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terça-feira, 7 de julho de 2015

Quatro histórias entre amor e traição



Podemos sempre nos perguntar até que ponto um pequeno fator, como por exemplo, uma temporária situação econômica, pode afetar um relacionamento ou como ele pode ser afetado por que um dia se esqueceu a data de aniversário da mulher amada e até mesmo se o que afetou o relacionamento, foi apenas esse lapso de memória ou uma soma de outros fatores. O que não se tem questionado em si, é o amor, o que ele significa. Parece que quando falamos em amor todos temos o mesmo sentimento do que isso possa ser. Pensando melhor, podemos questionar sim, porque amor não significa a mesma coisa para todos nós. Há sempre um ponto de discórdia. Amor não é absoluto e não é gratuito. Assim parece. Muda de lugar para lugar, de época para época do ano e da história, de pessoa para pessoa, e é impossível conhecer todos os tipos de amor que existem neste mundo. E amor não é nada “particular”. O que é “particular”?  

  1.  Cabo frio, Junho de 2009.


Era inverno, quando os hormônios masculinos e femininos mais pedem para se unir, ficar junto, unirem-se, buscando o calor do verão que agora faz falta. No supermercado só tinha menina bonita para os padrões da cidade. Carolina com seus 17 anos não precisava trabalhar para os “outros”. Seu pai tinha um pequeno negócio que lhe permitia a ela e à mãe viverem com tranqüilidade. O pai, separado, mantinha duas casas. O irmão tinha um táxi, e embora morasse sozinho, sempre ajudava. Carolina queria ter sua própria vida independente e foi procurar emprego. A melhor oportunidade que encontrou foi num supermercado, aquele mesmo, no centro da cidade, onde agora estava aguardando a entrevista. Na sua frente havia mais duas concorrentes ao posto de menina de balcão de laticínios, doces, e outros artigos de maior cuidado. Olhando-as de alto a baixo, e imaginando que só houvesse uma vaga, tranqüilizou-se. Nenhuma das duas tinha um corpo mais bem delineado que o dela, nem eram tão bonitas, nem tinham a mesma postura. O lugar seria seu. Ela sabia o quanto era importante ter boa apresentação, ser bonita e simpática para lidar com o público. Foi contratada. Logo no segundo dia viu uma colega do supermercado, uma das caixas, entrar no reservado dos banheiros acompanhada do rapaz do açougue. Trocavam olhares discretos de conivência e notava-se em seus olhares que havia “um caso” entre eles. Ficaram lá por uns bons dez minutos. Na hora do almoço as duas conversaram. A moça pediu a Carolina que não contasse nada para ninguém porque embora todo mundo fizesse isso ali dentro, ninguém deveria falar do assunto. Nem era preciso pedir. Carolina se lembrava do dia em que transou pela primeira vez, quando tinha quatorze anos, mais por curiosidade do que por vontade. Queria saber como era. Não foi o que pensava que seria, pelo que ouvia falar. A vontade de continuar transando veio depois. Era o momento, o envolvimento, os beijos, o tocarem-se mutuamente, sentir-se ficar úmida entre as pernas, perder a noção do tempo e do lugar, uma vontade que agia como droga. Precisava de mais. O problema era pegar alguma doença ou ficar grávida. Claro que usava camisinha, mas houve oportunidades em que era ali ou nunca mais. Até então tinha tido sorte. Só ficara grávida uma vez quando tinha 16 anos. Casara e se separara. O marido era mais velho que ela. Ele largara a mulher por sua causa e ela o largara porque se enchera dele. Havia pelas ruas rapazes mais jovens, até bem de vida, que a olhavam com olhares de desejo. Como lhes dizer não, se não havia conseqüências? Gostava que a cortejassem, de sentir-se desejada. Para ela não havia traição alguma em ter outros relacionamentos fora do relacionamento principal. Sexo era uma questão de vontade e oportunidade sem outras conseqüências. Não casou novamente. Isso não, mas agora, já em 2015, vive de modo muito confortável com o gerente do supermercado que a admitiu. Claro que de vez em quando não resiste a um olhar, mas é tudo muito rápido, num piscar de olhos, pouco mais de meia hora, quando mata uma ou outra aula de um curso que está fazendo num estabelecimento de ensino que fica fora da cidade, bem ao lado de um Motel. Muitas vezes falou com sua mãe perguntando como seria o amor tempos atrás, nos tempos de sua juventude antes de casar com o pai. As duas se perguntavam como seria o amor até em outros tempos de que ouviam falar em livros, vendo fotografias antigas. Para a mãe, sempre fora a mesma coisa. A diferença estava no modo como se entendia o amor. 

  1.  Londres, junho de 1942.  


Era verão, quando os hormônios masculinos e femininos mais clamam por união. Caíam bombas em Londres todos os dias. Os bombardeiros alemães apareciam de repente sobre o canal de Dover e avançavam sobre Londres despejando bombas de arrasar quarteirões. As sirenes tocavam sons que mais pareciam gemidos de dor gritados por moribundos. Quando se ouviam algumas pessoas caminhavam tranqüilamente para os abrigos, mas sempre havia gente que chegava correndo atrasada. Poucos não chegavam a tempo. Caroline [1] e Thompson conheceram-se no abrigo que ficava ali na King William Street. O marido de Caroline andava na guerra, embarcado num vaso de guerra comboiando navios mercantes no Atlântico. Passava meses sem ir a casa. Caroline, num país em regime de guerra, com todos os bens limitados á disponibilidade de cupons, trabalhava num escritório do Almirantado ligado à Inteligência. Isso a mantinha de certa forma mais ligada ao marido, porque sabia exatamente onde seu navio estava. Notícias de afundamentos de navios eram constantes. A vida na Inglaterra só tinha uma certeza: Era preciso sobreviver para poder garantir a existência do povo inglês, livre da ocupação nazista. Qualquer outro pensamento era uma precariedade. Nada estava garantido nem a própria vida. A vida poderia durar décadas, um ano mais, meses, dias, ou apenas horas. Muitas vezes o viver dependia apenas do fator sorte. Não estar no caminho de uma bomba. Thompson trabalhava ali perto e era a segunda vez que se encontrava com ela. Aquele ataque alemão iría demorar. Resolveram ficar os dois, deitados lado a lado, perto dos banheiros. Tinha sido uma sorte terem ficado na própria estação. Assim sairiam logo que o ataque acabasse. Thompson então lhe contou que partiria daí a um par de semanas para uma missão. Era piloto de avião e seria deslocado para um porta-aviões que atuaria no Mar do Norte. Falava-se muito num vaso de guerra alemão, o Bismarck. Thompson desconfiava que essa seria a sua missão. Volta e meia sentiam o piso tremer. Eram as bombas explodindo lá fora. Parece que o desejo ou o amor tem uma noção perfeita do tempo. Os dois não tinham tempo nenhum. Nem Thompson nem Caroline perceberam quando começou o desejo ou a concessão a si mesmos. Porque não? Quando sentiram a primeira bomba explodir, Caroline teve a intenção de encaminhar sua mão para a de Tom, mas se conteve. Tom percebeu o movimento e desejou que ela o repetisse se mais alguma bomba caísse. Havia luzes tênues na estação que mal davam para ver alguma coisa, mas quando a segunda bomba caiu, nem Caroline nem Tom viram no olhar do outro um olhar de medo ou pesar. O que viram foi o desejo estampado no olhar, no rito dos lábios, nas sobrancelhas, nos músculos de seus rostos, e as mãos se buscaram, se entrelaçaram, os corpos se uniram, os lábios se beijaram. Nesse momento a guerra deu uma trégua, não existia, nada existia, a não ser um banheiro ali perto, longe dos olhares dos outros que se aninhavam nos trilhos dos trens do metrô. Do pensamento de Tom desapareceu a imagem de sua noiva, do pensamento de Caroline seu marido não fazia parte. Não havia pensamento, mas quando horas depois saíram da estação, com as ruas atulhadas de escombros, mas de uma nação ainda livre, Caroline não soube dizer-se a si mesma porque fizera amor com Tom. Ficou na duvida se por pena dele partir para o front e poder ter sido ela a ultima com quem ele fez amor, se foi para seu próprio prazer apenas. Perguntou-se o que era o amor e se ela estava muito avançada para a época ou se sempre teria sido assim tratado o amor. Essa foi exatamente a pergunta que Tom se fez. O que seria o amor?

