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terça-feira, 24 de junho de 2014

Sopa de assuntos com receita de mariscos, política e futebol.

Sopa de assuntos com receita de mariscos, política e futebol.

24 de junho 2014



Economia e governo - Porque estamos tão mal no Brasil.

Não há mágicos na economia nem nos governos. A Economia mundial é simples, o governo é muito simples de se entender. Combine os seguintes ingredientes e entenderá o que acontece no mundo

Ingredientes – Corrupção, honestidade, negócios, impostos. Povo (inclui todas as classes sociais).

Não há mais ingredientes.

  1. A economia mundial e das nações se move por trocas comerciais. Sobre os negócios (trocas comerciais) incidem impostos. Os impostos servem para dotar a nação de suas necessidades básicas que são usadas pelo povo.

  1. Altos impostos, povo mais pobre, produtos mais caros, menos vendas ao exterior. Se houver corrupção é o estado mais critico de um governo, mais sofre o povo (piores os serviços públicos). O governo pode ser transparente e não precisa mentir para conseguir votos.

  1. Baixos impostos, povo mais rico, produtos mais baratos, mais vendas ao exterior. Se houver honestidade, é o estado mais digno de um governo, mais se beneficia o povo (melhores serviços públicos). Para esconder os erros o governo mente para não perder votos.

O PT e seus aliados são o que de pior poderia acontecer ao Brasil. São umas ilusões da propaganda.  




O que fizemos para mudar o mundo?

Quem não gostaria de viver num mundo onde não se tivesse que dizer aos filhos e netos para não se aproximarem nem receber nada de estranhos? E é com frustração quase total que chegamos a uma idade onde pouco mais poderemos fazer para mudar este mundo, onde aparentemente o básico e fundamental continua igual há quase 12.000 anos... Tudo o que ainda poderemos fazer é divulgar a Democracia Participativa. O último reduto da esperança.

Não se exima por não saber o que é: Tome ciência em http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

RR



Massa com mariscos curryados à Rui do Peró.

- 1 kg de conchas do Peró ou mais (muito maiores que vongoles) e em praia de areia limpa.
- duas colheres de sopa de curry
- 2 pimentas dedo de moça
- 1 pacote de creme de leite
1- duas colheres de sopa de coentro picado
- quatro dentes de alho
-1 cebola média.
-500 gramas de camarão
- meio quilo de massa parafuso ou pene
-sal a gosto
1- pacote de queijo parmesão ralado...
- água até cobrir os ingredientes.

a - Pique as pimentas, a cebola e os alhos e ponha para ferver com os coentros e o sal. Junte os camarões e as conchas. Após ferver por uns dez minutos, retire do fogo. 
b - à parte coza a massa, escorra. Junte a massa à panela com os temperos, coloque o creme de leite e deixe ferver mais um pouco até o creme ficar grosso. Eu junto à panela o queijo ralado nesta fase e não depois sobre a massa. 

Sirva quente e acompanhe com um bom vinho branco seco,

Bom apetite !

RR
O BRASIL DE HOJE...



O Brasil governado pelo PT é um país que não funciona. Simplesmente não funciona. Não há garantias para nada. É absurdamente inseguro e não melhorou em educação. A lei é omissa, indolente, ineficaz, de dupla interpretação. A inflação voltou com força ainda que os índices, tal como a propaganda, do governo, insistam em desmentir o que se sente pelos ouvidos, pelos olhos e pelo bolso.

A culpa já não é do regime militar porque o regime militar já se foi.
A culpa já não é de FHC porque já não concorre na política
A culpa não dos empresários porque estão sendo beneficiados pelo PT
A culpa não é dos políticos porque a maior parte deles está unida ao PT em parcerias.
A culpa não é só do povo, alegadamente por não saber votar”, porque o povo vota naqueles que lhe empurram para votar. Fica sem opção!

A culpa do povo se deve a que não se exigem mudanças que o beneficiem e que não sejam ditadas por políticos. E o povo está dividido entre os “crentes“ partidários que se juntam aos que carecem de conhecimento, e os que pensam e que sabem que quando o dinheiro acabar não haverá o que dividir com ninguém. E nossa bandeira ficará vermelha.


Vamos olhar o futebol sob um novo ângulo...

São 22 pernas e duas mãos de um lado contra 22 pernas e duas mãos do outro, tentando empurrar uma bola com os pés numa gaveta revestida de malha por todos os lados menos por dois: Uma em aberto por onde a bola pode entrar e outra que é o chão onde apenas podem entrar frangos a pé ou voando. Qualquer outra mão na bola é falta. Seis pernas e seis mãos vigiam tudo o que se passa e impõem castigos constrangedores. Duas pernas de cada lado do campo e uma mão agitando bandeirinhas para avisar das faltas. Só uma boca tem apito. É tudo organizado por empresas satélites de uma maior, chamada FIFA, com regras tão estritas que parece uma organização para-militar, que fatura mais que muitas nações do Planeta. E como qualquer nação, os dirigentes são milionários, os donos das mais eficientes pernas ganham milhões e a esmagadora maioria das pernas que participam nos jogos organizados por essas empresas pedem adiantamento e empréstimos para poder comer um feijão com arroz por dia e pagarem as passagens para lhes fazerem o espetáculo.

Foi por isso que no final do ano passado houve um movimento em Espanha para uma melhor distribuição de pagamentos às pernas que fazem o espetáculo e, a partir daí, a Espanha deixou de ser uma potência mundial desse jogo de multidões. Dirão que não foi por isso. Quem sabe?

® Rui Rodrigues



sexta-feira, 20 de junho de 2014

Muito além da escuridão há uma luz...

Muito além da escuridão há uma luz...

No “Bar do Chopp Grátis” todos os dias são quase normais. Bebe-se muita cerveja, a vozearia chega a ser monótona entre tilintar de copos, e muito raramente alguém puxa um assunto interessante que faça com que as mesas e cadeiras se juntem em torno de um “palestrante”, formando-se um circulo de raio tão variável quanto o teor alcoólico dos miolos interessados em escutar. Mas acontece. Ontem á noite aconteceu com o Carlos Hildebrando, um velho freguês quando Beatriz, outra velha cliente puxou o assunto de “vidas passadas”. Ambos são velhos fregueses do Bar, mas não têm mais de 50, no máximo 55 anos.

