar os “flaps” [3] e o avião deu uma guinada para a esquerda baixando a altitude. O avião começou a descer. Poderia voar ainda por umas quatro longas horas, mas o oxigênio de sua máscara não duraria tanto. Nem se ele usasse as máscaras dos dois iranianos mortos.
Com o avião estabilizado, dirigiu-se a seu assento e apanhou sua mochila, na verdade um pára-quedas. Depois foi até o assento onde os iranianos se haviam sentado. Olhou sua bagagem. Nela havia duas pequenas bombas programadas para as 17:40. Ele não tinha mais tempo disponível nem  para desarmar as bombas. Eram duas e poderia falhar numa delas. Calculou que o avião estivesse agora a uns oito mil metros. Voltou à cabine e destravou as portas. Ali mesmo logo na saída do compartimento da primeira classe, abriu a porta devagar e saltou. Um par de minutos depois viu a explosão.Não sobraria nada do voo MH-370.




             9.      Final




O desaparecimento do avião gerou controvérsias de 7 de março até hoje, 13 de abril, porque não se encontraram destroços, e por outros motivos [4]. Sabe-se, entretanto, que a Crimeia passou para o controle russo, e que provavelmente outras partes da Ucrânia cairão sob seu domínio. A União européia e o mundo ocidental aplicam sanções crescentes de efeito sobre a Rússia que depende do gás exportado para a UE. Putin, Medvedev e o coronel Rinty continuam muito amigos e não raro dormem os três na mesma cama. Medvedev continuará tomando seus porres homéricos.O povo chinês continua indignado porque ninguém sabe de nada, coisa a que deveriam estar habituados, mas a empresa de aviação não é chinesa. Então podem reclamar. A caixa preta – que na verdade é amarela - do avião esgotará suas baterias em mais um par de dias e ficará perdida provavelmente para sempre.  Sem avião e sem corpos para serem estraçalhados em morgues para verificação da “causa mortis” ninguém saberá o que aconteceu a menos que as agências de inteligência resolvam abrir o bico.  Sem provas, os mortos serão dados como desaparecidos, e sem atestado de óbito não se pode provar que morreram. Assim, só os netos  poderão receber indenização da companhia aérea se algum dia a obrigarem a isso. Ali pelas bandas de Búzios, no Brasil, uma chilena vive feliz sem coitos interrompidos e toda vez que chega aos céus pelas mãos do competente Ziruziru, grita desesperada como estivesse sendo esfaqueada. Os dois gostam de muita emoção. Ela perguntou-lhe onde tinha ido. Ele disse que ao Uruguai. Deu-lhe de presente um lindo pacote de “Sativa Canabis” puríssima, livremente cultivada por lá. No meio internacional da espionagem, Ziruziru nunca pegou um vôo da Malaysia Airlines. Ele está pensando em escrever um livro de memórias antes que perca a memória definitivamente com a idade. 



 

® Rui Rodrigues







[1] Não confundir com James Bond, o famoso espião britânico, que tinha autorização para matar. Ziru-Ziru-Eit tinha permissão não só para matar como também para dar uns tapas nas vítimas para extrair informação e dentes sãos. 
[2] O transponder é um transmissor de rádio na cabine do piloto, que se comunica através de um radar de solo com o controle de tráfego aéreo, transmitindo dados da aeronave. Evita colisões. É um radar aperfeiçoado.
[3] Placas embutidas (e algumas extensíveis) que funcionam como lemes para aumentar a resistência ao ar, dando sustentabilidade e manobrabilidade  aos aviões.   
[4] Sinais de destroços foram informados por chineses e americanos, mas as buscas não resultaram em nada positivo. Os russos mostraram-se comedidos em dar opinião apesar de seus satélites. Os celulares dos passageiros continuaram dando sinais de operacionalidade apesar de se saber que esse sinal é emitido pela empresa que gera os sinais. A aeronave parece ter-se dissolvido no ar.  

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Geriatria prática emocional

Geriatria prática emocional

Olá... Nem sei se o termo “geriatria emocional” existe. 
O que sei é que não sou médico, não frequentei qualquer curso de medicina ou de enfermagem, mas tenho certeza absoluta que tenho 68 anos, não sou saradão, não tenho tanquinho, mas afora isso meu aspecto saudável está de acordo com a minha idade e os tempos mais modernos. Estou envelhecendo à velocidade estonteante de 24 horas por dia e mais alguns minutos para completar aquele tempo do ano solar (que de quatro em quatro anos exige um ano com o mês de fevereiro com mais um dia:29)...

Nosso planeta viaja pelo espaço a uma velocidade de 107.000 quilômetros por hora e nem por isso me sinto tonto.  Minha cabeça gira, juntamente com a Terra em torno de seu eixo, a uma estonteante velocidade de 1.700 km por hora na região do Equador, diminuindo até a região dos pólos, mas nem por isso vejo minha casa rodar quando chego em casa. Pior ainda, nossa Terra, e eu com ela, viajamos a uma velocidade de cerca de 1.000.000 de quilômetros por hora em volta do centro de nossa Galáxia e nem por isso deixo de dormir  e acordar todos os dias sem que desmaie eternamente. O que me faz desmaiar eternamente, para todo o sempre, é meu corpo que não agüenta o tranco do envelhecimento e começará a falhar até parar.

