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sábado, 21 de dezembro de 2013

Duas coisinhas sobre dança.




1 - Comunicado de um índio do Peró. 

O Peró fica em Cabo Frio. É praia! Dunas, céu, mar e praia.

Fui olhar o céu : Está cheio de nuvens, fazendo "figuras"... Parecia uma reunião da tribo: Vi Touro Sentado, Águia Esvoaçante, Penico adormecido- o grande feiticeiro - Grandes Chefes como Nuvem Escura, Nuvem Cinza, Nuvem Molhada, Nuvem Encharcada e uns curumins sem vergonha com grandes cabaças de água que começaram a jogar cá para baixo... 

Então chamei o Xamã aqui do lugar juntamente com o pai de santo para ver se davam um jeito na turma lá de cima... o Xamã trouxe os chefes Punho Cerrado, Olho de Água, Sanga Seca, e um lá do Sertão de nome Saco Cheio de PAC. 

Em vão... A reza da dança da chuva funcionou e agora só quando chegar o grande Feitor e puser fogo no Sol... 

As grandes pradarias estão encharcadas.. As cigarras que cantavam, calaram-se e tiveram sua chama apagada... Viraram guimbas... 

Grande Chefe Saco Cheio de PAC voltou para o Nordeste Indignado. Vai propor troca de Estados, por um mais ao Sul. Grande Chefe Nuvem Furada aconselhou que era melhor trocar tudo que é político... Custaria menos mandioca 

₢ Rui Rodrigues


2-  A dança dos Sioux e a dança dos Técnicos

Tudo para fazer chover nos prados verdes... Os Sioux acreditam em Manitu, o Deus supremo que pode fazer chover água limpa se o feiticeiro fizer a reza certa... Os diretores de futebol dos clubes, contratando "novos" técnicos de futebol para chover dinheiro de ingressos financeiros no clube se este ganhar títulos. Uns e outros jogam com a sorte da natureza, com a eficiência dos Xamãs... Mas... Funciona? Ou é pura sorte, trabalho nos bastidores de assistentes, árbitros, toda uma parafernália de "multifunções" clubísticas ?

No caso dos Sioux, a natureza manda, eles não sabiam, o Xamã sempre intimidou a tribo com sua capacidade de salvar de doenças. Não crendo em bruxas, mas que as há, isso há, continuaram confiando no Xamã por via das dúvidas...

Já no futebol, o técnico demitido hoje, vai para outro clube amanhã, fica dois anos, sai, volta para o mesmo clube, vai para o estrangeiro, volta, fica dois anos, e assim passa a vida, de clube em clube...Ou seja, se fosse incompetente nenhum clube os readmitiria. Porque saem? Porque Manitu não lhes ilumina as ideias? Ou os técnicos se tornam relapsos? Ou ainda, pretendem baixar os salários dos técnicos? Há algo de estranho...

Há algo de podre nos reinos dos Sioux, do Futebol. No da Dinamarca o problema já foi resolvido... Já não há nada de podre no Reino da Dinamarca!

RR

As missões



As missões[i]



Lawrence da Arábia existiu. Tinha uma missão: Encontrar o rei Faiçal e saber quais suas intenções a futuro. Lawrence era um oficial subalterno das forças britânicas estacionadas no Cairo. Nessa época, no inicio do século XX, o Egito era um protetorado Inglês, o mundo árabe estava dividido em tribos. Lawrence só tinha a seu favor o fato de ser um sonhador e tinha uma cultura geral muito boa.


Escrevo este texto enquanto assisto ao filme pela terceira ou quarta vez em toda a minha vida. Olho para a tela quando algo me chama a atenção. Para me lembrar, também, de uma época em que eu recebia missões. Nenhuma missão minha falhou. Eu era bom nisso, reconheço, sem modéstia alguma.



