Arquivo do blog

sábado, 17 de maio de 2014

As cerejeiras de meu pai.

As cerejeiras de meu pai.


Quando eu tinha meus quatro anos acompanhava meu pai em seus tempos livres em que cuidava de sua horta, de seu pomar, do outro lado da rua, ribanceira abaixo cheia de castanheiros, rumo ao rio por onde por ali não se chegava. Era isto em Fornelos, minha terra natal. Lembro-me de sua plantação de morangos, das abelhas e de uma em especial que me mordeu na perna. Foi ao Abílio que uma outra deixou com o beiço inferior do tamanho de uma abóbora. Havia ali uma cerejeira cujos frutos eram grandes, carnudos, de cor vermelha escura. Bem escura quase como sangue seco. Uma vez o vi subir nos galhos para colher os primeiros frutos a ficarem bem vermelhos. De cima dela me atirava algumas dividindo entre nós o fruto do trabalho. Lembro-me que temia por sua segurança. Queria subir também, mas só anos depois entendi que realmente ele não me poderia ter deixado subir. Isso eu fiz três anos depois quando ele já tinha emigrado para o Brasil e eu fui de férias á minha terra com a minha prima Fernanda.

Conversas de aldeia, por aqueles tempos, versavam invariavelmente sobre a época de colher os frutos, troca de batatas por outro produto da terra, as despesas, notícias de emigrantes, umas da Austrália, outras do Brasil, da França e Alemanha... A diáspora portuguesa desde que os governantes descobriram que emigrantes não produzem custos ao Estado e enviavam todo o seu dinheiro para a Caixa Geral de Depósitos para que um dia pudessem regressar e construir a sua casinha, viver bem de aposentadorias. Se a intenção é apenas lucros, os governos portugueses podem orgulhar-se de seu passado e presente: São empresas altamente lucrativas para quem governa e contrata obras e serviços, mas não para quem fica na terrinha, se não fizer parte esses que governam ou não tiver uma “cunha”. Falava-se do tempo, das colheitas, das festas promovidas pelo senhor abade às expensas da fé dos bons cristãos, tudo florido pelas senhoras que freqüentavam a sacristia e que de tudo o que tinham para contar algumas coisas não contavam (do que viam) porque ninguém acreditaria. Mas nem todos os abades eram assim, e por essas indiscrições, lá se foi um par de dois ou três abades que deixaram admiração. A religiosidade era tanta por aquelas terras de montanhas, que com quatro anos eu já me preocupava, junto com meus colegas de mesma idade, que pecado eu teria que confessar ao abade para que ele tivesse fé em mim, porque como todos confessavam pecados, se eu não contasse nenhum, ele acharia que eu estava mentindo e me recomendaria mal ao pai. Não ao meu pai, mas ao pai dele. Só muito mais tarde eu li sobre a Síndrome de Estocolmo, e entendi porque razão a aldeia não comentava à boca larga e escancarada as mazelas quando as havia lá para os lados do Adro da Igreja. Pensavam por aqueles tempos que criança não presta atenção no que dizem, mas há crianças que prestam atenção em tudo e ficam caladas para não perceberem que entenderam.


Aquela cerejeira era muito linda, mas apenas dava frutos uma vez por ano. Meu pai a amava. Não me lembro de ter comido cerejas, dela, com dois ou três anos, mas apenas aos quatro. De todas as vezes que voltei a minha terra não foi em época de florada nem de frutificação. Mas a vi, cada vez maior, mais frondosa. Mas isto foi em 1949. Quando me encontrei com meu pai em Fornelos em 1983, ele me mostrou uma nova cerejeira que plantara, nada mais que uma haste de pouco mais e um metro e meio de altura, mas já com flores. Tiramos uma foto que está guardada num baú, o olhar embevecido de meu pai como se fosse um olhar para um filho amado. Não sei se ela ainda existe, mas provavelmente sim. O pessoal de minha terra é conservador, evita desperdícios e, sobretudo, adora cerejas. Eu também. Meu pai já faleceu. Um dia recebi de meu tio Miguel, seu irmão, uma foto de meu pai sobre uma cerejeira. Não me admiraria se fosse essa que ele plantou em 1983. Nunca perguntei. Prefiro pensar que sim, mas amo tanto este planeta, que gostaria de passear com alguém pelos campos para que me contasse a história de cada árvore, quando foi plantada, quem a plantou, a história do lugar, suas floradas, sua generosidade nos frutos. È que eu também gosto de árvores que dêem frutos, de cuidar do que se tem, sejam filhos ou árvores. Tenho algumas... Ou será que elas me têm a mim?





® Rui Rodrigues

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Nosso corpo, nossa vida, nosso mundo, nossos problemas.

Nosso corpo, nossa vida, nosso mundo, nossos problemas.

(Refiro-me sempre a masculino e feminino. Não há diferenças entre os sexos a não ser nas partes mais íntimas e nas curvas – para evitar graficamente os parênteses de (o), (a))




