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quinta-feira, 31 de maio de 2012

AS CPIS DO MENSALÃO E DO CACHOEIRA,




AS CPIS DO MENSALÃO E DO CACHOEIRA,
E uma possível crise institucional.


Um amigo meu um dia me veio com esta: Eles ficam preocupados em matar formigas olhando para o chão, enquanto atrás deles passam manadas de elefantes...

Esta frase faz parte da diversidade de meus pensamentos vivos. É uma autêntica fauna, mas esta, em particular, carrega a carga genética dos pensamentos que nos despertam a atenção para o que realmente é importante, o que interessa.

É o caso das CPIS do Cachoeira e do Mensalão. Na NET assisto todos os dias a milhares de postagens de ambos os lados da polarização da moral e da ética: os da esquerda defendem o Mensalão, atacando a Cachoeira, os da direita atacam o Mensalão, defendendo a Cachoeira. Tratando-se de casos de justiça, deveriam, no meu entendimento de democrata participativo, unirem as suas forças num monopolo em torno da moral e da ética, e, portanto, ao lado da justiça.

O fato de defenderem o indefensável é preocupante, e se de um lado nos preocupamos com os conceitos que a moral e a ética possam adquirir no fogo ardente de corações partidários, preocupamo-nos também com a possibilidade de acontecer o mesmo com as CPIS, mas enquanto lá há divisões, aqui talvez não. Talvez haja acordos como aqueles da troca de espiões, do tempo da guerra fria, decidindo-se nos bastidores dos partidos, quais indiciados serão inocentados e, portanto libertos, os que serão isentos até de indiciamento, e os que serão abatidos no campo de batalha fictícia. Parece que estamos num rodamoinho social e institucional.

Não são as galinhas que sujam o pau de galinheiro, porque para elas, o pau está sempre como deve estar, e não conhecem o conceito de “limpeza”. Nós é que sujamos as mãos ao passá-las em paus de galinheiro...

Se pudéssemos atribuir nossos votos dados em confiança e, da mesma forma retirá-los, o assunto já estaria resolvido para os cidadãos, enquanto estivesse em curso a limpeza do galinheiro.

Rui Rodrigues.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O Brasil que gostaríamos de ter e a curva de Gauss




              O Brasil que gostaríamos de ter e a curva de Gauss 



Nunca algum governo agradou a todos os cidadãos da tribo, do reino, do império ou da república.  O grau de aprovação ou rejeição dos governos avaliava-se no passado, por informações verbais, com a intenção de coibir qualquer manifestação contrária que pudesse por em risco a manutenção da ordem ou do próprio governo. Em regimes fortes e ditaduras –todos são ditatoriais em maior ou menor grau de reconhecimento – a preocupação é esta. Em regimes democráticos fazem-se pesquisas de opinião de forma a poder determinar o mais exatamente possível como se distribuem as várias opiniões no sentido de buscar o seu atendimento e assim manter ou angariar mais cidadãos como simpatizantes do Partido que governa ou que concorre a eleições. Esses resultados são computados e traduzidos numa curva chamada “curva de distribuição de Gauss”. Basta olhar para essa curva para vermos o grau de sucesso ou do desastre de um candidato, de um partido, de um governo, ou de uma nação.

Nunca nos perguntaram que Brasil gostaríamos, nós cidadãos, de ter. Em decorrência, não podemos saber as respostas oficiais, reais. Mas podemos imaginar não só “o que queremos”, como também “o que não queremos”, independentemente de cor política, situação financeira, sexo, religião, grau de instrução, numa hipotética pesquisa realizada num universo heterogêneo representativo da população e da regionalidade brasileiras. Vejam se concordam com esta imaginação limitada a alguns aspectos tão simples como as funções do corpo humano, e imaginem se, no caso de ser feita uma pesquisa ou votação popular, não obteríamos pelo menos uma aprovação de 70% da população:

Universidades e escolas grátis para todos os cidadãos, pagas com os impostos exorbitantes que o Estado recolhe e distribui de acordo com as pressões dos políticos que representam seus partidos. A gestão será efetuada por três comissões: a dos alunos, a dos pais e a do governo, com igual peso e poder.

Implantação de Centros de Pesquisa para alunos selecionados de forma a poder suprir a nação - com tecnologia comum e de ponta - as necessidades do mercado, da saúde e da segurança nacional. Assim se evitaria a compra de aviões de guerra que logo ficarão obsoletos se já não o são, submarinos nucleares, porta-aviões velhos e decrépitos, pagamento de taxas por uso de tecnologia de terceiros em remédios, automóveis, equipamentos cirúrgicos, rádios, televisões, computadores.

Saneamento básico em todas as localidades, com água potável, energia elétrica, rede e usinas de tratamento de esgotos, rede de águas pluviais.

Postos e hospitais de saúde pública de qualidade, dimensionados em função da população local que deve atender para evitar mortes em filas de espera, médicos que têm dois empregos e não estão disponíveis para atendimento, fiscalização para evitar desvios de materiais.

Fiscalização vigiada e adequadamente dimensionada para garantir as áreas demarcadas como de conservação ambiental e recursos hídricos.

Até mesmo com o índice de analfabetismo existente em nosso país, e com deputados ou senadores que necessitam de um exame para verificar seu grau de alfabetização teríamos certamente uma bela curva de Gauss mostrando que 80% da população, senão mais, considerariam estes aspectos como fundamentais para se considerarem cidadãos felizes, satisfeitos em contribuir com seus impostos, ainda que exorbitantes e altos.

Mas para isso têm que perguntar. A resposta pode ser obtida de imediato, em menos de 24 horas se o fizerem pela NET. Mas nunca o fizeram, e não o fazem de forma “oficial”. Talvez tenhamos que modificar nosso foco de visão, e, em vez de nos preocuparmos com o que nos fazem, nos preocuparmos com o que não nos dizem, não nos perguntam e não nos fazem.

Talvez mesmo os sistemas que já conhecemos no passado e nas democracias atuais – todos eles – devam ser substituídos por um outro, novo, em que o cidadão tenha todos os dias, sem exceção, como quem escova os dentes, uma palavra a dizer, pelo voto, na construção do Brasil que queremos.

Rui Rodrigues
Escrito especialmente para o grupo Geopolítica.-FB

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os típicos tipos do FB


                                                    
                                                        Os típicos tipos do FB


Antigamente, há muitos anos atrás, rapazes e meninas saíam à tardinha para fazer o “footing”, isto é, a caminhada pelas calçadas na parte mais movimentada da cidade, para se mostrarem e poderem ser notados ou notadas. Vestiam-se as melhores roupas, mesmo emprestadas, os melhores perfumes, cabelos alinhados, sorrisos discretos ou abertos. Uma mostra na vitrine da cidade, uma tentativa de arranjar novos relacionamentos, quem sabe um casamento. Normalmente não era essa a imagem de cada um, ou de cada uma, no dia a dia, mas era preciso mostrar a melhor imagem possível – ou a mais descarada – para impressionar quem passava. Naqueles tempos algumas mulheres usavam até sutiãs com enchimento para dar mais um “volume”, e algumas ainda usavam espartilhos e cintas para adelgaçar a silhueta. A falta de respiração era muitas vezes entendida como um desejo quase irreprimível de elas se lhes lançarem nos braços. Muitos namoros e casamentos acabaram justamente porque no vestibular do relacionamento, muitos e muitas não passaram. Alguns usavam enchumaço na bragueta.

Os tempos mudaram e veio a “balada”. O mundo escancarou. A filosofia de vida é mais franca. Muito mais. Na balada a imagem é “estou aqui, estou a fim, sou assim mesmo. Vai nessa?”. E veio o FB.

FB não é a sigla do FBI à qual tenha caído a letra final. Mas tem muito de FBI, se atentarmos para alguns detalhes, a começar por nos querermos meter na vida dos outros e das outras, tentando descobrir os seus íntimos, as suas preferências, as suas tendências, se mente ou não, se está a fim ou não, se é crente, mais ou menos, complacente ou curte uma devassidão.  Como representatividade de uma sociedade humana, é pasto fértil para psicólogos de carteirinha, de plantão, ou dos que se acham. Os verdadeiros, calam, apreciam, vão na certa, ou constroem teses.

É também um baile de coreto, um baile de gala, uma balada, um centro de AAA – Auto Ajuda Anônima. Uns reclamam, outros gritam, alguns gemem, suspiram, riem, meditam, amam, execram, pescam, namoram, beijam, abraçam, ou exercitam os dedos apertando um só botãozinho: o de curtir. Ainda tem os que não dizem nada, só olham, e os que garimpam o que se espalha pelas postagens.

Tudo isso é muito normal. Somos nós como somos. E existem outros tipos que, também, absolutamente normais, têm características mais diferenciadas, como, por exemplo, os que gostam de cutucar. Nunca sabemos o que significa a cutucada, mas também ninguém pergunta. Cutuca-se para cá, cutuca-se para lá, e fica-se nisso anos a fio, sentindo uma vontade danada de dar uns “amassos” a quem nos cutuca, mas mantendo a linha para não perder a amizade.

Mas há outros tipos ainda.

Os crentes extremistas que não querem saber de conversas e afirmam com toda a convicção que é assim mesmo - e pronto - só lêem o que lhes interessa e quem diz o contrário do que pensam é descrente ou burguês, ou reacionário, ou comuna. O seu mundo é o mundo que deve ser e assim tem que ser mesmo que o mundo prove que não é nada disso que lhe interessa, que o que quer é liberdade, tudo pago, tudo fácil, tudo parado, sem se mexer, orando todos os dias, pagando impostos altos mais os dízimos, aceitando a corrupção como coisa normal, corriqueira e aceita, muitas baladas, muitas promoções, notícias leves na TV, nos jornais, nada de complicações, o seu céu na terra, a sua ideologia em bandeiras pelos ares. Nada de sair para as ruas para reclamar. Como está, está bom de mais, e se ficar melhor estraga.

Há os que não têm mais nada para fazer. Continuam não fazendo nada no FB. Clica aqui, clica ali, dá um curtir, come mais um biscoito, arrota e toma um refrigerante para arrotar mais, fechando a tubulação arrotativa com mais um biscoito. Há não... Estes não molham o biscoito nem elas dão o café com leite para que o biscoito se molhe todo.

Outros e outras nem colocam fotos para não chamarem a atenção. Nunca se sabe quem está por detrás de uma imagem sem foto personalizada, nem se a foto é do – ou da -responsável pelo perfil. São os fantasmas do FB que tanto podem ser camaradas como companheiros como diabos que vestem Prada, como Jack o Extirpador, ou mesmo algum presidente disfarçado. O Jô Soares jura que não tem nenhum perfil no FB, mas todos duvidamos disso.

Os arautos são sensacionais, como todos descritos até agora. Cedo, ainda de madrugada, levantam-se “pé-antepé” para não acordar a casa, nem o papagaio nem o cachorro, e vão garimpar as notícias do dia. São os primeiros a avisar das últimas e recebem os dois ou três cliques habituais de que viram, mas não leram. Aliás, o maior número de usuários é exatamente o dos que nem clicam, seguidos dos que clicam e não lêem. Não lêem nada. Só os títulos e as duas primeiras linhas. Os comentários ficam para eles mesmos, sem som ou imagem que nos chegue.

A maioria nunca foi a coreto e está largando as baladas para féicebuquear. Como propaganda é a alma do negócio, todos nos afirmamos pelas qualidades que pensamos ter, todos ocultamos os defeitos que sabemos ter, deixamos nossas pegadas nesta estrada virtual do FB que se move ao longo do tempo, na esperança dos paleontólogos do futuro venham a escavar e nos dêem, finalmente, o crédito póstumo que merecemos.

Então vamos todos féicebuquear antes que venha um novo site de relacionamento diferente, cheio de novidades novas. Nada de velhas novidades que abalaram os coretos da balada.

Rui Rodrigues. 

sábado, 26 de maio de 2012

Pensando na vida que proibem


                                         

                                                Pensando na vida que proíbem

Estava aqui a pensar na vida de quando tinha automóvel (sempre tive automóveis, muitas vezes o carro do ano), e de como tenho que ter cuidado com o acelerador (sempre bem calibrado) para não apanhar multas. Fazem os carros para andarem a 300 km /hora e multam a partir dos 120 (só nas estradas). Se não se pode andar a mais de 120 km /hora, que façam os carros com motores mais baratos para essa velocidade. Ou seja, pagamos motores caros para transitar como se tivéssemos motores baratos. Como o planeta precisa economizar, podem começar por aí. (mas acho que não são os governos que mandam. Deve ser alguém que precisa de dinheiro das multas). Meu filho, saindo de casa de bicicleta, chegava duas horas mais cedo no escritório do que eu. Trabalhamos juntos. Ele ia de bicicleta e eu de carro. Hoje vamos a pé, porque atropelam muitos ciclistas. Nossa educação viária não é nada evoluída.   

