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segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Antiguidades - Feira da Ladra, Pulgas de Paris, Praça XV

Antiguidades - Velhos e velharias
Feira da Ladra – Pulgas de Paris - Praça XV

Antes que me crucifiquem, sou velho. Farei 69 anos em setembro do ano que vem, 2014, e não tenho problema algum em dizer que sou velho e não “idoso” ou que estou na “melhor idade”... Eufemismos e sinônimos que não tiram o conceito de que já passei a idade da juventude. E dizer que sou velho, não quer dizer que esteja faltando ao respeito comigo mesmo nem com ninguém. Significa apenas que conheço razoavelmente bem a língua portuguesa. Nada mais. Mas vamos ao que interessa...

Há coisas boas neste mundo. Aliás, este mundo está cheio de coisas boas além da experiência adquirida com a idade, claro. O problema maior é a falta de conhecimento, de vontade, de tomarmos para nós um pouco de tempo livre para apreciarmos tudo o que nos rodeia. São cheiros, comidas, perfumes, paisagens, amigos e amigas, conversas, lembranças. Ah!... Nada como boas lembranças em momentos de contemplação. Se gostar deste tipo de coisa, continue lendo e espero que lhe provoque lembranças que só você pode ter. São suas e não ocupam lugar, ninguém as pode roubar. Mas para isso é necessário ter “idade”. Sem idade não há como ter muitas lembranças para lembrar, a maioria dos objetos em feiras não lhe dizem absolutamente nada, porque nunca as usou, não sabe para que serviam nem se eram acessíveis ou apenas coisas de ricos. A propósito, peças antigas, de ricos, não se encontram em feiras como as que visitei: A da praça XV no Rio de Janeiro junto à estação das barcas Rio - Niterói, a Feira das Pulgas em Paris, e a Feira da Ladra em Lisboa. Vamos viajar...



Quem lembra, por exemplo, de um fogareiro a querosene? Naqueles tempos de 1950, cinco anos após o término da segunda guerra mundial, eram poucos os fogões, a maioria a lenha, havia limpa-chaminés, e muitos quartos alugados a famílias em Lisboa. Quem quisesse um pouco de privacidade, tinha que cozinhar nos quartos. Usava então um fogareiro a querosene como o que se vê na foto, e havia uma lâmina de metal com um fio duro de aço na ponta, para desentupir os furos de queima do querosene que entupiam constantemente com fuligem. Como eram feitos de cobre, era necessário polir constantemente. Nos dias de inverno, a sopa esfriava antes que se pudesse cozinhar as batatas que também esfriavam antes de fritar o bife. Foram de muito uso no pós-guerra. Depois vieram os fogões a gás, em botijão ou encanado. Esquentaram muita água para colocar dentro de botijas para aquecer os lençóis frios no inverno, porque a maioria esmagadora das casas não tinha calefação.


E quem se lembra da velha vitrola, que tocavam velhos discos de vinil de 45 ou 78 rotações por minuto (RPM) com selo “Polidor” ou “His master voice”, aquele do cãozinho sentado de frente para um aparelho desses? Podem ainda ser encontrados, alguns ainda tocam, mas o som nos parece horrível, saído de túnel do tempo com falta de graves, de estereofonia, com chiados e trancos. Isso porque já temos coisa muito melhor, mas naquele tempo fizeram a alegria de muita gente, embalaram muitos namoros ao luar, transas noturnas, mas não transmitiam notícias. Os rádios vieram com a segunda guerra mundial. Afinal, as guerras sempre servem para se descobrir alguma coisa de útil. Há rádios antigos que ainda funcionam, mas não têm nada da tecnologia moderna, e os modernos já saíram de moda. Já não se usam. Até nossos amigos duram por épocas. São raros os que nos acompanham até o final da vida, talvez porque saímos ou saíram de moda e agora usam novas tecnologias. Por vezes a vida nos empurra a mudar de lugar, de cidade, de país, e lá se ficam os amigos que em breve tempo acabam por esquecer-nos ou que acabamos por esquecê-los. Há que curtir as coisas e pessoas enquanto estão à disposição, não é?
Jarras de cerâmica, mas nenhuma original que seja da dinastia Ming.  Peças caríssimas como essas, só em leilões especiais, onde se dão lances de milhões. As feiras livres de antiguidades são feiras “populares”, onde raramente, mas acontece, se pode descobrir um pequeno “tesouro”. Antiguidades nos lembram histórias do passado, tesouros, nos fazem imaginar quem teria possuído aquelas peças que vemos, algumas de prata maciça que já ninguém quer, porque quando foram fabricadas não havia poluição, e atualmente é tanta que a prata fica negra rapidamente e há que limpar sempre, todas as semanas. Peças de ouro, nem tente comprar se por acaso encontrar á venda. Provavelmente serão falsas, porque ouro antigo é normalmente derretido: O desenho das peças saiu de moda, e broches, por exemplo, já não se usam. Mas ainda a propósito da imaginação de se encontrar tesouros em feiras de antiguidades, sempre me lembro de algumas revistas em quadrinhos, como as de Hergé, que até se encontram também à venda como “antiguidades”, e em especial aquela do “segredo do licorne”, em que Tin-Tin, o jovem jornalista herói, descobre uma miniatura de um galeão antigo, chamado justamente Licorne e o chifre se desprende deixando cair um mapa de tesouro enrolado. Spielberg fez um filme sobre esse tema, aliás, excelente.


Livros, mapas, revistas antigas, costumam ser vendidos em “sebos” espalhados pela cidade. Isto é, antigamente. Hoje são raros, mas ainda se encontram livros bons em feiras da ladra, das pulgas ou da Praça XV. E roupas há muitas, por todos os lados, juntamente com sapatos, chapéus, colares, relógios de pulso, um mundo de lembranças perdidas por uns, que outros encontram. Uma antiguidade numa residência, por menos que valha financeiramente, é sempre um troféu, sobretudo uma lembrança que nos lembra da precariedade do tempo, que passa, não volta, e leva tudo o que valia e já não vale mais a não ser para decoração. Costumes se perdem também com o desuso dos objetos. Basta prestar atenção na velha máquina de escrever, tão caras que foram no passado, servindo em departamentos de estado, em repartições públicas, datilografando penas e sanções, ordens de prisão justas e injustas, notícias de jornais, poemas de escritores, declarações de guerra, livros de Agatha Christie, Ellery Queen. Cartas de amor, algumas captadas por maridos ou mulheres traídos, contando sobre chapéus antigos deixados na janela, de forma estratégica para avisar se o marido ou os pais estavam ou não em casa. A traição faz parte do mistério, dos contos, dos objetos, da vida, é um molho especial como a pimenta, que tanto pode alegrar um jantar, como desarranjar os intestinos, um jogo. E nos objetos das feiras de antiguidades, há histórias de vida escondidas. 