Todos sabemos que o Universo não pára de evoluir e se expandir, que a natureza não para de evoluir. Somos seres nesse mundo de universo e natureza sempre em evolução. Os outros animais não devem ter consciência de sua adaptação à evolução.Eles evoluem sem saber, sem sentirem. Nós, pelo contrário, temos “arquivos” escritos, desenhados, tradições faladas, estudos em geral que nos permitem saber que estamos evoluindo. Para onde, não sabemos, nem as razões, exceto uma: Ou evoluímos como espécie ou perecemos. A maioria dos animais predadores foi ficando pelo caminho da nossa própria evolução. Muitos foram extintos. Entretanto, nosso corpo também evoluiu: De corpos maciços, atarracados, peludos e rudes, estamos evoluindo para um novo tipo de corpo: O corpo belo. Parece que os corpos dotados de maior beleza, baseada esta em simetrias e proporções, terá maiores probabilidades de evoluir e passar seus genes do que corpos menos dotados, exatamente pela preferência de acasalar ou adquirir genes de corpos mais belos. Esta evolução para o “belo” só foi possível porque criamos artefatos que nos permitem ficarmos vivos sem o perigo de sermos devorados por feras na pirâmide alimentar. Hoje estamos no topo dessa pirâmide. Somos os maiores predadores desta natureza que conhecemos. Curiosamente, o fato de preferirmos corpos “belos” para o acasalamento não significa que estejamos escolhendo corpos dotados da melhor ou mais eficiente inteligência, e muito raramente coincide de um corpo belo ser dotado da mais eficiente inteligência. Vivemos de nossas escolhas, colhemos benefícios ou malefícios em função de nossas preferências. Na medida em que envelhecemos, apesar de todos os artifícios para mantermos o corpo o mais jovem possível, vamos percebendo que a evolução nos deixa “para trás” a cada dia, porque nos é difícil acompanhar essa evolução, em todos os aspectos. Operações plásticas custam caro, são ainda perigosas e de sucesso incerto, e com a tendência para a associação de casais de beleza semelhante, parece cada vez mais difícil arranjar companheiros ou companheiras a cada ano que passa. Parece. Apenas parece. Quanto á evolução dos costumes, também nos é difícil acompanhar: Os costumes sofrem a influência da tecnologia e a da informática parece a mais difícil de ser assimilada, não só pela aparente dificuldade de entendimento e manipulação que exige coordenação motora como também pelo preço dos equipamentos de informatizados. Mas ainda existe dificuldade maior de adaptação: Trata-se do aspecto afetivo. E este aspecto envolve não nosso o nosso corpo, como a nossa vida, o nosso mundo, os nossos problemas, mas até que ponto os nossos “problemas” são reais? Se os pudéssemos eliminar, poderíamos ser as pessoas mais felizes do universo, desde que não sejam intrínsecos do nosso mundo, do qual parece depender nossa vida, já que até o corpo tem conserto...




A forma de nosso corpo não tem muita importância. Há sempre uma tampa para cada cesto, na medida certa, para quem tem equilíbrio na vida e não se aventura em oceano brabo navegando numa piroga sem remos e sem salva-vidas. Ainda crianças ouvimos de nossos colegas algumas alusões a nossas deficiências e não raro aludimos também às deficiências dos outros. Isso é “buling”, claro, e deixa muitas vezes marcas amargas. Ou achamos que temos a bunda grande, ou a perna grossa, ou o nariz torto para um lado... E quando adultos, realizamos o sonho de infância indo corrigir numa mesa de operações, as “deficiências” com as quais nunca aprendemos a lidar. Não são deficiências. São virtudes, porque para alguma coisa servem. Nossos padrões de beleza é que são, como dito acima, muito exigentes num mundo competitivo... E, principalmente, costumamos querer competir em campos para os quais não somos muito aptos. Casar com o príncipe é muito difícil porque ele é apenas um e as candidatas são um montão...



Nossa vida rege-se assim, e muitas vezes ou quase sempre, em função de nosso corpo, de nossas aptidões, de nossa ambição e de nosso equilíbrio. Principalmente rege-se por atos sucessivos, diários, de convivência com grupos que nos cercam. Alguns deles nos dão força, outros no-la tiram, essa postura de enfrentar o mundo. Nosso equilíbrio é determinante para o sucesso a cada dia que passa. Somos um espelho do mundo no qual nos refletimos. Darmos valor ao belo nos dias de hoje, é uma demonstração de prazer. Batemos palmas para o belo. Mas o que exatamente o belo nos proporciona na vida, além dessa oca, vazia apreciação? Parece que nada. O belo não constrói um mundo melhor. Constrói apenas um mundo mais belo. O belo na política é uma desgraça. Apresenta-se um candidato que fala “belo”, que aparenta ser “belo”, e seus votos estão garantidos para nos tornarem a vida amarga. Os nenéns são belos, todos eles, por que é uma defesa da natureza para a preservação da vida. Nenéns são simpáticos, alegres, dão lindas risadas, não franzem o cenho, não xingam, são doces, têm a cabeça grande, os olhos enormes. Cativam. Teríamos um mundo muito diferente se os nenéns fossem feios. E eles têm uma “virtude” adicional: Sempre pensamos que podemos moldar essas crianças para que sejam como “nós” gostaríamos que fossem. É um engano, uma loteria, mas isso só se percebe quando se inserem no mundo que os cerca, que é diferente do nosso, logo que têm essa percepção e começam a pensar por si mesmos. Isso acontece diariamente, de forma muito lenta, mas é por volta dos 3 anos, dos 7, dos nove, dos 12 e dos 16 que notamos “em saltos” como a personalidade de cada criança evolui. Uma dessas crianças é você, leitor, leitora... Talvez não se dê conta disso, mas já tentou sem sucesso agradar a seus “instrutores” da vida, seus pais, familiares e professores, e certamente já teve suas crianças que tentou “educar” a seu modo. É mais do que evidente que você conseguiu ser diferente deles, assim como também é evidente que não conseguiu que seus filhos fossem iguais a você. É uma luta inglória. Ao tentarmos influir estamos apenas atrasando, retardando, a evolução da humanidade. A pressão do meio, da vida, do mundo, não é suficiente para parar a evolução do “eu” jovem, do eu puro de cada criança que consegue atingir a idade dos 16 anos... A partir daí, fará cada vez menos pressão para tornar seus filhos iguais.



Talvez agora possamos entender que nossos “problemas” residem todos eles na forma como entendemos o mundo, dando-nos a impressão que precisamos evoluir como as crianças e com as crianças. Por isso os avós são, geralmente, mais complacentes e cooperativos com elas, mais do que os pais. No fundo entendem um pouco mais, muito pouco mesmo, sobre essa característica dos nenéns: Querem evoluir, mas não os deixam... E crescem cheios de problemas, porque há enormes diferenças entre o mundo que vão desvendando e o mundo que os “instrutores” lhes dizem para viverem. Partidos políticos e “governantes” são assim mesmo: Ditadores que tentam impor a sua vontade por incapacidade de entenderem, ambição de poder mandar, aproveitadores dos benefícios das contribuições de impostos, vaidade frente ao “resto”, despreparo para as novas gerações, para o mundo sempre em mutação.