Não é novidade para ninguém. Todos sabemos disso. Faz parte da vida a transformação da deterioração. Então de que reclamamos quando envelhecemos? Quer sonho temos de permanecermos sempre jovens e que benefícios reais nós temos? Trabalhar mais uns tempos? Divertir-se mais uns tempos? Conviver mais uns tempos? Até poderia ser por esses motivos isoladamente ou em conjunto, mas pensemos melhor, mais apuradamente... Tem gente igual a nós que transaram a vida inteira sem parar, trabalharam feitos escravos até virando noites, divertiram-se noite e dia até no trabalho, conviveram até terem que dar desculpas para não irem a uma festa ou outra, e mesmo assim ainda querem viver mais se sentindo sempre jovens? Perfeito... É válido... Mas ainda podemos pensar mais apuradamente...

Quando chegar a hora de não haver mais remédio para o envelhecimento, cai a ficha, o passado fica para trás, vem a saudade, e o desejo... O desejo eterno, tão eterno quanto a passagem, de nos determos um pouco mais por este planeta, mas já nem forças teremos para cumprir mais um par de anos. Nesse curto período de consciência do que somos, e acontece amiúde, nem mais nos lembramos de rostos, fatos, festas, conquistas, e as modernidades tecnológicas ficam tão longe de nós, que nem nos conseguimos adaptar. As velocidades do nosso planeta continuam de igual forma, a chuva continua caindo, as estações do ano tanto nos trazem flores como folhas caídas como calor ou neve, mas já não nos interessamos por política, por inovações que não podemos utilizar, Nossos netos nem nos reconhecem bem. Chegam, dizem “olá, vô, um beijo” e saem correndo para brincar. Muito diferente, nossos amigos e amigas vão se passando, e os nossos assuntos preferidos deixam de ser abordados, porque a juventude tem outras preferências para abordar e a maioria delas nem dominamos.

O que quero dizer é que assim como seres nem chegam a nascer por acidentes ou doenças, outros se passam cedo de mais em plena infância, adolescência ou juventude e outros demoram demasiado para se passarem. Buscamos sempre a justiça em nossas vidas, em todos os atos sem exceção. Reclamamos de nossos governos quando as leis não nos parecem justas, mas não entendemos ainda as leis da vida, de nossas vidas. Definitivamente não as aceitamos. Já tentamos descobrir a “pedra filosofal”, o “elixir da longa vida”, remédios, vacinas, cremes... Podemos prolongar a vida, mas nem todos. E até isso  é normal e justo nas leis da natureza. Basta olharmos em volta com olhares de aceitar o que vemos. Podemos revoltar-nos contra amigos, familiares, governos, mas a natureza tem suas leis que ninguém nem nada pode alterar. Nem Deus, e por um simples motivo: Foi assim que Ele construiu este mundo, e por ser perfeito, não tem nada que lhe alterar... Não importa quanto "tempo" vivemos, porque o tempo é relativo. Depende do que fazemos nele, ou com ele. 

Então, há que viver o que temos dia a dia, nós os idosos, sem nos preocuparmos com a natureza da vida nem da morte...  Pelo menos nossa qualidade de vida melhora sem o estresse de lidar com  o que não podemos controlar nem sabemos direito como funciona. Em particular, sou dos que crê que a natureza de cada um é uma particularidade “oculta” de nosso conhecimento e que deve ser entendida e atendida naturalmente. Afinal, de que adianta vestir um disfarce de palhaço, diariamente, se não sou palhaço e, na intimidade, sem a fantasia, me revelo como um despalhaçado, mostrando exatamente a minha natureza “natural”? É um tremendo erro nos enganarmos a nós mesmos, porque os outros, só podemos enganar por um breve período de tempo, e ao sentirem-se enganados, passam a enganar-nos.

® Rui Rodrigues

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O dia em que o Brasil quase invade as ilhas portuguesas dos Açores.

O dia em que o Brasil quase invade as ilhas portuguesas dos Açores.

Não se sabe o que teria acontecido se durante a segunda grande guerra mundial o plano americano para ocupação das ilhas estratégicas dos Açores tivesse ido adiante num dos cenários prováveis: Invasão americana, inglesa ou brasileira. Anthony Éden, Churchill e Delano Roosevelt finalmente se puseram de acordo com Salazar que cedeu as ilhas, mas a lentidão estratégica de Salazar em dar resposta ao pedido de utilização, quase põe a perder a neutralidade portuguesa na guerra.   