  1.  Paris, Abril de 1792.


Era Abril... Primavera em flor, quando os hormônios masculinos e femininos se procuram inebriados e carregam os corpos para a celebração do amor. As putas mais famosas dos EUA vieram de França na época da corrida do ouro, e chegavam á Colônia americana normalmente na primavera ou no verão. Não eram famosas porque sendo francesas fossem menos puritanas que as demais mulheres do mundo, mas porque sempre trataram o amor como o vinho: Algo inebriante, que deve ser tomado com certo cuidado, mas que no momento certo tem que permitir total liberdade e evaporar até se esgotar naquele dia, inebriar, alegrar, divertir, e se entrar alguém amigo e não estranho, o sexo deve continuar como se quem entrou realmente existisse. Mulheres casadas faziam o amor através de um buraco aberto no lençol, para evitar o cheiro mútuo. Naquela época já era comum o uso de perfumes, mas o tomar banho quase que diariamente era quase que exclusivo das cortesãs, porque se davam muito e tinham que se limpar. Mulher casada que se banhasse muito podia ser confundida com as cortesãs. Mesmo sem banho, mulher casada estava sempre “limpa”, homem casado também. Somente aqueles que viviam naquela “imundície” e “promiscuidade” da corte, principalmente em Versailles, precisava lavar-se. Homem que se lavasse muito poderia ser olhado com a desconfiança de ser promiscuo. No livro “Shogum”, logo no primeiro capítulo, esta tendência a rejeitar o banho por toda a Europa, fica bem descrita e explícita. Caroline [2] era uma cortesã. Casada certamente, por consenso bem explícito, de que cortesã tinha sido enviada para a corte por seus dotes que compartia pela corte, e que o marido os consentia porque estava lá pelos mesmos motivos: Usufruir. Há sempre quem “usufrua” do marido, e quem “usufrua” da mulher, cada um “assistido” pelo outro. Marcel era o marido de Caroline. Naquele reinado de Louis XVI e sua esposa Maria Antonieta, a corte de Versailles estava radiante. Havia uma grande inflação, tudo custava mais caro a cada dia, a corte se divertia. Não havia muito para pensar na verdade. A única preocupação eram os mexericos na rua, criticando a corte, a luxuria e o luxo, as despesas exorbitantes, e o que o povo chamava de “pouca vergonha”, embora o desejo de todas as mães de França fosse ver seu filho ou filha fazendo parte da corte. Caroline sempre evitara ter seus encontros enquanto seu marido Marcel estivesse em tempo livre, exatamente a mesma atitude que Marcel tomava. Só tinha seus encontros amorosos quando tinha certeza que sua mulher estava nos aposentos da Rainha Maria Antonieta ou servindo-a em alguma viagem. Naquele dia, porém, com as árvores em flor na primavera, o tempo era diáfano. Havia uma luminosidade primaveril, um cheiro no ar provavelmente proveniente do polem das flores, sonhos e expectativas para o verão, que Marcel se descuidou e deixou cair um copo em presença de Louis XVI interrompendo-lhe o discurso para uma meia dúzia de nobres provincianos que o visitavam. Mostrando ser magnânimo e compreensivo, o rei com um gesto largo, indicou a Marcel o caminho da porta, deu-lhe um sorriso e disse-lhe que fosse para casa porque já tinha trabalhado bastante e merecia descansar. Este gesto do rei teve enorme impacto entre os nobres que o visitavam, mas teve um impacto ainda maior em Marcel, que foi para casa onde não era esperado. Encontrou a mulher, Caroline, na cama com outra mulher que ele conhecia bem e com quem já se tinha deitado. Eram amigas. As duas se beijavam, Caroline como que sentada na cama, de costas para a porta, fazendo movimentos para frente e para trás, a amiga beijando-lhes os seios e sua mão esquerda tocando-a por trás. Parecia que Caroline se sentava na mão da amiga. No primeiro instante Marcel ficou chocado. Depois ficou mais chocado ainda. Sua mulher cavalgava um homem, Pierre, seu amigo de infância ido para Versailles mais ou menos na mesma oportunidade que ele. A amiga de Caroline acariciava na verdade a amiga e o amigo. Marcel não teve oportunidade de falar nada. A amiga e sua mulher Caroline, olhos enlevados, sem pararem o que estavam fazendo, lhe fizeram um gesto para que ele se aproximasse e entrasse na cama junto com elas. 

  1.  Portugal, Abril de 1128.


Junho já não estava muito longe, mas já se falava sobre uma possível batalha, talvez no campo de São Mamede, entre os fiéis de Afonso Henriques, um garoto imberbe ainda de seus 13 anos, e as forças de sua mãe, fiéis á palavra dada em tempos de feudalismo religioso, a seus suseranos da Galiza. O jovem Afonso seguia o conselho de quem pensava no seu povo e não na palavra, seus conselheiros. Eles queriam a independência de Portugal contra a vontade dos suseranos e da própria igreja católica.

Carolina era a moça mais desejada de Lamego. Seus vestidos farfalhudos não conseguiam esconder as curvas de seu corpo, por mais que seus pais a obrigassem a usar vestidos que lhe “enchessem” o corpo e a fizessem parecer mais forte e larga. Amor, paixão, desejo, não se resumem a um corpo e um olhar. Fazem parte de um ritual impresso no cérebro de todo o ser humano que congrega todos os sentidos ao qual a emoção pergunta a cada um deles o que acha do que vê, cheira, ouve, degusta, tateia, sente. Amor, desejo e paixão são o resultado final de uma análise inconseqüente e inconsciente que tanto pode demorar segundos como meses, anos, até que transborde e se manifeste, nem sempre de modo a que se possa chamar de tradicional ou normal. Se Carolina tinha apenas 16 anos, já não era considerada muito jovem por aquelas épocas em que aos 45 anos em geral já se era considerado velho. Tomaz pouco mais tinha, beirando os 17. Um dia, por puro acaso, quando Tomaz cavalgava pela margem do rio Balsemão, parou seu cavalo para que ele se aliviasse um pouco e pastasse ervas frescas. Ouviu então vozes alegres femininas e o barulho de água sendo jogada, como se mulheres se divertissem por ali. Afastou uns ramos que lhe impediam a visão, e não pode mais esquecer aquele sorriso, aquele corpo semivestido, apenas com um corpete molhado que lhe faziam sobressair os seios, as pernas salpicadas de cabelinhos louros que brilhavam à luz do sol, como se fizessem parte da auréola de um ser angelical, virgem, que nem a religiosidade de pensar num ser angelical lhe impedia o desejo. Seu coração disparou a bater, como de corcel a galope, queria pensar, mas não podia. Não sabe como poderia ter sido tão desastrado, mas se deparou de repente não mais olhando e apreciando a beleza de Carolina, mas sendo olhado e apreciado por ela e sua amiga. As duas o olhavam á distância despertas talvez pelo relinchar do cavalo, ou por sua desastrosa posição que nem se prevenira em fechar os galhos da moita que tinha afastado para ver quem estava no rio. Elas não saíram do lugar, assim como confiantes em sua presença, e ele resolveu se aproximar. Conversaram meio a medo, não fosse o caso de outros olhares indiscretos que fossem contar na cidade de Lamego que as duas não eram decentes a ponto de falarem naquele estado com estranhos, o que acabaria por lhes impedir casamento com gente decente da terra e a ele, a anulação de sua vida obrigando-se, na melhor das hipóteses a partir da cidade para sempre. Carolina nunca tinha visto homem numa situação assim, Tomaz jamais vira uma mulher assim, com a roupa tão colada ao corpo que até o sexo se lhe via, fosse de que idade fosse. Só tinha desejos desde os quatorze anos que aliviava em suas idas ao rio, masturbando-se atrás das moitas. Não era diferente com Carolina que sonhava em ser possuída por um homem, um príncipe encantado e se masturbava pela noite entre suspiros e lençóis. Sua amiga estava na mesma situação. Sua ida ao rio só fora possível porque o abade e uma freira foram com elas, mas o abade disse que tinham algo a fazer, e saiu com a freira, dizendo que voltaria logo que resolvesse um assunto numa aldeia a um par de léguas. A amiga de Carolina afastou-se dos dois, a pretexto de ir vestir-se. Carolina ficou olhando Tomaz que a olhava. Não era preciso que falassem. Sentiam que não era necessário. Apenas se foram aproximando um do outro até se tocarem, se beijarem e se deitarem à borda do rio. Ela sabia que outra oportunidade como aquela não voltaria a ter tão cedo, a menos que combinasse com ele, agora que o conhecia. Ele sabia que dificilmente voltaria a vê-la. Então se amaram docemente entre suspiros, ali mesmo, à luz do sol, na natureza, ao som do marulhar da água do rio que apenas num pequeno ponto ficou vermelho. E foi tanto o desejo, já misturado com paixão, que voltaram a se amar. Carolina arriscava-se a ir para um convento e passar o resto da vida entre grades, entre suspiros e lençóis que ela mesma lavaria nas águas daquele rio. Mas nem ela nem Tomaz pensavam. Apenas faziam. Faziam... E jamais esqueceriam.