Será que o mundo agora ficou mais fácil de entender e poderá ser menos problemático? Espero que sim... Francamente! Não deixe morrer a criança que você já foi... Seja feliz, deixe o mundo seguir seu rumo...



® Rui Rodrigues

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Olho por olho dente por dente [1]

Olho por olho dente por dente [1]




Lei de Talião... É mencionada nos livros sagrados de judeus, cristãos e muçulmanos. Entre os índios de “La Guajira”, terras desérticas comuns à Venezuela e à Colômbia, é assim mesmo... Dívidas de sangue se pagam com sangue, e as roupas que usam lembram muito os tempos bíblicos da palestina, Israel, Oriente Médio. Não me admiraria se a Arca de Noé tivesse aportado à Baía de Media Luna e deixado por lá um casal de judeus fugitivos da Grande Diáspora do Dilúvio...
De certa forma é uma lei “violenta” e que eterniza a violência enquanto houver descendentes que possam vingar os “injustiçados”, e quem primeiro transgrediu fica sendo um fato histórico indeterminado no tempo, meio fábula, meio lenda, meio mito, jamais uma verdade histórica. O problema é a fé nos legados transmitidos geração a geração e que fazem uma história separada da outra, a real.

E criou-se assim, através da história paralela, que a polícia representa o lado bom, e que os traficantes e bandidos representam o lado ruim, o lado mau. É verdade!... O problema que nos deixa em dúvida por vezes, mas que é necessário esclarecer, vem de uma outra realidade: Bandidos entram para a polícia, policiais passam para o lado dos bandidos, tudo junto e misturado, assim como carne carneada de vaca, que nunca se sabe se é de vaca ou de boi, mas que depois de receber um carimbo diferente, da marca, tem uma credibilidade diferente. O povo, esse não se engana embora se passe por enganado: Carne Friboi é igual às outras e a proveniência é a mesma, todas com o carimbo CIF... O “diferencial”, se é que existe algum, está na propaganda. Isso no caso da carne, claro. Bandidos têm uma “lei” muito parecida com as ditaduras, principalmente as de esquerda, como as de Stálin e Mão Tse Tung... Talvez essa identidade de os fins justificarem os meios e olho por olho dente por dente, tudo junto e misturado, tenham aproximado o PT dos Ninjas, dos Black Blocks, do MST, do STF, da Petrobrás, do IBGE, e de tantos órgãos, entidades e ministérios que buscam com avidez ácida mas silenciosa, o divisor comum de verbas públicas que lhes satisfaçam a sofreguidão da avareza complacente, aplaudida por um congresso onde a maioria absoluta tem contas a ajustar com a justiça vadia numa molemolência digna de contos de Jorge Amado num contexto de filmes de terror draconiano disfarçado de sorrisos de madrastas oferecendo bolos envenenados.   

Vivemos num clima de começo de século como se não houvesse outro amanhã. Estamos todos cansados de sofismas, de novelas consecutivas, de propagandas do governo como se fossemos idiotas, que quanto mais propaganda mais sinal de que o produto não vende por si só, por mérito próprio. O povo confuso não espera a demorada demora dos julgamentos na justiça, os atos de prisão das forças das leis, que parece haver várias leis assim se julguem inocentes, bandidos ou amigos dos coniventes, estes tratados a luxos modernos e leis cheias de direitos humanos que faltam para os inocentes...  E fazem estes a justiça por suas próprias mãos porque é grande a pressa e a sede de justiça. Estamos todos cansados.



Há quem esteja arrancando os dentes todos e esburacando as órbitas oculares, para que possa impunemente prevaricar, dissimular, mensalar, votar no senado e nas câmaras, maracutaiar, corromper, locupletar-se, roubar, mentir, enganar, iludir, petezar e não sofrer represálias: Como aplicar a máxima de “dente por dente, olho por olho”, se não os tem, nem uns nem outros?  




O tempo traz os ventos... Os ventos empurram as forças... As forças fazem justiça. A humanidade é uma soma de sociedades diferentes em continentes diferentes. A nossa é verde e amarela e foi iniciada, fundada sob o mais puro dos ideais de liberdade. Nosso povo não fica refém de partidos, nem de falsos profetas, nem de falsos líderes... A justiça chegará e virá pesada para os prevaricadores, os que em nome do poder exploraram a viúva, os órfãos, os neo-escravos do século XXI com pesados juros e altos impostos.




Pagarão com olho por olho, dente por dente, com juros e correção monetária... Nossos pais são do tempo em que se dizia: “Vão pagar o que fizeram ao ceguinho”... Não se pode abusar impunemente de povo ignorante, porém honesto e trabalhador, embora cego de conhecimentos. E embora não seja nem recomendável nem desejável, nem conveniente, o povo está tomando em suas mãos a lei e a justiça. A culpa é de quem deixou que tudo chegasse a este ponto pensando que isso lhe serviria os propósitos eleitoreiros, de poder... O péssimo exemplo vem de cima, de onde deveria emanar o justo poder... Mas o poder que temos apodreceu nas mãos de falsos comunistas, falsos socialistas, oportunistas de rolex....


® Rui Rodrigues







[1] Lei de Talião, cuja primeira referência conhecida data de cerca de 1.780 AC, inserida no Código de Hamurábi dos Sumérios - Mesopotâmia. 

domingo, 11 de maio de 2014

Três meditações mediáticas pós-modernas

  1. O fim da Era Moderna




Senhoras e senhores, meninos e meninas, anuncio o fim da "Era moderna"... Estamos agora em plena "Era da Lei libertina geral irresponsável"...

Cada um faz o que quer, todos os presos agora são "políticos", empresas e governos mandam e o povo obedece... Poderíamos também chamar esta "era" de "Já era", mas haverá controvérsias...

Pela minha idade, estou saindo da era do "já era", mas quero deixar claro que não contribuí para isto... Ainda acho que os valores que valem são os que têm validade popular... Hoje uma moça do caixa no supermercado me disse: Quem mandou votar no PT?

Mas PT é por aqui, o que piora muito a nova era do "Já era"... Juntem-se, reclamem, e perguntem-se se vale a pena tentar mudar o que estão mudando sem nos perguntarem se estávamos de acordo...