1.      As ilhas


São nove ilhas vulcânicas que constituem o Arquipélago que se situa em pleno Oceano Atlântico entre a América do Norte e a Europa, relativamente perto da Islândia. Ali, pelos bancos da Terra Nova, pesca-se bacalhau. Mais precisamente localizam-se num raio de aproximadamente 500 milhas a cerca de um terço da distância entre Lisboa e Nova Iorque.

As primeiras informações de conhecimento das ilhas remontam aos reinados de D. Diniz (1279-1325) e de seu filho D. Afonso IV (1325-1357). Há relatos que com o desenvolvimento das navegações portuguesas já se pescava por lá e pela Terra Nova, em 1427, quando se crê que começou a colonização pela coroa portuguesa. Estrategicamente, as ilhas passariam a ser úteis para reabastecimento de embarcações quer para o fim da pesca, quer para as que demandavam a América do Norte nos séculos seguintes. Nos últimos dois séculos, com o desenvolvimento da aviação comercial e de guerra as ilhas passaram a ter uma importância ainda maior para reabastecimento de combustível das aeronaves.

Parece haver indícios, não considerados como provas, da passagem de fenícios, venezianos e de outros povos pelas ilhas, e no terreno da ficção, há quem acredite que a famosa civilização da Atlântida ali surgiu e ali mesmo submergiu numa das muitas erupções vulcânicas. Por isso o Oceano Atlântico tem esse nome, originado do nome dos habitantes de Atlântida: Os Atlantes.

2.      Ventos liberais sopram nas ilhas dos Açores.

A humanidade tem adoração por leis. Todos nós temos. O problema é que mesmo com toda a sua beleza que nos dá a sensação de vivermos comandados por gente justa, elas se sujeitam a interpretações das mais diversas e discordantes. Temos exemplos por toda a parte, e mesmo quando uma cambada de pessoas se juntam para fraudar as verbas públicas, um tribunal composto por representantes dos réus que pertenciam ao governo decide afirmar e fundamentar o julgamento negando que tenham constituído uma quadrilha. 

Talvez herança “interpretativa”, porque em 1822 um príncipe português, D. Pedro I, filho de D. João VI, que comandava o reino com a capital transferida para o Rio de Janeiro, declara a independência do Brasil, tendo sido vetado nas cortes de Lisboa, e pela constituição brasileira de 1822, de poder vir a ser rei de Portugal. Por isso mesmo, quando em 1826 o trono de Portugal ficou vago, por morte de D. João VI, as Cortes elegeram o irmão de D. Pedro, o príncipe Miguel como o novo rei de Portugal. Mas D. Pedro já tinha sido nomeado pela regente Infanta Isabel, como sucessor de D. João VI. Volta então ao Brasil, altera a constituição de 1822 que ele mesmo havia aprovado, e parte para Portugal para assumir o governo como D. Pedro IV de Portugal. Entre 1826 e 1828, D. Miguel volta-se contra D. Pedro, o seu próprio irmão, e inicia duas revoluções contra ele: A Vilafrancada e a Abrilada. D. Miguel tinha o apoio da igreja Católica que esperava dele um regime absolutista. Tendo sido eleito rei pelas cortes em detrimento de D. Pedro, dissolve as cortes, a câmara e anula a constituição portuguesa. Foi reconhecido apenas pelos EUA e pelo Vaticano. O resto do mundo queria D. Pedro I do Brasil, assim como todos os adeptos do liberalismo.


Do Brasil, D. Pedro I, imperador, abdica do trono em favor de seu filho D. Pedro II, e parte para as ilhas dos Açores, em 1831, que ocupa de imediato e onde junta um exército para invadir Portugal. Dirige-se com seu exército à cidade do Porto onde é cercado pelas forças de D. Miguel. Ajudado pela marinha britânica, rompe o cerco, dirige-se ao Algarve no sul de Portugal e daí marcha sobre Lisboa que toma de assalto. D. Miguel I levanta então o cerco no Porto e começa uma guerra que estaria destinada a ser longa. Para resolver a situação forma-se em Londres a “Quádrupla Aliança”. A Inglaterra ficou do lado de D. Pedro I do Brasil, (IV de Portugal)  e a Espanha do lado de D. Miguel I. Esta invade Portugal com um exército de 15.000 homens e é derrotada na batalha de Asseiceira.

Não deixa de ser interessante como o mundo da época já apoiava abertamente o liberalismo, e como D. Pedro tinha perfeita noção de liberdade, não só por sua declaração de independência do Brasil, como também por sua luta contra o absolutismo. Digno de D. Afonso Henriques ao declarar a liberdade do condado Portucalense para o tornar o primeiro reino livre em meio ao feudalismo europeu, também sem o apoio da Igreja Católica. A Igreja católica sempre foi uma pedra no sapato para os liberalismos até o advento dos tempos modernos quando deixou de apitar na política internacional. Hoje só manda no Vaticano e nem tanto por sinal.  