E pensei nos cigarrinhos que eu fumava. Proibiram e me envergonharam de tal modo que passei a fumar em casa, escondido, como se fosse um drogado em último estado de “delirium tremens”. Está certo que faz mal à saúde tanto quanto o ar poluído por veículos (aqueles que andam a maior parte do tempo a 40 km /hora que nem o trânsito engarrafado permite ir a mais, e se formos, multam...) E ainda subiram o preço dos cigarros, acabaram com a economia de Cuba que vendia charutos de luxo, acabaram com as famosas tabacarias. Alguém deve ter partido para o tráfico de drogas quer como fornecedor, quer como distribuidor, quer como consumidor. Pensei em fumar um baseado, desisti. Ser preso, amassado numa cela com os piores criminosos por causa de um baseado inocente é dose. Ainda podiam me deflorar por trás. E acho que o governo não manda tanto quanto desejamos, porque alguém manda mais. Alguém que está precisando de dinheiro e aumenta o imposto sobre o tabaco e permite a venda de drogas sem pagar imposto.

Solteirão, ou arranjo logo uma namorada ou terei que apelar para uma sex-shop, porque proíbem a prostituição. Quando não proíbem, vêm com tão maus olhos que fico envergonhado e não gosto de passar envergonhado na rua. (quem sabe até comprar uma bonequinha self-service daquelas japonesas que não falam mas fazem tudo e têm tudo perfeito. Como custam o preço de um automóvel, talvez seja melhor alugar mensalmente, mas parece que bonecas japonesas não se prostituem: cada dono tem a sua, não empresta, não aluga, dá tiro se alguém a leva emprestada por um dia...).Nem pensei em ser homossexual, porque apanham tanto que desisti. (não gosto de apanhar). Acho que o governo manda pouco e os fabricantes de bonequinhas e outros apetrechos se aproveitam de sua inocência (do governo, claro).

Pensei em tomar umas cervejas, mas estava na Inglaterra e só depois das 7 da tarde, e antes das 6 da manhã. Se fosse nos EUA poderia desde que a garrafa estivesse dentro de um saco de papel, mas sou ecológico e não é justo derrubar árvores para encobrir garrafas. A lei seca nos EUA acabou Agora existe a lei úmida de papelão).
  
Pensei em reclamar uma porção de coisas do governo, mas eles (os do governo, claro) escutam, anotam, recebem reclamações mas não atendem nada. (Fingem que não escutam, que perderam as anotações que nem as receberam).Proíbem-me de ser ouvido.

Tive que entrar para a igreja aqui do bairro, mas vou pouco lá (não posso dar cinqüenta paus toda a vez que vou ao templo. Entrei por pressão da sociedade. Se não entro, o bairro todo me olha sutilmente diferente. Senti-me proibido de não aderir). Devia haver uma lei para reduzir o dízimo para digamos... O víntimo! Assim sobrava mais uma graninha pro arroz e pro feijão, e pro leite das crianças. Proíbem-me de assistir gratuitamente às prédicas do templo e para ir para o céu tenho que pagar.

Antigamente havia urinóis espalhados pela cidade, mas acabaram com eles. Então passei a usar as casas comerciais na hora do aperto. Com a clientela do mijo, que entra nos bares, não consome nada, gasta água da descarga, agora começaram a dizer que o banheiro está entupido, que acabaram de passar água sanitária, que está em obras. Com a bexiga apertada, já fiz duas vezes nas calças e duas na mochila. Ônibus municipais não têm banheiro mesmo quando a viagem dura mais de uma hora. Desconfio que querem me proibir de mijar. Isto não sei a quem interessa nem para que serve, mas proíbem talvez por sadismo. Não arrecadam nada com o sadismo, mas têm o prazer de proibir. Deve haver uma indústria do proibir. E em todos eles lá está: Proibido jogar papel no vaso. Porque não usam torneirinha?

Na NET, nem pensar em copiar imagens, baixar filmes, músicas, sem pagar – e não é barato. Proíbem tudo na NET e o sinal da Vivo, da oi, da Tim, da Claro não é sinal, é bip de Sputnik. Pagamos uma grana alta e dão-nos bips. Proíbem assim o acesso à Internet porque depois de dois minutos esperando para mandar o e-mail, a maioria levanta da cadeira e larga o computador falando sozinho. O acesso á Internet é livre, mas vai usar para ver se pode!...

Antigamente jogava-se em cassinos. Eram mais honestos e podíamos jogar. Proibiram os cassinos mas não o jogo (eles , os do governo, claro, dizem que proibiram o jogo, mas é mentira... existe uma catrefada deles com chances de um para muitos milhões, que são aprovados. Parece existir um novo conceito para o que é jogo honesto, que desconheço). Como não tenho alternativa, sou obrigado a jogar nas “raspadinhas”, nas senas mini ou mega, nos jogos de futebol em que árbitros trocam o nome da mãe. Havia um jogo de rua que era muito divertido por ter uma porção de bichos. Publicavam o resultado no poste. Acabaram com esse jogo e o transformaram em contravenção. Proíbem-me de jogar exatamente os melhores jogos de sorte e me obrigam a jogar nos jogos de azar. Alguém por aí, que desconheço (só pode ser o governo), seleciona quem lhe paga e quem não paga muito (por que todos pagamos alguma coisa para o governo), e em função disso, lavra a lei.

Outro dia fui ao Banco e esqueci a senha. Veio uma moça muito simpática para me ajudar no caixa eletrônico. Um sujeito que estava por perto ouviu a minha conversa com a moça, usou o celular e na saída me assaltaram. Não havia nenhum guarda de Banco do lado de fora para me defender. Só do lado de dentro para defender o Banco. Sinto-me proibido de acreditar em alguém e muito menos no Banco. Foi no Itaú!

Deve haver uma multinacional que vende proibições, porque é sempre o mesmo em toda a parte para onde vou. Não permitir é o mesmo que proIbir. Não disponibilizar, é o mesmo que proibir.

Rui Rodrigues

sábado, 19 de maio de 2012

A trabalho em Angola - 1990- 1993





Em 1990 trabalhava como gerente geral de uma empresa em Lisboa  a SPRI- Bralusango, que tinha interesses comerciais diversos em Angola.  Eu tinha que ir lá pelo menos 90 dias por ano. Nesse ano especificamente, a luta entre a FLNA e a UNITA de Jonas Savimbi ainda estava em plena atividade. Os soldados cubanos já não eram necessários e estavam de saída com suas máquinas de guerra pintadas, reluzindo como novas alguns diamantes nos bolsos dos soldados, armas lubrificadas como novas.  Aviação da África do Sul atacava esporadicamente e nesse ano não atacou duas vezes. Tínhamos alojamentos ao lado do de uma empresa do Brasil – Furnas - onde encontrei um primo de minha ex-mulher e um antigo colega de Universidade que assumia também como gerente geral na assessoria de construção de uma enorme Barragem: Capanda. Destinaram-me um quarto num apartamento da companhia, do qual declinei por achar que seria melhor o contato diário com o meu pessoal.

Dois dias depois de chegar a Angola, dois técnicos estavam no hospital. Um deles salvou-se, o outro faleceu num ataque relâmpago de febre amarela: tomara a vacina apenas dois dias antes de sair de Lisboa.

Como tinha que viajar à cidade do Namibe – antiga Moçâmedes – para avaliar a reforma do Grande Hotel da Huíla e a possibilidade de outras obras, marcamos o vôo  para um domingo às sete da manhã. Teria tempo suficiente para conversar com o nosso staff que residia na cidade e se possível fazer alguns contatos.  Sexta feira porém, logo pela manhã, em conversa com o dono da Empresa, resolvi viajar segunda feira. Ele tentou demover-me da alteração, mas expliquei que ainda havia trabalho para fazer no sábado. Descansaria domingo e como o vôo chegaria às 8:30 á cidade do Namibe, teria tempo para estar nas repartições públicas ao abrirem. Então me convidou para comer umas lagostas em sua casa na ilha de Luanda no domingo. E fui. Lá estava eu na praia esperando a lancha, quando a vi vindo em minha direção, o Dr. Graça Oliveira brandindo um jornal na mão e rindo.

Ainda na lancha ao aproximar-se me perguntou se eu tinha lido os jornais. Disse-lhe que não. Rindo deu-me um grande abraço e disse-me:

- Sabe, sr, engenheiro? O avião em que o sr deveria estar hoje de manhã, foi abatido por um foguete da UNITA. Não se salvou ninguém...

Comemos as lagostas, falamos sobre outras coisas e quando me levou de volta à praia, já sabia que segunda-feira iríamos de automóvel: Eu, dois engenheiros e um técnico de arquitetura. Tive que lhes explicar que entre apostar em avião e carro, preferia o carro que estava sob meu comando. Avião não. E com “salvo conduto” lá fomos nós, manhã cedo. Uns rezando entre dentes, um tremendo, e outro assobiando. Todos éramos casados, tínhamos mulher e filhos.

Chegamos à Serra da Chela pelo meio da tarde. Não vimos pelo caminho nenhum posto de guarda, nenhuma patrulha. Somente alguns autóctones, raros, que saiam da selva, onde havia, para ver aquele citroen branco, com embreagem de alavanca, passar zunindo como o vento pela estrada empoeirada.

Quando chegamos ao Hotel, o gerente olhou para nós admirado, e nos contou que na estrada em que passamos, um pouco antes da subida da serra da Chela, dois carros tinham ido pelos ares e 11 pessoas haviam morrido... Quando retornei a Luanda uma semana depois, a rota da TAAG já tinha sido alterada: os aviões iam e voltavam a Luanda por uma rota em “U” caminho do mar. Jonas Savimbi não tinha marinha. Voltamos de avião.

É evidente que pelo custo benefício, com tão alta taxa de risco eu não podia ser valente todos os dias.  Pedi demissão em meados de 1993 e estou aqui para contar a história em 2012.

Rui Rodrigues

Porque a crise mundial não termina antes de 2018.



Porque a crise mundial não termina antes de 2018.
(Oxalá não seja antes de 2028)





Há séculos, centenas deles, que se sabe que quem tem dinheiro são os Bancos. Eles que sempre tiveram dinheiro.

Quando em 2008 os banqueiros foram aos governos para lhes pedir dinheiro porque estavam passando por uma situação “difícil”, os cidadãos deste planeta pasmaram... O seu dinheiro de impostos estava sendo “emprestado” de pai para filho pelos governos, o pai, aos seus filhos banqueiros, que não sabiam lidar com o motivo principal de sua existência: o dinheiro.

Tão absurdo isto parece ao mais distraído cidadão, que aos poucos o povo começou a ganhar as ruas em protestos.

As empresas que analisam a liquidez dos bancos, vieram a público para desvalorizar a liquidez dos Bancos, e por tabela dos respectivos países onde atuam. Isto só contribuiu para o descrédito no sistema política x economia x bancos.

Sabe-se que existe corrupção em todo o planeta, mais nuns menos noutros, e certos governos têm maior ou menor capacidade de administração. A Islândia foi o primeiro país a estar à beira da falência devido à crise. Não se tratou de capacidade de administração nem de corrupção. Simplesmente pelo total reduzido de capital de giro proporcional à população e sua capacidade de gerar dinheiro, qualquer flutuação no mercado poderia gerar uma crise interna. Em 2008 não houve apenas uma flutuação, mas uma crise muito grande, com influência global. Seguiram-se Espanha, Grécia, Portugal, Irlanda, como os mais afetados: gastavam mais do que podiam. A Grécia está hoje no centro das atenções, porque não consegue formar um governo que atenda simultaneamente ao mínimo que a população pode suportar e a obrigação de pagar os empréstimos ao FMI e ao Banco Central Europeu.

Mas apenas a Grécia?

Na minha opinião, não. Com a crise instalada, o consumo interno diminui por falta de dinheiro. Os serviços públicos diminuem de eficiência por falta de verbas. Lentamente, dia a dia, a situação se agrava. Novos empréstimos serão necessários porque os Bancos, em plena crise, retêm o dinheiro que para de circular. Empresas fazem o mesmo, e os governos temem criar novos impostos. Outros países passarão pela “síndrome da Grécia”

Estamos como peixe encurralado numa armação de pesca... Falta de dinheiro gera diminuição de consumo, que gera falta de empregos, que gera diminuição das importações, que gera diminuição dos preços ao consumidor, que gera diminuição de recolha de impostos...

É um ciclo crítico.

O que hoje se passa na Grécia se estenderá a Portugal, Espanha, Irlanda e demais países da União Européia e por tabela aos países em desenvolvimento que terão de reduzir suas exportações, e vender mais barato as matérias primas que exportam.

Quanto tempo demora então para voltar à normalidade? Melhor ainda: O que fazer para voltar à normalidade?

Esta é a segunda vez na história recente que acontece uma crise deste tipo: em 1929 que só terminou com o inicio da segunda guerra mundial, em 1939. Terminou realmente em 1945, porque a guerra em si já era produto da crise de 1929. Para que uma crise termine é necessária a retomada de confiança do mercado. O mercado não pode retomar a confiança por decreto.

É necessário tempo para o mercado acalmar e a confiança ser retomada. Estamos, pelos vistos, numa primeira fase da crise que começou em 2008. Quatro anos passados, a União Européia está num processo de agravamento de crise, com governo atrás de governo caindo e sendo substituído por outros que, tal como eles, não podem resolver por si a situação, pelos problemas enunciados que dependem de “mercado”.

Quando a economia mundial regredir a níveis que permitam menores salários, menores níveis de consumo, menores lucros, então poderá voltar a crescer. O crescimento da economia global, tal como a altura média da população, tem limites. Não pode crescer indefinidamente como crêem os que apostam na bolsa...

A economia mundial estava inchada, gorda, concentrada na camada de gordura da pele bancária e das mega-empresas, que ditavam aos governos o que desejavam que fizessem. Os governos fizeram, mas exauriram a confiança de todos e deles mesmos.