Assim como antigamente e ainda hoje mães e pais empurram os filhos para que realizem seus sonhos na vida que não conseguiram realizar, assim também se promove a liberdade total e irrestrita, e nossas crianças estão sendo assim educadas paulatinamente...

As eleições estão chegando e se só nos pronunciamos de quatro em quatro anos, os eleitos farão o que quiserem nesse ínterim, e se quisermos reclamar, teremos que enfrentar gases lacrimogêneos, canhões de água, balas de borracha e peidos de policiais em manifestações, e sovaqueira de marginais, balas perdidas, assaltos e estupros pelas ruas da cidade desguarnecida de policiais.  

® Rui Rodrigues



  1. Minhas melhores definições dos regimes políticos:




- Comunismo – Mata sanguinariamente seus próprios cidadãos por simples oposição verbal, encarcera, impede a movimentação e a liberdade em nome do impossível: A igualdade entre cidadãos. Somos todos desiguais com diferentes capacidades desde nascença.

-Socialismo - Sistema intermediário entre o comunismo e o capitalismo,  em cima do muro, que não sabe para que lado cai, proporcionando o desgoverno, a corrupção, como mão que vai bater mas está em dúvida.... Eternamente dando tapa no ar, vociferando sem tomar atitude. E se tomasse, ou iria para o capitalismo selvagem ou para o comunismo...

-Capitalismo - Precisa ser supervisionado pelos cidadãos, caso contrário se transforma num tipo de governo "cinza" em muito mais do que 50 tons, matando sem sangue pela diminuição dos salários para “baixar custos”, por ambição e avareza, com a desculpa da “competição”... O neoliberalismo embarca nessa canoa furada. O povo acaba por detestar ter que comer brioches se nem pão tem...

-Ditaduras – É o governo de meia dúzia de idiotas que pensam ter a solução para todos os problemas da nação e acabam por ser mesmo uns idiotas que desagradam a todos e só fazem as vontades de meia dúzia de idiotas amigos. Ao final do período a nação está arrebentada, sem dinheiro, perdeu anos de desenvolvimento.

Mas tudo isto faz parte da democracia REPRESENTATIVA... isto é... Nós os elegemos ou aceitamos e eles fazem o que querem porque podem modificar as leis e têm de seu lado as forças armadas por forma “constitucional”... E quando alteram a constituição, mesmo sem nos consultar, a nós, o povo, ainda acham que nos representam... Claro que não! São filosofias completa e totalmente mortas e inócuas.

 - Democracia Participativa – para mal ou para bem - É o povo, são os cidadãos que escolhem seus próprios caminhos... Nada a reclamar... Não é possível que a opinião dos cidadãos seja pior do que a dos tais “representantes politico-comerciais”


® Rui Rodrigues


  1. Os caminhos da humanidade




Infelizmente - Ou felizmente, não sei - Não podemos mudar os rumos nos caminhos da Humanidade.... Ela vai para onde quer sem que qualquer um de nós lhe possa alterar a direção, a velocidade, as coordenadas... A Humanidade é um animal múltiplo, constituído de bilhões de pessoas que têm sua própria opinião.

Essa viagem da Humanidade rumo ao desconhecido é trilhada com base na experiência de cada um e de sua decorrente opinião, como num emaranhado de forças que tem uma resultante em função da escolha da maioria. 

Grandes mudanças no comportamento geral se verificam apenas ao longo de "pedaços" de tempo, que podem ser meses, décadas, séculos ou milênios. No entanto, há sempre uma parte dela que fica na "reserva", à qual costumam chamar de "retrógrada" ou "atrasada", mas que - a qualquer tempo - resgata antigos valores que tenham sido perdidos durante o difícil caminhar da humanidade... 

Por isso, de vez em quando alguns costumes retornam ao uso comum e corrente. Vejamos para onde ela vai, mas não há nada que possamos fazer para lhe alterar os rumos... 

®  Rui Rodrigues.




sexta-feira, 9 de maio de 2014

A bolha imobiliária brasileira - 2014

A bolha imobiliária brasileira - 2014




Vivemos na ilusão de que “um dia seremos ricos” e para isso há que poupar e trabalhar duro. Não é bem assim. Claro que se não pouparmos e não trabalharmos duro jamais seremos ricos, mas a inversa não é verdadeira. São necessários muitos outros atributos e cuidados para que possamos um dia vir a sermos ricos. Muitos de nós não o somos por que não estamos dispostos a arriscar, a seguir por caminhos menos ortodoxos, ou não temos visão para os negócios. Quando chamamos sócios, ou arrebentamos com eles ou eles arrebentam conosco mais dia menos dia: Não há “amizades” nos negócios. O que há são conveniências temporárias. Nem mesmo entre pais e filhos (único caso de saudáveis exceções), e entre familiares é quase impossível a completa honestidade de princípios. Formei-me em engenharia por vários motivos: É uma ciência fascinante, exige conhecimentos da maior complexidade multidisciplinar, e aplicar em imóveis sempre foi o tipo de negócio mais seguro do planeta. Engenheiro, dono de uma empresa de engenharia, seria como sopa no mel, ainda mais que na Universidade passamos três longos anos estudando economia, calculo vetorial, resistência dos materiais, construímos e mandamos foguetes para o Espaço. Apesar de engenheiro bem sucedido, nunca montei minha empresa de engenharia, não fiquei nem rico nem pobre. O equilíbrio na vida nos traz felicidades que o exagero na sovinice, na ambição, na alta competição não trazem, e passar a vida toda juntando bens para acabar morto como todo mundo sem levar nada para o além, realmente não fez a minha cabeça. Pude assim dar mais atenção à minha família. Não dei a atenção ideal, mas fiz o melhor que me foi possível sem jamais ter deixado cair a peteca.

Mas o que isto tem a haver com a bolha brasileira - 2014?