® Rui Rodrigues.      







[1] Lê-se “ Carôlaine”
[2] Lê-se “ Carrôlíne”.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Polenta de Mandioca à moda Sapiens Mandiocalensis.





Um dia destes Diuma nos surpreendeu com seu amor pela mandioca, uma grande invenção depois do milho. Duvidamos que alguém tenha inventado a mandioca e o milho, e que folhas de bananeira sejam melhores para fazer bolas embora possam quicar. Até as de capotão são melhores, com couro de vaca brejeira. Nós aqui da cozinha popular não somos daqueles de jogar a mãe no chão pra ver se quica. Vamos fazer uma polenta á moda da Diuma e do PT que foi quem a trouxe ao mundo. A receita é feita com milho, e é italiana. Agora o PT poderá dizer que graças a sua receita com mandioca, o prato do pobre não se encheu de arrodz como dizia o Lula, mas de mandioca... Da grossa!... 

A receita já contém as recomendações inerentes.

Esta receita é para os companheiros que apesar de terem salários bem pagos, abonos, contribuições, do partido, ainda se aposentam mais cedo, recebem apoio do INSS, e outros benefícios de modo geral, mas que apesar disso são muito econômicos e ainda querem economizar mais, além de gostarem de mandioca a nossa maior invenção da história.

Ingrediente:

- Dois litros de água – Se não souberem o que é um litro de água, nem multiplicar por dois, usem litros de leite vazios. Primeiro despejem um cheio de água com a mão direita, e outro com a mão esquerda. Pronto. Não precisam saber quanto é um litro nem aprender a multiplicar. Se não encontrarem água, peçam ao vizinho. Se o vizinho não tiver água, façam um gato no encanamento da concessionária de água que a gente resolve no final do ano com novos aumentos no custo do metro cúbico. Metro não é metrô... Deixa pra lá. Quando chegar a conta paguem.

- 400 gramas de fubá – Fubá é de milho... Se fosse de mandioca seria Mandiocá. Porque que seria mandiocá? Porque quando é de fubo vira fubá... Quando é de mandioca, vira mandiocá. Claro que fubo é a mesma coisa que milho numa língua que agora não lembro... Alguém aí lembra que língua é essa que milho vira fubá e milho chama fubo? Pois é... Se preferirem de trigo, será triçá. Vou mandar fazer um decreto para instituir o dia do triçá. Não do milhá... Milha não... Do Mandiocá... Se não tiverem nada disto, chupem a mandioca assim mesmo ou fritem no óleo e parem a receita por aí. Não se precisa acabar nada que se começa. Fazemos outras coisa com mandioca, sempre bem lavada. Se não tiver água, espere chover.

- Duas colheres de sopa de manteiga – Se não tiver manteiga, use margarina que é uma manteiga que não é manteiga. Ou óleo que é uma manteiga que não é manteiga que já vem derretida de fabricação. Se não tiver óleo, ou colher, peça ao vizinho ou num posto do minha casa minha vida que lá tem que ter. Estão vendendo as casas todas e vai sobrar muito móvel, equipamentos e colheres.

- Uma colher de sopa de sal – Este é fácil de obter. Vá ao mar, pegue água salgada e use como se fosse sal. Não precisa mandar cristalizar feito pozinho.   

 Como preparar

O ideal é chegar numa padaria, dizer que é do PT, que precisa de votos e que para cada 40 votos que conseguirem pra nóiz, vos enviem uma dúzia de polentas de fubá ou milhá, mas se os companheiros falhar, preparem vocês mesmos.

- Coloque a água pra ferver em alguma coisa que não seja panela porque tenho horror de panelas. Os nossos inimigos fazem terrorismo e incendeiam o ódio batendo panelas contra mim. Acrescente a água salgada e a tal da gordura que conseguirem. Se roubarem em super-mercado, mandem os di menor e não se preocupem. Quem tira ladrão da cadeia também tira ladrãozinho. A Maria do Carmo vai lá chorar na delegacia. O gás... O gás, se não for gás é restos de madeira. Tasca no forno do fogão que prende fogo direitinho. Pode botar papel higiênico se ainda não faltar no mercado. Mas quem surrupia manteiga também pode surrupiar papel higiênico.

- Quando começar a água a ferver, que é quando solta bolinhas... Sim... Tem que ser quando solta bolinhas, e porque solta bolinhas? Solta bolinhas porque a água tem bolinhas que a gente não vê. Estão lá escondidas sem ninguém ver. Ninguém viu bolinhas sair de água sem ferver. Se viu não viu... Pensa que viu. E quando começar a soltar bolinhas, vai jogando o pó de mandioca e mexendo para não fazer bolinhas... Bolinhas de Pelotas, que são as que empelotam. Um dia desses me deram uma pelota, uma bola, de folhas de bananeira mas não é dessas...

- Depois de cozer sempre mexendo a mandioca, passe queijo ralado por cima e cubra com o molho que mais gostar. Fale com o di menor que vai lá no super que ele encontra pacote de molho de montão.

Espero que vocês gostem e que tenham aprendido a economizar. Foi o que eu disse quando disse que apesar da crise e da alta inflação era para vocês continuarem consumindo. Se quiserem economizar mais, comam uma colher de sopa cada um, que a mandioca dará pra duas famílias por duas semanas.

Esta receita só foi possível com o apoio do Ministério da Educação e seu programa Pátria Educadora.

E continuemos com a campanha que “dinheiro não é tudo na vida”... Quantos mais aderirem, mais dinheiro dispensam e mais dinheiro sobra para o partido, isto é pra nóiz...

® Dirma Rouçéfala, Mulher Erectas Mandiocaliensis Sapiens Sapientíssima.



domingo, 5 de julho de 2015

Hino Nacional corriqueiro ?


Não sei nem quero saber quem obrigou à "execução" do Hino Nacional Brasileiro antes dos jogos de futebol... Não quero saber pra não xingar !!!!
Primeiro porque o termo "executar" não se deveria utilizar quando referido a hinos nacionais. Ninguém executa uma peça de teatro, um filme, um espetáculo, um discurso discursivo de presidente de república, e se perguntarem, talvez o presidente passe pelo vexame de nem saber o hino nacional como as tri-medalhistas volibolianas lá na Holanda, onde o mais importante a dizer é que lá só tinha holandesinho louro de olhos azuis e que lá gostam muito de morenas. Pena de morte só aos crimes previstos em lei e de lesa Pátria.
Segundo, porque o "executam" só com música, a granel, sem o significado da letra, que é quase uma constituição de amor à Pátria... Se souber quem foi que mandou "executar" o hino antes de cada jogo de futebol, vou xingar e se pudesse deportava para o Xingu, mandava tomar óleo de urucu, mandava catar truta que fugiu... Como não deu importância á forma como o Hino seria tocado, cantado, divulgado, operado, elaborado, efetivado, praticado, exercido, realizado, feito, efetuado, encenado, desempenhado, INTERPRETADO, atuado, representado, entoado?
Jamais executado, matado, assassinado. Já basta o que estão fazendo com a nação! Essas interpretações do Hino nacional soam como piada onde a lei nos coloca como uma das mais sérias, honradas, e éticas nações do mundo, e os que fazem as leis e as devem aplicar, a transformam a cada dia numa República palhaça, de mentira, terra da enganação...
Ordem e Progresso, senhoras e senhores que se banqueteiam e se lambuzam com propagandas e atos que mostram poder, enganação, corrupção, falta de moral e de ética... Queremos Ordem e Progresso!!!
Que um infinito numero de pragas caiam sobre as vossas almas, que a vossa pele purgue pus fedorento, que o vosso hálito seja de dragão, que vossas pernas arrastem os pés pelo chão, que vossas mãos fiquem trôpegas, que vossa vista se turbe, tremule e se ofusque, que vossas mentes se iluminem e fiquem cada vez mais sensíveis á dor, que vossos sovacos e pés se encham de fedores, que tenham caspa ás toneladas, que vossas fístulas sangrem ... Que vossa vida vire um inferno...
Políticos brasileiros, o povo indignado com vossa lambança, vos reprova, vossas mães deveriam ter fechado as pernas nove meses antes de terem nascido, a maternidade não deveria ter tido médicos disponíveis.

