Não
entendo uma porção de
coisas deste mundo. Para terem uma idéia
do que desconheço,
teria que fazer uma lista enorme, praticamente sem fim. Uma lista
consideravelmente bem menor poderia mostrar-lhes o que consegui
conhecer dele, em cerca de 71 anos de vida, mas também
seria maçante. Então,
nem por vergonha de minha falta de conhecimento, nem por vaidade do
que conheço, lhes
mostrarei as duas listas, mas para que vejam a diferença,
falar-lhes-ei do meu mais recente amigo, o Urso, principalmente para
lhes mostrar algumas vantagens de nos conhecermos e nos darmos a
conhecer uns aos outros sem nos preocuparmos em saber se sabemos
muito ou pouco do mundo que nos rodeia.
O
Urso nunca tinha visto na minha vida, exceto duas vezes em que
visitei uma amiga no Peró,
em Cabo Frio, e digo que “nunca” o tinha visto porque realmente
nunca lhe prestara atenção.
Para mim, Urso não
existia. Foi quando o vi pela terceira vez que nós
dois nos prestamos atenção
mútua. Talvez porque
adoeci, e quem sabe, os sentimentos vieram à
tona, exsudaram da própria
pele, e acionaram os cinco sentidos. Urso tem tantos sentidos quanto
eu, e quando sangramos temos o sangue vermelho. De vez em quando
cuspimos quando falamos e somos meio peludos, ele bem mais que eu. Na
verdade Urso é
completamente peludo, preto, e tem uns olhos caramelados, que, se eu
os tivesse assim, teria todas as mulheres do mundo me rodeando… Ah…
O nosso primeiro encontro “consciente”, aquele em que realmente
nos demos a conhecer, foi no dia 03 de maio de 2016. Ele quis pular
no meu peito, eu não
deixei, dei-lhe dois berros, ele insistiu, então
pus a minha mão sobre
a cabeça dele e não
o deixei levantar a cabeça.
E disse-lhe: Quieto... Senta! Quando sentou e ficou quieto, dei-lhe
um afago. Foi mais ou menos assim que ele aprendeu. Agora senta, me
dá a pata, fica
sentado no posto médico
ou na porta do supermercado até
que eu saia, me acompanha até
o ponto do ônibus…
As pessoas nos olham no meio da rua e nos acham simpáticos.
Somos uma boa dupla.
De
onde veio esse companheirismo?
Não
sei…
Sei
que os cães descendem
de lobos que optaram por dividir presas com os humanos, protegendo-os
em troca. Depois os humanos selecionaram esses animais de forma a
prepará-los para
tarefas específicas.
Isso ao longo de milhares, milhões
de anos, produziu o meu amigo Urso, com uma carga genética
altamente especializada. Urso gostou de mim, e eu gostei dele.
Possivelmente houve uma troca de feromonas que ambos identificamos.
Talvez olhares trocados tenham feito transparecer confiança mútua.
Talvez os afagos, ou
quem sabe uns restos de comida para além da ração…
Ficamos
amigos!… Somos
amigos!
Mas
não
tenho a mínima idéia de qual gatilho foi disparado o primeiro
sentimento de aproximação, se de minha parte ou do meu amigo Urso,
sempre sorridente
comigo, exceto quando
fica ganindo, triste, porque não
pode estar junto a
mim...
®
Rui Rodrigues