Alguns objetos já foram guardados com carinho, outros vendidos sem que a família soubesse para pagar dívidas, outros já foram empenhados por várias vezes para que os donos se livrassem de sufoco financeiro, outros ainda foram roubados. Alguns dos santinhos de igreja foram, certamente, porque igrejas não são museus, não têm guardas na porta, e estão mais sujeitas ao vandalismo do dinheiro fácil, não de mérito. Aliás, dinheiro é coisa que todos queremos, independentemente de nossas preferências religiosas ou políticas. Dinheiro é um objeto de desejo até dos mais ferrenhos comunistas, que por falta dele, quando não está disponível, usam favores como moeda de troca. Logo após a queda do muro de Berlim, encontrava-se facilmente em Lisboa condecorações das forças armadas da Alemanha oriental, e russas, bonés, botas, fardas inteiras.
Ás vezes, pelos idos de 1957, eu ia a pé para o Liceu Gil Vicente, ou voltava a pé, normalmente nos dias em que não havia aulas pela tarde por um motivo ou por outro. Costumava parar num armazém de “ferro-velho” que pertencia a minha prima Alice, uma das minhas paixões em minha vida. Não era uma paixão sexual, porque ela era bem mais idosa, mas porque era uma pessoa fabulosa, simpática, do tipo que não fazia mal a uma mosca, se assustava com trovões e raios de tempestade, não podia ver sangue nem violência, e tinha a casa sempre arrumada. Por vezes dormia por lá, na Av. Pascoal de Melo, num quarto andar – os apartamentos eram de um por andar, daqueles que tinham um “interfone” de cobre ligando-o à portaria. Tirava-se uma tampa de um bocal na portaria, depois de tocar a campainha, e encostava-se o ouvido ao bocal para escutar: - Quem é? , e colocando a boca no bocal, dizia eu: - Sou eu, prima. Então ouvia um ”clac” e o portão se abria automaticamente. Era uma maravilha. Eu até gostava das sopas que ela fazia, sem sal, porque sofria da vesícula e da pressão alta, e ia-se cedo para a cama. A educação era germânica, e nem para conversar com minha prima Fernanda havia tempo depois do horário estabelecido para dormir. A cama era dos deuses, com edredom de penas de pato. Nunca vi o esqueleto de um pato em feiras de antiguidades, por mais que os patos sejam habitantes usuais deste planeta, e sirvam para tantas coisas úteis, ainda, nestes tempos modernos, cheios de coisas novas. Mas lá está. Não são raridades e por isso mesmo não estão à venda em feiras de antiguidades, e tenho que me perguntar quanto valeria eu se um dia me pusesse a mim mesmo à venda como raridade nessas feiras. Nada. Não valeria nada porque somos muitos os idosos e temos o defeito de sermos contemplativos, de analisar o passado, avaliar o presente e tentar mudar e adivinhar o futuro.

A raridade é o segredo da valorização.



© Rui Rodrigues 

Três histórias do quotidiano

OS NEO-Escravos do século XX e XXI

Meu pai chegou a ter sete lojas em sociedade com meus tios: O Adolfo e o Miguel. Abria sempre outra loja para ver se conseguia cobrir o déficit das outras. Não era deficiência nas vendas. Todas vendiam bem. O problema eram os impostos e os fiscais. Se não houvesse um "probleminha" eles inventavam e logicamente os altos impostos. Os impostos sempre foram altos. Muito altos. Estão agora altíssimos... 

Meu pai me dizia: Este país está precisando de uma revolução para acabar com estes cafajestes que nos cobram uma barbaridade de impostos e estes fiscais que só passam para ganhar alguma coisa por fora.. Há fiscais muito ricos e nem por isso aumentam a recolha de impostos. Nós estamos corretos e mandamo-los falar com o nosso contador... 

E veio a revolução que meu pai e meus tios não pediram, mas que no fundo até eu desejava, e era eu um simples estudante que sonhava entre ser médico e engenheiro. 

Veio a revolução, veio a democracia, veio a roubalheira do Collor do Lula e da Dilma, e nada foi mudado... Roubaram poupanças (Collor) , fizeram planos um atrás do outro com perdas para todos os cidadãos (Delfim Nóbrega, Funaro, FHC, Ciro Gomes, Malan, Ricupero, Palocci, Mantega) e continuamos na mesma - me desculpem o palavrão - na mesma MERDA!!!!!!

- Se não é fiscal é o governo - dizia ele - e se não é o governo são os OUTROS políticos ladrões e esta MERDA não muda nunca...

Se precisarem de mim para ser o novo TIRADENTES e ser esquartejado, meus membros espalhados por este reino governado pelo PT, contem comigo. Se é para o bem da nação digam ao povo que FICO!!!!

RR


Sociedade dividida!
Vê-se pelas postagens. Quem desejar tomar o poder e transformar o Brasil numa ditadura de esquerda, deve estar exultante. As forças armadas estão aparentemente neutras, as forças policiais evidentemente defendem o poder instituído e não a Constituição. Como a Constituição já foi tão alterada, se ela fosse defendida pelas forças armadas, já teríamos tido uma intervenção há muito tempo. Ela é alterada todos os dias.

Uns têm fé no futuro mas vemos que a fé ainda não conseguiu os seus objetivos, outros buscam amor e compreensão como se pudessem ser encontrados a um toque de mágica sem a convivência necessária para se passar da fé à certeza, outros dão conselhos como se fossem o supra-sumo da excelência humana, outros ainda desfilam vaidades por muitos motivos. Uns ainda gritam e esperneiam por ideias e fundam grupos e se unem a grupos, todos pequenos, impondo regras que afastam quem neles pretendiam entrar, no fundo autoritários, prováveis ditadores, mas com grupos tão diminutos, não passarão do "orgulhosamente sós".

Há quem vá para as ruas com violência, ou a exerça de certa forma pelas redes sociais, mas são ainda poucos. Alguns vendem produtos, outros querem comprar.

É uma sociedade preocupada, sim, inteligente sim, digna sim, mas completamente perdida enquanto à previsão do tempo de amanhã, das ações do hoje, da história de ontem que contada em tinta azul sobre papel branco manualmente, ou em tinta preta sobre papel branco nos alfarrábios, se escreve hoje com tinha vermelha contada por dirigentes que escrevem endinheirados o futuro do Brasil...

A maioria reclama, reclama, reclama, esperando sempre que alguém faça alguma coisa, e não percebem que é preciso unir-se a quem faz alguma coisa que não seja apenas o mero reclamar.

Olhos atentos são poucos. Olhos que se aproveitam são bastantes. Olhos que nada enxergam são mais que uma centena de milhão. Que futuro esperam?

RR

Os professores e o PT

Fiz parte de alguns grupos que abandonei. De três grupos fui "expulso", ligados à esquerda, porque não se interessaram em visualizar que não sou nem de esquerda nem de direita nem de centro, até porque não reconheço mais nenhuma democracia que não seja a verdadeira, a PARTICIPATIVA.

Um desses grupos de que me afastei, foi o grupo professores. Vi que a maioria é do PT, e defendem o PT embora o governo, que é EXATAMENTE do PT não lhes melhore os salários. Até os ministros relacionados com a educação e a cultura são do PT...

Como entender que professores não entendam que defendem um partido que está no governo e não se interessa ABSOLUTAMENTE nada por eles? 

Dirão: mas no rio, onde o "pau está comendo" o governo não é do PT... 
Mas é aliado, a presidente abraça o governador, e seja como for, aumento de salário de professores pode ser aumentado até por decreto como faz o PT sempre que lhes interessa. 

Mas sinceramente, com tanta dispersão de inteligência, com tanta falta de foco, só continuo defendendo a Democracia Participativa - e o farei até a derradeira hora de minha vida - pelo futuro. 

Pelo presente, já me convenci que não vale a pena... 