Isto não é discurso de ódio... É uma carapuça fenomenal para ser vestida por quem tem culpas a serem anotadas no futuro, no dia em que forem mandados para o inferno por anjos munidos de tochas, comendo mandioca e quicando bola de capotão de bananeira, vocês com uma fome infernal de vos doer as entranhas desde o esôfago ao olho do urucu.


® Rui Rodrigues.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

A Maria Farinha e o Siri numa fábula de Ensopa.




1. Câmara “um” focada na cidade. A cidade não tem focas, o esclarecimento é para quem precisa nesta Pátria Educadora. “Brasil... Aqui não precisa de educação”. Porquê? Porque “Brasil... Aqui tem educação”, já tem!... (Repórter reporta numa reportagem com sua voz grávida de homem grávido).

“Carros, ambulâncias, ônibus e carros “patrulha” da polícia, todos com buzinas e sirenes; prédios, e pessoas enchendo ruas e praças; sinais de trânsito, vitrines e shoppings nos obrigando a parar e olhar; aviões, avionetas, helicópteros e asas delta no obrigando a levantar a cabeça para ver se estão caindo; ouvidos enormes, olhos esbugalhados e pernas para fugirem de balas perdidas; serviços básicos muito caros, impostos caríssimos, inflação altíssima, remédios pela hora da morte, gente morrendo em fila do SUS, casas do “minha casa minha vida” se transformando em “minha casa meu negócio”, morros pacificados são comunidades não pacificadas, as drogas são negócio, o craque é de crack e o crack é de craques. Na propaganda as granas destinadas são trilhonárias, mas não chegam nem milionárias aos seus destinos. O que é não parece, o que parece não é, o que será que será que não parece e é, que parece e não é, será sexo ou será política?”

2. Câmara “dois”, focada numa arrebentação de ondas na Praia do Pontal do Peró, onde conversam discreta, pacífica e tranqüilamente um siri e uma Maria Farinha (MF), ao nascer do sol. (Repórter reporta numa reportagem com sua voz grávida de homem grávido dizendo: Olha gente, que coisa mais linda e sensível que escutamos na tranqüilidade da praia do Peró).  


MF – Que belo amanhecer, siri... Que mundo é este de praia tão lindo... Se tivesse mais comida até que poderíamos ser em maior número, mas somos muito poucas e temos que nos esconder em buracos...
Siri – É linda a praia e belo o amanhecer... Que a paz reine entre nós... Só somos mais porque nos comem mais do que a vocês! Não temos como fazer buracos, o que podemos fazer é espadanar umas areias em cima de nós para nos camuflarmos. Este mundo é muito pequeno!
- Engano seu, siri... Daqui posso ver o mar e é enorme. Onde vivo é só uma faixa de terra imprensada entre o mar e “eles”, os humanos.
- Vocês vêem muito MF, mas sabem pouco da nossa vida. Não podemos penetrar muito longe no mar. Só perto das ondas. Nossa “praia” é menor que a vossa.
-Pode ser, siri. Nunca vamos para o mar, não sabemos o que tem por aí. Você sabe?
- Mais ou menos. Eles vêm para cá quase nus, trepam dentro d’água e jogam camisinhas no mar, uns plásticos que engasgam até tartarugas e pingüins.
- Aqui na areia, siri, fazem o mesmo. Já assisti a muitas cenas de sexo. Vi tudo, porque eles têm tanta pressa que nem vêem o que tem por baixo. Fazem sexo até por cima dos buracos de nossas tocas. Assim na lata. E alguns ainda se injetam com substâncias que nos deixam em transe.
- Como em transe, Maria Farinha?
- Um dia destes, uma seringa ficou vazando e experimentamos o sabor daquele líquido. Ficamos em transe, sem comer durante três dias, vendo coisas que não entendemos bem, nem reconhecemos, mas tão cheias de “nada” que foi o nada que nos emocionou mais. O nada deve ser como a morte: Uma tranqüilidade sem nada que perturbe. Aquilo é uma droga...
- Então droga é bom, Maria?
- Pra nós não foi, mas para eles que não entendem nada, o que é bom é ruim e o que é ruim é bom. Se todo mundo sobe, acham que é ruim e passam a descer. Se todo mundo desce, eles passam a subir. Eles contestam muito porque precisam lutar contra alguma coisa nem que sejam fantasmas. São muito complicados. Vai tudo bem? Eles mudam tudo para começar a ir mal, depois se arrependem e querem mudar novamente, mas tem sempre alguém que inventa algo novo para mudar novamente noutra direção.
- Já sei... Li num jornal velho que deu à praia, batido pelas ondas... As barricadas de Paris, pedindo liberdade, fraternidade e igualdade. Nós somos iguais, Maria Farinha? Acho que somos parecidos, mas iguais não somos... Somos?
- Se é por comermos carniça, somos todos iguais, menos os japoneses que comem até peixes vivos. Todos comemos carne morta, meu amigo siri... Até os urubus da praia. Tem que matar para comer... De resto, a não ser os japoneses, somos todos iguais... Lutamos para comer, crescer, engordar e morrer o mais tarde possível. A propósito, siri!... Pára de ficar disputando comigo a carne morta da praia...Você e sua família têm o mar todo, e eu só a praia...Não posso entrar no mar...
– Nem eu na praia, Maria Farinha...Como fazer para vivermos em paz?   
- Eles têm armas, bombas, inventaram gaivotas metálicas que atiram bombas, tubarões metálicos que atiram torpedos explosivos, e umas gaivotas do tipo mergulhadoras que em vez de mergulhar, sobem aos céus em vôo picado e fazem explodir bombas atômicas que destroem tudo... Você crê que temos que recorrer a uma corrida armamentista para resolver nosso caso de área de alimentação? Vai... Fala, siri...
- Não... Não precisamos de tanto. Basta que se não houver comida se transe menos, e assim podemos controlar a população para a disponibilidade de comida... Já eles, os humanos, trepam e fazem filhotes como se quisessem encher a praia de gente. Cada vez nos invadem mais a praia. Imagina que para se divertirem estão atirando balas perdidas em gaivotas de verdade. Não as podemos comer porque atiram quando elas estão paradas na praia. Vocês é que as comem. Nós não. Deveriam gostar deles porque vos proporcionam comida grátis.
- Olha quem fala, siri... E quando os pescadores vêm para a praia, pescam peixes de tudo que é tamanho e os deixam morrer na praia porque são menores de idade?
- É... Na verdade tiramos certas vantagens dos pescadores, mas vocês também... As ondas levam os peixes mortos para cima, para o topo das areias até onde as ondas podem alcançar e deixam os cadáveres dos peixes “neném” ao vosso alcance. Não vem com essa que só nós, os siris, temos vantagem.
- Vamos fazer amor, siri?
- Vamos... Mas preciso saber se você usa silicone, batom, todas essas coisas que não me deixam saber se você é como é, ou se é diferente... Gosto de você assim cabeluda como é. Gosto de acordar sabendo com quem dormi, e com a certeza que se arrumou só para mim, e não para o resto dos machos de sua espécie, como vejo de montão aqui pela praia.  
- Uma pergunta: Vocês trepam entre o mesmo gênero?
- Às vezes... Depende da vontade, na base do “não tem tu, vai tu mesmo”, por engano... O mais fraco não tem opção e se deixa penetrar. Depois fica tão moralmente “fraco” que qualquer outro o penetra. É como transar com criancinha...   