Carlos Hildebrando da Fonseca Y Aguilar ficou muito impressionado com essas histórias de reencarnação contadas e propaladas em livros e pela NET e agora levantadas por Beatriz, a dona das pernas mais belas e bem torneadas de toda a clientela feminina. Uma Marlene Dietrich até no olhar fatal de galinha morta. Contou então a sua história. Alguns meses atrás, movido pela curiosidade sobre o assunto tinha tomou uma decisão depois de muito matutar sobre as conseqüências: Estaria disposto a enfrentar duras constatações de vidas menos dignas, indignas, muito indignas caso tivesse sido esse o seu caso? E em quem acreditar? Sim, porque não ouviria apenas a uma fonte, mas a várias. A entrar nessa gruta de surpresas, iria até o fim. Queria saber tudo nos mínimos detalhes. Faria sessões de “regressão” por hipnose, procuraria os melhores conhecedores do assunto via tarô, ou consulta despersonalizada via NET. Estava movido pela curiosidade que o atormentava dia e noite. Hoje no Bar Carlos nos contou a sua experiência. No princípio da conversa pensou-se que seria algo jocoso, irônico, com bastante humor, porque se discutiu os métodos para descobrir as vidas passadas, que mais pareciam um engodo, uma armadilha para os “crentes em qualquer coisa desde que seja estranha”, mas a conversa foi descambando para o sério.

Carlos é do tipo de ouvir sempre, pelo menos, duas opiniões para cada tópico de um assunto complexo. Primeiro foi no mais fácil e entrou num site da NET que só lhe pediu em números a data de seu nascimento. Não pôde ter fé nesse site, porque muita gente nasceu no mesmo dia que ele e estariam todos reduzidos a um único passado idêntico. Isso seria impossível. Segundo esse site teria nascido no Norte da Índia, teria sido dentista no ano 700, homem. Então, como parte do “negócio” para crentes, o site encaminhava para “respostas” do Tarô, e até previa data de morte sem se preocupar sobre a saúde, hábitos, etc. Não pôde acreditar em algo tão inconsistente. Consultou vários “experts” mo assunto, desde estudiosos de Tarô a pais de santo, astrólogos, e foi até em vários centros espíritas, mas não ficou satisfeito. Um especialista chegou a dizer que ele tinha sido uma meretriz da alta sociedade, amante de um gladiador em Pompéia e que tinha morrido sufocada durante a erupção do Vesúvio no ano 79 DC quando fazia amor com ele, um gladiador. O especialista chegou a sugerir que poderiam ir a Pompéia e pedir aos curadores do museu de estátuas de cinza para fazer o teste de DNA, o que confirmaria que ele tinha sido a meretriz. Carlos poderia ser bobo de vez em quando, mas não a todo o instante. Foi então que se consultou com um psicólogo especializado e se submeteu a umas sessões de hipnose regressiva. Como é muito precavido, levou a mulher, não fosse o psicólogo um tarado que se aproveitasse dele enquanto estivesse hipnotizado. Realmente, dadas as circunstâncias atuais do mundo em que se vive, toda a precaução é necessária até para ir a templos, sejam eles quais forem e onde forem. Vai que aparece um fanático e explode tudo... No consultório esperava que o fizessem flutuar no espaço por cima de um sofá de veludo, mas não encontrou nenhum sofá de veludo. Foi hipnotizado deitado numa maca de consultório médico daquelas que tem uma escada me metal móvel para crianças ou para quem tem pernas curtas. Ouviu o mantra do psicólogo, concentrou-se com a maior das boas vontades, entrou em transe e se lembrava muito pouca coisa, mas tudo que falou ficou gravado num lindo e brilhante CD de computador. Mas antes de ouvi-lo, o psicólogo foi até o computador e pesquisou dois nomes que Carlos havia falado em seu transe: Wilhelm Gustloff [1]. Era um navio de passageiros. Um olhar de admiração do psicólogo fez tremer Carlos e a esposa. Era um olhar preocupante, com ares de catástrofe. Carlos estava impressionado, ansioso para fazer perguntas. Seu corpo estava frio, o suor frio de suas mãos o incomodava. Mas mais ainda o incomodava a expressão corporal de sua esposa, tolhida, encolhida, os olhos dela buscando os dele tentando ler-se no íntimo, um ao outro.

A esposa de Carlos estava imóvel, os músculos retesados, em estado latente de tensão. Carlos pensou acertadamente que isso se devia ao que tinha falado durante a sessão. Passou as mãos no rosto, perto dos olhos sentindo que algo o incomodava e viu que estava molhado. Ele chorara durante a sessão, mas não se lembrava de ter chorado. Começaram então a recordar o que ele falara e o que vira e aos poucos Carlos foi unindo fatos e sensações. Ele disse:

- Meu Deus! Que coisa terrível, uma catástrofe. Foi a maior catástrofe naval de toda a história humana. Eu morri!


Era o dia 30 de janeiro de 1945, um dia muito frio como costumam ser os dias frios na zona do Báltico. O dia já estava no fim e o Wilhelm Gustloff que tinha saído do porto de Dantzig na atual Polônia, estava incrivelmente repleto de refugiados alemães da Prússia Ocidental evacuados numa operação chamada Hannibal. Fugiam desesperadamente do exército russo e dos próprios poloneses agora libertos.  O navio tinha sido projetado para cruzeiros da classe operária de Hitler e fizera muitas viagens para os fiordes noruegueses, Lisboa e Ilha da Madeira. Em 1939 tinha feito o repatriamento da Legião Condor, alemã, durante a Guerra Civil Espanhola.  Sua capacidade era de cerca de 1.800 passageiros. Naquele dia, porém, transportava incríveis 10.500 pessoas, sendo cerca de 1.000 a tripulação e 4.000 eram crianças. Havia muitos soldados alemães feridos em combate. Entre eles, Carlos se lembrava do nome de uma criança: Horst Woit [2], uns seis anos de idade. Estava acompanhado de sua mãe. A ultima vez que o viu ele estava tirando um canivete suíço de suas calças e o dava a um marine alemão para cortar as cordas do barco salva-vidas, que lhes permitiria baixar o bote para a salvação. O navio tinha sido torpedeado três vezes por um submarino russo [3] às 21:10. Embora quatro torpedos tenham sido lançados, um falhou. As explosões provocaram pânico instantâneo. Crianças choravam, pessoas corriam para salvar-se. Muitas caíram ao mar, muitas morreram com as explosões. O navio adernou a 15 graus instantaneamente e às 22:30 já não existia mais. O Báltico era agora todo silêncio. Carlos ajudava no convés no que podia. Não estava preocupado em salvar sua vida. Respirava, não estava ferido, era jovem ainda. Estava com 28 anos. Não era herói. Ajudava idosos, mulheres e crianças a salvar-se, amparando-as, encaminhando-as para os botes.  Entre eles, Horst Woit e a mãe. O que mais o impressionava eram as expressões dos olhares, os olhos excessivamente abertos, muitos gritos, gente se empurrando, crianças pisadas, a conformação expressa em muitos olhares da certeza que morreriam. Apesar de tanta certeza e conformação, 964 se salvaram. Entre 8.500 e 9.600 morreram por ferimentos, por pisoteamento, por quedas ao mar, pelo frio do mar Báltico, boa parte afogada antes de sentirem os efeitos da hipotermia.