RR

http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Minha admiração pela “Ladeira abaixo 10”

Minha admiração pela “Ladeira abaixo 10”

 Bandeira da Inglaterra
Fui criado por uma década e meia num país sob influência de três outros: Portugal sob influência do reino Unido, da França e da Alemanha. Ah! Aprendi muita coisa que não posso nem quero desprezar. Depois fui conhecê-los pessoalmente, mas já tinha a experiência do convívio com americanos, austríacos, alemães, japoneses, brasileiros, colombianos, holandeses, gentes de todos os continentes. Bebi os ambientes sob a luz da minha experiência pessoal, mas, sobretudo, pela da história destes países. Não escondo minha simpatia preferencial pela Inglaterra. Porque ela foi a mais colonialista de todas as potências mundiais? Claro que não, mas reconheço que cada momento da humanidade valida e explora o que é válido. O colonialismo era válido, e a Inglaterra o utilizou, mas se fossemos analisar esta forma de exploração da humanidade, teríamos que perguntarmo-nos que sentimentos levaram a França, a Holanda, Portugal, a Alemanha, a Itália, a Bélgica, a colonizar onde puderam e como entendiam. Ninguém se pode rir de ninguém, chorar mais do que ninguém. Com o advento de novos conceitos de humanidade, o colonialismo acabou, isto é, modificou-se. Agora se exploram pessoas, países, sem a necessidade de ocupá-los, através de redes comerciais que se sobrepõem á política. Mas lá vem a minha admiração pela Inglaterra: É o único país ex-colonialista que mantém suas ex-colônias em torno de si com bases sólidas através de língua e costumes comuns, além de um certo charme de pertencerem a um aglomerado que tem uma rainha e em breve terá um rei, cheios de tradições, e que a indústria cinematográfica ajudou com filmes de espiões, de 007, e conjuntos como os “The Beatles” que lhe deram fama. Sem falar no elegante chá das cinco da tarde. A Torre de Londres, as cabines telefônicas, o Big-Ben, a guarda da rainha e o rio Tamisa dão-lhe o toque visual imprescindível. A fleuma britânica é famosa, o Whisky uma lenda. Mas é só por isto que a Inglaterra me é mais simpática? Claro que não. Afinal, Portugal tem uma aliança de mais de 800 anos com ela, e na independência do Brasil, quem foi contratada para defender o Brasil? A Inglaterra! Afinal fora ela mesma que ajudara D. João VI em sua fuga estratégica para o Brasil onde manteve unidos os Reinos de Portugal, Algarves e Brasil. Tudo interligado e unido por laços históricos. Mas só por isto ou por algo mais?
 Down Street 10
God Save the QueenPela sua política interna e externa. Veja-se que nem faz parte do Euro porque tem visão de macro-economia e sabe que no dia em que entrar, se entrar, será de forma segura, sem comprometer seus cidadãos nem sua monarquia. A monarquia inglesa é extraordinária, comedida, ilustrada, longe, muito longe de por exemplo a monarquia do rei de Espanha que chega a ser ridícula por suas intervenções no cenário internacional, suas caçadas a animais selvagens em África, sua falta de brilho e aparentemente de inteligência. Na minha opinião, a haver rei em Espanha melhor seria se fosse a esposa dele. É esse comedimento, essa sensibilidade para a coisa pública e para o cenário internacional, que me leva a admirar a Inglaterra. E é com certo humor que entendo onde fica a sede do governo britânico, a do primeiro ministro: Down Street 10, o que traduzido para o bom português significa “ladeira abaixo 10”. Ou seja, o primeiro ministro tem que entrar e sair de sua residência com a leve sensação de que seu posto depende da vontade popular traduzida pela Câmara dos Lordes e da Câmara dos Comuns, e que sua tendência é “descer” a ladeira do governo se não se comportar adequadamente. De notar que a sede do Governo é em plena Londres, convivendo com a população, e não é raro que os políticos atravessem a cidade usando transportes públicos, dirigindo táxis, andando pelas ruas amiúde, para saberem da população, pessoalmente “como vão as coisas”. O que é muito diferente de um Planalto, por exemplo, onde as leis protegem políticos que, mesmo roubando descaradamente, são mantidos no posto. Ora isso, não é nem nunca foi uma democracia, é uma perpetuação de políticos, nada muda, “o povo que se dane porque o presidente é comandante”. Governos do planalto não caem, e se um presidente cai, o resto fica por lá para o reconduzir ao poder mais tarde quando a população tiver esquecido os escândalos em que se meteu. Ora isto também nem sério é. É um joguinho de poder onde o comandante sempre ganha e o povo sempre perde. Até a votação é obrigatória, mas só de quatro em quatro anos e pretendem estender isso a muito mais, que se pudessem seriam eternos no poder. Embora não seja uma democracia perfeita[1], a democracia britânica é das melhores deste planeta.
               
Winston Churchill                                    Pela Down Street 10 [2]passou muita gente que ficou famosa. Uns ficaram e foram reeleitos, outros ficaram por pouco tempo, mas sempre mantendo a Commonwealth [3], constituída por 53 países, na qual até uma ex-colonia portuguesa foi admitida: Moçambique. Passaram por lá Churchill, Thatcher, e muitos outros. Agora é a casa de David Cameron. A história da Down Street 10, não é apenas a história do edifício em si, mas é a história da Porta da frente e do Hall, da Sala do Gabinete, das escadarias, da Sala de Estar, da Sala de Jantar, da grande cozinha, da pequena sala do café da manhã, do Terraço e do jardim, mas principalmente da vida atribulada de seus habitantes mais famosos, preocupados com o bem estar de seu povo, envolvidos até o pescoço em difíceis cenários de guerra. Queiram ou não, Portugal lhes deve muito pela amizade e pela ajuda em momentos críticos como nas guerras peninsulares contra Napoleão, o francês careca, barrigudo, baixinho, que andou amedrontando meia Europa e acabou preso por duas vezes, encarcerado em duas ilhas, uma delas doada por Portugal á Inglaterra como dote de casamento. A França de Napoleão e a Alemanha do Keizer Guilherme e de Hitler, deixam minhas barbas brancas de molho. 

Governar na Inglaterra é coisa muito séria. Governos podem rolar ladeira abaixo a partir do número 10...   

God save the Queen,
Kisses Elisabeth!
Stay alive!

© Rui Rodrigues



[1] Democracia perfeita é quando o povo vota em tudo sempre que desejar, diariamente se lhe for interessante ou possível. Ver em http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/.

Preocupações e vitórias da semana


  1. RODOVIAS E PRÉ-SAL SEM INTERESSADOS IMPORTANTES OU SEM INTERESSADOS...

    Economia é mercado. Mercado é dinheiro, din-din, capital, capitalismo. No mercado estão todas as nações. 

    Uma economia livre, interna, produz conhecimento técnico, empresas de porte, geram recolha de impostos, cuja boa parte deve ser reinvestida no ... no... Mercado... Exatamente...

    Misturar política com economia, ou economia com política, desde que a política não atenda a economia, é... é... isso mesmo.. É burrada!...Burrada daquelas de esfregar as orelhas umas nas outras, porque... porque... Porque o mercado do dinheiro não dá a mínima para a política e pode derrubar qualquer político... E isto é... Isto é.. Exato !!!!!!!! Acertou... É o "mercado da política" ou a "política de mercado"... 

    Mas nossos políticos se satisfazem em levar a sua parte do bolo, tal como o Collor e o seu secretário PC (já falecido) fizeram... E não dá certo, a não ser por breves períodos da história...

    Não acredita? Então espere... E verá...