3. Câmara três – Focando na repórter – ou no repórter – bonitinha(o) que é burra(o) como uma porta e que “apresenta” o trabalho duro das(dos) demais repórteres – de quem deveria ser realmente o mérito - só porque é mais bonitinha ou deu para o diretor do programa.

Repórter gostosuda (o)- Como puderam assistir a esta fábula de Esopo, em que os animais falam, nós que somos animais sem “introjectarmos” que somos animais de verdade, também falamos igual a eles. Trepamos por vontade de gozar enquanto eles trepam sem saberem porque razão trepam, mas gozam. Capaz de ser gostoso para eles, senão não trepariam, mas independentemente disso, gozem com novelas porque quem não tem com quem gozar, goza vendo o prazer dos outros. Nós não mostramos por ser uma cena muito violenta, mas chegaram à praia alguns farofeiros, e apanharam a Maria Farinha e muitos de seus familiares. Cozinharam ali mesmo na praia, juntaram farofa e uns temperos e as comeram assim mesmo, sem saberem que tinham trepado minutos antes e se preparavam para procriar. Um outro grupo, munido de puçás, invadiram as ondas da praia e caçaram siris até quase a extinção, a maioria fêmeas prenhes cheias de ovas.


Depois que comeram, eles, ou seja “eles”, deitaram-se na praia e discretamente foram-se despindo, e começaram a trepar, enfiando-se, trepando, uns com camisinha, outros sem camisinha, mas com a certeza quase certamente incerta de não procriarem. Inocentes pulgas da praia transavam freneticamente para procriarem, sem saber que um dia serão caçadas para alimentar os humanos. Tatuís faziam o mesmo, mas estes sabiam que os farofeiros os caçavam para os cozinharem com temperos e farinha de mandioca, a preferida da presidente do país.

Ainda hoje se discute quem herdará a Terra. O ser humano não será. Ficou muito sofisticado e exigente, não olha ao redor, não percebe onde vive, passa o tempo no celular e nos shoppings, seu mundo é virtual. Trepam desesperadamente por prazer, até de trair, e a natureza só observa. Nunca se preocuparam em descobrir a “fala” dos demais seres vivos que habitam o mesmo planeta. A maioria deles já conseguiram extinguir. Fazem ensopado de tudo que podem.  


® Rui Rodrigues.         

Amanhã é sábado...Dia de descanso!



E devemos agradecer ao povo judeu que instituiu o sábado como dia de consagração ao Senhor. É um dia em que não se trabalha. Pela primeira vez na história da humanidade o ser humano não era obrigado a trabalhar todos os dias da semana...Agora a semana tinha apenas seis dias de trabalho.

Depois vieram os ingleses, que acharam muito pouco um dia apenas de descanso e criaram a “semana inglesa”, e pela primeira vez na história da humanidade o ser humano não era obrigado a trabalhar seis dias de trabalho. Agora trabalhava apenas cinco dias. 

Depois veio o PT e toda a base aliada que achou que trabalhar dava muito trabalho e nem todo mundo sabia trabalhar e dividiram os trabalhadores em dois grupos: Os trabalhadores políticos e os trabalhadores populares. Os trabalhadores populares continuaram trabalhando cinco dias na semana, mas devido à inflação têm que fazer bico na semana inglesa. Os políticos trabalham apenas três dias, têm tudo pago, até roupa, casa, comida, assessorias, transporte de avião, férias pagas, despesas hospitalares, e defesa pública para casos graves.

Esses políticos e partidos, apesar dos nomes não são nem socialistas, nem comunistas nem capitalistas... São "coletores"... Políticos que não representam nem participam. Apenas coletam sem trabalhar, e fazem e aprovam leis sem serem juízes, advogados ou na maioria das vezes sem terem instrução... 

Como a semana tem sete dias e só trabalham três, foi graças á gestão do PT que se instituiu a "semana política brasileira"... Mas só para políticos da base aliada e conivente.



® Rui Rodrigues


quinta-feira, 2 de julho de 2015

A Televisão do final do século XXII e XXIII.


Quem entende eletrônica sabe como funcionam os nossos cérebros e como um aparelho de TV [1] decodifica os sinais recebidos de uma “fonte” na emissora, e os lê e decodifica para que correspondam a imagens e nos dêem a sensação de movimento. Mas mesmo que não entenda nada de eletrônica, não importa. O que vou relatar a seguir não precisa deste conhecimento. Tentarei tornar a leitura inteligível. De qualquer forma, veja como nosso sistema ocular juntamente com o cérebro tratam a “imagem” que vemos. Atente para a foto a seguir. Não verá nada definido. Agora se afaste de seu monitor até uma distância aproximada de uns quatro metros e verá um lindo rosto de neném. É necessário que nosso cérebro perceba pontos muito pequenos (pixels) para que os possa associar numa imagem.  



As Televisões que conhecemos funcionam basicamente através da “manipulação” de ondas de TV... Porém onda de luz, ondas de rádio e TV, microondas e raios-X são ondas eletromagnéticas e todas viajam com a mesma velocidade (aproximadamente 300.000 km/s). O que faz umas diferirem das outras é a freqüência e, por conseguinte, o comprimento de onda. Uma onda é uma sucessão de altos e baixos. A distância entre dois altos consecutivos é o que se chama de comprimento de onda. Uma onda típica de TV tem comprimento da ordem de 1 metro. Já a luz visível tem comprimento menor que Um milionésimo do metro. Isto irá mudar nos próximos anos?

Fundamentalmente não, mas a decodificação será diferente, porque a TV do futuro permitirá assistir a qualquer notícia, filme ou programa de auditório em três dimensões reais projetadas no espaço e não numa tela, tal como se previu no filme “Star Wars” na cena com a princesa Leia. Estamos já a um passo de abraçar no mercado os novos sistemas que nos permitirão assistir programas em 3d sem necessidade de uso de óculos com uma lente vermelha e a outra verde-azulada ou azul-esverdeada. Televisão vista "no espaço". 



Mas não é isso que mudará os programas de TV, embora tenham que passar por uma revisão de programação, de grade das emissoras e até mesmo em pequenos detalhes que agora passarão a ficar visíveis e que antes eram apenas adereços, panos de fundo.

O que vai mudar a programação do futuro é a tecnologia baseada nas teorias da relatividade que, numa primeira fase nos permitirão assistir a momentos “ao vivo” em planetas e estrelas distantes, embora defasados em milhares, milhões de anos-luz, e numa segunda fase á própria evolução de nosso planeta, permitindo-nos assistir a, por exemplo, a batalha de Waterloo, ou ao casamento de Elizabeth II da Inglaterra. O mundo terá nova fonte de interesses que o deixará “ligado” nas Televisões, como se fosse uma máquina do tempo. Nós e nosso planeta não viajaremos no tempo, mas ser-nos-á possível obter imagens do passado. Numa primeira fase, do passado de todo o Universo. Numa segunda fase, de nosso próprio planeta. Mas como?

Fase 1 – “viajar” para o passado.



Já o fazemos através do observatório espacial “Huble”. Ou melhor, é a luz do passado que viaja até nós. A cada dia que passa, é mais um dia que se passou lá, de onde a luz vem. Essa luz nos mostra estrelas, planetas, mas a acuidade das lentes não é ainda suficiente para vermos “ao vivo” o que se passou há 4,37 anos luz – por exemplo – em Alfa de Centauro, uma estrela que dista de nós aproximadamente 4,37 x 298.000 x 365 x 24 x 60 x 60 Kms. A luz que nos chega de lá é de um tempo afastado de nós no passado, de 4,3 anos-luz. Quando novos telescópios forem desenvolvidos que nos permitam ver em detalhe as imagens da superfície de planetas onde eventualmente haja vida, poderemos assistir ao vivo os acontecimentos dia a dia. Filmes de companhias cinematográficas serão elaborados com base na realidade que então se verá. Hoje já podemos assistir ao que se passa na nossa estrela, o Sol, sempre com um atraso de cerca de oito minutos. 

Fase 2 – “Viajar” para o futuro.