Carlos viu os alguns botes se afastarem aparentemente a salvo, quando a popa do navio ainda estava a uns bons 10 metros acima do nível do mar. A inclinação não permitia ninguém no convés a menos que estivesse agarrado a alguma coisa. Carlos estava agarrado a uma corda cortada dos botes salva-vidas. Sabia que ao afundar o navio o sugaria para o fundo. Quanto mais tarde saltasse ao mar, menos tempo ficaria na água fria, a cerca de dois graus centígrados e uma sensação térmica de menos dez graus, prolongando assim sua entrada no estado de hipotermia, mas reconhecia que já era muito tarde para saltar. Se seus pulmões agüentassem poderia subir à superfície, embora isso fosse praticamente impossível. Não tinha muitas esperanças. Aceitava a fatalidade. Qualquer navio que tivesse sido avisado pelos S.O.S lançados não apareceria antes de pelo menos uma hora.

Agora Carlos se lembrava de sua regressão completamente. Primeiro sentiu o frio. Depois quis respirar, mas respirou água. Seus pulmões estavam inertes, arfava para respirar cada vez com menos força. Seus olhos se apagaram quando todos os seus sentidos já não sentiam nada. Nem dor, nem pena. Absolutamente nada. Por mais uns cinco minutos ainda lhe restou a visão e um leve sentimento de que em breves segundos mais só restaria a escuridão. Então, como num despertar virgem, sem qualquer lembrança, começou a escutar o som das ondas do mar, suaves ondas como as de lagoas batidas por leve brisa e também sem a mínima noção de tempo, sentiu que via embora tudo estivesse escuro. Ouviu sons de canções ao longe, sons de rádio, sons de passos entremeados de silêncios absolutos, nada como dantes. Até que de repente viu a luz, e escutou perfeitamente: É um menino! E então chorou tudo o que não havia chorado.

® Rui Rodrigues





[1] Navio alemão. A história dele embora incompleta é verdadeira. Foi a maior catástrofe naval até os dias de hoje.
[2] Horst Woit é um dos sobreviventes do afundamento. Tinha 76 anos em 2012. Não sei se ainda vive.
[3] O S-13 era comandado pelo capitão Alexander Marinesko

terça-feira, 17 de junho de 2014

Sentimentos à flor do pelo.

Sentimentos à flor do pelo.



Dizem que, olhando do alto de uma pirâmide no Egito, Napoleão, um cara famoso por ter tido a idéia molieresca [1]de conquistar o mundo, teria dito: “Do alto destas pirâmides quarenta séculos vos contemplam”. Há controvérsias, porém, devido á datação de uma estátua tão famosa como as pirâmides: A esfinge! O que será a esfinge? Parece um leão com cabeça humana, mas pode ser um gato ou uma gata, a julgar pela posição das patas frontais, com cabeça humana, talvez por que os gatos pareçam tão humanos em seus sentimentos. Cães, por mais que sejam simpáticos, agem como se fossem treinados para agradar e têm uma memória a curto prazo completamente deficiente. Não esquecem os donos, mas só se lembram deles quando estão em contato. Gatos não. Só nos agradam se lhes agradamos e tornam-se fiéis e amigos por opção enquanto os tratarmos bem. Nesta situação de agrados mútuos são companheiros inseparáveis donos de uma inteligência incomum. Comunicam-se muito bem, mas é necessário que “sejam decifrados”. Um olhar pode ser um aviso de algo que nos pode prejudicar, um alerta para algo que esquecemos, como o fogão aceso, por exemplo. A esfinge teria dito a Édipo: “Decifra-me ou devoro-te”. Para uma esfinge leão isso seria admissível, mas para uma esfinge gato, seria totalmente despropositado.


Uma visita ás tumbas e o que vemos? A julgar pelos alimentos em vasos de argila acreditavam que haveria uma vida após a morte. Vemos utensílios do dia a dia de acordo com a sua aptidão em vida: Ferramentas, armas, tinta, roupas. Em tumbas de nobres podemos ver seus escravos que os cuidaram em vida, mortos para que os acompanhassem nessa nova vida. No início da civilização egípcia só os nobres eram embalsamados. Depois, talvez pela necessidade de faturamento dos sacerdotes, passaram a embalsamar qualquer um que tivesse dinheiro para isso, e quem podia embalsamava seus animais de estimação. Há muitos gatos embalsamados. Poderíamos nos perguntar o que é a vida realmente, e se mais um par de dias ou de meses em nossas vidas faria qualquer diferença substancial, e até que ponto valeria a pena sacrificar animais de estimação e escravos para nos acompanharem nessa grande viagem ao além. 