Uma delas, eu tinha 27 curtos anos, foi a de assumir uma Filial no Sul do Brasil, com população altamente instruída, alto nível de educação, representando três empresas do maior grupo empresarial da América Latina naquele tempo: O Grupo Lume. As três empresas eram a Conaltour, a Conleasing e a Contal. Em particular, eu era também o responsável técnico, o gerente geral e de construção do edifício mais alto de Porto Alegre: O Edifício Sede da Embratel. Não parecia tarefa fácil, porque a obra estava atrasada, saindo da estimativa de custos. A equipe tinha sido admitida por meu antecessor e era de sua confiança. A pressa para que eu assumisse, face aos atrasos da obra era tal, que fizeram tudo ao mesmo tempo: Mandaram-me para Porto Alegre carregado de procurações para comprar, vender, alugar, fazer o que me desse na telha, abrir conta bancária em meu nome ou no da empresa, enquanto chamavam o anterior gerente para a demissão ao Rio de Janeiro. Meu chefe. O Mário Amêndola sabia o que fazia. Eu é que não estava muito certo de que ele estivesse certo. Não fui sozinho para Porto Alegre. Levei o melhor mestre da empresa, o Miguel Faustino Perez Galan. Na verdade, quase um engenheiro. Ele era espanhol.




 Quando cheguei com a procuração foi uma correria no escritório. Os olhares do engenheiro da obra, do estagiário, da secretária e do office-boy – era toda a equipe que tinha sido contratada – demonstravam todo o receio de serem demitidos. Eu não precisava falar muito. Eles contavam a história toda. Não me interessava muito a história que tinham para contar. Tranquilizei-os e os mantive, mas contei-lhes a nossa história: A minha e a da empresa. A empresa era ainda mais jovem do que eu. Sabíamos muitas coisas, mas nos faltava experiência. Precisávamos trabalhar em conjunto, de forma unida. O escritório era muito grande, um casarão e caro. A primeira coisa que fiz foi mandar retirar um enorme quadro de um alce de farta galhada de cima da parede bem por detrás da mesa vitoriana de ébano do gerente da filial, do que estava sendo substituído. E teríamos que mudar urgentemente de lugar. O transito para a obra era intenso e o escritório ficava longe da obra. Oito dias depois estávamos em duas salas de escritórios com um banheiro, na Borges de Medeiros, a cerca de 20 metros da obra, o edifício sede da Embratel na Avenida Salgado Filho, uma transversal da Borges.  Contratei um chefe de pessoal (um RH), um estagiário de economia para os lançamentos de custos e bancários. Troquei a secretária, a Sônia, que era trilíngue, por uma muito eficiente, esperta, que sabia o suficiente de matemática, escrevia e datilografava muito bem, sem ter a mínima ideia de que acabaria por casar com ela, a mãe de meus dois filhos. Além disso, estudava no primeiro ano de engenharia da PUC. Já tenho uma neta. Ora isto foi em 1972. Eu também não imaginava uma crise do petróleo em 1973-1974. Ninguém imaginava, mas a inflação já estava roendo o meu salário que era atualizado de dois em dois meses. Era um excelente salário, mas eu estava ainda na fase de soltar a bolsa que estivera presa por longos 27 anos. Passaria pelo menos uns dois anos de minha vida gastando tudo o que ganhava para saber o que era o “bom da vida”: Trabalhar para ganhar dinheiro, para gastar... Uma fórmula muito simples, mas que não pode durar muito porque cria o hábito e não se junta nada.

Os problemas da obra e das empresas eram resolvidos todos os dias. Os que esperavam respostas iam para a agenda. Nas paredes do escritório, um enorme cronograma dava conta de cada etapa controlada dia a dia. Quem elaborava os contratos e contratava era eu mesmo. Eu era o meu secretário para assuntos técnicos.  



Apesar de advogados de porta de obra aliciando trabalhadores para causas na justiça, do engenheiro da obra tentar me passar a perna querendo meu cargo, de outro – um argentino - que roubava na obra e que tive de denunciar na polícia, a obra acabou no prazo e dentro dos custos, com a ajuda nos três meses finais de meu padrinho de casamento, o Henrique Rotstein, que veio do Rio. Faltando um par de meses para terminar a obra, fui a convite de outra empresa para S. Paulo. Três meses depois, avisei a nova empresa, já em S. Paulo, que ela iria falir em menos de seis meses e saí dela. A Filial de S. Paulo da Contal me acolheu de braços abertos. Fui morar num prédio de mármore em plena Avenida Paulista.