3.      A importância estratégica das ilhas na primeira guerra mundial.


Aviões já eram usados na primeira guerra mundial (1914-1918), mas era inimaginável ainda que bombardeiros ou caças bombardeiros pudessem atravessar o Atlântico desde os EUA passando pelos Açores para se reabastecerem e atacar alvos na Europa. A importância estratégica das ilhas se limitava a deter os ataques de submarinos alemães, para abastecimento de suprimentos de navios aliados e reparos navais, o que já era de grande ajuda para as forças aliadas. Segundo acordo com os EUA, em 1917, as ilhas foram fortificadas com peças de artilharia americana, o porto melhorado. As ilhas foram bombardeadas pelos alemães por diversas vezes e a marinha portuguesa travou combates [4] com submarinos alemães.

A importância estratégica das ilhas já tinha sido tema de interesse alemão em 1897-1898 [5]durante as manobras de inverno, com a intenção de possibilitar ataques aos EUA e abastecimento e reparo de belonaves. Durante a primeira grande guerra mundial, o Almirante alemão Von Holtzendorff incluiu em seu programa de desenvolvimento da Marinha Alemã, a instalação de bases nos Açores ou alternativamente em Dakar ou Cabo verde para esse fim. 



4.      O dia em que o Brasil quase invade os Açores – 1939-1945 [6]


Após a invasão da França, Hitler concentrou tropas alemãs na fronteira com a Espanha, não para invadi-la, mas para garantir o suprimento de Tungstênio [7]que lhe chegava em muito maior parte de Portugal do que da Espanha. Temia-se que, se Portugal não permitisse o comércio do Tungstênio, Hitler invadisse a península Ibérica. O embaixador alemão (barão Von Hoyningen-Huene) e o inglês (Ronald Campbell) faziam de tudo para levar Portugal para o lado nazista. A situação econômica portuguesa estava em estado de calamidade. As potências aliadas não tinham como prometer a Salazar a defesa do território continental e muito menos as dos territórios ultramarinos. Hitler já tinha ajudado Francisco Franco da Espanha na revolução que o levou ao poder. Foi em terras de Espanha que a “Luftwafe” testou seus modelos de aviões de caça e de bombardeio [8]. Por isso havia um temor adicional aliado e português de que a Espanha cedesse a Hitler, se aliasse a ele, e invadisse Portugal.

Salazar tinha, portanto, que satisfazer os dois lados em guerra como quem caminha sobre o fio de uma enorme e pesada espada. Não podia conceder muito para que não se “engajasse” na guerra, nem pouco que provocasse ira dos beligerantes. Lisboa transformou-se no maior centro de espionagem da Europa logo a seguir a Viena.
Embora os EUA somente entrassem na guerra em 08 de dezembro de 1941, desde o inicio do ano que Roosevelt e Churchill tratavam de uma efetiva entrada dos EUA na guerra no cenário europeu. Um dos assuntos tratados entre as duas potências, estava a cessão das ilhas dos Açores, por Portugal, à Inglaterra e aos EUA como base para manutenção de aviões, abastecimento, base naval, a exemplo do que acontecera durante a primeira guerra mundial. A diferença era que em 1914-1918 Portugal estava na guerra do lado aliado e agora era um país neutro, tão neutro quanto a Suíça, a Espanha, a Turquia e a Irlanda, todos negociando com os aliados e com as potências do Eixo.Salazar via com consideração a cessão á Inglaterra, mas quanto aos americanos somente se subordinados aos ingleses, o que poderia explicar aos alemães a cessão por força de uma aliança de 1373– a mais antiga do mundo e que ainda hoje está em vigor – entre Portugal e a Inglaterra, sem que isso representasse uma “efetiva” tomada de lado por parte de Portugal.


Churchill conhecia perfeitamente as forças políticas portuguesas envolvidas na manutenção da neutralidade portuguesa e o perfil político de Salazar que acumulava ministérios em seu processo ditatorial. Dentre outros ele era, além de presidente ditador, o Ministro da Guerra, das Finanças e das Relações Exteriores. Roosevelt era bem definido e prático. Enquanto Churchill sabia que Salazar concordaria com muito mais do que lhe pediu, precisando apenas de tempo, Roosevelt queria o acesso ás ilhas como parte do programa de liberação da Europa. Por Roosevelt as ilhas seriam disponibilizadas nem que fosse através de uma invasão. Instou Churchill. Churchill disse-lhe que esperasse mais um pouco, até porque somente invadiria as ilhas se Hitler tentasse apoderar-se delas primeiro. Conseguiria a cessão apenas por negociações políticas entre amigos. 


A ultima data quer para americanos quer para os ingleses seria por setembro de 1943. O Brasil entrara na guerra em agosto de 1942. Salazar fechou primeiro a negociação com os ingleses em agosto de 1943. Este acordo somente foi fechado por ter sido levado ao conhecimento de Salazar que os aliados pretendiam invadir as ilhas com forças brasileiras, inglesas ou americanas. De nada lhe adiantaria pedir  ao Brasil que intercedese junto aos demais aliados para evitar a invasão.  