    ₢ Rui Rodrigues.
                                                              
  1. A CONFERÊNCIA DE IMPRENSA.
Vamos interpretar a conferência de Dilma e Mantega tentando explicar (para acalmar o mercado internacional a respeito do Brasil) que o Brasil manterá o interesse de investidores no Pais (o investimento estrangeiro baixou 10% em um ano de 66,6 bilhões para 60 bilhões, e as maiores empresas se afastaram dos leilões de um campo de petróleo do Pré-sal, da privatização de rodovias)

1 - Quando Dilma faz referência à manutenção do objetivo ( e garantias) dos contratos, fazendo referência ao governo de FHC, mente para a comunidade internacional de investidores. Nossa economia não suporta perdões de dívidas externas de países liderados por ditadores, nem de quaisquer outros, mas é notável que Lula e Dilma perdoaram dívidas de governos no mínimo "duvidosos". Para manter nossa economia em desenvolvimento, os "saldos" devem ser positivos, e estamos com problemas na balança comercial, no volume de investimentos estrangeiros, em índices de desenvolvimento. Internamente, dá uma sinalização de reconhecimento e capacidade do PMDB, quando na verdade o está desprezando. Os principais postos chave em Ministérios e outros, como no STF são ocupados por Petistas de carteirinha... 

2- O medo do mercado internacional (investidores) é que o governo do Brasil não cumpra os contratos. Na verdade pode cumprir sim, sem dúvida, mas isto gerará pressões internas capazes de derrubar o governo do PT e impedir a sua re-eleição: Os custos precisam baixar para tornar a nação competitiva, o que inclui mão de obra mais barata, diminuição de impostos. A diminuição de impostos reduz a capacidade do governo de arrecadar dinheiro para suas metas de salário-família e outras ajudas como as oferecidas a presidiários que ganham mais do que professores da rede pública, pessoal de portos e vias navegáveis, e os pedágios deveriam ser barateados... Todas as vitórias dos sindicatos seriam revistas com perdas para a mão de obra, e isto é ruim para uma re-eleição. Se o governo tira de um lado, tem que receber de outro para compensar. Não há compensações nos últimos doze anos de governo do PT... Estamos ladeira abaixo... O mercado internacional sabe disto.

3 - Dilma e Mantega adotam a mesma dialética infantil de convencimento quer para agradar aos simpatizantes do PT quer para agradar aos investidores estrangeiros. Isto é um erro perceptível pelo mercado internacional e por nós, que não somos do PT. Os simpatizantes do PT o fazem por fé esquecendo o conhecimento. Não têm crítica, e perdem terreno na massa votante nacional, porque as condições de vida e a inflação falam mais alto do que as palavras de Dilma, Lula, Mantega e seus colaboradores, 

Conclusão: 

Espero para os próximos dias uma redução na avaliação do Brasil no mercado da confiabilidade internacional através dos Bancos de avaliação... O Brasil está perdendo a capacidade de caixa para enfrentar os problemas que ele mesmo criou.

Para os petistas, é a glória... para nós, a constatação da desgraça que sobe em flecha inflacionária.

Rui Rodrigues.
http://estadao.br.msn.com/economia/brasil-respeita-institui%C3%A7%C3%B5es-e-contratos-diz-dilma-a-investidores

  1. Vitória
Boa, gostosa, saudável, construtiva, não é a vitória quando se tem dinheiro, poder, influência... É quando não se tem nada, os amigos não ajudam, se está pratica e inevitavelmente sozinho... 

Sozinho, mas jamais sós... Temos D'Us, temos nós mesmos, nosso cérebro, nossa vontade de experimentar como será vencer se estamos "sós", entregues a nós mesmos... 

Uns (e umas) dirão que estamos mal, que jogamos tudo no lixo, que desprezamos os amigos, que fugimos do sistema, que largamos tudo, que somos infelizes mas não queremos admitir... Quando tudo o que precisávamos era apenas uma ajuda curtamente temporária de apenas quinze mil reais... Não era doença, era falta de dinheiro.... 

Então após alguns anos de penúria, voltamos, mais uma vez a vencer... Tudo se acerta, a casa está impecável, linda, saudável, as contas sendo pagas, há uma garrafa de Santa Helena, Carmenére, aguardando o bife a cavalo acompanhado de batatas a murro...

Olho a garrafa e me pergunto: Que bem eu fiz a D'Us para que me retribuísse com tamanha gratidão ? 

E encontro sempre a mesma resposta... Quem faz por onde, encontra a D'Us, e não é D'Us que não nos abandona, mas nós que por vezes abandonamos D'Us... Seja qual for o nome que dêem a D'Us, que pode ser qualquer um, desde que D'Us seja uno e só Ele mesmo...

Salut, D'Us, com os vinhos da mesma parreira de Salomão, de Jesus, de Maomé, de todos os profetas que plantaram suas vinhas e tomaram do vinho... 

© Rui Rodrigues

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O amor nos tempos do dengue.



O amor nos tempos do dengue.