Não temos hoje nem as mínimas condições de viajar para o futuro, e a luz que existirá lá, no futuro, ainda não existe, não teve ainda a oportunidade de ser gerada. Não existindo, não pode vir até nós. Há uma teoria que nos diz que quer o passado, quer o futuro, coexistem neste universo. Sim, para um futuro que esteja em pontos, áreas ou volumes do Universo, onde o tempo corra mais devagar, o que corresponde a uma velocidade maior de deslocamento no universo. Dá-nos no mesmo. A luz não chega até nós. Porém, se conseguíssemos enviar uma nave até um ponto fora do nosso sistema solar, e de lá nos enviar imagens a uma velocidade superior à da luz (isto é impossível atualmente), veríamos nossa Terra em todos os detalhes de continentes, cidades, ruas, pessoas, evoluindo dia a dia, e tudo poderia ser gravado, tal como hoje desde satélites se pode ver o que se passa por aqui. O sistema funcionaria como o que nos permite ver galáxias inteiras, hoje, tal como eram há milhões de anos-luz no passado. Acredito mais em Stephen Hawking e fico com esta impossibilidade. Ou seja, vermos como nos comportamos no presente, é possível através de satélites. Ver como nos comprtamos no passado e como nos comportaremos no futuro, não é possível e não pode ser visto na TV. Para vermos o futuro de nossa Terra precisaríamos estar fora dela, no futuro e viajar em dobro da velocidade da luz para assistirmos a isso no presente. Isto é impossível. Não haverá tecnologia que o permita.  

A mentalidade (Idiossincrasia) humana no futuro.



Filmes, novelas, histórias, peças de teatro, têm-se baseado nos costumes, nos temores, na injustiça e na justiça, em sexo, crimes, desvios de comportamento, no relacionamento humano, ideologias, guerras... No entanto estamos assistindo a uma crescente insensibilidade humana face à violência crescente neste planeta. As histórias do tipo tão fascinantemente desenvolvido por Agatha Christie, já não nos levam a cinemas, mas a humanidade precisa “ler” histórias, assistir a filmes que a redimam de injustiças, que lhe dêem esperanças de um mundo mais justo. Se o mundo ficar mais justo, as histórias, os filmes e as peças de teatro acabam por falta de necessidade de redenção. O mais provável é que a quantidade de seres humanos, de uma forma ou de outra, diminua sensivelmente, a ponto de caminhar para a extinção, sem, contudo, se extinguir. Há mecanismos em nossa memória genética que nos impedem que isso venha a acontecer mesmo que algum “líder” do tipo de Adolf Hitler ou Stalin nos venha a preocupar com suas medidas que denotam uma total antipatia com a espécie humana, comportamento típico de sádicos suicidas.




A TV do futuro será a TV da curiosidade do universo e de tudo que ele contém, das conquistas da tecnologia e espaciais da humanidade, além das notícias, tudo em "visão espacial". Aparecerão governos que imporão uma meia dúzia de regras fundamentais sempre de acordo com a ciência e o desenvolvimento social. Haverá “democracia” para 90% do comportamento humano, e 10% de ditadura terrível para desvios de comportamento sempre que não seja possível o tratamento clínico. A vida será considerada finalmente como um bem pessoal, inatacável, seja porque motivo for, o crime exemplarmente punido por afastamento ou eliminação. Não se pode, em nome da virtude do humanismo, permitir que indivíduos menosprezem a vida dos outros e as elimine, tenha que idade tiver. Se houver tratamento, trata-se. Se não houver, confina-se ou elimina-se. Neste aspecto, os programas de TV continuarão os mesmos, mas não farão opinião. Opinião se fará através da comunicação entre os seres humanos ao redor do globo, tal como se começa a fazer neste início do século XXI. Pesquisas se farão pela NET sem necessidade de empresas que nos “inflijam” opiniões que, de tanto faladas, agem como propaganda vindo a tornar-se realidade por indução, assim como quem vende carne de boi dizendo que é a melhor, e nos perguntam se temos em casa com a tal marca da propaganda.   



® Rui Rodrigues.





[1] Este link explica muito bem como funciona uma TV para quem estiver interessado em detalhes.  http://tecnologia.hsw.uol.com.br/televisao1.htm

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Um crime em noite fria...






Hoje em dia já nada se pode escrever que possa assustar alguém. Estamos mais insensíveis. Ninguém mais se assusta com histórias de Frankstein, vampiros, assassinos em série, múmias egípcias, circos diabólicos, bonecos assassinos, monstros do lago, cães de Baskervilles, nem com psicóticos do tipo do filme “Psycho”. O amadurecimento parece estar ligado à insensibilidade por vermos cenas terríveis todos os dias nas notícias da cidade, do país e do exterior. Sou o dono do Bar. Meu nome nunca antes revelado é Eliah Shabon. Estudei numa Universidade da Cidade do Cabo, corri mundo, e quando me aposentei vim para o Brasil e abri um bar. Hoje não importa que saibam meu nome. O passado morreu. Mas os nomes dos personagens são sempre protegidos e as histórias nem sempre são verdadeiras. A maioria delas são fictícias. Esta segue o padrão das histórias policiais que faziam as delícias de um bom livro nos tempos em que se liam mais livros e o telefone ficava sobre uma cômoda em vez de ficar pendurado nas orelhas.  