O que tem a haver é que as bolhas imobiliárias são perigosas, estamos numa delas, e se não houver equilíbrio em você e em todos os setores da economia – porque tudo é interdependente – pode perder o que já pensou que havia ganhado, ou perder tudo o que investiu. Nossa bolha é fruto de vários fatores: Uma inflação proveniente quase que exclusivamente da ambição dos banqueiros com seus juros altíssimos insuflados por um ministério da Economia compromissado com esses banqueiros, e por uma falta de confiança no governo. Todo mundo aumenta os preços, e portanto os lucros, em função da oportunidade da “copa do mundo” e dos turistas que vêm gastar suas economias, e principalmente para garantia de manter uma boa reserva de fundos para os tempos “pós- estouro de bolha”, quando a economia, se não colapsar, ficará tão frágil que qualquer boato adicional a derruba.

Fruto desta ambição, deste oportunismo, desta falta de confiança no governo, os preços dos imóveis aumentaram desde 2008 cerca de 136 % acima do aumento da renda média, no Rio de Janeiro, cerca de 158%. No total, e respectivamente, os imóveis aumentaram 158% em S. Paulo e 203% no Rio de Janeiro. Mas o que esperar do mercado? Que continue subindo? Para quem comprou seu primeiro imóvel “à vista” neste período se deu bem. Quem comprou a prestações tem que rezar para não perder o emprego. Atrasos nos pagamentos implicam em juros altíssimos, os maiores deste planeta. Países como Japão cobram zero de juros para impulsionar o consumo, em outros países os juros são também muito baixos pelo mesmo motivo. Aqui no Brasil os juros beiram a extorsão, a usura. No Japão dos anos 80, a bolha estourou por lá quando o aumento chegou a 168% acima da inflação (num período de seis anos). A dos EUA quando chegou em 2008 a 140% (nos últimos seis anos).



Quando nossa bolha estourar, teremos um caos dos piores da nossa história, porque os demais países do mundo, os mais evoluídos e fortes economicamente, ainda não saíram da crise de 2008 e não compram nossos produtos nos volumes que compravam antes da crise de 2008, ou pelos menos não aumentaram esses volumes de compra na proporção suficiente para nos proporcionar uma balança comercial mais equilibrada. Nossa população continua crescendo. Quem comprou o segundo ou outros imóveis, terá problemas de liquidez se a bolha estourar. Quem comprará de volta esses imóveis se precisar vendê-los e a que preço? Algo que a maioria dos investidores novatos não entendem é essa gangorra da economia: Ações e imóveis sobem astronomicamente ao longo de um período maior ou menor de tempo, e como parece lógico, de repente param de subir. Então, o mercado se torna vendedor em vez de comprador. Os preços caem. Caem tanto, que quem tiver reservas podem comprar de quem precisa por preços aviltados, e em certos casos, quase de graça. Os ricos ficam então mais ricos, os remediados mais pobres, os pobres mais miseráveis, os miseráveis morrem em maior proporção. É a velha teoria da “escada do investidor” : Tenha sempre uma reserva financeira de extrema liquidez, comprando sempre quando os preços estão quase na base da escada, vendendo a partir do momento em que chegarem á metade da escada. Nunca espere os preços chegarem ao topo da escada, porque nunca sabemos onde fica o “topo”, e o topo já está perto do estouro da bolha.

A Europa e os EUA já passaram pela turbulência do estouro das bolhas em 2008. Nós estamos atrasados até no tempo. Não se trata de milagre brasileiro. As bolhas vão estourar e ao que tudo indica, nos meses finais de 2014, inícios de 2015. A desastrosa política econômica do PT, misturando economia com política, não conseguiu frear a inflação. Oficialmente, o governo diz que é baixa, mas quer a bolha imobiliária, quer a manutenção dos altos juros, quer a redução do poder aquisitivo dos salários mostram que anda na casa dos dois dígitos.  Quando após as eleições as concessionárias de serviços públicos aumentarem seus preços e o governo tiver que aumentar impostos para manter seus “programas” eleitoreiros de governo, então as bolhas estouram. Estouram muito feio...



Preparem suas malas e reservem passagens de avião. Mantenham seus passaportes em dia, reze para que não venham com uma lei de retenção de capital, impedindo investimentos no exterior... Invista em ouro, pedras preciosas. Taxas de câmbio não são seguras para guardar dólares ou euros. Governos autoritários costumam estabelecer taxas de paridade fictícias, como na Argentina e em Cuba. Isso não salva a economia, como todos nós sabemos. Nem adianta a pressão dos políticos do PT sobre o IBGE e outros órgãos para tentar distorcer a realidade. Tudo vai mal, e quando estourar, porque a inflação está represada, será como o nascimento de um novo universo. Um universo sem PT com muitos fogos de artifício...


® Rui Rodrigues 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Deixando de fumar.

Deixando de fumar.



Sábado passado, dia 03 de maio de 2014, quando me fui dentar, por volta das duas da manhã (já era dia 04, domingo) apenas dois cigarros restavam em meu ultimo maço. O tempo estava seco neste quase começo de inverno e  uma tosse característica me incomodava. Eu mesmo estava “seco” também, para deixar de fumar. Começara aos 12 anos e parara apenas por duas vezes, mas não por minha vontade: Uma, por sete meses, quando minha namorada de então me pediu para parar. Um dia discutimos, acabamos o namoro e voltei a fumar desbragadamente. Sou muito sensível a essas coisas de namoro não entendido...

A outra foi quando adquiri um fungo safado no deserto da Guajira, na Colômbia, nas cercanias do então Puerto de Media Luna, hoje Puerto Bolívar.  O fungo entrou nos meus pulmões e nos de um outro americano. O americano voltou para os EUA, eu fui para Barranquilla, onde fiquei quatro meses sob tratamento. Parece que o americano ficou em maus lençóis e não retornou. Eu fiquei curado com os remédios que me chegaram dos EUA. Esse funguinho safado era desconhecido e matava... Mas deixar de fumar por vontade própria, só agora, por causa dessa tosse, das cinzas dos cigarros, do cheiro, do “cansaço” de fumar por tanto tempo. Quando na terça feira, dia 06 de maio de 2014 acordei, já fazia três dias que não fumava sem sentir a menor falta. Eu estava disposto, mesmo, a parar de fumar.
Acordei, tomei meu banho, chamei o táxi e fui fazer meu trabalho mensal em Cabo Frio. Quando cheguei de volta para casa, e entrei, senti aquele cheiro forte que jamais sentira antes de parar de fumar apesar dele nunca ter saído de minha casa. As outras pessoas devem sentir esse cheiro. Eu jamais poderia sentir por estar completamente habituado a ele. Não... A partir de agora faria todos os meus esforços para deixar de fumar. É realmente uma merda! Agora, e pela primeira vez em minha vida, realmente eu quero e vou parar de fumar.