E como sabemos, não valeu de nada, se até os deuses que nunca existiram de fato já estão definitivamente mortos. Haverá quem ainda adore Ísis e Hórus, talvez mesmo Ptha, mas existia um deus (que nunca existiu) que tinha a forma de uma gata: Bastet. Era uma deusa da fertilidade, protetora das mulheres. A confusão entre leão e gato é tão grande, como no caso da Esfinge, que muitos confundiam a deusa Bastet com Sekhmet, uma feroz deusa leoa incumbida por Rá de provocar enormes castigos.
Quem tem gatos e os mantém de forma amável, sincera, calma, “conversando” até com eles, ficará surpreso quando os vir acompanhar seus companheiros (nós) para onde formos, olhar-nos com aqueles olhos límpidos e calmos, e poderá entender seus diferentes miados. Bem tratados não prescindem de nossa companhia. Aquecem-nos os pés na cama, “pedem licença” com seus olhares e gestos antes de tomarem qualquer atitude, podem ficar perto de algo que deixou cair até que você se dê conta e demonstre que o que deixou cair não tem a mínima importância. Conhecem a casa toda, todos os recantos, todos os objetos. Marcam-nos roçando o pescoço em suas esquinas. Se tirar algo de lugar, lá está ela ou ele, para “cheirar” o objeto e memorizar onde está. Estes felinos têm personalidade. Se você estiver triste, olham com fixação como quem pergunta: - O que se passa? E de repente correm escadas acima para brincar de esconde-esconde, pega-pega. Ou aparecem de repente, dão uma leve patada em suas pernas e saem correndo pela casa para que sejam procurados. A Sarkye, uma gata de três cores que me acompanha há doze anos atirava-lhe uma pequena bola. Ela brincava até se cansar. Olhava-me, pegava a bola com a boca e vinha trazê-la para que voltasse a jogá-la. Quando finalmente se cansava, parava e saía de perto da bola. Bebe água da torneira da qual deixo cair um fio constante. Quando acaba de beber olha-me para avisar que acabou e só então salta da pia. Se ela quer sair de casa para se espreguiçar ao sol, fica na porta parada, de costas para mim. Se demorar a abri-la emite um miado curto. Abro-lhe a porta e sai. Sento-me para digitar no computador e lá vem ela, de mansinho, toda cheia de dedos, suavemente, como quem me pergunta: - Onde me deito? Podes arranjar-me um cantinho? E aninha-se com a cabeça em meus braços. Se pelo contrário lhe digo: Agora não, Sarkye... Ela se afasta e aninha-se em qualquer lugar livre onde ela caiba. Tem sua ração preferida. Se a misturo com outra, escolhe pacientemente os pedaços da reação preferida e deixa a outra se acumular.


Quem não tem cão caça como gato, dizem, mas com a Sarkye não é assim. Qualquer movimento e ei-la de orelhas a pino, o nariz levantado cheirando o ambiente, o olhar fixo no que se movimenta. Já descobri outros gatos lá fora, pássaros, borboletas, lagartixas, gambás, cachorros. Quando se trata de pessoas, mesmo fora do portão, na rua, ela rosna. Rosna mesmo. Se vou ao banheiro e fecho a porta, vem correndo e mia até que a porta lhe seja aberta. Então entra e fia ali, de costas para mim, como quem me guarda e me avisará de qualquer perigo. Se me distraio, entra em minhas calças ou short arriados e tenta se arrumar até que eu faça menção de me movimentar para apanhar o papel higiênico. Mas o melhor de tudo é o assobio. Ela vem quando assobio e me cheira o nariz, provavelmente procurando por um passarinho fantasma que lhe escondo. Se ela gosta do assobio, porque nunca assobio diferente, ela mia para me acompanhar.



Para mim, Sarkye é uma “pessoa”. Se eu vivesse no antigo Egito não teria os conhecimentos que tenho hoje, e dadas as circunstâncias, pediria para que a embalsamassem quando partisse a caminho dos céus de Osíris e de Hórus. Seria uma atrocidade minha, mas os costumes são de época de acordo com os conhecimentos adquiridos numa civilização e há que isentar a falta de conhecimento. O que não se deve é isentar a escravidão seja qual for a forma de escravizar. Não podemos – sob pena de sermos condenados no tribunal de Osíris ou em qualquer outro – fingir desconhecimento do que conhecemos de acordo com as conveniências.  Está bem certo que Osíris era falso como deus porque não existia de fato, mas nossa vida se constrói dia a dia numa comunidade de amigos, conhecidos, nossa “identidade” se constrói pelos atos e não por um título, uma carteira, uma impressão digital, um voto. Podemos perdê-la num simples ato grave, ou numa série de pequenos atos. Reis e presidentes deveriam perder os cargos quando perdem a identidade. Isso nós sabemos, temos conhecimento. Por que não adotamos um voto para deseleger e sermos assim democratas na verdadeira acepção da palavra?

® Rui Rodrigues

PS - Esta é uma homenagem a todos os felinos caseiros, mas muito em especial a todas as deusas gatas mulheres deste planeta. Sem elas eu não seria o que fui e nem que sou como sou. 




[1] Refiro-me a Moliére um grande autor de peças teatrais. Napoleão perdeu tudo o que ocupou e que nunca conquistou de fato. Provavelmente nem as mulheres. Ficou na história como um general fracassado, baixinho, gordo, mulherengo para vencer seu complexo de inferioridade. Perdeu a mãe de todas as batalhas em Waterloo e morreu envenenado por papel de parede contendo chumbo, numa prisão. Umidade e chumbo o mataram. A França diz que ele é um herói.  Não posso olhar para uma figura destas de mão no estômago para acariciar uma úlcera atroz como uma figura heróica. Mas respeito o povo francês. Têm um paladar maravilhoso. 

segunda-feira, 16 de junho de 2014

A famigerada copa Brasil 2014 da FIFA.

A famigerada copa Brasil 2014 da FIFA.



  1. O cenário Brasil.

Quando a fome se junta com a vontade de comer, temos sempre uma lambança. A lambança tanto pode ser comunista, como socialista, como capitalista, sob a égide mancomunada de ditadores como na Argentina de Videla, de reinados, de republicas, de quem “manda” nos governos que vêm na realização das Copas boas oportunidades para alguma coisa, mais que não seja, a promoção pessoal em governos de caudilhos e populistas, ou de partidos políticos no poder com vistas à reeleição ou para firmar sua posição de liderança. Em países mais democráticos, uma esperança de bons negócios. Para todos, afinal, sempre a perspectiva de bons negócios não importa quem paga as despesas, quase sempre as populações com os impostos provenientes do trabalho. Mas no Brasil, um país com os mais altos índices de corrupção, com um “ex-líder” populista no comando do governo onde impera soberana uma ex-guerrilheira completamente “tapada”, obsessiva e vingativa, unida a uma emissora de televisão que pensa estar sempre sobrenadando sobre a mídia desde que apoiada pelos governos a quem sempre pede ajuda financeira em troca de favores, e um senado cheio de políticos que têm contas a ajustar com a justiça e que pensam que sempre terão as bênçãos do governo desde que o consintam e o apóiem, todos os males se somam apoiados por uma população com os mais ínfimos índices de educação mundiais.