Temos agora uma crise econômica e uma crise política em que o próprio sistema está em xeque...

E tudo isso não se conserta até 2018...  E 2028 parece uma data mais provável... Até lá escutaremos arautos de governos anunciando boas novas que de velhas já conhecemos como limitadas. Mentirão. Até que sintamos que falam a verdade, a crise continua por falta de confiança...

Rui Rodrigues

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A Lenda dos meninos do Castelo de Fornelos

                                 
                    
                                   A lenda dos meninos do Castelo de Fornelos


Em 1740, Fornelos era uma vigararia, com algumas casas e uma Igreja em construção, fundada por um grupo de 11 moradores.
Em março de 1809 já era uma vila com bastantes e assenhoreadas casas cercadas por vinhais de boa cepa. A população bastava-se por si mesma. Cuidava das suas plantações de batatas, hortas, criavam borregos, cabras e bois. Almocreves passavam de quando em vez e traziam novidades que não se fabricavam por lá. Também lá ia uma senhora de rosto manchado, xale e um grande avental, que vendia peixe salgado do mar para que pudesse resistir. O mar ficava muito longe, lá para os lados do Porto e Vila Nova de Gaia. Os peixes chegavam a Peso da Régua em lombos de burros. A valente senhora fazia o percurso de Santa Marta até Fornelos para vender o seu peixe, cujo cheiro não era comum por aquelas bandas. As crianças corriam para assistir á venda no largo da Nogueira, junto à fonte, para ver como eram grandes aqueles peixes. Normalmente ela trazia arraias e sardinhas, uns cachuchos, umas sardas.
Durante todo o dia 12 de março não se falava em outra coisa que não fosse a iminente invasão das tropas francesas. Napoleão já tinha invadido Portugal uma vez e agora o fazia pela segunda vez. Na mitra da aldeia reuniram-se os anciãos aos jovens para decidirem o que fazer no caso das tropas passarem por lá. Esconderam o que puderam ao pé de árvores conhecidas, mas as garrafas de vinhos de todos os anos que haviam passado, testemunhos de boas colheitas, essas dariam muito trabalho para esconder. Ficariam nas adegas subterrâneas das casas. Mulheres e crianças ficariam na Igreja a orar. Os mais velhos ficariam na escuta e na observação. Os mais jovens pegaram em seus bacamartes, velhos arcos e bestas e postaram-se na única entrada da aldeia, na estrada que a ligava a Santa Marta. Essa estrada ainda existe. Essa era toda a força de defesa que Fornelos poderia ter. Não havia um castelo onde se refugiar, guarnição do exército, nada. Mas se os franceses chegassem até lá, poderiam até entrar, mas muitos jamais sairiam. Isso poderia ser de grande ajuda para os expulsar do território. Quanto mais se enfraquecessem as forças de Napoleão, melhor seria. O Rei, D. João VI, de título “Rei de Portugal Brasil e Algarves” até se tinha mudado para o Brasil, um dos reinos, para evitar que a invasão fosse consumada, pois que para vencer, naqueles tempos, não era suficiente invadir. Havia que se prender, derrubar o Rei, como ainda hoje se faz nos jogos de xadrez. D. João VI não lhes deu esse prazer e tornou-lhes a vitória impossível, porque para o apanharem teriam que viajar até o Brasil e enfrentar a esquadra portuguesa juntamente com a inglesa, a rainha dos mares.
Mário, Afonso, Pedro, Adalberto e Otílio eram crianças entre os 12 e os 16 anos. Foram para a Igreja com os outros, mas logo entre cochichos resolveram que o melhor era ir ajudar os mais velhos. Sorrateiramente evadiram-se da Igreja e foram apanhar as suas fisgas. Uma fisgada no olho de um francês tinha que causar algum estrago. A noite estava fria, chuvosa, Em noites como aquela, em outros tempos, seus pais, mães, algumas avós, costumavam contar-lhes histórias enquanto tomavam um leite quente de cabra, com migas de pão. As histórias terminavam sempre quando já estavam aconchegados com os pés quentes por uma botija de água aquecida no lume das brasas da lareira. Naquele frio, fora da igreja, muitas histórias passaram pela cabeça dos cinco pequenos amigos.  Seu temor era imenso naquele negrume da noite fria. Começavam a tremer sem saber se era do frio ou de medo. Certamente tremiam pelos dois motivos. Tinham certeza e imensa fé de que poderiam ajudar a salvar a aldeia se preciso fosse. Pararam e de mãos dadas, fizeram um pequeno circulo e rezaram a Deus.
No meio da oração, Afonso, o mais novo, perguntou aos outros;
- Olhem lá... Como é Deus para lhe podermos rezar de forma a que ele nos ouça? Não podemos rezar sem sabermos como ele é. Podemos enganar-nos e rezar ao deus dos franceses e ele não  vai nos ouvir.
- Minha mãe reza a Jesus - disse Pedro, o mais novo - Estou justamente a pensar nele.
- Mas ouvi dizer - atalhou logo o Adalberto – que existe também o Buda, o Alá e outros.
- É sim! – concordou Otílio – Então deve haver outro Deus maior ainda e mais forte que será o chefe deles. Vamos rezar-lhe que é mais seguro.

E completaram a oração. Logo em seguida começaram a ouvir dois tipos de ruídos. Eram fortes chiados de rodas e passos fortes de botas que vinham dos montes, misturados ao som de ferraduras de cavalos ao bater no chão pedregoso dos montes ao redor da vila. De outro lado, no cimo da aldeia, lá no cimo, para os lados do cemitério, um som mais parecido com um longo e forte silvo grave, abafado. Imaginaram logo que o chiado era de rodas de canhões, acompanhados de soldados armados e cavalaria. Estavam perdidos. Na igreja logo souberam que uma força de Napoleão se aproximava da aldeia e eram muitos a julgar pelos sons. Na aldeia os mais velhos podiam contar quantos cavalos eram, quantos homens, quantos canhões, porque estavam habituados aos sons que vinham de cada monte. Calcularam uns cinqüenta homens, e vinte cavaleiros com um  canhão e 12 carroças. Não era o exército de Napoleão. Seria uma força que se desgarrara do exército principal para conseguir mantimentos para o corpo de invasão.
Olharam então para trás.
Havia um castelo enorme lá no cimo da aldeia. Não havia uma só luz acesa. Era um monstro imenso. No alto tremulavam a bandeira inglesa e a portuguesa, que colhiam reflexos que passavam entre uma nuvem e outra na noite escura,
Parecia um imenso fantasma. Em cada ameia, imponente, a figura de um rei português desde D. Afonso Henriques, o fundador, até D, João VI. Todos já mortos menos o último que estava no Brasil. Podiam reconhecê-los pelas figuras que tinham visto na escola, uma casa alugada onde a professora esquentava suas belas pernas no braseiro. Todos já se tinham oferecido para ir apanhar o braseiro e colocá-lo demoradamente aos pés dela, debaixo de sua grande mesa. Ouviram também comentários, com todo o respeito, vindos de homens solteiros e também dos casados da aldeia, coisa que nem se atreviam a comentar para não levar uns tabefes. Chegavam a ir para o alto do rio, escondidos entre as moitas, na esperança de vê-la a lavar roupa e sair para abrir o milheiral. Ás vezes era assim. Quando alguma mulher ia para o meio do milheiral, logo do outro lado o milho se abria como por encanto e as duas trilhas se uniam lá no meio. Mas nunca viram a bela professora lavar roupa e muito menos ir para o meio do milheiral.

Correram para a Igreja e aos gritos avisaram quem lá estava. Os homens que estavam mais perto logo se deram conta também e todos correram esbaforidos, rua acima, a caminho do castelo de Fornelos. Ainda era um bom caminho a percorrer cheio de fragas roliças que faziam escorregar. Cada um com sua fisga e um monte de pedras nos bolsos, os cinco pequenos lá foram, correndo o tanto que podiam. Volta e meia escutavam uma imprecação dos mais velhos que se repetia amiúde:
- Ora esta, carago... Um Castelo em Fornelos, caneco!...
- E os franceses, esses safardanas, estão a vir ou estão ainda a monte?
Quando chegaram ao Castelo não viram ninguém. Não havia um rei sequer nas ameias nem na torre de menagem.  Nem bandeiras. Nem castelo havia. Era apenas uma sombra que se dissipava entre o nevoeiro da manhã. A chuva parara. Incrédulos, apuraram os ouvidos para escutar se havia movimento dos franceses. Nada. Só se ouvia o piar de cotovias, tordos, pintassilgos. Quando chegaram à aldeia, os primeiros alvores do dia haviam feito o céu brilhar como dantes.
Quando chegaram ao largo da Nogueira, quase na saída da aldeia, viram um soldado francês embriagado. Tinha nas mãos uma garrafa de vinho tinto, da safra de 1808, do ano anterior, praticamente vazia. Trocava as pernas apoiando-se num bacamarte. Ao vê-lo, Abílio, o mais velho, apanhou a sua fisga. Rapidamente atirou-lhe uma pedrada que bateu na testa do “chausseur de Fischer”, tipo de unidade francesa da guerra peninsular conhecida como “caçador”. Em vez de gritar em francês, o homem soltou uma imprecação bem conhecida, com uma voz inconfundível.
- Malditos franceses, carago!
Era o Américo, homem de posses e já meio passado na idade, que gostava de entornar uns copos. Tinha ficado porque já estava mal das pernas e cansado. Vestira uma roupa velha do exército francês ainda da primeira invasão para passar desapercebido. Aproveitara a ocasião para entrar numa adega e tomar os últimos copos de sua vida, Nenhum francês entrara na aldeia.

A caminho do Porto o marechal francês Nicolas Jean de Dieu Soult perguntava a seu oficial de campo onde estaria aquele destacamento que destinara para assaltar as aldeias e trazer mantimentos. O oficial informou que esse se perdera e não tinha notícias. Haviam desaparecido.
Na aldeia, os garotos comemoravam a façanha. Haviam pedido desculpa ao Américo e até haviam ajudado a fazer-lhe o curativo no galo que lhe parara de crescer no meio da testa. Por pouco não lhe batera no olho. Homens e mulheres comentavam sobre o lindo castelo que aparecera e desaparecera numa única noite.
Orgulhosas, as crianças comentavam os acontecimentos entre si. Disse o Otílio:

- Estão a ver? Que grande pedrada. Se fosse um francês eu tinha acertado. Palavra que tinha!. Sabem qual é o nome do gajo que comanda os franceses? João de Deus Soult. Que Deus será esse o dos franceses? Deve ser muita fraco pá!

Em 1983 visitei Fornelos.  A roupa que o Américo usava não sei que fim levou. O caruncho deve-a ter rilhado toda. As garrafas nas adegas ainda estão lá. Agora muito menos, mas estão marcadas a tinta branca com a data da safra do vinho. Os franceses desse não beberam. O bacamarte foi vendido a um almocreve que fazia o trajeto entre o Viso e Fornelos e que morreu mais tarde numa luta com outro almocreve, galego. Dizem que em certas noites umas luzes andam para cima e para baixo até se encontrarem na metade do caminho onde ainda existe uma capela, em honra de Santa Eufêmia, e então depois de breves segundos juntas, desaparecem.

O vinho que tomei, da safra de 1810, data da ultima invasão francesa quando o exército de Napoleão foi derrotado na batalha de Toulouse, era muito bom. Ainda lhe sinto o paladar. Napoleão perdeu a prova de um grande vinho que talvez tivesse mudado o rumo da história. Hoje, esse vinho teria 202 anos. Se passar em Fornelos, pergunte se ainda o há. Se não houver, tome qualquer outro de qualquer safra Todos são excelentes e honestos. Não devem nada aos de Napoleão.  
Rui Rodrigues

sábado, 12 de maio de 2012

Zaratustra, Nietzsche e outras coisas




Zaratustra, Nietzsche e outras coisas...

Somos testemunhas vivas de que “propaganda é a alma do Negócio”. Mas isto já se sabe há milênios. Para que as idéias não se propagassem, já proibiram livros de Sócrates, Platão, e disseram que Nietzsche não era um exemplo a ser lido. Niccolò Paganini, um compositor violinista que revolucionou a arte de tocar este instrumento foi indiciado como o “violinista do diabo”, proibido de ser ouvido. Rasgaram livros de Platão e de Sócrates, queimaram a biblioteca de Alexandria, mas sempre algum de nós guarda algo em algum lugar que preserva o passado. Num mundo tão pequeno como o nosso, nada se esconde por uma eternidade.

Num mundo rico em diversidade natural, paisagens, idéias, é humano que a cada nova paisagem se esqueça a anterior, a cada idéia nova se relegue a anterior, até mesmo por uma limitação natural de assimilar de forma consciente e concomitante tudo o que sabemos e vemos. Somos reféns de uma prática nossa de desejarmos identificar-nos a um grupo para não sermos rejeitados e podermos viver amparados por seus participantes. Se este grupo cresce, acaba por desejar impor suas idéias a todo o mundo conhecido, exercendo uma ditadura moral. A união de grupos formou nações por identificação de costumes e princípios.