Dias de sol e chuva, todas as manhãs uma esperança de resolver problemas com as fórmulas que aprendi da vida e algumas que criei, uma motivação diária, minha filha, minha família uma alegria. O futuro estava muito longe. Minha vida profissional tinha começado apenas em 1971, dois anos antes, quando com o paletó pendurado no ombro subi a rampa de acesso á construção do conjunto habitacional da Morada do Sol, em Botafogo, em frente ao Shopping Rio-Sul para pedir emprego.



Por aqueles dias não tinha tempo para pensar em política. Dizia-se que estávamos construindo o Brasil. Pois é... O Brasil tem que ser construído todos os dias sem nos esquecermos da política. Hoje é a política que afunda o Brasil, e como toda a política, sua propaganda diz que não, que o Brasil está bem, cada vez melhor...



Não está não!... Quem tem histórias para contar, tem histórias para comparar... E eu fiz tudo por um partido enorme chamado BRASIL.



© Rui Rodrigues




















[i] Foram muitas as minhas “missões” em minha vida. Ainda tenho algumas para concluir. O segredo da vida é termos sempre alguma missão a cumprir, desafios. Até hoje não perdi nenhum.  

sábado, 14 de dezembro de 2013

7- O paraíso



7- O paraíso
























O outono chegara alguns dias atrás e ontem chovera. Hoje, com nuvens no céu fiquei em casa. Faria um frango assado, tomaria um copo de vinho, frutas de sobremesa. Fui ao pomar e apanhei umas goiabas, dois limões, um mamão e um cacho de bananas no ponto. Em dois ou três dias tudo estaria maduro. Dei milho às galinhas que me acolheram com ansiedade. Alimentei minha gata. Mesmo com a porta do galinheiro aberta, as três galinhas e o galo não saíram de seu paraíso. Minha gata acompanha-me para onde vou no meu, até para colher frutas. Numa associação simples de ideias, pensei em Adão e Eva no paraíso. Conforme conduzido a aprender na Bíblia como seria o paraíso, o meu não era tão diferente antes de Adão ter perdido uma costela para que se construísse uma Eva. Por aquela época, Adão nem sabia que era imortal. Soube-o bem mais tarde, quando comeu o fruto da árvore da ciência e da vida. Outras árvores deveriam existir no paraíso, como por exemplo, A da Religião e da vida após a morte, a das Artes e Letras, a do Comércio e Indústria, a do amor e amizade, a da navegação e construção e muitas outras. Adão comeu de todas as frutas. Eva também. Os animais eram dóceis e não os molestavam. Claro que o paraíso de Adão era muito parecido com o meu, salvo as exceções, mas como Adão não sabia da única realmente perigosa, posso dizer que ele se sentiria como eu. Nem mais nem menos, exceto pelas idas ao supermercado, e não cultivo a vinha porque o terreno é pequeno e o solo impróprio.
Mas então o que será o Paraíso e onde se situará ou situaria?
Ao que tudo indica, o Paraíso era mesmo aqui na Terra, numa região situada entre um rio que se dividia em quatro: Pichon, Guion. Eufrates e Tigre, todos eles ricos em minerais nobres, como o ouro, o bdélio, o ônix. Havia já uma preocupação com a riqueza ao descrever os rios do paraíso. O taoismo também tem um paraíso: ficaria nas montanhas Kunlun, que se estendem por mais de 3.000 km, e onde ficaria o palácio de jade. Existem outros conceitos de paraíso, porém, quer o Taoismo, quer o judaísmo imaginaram um paraíso neste planeta. No caso do judaísmo, ele deixou de existir quando Adão foi expulso. No caso do Taoismo, ainda existe nas montanhas Kunlun. Seja como for, imaginado em que época tenham existido independentemente dos povos que os imaginaram, os paraísos são uma referência do que seria ideal em confrontação com a realidade que vivemos. O paraíso teria sido um benefício perdido, passível de recuperação de acordo com o comportamento de cada um. Mas é difícil julgar do comportamento próprio e do comportamento de cada um. São muitas, aparentemente, as injustiças com que nos deparamos neste mundo. A ser assim, não me admiraria se todo o ser vivo vier um dia a passar sua existência complementar num paraíso feito à sua vontade.