Capítulo Um – A Abelha Mortal





Naquele dia extremamente frio, o velho coronel Mario Sabóia, que militara na polícia civil do Rio de Janeiro, veio ao Bar do Chopp Grátis para tomar umas cervejas, mas o ar condicionado do bar estava com defeito. Só na manhã seguinte viriam os técnicos da empresa de manutenção. Por isso todos os clientes tinham trocado a cerveja por cachaça, Whisky, aguardente portuguesa que desce redonda e assenta como uma bomba explosiva de álcool a 95 graus, conhaques, vodkas, rum, tequilas. O coronel Mario pediu uma “charrua”, uma combinação muito mais do que um drinque. Trata-se de um copo pequeno de tequila que só dá para dois fortes goles, duas rodelas de limão, duas colheres de café em pó. A combinação toma-se da seguinte forma: Uma colher de café em cima da rodela de limão. Morde-se e suga-se o suco. Então se toma um gole de tequila e repete-se a dose. A Tequila com o café botam o coração para funcionar a pleno vapor. O limão só serve para torcer o rosto até ficar todo cheio de rugas. É um drinque pra gente valente que não faz muita questão de ser sofisticado. O coronel tomou dois sem conversar com o dono do Bar, que por acaso sou eu. Não estava com boa cara. De repente ouvimos o som de um corpo caindo no chão. Logo que dera o segundo gole de seu drinque o coronel caíra completamente imóvel. Minha amiga israelense, a jornalista Ella Athal e eu corremos para ele na intenção de ajudar. Athal chegou primeiro e disse consternada: Está morto! Olha... E mostrou-me uma mancha de sangue na camisa, na lateral do corpo na altura da sexta costela. Percebi a situação. Pedi a Ella que não tocasse mais no corpo do coronel. Por outro lado não poderia deixar ninguém sair do bar. Todos éramos suspeitos. Então me levantei, e falei de modo que todo o bar pudesse ouvir:
“- Atenção senhoras e senhores... Temos uma situação desconfortável. Um cliente acaba de falecer e parece que foi assassinado. Somos todos suspeitos e temos que esperar a chegada da polícia. Por favor fiquem em seus lugares”. Então peguei o celular e fiz a ligação. Em cinco minutos o carro da delegada Teixeira chegou e ela entrou pela porta do bar acompanhada de um tenente. Encontrou todos os clientes sentados em suas mesas. Os artigos consumidos coincidiam com os vestígios em suas mesas, os garçons atestaram. Nenhum cliente trocou de mesa. O pessoal técnico da polícia que chegou em outros carros anotou a posição das mesas, o nome dos clientes em cada uma, e as respostas a todas as indagações eram de inocência. Ninguém esfaqueara o coronel Mário Sabóia. Um médico legista confirmou: Ninguém esfaqueou o coronel. Ele nem tinha sido esfaqueado. A mancha de sangue era como que teatral, não havia perfuração na camisa junto á mancha de sangue, seu corpo não havia sido perfurado, mas estava morto. Seu coração já não batia, não respirava. Mas como morrera se havia entrado são e salvo, e até bebera um drinque? Tudo apontava para envenenamento. Foi o que disse a delegada Teixeira aos presentes. A delegada era uma morenaça de lindos cabelos crespos e corpo escultural que nem o uniforme nem sua patente policial me faziam desviar o olhar.  Como provavelmente os clientes chegariam tarde em casa, ela permitiu que fizessem uma chamada para suas residências para avisarem do atraso. Íamos ter uma longa noite de frio. Mas algo me intrigava. Era como se o assassino, porque tudo levava a crer que havia um, estava brincando com alguém. Porque fazer parecer que o coronel tivesse sido esfaqueado? Comentei minha preocupação com Ella Athal, a jornalista israelense que literalmente acampara em meu bar e me fazia uma companhia muito importante em minha vida. Vou até dar um conselho: Se quiser ser livre nunca se sinta só. É um perigo. De repente aparece uma mulher interessante e bonita em sua vida, e nunca mais você poderá dizer que vive livremente. Elas tomam conta de tudo, impõem seus padrões, suas regras. Mas é muito bom! Ella Ethal não quer casar comigo. Ficar-lhe-ei eternamente agradecido. Quantos menos problemas tivermos em nossa vida melhor. Costumo até dizer que não devemos nos preocupar com quem nos causa problemas. É a vida. O que devemos fazer é glorificar quem no-los evita. Ella Ethal está completamente de acordo, mas quando olhei para a delegada com aqueles olhos de quem está com fome, ela me deu um beliscão depois que a delegada demorou seu olhar no meu um pouco mais do que seria uma mirada. Depois se levantou e começou a andar á volta do corpo do coronel, as mãos atrás das costas, como se procurasse alguma coisa. Já passava das três da madrugada quando a polícia terminou seu trabalho e todos foram para suas casas. O cadáver do coronel fora levado numa ambulância para o necrotério. Amostras de bebidas em copos, impressões digitais, tudo foi vasculhado e as gravações das câmaras de segurança levadas para análise. Não havia um suspeito definido, e embora o assassinato do coronel tivesse sido assunto constante na semana seguinte, nunca mais se falou no assunto. A polícia demora a dar os resultados de suas investigações porque as técnicas e os procedimentos assim obrigam. Ella Athal não é das que ficam paradas. No dia do assassinato ela andou à volta do corpo do coronel num raio de uns dois passos. Aquilo para mim me chamou a atenção, mas não me preocupou. Uma semana depois, tínhamos acabado de levantar da cama para irmos tomar um banho de chuveiro. Minha cama fica num quarto em cima do Bar do Chopp Grátis com saída independente para a rua, embora possa acessá-lo diretamente do bar. Tem uma janela que permite ver a paisagem do Rio antigo, a Baía da Guanabara. Tem também um PC, uma TV, Um armário aberto que eu mesmo fiz suficiente para acomodar minha roupa e de uma visita, e uns bricabraques de decoração que nunca me servem para nada e dos quais já estou de saco cheio. O espelho fica no banheiro, e foi através dele que vi Ella Athal apanhar um pequeno envelope de plástico do bolso de uma roupa dela, dar-lhe duas batidas sobre a mão e colocá-lo em sua bolsa. Ella não usa drogas e sua honestidade é irrepreensível.Resolvi perguntar. Disse-me que estava com um grave problema de consciência. Mostrou-me o conteúdo: Uma pequena cabeça de alfinete desses de costura, e um pequeno circulo de papel amassado do tipo usado como guardanapo no Bar. Havia um pequeno buraco no centro como que aberto por impacto ou explosão. A cabeça do alfinete estava impregnada de uma substância marrom escura, como se fosse sangue seco, e o pedaço de papel também. Ela me disse – Encontrei isso ao redor do corpo do coronel Mario Sabóia. Na verdade, uns dois passos atrás dele. Esperei que a polícia acabasse os trabalhos para recolher isso com todo o cuidado para não contaminar o papel ou a cabeça de alfinete. Se me perguntar porque o fiz e não avisei a polícia, não sei lhe responder. Talvez seja como um desafio, do tipo “eu vi e eles não” pensando em guardar e depois mostrar. Talvez seja por um outro motivo: Nunca confio na polícia. Eles podem estar sempre tentando preservar alguém. Por isso resolvi investigar por minha própria conta, e creio que falta uma terceira peça além da cabeça de alfinete e do papel. Depois me olhou como se esperasse uma resposta minha para agir. E qual seria a terceira peça? Foi a pergunta que lhe fiz. – Pode ser qualquer coisa em forma de tubo. Uma caneta esferográfica ou uma parte dela, talvez! Foi a resposta. E então entendi. Alguém teria soprado uma cabeça de alfinete envenenada dentro de um pequeno cone de papel usando uma caneta esferográfica como zarabatana para envenenar o coronel. - Mas quem faria uma coisa dessas? Perguntei-lhe. Ella me respondeu preocupada: - A polícia estuda a cena do crime baseada em evidências e em provas e sua relação com os suspeitos. Como jornalista analiso a história dos suspeitos e quais seriam os motivos que teriam para cometer a violência de um assassinato mesmo sabendo que geralmente os criminosos são apanhados. Criminosos sabem dos riscos e mesmo assim cometem estas atitudes extremas. Fiz minhas pesquisas (disse Ella Ethal) O coronel era aposentado da polícia. Poderia ter sido uma queima de arquivo. Foi por isso que guardei essas provas. Agora o problema é como usá-las. Também verifiquei e fiz alguns testes. Um sujeito com bons pulmões e pontaria, bem treinado, pode usar uma caneta dessas a uma distância segura de uns quatro metros com quase 100% de segurança de que acertará o alvo. Para quem não se tivesse levantado do lugar, teríamos um espaço de três mesas ao seu redor para limitar o universo de suspeitos, mas se alguém lá detrás se levantasse, poderia ter acertado o coronel numa breve passagem em sua direção e passado desapercebido. Isto não melhora em nada nossa investigação. Literalmente todos continuamos suspeitos. Para a polícia, porém, já ninguém era suspeito. A informação havia sido dada pela simpática delegada Teixeira. Haviam constatado que o coronel fora mordido por abelhas que lhe provocaram choque anafilático. Segundo o relatório, se houvesse médico no bar a morte poderia ter sido evitada, porque desde o momento em que a abelha tinha mordido o coronel até a sua morte haviam decorrido cerca de 15 minutos.
E havia abelhas no bar, uma ou outra, atraídas pelos doces que Manuela, a nossa cozinheira portuguesa de peitos fartos, ancas saudáveis e sorriso maroto fazia à moda dos frades franciscanos e das freiras lá do Norte. Alguns garçons já tinham sido demitidos por “culpa” dela. Há que prestar toda a atenção no serviço.    



Capítulo Dois – A lista dos Suspeitos [1].          