Situam o nascimento de Zaratustra (Zoroastro conforme a ele se referiram os gregos) em cerca de 258 anos antes de Alexandre (dito o Grande), ou seja, cerca de 600 AC. Teria nascido em terras iranianas ou do Afeganistão. Estudos recentes devidamente suportados pela arqueologia e a lingüística indicam que isso aconteceu entre 1.500 e 1.200 AC. Esta diferença de datas é muito importante, porque coloca o povo judeu em contato com o Zoroastrismo numa época em que era comum o judaísmo aceitar a existência de vários deuses, incluindo os dos aquemênidas conforme referenciam a Bíblia, a Tora, o Corão.

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu a 15 de outubro de 1844 em Röcken, localidade próxima a Leipzig. Karl Ludwig, seu pai, pessoa culta e delicada, e seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a mesma carreira. Escreveu dentre outros livros, “Assim falou Zaratustra”. Pelo título somos levados a pensar que Nietzsche endossa os pensamentos de Zaratustra, mas na medida em que vamos desenvolvendo a leitura, começamos ora a achar que Deus não existe, ora a ficarmos confusos sobre sua existência. Nietzsche permite em sua redação que julguemos de sua existência e questionemos se não seremos herdeiros de sua imagem, podendo vir a tornarmo-nos em pequenos e limitados deuses, ou melhor, os superseres humanos. 

Mas porque razão teria Nietsche usado Zaratustra e seus princípios e não Moisés, Jesus Cristo, Buda ou qualquer outro mito de nosso passado bem remoto? Parece que a explicação mais adequada é a de que Zoroastro teria influenciado todas as demais religiões em termos da unicidade de Deus, o deus único, todo poderoso, onipresente e onipotente.

De fato, enquanto na época de Zaratustra existiam vários e muitos deuses em cada religião conhecida, este afirma em seus escritos, no livro “Avesta” que só existe um Ahura Mazda. Zaratustra foi o único profeta que escreveu o próprio livro de religião, visto que todos os demais foram todos escritos por terceiros décadas ou séculos após os acontecimentos. No livro “Avesta” e no “Os Gathas de Zaratustra”, este de 17 páginas constituído de hinos, estão contidos os fundamentos do monoteísmo pela primeira vez na história da humanidade. Conjunturas dos muitos movimentos internacionais  que mudaram filosofias, conquistaram países, e vêm mudando a configuração da humanidade ao longo dos séculos, fizeram com que outras religiões viessem a ser hoje mais conhecidas, mas sem dúvida alguma, face aos documentos históricos, Zoroastro foi o primeiro profeta monoteísta da historia da humanidade. É referido nos “Contos das Mil e uma Noites”, impresso com base em tradições orais que foram passando de geração em geração.

Para Zoroastro (e até certo ponto para Jesus da Nazaré) Deus era bom e não havia que temer a Deus. Somente deviam temer a Deus quem não o conhecesse. Creio que Deus não se teme e quem não o conhece não pode ser imputado de culpa. Seria como achar que Deus não se interessa pelas culturas milenares que ainda vivem na idade da pedra, como na Amazônia, Austrália e outros lugares, que não foram sequer evangelizados. O próprio Deus não vem a Terra para evangelizar, e se aceitamos que um dia já o teria feito, teremos que nos perguntar porque razão jamais voltou a fazê-lo. Deus não desiste de sua obra. Então Deus será diferente do que pensam sobre ele.

Podemos discutir, sem chegarmos a uma verdadeira conclusão, que tipo de raciocínio levaria alguém a pensar num Deus único naquelas épocas em que todos achavam que para cada mal, cada necessidade, deveria haver um pequeno deus. Sabemos que era absolutamente normal os sacerdotes e profetas da antiguidade se fazerem entrar em transe tomando bebidas alucinógenas. Seus sonhos em transe deram origem a deuses violentos, a apocalipses terríveis que foram depois interpretados.

Zoroastro começou o monoteísmo. A imperfeição de seus rudimentares conceitos fez surgir novas religiões baseadas em seu monoteísmo. A propaganda ou a sua ausência provocou a divulgação ou o esquecimento de muitas delas que conhecemos apenas por legados desencavados dos sítios arqueológicos. Nietzsche partiu do princípio de que somos feitos á imagem de Deus, e se isso é verdade – como de fato parece ser – então não podemos ser maltratados por nossos semelhantes, nem explorados, nem escravizados de algum modo, e todos devemos participar, sem distinção, na construção das leis das nações a que pertencemos, vivendo em paz com todas as demais nações, dedicando-nos á grande tarefa de construímos nossas casas em novos planetas, povoar o universo, vencer doenças, tornar-nos imortais se assim o desejarmos, verdadeiros pequenos deuses que em nada podem afrontar o único Deus.

Também não acredito que Deus não cuide de quem não acredita nele. Isso não seria atitude de Deus.


PS - Para outras consultas existe farta literatura na Net. Indico algumas a seguir, e quem tiver oportunidade recomendo a leitura dos livros sagrados aqui referenciados e em particular “Cosmos, Caos e o mundo que virá” de Norman Cohn – Editora Companhia das Letras. Norman foi professor da Universidade de Sussex, diretor da Columbus Center, ocupou a cátedra Astor Wolfson. Escreveu três livros mais.




quinta-feira, 10 de maio de 2012

Camarate - Ato terrorista mata Sá Carneiro




O CASO CAMARATE

(Sobre o atentado aéreo em que morreram o primeiro ministro Sá Carneiro e o ministro da defesa Adelino Amaro da Costa, sendo reeleito em decorrência, Ramalho Eanes que tinha um perfil mais adequado aos interesses da CIA, entenda-se EUA.)

Se o poder estivesse com os cidadãos através de voto a qualquer instante, podendo eleger/deseleger, políticos não teriam a importância nem o poder que têm, e para mudar os rumos de uma nação seria necessário matar a todos.

A CIA – Central Intelligence Agency da qual todos ouvimos falar mas não conhecemos muito bem, costuma fazer alguns inimigos em decorrência natural de suas ações. Agentes convencidos e enganados para executarem determinadas ações acabam por tornarem-se seus inimigos. Acontece com todas as agências de Inteligência. Porém, tanto agentes da CIA quanto seus inimigos perpetuam atentados à vida que até então era considerada inocente. Foi o caso de Bin Laden que já havia trabalhado para a CIA e o de Fernando Farinha Simões que somente agora em abril de 2012 resolveu contar o que aconteceu no abate do avião em que viajavam Sá Carneiro que se candidatava ao posto de primeiro ministro e estava em campanha, e ao ministro da defesa de Portugal Adelino Amaro da Costa. O atentado aconteceu em  Camarate no dia 04 de dezembro de 1980. O aeroporto da cidade do Porto tem hoje o nome de Sá Carneiro, assassinado pelos interesses políticos.

Ainda hoje no Brasil nos intrigamos e interrogamos com a queda do helicóptero de Ulysses Guimarães, ainda sem explicação, e com a morte de Tancredo Neves exatamente quando já fazia declarações à imprensa após melhoras notáveis em relação à sua doença.   

Enquanto não tivermos uma Democracia Participativa, coisas como esta continuarão a ocorrer, porque é muito grande o poder que reis, ministros, primeiro ministros e ditadores têm de fazer leis e aplicá-las sem o consentimento da população. Não existe democracia verdadeira.

O depoimento a seguir, de Fernando Farinha Simões, agente da CIA, é determinante para entendermos o que aconteceu: ele armou tudo em conjunto com a CIA e outros que são figuras públicas.

O texto da carta que Fernando Farinha Simões fez divulgar – com todas as explicações, digna de filme na linha de James Bond ou de Bin Laden – está transcrita a seguir:

Eu, Fernando Farinha Simões, decidi finalmente, em 2011, contar toda a verdade sobre Camarate. No passado nunca contei toda a operação de Camarate, pois estando a correr o processo judicial, poderia ser preso e condenado. Também porque durante 25 anos não podia falar, por estar obrigado ao sigilo por parte da CIA, mas esta situação mudou agora, ao que acresce o facto da CIA me ter abandonado completamente desde 1989. Finalmente decidi falar por obrigação de consciência.
Fiz o meu primeiro depoimento sobre Camarate, na Comissão de Inquérito Parlamentar, em 1995. Mais tarde prestei alguns depoimentos em que fui acrescentando factos e informações. Cheguei a prestar declarações para um programa da SIC, organizado por Emílio Rangel, que não chegou contudo a ir para o ar.
Em todas essas declarações públicas contei factos sobre o atentado de Camarate, que nunca foram desmentidos, apesar dos nomes que citei e da gravidade dos factos que referi. Em todos esses relatos, eu desmenti a tese oficial do acidente, defendida pela Polícia Judiciária e pela Procuradoria Geral da Republica. Numa tive dúvidas de que as Comissões de Inquérito Parlamentares estavam no caminho certo, pois Camarate foi um atentado.
Devo também dizer que tendo eu falado de factos sobre Camarate tão graves.e do envolvimento de certas pessoas nesses factos, sempre me surpreendeu que essas pessoas tenham preferido o silêncio. Estão neste caso o Tenente Coronel Lencastre Bernardo ou o Major Canto e Castro. Se se sentissem ofendidos pelas minhas declarações, teria sido lógico que tivessem reagido. Quanto a mim, este seu silêncio só pode significar que, tendo noção do que fizeram, consideraram que quanto menos se falar no assunto, melhor.Nessas declarações que fiz, desde 1995, fui relatando, sucessivamente, apenas parte dos factos ocorridos, sem nunca ter feito a narração completa dos acontecimentos.
Estavamos ainda relativamente próximos dos acontecimentos e não quis portanto revelar todos os pormenores, nem todas as pessoas envolvidas nesta operação. Contudo, após terem passado mais de 30 anos sobre os factos, entendi que todos os portugueses tinham o direito de conhecer o que verdadeiramente sucedeu em Camarate. Não quero contudo deixar de referir que hoje estou profundamente arrependido  de ter participado nesta operação, não apenas pelas pessoas que aí morreram, e cuja qualidade humana só mais tarde tive ocasião de conhecer, como do prejuízo que constituiu, para o futuro do país, o desaparecimento dessas pessoas. Naquela altura contudo, camarate era apenas mais uma operação em que participava, pelo que não medi as consequências. Peço por isso desculpa aos familiares das vítimas, e aos Portugueses em geral, pelas consequências da operação em que participei.
Gostaria assim de voltar atrás no tempo, para explicar como acabei por me envolver nesta operação. Em 1974 conheci, na África do Sul, a agente dupla alemã, Uta Gerveck, que trabalhava para a BND (Bundesnachristendienst) - Serviços de Inteligência Alemães Ocidentais, e ao mesmo tempo para a Stassi. A cobertura legal de Uta Gerveck é feita atravez do conselho mundial das Igrejas (uma espécie de ONG), e é através dessa fachada que viaja praticamente pelo Mundo todo, trabalhando ao mesmo tempo para a BND e para a Stassi. Fez um livro em alemão que me dedicou, e que ainda tenho, sobre a luta de liberdade do PAIGC na Guiné Bissau. O meu trabalho com a Stassi veio contudo a verificar-se posteriormente, quando estava já a trabalhar para a CIA. A minha infiltração na Stassi dá-se por convite da Uta Gerveck, em l976, com a concordância da CIA, pois isso interessava-lhes muito.
Úta Gerveck apresenta-me, em 1978, em Berlim Leste, a Marcus Wolf, então Director da Stassi. Fui para esse efeito então clandestinamente a Berlim Leste, com um passaporte espanhol, que me foi fornecido por Úta Gerveck. 0 meu trabalho de infiltração na Stassi consistiu na elaboração de relatórios pormenorizados acerta das “toupeiras" infiltradas na Alemanha Ocidental pela Stassi. Que actuavam nomeadamente junto de Helmut Khol, Helmut Schmidt e de Hans Jurgen Wischewski. Hans Jurgen Wischewski era o responsável pelas relações e contactos entre a Alemanha Ocidental e de Leste, sendo Presidente da Associação Alemã de Coopenção e Desenvolvimento (ajuda ao terceiro Mundo), e também ia às reuniões do Grupo Bilderberg. Viabilizou também muitas operações clandestinas, nos anos 70 e 80. de ajuda a gupos de libertação, a partir da Alemanha Ocidental. Estive também na Academia da Stassi, várias vezes, em Postdan - Eiche.
Relativamente ao relatodos factos, gostaria de começar por referir que tenho contactos, desde 1970, em Angola, com um agente da CIA, que é o jornalista e apresentador de televisão Paulo Cardoso (já falecido). Conheci Paulo Cardoso em Angola com quem trabalhei na TVA - Televisão de Angola na altura.
Em 1975, formei em Portugal, os CODECO com José Esteves, Vasco Montez, Carlos Miranda e Jorge Gago (já falecido). Esta organização pretendia, defender, em Portugal, se necessário por via de guerrilha, os valores do Mundo Ocidental.
Atrav´s de Paulo Cardoso sou apresentado, em 1975, no Hotel Sheraton, em Lisboa, a um agente da CIA, antena, (recolha de informações), chamado Philip Snell. Falei então durante algum tempo com Philip Snell. O Paulo Cardoso estava então a viver no Hotel Sheraton. Passados poucos dias, Philip Snell, diz-me para ir levantar, gratuitamente, um bilhete de avião, de Lisboa para Londres,  a uma agência de viagens na Av. de Ceuta, que trabalhava para a embaixada dos EUA. Fui então a uma reunião em Londres, onde encontrei um amigo antigo, Gary Van Dyk, da África do Sul, que colaborava com a CIA. Fui então entrevistado pelo chefe da estação da CIA para a Europa, que se chamava John Logan. Gary Van Dyk, defendeu nessa reunião, a minha entrada para a CIA, dizendo que me conhecia bem de Angola, e que eu trabalhava com eficiência. Comecei então a trabalhar para a CIA, tendo também para esse efeito pesado o facto de ter anteriormente colaborado com a NISS - National Intelligence Security Service ( Agência Sul Africana de Informações). Gary Van Dyk era o antena, em Londres, do DONS - Department Operational of National Security (Sul Africana).
Regressando a Lisboa, trabalhei para a Embaixada dos EUA, em Lisboa entre 1975 e 1988, a tempo inteiro. Entre 1976 e 1977, durante cerca de uma ano e meio vivi numa suite no Hotel Sheraton, o que pode ser comprovado, tudo pago pela Embaixada dos EUA. Conduzia então um carro com matrícula diplomática, um Ford, que estacionava na garagem do Hotel. Nesta suite viveu também a minha mulher, Elsa, já grávida da minha filha Eliana. O meu trabalho incluia recolha de informações /contra informações, informações sobre tráfico de armas, de operações de combate ao tráfico de droga, informações sobre terrorismo, recrutamento de informadores, etc. Estas actividades incluem contactos com serviços secretos de outros países, como a Stassi, a Mossad, e a "Boss" (Sul Africana), depois NISS - National Information Sectret Service, depois DONS e actualmete SASS.
Era pago em Portugal, reccebendo cerca de USD 5.000 por mês. Nestas actividades facilita o facto de eu falar seis línguas. Actuei utilizando vários nomes diferentes, com passaportes fornecidos pela Embaixada dos EUA em Lisboa. Facilitava também o facto de eu falar um dialecto angolano - o kimbundo.
A Embaixada dos EUA tinha também uma casa de recuo na Quinta da Marinha, que me estava entregue, e onde ficavam frequentemente agentes e militares americanos, que passavam por Portugal. Era a vivenda "Alpendrada".
A partir de  1975,  como referi, passei a trabalhar directamente para a CIA. Contudo a partir de 1978, passei a trabalhar como agente encoberto, No chamado "Office of Special Operations", a que se chamava serviços clandestinos, e que visavam observar um alvo, incluindo perseguir, conhecer e eliminar o alvo, em qualquer país do mundo, excepto nos EUA. Por pertencermos a este Office, éramos obrigados a assinar uma clausula que se chamava "plausible denial"  que significa que se fossemos apanhados nestas operações com documentos de identificação falsos, a situação seria por nossa conta e risco, e a CIA nada teria a ver com a situação. Nessa circunstância tínhamos o discurso preparado para explicar o que estavamos a fazer, incluindo estarmos preparados para aguentar a tortura.
Trabalhei para o "Office of Special Operations ” até 1989, ano em que saí da CIA. 
Para fazer face a estes trabalhos e operações, as minhas oontas dos cartões de crédito do VISA, American Express e Dinners Club, tinham, cada uma, um planfond de 10.000 USD, que podiam ser movimentados em caso de necessidade. Estes cartões eram emitidos no Brasil, em bancos estrangeiros sedeados no Brasil, como o Citibank, o Bank of Boston ou o Bank of America. Entre 1975 e 1989, portanto durante cerca de 14 anos, gastei com estes cartões cerca de 10 milhões de USD, em operações em diversos paises, nomeadamente pagando a informadores, politicos, militares, homens de negócios, e também traficantes de armas e de drogas, em ligação com a DEA (Drug Enforcement Agency), Existiram outros valores movimentados à parte, a partir de um saco  azul, “em cash”, valores esses postos à disposição pelo chefe da estação da CIA, no local onde as operações eram realizadas. Este saco azul servia para pagar despesas como viagens, compras necessárias, etc.
Posso referir que a operação de Camarate, que a seguir irei transcrever custou a preços de 1980 entre 750.000 e 1 milhão de USD. Só o Sr, José António dos Santos Esteves recebeu 200.000 USD. Estas despesas relacionadas com a operação de Camarate, incluiram os pagamentos a diversas pessoas e participantes, como o Sr. Lee Rodrigues, como seguidamente irei descrever.
Entre 1975 e 1988, participei em vários cursos e seminários em Langley, Virginia e Quantico, pago pela CIA, sobre informação, desinformação, contra-informação. terrorismo, contra-terrorismo, infiltrações encobertas, etc, etc.
Trabalhei em serviços de infiltração pela CIA e pela DEA (Drug Enforcement Agency), em diferentes países, como Portugal, El Salvador, Bolívia, Colômbia,Venezuela, Peru, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Chile, Líbano, Síria, Egipto, Argélia, Marrocos, Filipinas.
A minha colaboração com a DEA, iniciou-se em 1981, através de Richard Lee Armitage.
Em 1980, Richard Armitage viria também a estar comigo e com o Henry Kissinger em Paris, Richard Lee Armitage era membro do CFR (Counceil for Foreign Affairs and Relations) e da Organização e Cooperação para a Segurança da Europa (OSCE), criada pela CIA, Richard Armitage era também membro, na altura, do Grupo Carlyle, do qual o CEO era Frank Carlucci. O Grupo Carlyle dedica-se à construcção civil, imobiliário e é uma dos maiores grupos de tráfico de armas no Mundo,  junto com o Grupo Haliburton, chefiado por Richard "Dick" Cheney. O Grupo Carlyle pertence a vários investidores privados dos EUA, por regra do Partido Republicano. Este grupo promove nomeadamente vendas de armas, petróleo e cimento para países como o Iraque, Afeganistão e agora para os países da primavera árabe.
A lavagem do dinheiro do tráfico de armas e da droga, era feito, na altura, pelo Banco BCCI, ligado à CIA e à NSA - National Security Agency. O BCCI foi fundado em 1972 e fechado no princípio dos anos 90, devido aos diversos escândalos em que esteve envolvido.
Oliver North pertencia ao Conselho Nacional de Segurança, às ordens de william walker, ex-embaixador dos EUA em El Salvador. Oliver North seguiu e segue sempre as ordens da CIA, dependente de  William Casey. Oliver North está hoje retirado da CIA , e é CEO de vários grupos privados americanos, tal como Frank Carlucci.
1.                   
Da DEA conheci Celerino Castilho, Mike Levine, Anabelle Grimm e Brad Ayers, tendo trabalhado para a DEA entre 1975 até 1989. Da CIA trabalhei também com Tosh Plumbey, Ralph Megehee - tenente coronel da NSA, actualmente reformado. Da CIA trabalhei ainda com Bo Gritz e Tatum. Estes dois agentes tinham a sua base de operações em El Salvador, (onde eu também estive durante os anos 80, durante o tráfico Irão - Contras), desenvolvendo nomeadamente actividades com tráfico de armas. Uma das suas operações consistiu no transporte de armas dos EUA para El-Salvador, que eram depois transportadas para o Irão e a Nicarágua. Os aviões, normalmente panamianos e colombianos regressavam depois para os EUA com droga, nomeadamente cocaina, proveniente de países como a Colômbia, Bolivia e El Salvador, que serviam para financiar a compra de armas. Esta actividade desenvolveu-se essencialmente desde os finais dos anos 70 até 1988.
A cocaina vinha nomeadamente da Ilha Normans Cay, nas Bahamas, de que era proprietário Carlos Lheder Rivas. Carlos Rivas era um dos chefes do Carte de Medellin, trabalhando para este cartel e para ele próprio. Carlos Rivas era, neste contexto um personagem importante, sendo o braço direito de Roberto Vesco, que trabalhava para a CIA e para a NSA. Roberto Vesco era proprietário de Bancos nas Bahamas, nomeadamente o colombus trust. Carlos rivas fazia toda a logística de Roberto Vesco e forneciam armas a troco de cocaina, nomeadamente ao movimento de guerrilha Colombiano M19. Roberto Vesco está hoje refugiado em Cuba.
O dinheiro das operações de armas e de droga são lavadas no Banco BCCI e noutros bancos, com o nome de código "Amadeus". Há no entanto contas activas nas Bahamas e em Norman's Cay, nas Ilhas Jersey, que gerem contas bancárias, nomeadamente para o tráfico de armas para os “Contras” da Nicarágua, e para o Irão.
Como acima referi, muito desse dinheiro foi para bancos americanos e franceses, o que em parte explicará porquê é que Manuel Noriega foi condenado a 60 anos de prisão, tendo primeiro estado preso nos EUA, depois em França, e actualmente no Panamá. Foi preso porque era conveniente que estivesse calado, não referindo nomeadamente que partilhava com a CIA, o dinheiro proveniente da venda de armas e da venda de drogas. Noriega movimentava contas bancárias em mais de 120 bancos, com conhecimento da CIA. Noriega fazia também parte da operação Black Eagle, dedicada ao tráfico de armas e de droga, que em 1982 se transformou numa empresa chamada Enterprise, com a colaboração de Oliver North e de Donald Gregg da CIA.