Almocei o frango assado com molho de laranja e um suco de limão, comi as goiabas e um par de horas depois me encostei na cama e adormeci pensando no paraíso. Então obtive a resposta.
- Nunca houve um paraíso como os descritos nos livros de qualquer religião. Houve “paraísos” sim – disse ele - mas o eram em outras circunstâncias. Para o povo judeu o Paraíso entre o Tigre e o Eufrates, refere-se à civilização babilônica, a qual admiravam, quando Israel não existia ainda e todo o povo judeu vivia em pequenas tribos em pequenas vilas, sendo caçados pelos babilônios para fazerem escravos. Este mesmo povo, o babilônio, invadiu Israel e expulsou toda a classe dominante israelita, incluindo comerciantes, sacerdotes e artesãos para os servirem nas suas cidades. As espadas flamejantes dos anjos eram espadas e lanças do exercito babilônio refulgindo ao sol, tecnologia que o povo hebreu ainda não tinha. O paraíso é uma referência comportamental e de ideal de vida.
E continuou:
- Mesmo nos primórdios da evolução humana, quando os primeiros primatas percorriam a terra em busca de frutas, legumes e caça, havia dias de paraíso e dias de inferno, quando, alternativamente, encontravam fartura e paravam nesse lugar até esgotar as disponibilidades, ou encontravam feras que devoravam algum deles. Feras não fazem carnificinas como os humanos, de modo que não morriam mais do que um ou dois humanos por ataque. Outros povos que viviam nas costas do mediterrâneo ou dos oceanos tinham uma vida um pouco mais tranquila, porque podiam entrar no mar para fugir das feras. Em cada grupo qualquer problema se resolvia, mas a ideia de um paraíso começou quando os humanos se defrontaram com as primeiras grandes e insuportáveis injustiças que causavam imensa dor: o confrontamento entre grupos diferentes de humanos, cada grupo evoluindo de forma a afastar-se de uma língua mãe, de preferências, de hábitos, na forma de pensar. Isto aconteceu quando o território de cada grupo começou a ficar limitado pelo território adjacente de domínio por outro grupo. Adão e Eva representam um desses grupos que deram origem a uma etnia, uma raça, um povo. Entre os primeiros hominídeos coletores e caçadores, até a época em que se formou a primeira etnia judaica, a dos hebreus, decorreram cerca de quatro milhões de anos, ou quarenta mil séculos. Judeus, cristãos e muçulmanos falam do paraíso de formas diferentes de acordo com o seu imaginário. Assim também os Vedas, os Taoistas, xintoístas, budistas, Sioux, Tupis. Todos os povos do mundo sonham com um paraíso primordial, quando a vida não lhes parecia que fosse tão difícil como nos dias de qualquer época. Não pode haver satisfação com injustiça.
E concluiu:
- Haverá um paraíso para cada ser humano e cada animal, e cada planta que tiver o mérito de a ele ter direito. Esse paraíso poderá ser aí mesmo, nesse planeta que habitas, tão lindo, um verdadeiro paraíso que já existe e que alguns daqueles que detêm o poder, teimam em mantê-lo como predadores que escravizam a floresta, dejetam nos rios, lagos e mares, enjaulam a vida. O paraíso pode ser aí, nesse planeta Terra, longevidades de séculos, milênios, eternos até, mas é necessária a vontade da maioria para que governem a Terra como os humanos querem e não como uma meia dúzia no poder quer.


Não me lembro de quando acordei, mas era o sétimo dia e me acontecia pela sétima vez.


₢ Rui Rodrigues


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

OPINIÃO DA MARLENE SOBRE A POLÍTICA ATUAL

Se fizermos uma análise totalmente amadora, claro, nas redes sociais, principalmente no facebook, veremos pessoas que se posicionam como OPOSIÇÃO ao governo petralha. Há manifestações inclusive "em cima" dos atos, são rápidos para responderem, denunciarem, partilharem e nos dão a ideia de uma oposição imbatível!...