No Brasil as bênçãos são mais abençoadas e os malefícios são mais demoníacos. Somos brasileiros, não desistimos nunca, mas demoramos muito a escoicear o montador que nos empurra com a propaganda que nós mesmos pagamos para nos mostrar “o bom caminho a seguir”. O mensalão é uma prova de que os políticos não representam o povo brasileiro.  Foi assim que trouxeram a Copa do Mundo da FIFA de 2014 para terras brasileiras. Com todos aqueles “predicados” não é difícil entender porque razão a copa se realizou em terras tupiniquins: A Copa é um bom negócio para quem a usa, a FIFA é uma empresa e o governo brasileiro parece ser uma empresa particular de partidos, políticos, politiqueiros, amigos unidos do PT. Nenhum deles é comunista nem socialista. Ganham o dinheiro questionável do uso de impostos públicos. A FIFA é a única de princípios capitalistas, assim como as empresas de construção e de exploração de espaços, suportados por uma mídia e artistas pagos a peso de ouro: Há que convencer o povo que o que é bom para os EUA é bom para o Brasil – assim se dizia antigamente – e que o que é bom para a FIFA é bom para o PT.

  1. FIFA - Antes e depois de João Havelange

Até o reinado de Stanley Rous como presidente da FIFA, de 1961 a 1974, nunca se levantou acusação séria de corrupção em seus bastidores. Faleceu com 91 anos em Guildford, em 1986, livre de denuncias. Sucedeu-lhe João Havelange, brasileiro, porque apoiava os países africanos. Havelange ficou suficientemente rico para se dedicar a trabalho filantrópico junto às aldeias internacionais SOS, patrocinado pela entidade em 131 países. Para se livrar de acusações de corrupção [1], abdicou de sua posição de presidente de honra da FIFA.  Não trouxe nenhuma copa para o Brasil, embora tenha organizado seis delas [2].  Sucedeu-lhe Joseph Blatter, e há rumores de corrupção incluindo a realização da Copa de 2022 no Qatar. Franz Beckenbauer foi afastado de seu cargo no comitê organizador de copas na FIFA e promete cooperar com as investigações. Os resultados da comissão de ética da FIFA serão divulgados após a copa de 2014. Em termos de esporte muito se deve à FIFA. Não é isso que se questiona aqui.

  1. Brasil, FIFA e “Não vai haver Copa”.


Era evidente que haveria Copa. Primeiro porque algumas confederações de futebol hesitaram ou não confirmaram suas candidaturas à realização da Copa. Foi o caso de Chile em conjunto com a Argentina tal como se chegou a cogitar em 2005; o Canadá ficou em compasso de espera caso o Brasil não conseguisse cumprir com as premissas; A candidatura Colombiana obrigaria á cessão para o México por questões financeiras e o presidente Uribe desistiu de concorrer em 2007; Uma pretensa “Comunidade Andina” constituída de Colômbia, Equador, peru e Bolívia nem foi oficializada, mas estaria fadada ao insucesso por causa das altitudes dos campos de jogo, além desses quatro países estarem automaticamente classificados; os EUA, hipótese levantada por Blatter seria uma opção caso o Brasil não cumprisse com as exigências estabelecidas, tal como o Canadá; Hugo Chavez, o desastrado e cômico presidente da Venezuela, apresentou sua candidatura quando as inscrições já estavam encerradas. Sobrou a candidatura do Brasil. Um dos primeiros passos da presidente Dilma Rousseff, pouco experiente em economia, em contratações e em gerir uma democracia, foi baixar um decreto – e país onde se governa por decretos não tem nada de democrático com um congresso comprado – estabelecendo o sigilo das despesas para a Copa - além de um outro segundo o qual há uma reserva financeira que pode ser usada pelo Estado sem ter que dar satisfações a ninguém. Num Estado com tantas deficiências na educação, na segurança, na saúde e nos transportes públicos, dizendo-se socialista, era de esperar que os investimentos nacionais se voltassem para estas áreas. Em vez disso, a presidência, o PT e seus partidos associados financia porto em Cuba, perdoa dívidas de conhecidos ditadores africanos, baixa decretos atrás de decretos alterando leis e uma principalmente, o decreto 2.300 sobre contratações, a pretexto de dar velocidade ao andamento de projetos, e construções em geral. A transposição do Rio São Francisco não foi realizada deixando o Norte e Nordeste sem água, o gado morrendo, e acumulando erros atrás de erros, o governo brasileiro atrelado ao Congresso Nacional levou o povo para as ruas. Um dos slogans era “Não vai ter Copa”...Mas sempre que o povo sai ás ruas por um movimento lídimo e patriótico, a ala destruidora dos partidos políticos, do governo e dos políticos associados, vem para as ruas também, para desvirtuar. 

Até hoje o governo brasileiro e o Congresso atrelado com os respectivos partidos políticos ainda não quiseram entender que não vai ter Copa. Claro que está tendo Copa, mas vai custar muito caro aos que se distraem com futebol no governo. O preço será cobrado a qualquer momento, antes, durante ou após as eleições. Duzentos milhões são brasileiros neste país e não desistem nunca. Era melhor para eles, os que governam com o Senado atrelado com os respectivos partidos políticos que tivessem desistido da Copa. Para nós, povo brasileiro, agora seria tarde para desistir. Como brasileiros torcemos pela seleção nacional, mesmo que a Copa fosse realizada em outros países, mas parece que não estavam interessados. Depois de Stanley Rous, a FIFA mudou muito. Ficou rica. Não ela apenas, como entidade, mas tal como no governo brasileiro, os políticos também estão encontrando suas fontes de enriquecimento.Governos passam, o povo fica. A "pilha" da emoção da Copa é da Globo, da FIFA e do governo brasileiro. O dinheiro já foi gasto, as obras afora os estádios não... Você, contribuinte vai continuar sem educação, sem infraestruturas, sem transportes dignos, sem segurança e sem saúde públicas. E haverá apagões de energia e financeiros. 