Em face do grau de informações e de conhecimento que tinha, é fácil de perceber porquê se verificou o derrube e a prisão de Noriega. Devo dizer que estou pessoalmente admirado que não o tenham até agora “suicidado", pois deve ter muitos documentos ainda guardados. Noriega tinha a intenção de contar tudo o que sabia sobre este tráfico, nomeadamente sobre os serviços prestados à CIA e a Bush Pai, tendo por isso sido preso. Washington e a CIA são assim veículos importantes do tráfico de armas e de droga, utilizando nomeadamente os pontos de apoio de South Flórida e do Panamá.
No início dos anos 80 conheci um traficante do cartel de Cali, de nome Ramon Milian Rodriguez, que depois mais tarde perante uma comissão do Senado Americano, onde falou do tráfico de armas e de droga, do branqueamento de dinheiro, bem como das cumplicidades de Oliver North neste tráfico às ordens de Bush Pai e do Donald Gregg.
Muito do dinheiro gerado nessas vendas foi para bancos americanos e franceses. Este dinheiro servia também para compras de propriedades imobiliárias. Por estar ligado a estas operações, Noriega foi preso pelos EUA.
Foi numa operação de droga que realizei na Colômbia e nas Bahamas, em 1984, onde se deu a prisão de Carlos Lheder Rivas, do Cartel de Medallin, em que eu não concordei com os agentes da DEA da estação de Maiami, pois eles queriam ficar com 10 milões de dólars e com o avião "lear-jet" provenientes do tráfico de droga. Não concordando, participei desses agentes ao chefe da estação da DEA de Maiami. Este chefe mandou-lhes então levantar um inquerito, tendo sido presos pela própria DEA. A partir de aí a minha vida tornou-se num verdadeiro inferno, nomeadamente com a realização de armadilhas, e detenções, tendo acabado por sair da CIA em  1989, a conselho de Frank Carlucci. O principal culpado da minha saida da CIA foi e da DEA foi John C. Lawn, director da estação da DEA e amigo de Noriega e de outros traficantes. John Lawn encobriu, ou tentou encobrir, todos os agentes da DEA que denunciei aquando da prisão de Carlos Rivas. Ápos a minha saida da CIA, Frank carlucci continuou contudo a ajudar-me com dinheiro, com conselhos e com apoio logístico, sempre que eu precisei até 1994. 
Regressando contudo à minha actividade em Portugal, anteriormente a camarate e ao serviço da CIA, devo referir que conheci Frank Carlucci, em 1975, através de duas pessoas: um jornalista Português da RTP, já falecido, chamado Paulo Cardoso de Oliveira, que conhecera em Angola, e que era agente da CIA, e Gary Van Dyk, agente da BOSS (Sul Africana) que conheci também em Angola. Mantive contactos directos frequentes com Frank Carlucci, sobretudo entre l975 e 1982, de quem recebi instruções para vários trabalhos e operações. Os meus contactos com Frank Carlucci mantêm-se até hoje, com quem falo ainda ocasionalmente pelo telefone. A última vez que estive com ele foi em Madrid, em 2008, na escala de uma viagem que Frank Carlucci realizou à Turquia.
Em Lisboa, também lidei e recebi ordens de William Hasselberg - antena da CIA em Lisboa, que além de recolher informacões em Lisboa actua como elo de ligação entre portugueses e americanos. Tive inclusivamente uma vida social com William Hasselberg, que inclui uma vida nocturna em Lisboa, em diferentes bares, restaurantes, e locais públicos. William Hasselberg gostava bastante da vida nocturna, onde tinha muito gosto em aparecer com as suas diversas “conquistas” femininas. Trabalhei também com outros agentes da CIA, nomeadamente Philip Agee. Neste ambito, trabalhei em operações de tráfico de armas, e em infiltrações em organizações com o objectivo de obter informações políticas e militares, “Billie” Hasselberg fala bem português, e era grande amigo de Artur Albarran, Hasselberg e Albarran conheceram-se numa festa da embaixada da Colômbia ou Venezuela, tendo Albarran casado nessa altura, nos anos 80, com a filha do embaixador, que foi a sua primeira mulher.
Das reuniões que tive com a embaixada  americana em Lisboa, a partir de 1978, conheci vários agentes da CIA. O Chefe da estação da CIA em Portugal, John Logan, oferece-me um livro seu autografado. Conheci também o segundo chefe da CIA, Sr. Philip Snell, Sr. James Lowell, e o Sr. Arredondo. Da parte militar da CIA conheci o cor Wilkinson, a partir de quem conheci o coronel Oliver North e o coronel Peter Bleckley. O coronel Oliver North, militar mas também agente da CIA e o coronel Peter Bleckley, são os principais estrategas nos contactos internacionais, com vista ao tráfico e venda de armas, nomeadamente com países como Irão, Iraque, Nicarágua, e o El Salvador. Na sequência do conhecimento que fiz com Oliver North , tendo várias reuniões com ele e com agentes da CIA, por causa do tráfico e negócio de armas. Estas reuniões têm lugar em vários países, como os EUA, o México, a Nicarágua, a Venezuela, o Panamá. Neste último país  contacto com dois dos principais adjuntos de Noriega, José Bladon, chefe dos serviços secretos do Panamá, que me disse que práticamente todos os embaixadores  do Panamá em todo o Mundo estavam ao serviço de Noriega. Blandon pediu-me na altura se eu arranjava um Rolls Royce Silver Spirits, para o embaixador do Panamá em Lisboa, o que acabei por conseguir.
Em meados de 1980, Frank Carlucci refere-me, por alto, e pela primeira vez, que eu iria ser encarregue de fazer um "trabalho" de importância máxima e prioritária em Portugal, com a ajuda dele, da CIA, e da Embaixada dos EUA em Portugal, sendo-me dado, para esse efeito, todo o apoio necessário.
Tenho depois reuniões em Lisboa, com o agente da CIA, Frank Sturgies, que conheço pela primeira vez. Frank Sturgies é uma pessoa de aspecto sinistro e com grande frieza, e é organizador das forças anti-castristas, sediadas em Miami, e é elo de ligação com os "contra" da Nicarágua. Frank Sturgies refere-me então, que está em marcha um plano para afastar, definitivamente, (entenda-se eliminar) uma pessoa importante, ligada ao Governo Português de então, sem dizer contudo ainda nomes.
Algum tempo depois, possívelmente em Setembro ou Outubro de 1980, jogo ténis com Frank Cariucci quase toda a tarde, na antiga residência do embaixador dos EUA, na Lapa. Janto depois com ele, onde Frank Cartucci refere novamente que existem problemas em Portugal para a venda e transporte de armas, e que Francisco Sá Carneiro não era uma pessoa querida dos EUA. Depois já na sobremesa, juntam-se a nós o General Diogo Neto, o Coronel Vinhas, o Coronel Robocho Vaz e Paulo Cardoso, onde se refere novamente a necessidade de se afastarem alguns obstáculos existentes ao negócio de armas. Todos estes elementos referem a Frank Caducci que eu sou a pessoa indicada para a preparação e implementação desta operação.
Em Outubro de 1980, num juntar no Hotel Sharaton onde participo eu, Frank Sturgies (CIA), Vilfred Navarro (CIA), o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas (já falecidos), onde se refere que há entraves ao tráfico de armas que têm de ser removidos. Depois há um outro jatar também no Hotel Sharaton, onde participam, entre outros, eu e o Coronel OliverNorth, onde este diz claramente que "é preciso limar algumas arestas" e "se houver necessidade de se tirar aguém do caminho, tira-se", dando portanto a entender que haverá que eliminar pessoas que criam problemas aos negócios de venda de armas. Oliver North diz-me também que está a ter problemas com a sua própria organização, e que teme que o possam querer afastar e "deixar cair", o que acabou por acontecer. 
Há também Portugueses que estavam a beneficiar com o tráfico de armas, como o Major Canto e Castro, o General Pezarat Correia, Franco Charais e o empresário Zoio. Sabe-se também já nessa altura que Adelino Amaro da Costa estava a tentar acabar com o tráfico de armas, a investigar o fundo de desenvolvimento do Ultramar, e a tentar acabar acabar com lobbies instalados. Afastar essas duas pessoas pela via política era impossível, pois a AD tinha ganho as eleições. Restava portanto a via de um atentado.
Passados alguns dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro (pertencente ao conselho da revolução), que eu já conhecia de Angola, pedindo para eu me encontrar com ele no Hotel Altis. Nessa reunião está também Frank Sturgies, e fala-se pela primeira vez em "atentado", sem se referirem ainda quem é o alvo. referem que contam comigo para esta operação. O Major Canto e Castro diz que é preciso recrutar alguém capaz de realizar esta operação.
Tenho depois uma segunda reunião no Hotel Altis com Frank Sturgies e Philip Snell, onde Frank Sturgies me encarrega de preparar e arranjar alguns operacionais para uma possível operação dentro de pouco tempo, possívelmente dentro de 2 ou 3 meses. Perguntam-me se já recrutou a pessoa certa para realizar este atentado, e se eu conheço algum perito na fabricação de bombas e em armas de fogo. Respondo que em Espanha arranjaria alguém da ETA para vir cá fazer o atentado, se tal fosse necessário. Quem paga a operação e a preparação do atentado é a CIA e o Major Canto e Castro. Canto e Castro colabora na altura com os serviços Secretos Franceses, para onde entrou através do sogro na época. O sogro era de Nacionalidade Belga, que trabalhava para a SDEC, os serviços de inteligência franceses, em 1979 e 1980. Canto e Castro casou com uma das suas filhas, quando estava em Luanda, em Angola, ao serviço da Força Aérea Portuguesa. Em Luanda, Canto e Castro vivia perto de mim.
Tendo que organizar esta operação, falo então com José Esteves e mais tarde com Lee Rodrigues ( que na altura ainda não conhecia). O elo de ligação de Lee Rodrigues em Lisboa era Evo Fernandes, que estava ligado à resistância moçambicana, a renamo. Falo nessa altura também com duas pessoas ligadas à ETA militar, para caso do atentado ser realizado através de armas de fogo.
Depois, noutro jantar em casa de Frank Carlucci, na Lapa, na Mansarda, no último andar, onde jantamos os dois sozinhos, Frank Carlucci diz abertamente e pela primeira vez, o que eu tinha de fazer, qual era a operação em curso e que esta visava Adelino Amaro da Costa, que estava a dificultar  o transporte e venda de armas a partir de Portugal ou que passavam em Portugal, e que havia luz verde dada por Henry Kissinger e Oliver North. Cumprimento ambos, referindo que sou "o homem deles em Lisboa".
Três semanas antes dos atentado, Canto e Castro e Frank Surgies, referem pela primeira vez, que o alvo do atentado é Adelino Amaro da Costa. O Major Canto e Castro afirma que irá viajar para Londres. Frank Sturgies pede-me que obtenha um cartão de acesso ao aeroporto para um tal Lee Rodrigues, que é referido como sendo a pessoa que levará e colocará a bomba no avião.
Recebo depois um telefonema de Canto e Castro, referindo que está em Londres e para eu ir ter lá com ele. Refere-me que o meu bilhete está numa agência de viagens situada na Av. da Republica , junto à pastelaria Ceuta. Chegado a Londres fico no Hotel Grosvenor, ao pé de Victoria Station. Canto e Castro vai buscar-me e leva-me a uma casa perto do Hotel, onde me mostra pela primeira vez, o material, incluindo explosivos, que servirão para confeccionar a "bomba" nesta operação. Essa casa em Londres, era ao mesmo tempo residência e consultório de um dentista indiano, amigo de Canto e Castro, Canto e Castro refere-me que esse material será levado para Portugal pela sua companheira Juanita Valderrama. O Major Canto e Castro pede-me então que vá ao Hotel Altis recolher o material. Vou então ao Hotel acompanhado de José esteves, e recebemos uma mala e uma carta da senhora Juanita, José Esteves prepara então uma bomba destinada a um avião, com esses materiais, com a ajuda de Carlos Miranda.
O Major Canto e Castro volta depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lhe que a bomba está montada. Lee Rodrigues é-me apresentado pelo Major Canto e Castro. Alguns dias depois Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para jantar no restaurante galeto, junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro, onde aparece também Evo Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em Lisboa. Fora Evo Fernandes que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro. Lee Rofrigues era moçambicano e tinha ligações à Renamo. Nesse jantar alinham-se pormenores sobre o atentado. Canto e Castro refere contudo nesse jantar que o atentado será realizado em Angola. Perante esta afirmação, pergunto se ele está a falar a sério ou a brincar, e se me acha com “cara de palhaço"- fazendo tenção de me levantar. Refiro que, através de Frank Carlueci, já estava a par de tudo. Lee Rodrigues pede calma, referindo depois Canto e Castro que desconhecia que eu já estava a par de tudo, mas que sendo assim nada mais havia a esconder.
Possivelmente em Novembro, é-me solicitado por Philip Snell que participe numa reunião em Cascais, num iate junto á antiga marina (na altura não existia a actual marina). Vou e levo comigo José Esteves. Essa reunião tem lugar entre as 20 e as 23 horas, nela participando Philips Snell, Oliver North, Frank Sturgies, Sydral e Lee Rodrigues e mais cerca de 2 ou 3 estrangeiros, que julgo serem americanos. Nesta reunião é referido que há que preparar com cuidado a operação que será para breve, e falam-se de pormenores a ter em atenção. É  referido também os cuidados que devem  ser realizados depois da operação, e o que fazer se algo correr mal. A língua utilizada na reunião é o Inglés. José Esteves recebeu então USD 200.000 pelo seu futuro trabalho. Eu não recebi nada pois já era pago normalmente pela CIA. Eu nessa altura recebia da CIA o equivalente a cinco mil dólares, dispondo também de dois cartões de crédito Diner's Club e Visa Gold, ambos com plafonds de 10.000 Doláres.
Lee Rodrigues pede-me então que arranje um cartão para José Esteves entrar no aeroporto. Para este efeito, obtenho um cartão forjado, na Mouraria, em Lisboa, numa tipografia que hoje já não existe. Lee rodrigues diz-me também que irá obter uma farda de piloto numa loja ao pé do Coliseu, na Rua das Portas de Santo Antão. A meu pedido, João Pedro Dias, que era carteirista, arranja também um cartão para Lee Rodrigues. Este cartão foi obtido por João Pedro Dias, roubando o cartão de Miguel Wahnon, que era funcionário da TAP.
Apenas foi necessário mudar-se a fotografia desse cartão, colocando a fotografia de Lee Rodrigues.
José Esteves prepara então em sua casa no Cacém,  um engenho para o atentado. Conta com a colaboração de outro operacional  chamado Carlos Miranda, expecialista em explosivos, que é recrutado por mim, e que eu já conhecia de Angola, quando Carlos Miranda era comandante da FNLA e depois CODECO em Portugal. José Esteves foi também um dos principais comandantes da FNLA, indo muitas vezes a Kinshasa.