O Brasil reclamava, com toda a justiça emocional, que o tungstênio vendido aos alemães matava brasileiros no front de batalha na Itália. Em novembro de 1943, Salazar ainda dirigia as negociações com os EUA como dependente da Inglaterra, e que só foi concretizada em 1944.
[
É sempre confortável saber que a cobra ainda fuma em defesa da liberdade, da democracia em qualquer lugar do mundo... 

® Rui Rodrigues









[1] Referência ao Mensalão – processo aparentemente encerrado em 2014, em que o STF – Supremo Tribunal Federal - com ministros nomeados pelo PT diminuem as penas dos réus já julgados e presos, retirando do processo a condenação por formação de quadrilha. Para pesquisar, basta digitar “processo do mensalão” e se divertir com a “interpretação” do que é ou não é uma quadrilha, e o envolvimento político dos juízes, do partido no governo e dos réus... 
[2] D. Pedro IV na verdade sempre governou em nome de sua irmã D. Maria da Glória, prima da Rainha Vitória de Inglaterra.
[3] A Espanha não aprendera desde a derrota em Aljubarrota, nem com a derrota de Napoleão séculos depois, nem com as guerras peninsulares, que invadir Portugal não é para qualquer um. Portugal e Espanha ganham mais como povos irmãos e amigos.    

[4] Foi afundado o caça-minas  "NRP  Augusto Castilho", comandado pelo 1º Tenente José Botelho de Carvalho Araújo quando comboiava o navio de passageiros “San Miguel” por um submarino alemão, o U-139 comandado pelo comandante Lothar Von Arnauld de La Priére.
[6] Em “Lisboa - 1939-1945- Guerra nas sombras” de Neill Lochery, Editora Rocco.
[7] Extraído do mineral Wolfrâmio “A forma elementar não combinada é usada sobretudo em aplicações eletrônicas. As muitas ligas de tungstênio têm numerosas aplicações, destacando-se os filamentos de lâmpadas incandescentes, tubos de raios X, (como filamento e como alvo), e superligas A dureza (7,5) e elevada densidade (19 250/m3) do tungstênio tornam-no útil em aplicações militares como projéteis penetrantes”  em http://pt.wikipedia.org/wiki/Tungst%C3%AAnio
[8] O quadro “Guernica” de Picasso retrata o bombardeio da cidade de mesmo nome durante a revolução franquista.
[9] No inicio de setembro de 1943 os EUA tinham já uma força de 10.000 homens quase pronta para a invasão.
[10] Após torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães que vinham ocorrendo desde fevereiro do mesmo ano. Por essa época, os EUA já tinham desenvolvido bases militares por todo o território brasileiro incluindo uma em Fernando de Noronha que só foi desativada em 1960. http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil_na_Segunda_Guerra_Mundial
[11] Ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal_na_Segunda_Guerra_Mundial  e no livro de Neill Lochery já citado “Lisboa – 1939-1945- Guerra nas sombras”- editora Rocco.
[12] Salazar chegou a ponto de exigir que as forças aliadas americanas e inglesas lotadas nos Açores portassem no ombro duas insígnias: Uma grande britânica em cima e uma menor americana por baixo. Salazar acabara por começar a negociar as bases com os americanos ao conceder autorização para pouso de aviões da Pan Am nos Açores que faziam a ponte EUA-Inglaterra.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Portugueses – 1139-2014

Portugueses – 1139-2014


Não existem povos tão diferentes que não possam ser reconhecidos como naturalmente iguais sob qualquer ponto de vista. É a educação e a cultura que nos torna diferentes, além evidentemente de aspectos físicos relacionados com adaptação natural ao meio em que os nossos ancestrais viveram há milhões de anos. A miscigenação, também natural e irreversível, se encarregará de, nos próximos milhões de anos tornar a espécie humana com características únicas e de certa forma idênticas. Não haverá negros nem brancos, nem amarelos nem acobreados, mas simplesmente uma espécie Humana. Mas cuidado: dentro de cada um de nós, humanos, há sempre um lado “bom” e um lado “ruim”. Influências religiosas, de filosofias de governo e de educação e influências particulares podem fazer sobressair mais um dos lados de forma definitiva ou por períodos. O povo russo não deixou de ter as suas características depois da revolução de 1917, nem os portugueses depois da revolução dos cravos. O povo cubano continua sendo o mesmo depois da revolução de 1959, e está pronto para ser mais livre logo que o regime dos Castros termine.