Quem olhar pode achar que há poucos com coragem de apoiar o governo e a situação, que a maioria esmagadora é OPOSIÇÃO, ao ponto de ficarmos imaginando se as pesquisas não são compradas, se as urnas não foram e são manipuláveis! Não sou profissional da área, nem sei qual parcela da população abrange todo esse contingente que é OPOSIÇÃO no twiter, facebook, de blogs e de grupos políticos abertos ou fechados aqui no facebook e dos quais até participo em alguns deles.
Mas o que sinto, fora pessoas de peso intelectual e cultural, jornalistas, articulistas, formadores de opinião mesmo, que se expressam na imprensa ou internet é que existe uma certa oposição, com críticas, denúncias, reflexões sobre a conjuntura política atual. Movimentos, petições, apoios, etc, são também encontradas na INTERNET.

Claro que mesmo votando em massa na OPOSIÇÃO, "fazendo a cabeça" de muitas pessoas, será INSUFICIENTE para ganhar uma eleição, quando lembramos dos milhões que recebem as famigeradas BOLSAS de tudo, que multiplicados por 3 pessoas por bolsa, fazem qualquer poste ser eleito! Os ignorantes não irão da noite para o dia politizarem se, abrirem os olhos e verem que são instrumentos usados e com o POVO PAGANDO A CONTA...
Mas quem faz as leis, quem se pronuncia ou vota, os partidos ditos de OPOSIÇÃO são débeis demais em relação ao rolo compressor que o governo faz com o NOSSO dinheiro, usando descaradamente a máquina a serviço exclusivo da perpetuação no poder. Fora todas as benesses oferecidas aos representantes legais na Câmara e Congresso, basta ver os disparates que votam e legislam! Mudaram algumas posturas logo depois das manifestações nas ruas, mas logo foi "providenciado" BADERNEIROS block tudo, que assustou e espantou as manifestações puras e espontâneas.

Não vejo oposição séria e contundente nos políticos que deveriam representar o povo mas só SE REPRESENTAM...
Temos que pensar de forma pragmática, até baseado nas pesquisas que apontam, junto com a possibilidade da reeleição, um descontentamento e uma vontade imensa de desejo de MUDANÇA e unirmos a oposição que está aí, NÃO HÁ OUTRA, e que haja uma dose menor de orgulho e vaidade e se pense em ganhar o poder para poder tentar fazer as reformas políticas que são necessárias, pois com os políticos que aí estão É IMPOSSÍVEL! Não querem perder as bocas e as vantagens, infelizmente. Desejar que cortem a carne deles é querer demais!
Fico angustiada e tento com as poucas armas que disponho tentar mudar e reverter esse contexto ao meu redor, como uma formiga, embora leve um banho gelado a cada nova descoberta horrorosa diária sobre o que é feito no país!
Proponho união mínima possível entre as oposições que se apresentam para ver se MUDAMOS alguma coisa... Continuo desanimada e triste em relação à política no país, mas também que está difícil aguentar o que temos!

₢ Marlene Caminhoto Nassa

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Em algum lugar... Deve haver...Uma semente.

Em algum lugar... Deve haver...Uma semente.

Dizem que os filósofos apresentam ao mundo teorias novas, e que a humanidade os segue. Não acredito nisso. Não faz sentido. O que faz sentido é o enlaçamento de idéias já existentes, a associação entre elas e a conseqüência do hábito de pensar, raciocinar sobre os enigmas. Ao racionarmos sobre essas idéias, encadeando-as, podemos descobrir uma nova teoria. Aconteceu isso com a descoberta de como manter o fogo aceso depois que um raio tivesse incendiado uma árvore, ou um pedaço de lava expelida de vulcão, tivesse caído ainda em brasa, o suficientemente longe para que um hominídeo a mantivesse acesa. Com o conhecimento do fogo não demorou muito para se obter uma alimentação mais saudável, a fusão de rochas para obter metais, as armas de fogo, e fomos á Lua, a Marte, o universo é nossa casa. Tudo graças a filósofos da matemática, da física, nenhum religioso realmente importante, definitivo. Pelo contrário, atrasaram em muito o nosso progresso por que seguiram crenças desprezando a ciência.