Depois do artefacto estar pronto, vou novamente a Paris. No Hotel Ritz, à tarde, tenho um encontro com Oliver North, o cor. Wilkison e Philip Snell, onde se refere que o alvo a abater era Adelino Amaro da Costa, Ministro da Defesa.
Volto a Portugal, cerca de 5 ou 6 dias antes do atentado. É marcado por Oliver North um jantar no hotel Sheraton. Necesse jantar aparece e participa um indivíduo que não conhecia e que me é apresentado por Oliver North , chamado Penaguião. Penaguião afirma ser segurança pessoal de Sá Carneiro. Oliver North refere que Penaguião faz parte da segurança pessoal de Sá Carneiro e que é o homem que conseguirá meter Sá Carneiro no Avião. Penaguião afirma, de forma fria e directa que sá Carneiro também iria no avião, "pois dessa forma matavam dois coelhos de uma cajadada! " Afirma que a sua eliminação era necessária, uma vez que Sá Carneiro era anti-americano, e apoiava incondicionalmente Adelino Amaro da Costa na denúncia do trático de armas, e na descoberta do chamado saco azul do Fundo de Defesa do Ultramar, pelo que tudo estava, desde o início, preparado para incluir as duas pessoas. Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. Fico muito receoso, pois só nesse momento fiquei a conhecer a inclusão de Sá Carneiro no atentado. Pergunto a Penaguião como é que ele pode ter a certeza de que Sá Carneiro irá no avião, ao que Penaguião responde de que eu não me preocupasse pois que ele, com mais alguém, se encarregaria de colocar Sá Carneiro naquele avião naquele dia e naquela hora, pois ele coordenava a segurança e a sua palavra era sempre escutadda. No final do jantar, juntam-se a nós três o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas.
Fico estarrecido com esta nova informação sobre Sá Carneiro, e decido ir, nessa mesma noite, à residência do embaixador dos EUA, na Lapa, onde estava Frank Carlucci, a quem conto o que ouvi. Frank Carlucci responde que não me preocupasse, pois este plano já estava determinado há muito tempo. Disse-me que o homem dos EUA era Mário Soares, e que Sá Carneiro, devido à sua maneira de ser, teimoso e anti-americano, não servia os interesses estratégicos dos EUA. Mário Soares seria o futuro apoio da política americana em Portugal, junto com outros lideres do PSD e do PS. Aceito então esta situação, uma vez que Frank Carlucci já me havia dito antes que tudo estava assegurado, inclusivamente se algo corresse mal, como a minha saída de Portugal, a cobertura total para mim e para mais alguém que eu indicasse, e que pudesse vir a estar em perigo. Isto é a usual "realpolitik" dos Estados Unidos, e suspeito que sempre será.
Três dias antes do atentado há uma nova reunião, na Rua das Pretas no Palácio Roquete, onde participam Canto e Castro, Farinha Simões, Lee Rodrigues, José esteves e Carlos Miranda. Carlos Miranda colaborou na montagem do engenho explosivo com José Esteves, tendo ido várias vezes a casa de José esteves. Nessa reunião são acertados os últimos pormenores do atentado. Nessa reunião, Lee Rodrigues diz que ele está preparado para a operação e Canto e Castro diz que o  atentado será a 3 ou 4 de Dezembro. Nessa reunião é dito que o alvo é Adelino Amaro da Costa. No dia seguinte encontramo-nos com Canto e Castro no Hotel Sheraton, e vamos jantar ao restaurante "O Polícia".
No dia 4 de Dezembro, telefono de um telefone no Areeiro, para o Sr. William Hasselberg, na Embaixada dos EUA, para confirmar que o atentado é para realizar, tendo-me este referido que sim. Desse modo, à tarde, José Esteves traz uma mala a minha casa, e vamos os dois para o aeroporto. Conduzo José esteves ao aeroporto, num BMW do José Esteves.
Já no aeroporto, José Esteves e eu entramos no aeroporto, por uma porta lateral, junto a um posto da Guarda Fiscal, utilizando o cartão forjado, anteriormente referido. Depois José Esteves desloca-se e entrega a mala, com o engenho, a Lee Rodrigues, que aparece com uma farda de piloto e é também visto por mim. Depois de cerca de 15 minutos, sai já sem a mala, e sai comigo do aeroporto. Separamo-nos, mas mais tarde José esteves encontra-se novamente comigo no cabeleireiro Bacta, no centro comercial Alvalade.
Depois José esteves aparece em minha casa com a companheira da época, de nome Gina, e com um saco de roupa para lá ficar por precaução. Ouvi-mos depois o noticiário das 20 horas na televisão, e José Esteves fica muito surpreendido, pois não sabia que Sá Carneiro também ia no avião.
Afirma que fomos enganados. Telefona então para Lencastre Bernardo, que tinha grandes ligações à PJ e à PJ Militar, e uma Ligação ao General Eanes, Lencastre Bernardo tem também ligações a Canto e Castro, Pezarat Correia, Charais, ao empresário Zoio a José António Avelar que era ex-braço direito de Canto e Castro. José Esteves telefona-lhe, e pede para se encontrar com ele. Este aceita, pelo que, pelas 23 horas, José Esteves, eu, e a minha mulher Elza, dirigimo-nos para a Rua Gomes Freire, na PJ, para falar com ele. José Esteves sobe para falar com Lencastre Bernardo que lhe tinha dito que não se preocupasse, pois nada lhe sucederia. Passámos contudo por casa de José Esteves pois este temia que aí houvesse já um conjunto de polícias à sua procura, devido a considerarem que ele estava associado à queda do avião em camarate. José Esteves ficou assim aliviado por verificar que não existia aparato policial à porta de sua casa. Vem contudo dormir para minha casa.
Alguns dias depois falei novamente com Frank Carlucci. A quem manifestei o meu desconhecimento e ter ficado chocado por ter sabido, depois de o avião ter caído, que acompanhantes e familiares do Primeiro Ministro e do Ministro da Defesa também tinham ido no Avião. Frank Carlucci respondeu-me que compreendia a minha posição, mas que também ele desconhecia que iriam outras pessoas no avião, mas que agora já nada se podia fazer.
Em 1981, encontro-me com Victor Pereira, na altura agente da Polícia Judiciaria, no restaurante Galeto, em Lisboa. Conto a Victor Pereira que alguns dos atentados estão atribuidos às Brigadas  Revolucionárias, relacionados com a colocação de bombas, foram porém efectuadas pelo José Esteves, como foram os casos dos atentados à bomba na Embaixada de Angola, de Cuba ( esta última com conhecimento de Ramiro Moreira), na casa de Torres Couto, na casa do prof. Diogo Freitas do Amaral, na casa do Eng. Lopes Cardoso, e na casa de Vasco Montez, a pedido deste, junto ao Jumbo em Cascais, para obter sencionalismo á época, tendo José Esteves espalhado panfletos iguais aos da FP25. Não falei então com Victor Pereira de camarate. Tomei conhecimento no entanto que Victor Pereira, no dia 4 de Dezembro de 1980, tendo ido nessa noite ao aeroporto da Portela, como agente da PJ, encontrou a mala que era transportada pelo eng. Adelino Amaro da Costa. Nessa mala estavam documentos referentes ao tráfico de armas  e de pessoas envolvidas com o Fundo de defesa do Ultramar. Salvo erro, Victor Pereira entregou essa mala ao inspector da PJ Pedro Amaral, que por sua vez a entregou na PJ. Disse-me então Victor Pereira que essa mala, de maior importância no caso de Camarate, pelas informações que continha, e que podiam explicar os motivos e as pessoas por detrás  deste atentado, nunca mais voltou a aparecer. Esta informação foi-me transmitida por Victor Pereira, quando esteve preso comigo na prisão de Sintra, em 1986. Não referi então a Victor Pereira que, como descrevo a seguir, eu tinha já tido contacto com essa mala, em finais de 1982, pelo facto de trabalhar com os serviços secretos na Embaixada dos EUA.
Também em 1981, uns meses depois do atentado, eu e o José Esteves fomos ter com o Major Lencastre Bernardo, na Polícia Judiciária, na Rua Gomes Freire. Com efeito, tanto o José Esteves como eu, andávamos com medo do que nos podia suceder por causa do nosso envolvimento no atentado de Camarate, e queríamos saber o que se passava com a nossa protecção por causa de Camarate. Eu não participo na reunião, fico à porta. Contudo José Esteves diz-me depois que nessa conversa Lencastre Bernardo lhe referiu que, numa anterior conversa com Francisco Pinto Balsemão, este lhe havia dito ter tido conhecimento prévio do atentado de Camarate, pois em Outubro de 1980, Kissinger o informou de que essa operação ia ocorrer. Disse-lhe também que ele próprio tinha tido conhecimento prévio do atentado de Camarate. Disse-lhe ainda que podíamos estar sossegados quanto a Camarate, pois não ia haver problemas connosco, pois a investigação deste caso ia morrer sem consequências.
A este respeito gostaria de acrescentar que numa reunião que tive, a sós, em 1986, com Lencastre Bernardo, num restaurante ao pé do edifício da PJ na Rua Gomes Freire, ele garantiu-me que Pinto Balsemão estava a par do que se ia passar em 4 de Dezembro. No restaurante Fouchet's, em Paris, Kissinger tinha-me dito, “por alto”, que o futuro Primeiro Ministro de Portugal seria pinto Balsemão. E importante referir que tanto Henry Kissinger como Pinto Balsemão eram já, em 1980, membros destacados do grupo Bilderberg, sendo certo que estas duas pessoas levavam convidados às reuniões anuais desta organização.
Deste modo, aquando da conversa com Lencastre Bernardo, em 1986, relacionei o que ele me disse sobre Pinto Balsemão, com o que tinha ouvido em Paris, em 1980. Tive também esta informação, mais tarde, em 1993, numa conversa que tive com William Hasselberg, em Lisboa, quando este me confirmou de que Pinto Balsemão estava a par de tudo.
Em finais de 1982, pelas informações que vou obtendo na Embaixada dos EUA, em Lisboa, verifico que se fala de nomes concretos de personalidades americanas com tendo estado envolvidas em tráfico de armas que passava por Portugal. Pergunto então a William Hasselberg como sabem destes nomes. Ao fim de muitas insistências minhas, William Hasselberg acaba por me dizer que a PJ entregou, na embaixada dos EUA, uma mala com os documentos transportados por Adelino Amaro da Costa, em 4 de Dezembro de 1980, e que ficou junto aos destroços do avião, embora não me tenha dito quem foi a pessoa da PJ que entregou esses documentos. Peço então a William Hasselberg que me deixe consultar essa mala, uma vez que faço também parte da equipa da CIA em Portugal. Ele aceita, e pude assim consultar os documentos aí existentes. que consistiam em cerca de 200 páginas. Pude assim consultar este Dossier durante cerca de uma semana, tendo-o lido várias vezes, e resumido, à mão, as principais partes, uma vez que não tinha como fotografá-lo ou copiá-lo.
Vejo então, que apesar do desastre do avião, e da pasta de Avelino Amaro da Costa ter ficado queimada, e ter sido substituida por outra, os documentos estavam intactos. Estes documentos continham uma lista de compra de armas, que incluia nomeadamente  RPG-7, RPG-27, G3, lança granadas, dilagramas, munições, granadas, minas, rádios, explosivos de plástico, fardas, kalashiskovs AK-47 e obuses. Referia-se também nesses documentos que para se iludir as pistas, as vendas ilegais de armas eram feitas através de empresas de fachada, com os caixotes a referir que a carga se tratava de equipamentos técnicos, e peças sobresselentes para maquinas agrículas e para a construção civil. Esta forma de transportar armas foi-me confirmada várias vezes por Oliver North, no decorrer da década de 80, até 1988, e quando estive em Ilopango, no El Salvador, também na década de 80, verifiquei que era verdade.
Nestes documentos lembro-me de ver que algumas armas vinham da empresa portuguesa Braço de Prata, bem como referências de vendas de armas de Portugal e de países de Leste, como a Polónia e a Bulgária, com destino para a Nicarágua, Irão, El Salvador, Colombia, Panamá, bem como para alguns países Africanos que estavam em guerra, como Angola, ANC da África do Sul, Nigéria, Mali, Zimbawe, Quénia, Somália, Líbia, etc. Está também claramente referido nesses documentos que a venda de armas é feita atraves da empresa criada em Portugal chamada "Supermarket" (que operava através da empresa mãe "Black - Eagle").
Nos referidos documentos ví também que as vendas de armas eram legais através de empresas portuguesas, mas também havia vendas de armas ilegais feitas por empresas de fachada, com a lavagem de dinheiro em bancos suíços e "off-shores" em nome dos detentores das contas, tanto pessoas civis como militares.
As vendas ilegais de armas ocuriam por várias razões, nomeadamente: Em primeiro lugar muitos dos paises de destino, tinham oficialmente sanções e embargos de armas. Em segundo lugar os EUA não queriam oficialmente apoiar ou vender armas a certos países, nomeadamente aos contra da Nicarágua, ou ao Irão e ao Iraque, a quem vendiam armas ao mesmo tempo, e sem conhecimento de ambos. Em terceiro lugar a venda de armas ilegal é mais rentável e foge aos impostos. Em quanto lugar a venda de armas ilegal permite o branqueamento de capitais, que depois podiam ser aproveitados para outros fins. Entre os nomes que vi referidos nestes documentos figuravam:
- José Avelino Avelar
- Coronel Vinhas
- General Diogo Neto
- Major Canto e Castro
- Empresário Zoio
- General Pezarat Correia
- General Franco Charais
- General Costa Gomes
- Major Lencastre Bernardo
- Coronel Robocho Vaz
- Francisco Pinto Balsemão
Francisco Balsemão e Lencastre Bernardo eram referidos como elementos de ligação ao grupo Bildeberg e a Henry Kissinger, Francisco Balsemão pertence também à loja maçónica "Pilgrim", que é anglo-saxónica, e dependente do grupo Bildeberg. Lencastre Bernardo tinha também assinalada a sua ligação a alguns serviços de inteligência, visto ele ser, nos anos 80, o coordenador na PJ e na Polícia Judiciária Militar.
Entre as empresas Portuguesas que realizavam as vendas de armas atrás referidas, entre os anos 1974 e 1980, estavam referidas neste Dossier:
- Fundição de Oeiras (morteiros, obuses e granadas)
- Cometna (engenhos explosivos e bombas)
- OGMA (Oficinas Gerais Militares de Fardamento e OGFE (Oficinas de Fardamento do Exercito)
- Browning Viana S.A.
- A. Paukner Lda, que existe desde 1966
- Explosivos da Trafaria
- SPEL (Explosivos)
- INDEP (armamento ligeiro e monições)
- Montagrex Lda,
que actuava desde 1977, com Canto e Castro e António José Avelar. Só foi contudo oficialmene constituida em 1984, deixando, nessa altura, Canto e Castro de fora, para não o comprometer com a operação de Camarate. A Montagrex Lda operava no Campo Poqueno, e era liderada por António Avelar que era o braço direito de Canto e Castro e também sócio dessa empresa. O escritório dessa empresa no Campo Pequeno é um autentico “bunker", com portas blindadas, sensores, alarmes, códigos nas portas, etc. 