Os portugueses somos um desses muitos grupos. Apesar de uma história de falsas “glórias” – porque as glórias acarretaram muito sofrimento popular – somos um povo com uma idiossincrasia “particular”: Pelos sofrimentos acumulados do passado e do presente recente, sabemos dar valor aos necessitados que lutam por uma vida melhor, não a ponto de sermos os pais de sua salvação, mas de os ajudar a saírem do “buraco” da necessidade. Vi isso entre meus patrícios aqui mesmo no Brasil e em Angola. Sou testemunha ainda viva e a literatura brasileira está repleta de personagens que refletem esse lado da idiossincrasia portuguesa. Alguns conhecidos meus, donos de bares, deixavam cuidadosamente comida impecável embrulhada em sacos plásticos devidamente fechados em latões de lixo para que os mendigos da praça da Candelária os recolhessem e matassem sua fome. Comiam comidas que muito janota pagava fortunas para comer, incluindo filé mignon que não podia ser deixado para o dia seguinte, batatas fritas de meia hora atrás, ainda crocantes. Não raro se associavam a brasileiros ou angolanos, ou a gentes de outras nacionalidades para constituir sociedades que ainda por aí estão no comércio nacional e internacional.



Governos de Portugal quase sempre foram ricos. Salazar durante a segunda guerra mundial acumulou toneladas de ouro da balança comercial positiva por causa do tungstênio vendido aos alemães e de produtos vendidos aos aliados, além do aluguel da base dos Açores, mas gastou uma ínfima parte em obras públicas. Nesse período fomos um país cheio de dinheiro que não era posto em circulação [1] obrigando portugueses a emigrar, coisa que sempre se fez. Governos ricos, povos pobres obrigados a emigrar. Governos portugueses nunca se incomodaram em promover empregos fixando seu povo dentro das fronteiras de forma sustentável. É-lhes mais fácil gerir os depósitos de emigrantes sem que estes emigrantes, e exatamente por isso, usem serviços públicos. Cada depósito de emigrante é “lucro líquido”, capital disponível a custo zero [2]. Não existe melhor negócio em todo o planeta.



Não foi à toa que, como parte da sua idiossincrasia, portugueses se rebelaram contra o feudalismo medieval dos suseranos de “Portus Cale” [3], e declararam independência, enfrentando a ferrenha e tenaz vontade papal. O primeiro rei de Portugal foi excomungado pelo Papa. A história portuguesa está marcada por revoluções. Uma delas partiu do Brasil quando se discutia o liberalismo no Império português. Um Imperador brasileiro se tornou Rei de Portugal, e um rei português transferiu a capital da nação para o Rio de Janeiro que relutou abandonar. Quem conhece o Brasil o ama e não o abandona jamais. Portugueses sempre souberam apreciar a beleza e a inteligência de chineses, negros, brancos, índios, e se miscigenam sem arrependimentos ou “problemas morais”. Portugueses buscam a felicidade, e felicidade particular não existe. Para ser plena, tem que ser compartida com quem entende dessas coisas e as aprecia. Como um bom vinho!

A desastrosa política portuguesa das ultimas décadas obrigando a nação a pedidos de ajuda do Banco Europeu e do FMI levou os portugueses a emigrar em massa para todas as nações do mundo. É mais um processo de espalhamento de genes na construção de uma espécie humana com menos diferenças na cor da pele, na idiossincrasia, na educação. Daqueles broncos que chegavam para gerirem bares e casas de comércio nos séculos anteriores, poucos chegarão agora. Tentarão novos tipos de negócios. A facilidade da língua os trás para o Brasil preferencialmente, mas não é apenas a língua porque a maioria fala inglês e espanhol ou francês.  É, sobretudo, a idiossincrasia brasileira, o amor que se espalha nos ares, uma identificação do que se quer ter em Portugal e que sempre existiu no Brasil mesmo antes da chegada dos portugueses em caravelas pelos idos de 1.500. O povo é cheiroso, alegre, divertido, prático, direto, acolhedor.



Quem pode dizer que não ama o Brasil? Que eu saiba, a primeira e ultima que detestou o Brasil foi a esposa de um rei que o amava e que foi deportada para o continente quando o Brasil ainda era uma colônia. Esqueci o nome dessa senhora que não teve o prazer de me conhecer e que eu tive o prazer de esquecer. Quanto a meu povo, triste sina de sempre ter que emigrar porque seus governantes assim o desejam por lhes ser mais fácil governar: mais dinheiro disponível para uso comum ou restrito, sem os encargos de beneficiar quem os deposita.



Mas até e principalmente por problemas de educação e cultura, o povo português é reconhecido internacionalmente por sua fidelidade ás leis dos países que os acolhem e à sua capacidade e dedicação ao trabalho, aliado a um senso de responsabilidade incomum. Para a maioria dos países do mundo, portugueses não precisam de vistos especiais. É pegar no passaporte e embarcar!


® Rui Rodrigues





[1] “Lisboa – 1939-1945- guerra nas sombras” de Neill Lochery, Editora Rocco
[2] Verifique-se qual o custo em serviços públicos em média para cada português, em porcentagem de cada Euro ganho ou depositado sob todas as formas de investimento de poupança no país. Para cada Euro depositado, emigrantes não gastam um centavo em serviços públicos porque simplesmente não residem em Portugal. É lucro líquido disponível em  Portugal para empréstimos bancários com custo de capital também zero.
[3] Nome do feudo galego que deu origem a Portugal. 