Cinqüenta e seis anos fumando já me deixa com a vontade pelos tampos. Basta!
Hoje, dia 08 de maio continuo firme em minha determinação de não fumar... Sinto na verdade um prazer em não ter comprado cigarros, em não ter pedido para os trazerem, e na verdade mesmo, não me faz falta alguma. O problema é de “hábito”. Por isso a minha olhadela intuitiva para o tampo da mesa do computador, do lado direito, onde o maço costumava ficar junto com o isqueiro.
Próximo passo, voltar aos 78 quilos... O tempo continua seco e a tosse se foi... A cada instante que me dou conta de que estou parando de fumar, é uma alegria de vitória, e mais se fortalece a minha vontade. Agora é definitivo. Eu quero mesmo! Para valer... E a melhor forma de deixar de fumar é "querer". Se quer, pode! 

® Rui Rodrigues

Hoje é dia 12 de maio...  A cada dia que passa mais satisfeito fico comigo mesmo... A casa está perdendo o "perfume" de tabaco. Estava impregnada. Dia  11 dei minha primeira caminhada pelo Lotamento, que avaliei em cerca de dois quilômetros. É pouco, mas estou acima do meu peso ideal e tenho que voltar a caminhar devagar, aos poucos.... 




sábado, 3 de maio de 2014

Á morte com carinho!

Á morte com carinho!




Não se assustem... A vida é assim mesmo, desde que em minha adolescência assisti ao filme “Ao mestre com carinho” [1]. Aquele filme lançado nos dias de hoje, da mesma forma, mesmo com figurino diferente, não teria, creio eu embora não seja um pessimista por natureza, o mesmo sucesso. Os tempos mudaram muito no Brasil e não parece que tenha sido para melhor. Mas não falemos de política. Falemos da alegria de viver e do equilíbrio na postura que nos faz sentir felizes apesar de algumas dificuldades, pequenas e grandes, que temos a ousadia de enfrentar nesta epopéia pessoal, de cada um, em Viver!... Viver desde que se nasce até que se morre, pondo-se fim a uma etapa de um ser que não é único, que deve tudo o que foi à diversidade das espécies deste planeta e à diversidade entre todos os seres aos quais chamamos, muito libertina e inconseqüentemente, de seres humanos. Nem todos somos humanos.

Sou um cara feliz, sim. Conto minha vida não pelos momentos felizes, mas pelos infelizes, que foram na realidade muito poucos. Minha felicidade vem sempre da constatação de que meus momentos infelizes foram sempre muito poucos. Sabem porquê? Porque mesmo nos momentos infelizes, eu sonhava com a solução para acabar com essa infelicidade e encontrada a solução, era fazer o “gol” e partir para o abraço. É a teoria do “desprendimento”, livrar-nos de tudo o que nos causa infelicidade. Arrisco até em dizer que Jesus, um grande perceptivo, percebeu essa faceta da “racionalidade” humana: Se a posse de bens te mal faz, larga-os e vem ser feliz. Daí a perceber que a vida é um “bem” altamente perecível, embora sem data de validade, foi um passo só, estricto, direto, valendo para todos os "bens". A vida é como é, o que é, nascemos jovens e morremos idosos porque a força da gravidade e o ambiente em que vivemos nos causam rugas, deformam o corpo. Ter uma cabeça jovem dentro de um corpo idoso não é virtude. É problema, um grave sintoma de inadaptação que gera infelicidade. O equilíbrio é a solução para a felicidade, não necessariamente para a longevidade. Essa nem importa. É necessário que percebamos que logo após a morte este mundo acabou com todas as suas virtudes, lembranças e vicissitudes. É como um desligar de energia em que a lâmpada se apaga. Pergunte a uma lâmpada apagada se (ela) se lembra dos momentos em que permaneceu acesa... Não obterá resposta. A você morto ou morta, poderão lhe fazer todas as perguntas tal como a uma lâmpada apagada que não obterão resposta porque suas condições vitais acabaram para todo o sempre. Se tivesse lembranças após a morte, sofreria por se lembrar das infelicidades e por se lembrar das felicidades perdidas, e isso não seria justo para qualquer deus.
  
Há, portanto, que incluir a velhice e a morte no nosso cardápio de felicidades. Não das felicidades que nos dão prazer, mas daquelas que não fedem nem cheiram, que não têm mais importância do que um par de meias que saiu de moda ou ficaram velhas e jogamos no lixo. Sobretudo, devemos ter um carinho muito especial pela velhice e pela morte. Através da velhice nos preparamos para a morte. Vamos aceitando as “perdas” pelo corpo, pelos bens, pela vida. Quanto mais demorarmos a perceber isto, mais difícil nos fica atingir o equilíbrio necessário e entendermos definitivamente que viver é bom enquanto dure, e que o “tempo” que durar não é o mais importante, mas como estaremos preparados para enfrentarmos as dificuldades sem perder o nosso estado de “felicidade”. Afinal, o mais importante desta vida enquanto vivemos, é o estado de felicidade. E por mais paradoxal que possa parecer, até podemos ser felizes na hora da morte se a entendermos como uma parte dos atos “involuntários” da vida.