® Rui Rodrigues

  











[1] No livro Foul! The Secret World of FIFA: Bribes, Vote-Rigging and Ticket Scandals, lançado em 2006, o jornalista investigativo Andrew Jennings descreve Havelange como um dirigente corrupto. Segundo Jennings, o filho do fundador e ex-diretor da Adidas, Horst Dassler, comprou votos de delegados indecisos na primeira eleição de Havelange. Dois anos depois, o brasileiro retribuiu o favor entregando a Dassler o poder exclusivo sobre a comercialização dos principais torneios mundiais. Em 2011 já havia  renunciado do COI, dias antes da entidade anunciar decisão sobre casos de corrupção que envolviam o nome do brasileiro  .
[2] Um dia se saberá como que a Globo conseguiu a exclusividade para a transmissão dos jogos da Copa da FIFA. Em 1981, o Comitê Executivo da FIFA nomeou o poliglota Joseph Blatter como secretário-geral da entidade e, em 1990, o promoveu a diretor executivo (CEO). Sob o seu comando, foram realizadas cinco Copas do Mundo: Espanha 1982, México 1986, Itália 1990, Estados Unidos 1994 e França 1998. Nesse período, junto a Havelange, ele teve um papel preponderante nas negociações dos contratos de televisão e de marketing da Copa do Mundo da FIFA e na modernização do formato comercial do evento até o ano de 2006.

sábado, 7 de junho de 2014

Já pensou?

Já pensou?

A realidade não nos incomoda senão por escasso tempo. O que nos incomoda é a dúvida, a hipótese de realidade. Venha comigo percorrer um agreste caminho na trilha da essência da vida.



Nascemos. Até cerca de dois anos não nos lembramos de nada. Foi um período de concentração total em assimilar o mundo que nos cercava, todo o esforço concentrado em memorizar, dar os primeiros passos, reconhecer. Depois começamos a viver a “nossa vida”, sem sequer sabermos o que isso significa, o que isso é realmente. Guardamos boas e más lembranças, mas a definição de boas e más depende do que cada um possa suportar de dor, ou apreciar de prazeres. Nem todos temos a mesma capacidade de avaliação. Vemos o futuro como algo que nos preocupa de vez em quando mas que podemos sempre mudar, a qualquer tempo. Já na meia idade começamos a perceber que o tempo vai ficando escasso para mudarmos alguma coisa em nossas vidas. Nem isso realmente interessa muito, porque já nos moldamos a nós mesmos e na verdade não queremos, não temos desejo de mudar tanto assim. Seria incômoda uma “nova” vida, cheia de incógnitas. Com muita sorte nossa memória continuará ativa e nos lembraremos de muitos acontecimentos, cada um servindo de experiência para outros futuros, mas infalivelmente nos perguntaremos: Tudo isto, uma vida, para quê? No início pensávamos que a vida era para nos servir. Depois pensamos que servia apenas para sermos servidos pelos que nos amam e lhes servir, como os filhos e os nossos pais, por exemplo, e finalmente, também com alguma sorte na associação e idéias que nós existimos apenas como garantia adicional da manutenção de uma espécie cuja totalidade dos membros constitui a humanidade, o conjunto da espécie Homo Sapiens. Mas imediatamente nos começaremos a preocupar com a “passagem”. Uma passagem para onde? E em eufemismos, morremos e vamos para onde?

Os romanos tinham uma percepção muito diferente dos egípcios sobre a  existência: Para os egípcios, a vida era qualquer coisa como um preparativo para uma outra vida. As almas dos mortos se submetiam a um tribunal, o tribunal de Osíris, e se elas, as almas, contidas no “coração” pesassem no máximo o peso de uma pena, teriam direito à reencarnação num outro mundo. Para os romanos a vida era apenas a vida que se levava. Finda, não havia mais nada. Contentavam-se com o viver e manterem-se vivos enquanto pudessem. A morte era algo muito natural e inevitável. Enquanto no mundo egípcio a esperança numa outra vida aliviava as dificuldades, no mundo romano sem essa esperança, as liberdades eram muito mais amplas, quem pudesse tirar mais vantagens da vida era o abençoado. A frase que da vida se levam os prazeres é certamente romana, não egípcia. Por essas razões o povo egípcio sempre aceitou mais os seus governantes a quem viam como descendentes dos deuses, do que os romanos, um mundo de revoluções e traições. Não que não houvesse traições no mundo dos antigos egípcios, mas não de forma tão comum. Não é o caso de entrar em outros detalhes de outras religiões, mas desde não se ir para lugar nenhum, até termos 25.000 céus à disposição, há muito em que se crer. Cada roca com seu fuso, cada mundo com seu uso. Porém, o que seria da ordem nas sociedades se não houvesse mecanismos que as mantenham na ordem por vontade própria? Por exemplo, fazer o bem sem esperar a quem, sermos todos “bons sujeitos”, não cobiçar a mulher (ou o homem) do próximo, e outras “leis” que nos mantenham num comportamento que não sobressalte os próximos nem os que nos governam? Por isso mesmo sempre existiram os segredos de Estado, os cadernos das leis não são distribuídos pela população ou ensinados nas escolas exceto em Universidades, e uma série de medidas que sempre foram colocadas à margem. Nos templos se ensinava o comportamento ideal para que as sociedades continuassem “em paz”.


O mundo da informática veio mudar tudo isso. Não se pode esconder mais nada ou muito pouco. Crianças se transformam em adultos mais cedo, querem viver a vida, chamam por Deus mas ele não lhes aparece, o que aparece é a vida em todo o seu esplendor, e uma pergunta constante:  Por que não ter o que se vê?
Detalhes de cada religião podem ser facilmente acessados, e os males são iguais para as sociedades de todas as religiões, o que as iguala. São todas “iguais” para todos os efeitos práticos. Há quem queira morrer numa cama praticando sexo; quem amealhe cada centavo para deixar para os filhos ou sem saber para quê; quem queira morrer aos 120 anos com cara de trinta ainda que isso não lhes sirva para nada a não ser manter uma “identidade” ou fazer inveja a quem olhar; e quem não se incomode com nada para não se aborrecer. Há de tudo no mercado pessoal dos seres humanos. Compramo-nos e vendemo-nos por qualquer coisa que nos pareça “interessante”. Comportamo-nos como turistas da vida apesar de todas as vicissitudes. Queremos olhar, sentir o mundo, experimentar de tudo e esse tudo é restringido ou ampliado em função da moral que por sua vez é ditada quer por governos, quer por religiões, quer pela mídia. Há, contudo, exceções em cada aspecto, mas há séculos, milênios, que não nos aparece um profeta. Não existe mais ambiente para eles. Tudo muda e já são raros os entregadores de leite, os jornaleiros que vendiam jornais nas ruas, geralmente menores de idade, não têm aparecido compositores de música clássica ultimamente, as salas de cinema estão acabando.