 
 Vamos mudar?
Para se entender o amor nos tempos do dengue, seria conveniente que se entendesse “o amor nos tempos do cólera” ou "cem anos de solidão"  do Gabriel Garcia Marques, mas não necessariamente. Basta sabermos como era o amor nos tempos da guerra fria e como se manifesta agora com toda esta tecnologia no mundo em que vivemos. Os mais idosos sabem a diferença. Os novos só poderão entender se escutarem aqueles e aquelas de cabeça branca, o olhar perdido entre o ontem e o amanhã que os jovens não conseguem entender porque não viveram ainda o “ontem”, e se há coisa que neste planeta é diferente, é o ontem, o hoje e o amanhã de cada um. A maioria de nós consegue soltar-se do ontem a cada dia, mas uma boa parte não consegue largar o ontem e fica presa no tempo, sonhando ainda com os “bons momentos“ do passado ainda que tivessem sido terríveis. É por esse tipo de sentimento que os saarianos amam seu mundo de areia sem água, os do mangue os seus manguezais insalubres e lamacentos, os lapões seu frio mundo de gelo onde é proibido tomar banhos de sol. Ela não era general, detestava militares, detestava a rigidez da educação, ainda mais que seu pai tinha imigrado de um país comunista. Saíra de seu país para poder ser capitalista, ter sua liberdade, seu dinheiro. Sabia que para tudo era necessário dinheiro, e o problema era consegui-lo de um modo mais fácil. Seus pais a mandaram para um colégio, para estudar, se formar, mas a mesada era curta e sempre lhe cobravam os resultados. Era época de grandes mudanças no mundo impulsionadas pela juventude. Por aquela época, quando tinha apenas 12 anos, em 1959, estudantes faziam barricadas em Paris. Stalin morrera de acidente cerebral em 1953 e lhe sucederam desde então Malenkov, Krushchev, e o comunismo continuava de pé, vangloriando-se de sua educação, suas conquistas sociais, sua tecnologia de ponta que mandara homens para o espaço. Quem não se lembra de Yuri Gagarin correndo o mundo em viagem de glórias, a propaganda toda embandeirada com cenas de colheitas de trigo, o hino da internacional socialista arrepiando os cabelos dos braços dos mais sensíveis? Em plena guerra fria, parecia que o comunismo iria governar o mundo, vencer os americanos que haviam vencido o nazismo também tão forte, e que ditavam as regras do mundo com sua política bélica externa a título de acabar com esse comunismo diabólico. No ano em que Stalin morrera, o de 1953, Eisenhower, o general da vitória aliada sobre o nazismo, se elegeu presidente dos EUA sucedendo a Harry Truman que lançou as bombas sobre Hiroshima e Nagasáki. Aos olhos de comunistas, a Rússia e a China eram duas potências nucleares que provavam ao mundo a sua força, que o regime comunista era viável, que o mundo poderia ser melhor. Ficou essse sonho no passado. Jean Paul Sartre, o filósofo, por essa época distribuía folhetos de propaganda marxista pelas ruas de Paris e pela entrada de instituições de ensino como a Sorbonne, mas o mais importante de tudo era o plano de cargos e salários dos braços armados do comunismo, instalados em países democraticos porque em Cuba se implantara o comunismo, exatamente em 1959, Che Guevara o argentino fazia parte dos exércitos revolucionários que mudariam o viés político do mundo e em particular na América do Sul. Enquanto nos EUA e no mundo ocidental europeu os políticos tinham formação acadêmica, o comunismo permitia o acesso ao poder de gente popular sem instrução. O que ela, filha de emigrante comunista em busca do capitalismo poderia querer mais se tinha o mundo todo para ser transformado em comunista? Gulags, muros de abatimento a tiros de quem se manifestava contra o regime, o que isso importava se a causa tudo justificava? E que importava se as populações não podiam emigrar nem sequer receber prêmios Nobel oferecidos pelo ocidente? Que importava se filhos denunciavam pais que murmuravam contra o regime comunista que havia traído seus ideais, se fugitivos de seus países comunistas eram abatidos quando tentavam passar pelas fronteiras da Alemanha Oriental ou pelas águas do Caribe fugindo de Cuba? E nunca se constituiu uma comissão da verdade para esse efeito. O ideal comunista parecia-lhe, a ela, muito muito mais nobre do que tudo isso, os comerciantes eram gente má e ambiciosa, o dinheiro do capital tinha que ser colocado à disposição dos menos validos, do povo pobre. Nunca lhe passou pela cabeça, aos seus doze anos de idade, que acabado o capital, quem iria produzir capital para sustentar toda a pobreza do planeta... A guerra fria foi também a guerra do cólera. O mundo rachou em dois, definitivamente, no grande confronto entre a cortina de ferro e o ocidente quando navios provenientes da Rússia chegaram a Cuba com foguetes transcontinentais que poderiam atingir os EUA e seus amigos das Américas. Krushchev batia com seu sapato novo, que nunca pisara numa universidade, numa mesa da ONU durante conferencia. Kennedy ameaçava retaliação à Rússia, a China se calava observando o mundo ao seu redor. A China sempre foi eminentemente pacífica desde que não a tirem do sério, e já foi invadida pelo Japão imperial, já se envolveu em guerra com a Rússia e guerra não é a sua meta. Kennedy ganhou a guerra fria, reverteu a corrida espacial a seu favor, mandou astronautas à Lua, a cadelinha Laika parou de latir, o Sputnik parou de emitir os seus “bips”, Fidel de Castro recolheu os mísseis, o plano Condor voou sobre a América Latina, e os comunistas começaram a ser perseguidos, enquanto, para compensar, a juventude comunista chinesa percorria os lares chineses lendo em coro o livro vermelho de Mao, Fidel estendia sua experiência a Angola e à Bolívia em troca de diamantes e da experiência com o comércio da coca. Quando o muro caiu, a menina agora com muito mais de doze anos, que parara nos doze anos de idade, filha de emigrante comunista, ainda tinha vontades de desaparecer dos esconderijos e assistir a filmes em cinemas sem que a reconhecessem, embora cartazes com sua imagem estivessem afixados por todas as cidades do Brasil. Ninguém imaginava que Wanda, a terrorista, procurada por assaltos à mão armada a Bancos, rapto de embaixador, pudesse aparecer em cinemas ou ir a uma praia, a um restaurante gastando o dinheiro fácil recebido de Cuba, da China, da URSS e roubado dos bancos, para sustentar o ideal comunista. Dinheiro fácil porque a idade política continuava sendo a dos doze anos, quando despertara para o mundo. Não nascera para ser intelectual, e mesmo na escola não ia bem. Estava sempre ocupada em remoer contra a educação, os métodos, e achava que todos têm o seu lugar de liderança e compensação neste mundo independente do sofrimento de passar anos estudando em cadeiras de escolas e universidades. Seus colegas entendiam e conseguiu alguns amigos que lhe davam presença, e até a ajudavam nas provas. Por isso nunca desenvolveu a língua inglesa ou espanhola, ou sequer tem vagos conhecimentos de economia ou matemática. Nunca tinha tempo para estudar, era compreensível em sua situação de revolucionária, e mais tarde mentiria ao assinar seu currículo afirmando que tinha doutorado em economia. Quando inquirida a resposta foi honesta: Eu não tinha tempo para estudar. Mas a resposta foi também omissa, como nos tempos em que foi interrogada no DOI-CODI: Não informou nem se desculpou por ter mentido ao dizer que tinha o curso de doutorado. Nas malocas do terrorismo aprende-se a usar disfarces, a mentir, a desculpar-se, a tergiversar, a não responder diretamente como qualquer político costuma fazer em qualquer regime político do mundo. Wanda mentia e mente de forma natural e educada quando não a trai a sua expressão facial e corporal, a voz tremida, o olhar rutilante e desafiador quando a incomodam. A impressão que se tem é que não viu cair o muro de Berlim, a URSS se extinguir sem um único tiro e voltar ao regime capitalista ainda que mais suave do que nos tempos do kzar Nicolau regenerando até a própria bandeira dos czares, a China abandonar o comunismo paulatinamente ano após ano até se transformar na primeira economia mundial. Não viu Jean Paul Sartre abandonar o comunismo, nem viu como dos cerca de noventa países que abraçaram o comunismo, apenas dois subsistirem graças às esmolas de “amigos”, com a particularidade dessa amizade não ser proveniente dos povos, das sociedades, mas dos socialistas que ocuparam o poder. Wanda continua fiel ao velho amor dos tempos do cólera, infantil, dos doze a quinze anos quando se acha que existe um príncipe encantado, embora ela tenha abandonado o seu príncipe, e contrariando a história infantil, se aliado a um sapo barbudo para atingir o poder. Sem nunca ter sido a intelectual das ações, casou com o passado e dele não sai de forma alguma, porque o mundo é dela, e se o mundo muda, o problema é do mundo que estudou para mudar. Sem estudos, assim se entendendo a seqüência completa de assimilação, entendimento e retenção do que se aprende, vive seu momento de sonho já sem se importar com os amores. Afinal, a idade pesa. Não lhe é possível sequer entender que a elegeram por indicação e que os votos que recebeu foram provenientes da ignorância. Eruditos não lhe deram votos. Foi o povo ignorante que a elegeu por indicação do sapo adorado, rouco e barbudo, sem saber realmente porque foi escolhida se o único atributo seu era o da fidelidade, a ambição do poder. Por isso seus programas de governo não andam para frente. Precisa da ignorância para se reeleger. Precisa da pobreza do nordeste, da falta de água, de gado morrendo, de gente passando fome, perdendo suas terras e seu gado. Precisa do descontentamento porque afirma que a culpa não é de seu governo nem de seu adorado sapo barbudo, mas do sistema capitalista. Se seu assessor comprava ou mandava comprar o voto dos corruptos nos senados, sobre ela não se escutam essas coisas, mas a se aplicarem as regras dos últimos doze anos, podemos esperar mais ou menos tempo até que comecemos a escutar. Até agora todos os escândalos foram de seus indicados ou auxiliares e sempre nos fica aquele pensamento de que ou ela não sabe escolher, ou a assessoram muito mal e deficientemente, ou então estará também envolvida porque os escândalos em seu governo já bradam aos céus, e animam os diabos do purgatório. Há indícios de uma incompetência raivosa que fez afastar do partido dos trabalhadores a intelectualidade que deixaram nos anais da história pesadas críticas. Há um medo latente nos ares de denunciar, mas alguns ex-filiados têm falado de forma muita clara temendo até a morte por delação, por contar a verdade dos bastidores do governo. Ela e seu adorado sapo já deram a indicação de sua tendência: apoiaram Ahmadinejad, Fidel Castro, o ditador Mugabe do Zimbábue, ditadores e países africanos e da América do Sul. Suas amizades não são aquelas do mundo ocidental nem do mundo ex-oriental, nem de quase ninguém. È como se associasse – ela, não o povo brasileiro - aos mais escroques do cenário mundial. Muito mais importante do que isso é imaginar quais as razões de tal aproximação e constatar que ela não representa – efetivamente – o povo brasileiro, mas algo de perverso que lhes anda na mente, desses que têm raiva e vivem no passado e que não pode ser apenas a raiva de uma criança de 15 anos que nunca cresceu em educação nem em política, aliada a quem nunca trabalhou na vida e só fez política. Wanda não é assunto sério nacional. É assunto particular de um pequeno grupo ignorante, que ela resolve como quer enquanto tiver dinheiro para pagar a conta e corruptos para lhe seguirem o cheiro. O dengue não se manifesta com raivas, nem se trata com ignorância, e não foi nesta terra, cheia de dengues que se descobriu a vacina para a cura, porque educação e cultura não é nem tem sido a meta prioritária dos que se fazem eleger para governar, porque precisam de votos, e a educação e a cultura não votaria neles, como não votou nem votará. Quem vota vive de esperança enquanto vive, por toda a vida, até que tenha a oportunidade de sentar em bancos de escola e universidades que alguns, em busca de dinheiro fácil desprezaram.Uns foram condenados, alguns se afastaram da cena política até que tudo esfrie, outros pediram aposentadoria antes que lhe neguem os altíssimos soldos, alguns estão presos por corrupção. Wanda e seu querido sapo agora imberbe, esses continuam procurando alianças para se sustentarem, evitando que velhos amigos sejam presos apesar de condenados, perdoando dívidas de marginais enquanto o povo brasileiro - que não parece ser o seu povo - morre pelas secas, pelas tempestades, pela falta de serviços públicos.
O amor é lindo, mas tem que ser verdadeiro, evoluir, e não pode nem ficar parado no tempo, nem se basear na raiva ainda que surda, camuflada pela dissimulação. A não ser desta forma, há sempre situações do dia a dia que nos traem. Freud sabia disso e nós todos também sabemos. Quem governa não é Dilma. É a Vana.