Canto e Castro e António Avelar são também sócios da empresa inglesa BAE - Systems, sediada no Reino Unido. Esta empresa vende sistemas de defesa, artilharia, mísseis, munições, armas submarinas, minas e sobretudo sistemas de defesa anti-mísseis para barcos.
Todos estes negócios eram feitos, na sua maior parte, por ajuste directo, através de brokers - intermediarios, que recebiam as suas comissões, pagas por oficiais do Exército, Marinha, Aeronáutica, etc.
Nestes documentos era referido que, como consequência desta vendas de armas, gerava-se um fluxo considerável de dinheiro, a partir destas exportações, legais e ilegais. Estes documentos referiam também a quem eram vendidas estas armas, sobretudo a países em guerra, ou ligados ao terrorismo internacional. Era também referido que todas estas vendas de armas eram feitas com a conivência da autoridade da época, nomeadamente  militares como o General Costa Gomes, o General Rosa Coutinho (venda de armas a Angola) e o próprio Major Otelo Saraiva de Carvalho ( venda de armas a Moçambique). Vi várias vezes o nome de Rosa Coutinho nestes documentos, que nas vendas de armas para Angola utilizava como intermediário o general reformado angolano, José Pedro Castro, bastante ligado ao MPLA, que hoje dispõe de uma fortuna avaliada em mais de 500 milhões de USD, e que dividia o seu tempo entre Angola, Portugal e Paris. O seu filho, Bruno Castro é director adjunto do Banco BIC em Angola.
No referido dossier estavam também referidos outros militares envolvidos neste negócio de armas, nomeadamente o Capitão Dinis de Almeida, o Coronel Corvacho, o Vera Gomes e Carlos Fabião.
Todas estas pessoas obtinham lucros fabulosos com estes negócios, muitas vezes mesmo antes do 25 de Abril de 1974 e até 1980. Era referido que estas pessoas, nomeadamente militares, que ajudavam nesta venda de armas, beneficiavam através de comissões que recebiam. Estavam referidos neste Dossier os nomes de "off-shores", que eram usadas para pagar comissões às pessoas atrás referidas e a outros estrangeiros, por Oliver North ou por outros enviados da CIA. Estas "off-shores" detinham contas bancárias, sempre numeradas.
Esta referência batia certo com o que Oliver north sempre me contou, de que o negócio das armas se proporciona através de "off-shores" e bancos controlados para a lavagem de dinheiro.
Vale a pena a este respeito referir que no negócio das armas, empresas do sector das obras públicas aparecem frequentemente associadas, como a Haliburton, a Carlyle, ou a Blackwater, (empresa de armas, construção e mercenários), entre outras. Esta relação está referida, há anos, em vários relatórios, nomeadamente nos relatórios do Bribe Payer Index (indice internacional dos pagadores de subornos), que é uma agencia americana. A indicação deste tipo de práticas foi desenvolvida mais tarde, pela Transparency International e pelo Comité Norte Americanos de Coordenação e Promoção do Comercio do Senado Americano, que referem que há muitos anos , mais de 50% do negócio e comercio de armas em Portugal, é feito através de subornos. Os americanos sempre usaram Portugal para o tráfico de armas, fazendo também funcionar a Base das Lajes, nos Açores, para este efeito, nomeadamente depois de 1973, aquando da guerra do Yom Kippur, entre Israel e os países árabes. Este tráfico de armas deu origem a várias contrapartidas financeiras, nomeadamente através da FLAD, que foi usada pela CIA para este efeito. A FLAD recebeu diversos fundos específicos para a requalificação de recursos humanos.
Não ví contudo neste Dossier observações referindo referindo que estas vendas de armas eram condenáveis ou que tinham efeitos negativos. Havia contudo uma pequena nota, em que algumas folhas de que se devia tomar cuidade com tudo o que aí estava escrito, e que portanto se devia actuar. Havia também na primeira página um carimbo que dizia "confidentical and restricted".
Estas vendas de armas continuaram contudo depois de 1980. Tanto quanto eu sei, estas vendas de armas continuaram a ser realizadas até 2004, embora com um abrandamento importante a partir de 1984, a partir do escandalo das fardas vendidas à Polónia.
No referido Dossier estavam também referidas personalidades americanas envolvidas no negócio de armas, nomeadamente Bush (Pai), dick Cheney, Frank Carlucci, Donald Gregg, vários militares, bem como a empresas como a Blackwater. são ainda referidas empresas ligadas aos EUA, como a Carlyle, Haliburton, Black Eagle Enterprise, etc, que estavam a usar Portugal para os seus fins, tanto pela passagem de armas através de portos portugueses, como pelo fornecimento de armas a partir de empresas portuguesas. Tirei apontamentos desses documentos, que ainda hoje tenho em meu poder.
A empresa atrás referida, denominada Supermarket, foi criada em Portugal em 1978, e operava através da empresa mão, de nome Black-Eagle, dirigida por William Casey, (membro do CFR (counceil for Foreign Affairs and Relations), ex-embaixador dos EUA nas Honduras e também com ligações à CIA). A empresa supermarker organizava a compra de armas de fabrico soviético, através de Portugal, bem como a compra de armas e munições portuguesas, referidas anteriormente, com toda a cumplicidade de Oliver North. Estas armas iam para entrepostos nas Honduras, antes de serem enviadas para os seus destinos finais. Oliver North pagou muitas facturas destas compras em Portugal, através de uma empresa chamada Gretsh World, que servia de fachada à Supermarket. Mais tarde, cerca de 1985, quando se começou muito a falar de camarate, Oliver North cancelou a operação "Supermarket, e fechou todas as contas bancárias.
Devo ainda referir que William Hasselberg e outros americanos da embaixada dos EUA, em Lisboa, comentaram comigo, várias vezes o que estava escrito neste Dossier.
Relativamente a Hasselberg isso era lógico, pois foi ele que me deu o Dossier a ler. Posteriormente comentei também o que estava escrito neste Dossier com Frank Carlucci, que obviamente já tinha conhecimento da informação nele contida.Tanto William Hasselberg, como membro da CIA, como outros elementos da CIA atrás referidos e outros, comentaram várias vezes comigo o envolvimento da CIA na operação de Camarate e neste negócio de armas. Lembro-me nomeadamente que quando alguém da CIA, me apresentava a outro elemento da Cia, dizia frequentemente "this is the portuguese guy, the one from Camarate, the case in Portugal with the plane!".
As vendas de armas, a partir e através de portugal, foram realizadas ao longo desses anos, pois era do interesse politico dos EUA. A CIA organizou e implementou estas vendas de armas em Portugal, à semelhança do que sucedeu noutros países, pois era crucial para os EUA que certs armas chegassem aos países referidos, de forma não oficial, tendo para isso utilizados militares e empresários Portugueses, que acabaram também por beneficiar dessas endas.
Como anteriormente referi, William Casei e Oliver North estavam, nas décadas  de 70 e 80 conluiados com o presidente Manuel Noriega, no escândalo Irão - contras (Irangate). Foi sempre Oliver North que se ocupou da questão dos refénsamericanos  no Irão, bem como da situação da América Central. Recebeu pessoalmente por isso uma carta de agradecimentos de George Bush Pai, Vice Presidente à época de Ronald Reagan.
Devo dizer a este respeito que John Bush, filho de Bush Pai, então com 35 anos, a viver na Flórida, pertencia em 1979 e 1980 ao “Condado de Dade", que era e é uma organização republicana, situada em South Florida, destinada a angariar fundos para as campanhas eleitorais republicanas. John Bush era um dos organizadores de apoios financeiros para os "contra" da Nicarágua.
Conheci também Monzer Al Kasser um grande traficante de armas que tinha uma casa em Puerto Banus em Marbella, e que me foi apresentado, em Paris, por Oliver North, em 1979.
Era um dos grandes vendedores de armas para os “Contra” na Nicarágua, trabalhando simultaneamente para os serviços secretos sírios, búlgaros e polacos. Na sua casa em Marbella, referiu-me também que, por vezes, o tráfico de armas era feito através de África, para que no Iraque não se apercebessem da sua proveniência, pois também vendiam ao mesmo tempo ao Irão e mesmoa Portugal. Este tráfico de armas, que estava em curso, desde há vários anos, em 1980, e o começo do caso Camarate.
Através de Al Kasser conheci, em Marbella, no final de 1981, outro famoso traficante de armas, numa festa em casa de Monzer, que se chamava Adrian Kashogi. Kashogi, como pude testemunhar em sua casa, tinha relações com políticos e empresários europeus, árabes e africanos, por regra ligados ao tráfico de armas e drogas.
Sou preso em 1986, acusado de tráfico de drogas. Esta prisão foi uma armadilha montada pela DEA, por elementos que nessa organização não gostavam de mim, por eu ter levado à detenção de alguns deles, como referi anteriormente. Fui então levado para a prisão de Sintra. Estou na prisão com o Victor Pereira, que aí também estava preso. Sei, em 1986, que estavam a preparar-se para me eliminar na prisão, pelo que peço à minha mulher Elza, para ir falar, logo que possível com Frank Carlucci. Em consequência disso recebo na prisão a visita de um agente da CIA, chamado Carlston, juntamente com outro americano. estes, depois de terem corrompido a direcção da prisão, incluindo o director, sub-director e chefe da guarda, bem como um elemento que se reformou muito recentemente, da Direcção Geral dos Serviços Prisionais, chamada Maria José de Matos, conseguem a minha fuga da prisão. Contribuiu ainda para esta minha fuga, mediante o recebimento de uma verba elevada, paga pelos referidos agentes americanos esta directora-adjunta da Direcção Geral dos Serviços Prisionais. Estes agentes americanos  obtêm depois um helicóptero, que me transporta para a Lousã, onde fico cerca de 20 dias. Vou depois para Madrid, com a ajuda dos americanos, e depois daí ara o Brasil. as despesas com a minha fuga da prisão custaram 25.000 euros, o que na época era uma quantia elevada.
Só mais tarde no Brasil, depois de 1986, é que referi a José Esteves que sabia que Sá Carneiro ia no avião, contando-lhe a história toda. José Esteves, responde então, que nesse caso, tinhamos corrido um grande risco. Eu tranquilizei-o, referindo que sempre o apoiei e protegi neste atentado. Dei-lhe apoio no Brasil no que pude. Assegurei-lhe também o transporte para o Brasil, obtendo-lhe um passaporte no Governo Civil de lisboa, entreguei-lhe 750 contos que me foram dados para esse efeito pela embaixada  dos EUA, em Lisboa, e arranjei-lhe o bilhete de avião de Madrid para o Rio de Janeiro . Na viagem de Lisboa para Madrid, José Esteves foi levado por Victor Moura, um amigo comum. No Rio de Janeiro ajudei-o a montar uma loja, numa roulote. Como trabalhava ainda para a embaixada  dos EUA, em Lisboa, estas despesas foram suportadas pela Embaixada. Ficou no Brasil cerca de  dois anos. Eu, contudo andava constantemente em viagem. 
José Esteves recebe depois um telefonema de Francisco Pessoa de Portugal, onde Francisco Pessoa o aconselha a voltar a Portugal, e a pedir protecção, a troco de ir depor na Comissão de Inquerito Parlamentar sobre Camarate. Esse telefonema foi gravado, mas José Esteves nunca chegou a obter uma protecção formal.
Telefono a Frank Carlucci, em 1987, pedindo-lhe para falar com ele pessoalmente. Ele aceita, pelo que viajo do Brasil, via Miami, para Washington. Pergunto-lhe então, em face do que se tinha falado de Camarate, qual seria a minha situação, se corria perigo por causa de Camarate, e se continuarei, ou não a trabalhar para a CIA. Frank Carlucci responde-me que sim, que continuarei a trabalhar para a CIA, tendo efectivamente continuado a ser pago pela CIA até 1989. Frank Carlucci confirma nessa reunião que puderam contar com a colaboração de Penaguião na operação de Camarate, e que ele, Frank Carlucci, esteve a par dessa participação.
Em 1994, foi-me novamente montada uma armadilha em portugal, por agentes da DEA que não gostavam de mim, por causa da referida prisão de agentes seus, denunciados por mim. Nesta armadilha participam também três agentes da DCITE - Portuguesa, os hoje inspectores Tomé, Sintra e Teófilo Santiago. Depois desta detenção, recebo a visita na prisão de Caxias de dois procuradores do Ministério Público, um deles, se não estou em erro, chamado Femando Ventura, enviados por Cunha Rodrigues, então Procurador Geral da República. Estes procuradores referem-me que me podem ajudar no processo de droga de que sou acusado, desde que eu me mantenha calado sobre o caso Camarate.
Por ser verdade. e por entender que chegou o momento de contar todo o meu envolvimento na operação de Camarate, em 4 de Dezembro de 1980, decidi realizar a presente Declaração, por livre vontade. Não podendo já alterar a minha participação nesta operação, que na altura estava longe de poder imaginar as trágicas consequências que teria para os familiares das vítimas e para o país, pude agora, ao menos, contar toda a verdade, para que fique para a História, e para que nomeadamente os portugueses possam dela ter pleno conhecimento.
Não quero, por ultimo, deixar de agradecer à minha mãe, à minha mulher Elza Simões, que ao longo destes mais de 35 anos, tanto nos bons como nos maus monmentos, sempre esteve a meu lado, suportando de forma extraordinária, todas as dificuldades, ausências, e faltas de didicaçâo à familia que a minha profissão implicava. Só uma grande mulher e um grande amor a mim tornaram possível este comportamento. Quero também agradecer à minha filha Eliana, que sempre soube aceitar as consequêncais que para si representavam a minha vida profissional, nunca tendo deixado de ser carinhosa comigo. Finalmente quero agradecer à minha mão que, ao longo de toda a minha vida me acarinhou e encorajou, apesar de nem sempre concordar com as minhas opções de vida. A natureza da sua ajuda e apoio, tiveram para mim uma importância excepcional, sem, as quais não teria conseguido prosseguir, em muitos momentos da minha vida. Posso assim afirmar que tive sempre o apoio de uma família excepcional, que foi para mim decisiva nos bons e maus momentos da minha vida.
Lisboa, 26 de Março de 2012
Fernando Farinha Simões
B.I. n.º 7540306

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