Da mesma forma, nossa civilização começou em meio a um grande medo: O de sermos comidos por feras que polvilhavam este planeta. Já fomos almoço e janta de muitos predadores, e até mesmo por muitos de nossos semelhantes, da mesma espécie. Ainda somos, mas de forma indireta: Quando há corrupção nos governos, menos dinheiro chega aos serviços públicos, a qualidade de vida se deteriora, morrem muitos de nossos semelhantes, principalmente idosos e crianças. Com o advento da agricultura, juntamo-nos aos milhares em cidades. Eram necessárias leis para controlar todas as vontades, permitindo apenas as que fossem determinantes para a continuação dos motivos que nos haviam unido. E criaram-se mecanismos destinados a perpetuar esses laços: A tradição dos costumes, a cultura. Cada povo tem a sua, cada nação uma porção. Foi o cimento das sociedades, do criar e manter as fronteiras.

Filósofos parecem descobrir o que já existia, mas não era visto, percebido, entendido: A vontade de mudar, sempre para melhor, em busca de novas motivações, novos fatores agregadores de sociedades, os olhos postos nas possibilidades de um futuro possível, tentador, até então vedado, castrado, dificultado, impedido. Instituições são sempre refratárias a mudanças, porque se perguntam: Por que razão mudar o que sempre funcionou? Se mudarmos – dizem – nossas instituições correm riscos. Não percebem que não são os filósofos que mudam o mundo, nem os líderes, e que as instituições mudam pelo grande ser, escondido, que muda o mundo: A própria humanidade, por uma vontade própria, intrínseca, a que Freud chamou de “inconsciente coletivo”. Cada sociedade tem o seu, cada nação a sua.

São as “sementes” da humanidade, tal como genes, que evoluem, mudam, se adaptam ao ambiente, à vontade de sobreviver, como antes, e agora de sobreviver e viver tanto quanto nos seja possível, do modo mais agradável. E foi assim que vimos tudo mudar. Primeiro, numa velocidade compatível com a nossa capacidade de raciocinar, ainda limitada. A ciência caminha no ritmo das descobertas, em progressão geométrica. Depois, nos últimos trezentos anos, a uma velocidade mais rápida, porque a eletrônica ainda era incipiente. Agora quase ao ritmo da velocidade da luz, porque a informação está disponível para quase todos os seres que compõem a humanidade e não apenas para protegidos de mosteiros, ou de ricas gentes que podiam pagar universidades. E se fez a luz nas relações humanas. Hoje já percebemos quem nos quer explorar. Sabemos julgar atitudes do que dizem que nos amam, mas é apenas como uma casca da tradição, ou profundamente como desejamos que seja. Aprendemos a dizer sim para os falsos e aproveitadores, pensando eles que se aproveitam de nós, para que nos aproveitemos deles. Contestam-se ordem de superiores militares, contesta-se o casamento, o mundo gay existe, sermos governados de forma unilateral por partidos, grupos, ditadores, está com os dias contados, mas ainda não sabem eles. Acreditavam antes que eram filhos dos deuses, depois que eram ungidos por eles, e agora que os elegemos para nos “representarem”.

Um dia teremos que escolher quem poderá ter filhos. Muitos genes serão perdidos, mas é tal a diversidade, que isso não terá diferença para cada um de nós, perdidos numa infinidade de seres humanos. Fará diferença para a sobrevivência no futuro, mas está tão longe, que para nós, que agora lemos isto, não fará diferença alguma. São as sementes que plantamos que definem o futuro, cada vez mais longe das velhas tradições criadas nas grutas onde os hominídeos se protegiam das feras, ou das cidades cercadas por altas muralhas, algumas tão fracas que nem os sons de trombetas agüentavam. Dizem que quando a invadiram, ninguém vivia na cidade abandonada. Já era pó, e ainda os ventos dos tempos do pó não tinham chegado com a força que agora sopram...

Ainda há tempo para vários tipos de sementes brotarem no seio da humanidade. Uma delas, aquela em que haverá amor – também - sem sexo, sem recompensas, sem contrapartidas, sem obrigações. Ainda não brotaram, mas os filósofos já sabem que existem. Seremos já muito poucos por aqui quando brotarem, a terra quase esgotada. Mas lá fora, algures no espaço, fora de nosso sistema solar, novos costumes, novas vidas, novas culturas, novas sociedades e novas humanidades viverão e hão de gerar novas sementes. Então, e só então, porque a humanidade caminha muito devagar, o Sol crescerá, ficará vermelho e se transformará numa gigante, a humanidade salvaguardada.  