FUTURO POLÍTICO NO BRASIL nos próximos dez anos.


FUTURO POLÍTICO NO BRASIL nos próximos dez anos.

Com a diminuição da influência da filosofia comunista em todas as nações do planeta [1] a sua mais forte e única filosofa de oposição, o capitalismo, se impôs no mundo de Oriente a Ocidente. O capital é hoje o “bem” mais procurado em todo o mundo, por todos os seus habitantes. Na verdade sempre foi, e, como todo o tipo de mercado, quanto maior a procura maior o seu valor intrínseco. Isto explica os altos juros, a existência do FMI, a corrupção. As formas de governo conhecidas, mesmo as ditaduras e a Democracia Representativa são muito fracas para enfrentar a força do capital e da influência das empresas que o detêm. Isto explica também e em parte o sucesso da Alemanha mesmo depois da crise política de 2008.

O capital é uma “arma” poderosa, muito mais do que o petróleo já o foi no mundo e ainda é. A falta de capital mata pessoas, indústrias, instituições, arrasa a moral e a ética na luta pelas necessidades vitais. O Brasil não é uma nação diferente das outras, e o que distingue nações não é a inteligência de seu povo, ou o conhecimento em si, embora sejam de extrema importância. O que os distingue é a cobrança que as populações fazem em torno da forma como se aplicam as verbas coletadas dos impostos. Povos permissivos, conformados, demasiadamente “educados”, submissos, entregam-se ao “bel prazer” dos que elegem e que decidem como aplicar as verbas. Política, hoje, é uma luta partidária por verbas e poder, não por filosofias políticas. Povo que exige tem mais e melhores centros de educação disponíveis, melhores serviços públicos, e isso não depende da forma de governo nem da filosofia política. É o povo que diz o quer, o que aceita, e é o povo que se revolta. O ponto de “ebulição” para uma revolta depende da paciência de cada povo.

Neste contexto, e sem terem desenvolvido indústrias com tecnologia própria, alguns países do cone sul da América do Sul [2]deixaram de ser competitivos nos ramos da indústria que mais lucro dão. Exportam petróleo, minérios, produtos hortifrutigranjeiros e grãos. Sem dinheiro, sem uma balança comercial que gere divisas, o socialismo “comunitário” torna-se uma dor de cabeça, inviável. Sem dinheiro, sem capital, o governo não pode “dar” ou distribuir pela população. A disponibilidade de bens diminui, surge a inflação mesmo quando o mundo inteiro é recessivo, as promessas de governo tornam-se impraticáveis e atingem cada vez menos beneficiados, surge a “política de favores”, o governo torna-se ditatorial para poder subsistir, os impostos aumentam. O capital estrangeiro perde os incentivos e saem pelas fronteiras e o capital “nacional” torna-se estrangeiro num piscar de olhos.  
O que se tem hoje no Brasil é um arremedo de democracia – onde a Constituição tem sido sistematicamente alterada por “interpretações” e Atos Inconstitucionais sob a forma “eufemista” de Medidas provisórias [3]com o apoio de um Senado comprometido com a manutenção de postos e de poder, em lutas por verbas públicas [4]. Para convencer o povo, prometem o que não podem garantir, vestem capas de um “socialismo” rebuscado nos velhos anseios da humanidade: Liberdade, Igualdade, fraternidade [5].  

A conclusão óbvia é que nas eleições de 2014 não importa qual o partido político que obterá a maioria dos votos: São todos de “esquerda capitalista-socialista-comunista” na propaganda, mas na realidade, capitalistas confusos e ignorantes que confundem capital pessoal com filosofia política.

Mais uns anos de desastres econômicos esperam o nosso Brasil até todos aprendermos que o socialismo só é possível se houver bens de capital que gerem mais capital para serem distribuídos, e         que o “socialismo de fachada” é um engodo para eleger oportunistas, cobras criadas. Mas isso é capitalismo, e quer comunistas quer socialistas não sabem lidar muito bem com o capitalismo: Faltam-lhes conhecimentos de matemática financeira e uma vontade nata de amor pelo capital [6]. Só a democracia Participativa nos dias atuais poderá mudar esta tendência de os eleitos se representarem a si mesmos suportados por forças de polícia e forças armadas e por um Senado consertado com os interesses em comum que não são os da população. O Supremo Tribunal Federal aprova tudo o que o partido no governo determinar e dá a legalidade idem, idem, por serem seus juízes nomeados pelos próprios interessados.

Nenhum político nos dias atuais representa realmente a população, comunidade, setor ou parte dela e não há esperanças de melhoras da doente democracia representativa.