 ₢ Rui Rodrigues

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

protocolo e cerimonial entre o Planalto e a Casa Branca

Conversa interativa de protocolo e cerimonial entre o Planalto e a Casa Branca

(ou de como através da criadagem e assessores se pode saber muito mais do que usando espionagem)


- Olha... Vamos ver então... Tem que ser um jantar leve, sem muita cerimônia, não é?
- É... A presidente não se sente muito à vontade com etiquetas. Só de marca.
- Não.. Não... Etiqueta a que me refiro são os procedimentos e os hábitos tradicionais de bem servir e bem ser servido, figurinos para as ocasiões, todo esse staff.
- Ah.. Sim.. Então.. Eu estava começando pelas roupas de marca que ela também não gosta muito de usar, só à noite quando ninguém está vendo. Durante o dia ela quase que veste com roupas parecidas com as do Mao Tse Tung para dar a impressão que é comunista. Mas essa etiqueta que você ta falando é negócio de garfos, facas, copos..
- Isso mesmo... Vou mandar o menu e fotos dos objetos a serem usados, para que ela possa decorar que copos usar, garfos, etc...
- É melhor mesmo... Ela costuma esgrimir os garfos enquanto fala e come e nunca tem tempo para aulas de nada... Na hora das aulas diz que tem que trabalhar, e na hora do trabalho diz que tem que ir para as aulas...
- Sei.. E como ela governa então?
- Ah.. Isso é coisa de meio dia de trabalho só... Reúne o pessoal em roda, cada um vai falando o que acha que ela deveria ir fazendo e ela vai assinando, dando telefonemas até que o ultimo comente. E ainda os apressa dizendo que são muito molengas. A maioria dos assuntos ela diz: - Deixa para amanhã que isso não é importante. Hoje estou muito ocupada.
- Entendi... Deve estar tudo atrasado no governo dela...
- Pois está... Não tem nada que esteja em dia. As verbas já foram todas distribuídas, mas os serviços estão todos atrasados. Os contratos não têm clausulas de multa, e quando têm podem ser impetrados recursos... Até o assunto dos aviões está pendente.
- Olha.. Diga-me uma coisa... Sabe que a Casa Branca é blindada para armas, smart-phones, I-tudo... Assim que se ela usa gravadores, câmaras, armas etc, tem que passar por revista e arrisca a não funcionarem lá dentro da casa branca. Mas como o jantar é íntimo, se vocês avisarem que ela usa esses aparelhos, nós abrimos exceção, exceto as armas, por causa dos terroristas..
- Ah.. Sim.. Terroristas... Ela já foi terrorista, já assaltou bancos, já fez hi-jack de embaixadores. Ela tem um baita currículo nessas tretas... É muito experiente... E sabe atirar.  Melhor o Obama se sentar com um Colt-45 na cintura. Ela é fogo na roupa..
-  Nobre colega.. Cheguei a pensar que eu estava falando com alguém de uma prisão de segurança máxima e não com o staff da presidente do Brasil... Tem certeza que não  adulteraram as urnas eletrônicas que vocês usam? O povo de vocês é flibusteiro que elege ex-terroristas?
- Ah.. Isso nem importa... Estou muito bem empregado, não tive que fazer curso nenhum de nada e estou aqui porque ela me convidou por ser de confiança. Eu fazia festinha de criança lá no meu bairro no subúrbio de Porto Alegre e para ser franco não tive muita oportunidade de aprender mais no palácio do planalto porque ela não dá jantares... Só lanches durante o trabalho e é na base da mão porque os convidados são antigos companheiros dela e um deles nem tem um dedo.  
- Sei... Acho então que vai ser difícil ela se adaptar ao nosso protocolo...
- Creio que sim... Muito difícil. È como se o Obama viesse aqui ao Planalto e ela lhe desse caranguejos para comer,sabe, com aquele martelo de madeira e...
- Nesse caso, o Obama saberia como comer, porque aqui temos king-crabs, dos grandalhões, e já vêm descascados, para não espirrar intestino de caranguejo pra tudo que é lado...  
- Então e a roupa? Que roupa que a esposa do Obama vai usar?
- Como é jantar íntimo acho que vai usar um lindo vestido rosa carmim até o tornozelo, sapatilhas porque ela é muito alta e não quer deixar as visitas desconfortáveis, e uma franja com laço como nos anos 60... A vossa presidente calça quanto?
-Quarenta e dois... Um pé de abafar vulcão... Ah... Anos sessenta., é ? Acho que nem há tempo para mandar fazer roupa para a nossa presidente. Faltam poucos dias e a roupa que ela tinha dessa época está toda furada por balas dos companheiros dela numas desavenças que houve entre eles e já nem servem. Ela só as tem ainda por recordação... Sabe... Naquele tempo não havia coletes à prova de balas... Mas aqui entre nós, ela usava culotes e dizem até que gostava muito de dar calotes... sabe?
- Sei.. bem... Estou de saída... o Obama já sabia de tudo porque nossa agência de inteligência assiste todos os dias ao vivo tudo o que se passa no Planalto, nos órgãos públicos... Você assistiu aquele filme Déjá Vue?  É assim mesmo.. Até o futuro a gente vê sobre o Brasil.. Vocês estão vendendo tudo e nós estamos de olho para comprar.
- Sei .. Entendi... Mas o Brasil não é nosso. É do povo e o povo cuida. Nós temos que ganhar o nosso pelo nosso trabalho em cuidar do povo. Claro que políticos também são povo e temos que os sustentar de forma a ficarem bem satisfeitos, senão largam o governo e fica tudo ao deus dará...
- Claro.. Claro.. Entendemos isso perfeitamente... Por isso nós da América do Norte somos um grande país... Se agíssemos igual a vocês estaríamos muito pobres  e seríamos comunistas.. Mas olhe.. Ela já não usa culotes. Se quer saber usa mesmo é cueca marca zorba só por questões de perfil psicológico para se sentir forte. Recebemos essa informação também..
- Espera.. Que palavras em inglês ela precisa aprender?
- Nenhuma... Ela já sabe dizer “Everiçin”...

