Reflexão sobre o momento econômico atual:
(Ou da contra-informação na política econômica- desculpem os neologismos)
Freqüentei semestres de economia nos bancos da Universidade. Por aquela época poderia ter entrado no segundo ano de economia ao terminar o meu curso de engenharia, mas optei por uma bolsa da Capes para mestrado de estruturas na PUC-RJ. Falhei por que sofri parada respiratória por estresse. Meu pai tinha lojas e eu cuidava das contas; freqüentava o ultimo ano de engenharia, fazia mestrado na PUC; era estagiário de uma empresa de engenharia em duas obras; tinha uma namorada e duas conhecidas firmes. O médico me recomendou uma das três, um curso e descanso. Quase segui a recomendação médica, mas aprendi sobre limites humanos. De eu, o meu herói, passei a eu, o vivente que precisava de uns “joelhaços” do analista de Bagé para aprumar o esqueleto. O mundo era realmente muito grande para meus braços. Pensei que nem chegasse aos trinta e três nem pudesse sequer abraçar uma árvore, quanto mais o mundo.
(Hoje, aos 155 anos – vivi muito e minha vida não pecou pela rotina nem pela monotonia – assisto a alguns fatos que tento unir de forma a poder entender, e entendi como segue)
Na década de noventa emergiu o iceberg da globalização em simultâneo com a Unidade Européia. Pensei, acertadamente, que iria ser muito mais explorado, porque o Estado costuma ser condescendente, mas empresário, não, e empresário, eu já conhecia muito bem antes de 1990. Ainda nesta década, começou o movimento da “terceirização”. Senti que o mundo me estava empurrando contra a parede, porque ao terceirizar, o Estado tira o corpo fora e o empresariado se tornou sócio do governo. Um sócio que retira os lucros de seu trabalho com os impostos que eu pago ao governo. Então, quando apareceu Collor, eu saí do país para ficar uns tempos longe do que viria. Acertei em cheio. Se o PC Farias tivesse feito o que fez, hoje, sairia limpo. Culpadíssimo, com CPI e tudo, o coração abalado, à beira da síncope, mas limpo e rico da mesma forma. Primeiras conclusões: è melhor ser corrupto hoje do que ontem, e pago muito mais agora em tudo do que antes. Na Europa, soube que as embarcações dos países envolvidos e que possuíam foguetes americanos como arma, não podiam disparar senão alguns segundos antes de entrar em combate, porque dependiam de um código a ser fornecido pelo Pentágono. Eu, como engenheiro, com conhecimentos de economia e experiência em contratos, achei estranha a aquiescência em firmar contratos com castração de cláusula. Eu explico: a cláusula é tecnicamente perfeita, mas não funciona. Concluí que algo de politicamente estranho me passou despercebido.
Uns quinze anos depois, já com o mundo globalizado, por volta de 2008, discutiam-se a guerra do Iraque e do Afeganistão, porque a da Bósnia já tinha passado, quando vindo do céu em pára-quedas, desabou uma chuva de pedidos de dinheiro aos presidentes de todo o mundo. Os banqueiros foram para a televisão muito humildes, com os rostos cheios de pó de arroz branco, alguns sem gravata, outros de taxi e os que tinham tido aulas de representação teatral, foram a pé mesmo. Todos para pedir desculpas pelos erros cometidos na administração. O resultado dessa passeata dos bancários pelos corredores da mídia e dos congressos, foi notória: uns três diretores de Banco foram demitidos em todo o mundo, os Banqueiros pagaram um mico carnavalesco e hilário e os cidadãos em todo mundo viram voar dos cofres públicos, em revoada, os seus milhões, bilhões, trilhões de dólares... para os cofres dos bancos... Isso sim, que é um movimento sindicário... Nunca vi nem li, nem assisti jamais, nenhum igual, de deixar lívido Niccolló Maquiavel.
Os Bancos estão muito bem de vida. Estão emprestando dinheiro aos países que ficaram pobres porque o dinheiro público lhes foi retirado para ser entregue a... Aos bancos. Até hoje duvido que a idéia tenha partido de economistas formados. Nem de políticos capazes. Deve ser produto de uns animais híbridos chamados surrupiões legalis, do verbo latino surrupiar legal. Num mundo esclarecido, isto seria impossível. O povo iria para as ruas dizer não. Mas o mundo definitivamente não o é. Desculpem, mas não o é. Só é inteligente quem reclama de alguma coisa, porque são tantos os desperdícios e o que reclamar, que quem não reclama só pode pertencer ao grupo dos surrupiões legalis: São estes que articulam os Partidos, o Congresso, a Presidência, as câmaras, e um dia o povo aprende o exemplo.
Nesse dia, a democracia será para todos, a economia perfeitamente compreensível, e não haverá necessidade de pedir nada ao governo.
O governo será o povo. Surrupiões legalis só em gaiolas, comendo alpiste a juro de 1500% ao ano.
Rui Rodrigues