E, afinal, mas não finalmente, pense que até os deuses morrem: Odin, Zeus, Marte, Poseidon, Osíris, Ptah, Jesus Cristo (morreu na cruz e não foi de mentira), Ahura Mazda, Ba’aL, Hermes, Euro, Nereu, Neptuno e um Panteão imenso cheio de milhares, talvez milhões de deuses mortos. Eles morrem. Porque nós não?
Viva feliz nesta vida criando para os outros - e para você mesmo (a) - o mínimo de infelicidade possível. Só a infelicidade alheia por frustrações em nos tornarem infelizes pode ser motivo de nossa felicidade. A morte não é bem vinda, mas sua chegada é sempre e felizmente aceitável com um sorriso de felicidade e de boas vindas: Em maior ou menor grau, é o sinal de “dever cumprido” da vida, sem medalhas de heroísmos, sem lugares privilegiados ou gordas contas bancárias no além. 




O tribunal de Osíris está tão morto quando o próprio Osíris, e “corações” não se medem em peso de penas. O que se mede em peso de penas, no sentido mais abrangente do significado da palavra “pena”, é o retorno da felicidade que transmitimos aos que nos cercam e aos que encontramos no caminho de nossa própria vida. Na real consciência, sem mentiras!



Enfrente a velhice e a morte com carinho, venha quando e como vier, para que ela não lhe estrague seus momentos de felicidade. Você vence sempre enquanto viver, e que o viver dure quanto durar!

® Rui Rodrigues


quinta-feira, 1 de maio de 2014

As minhas três mulheres

As minhas três mulheres

Sexta feira à noite no bar, já passando da meia-noite. O barulho agradável e acolhedor da vozearia dos clientes, do tilintar dos copos, do odor dos salgadinhos que passavam perto das mesas, os cartazes de filmes afixados nas paredes chamando a atenção, dando um toque especial ao ambiente. Prateleiras com garrafas antigas, copos antigos, e uma tela de TV enorme, das mais modernas, para os dias de jogos interessantes de futebol internacional. Jogos nacionais só na competição principal entre times de vários estados, conhecido como o Brasileirão.  Jogos entre times da cidade sempre acabam por provocar discussões, brigas... A TV fica desligada. Bem ao lado dela, o aviso!
Naquele dia de fim de primavera caia uma chuva fina, até agradável. As ruas molhadas dão uma impressão de lavadas. Em alguns lugares do centro da cidade, onde fica o bar, pensamos até estar em Montmartre na Paris dos anos 60, principalmente perto do museu de belas artes, do teatro Municipal, nas ruas da Lapa.




A bela mulher chamou a atenção dos freqüentadores do bar do chopp grátis que administro. De vez em quando até sou garçom, barman, caixa, cozinheiro. Depende de quem acho merecer minhas atenções, e fico em particular impressionado como nossos sentidos, todos eles reunidos, podem construir uma imagem, uma definição em tão breves instantes que duram muito menos do que um segundo. Um segundo no tempo que só percebemos quando todos os nossos sentidos estão atentos. Peça a alguém que não tenha praticado handebol, que conte três segundos o mais exatamente possível, e constatará, olhando o relógio, que todos erram para mais ou para menos dependendo de seu estado de ansiedade e atenção. Eles não sabem que para contar os três segundos basta dizer mentalmente e sem presa alguma, da forma mais natural: “Trinta e um, trinta e dois e trinta e três”... No entanto, somos capazes de perceber micronésimos de segundo ao olhar para uma mulher se lhe somos simpáticos, indiferentes, ou até, e de certa forma em maior ou menor grau, repulsivos. Quando ela entrou, percebi-lhe o olhar. Eu iría jurar que veio para me ver, já que não se deteve sobre os demais freqüentadores. Parecia um olhar com endereço certo, determinado, mesmo antes de entrar. Juraria que me procurava. Mentalmente, revendo meus arquivos, não encontrei algum indício de que a conhecera em algum outro lugar. Certamente me lembraria, mas é daquelas mulheres que depois do primeiro contato visual, passa a fazer parte dos “conhecidos” que polvilham nossa vida. Dirigi-me a ela e indiquei-lhe uma mesa perto da janela que sempre tenho reservada para casos especiais. Perguntei se estava sozinha, e deixei-lhe o cardápio com um sorriso que foi correspondido. Discretamente, afastei-me sem perder o contato. Quando ela levantou os olhos procurando-me, eu já estava a caminho. Pediu-me um chope, e um pratinho de mini-quibes [1]. Perguntei se queria molho de limão ou de pimenta. Preferiu o de limão. Escolheu bem. No bar esprememos o limão na hora. Depois me afastei e a admirei de longe.
Era uma mulher de pele morena de traços europeus, lábios ligeiramente grossos, sensuais, com mais ou menos um metro e setenta de altura, cabelos bastos penteados à moda afro. Um batom cor de rosa suave, os olhos límpidos, peito generoso que cabe na mão, cintura marcada, curvas perfeitas com pernas perfeitas, os pés com dedos bem torneados. O vestido era de flores, em tons violeta, de seda, brincos discretos, um colar que lembrava esmeraldas intercaladas com lápis-lazúli, e seu andar era firme, equilibrado, discreto sem chamar a atenção. Os sapatos, fechados, eram azul noite. Perfume Chanel numero cinco, que jamais sai de moda. Uma deusa! E a voz, clara, dicção sem vícios ou trejeitos. Mas era o olhar que me matava. Os olhos eram verdes!