A vida parece um filme do qual somos ao mesmo tempo os produtores, os diretores e os artistas. Ilusão? Pode ser. Pode ser pura ilusão e nem existirmos realmente, tudo fruto de um cenário em quatro dimensões, comum a todos nós: Três de volume e uma de tempo. Em relação ao Universo somos muito menores do que um simples micróbio em relação a nós. Não somos realmente nada. Um nada quase absoluto, onde a vaidade destoa, mas faz parte da ilusão de nossos personagens. Sim. Somos os nossos próprios personagens também, sempre iludidos que os outros seres humanos nos vejam como nós pensamos que eles nos vêm, isto é, como gostaríamos que nos vissem, mas essa imagem é completamente irreal. Não temos a menor capacidade de lhes transmitirmos o que realmente somos nem o que queremos que pensem e vejam. É sob este aspecto, principalmente, que somos uma ilusão para os outros. E se pensarmos bem, veremos que não nos conhecemos completamente. Passamos os dias a nos convencermos que “somos assim como queremos” e por vezes nos surpreendemos do quanto somos diferentes em algumas atitudes que tomamos.



Enfim, e por fim, mas de forma não completa, somos o que ‘imaginamos” num mundo que também “imaginamos”. Somos fortes. Todos nós somos fortes, impressionantemente fortes, se pensarmos que trilhões de seres humanos que já passaram por este mundo sofreram o que iremos sofrer um dia. E conseguiram apesar de tudo viver felizes seus momentos de felicidade, vencer suas vitórias, divertir-se em salas de baile que já estão desaparecendo, amar em leitos, em cadeiras, em trens e aviões, em corredores, banheiros salas e cozinhas, no banco de trás ou atrás das moitas. Portanto, viver a nossa vida é um privilégio tão particular que deveria ser humanamente impossível que alguém pudesse interferir em nossas vidas sem a nossa consentida permissão. Um espírito libertário?  Pode ser que sim, até porque não parece possível enjaular toda uma humanidade que hoje beira os 7,5 bilhões de seres humanos que querem viver sua precária vida o melhor que podem, em seu pleno direito.

Para onde vamos? Será que isso importa?

®Rui Rodrigues










terça-feira, 3 de junho de 2014

Carta de Malabar a Simão Pescador - Via Ricardo Kohn

Carta de Malabar a Simão Pescador

Caro Ricardo Kohn, passo-te uma carta do “Malabar”, de nome de registro Afonso Candeias Pereira, que pescou muito com o Simão quando ainda eram uns putos imberbes. Costumavam ir à chocalhada em bons pesqueiros ali prós lados de Setúbal. Chamavam-lhe Malabar porque às vezes, quando lhe interessava, e muito queriam saber pescadores de outras bandas, os levava para pesqueiros vazios, ou onde já tinha pescado nos dias anteriores. Ele ficava desacreditado, passaram a chamar-lhe de Malabar [1], mas os seus chocos ficavam vivos, por lá, até que ele e Simão os fossem apanhar.


Mas eis a carta:

“Cabo Frio, 08 de junho de 2013

Meu grande amigo Simão.

Certamente não sabes nem onde eu estou.  Estou no Brasil a caminho de Espanha. Vou para as Astúrias. Vou pescar embarcado num pesqueiro, o “mar Nosso”, de bandeira portuguesa, e propriedade de um armador espanhol, galego. Não pescar propriamente dito. Vou como consultor, mas de vez em quando para matar a saudade, vou agarrar na cana e tirar uns peixitos. Escrevo-te porque vi que te correspondes com o Kohn aqui do Brasil. Disse-mo o meu filho que tem um frigorífico aqui em Cabo Frio. Tive que emigrar de Portugal – coisa que jamais me passaria pela cabeça – para vir pescar no Brasil, tão mal andam as finanças portuguesas, por culpa desses traidores socialistas que traíram os sonhos do 25 de abril quando fizemos aquela revolução cravejada.  Mas por infelicidade do destino, lá vou eu emigrar deste lugar para terras de Espanha, porque aqui também traíram as esperanças de o Brasil ser o país do futuro. Parece-me que o futuro do Brasil ficou tão distante, que agora passou a ser o Brasil do infortúnio do futuro-mais-que-presente. Sabes aqueles políticos socialistas portugueses que arrasaram as verbas da União Européia doadas a fundo perdido em benefício de amigos? Pois é... Aqui fizeram exatamente o mesmo e da mesma maneira, mas com os impostos públicos. 

No caso das pescas, por aqui criaram épocas de defeso, o que é muito bom para a recomposição de ardumes, mas começaram a pagar subsídios de pesca para meia dúzia de pescadores e para pescadores de subsídios. O resultado foi que muitos com pouca ou nenhuma família vivem bem com o subsídio e não pescam nada, porque além desse subsídio, ainda têm um tal de bolsa-família, um salário e meio se vão presos por bandidagem, as mulheres deles têm mais um salário auxílio, e se a filha for uma piranha, isto é, uma prostituta, ainda recebe mais um salário. Ou seja, ganham mais, os pescadores de subsídios do que trabalhadores, professores, e em alguns casos mais do que engenheiros e médicos. Uma secretária de um executivo, falando quatro línguas tem vergonha do salário miserável que recebe. Num país destes, eu tenho que pensar em emigrar.