Para a polícia não havia lista de suspeitos. Os culpados eram abelhas que morreram logo que ferraram a vítima. Algum garçom deixara cair alguma gota de bebida açucarada, a abelha pousara na cabeça do coronel, que para espantá-la passou a mão provocando a ferroada. Afinal haviam descoberto uma minúscula lesão na pele da cabeça do coronel, por onde entrara o veneno da abelha. Não achamos estranho quando um par de dias antes de nos informarem da conclusão da “causa mortis” fizeram uma varredura em todas as instalações do bar como se buscassem novas provas. Até nas partes mais íntimas procuraram sem encontrarem nada. O que eles buscavam não estava ali. Ella Athal guardara cuidadosamente. Perguntamos se, caso achássemos alguma coisa o que deveríamos fazer. Disseram que não adiantaria. As provas válidas legalmente tinham sido as que foram encontradas nas perícias. Qualquer outra poderia ser “plantada” para confundir as investigações. Mas que mesmo assim, qualquer objeto por menor que fosse e parecesse sem importância deveria ser coletado e entregue á delegada. Bastava um telefonema que ela mandaria apanhar.
Os meus queridos leitores não devem ter noção do que é um “bar”, dos grandes, e sempre cheio de clientes, tal como o Bar do Chopp Grátis no que se refere à diversidade de empregados e clientes. Entre os empregados e clientes estão sempre estrangeiros fugitivos da polícia, ex-policiais, policiais fazendo bico como seguranças, jornalistas aposentados, políticos, ex-bailarinas, damas falidas da sociedade, cabeleireiras, manicuras e ex-vedetes, enfim... Encontra-se de tudo. Manuela, a bela portuguesinha, bem dotada de peitos, de grandes rodelas sempre com biquinho em pé e olhar maroto, tinha curso de MBA por correspondência, e esperava que lhe fosse dada equivalência para procurar emprego. Estava bem ali. Tinha cama, comida, roupa lavada, um bom salário por mês, e divertia-se “à grande”. Depois de muito conversarmos com o pessoal da casa nossa lista ficou reduzida a apenas quatro nomes. Só eu e Ella Athal sabíamos da cabeça de alfinete e do pequeno papel amassado. Como suspeitos tínhamos um dos garçons que era haitiano, o Jacques Lambert; uma freguesa que era prostituta em outro bairro com o nome de Linda Benson, mas tirava onda de madame no Bar com outro nome, Maria Quant, onde de vez em quando saía acompanhada; um cabo eleitoral, chamado Pedro Fonseca Telles, que tanto arranjava votos para uns como para outros, dependendo do partido que lhe pagava melhor e uma estudante, chamada Lenina Francheva, daquelas que fazem manifestações sempre a favor do governo, ficam anos na universidade, e saem com diploma sem quase nunca terem assistido a duas aulas seguidas da mesma matéria e mal sabem redigir ou simplesmente falar um parágrafo sem terem que se fazer uma pergunta para “alinhar as idéia” e sem erros de qualquer tipo gramatical. Esta se fosse em tempo de guerrilha, seria guerrilheira certamente e gritaria “Revolución o muerte”. Os donos do bar, ou seja, eu, seria o primeiro a ir para o “paredón”. Tenho que confessar que, embora ela fosse detestável, não era a mais provável de ter cometido o crime. Parecia demasiado lenta para isso, como se sofresse de uma obstipação mental crônica. As quatro mesas em que se haviam sentando os quatros suspeitos fechavam um semicírculo em torno da mesa onde se sentara o coronel, por detrás dele. As câmaras do bar não haviam detectado nenhum movimento suspeito. Não se viu ninguém soprar uma zarabatana.       


Capítulo Três – As interligações pessoais entre os suspeitos



Esse foi um bom trabalho de Ella Athal. Mais um. Descobrira algumas ligações. No entanto uma sombra pairava sobre nossa investigação, uma ingerência nos assuntos da polícia: Esta já tinha um laudo constatando que a morte havia sido por choque anafilático devido a mordidas de abelhas. Tudo o que descobríssemos nos colocaria em choque frontal com a polícia. Em que vespeiro estaríamos entrando? Teríamos que passar a informação adiante para alguém que tivesse “força e moral” para se contrapor à polícia.  Ella Athal descobriu, por exemplo, que Lenina, a estudante profissional, já estivera presa por duas vezes por estelionato e assalto à mão armada numa prisão feminina onde a delegada Teixeira por essa época era Tenente; Jacques, o haitiano, tinha entrado pelo Acre, encaminhado para São Paulo, e de lá para o Rio de Janeiro, onde conheceu Lenina, que o recomendou ao chefe de pessoal do bar. Jacques trabalha ainda em período de experiência. Foi assim que o admitimos. Pedro Telles o cabo eleitoral, faz parte de um programa de uma Igreja Evangélica para libertação de drogas. Ele não se droga, mas encaminha pessoal dependente para os templos. Toma seus chopps de vez em quando porque é trabalhador e não templário. É o que ele diz. No tempo em que ele trabalhou para o coronel como segurança, era o braço direito da tenente Teixeira na prisão feminina onde Lenina tinha ficado detida por duas vezes. Linda Benson, aliás, Maria Quant, aliás Teresa Marques Ribeiro, atuava no eixo La Habana – Caracas, como prostituta “oficial” de passo livre, por deferência das autoridades dos dois países, onde fazia a ligação com Lenina, ligada a partidos de linha comunista no Brasil.
Sempre que meditávamos sobre tudo aquilo, eu e Ella Athal ficávamos confusos, mas ela colocou tudo de uma forma muito simples. Disse-me: Todos eles se conheciam. Devem estar se acobertando uns aos outros. Mas quem assassinou o Coronel? Então me deu um “estalo”, peguei Ella Athal pelo braço e a levei até o balcão do bar. Disse-lhe: Vou ligar para a delegada. Sabemos o que encontramos, mas não sabemos o que a polícia encontrou. Vamos tentar saber... E fiz a ligação. Do outro lado a delegada atendeu:- Olá senhor Eliah Shabon... Tem novidades? Respondi-lhe que infelizmente não. Informei que havia feito uma fumigação para espantar abelhas e que tomara providências para manter sempre vedados os containeres de doces para evitar a aproximação de novas abelhas. E perguntei-lhe: Sabe, delegada... Ainda não acredito que uma abelha apenas possa ter provocado um choque anafilático no coronel em tão pouco tempo...
- Mas não foi uma abelha apenas, senhor Eliah... Foram quatro!
Ella Athal quase estraga tudo ao bater com uma mão na outra com toda a força, dando um estalo.
- Então fiz bem em fazer o tratamento contra insetos, senhora delgada... E fique certa que se encontrarmos algo comunicaremos, mas até agora, não encontramos nada. Ela se despediu e eu desliguei o celular.
Ficara claro agora que a polícia tinha encontrado outras três cabeças de alfinete envenenadas com curare, três papelotes que serviram para guiar as cabeças através de uma caneta esferográfica oca ou um pequeno tubo metálico, o papel também impregnado de curare. Com quatro estocadas certeiras, o coronel não teve escapatória. Sabíamos também quem tinha praticado o crime. Mas entre saber e provar perante a lei vai um passo tão grande que a maioria dos crimes ficam sem solução. Ficaria aquele também sem uma? Qual teria sido o móbil do crime?

Capítulo final – Quando as vítimas também são bandidas.



Meu negócio são os assuntos ligados ao Bar do Chopp Grátis. O que posso fazer fora deste meu ramo de negócios, como engenheiro, só Deus sabe. Se me pedissem para fazer uma bomba atômica, eu a faria e não demoraria mais de um ano, desde montar a equipe até fabricar os componentes. Mas o Bar é meu modo de vida, meu ganha pão. Por vezes penso que ganho muito, mas quando vem uma crise percebo que ganhei pouco, porque as reservas se esgotam rapidamente e é preciso manter tanto quanto possível o estoque e o preço para não perder clientes. Cliente perdido não volta. Cliente morto também não. Mas podemos voltar no tempo mergulhando a fundo nas lembranças. Quem me ajudou foi Ella Athal. Nada como uma jornalista eficiente. Ela me levou até os anos 80 através de folhas de jornais argentinos e foi desvendando a história até 2013, quando o ex-presidente argentino Carlos Menem foi condenado a sete anos de prisão por tráfico de armas à antiga Yugoslávia onde havia soldados de paz argentinos e ao Equador. As armas, cerca de 6,5 milhares de toneladas, eram pretensamente destinadas ao Panamá e á Venezuela, mas foram “desviadas” para a Croácia. O coronel Mario Sabóia fizera parte da comitiva do adido militar brasileiro junto ao governo da Venezuela, juntamente com Oscar Camilión, ex-ministro da defesa da Argentina, para tratarem de assuntos militares do interesse dos três países. Com a ascensão ao poder da Venezuela por Hugo Chávez que tomou o poder, dos Kirchner na Argentina e com a esquerda brasileira, o cerco aos antigos “direitistas” fechou-se tanto quanto a sociedade dos três países permitiu. O coronel sabia demais. Sabia por exemplo como as armas foram desviadas, quanto custaram, qual foi o preço de venda, e para onde o dinheiro da transação não foi. Era uma peça a abater. E nenhum dos quatro suspeitos está livre de perigo. Resolvemos então, Ella Athal e eu que deixaríamos o caso assim como estava. Provavelmente a polícia estava convencida que alguém varrera o salão do Bar do Chopp Grátis e sem perceber um papelzinho e uma cabeça de alfinete, tivessem recolhido com pá e jogado no lixo.

Há coisas em que é bom não mexer muito. E nunca se soube a razão da mancha de sangue na lateral do corpo do coronel.

® Rui Rodrigues.

PS – Não sei quem é Eliah Shabon, nem nunca o vi no meu bar. Transcrevo a história como me foi encaminhada. Há coisas estranhas que mesmo explicando não se entendem.    







[1] Como este caso está sendo relatado depois que tudo foi resolvido, não vamos descrever o que nos levou a uma lista tão curta de suspeitos.