A primeira fase da atração tinha me vencido. Aquela era a mulher que eu via, que eu sentia, minha cabeça se perdia em devaneios acompanhado de sua imagem. Era isso. A primeira das mulheres que vemos numa mulher, é sempre a imagem que construímos com nossos sentidos mais urgentes e imediatos. A imagem gera atração, desejo, aproximação. E neste devaneio, nossos olhares se cruzaram uma, duas vezes. Então me aproximei. Perguntei-lhe se o chope estava como desejava e se os quibes estavam a contento. Ela elogiou os quibes e o molho de limão. Pediu mais um chope e perguntou se lhe poderia dar a receita. Foi então que notei a sua pele. Era sedosa salpicada de discretos pelinhos cor de ouro, sem mácula. Não tinha mais que trinta anos. Talvez uns 27. Um universo com mãos do tipo que afagam mais do que trabalham no pesado! E não... Não era prostituta certamente. Perguntei se podia fazer-lhe companhia. Fez-me sinal para me sentar, e lhe expliquei como fazia os quibes. Foi então que surgiu, despontou, desabrochou a segunda mulher que habitava nela, um pouco ansiosa, como criança que se depara com um prato desprotegido de “brigadeiros”. Era casada há já alguns anos, uma meia dúzia. Seu marido estava viajando e ficaria fora por uma semana. Só voltaria na próxima segunda feira. Ela o amava e respeitava muito e sua relação não era aberta. Acreditava que seu marido não a traía, ou se o fazia era de tal modo discreto que não se percebia. Não queria em hipótese alguma terminar a relação. Pelo contrário, pretendia fortalecê-la, mas, como ela mesma explicou, precisava urgentemente de uma relação temporária diferente. Algo como uma aventura quente, sem compromisso, onde pudesse dar vazão a todas as suas fantasias.
Se a primeira mulher que conhecemos pela imagem de nossos sentidos nos desperta emoções, a segunda mulher que descobrimos por debaixo da capa da primeira, é sempre mais excitante se corresponde ao “sonho sensual” a que nos dedicamos a partir da primeira sensação. É como mel no pão, queijo com goiabada, torradas barradas com manteiga e café com leite. Só falta comer.


Fomos para minha casa. Convidei-a para tomar “qualquer coisa”, mas nada se preparou porque nos beijamos. E beijamos, mãos ávidas percorrendo os corpos. Levantei-lhe a saia levemente e senti-lhe a pele morna das coxas enquanto ela me despia a camisa. Convidou-me para tomar uma ducha, uma ducha também morna, a água escorrendo pelos olhos que tinha que manter fechados quando lhe tentava olhar o rosto em êxtase, abertos quando lhe olhava o corpo esbelto, sensual, firme, sem pêlos púbios. Meus 37 anos se abaixaram para beijar aquele monumento, meus dedos acariciaram-na, minha língua lhe deu o prazer entre suas pernas trêmulas. Não há quem dê sem esperar receber, e sua boca foi mais do que generosa, sua garganta em ânsias, espasmos, sua língua percorrendo tudo o que mais desejava dentro de si. Assim passamos o resto da noite até o sol nascer, alternando posições, penetrações, num corpo que já não tinha segredos. Um corpo desvendado e gozado em toda a sua amplitude, o meu oferecendo-lhe o mesmo gozo.


Acordei pelo meio dia sem conhecer a terceira mulher que existia dentro da segunda, esta coberta pela capa da primeira. Encontramo-nos mais uma vez, nessa mesma noite. Larguei o trabalho quando eram apenas oito da noite. Recebi-a em casa com um bom vinho, um jantar simples, mas preparado com todo o cuidado e o melhor do meu bom gosto. Nada para impressionar, apenas para saborear, dar prazer. Então, logo na primeira vez que nos amamos, ela me disse para ficar quieto com o membro dentro dela. E começou a apertá-lo em suaves contrações. Quem estaria disposto a abandonar uma mulher daquelas? Como seria possível que o amor, o desejo acabassem algum dia? E como me poderia abandonar, se lhe dava o que queria, o que desejava? Mas quando acordei pelas dez da manhã, ela não estava no meu apartamento. Deixou um bilhete: “Te agradeço todo o prazer que me deste. Gostei tanto que temo, que com mais outro encontro largaria tudo para trás e só pensaria em ti, mas a vida é complicada. Assim, mesmo sofrendo pela ausência futura, sinto que não posso mais te ver. Beijos e desejos eternos da eternamente tua”. E assinou com um “Eu”.


Nunca soube seu nome, onde vivia, onde morava, quem era o marido.  Um dia, cerca de dois anos depois, olhando os jornais, vi sua foto e li a notícia de que se tinham separado. Só então fiquei sabendo quem era. Tarde demais. A terceira mulher era simplesmente uma mulher com alma, como qualquer mulher ou homem, buscando a felicidade do momento. Então me lembrei de um dito feminista, que dizia para o marido “muito ocupado”: “aqui em casa só há uma regra: Transa-se todos os dias, a qualquer hora, seja com quem for”.

O terceiro homem que existia em mim, por aquela época – afinal todos somos iguais nisso, homens e mulheres – não estava disposto a dividir a terceira mulher que nela existia, e isso era pedir-lhe demais. Esperei, no entanto, que ela aparecesse lá pelo bar algum dia... Mas o tempo a engoliu por completo e me engoliu a sua lembrança. Não a perdi para o tempo, mas para a vida. Lembrei-me dela hoje, por essas coisas da vida que de repente se abrem em nossa caixa de pandora, o cérebro, a imaginação... Jamais um inventário. Nunca fui colecionador. Homens e mulheres devem ser "descascados" camada por camada, até que apareçam, despontem, todos os "perfis" de cada um. E ou aceitamos ou rejeitamos, a qualquer momento, por boas ou deficientes razões. Mas, se forçamos a convivência, seja por que motivo for, mesmo não querendo aceitar algum desses perfis, melhor procurar na Zona a aceitação geral e irrestrita sem questionamentos. Basta pagar uns trocados que não fedem nem cheiram. Proibir o meretrício é solapar a individualidade de cada um, a liberdade de se ser o que se quer ser de forma remunerada ou por simples prazer.  

Do mais fundo de minhas boas lembranças, as moças das fotos são apenas semelhanças. Jamais publicaria a foto verdadeira. 
® Rui Rodrigues
    
   






[1] Receita de mini quibes: Rende: 50  mini quibes, aproximadamente

Ingredientes

1/2 kg de trigo para quibe, 750 ml de água, 1/2 kg de carne moída, 3 dentes de alho picados, 1 colher (sopa) de hortelã picada, Sal a gosto, Óleo para fritar

Modo de preparo

Preparo: 20 mins  ›  Tempo adicional: 1hora de molho  ›  Pronto em: 1hora20mins 

1.                      Deixe o trigo de molho na água por cerca de 1 hora, ou até que tenha absorvido toda a água.
2.                      Doure a carne moída com o alho e o sal numa frigideira. Junte com o trigo e adicione a hortelã e mais sal, se desejado.
3.                      Enrole quibes pequenos e frite numa panela com óleo bem quente. Sirva a seguir.