Vão fazer uma Copa em 2014, mas a população está toda nas ruas, uns a quebrar e queimar autocarros [2], outros a quebrar comboios [3], outros a queimar pneus nas estradas por causa dos buracos nas estradas – que são uns caminhos abertos a trator no meio de lamaçais de terra encarnada –outros quebram montras de Bancos e destroem tudo que vêm pela frente. Na verdade não há governo por aqui e a explicação é muito simples: Um torneiro mecânico ignorante, eleito presidente pela ignorância nacional, pediu ajuda a antigos guerrilheiros e subverteram as leis incluindo a constituição. A base intelectual da esquerda saiu toda do partido e passou para o estado de observação. Vendo que não podia ser reeleito outra vez, indicou uma terrorista, fugitiva dos bancos de escola para seu lugar. Ela assaltava cadeiras de escola, bancos, fazia seqüestros relâmpago de embaixadores, matava e mandava matar nas ruas e selvas do Brasil. Uma mulher dessas não pode ser grande coisa e eu estou saindo deste presídio, onde nós população estamos reféns de bandidos atrás de grades que colocamos em portas e janelas de nossas casas. Como que podem ter a pretensão de sediar uma copa do mundo de futebol?   Só se for para roubar mais ainda, muito mais do que o mensalão que serviu para aprovar as alterações das leis de que te falei, uma forma de pagamento aos que votam essas coisas lá em Brasília.




Quando chegar por aí, nas próximas férias, conto-te as novidades.

Um grande abraço do teu amigo,
Calabar.

PS. – Prepara as brasas, a aguardente e os chocos, que eu levo as lagostas, umas garrafas de Rioja e um abraço. E outra coisa... lembras-te daqueles iscos que encontramos uma vez lá pros lados de Setúbal, quando estávamos a pescar chocos? Por aqui não os há, e, portanto, ninguém lhes sabe o nome. As sardinhas são maiores que as daí, e o arroz de tamboril daqui não deve nada ao daí com o açafrão daqui. (Não sei se o percebestes, mas tenho já um sotaque brasileiro e é com dor no coração que me mando daqui. Amo esta terrinha do caraças!) ”



Amigo Ricardo Kohn, fui eu que contei ao Malabar que tu conhecias o Simão. O Malabar, ele morreu numa pescaria lá nas Astúrias. O barco deles era de bandeira portuguesa, mas pertencia a um armador galego. Eram 12 tripulantes, sete eram portugueses. Morreram três portugueses e dois espanhóis que ficaram lá a 170 metros de profundidade. Uma tragédia a que os pescadores portugueses já estão habituados. Para os pescadores não é uma tragédia: É um trabalho perigoso. Para a família é uma tragédia, para a população basta um comentário: “Olha... Soubeste que morreram mais uns pescadores na faina da pesca lá nas Astúrias? O barco dos gajos afundou-se!” E no dia seguinte só se comenta se alguém leu o jornal com atraso e pergunta se alguém soube da novidade contando-a à queima-roupa. Mas não é nenhuma novidade. Todos sabem que não usam EPIs, aqueles trajes de segurança para o caso de caírem ao mar e não se afogarem. 


Como é que no caso do “Mar Nosso” morreram logo sete de uma vez se o barco não foi torpedeado? Mas isto são perguntas que não se fazem por total abstinência de pensar de duas nações inteiras: Portugal e Espanha, porque pensar por lá dá muito trabalho e pode gerar muita confusão como a perda de emprego de familiares. Por lá nunca se pode reclamar sob pena de perder o que se tem.
Com o meu abraço,

® Rui Rodrigues

e que raios ma partam se não há sempre um fundo de verdade em tudo que se mostra e se diz... e que por vezes o fundo da verdade é toda a essência da verdade que não pode nem ser vendida como em frascos de perfume. A minha seria embalada em Paris. Simão publica seus artigos através de Ricardo Kohn em  
http://ambiente.kohn.eco.br/2014/06/03/mais-um-circo-montado/  






[1] Malabar, uma referência ao piloto árabe “traíra” que orientou as naus de Vasco da Gama para lugares hostis, como consta nos Lusíadas de Luis Vaz de Camões.
[2] ônibus
[3] Trens

Coisas do comunismo e dos extremismos sociais...


Coisas do comunismo e dos extremismos sociais...



Alguém famoso já disse que as mulheres se vendiam ora por um casaco de peles, ora por um automóvel, e até por amor... Foi um machista que disse isto, e certamente não teria fama nos dias de hoje. Teve sua fama no passado.

Quando fui avaliar os estragos numa prisão de Luanda - os presidiários tinham ateado fogo a uma das alas - me receberam como um camarada, com comitê de boas vindas: Um coro de belas cabritinhas assistentes camaradas vestidas de branco com lacinhos vermelhos no cabelo, cantando trechos do livro vermelho de Mao Tse Tung ainda vivo lá na China. Embora os camaradas cubanos ainda andassem por lá fazendo mira em elefantes e rinocerontes para testar seus canhões de tanques, era a empresas portuguesas e brasileiras que entregavam as suas obras de engenharia. Cuba não era famosa em obras de engenharia e fui levado pelo páteo principal acompanhado de três guardas camaradas, dois funcionários públicos e o vice diretor. Uma vala de esgoto corria pelo meio do páteo a céu aberto, abrindo caminho até um ralo de águas pluviais que levaria o esgoto até a Baía de Luanda. Ouvi gritos pedindo assistência dos direitos humanos das Nações Unidas por alegada inocência. Homens semi-nus passeavam pela praça do presídio com olhares desconfiados, entre esperança e desânimo. Não mais do que eu. O incêndio era no segundo andar. Eu desconfiava que me estavam intimidando aproveitando a vistoria.

No escritório de Luanda havia uma sala. Havia uma sala no escritório de Luanda. Lá os senhores camaradas recebiam passagens grátis com estadia em Lisboa e no Porto. As cabritinhas faziam tudo em honra do partido, os funcionários tudo faziam em honra do partido, os aparatos bélicos chegaram a Luanda vindos de Cuba em frangalhos, por causa do boicote, saíram novos em folha, pintados e com armas mais modernas quando começaram a sair de volta a La Habana. Os charutos eram caríssimos. Os camaradas funcionários tinham sempre vales sobrando para comprar caixas de cerveja e eletrodomésticos no único shopping center de Luanda. Com as caixas de cerveja compradas em Kuanzas, podiam comprar dólares e escudos no mercado negro.

O comunismo também sabia ser selvagem na sua mais vermelha versão comunista. Se não era em vales e passagens, era com cabritas e favores, tudo valendo dólares e escudos com Kuanzas sempre desvalorizados. Os observadores internacionais sempre disseram que as eleições eram legais. Os diamantes sempre foram caros no mundo, mas por aquelas regiões eram mais baratos Em empresas privadas capitalistas funcionários não podem ser nem comunistas nem corruptos, mas por vezes até podem corromper.

₢ Rui Rodrigues