® Rui Rodrigues




[1] Após a Revolução Proletária de 1917 na Rússia czarista, a filosofia comunista se espalhou pelo mundo chegando a ser implantada parcial ou completamente em mais de 100 Países. Hoje restam apenas dois onde existem ditaduras cujos governos buscam desesperadamente capital disponível gratuito para investimentos em setores produtivos que foram simplesmente destruídos no processo de comunização.
[2] Cuba (da América Central), Brasil, Venezuela, Argentina, Bolívia, principalmente.
[3] Nenhuma Medida provisória deixou de ser provisória: Todas continuam definitivas até que mude o partido no governo: O PT...
[4] Este fato torna todos os Partidos políticos filosoficamente iguais. Não há “oposição”, porque para governar se fazem necessários os “acordos” entre partidos. Ações de corrupção são denunciadas por iniciativa de partidos políticos menos beneficiados ou preteridos por quem tem mais força, geralmente o Partido do Presidente.  
[5] O mundo vem lutando por isto desde a Revolução Francesa. Sob este aspecto, o comunismo prometia a mesma coisa.
[6] Eleger pessoas sem cursos, apenas porque têm perfil político “adequado”, seja lá o que quer que adequado possa significar,  não resolve os problemas de nenhuma nação: falta-lhes conhecimento e apenas a “vontade” não tem o poder da mágica de tirar capital de pedra para distribuir segundo as “vontades”. 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ressuscitando o Fogu.

Ressuscitando o Fogu.




Não é nada fácil lidar com a morte.  Muitos de nós nos recusamos a admitir, vendo um corpo morto, que aquilo que ali está nada mais é do que um saco de batatas ou de terra. Algo que era e já deixou de ser. Agora é matéria inanimada já em decomposição.

Foi assim que encontrei o “Fogu”. Mas seco sem ter sido cremado e muito menos defumado.

Estava lá sobre um montículo de areia, mais para o lado das dunas, onde uma onda de maré o havia depositado languidamente após breves momentos em que, por força de falta de oxigênio, morreu sufocado. É esta natureza que nos é difícil entender. Como pode ser que um ser vivo que respira ar, de onde extrai o oxigênio, se veja impedido de aspirar o oxigênio livre de um ar puro de beira de praia  e fique ali pela praia saltando desesperado, abrindo e fechando a boca, tentando aspirar um ar que não lhe “entra”... Que esta foi a sorte da natureza, uma natureza que não joga dados, na qual só sobrevive quem se adapta ao seu humor que muda lenta mas inexoravelmente a cada segundo, por anos, séculos, milênios, milhões de anos, e Fogu é o nome japonês de um peixe cheio de espinhos, de olhos grandes, diminutas barbatanas, o peito branco,  espinhos emergindo de placas ósseas unidas pela pele azulada com arabescos em azul de tom mais suave e branco.

Temos tentado ressuscitar os mortos, mas em vão, ao longo dos milênios de nossa existência. A natureza tem suas leis, e o que morreu morto está. Não há como iludir esta lei tão natural, que a existir D’Us, este jamais contraria tal lei, porque é perfeito, e sendo perfeito não se irrita com sua própria obra, não se arrepende, deixa que a Natureza se encarregue de suas leis impressas desde a formação deste universo.

Teimoso que sou, mas fraco perante D’Us como qualquer dos mortais deste planeta, quis reviver o simpático Fogu, seu poderosíssimo veneno já tão seco como o seu couro, mas a meu modo...

Dei-lhe um banho de cola de madeira. Depois, pintei-o com minhas cores, como gostaria de vê-lo sem se sentir preso num aquário, finalmente, nas órbitas esburacadas onde outrora havia lindos e cândidos olhos brilhando com o olhar típico calmo e despreocupado de peixe, coloquei duas bolas de papel higiênico amassado com água e cola, que depois pintei, e, reparando nas órbitas das barbatanas que o sol as tinha secado tanto que nem havia vestígios, improvisarei umas novas, segundo o que me lembro de seus irmãos nadando livres na natureza aquática de praias, pedras e corais marinhos, de quando também eu me aventurava debaixo d’água. Meu querido amigo Fogu está ainda em processo de “ressuscitamento”.

E meu querido Fogu, agora tem outra espécie de vida. Vive para quem o olhar, com sua impecável dentadura, sem uma única cárie.  Para nós, mortais imbecis que ainda pescamos de arrastão nas praias matando vida que sequer comemos, que diferença existe entre um Fogu morto que não pensa, e um Fogu [1] vivo em seu meio que nem sabemos se pensa, como pensa, o que pensa?

Somos muito ignorantes de tudo. Precisamos canalizar nossa inteligência para aspectos importantes de nosso planeta, mas para isso é necessário abrir mão do infeliz pensamento de que fomos feitos à imagem de Deus...

Deus, D’Us, não é tão estúpido como somos... Nem de longe!

Rui Rodrigues

O Fogu depois de pronto






[1]  Mais conhecido no Brasil como Baiacu.  Este que encontrei na praia do Peró, mais seco que um bacalhau,  era jovem e não tinha mais que dez centímetros.