E os dois se despediram satisfeitos. Ao que tudo indicava o jantar iria ser um pesadelo e teria que ser adiado.

© Rui Rodrigues




Captando o espírito de Chico Anísio e Salomé

A viagem


Alô Dilma? ... Sou eeeeuuuuu... Salomé...
.- Dor de cabeça? Mas bah, tchê... Logo hoje que eu ia te convidar para jantares comigo no dia 23... Um jantar informal, num restaurante muito famoso aqui de Porto Alegre, o Casablanca.
- Não Dilma. Casablanca não é italiano. É uma palavra espanhola que quer dizer Casa Branca... A dor de cabeça foi por causa disso mesmo? Olha, não entendi...

-Não, Dilma, não... O jantar do Obama era íntimo, de aproximação... Quase um “rendez-vous”, um “ménage a trois”...

-Não Dilma, não.. Não era para te render não, nem uma homenagem atroz...

- Não.. Não vou traduzir.. Largaste a tua tradutora sozinha lá no Panamá e não vou traduzir nada.. Vai lá apanhar a coitada e pede para te traduzir... E não te irrit...(Hi.. Irritou-se) ...

-Sei, Dilma...  Eles te espionaram.. E de que tens medo? De teus telefonemas para os ministros do Supremo Tribunal Fedegeral? Ora, Dilma... isso até a Inteligência de nossas forças desarmadas sabem disso.. Não é novidade.. Aquela correria para empatar em cinco a cinco, até parece coisa de cinema, quando sabemos que nove pelo menos estavam com vontade de mudar o placar para 9 x 2... Mas deixa pra lá... Toma um chá de Marcela para a tua dor de cabeça e solta um barroso porque pode ser prisão de ventre ou intestinos revoltados..

- Não Dilma.. Marechala ainda não existe nas forças armadas.. Eu disse chá de Marcela, aquela flor amarela dos pampas que cura dor de cabeça e outras coisas mais, e revoltados eram os intest... Mas que revolução Dilma? Parece que tens fobia de militar, tchê...

- Hi.. Desligou... Esta guria se irrita à toa... Tem um gênio difícil, suas palavras são balas de metralhadora, os seus amigos do supremo balas dum-dum que treinam nos alvos da lei, mas ela é simpática quando ri... 

© Rui Rodrigues



O prêmio Moliére de teatro





Trim... trrrrimmmm... 

Mas bah, tchê... Estou ligando para a Dilma, mas a guria ontem ficou irritada comigo outra vez por causa nem sei de quê, capaz de hoje não me atender. Convidei para jantar comigo, mas nestes últimos dias não quer jantar com ninguém... Ganhou ojeriza de jantar... Falou em jantar, sai voando as trança. Também pode ser esse problema das telecomunicações que só servem para irritar.. 

Trim... Trim.. 

- Ôi, Dilma, estou VIVA, Claro...Tchê.. Até que enfim atendeste... Sou eeeeuuuuuu... Salomé... Tua amiga.. Não aceitaste o meu convite para jantar, e ainda tive que engolir uns sapos servidos pelo STF, o Supremo Teatro Federal...

- Não.. Dilma.. Não estou te gozando... Jamais faria uma coisa dessas contigo. Nem mesmo quando eras ministra das Minas e Energia, quando se sabe que não entendes nada de minas... nem de Minas.. Só de Energia que tens bastante... Mas hoje...

- Ora Dilma... Ninguém é obrigado a entender de tudo... Nem mais ou menos, mas temos que convir que tiveste muita sorte em seres indicada pelo Dirceu ao Lula... Se não fosse o Dirceu, o Lula não te conheceria, não é? E foste ganhando ministérios até chegares á Presidência .. Mas deixa te dizer porque te estou ligando.. Posso? Não te vais irritar, tchê? 

- Então ta... Estou te ligando para te dar os parabéns... Ouvi dizer que vais concorrer ao prêmio Moliére.. Aquele de teatro... 

- AH! .. O prêmio acabou em 1994 por falta de patrocínio.. Sei.. Começou com a Air-France depois passou para a Air-France junto com a Citroen... E hoje não tem mais... É.. para tudo é preciso dinheiro, não é? Para financiar campanhas com propaganda, para ganhar votos, e quando o dinheiro acaba, acaba-se a ideologia não é? Viste a queda do muro de Berlim... Não eras nascida ainda? .. Mas bah.. Que barbaridade... Como mentes, tchê... 

- Ó.. Outro dia passei por ti na avenida Borges, em POA, e tu nem “Ó” me deu... Logo percebi que te estavas fazendo de leitoa vesga para mamar em duas tetas: Numa teta, votos do povo por acharem que és comunista, e por outro grana do governo para passares bem, não é tchê? Quem não gosta disso... Mas dinheiro acaba quando a economia for pro brejo.. 

- Não.. Não mintas nem te irrites.. Não estou dizendo nada demais, tchê.. Só queria que soubesses que em festa de rato não sobra queijo, tchê, e se nossa economia fosse um queijo, em breve acabaria que não é assim tão grande para tantas ratazanas.. Olha o STF, o Supremo Teatro Federal...

- O que tem?... (agora a guria se irritou... Está cuspindo marimbondo)... O que tem é que lobo guará perde o pêlo mas não perde o vício, e vão fazer novo julgamento... Desta vez vão livrar todos não é?

- E me diz.. Depois que livrarem os mensalistas, vais esquecer o Lula e indicar o Dirceu para presidente, tchê? São tão amigos que qualquer um...

- Hi.. Desligou... Não disse nada demais.. Vocês me desculpem dizer, chê, mas a guria está indo com muita sede ao pote e me deixa mais constrangida que padre em puteiro.. Acho que ela está mais enrolada que namoro de cobra, tchê.. 

© Rui Rodrigues

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Dor da perda de quem já não está.

Dor da perda de quem já não está.


Nascemos, aumentamos nossas dimensões em altura e largura com todas as dores inerentes ao crescimento e de repente nos vemos adultos. Até lá é quase impossível não perdermos entes queridos, amados, que muito para além dos laços construídos ao longo da vida, e a juntar-nos ainda mais a eles, existem os laços de sangue, genes gritando por uma entidade comum, anseios em comum, amores e sofrimentos em comum. Não importa a condição econômica, o lugar, os tipos genéticos, a morfologia corporal ou moral, laços de amizade e amor, dores de perdas são muito fortes e idênticas em qualquer lugar do mundo. Quase nunca são compensadas ao longo da vida.

