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Vagabundeando pelo passado


Não se pode passear- ou vagabundear- pelo passado sem isenção. Passado é algo muito particular, e no meu particular vejo um filme, Casablanca, com Ingrid Bergman e Humphrey Bogart. uma música... What a Difference a Day Made, cantada por Dinah Washington… E se viaja sem necessidade alguma de artigos encontrados pelas esquinas da atualidade, poluídas por drogas e policiais que sabem onde elas estão, de onde vêm, quem as recebe, mas que deixam rolar o tráfico, como se a sociedade é que tivesse que resolver esse problema.
Muitos artistas, muitos músicos, filmes e músicas, lembranças, imagens virtuais de tempos reais de nossas lembranças que nos enclausuram em sentidos visuais e auditivos no passado resguardado de nossos bons momentos de infância, adolescência... Aqueles tempos em que, com menos responsabilidade do que hoje, por sermos jovens, são exatamente os que mais nos agradam. Naqueles tempos ia-se ao cinema, porque era a maior diversão.
(Rick e Ilsa Lazlo se encontram em Paris)
Em setembro de 1945 nasci. A guerra tinha terminado em agosto com o lançamento de duas bombas atômicas sobre um mundo atônito, amedrontado, pobre e preocupado com os rumos do mundo. Alguma poeira atômica deve ter chegado á pequena vila onde nasci no alto das montanhas onde em alguns invernos a neve cobre a paisagem. Ninguém noticiou em Fornelos porque lá não havia jornal. Cresci em meio a notícias da guerra, e a reconstrução de um novo mundo que já era velho quando nasceu, porque nada muda no mundo do que é básico e fundamental, como a pobreza, a saúde e a educação ainda não ao alcance de todos os que contribuem para a manutenção do Estado.
(Ilsa encontra Rick em Casablanca, buscando passagens para sair num vôo rumo a Lisboa com conexão para a América. Lazlo, seu marido, é procurado pela Gestapo por ter participado de movimentos da resistência)
Aos filmes como Casablanca, sucederam-se outros, musicais, e de modo geral até 1950, no período do pós-guerra, transmitiam esperança desse mundo novo que se desejava construir. Um mundo que continuou com holocaustos e guerras. Para boa parte do mundo, da humanidade, os EUA de Hollywood, foram passando de heróis a vilões, frutos de uma política do “nós primeiro, e os outros depois” no que tenha pesado seu esforço político para demonstrar o contrário, como em “We are the world”, cujos fundos arrecadados nunca soubemos como foram aplicados...
(Rick abre mão de seu passaporte para a liberdade, dando-o para Ilsa e seu marido. Ilsa e Rick tinham tido um romance em Paris, Ilsa ainda casada com Lazlo. Paris fora invadida pelas forças de Hitler, e Lazlo, da resistência, tinha que fugir. O direito de igualdade entre homens e mulheres esboçava-se neste filme de modo impressionante e feliz).
América...América.... e o grito correu por toda a Europa em 1946. A pátria dos salvadores de suas pátrias e das suas liberdades, era o lugar certo para construir uma nova vida, para fugir de um Hitler já morto e inócuo, de uma Europa vivamente devastada, do centro secular da guerra declarada a vizinhos, tenha acontecido por ambição ou motivos religiosos, os dois deploráveis. Era disso que todos fugiam. Não fugiam de problemas pontuais, mas da Europa... Queriam distância da Europa turbulenta, belicosa... Competitiva e egoísta. E depois que saíram, a Europa se transformou no pacato, calmo e bucólico éden que ficava bíblicamente a Ocidente, não Oriente. O ponto de referência mudara, e agora eram os EUA que declaravam guerras, regulando o mundo, conformando-o, colocando o resto do mundo em seu lugar, tal como Napoleão, Alexandre, César, Hitler, já tinham tentado, conseguido, mas... O final não foi como esperavam... O mundo sempre respondia com a ignorância, com o descaso, com a desobediência, com novos rumos que os conquistadores nem chegaram a perceber, e seus intentos morreram no pó dos tempos.
(O capitão Louis Renault, uma referência á fábrica de automóveis francesa, responsável pela segurança em Casablanca, sempre em cima do muro sem saber a quem obedecer, decide-se a favor de Rick na hora do embarque no avião que levaria Ilsa e seu marido para a liberdade. Na verdade, o chefe de polícia Renault tinha dívidas sérias com Nick. O filme deixa claro que quem se corrompe pode corromper obtendo benefícios decisivos na vida. Por isso os artistas sempre davam gorjeta para os motoristas e atendentes de hotel nos filmes de Hollywood)
Naqueles tempos o leite chegava em nossas casas em pequenas garrafas de litro, o pão quente, e o jornal embrulhado atirado pelas janelas das casas, por um entregador jovem, montado numa bicicleta. Era negócio associado ao sentimento do que se esperava que o cliente desejasse. Hoje o cliente não importa. O que importa é que tipo de clientes se importam pelo produto que você vende. O mundo mudou muito...
(O avião parte para a liberdade de Ilsa e seu marido Lazlo. Rick fica no aeroporto e se afasta do chefe de polícia, dando a entender que talvez fique por Casablanca. Ele é um empreendedor e logo encontrará outros meios de ganhar dinheiro, já que tinha sido comerciante de armas para a resistência contra o nazismo. O militar nazista com passe da França de Vichy, simpatizante de Hitler estava agora morto, jazendo no chão. Rick conseguira os passes de um cliente “amigo” que por sua vez os roubara de agentes nazistas alemães).

Estou tomando um drink no Chopp grátis. Vou tomar outro, ouvir umas músicas de minha infância e sairei. Os tempos mudam, mas nem tudo muda no mundo.

THE END.. That’s all folks!!!

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