Quando cheguei à Colômbia, e passado pouco mais de um mês, tive o prazer de visitar a Guajira, saindo de avião de Barranquilla onde se situava o nosso escritório, até Media Luna na zona do Porto, em pleno mar do Caribe. Fizemos uma reunião para que os representantes das empresas concorrentes conhecessem a área onde uma delas realizaria os trabalhos, almoçamos e de lá pegamos um ônibus alocado ao Projeto para percorrermos cerca de 150 km de estrada batida de terra até chegarmos à Zona da Mina para jantarmos. Pelo caminho visitamos lugares onde existia a possibilidade de canteiras de pedra e agregados para serem usados nos trabalhos a adjudicar. Nessa época eu ainda não imaginava que posteriormente me promovessem a Gerente de Contrato para a zona do Porto, posto máximo no Projeto para aquela zona, acima do Gerente de Construção. Sem minha assinatura não saía um tostão. Com os esforços e a dedicação de toda a equipe, o projeto total orçado em dois bilhões, setecentos e cinqüenta milhões de dólares (valores de 1982) foi completado com obras adicionais, por menos de dois bilhões e meio. Tivemos baixas nessa zona sob ameaça das FARC, as forças revolucionárias da Colômbia. Os EUA mantinham nas cercanias uma pequena frota para o caso de evacuação do projeto, o governo da Colômbia mantinha um posto do exército e uma pequena base aérea com pequenos aviões apreendidos ao tráfico de drogas cujas rotas para Miami passavam por perto, provenientes da Serra de Santa Marta. Apesar do perigo, nossas baixas deveram-se a ataques por motivos desconhecidos (dois americanos mortos a pauladas) e um grande amigo nosso cujo barco de pesca afundou no “Cabo de la Vela”.

Mas porque a alusão ao projeto e à Guajira, no contexto das dores que sentimos porque quem já não está, entre nós, presume-se?

Porque quando cheguei à região, naquele primeiro dia, vi desertos de areia salpicados de cactos, sem uma única árvore, a não ser pequenos arbustos espinhentos que me lembraram a caatinga no Brasil, porém de vegetação muito menos densa. Muito raramente, apareciam lá em baixo como pequenos pontos, pequenas sangas de água onde pessoas e cabras matavam a sede. Não se viam cavalos nem bois, apenas cabras e jumentos. O Departamento da Guajira tem um tratamento diferenciado dos restantes na Colômbia, porque seu povo é também diferenciado, constituindo uma etnia quase homogênea. A impressão que se tem é de estarmos em plena palestina, quer pelas roupas e mantos das mulheres, quer pelas dos homens que caminham pelo deserto, ladeando jumentos onde suas filhas e mulheres cavalgam sentadas de lado como as damas européias dos tempos da cavalaria romântica. Num deserto daqueles que nada dá, o que prende os seus habitantes àquela terra? Apenas a tradição, o fato de terem nascido lá, de toda a natureza em sintonia com a natureza dos corpos. O povo guajiro ama a sua terra, pertencerem à Colômbia é apenas uma contingência político-geográfica. Desde que o governo da Colômbia não interfira demasiado, a bandeira de pano não importa tanto quanto a bandeira de areias e cactos, águas e ondas, do leite das cabras, dos peixes do mar onde sob a qual nasceram e se criaram. Um executivo que conheci, nascido lá, tinha um de seus apartamentos em Barranquilla. Um dia me convidou para visitar sua casa na Guajira coberta de teto de palha, porque lá só chove de quatro em quatro anos quando chove. Paus de cactos a pique, preservavam a intimidade e segurança para as cabras e pessoas. Havia colchões para os hóspedes e redes. De uma sanga tiravam a água, alimentavam o gado. Seu traje resumia-se a um anteparo colorido e listrado que lhe tapava o sexo. Lá passava sempre que tinha um tempo livre com a mulher e os filhos, mantendo os laços com a terra, com o ar seco, com o vento, com as lebres fugidias que se viam surgir esguias por entre algum mato de folhas grossas e espinhentas.  


Perder entes amigos, gente conhecida, é triste. Quando se ama a terra em que vivemos, a amamos porque ela se identifica conosco e nós com ela, é como que perder muito mais do que os amigos. È como se fossemos árvores secas que perderam as raízes e tombam no solo inertes, olhando o sol passar no horizonte até cair a noite sem esperanças de haver outro amanhecer. Perguntei-me se, por ter nascido em zona de montanhas com cultivos e vinhas, água, neve e rio, animais de todos os tipos, num jardim à beira mar plantado e depois ter vivido, como vivo, num país varonil de encantos mil, teria a obrigação de ter mais amor por estes dois países do que o povo guajiro por sua terra, e cheguei à conclusão que não. Um índio norte-americano já dissera uma vez, descontente com a ocupação européia que lhe enterrassem o coração na curva de um rio. É o lugar, a natureza do lugar que nos cativa de forma igual. As fronteiras, traçadas em frágil papel, foram acidentes históricos provocados pela força das armas de quem as traçou, e pela ignorância e fraqueza de quem as teve que aceitar, mas no coração não existem fronteiras. E foi assim que passei a amar também mais uma região deste planeta, a Guajira, tal como amo o país em que nasci e este em que vivo, um pouco mais do que amo todos os demais deste planeta. Sentiria uma grande dor se soubesse que algo de mal acontecesse a algum deles.

A perda é como filme mudo, onde a natureza balança ao vento, pessoas passam mudas sem nos olharem, tudo nos fica alheio porque já não nos pertence, já não fazemos parte de sua natureza, de suas fronteiras, dos amanheceres e anoiteceres de dias de admiração e contemplação. Não há cheiros, choros e risos de crianças, perfumes de mulheres amadas. Isto é uma perda. A maior das perdas. A separação definitiva.

Hoje, 18 de setembro, enquanto escrevia este texto, dedicado à Guajira, a quem ama seus amigos e amigas, seu povo, sua gente, o planeta inteiro, minha amada terra brasileira dependia de um voto de um juiz para que se desse validade a um julgamento anteriormente efetuado no Supremo Tribunal Federal. Eram onze juizes, dos quais nove haviam sido nomeados pelo mesmo partido. O resultado esperado referia-se a terem ou não os condenados direito a novo julgamento. Ora, no primeiro julgamento haviam sido condenados pela maior instância do direito, o STF. Novo julgamento implicaria em admitir que teriam havido falhas no julgamento. Implicaria também no desconforto geral na nação e nos membros do tribunal, ao verem anulado seu julgamento, ao que tudo indica por distração ou incompetência. Implica também que todos os presos da nação possam exigir as mesmas regras e o mesmo entendimento para terem novo julgamento. Seja como for, a descrença nas leis é tudo o que é necessário para que qualquer país entre numa perigosa zona de descrença nas instituições, investidores estrangeiros retirem seus capitais, fábricas fechem e se transfiram para outros países, a fronteira entre a ordem e o caos seja ultrapassada: Os primeiros estertores de uma morte anunciada de uma nação, a separação de familiares e amigos.

Hoje, 18 de setembro, procurei pelo Brasil e encontrei outra nação. Não acredito que possa amá-la como a amava antes, enquanto usurpadores continuarem na posse do mando, esgrimindo leis como se fossem armas de destruição em massa. Continuarei amando o povo, a natureza, as cidades, os campos, mas não estou certo de continuar amando o que lhe falta para completar a região como uma nação. Há muito os índios já pensam como eu. E não só o povo índio. Há muitos que pensam como eu e nem nisso estou sozinho. Procurarei amigos entre os descontentes.

E nem sei se tenho forças para animá-la, à Nação, e dizer-lhe: - Vamos, Nação... Ânimo... Estávamos a um passo de sermos o Brasil do futuro e quase no final do presente voltamos nossos passos para trás, para o passado?



© Rui Rodrigues