© Rui Rodrigues

domingo, 24 de novembro de 2013

Crônicas de Cabo Frio – A crônica de Gilles [1].

Crônicas de Cabo Frio – A crônica de Gilles [1].

Já disse que não tenho nenhum tio. Gilles Gorge D’Auvergne é um amigo que abandonou a França e veio para Cabo Frio, segundo disse, definitivamente. Sempre achei que a história estava um tanto ou quanto deturpada, mas não entrei nunca em detalhe. Chegou, fui esperá-lo no Rio de Janeiro, trouxe-o para Cabo Frio, apresentei-o a umas amigas e nunca mais o vi... Nunca mais me telefonou até ontem, sábado. Disse-me que queria bater um papo e marcamos um lugar onde se pudesse conversar à vontade sem mesas muito próximas umas das outras. Por isso marcamos em minha casa. Meu tio dormiria aqui em casa porque beberia até quase cair. Haviam-se passado já mais de cinco semanas que chegara e pelo silêncio no decorrer desse período, deveria estar próximo a casar mais uma vez. Assuntos do coração seria o grande tema filosófico da noite.


Eram mais ou menos umas seis e meia da tarde, quase noite, quando chegou de táxi, uma mochila nas costas e outra na mão, uma lanterna enorme pendente do pescoço. –- Vai acampar? Perguntei à queima-roupa sem nem sequer lhe dar as boas-noites. Como típico francês, respondeu-me com outra pergunta, pressupondo que eu tivesse entendido sua resposta que não me deu:
- Você tem dois puçás, não tem?
- Tenho! Três...
- Mas somos só dois e vamos ter as mãos muito ocupadas... Vamos para a praia que eu explico pelo caminho. Só me deixa largar umas coisas na tua geladeira e trocar de roupa rapidinho... E enquanto entrava foi contando o seu plano...
- Estou amando. Quero conversar sobre isso, e trouxe umas garrafas de vinho. Vamos à praia pescar crabes (siris) e vamos fazer uma massa com queijo roquefort para acompanhar... Como não sabia se tinha ou não, passei no supermercado e comprei. A praia não fica longe, não é?
- Não... A cerca de cem metros...
- Pronto! Depois arrumo tudo... Vamos?
Gilles tinha se trocado ali mesmo no sofá, já estava de short, havaianas, tinha guardado o queijo na geladeira, uma camisa de gola-rolê e um boné escrito “Búzios”. Devia tê-lo comprado na Rua das Pedras. Imaginei o que deveria ter a mochila, porque apanhou dois copos de pé, e lá fomos para a praia carregando duas mochilas, um saco plástico forte, dois puçás, uma lanterna. Fomos conversando pelo caminho.


- Conheci a Amélia e fiquei apaixonado, cara! – (Amélia é um nome fictício, porque se eu disser aqui o nome verdadeiro dela, algumas pessoas em Cabo Frio não iriam gostar nada em saber o que conversamos).
- É mesmo?... Que bom... (não era "bom" nem "mau"... Amélia... Bem... Amélia eu conhecia. Como lhe contar a verdade? E pensando bem... para quê contar?)
- Ela é mais nova do que eu, uns bons anos, não é verdade? Eu sei que você a conhece porque ela me disse.
- Sim!... Conheço mais ou menos. Amiga de minhas amigas.
-É... Sim... Ela me cativou, mas tenho minhas dúvidas sobre mais um passo em minha vida. Afinal tenho 75 anos e não me vou iludir mais uma vez. Nem vou iludir a moça. Não é certo?
- Não sei, Gilles! – disse-lhe francamente – Essa coisa de consciência depende de cada um. Um conselho meu seria para mim, para minha consciência, não para a sua. Temo que ao dizer algo tanto lhe possa fazer sentir-se bem como mal, agora ou a futuro. Por isso me vou omitir de lhe dar opinião.

Tínhamos chegado à praia. A luz fraca do ultimo poste de iluminação já ficara para trás há cerca de cinqüenta metros. Gilles acendeu a lanterna, colocamos as havaianas dentro de um saco plástico que carreguei dentro de minha mochila. Gilles então tirou de dentro da mochila uma garrafa de vinho branco. Eu preparei o saco de plástico forte, amarrando-o numa das alças da mochila. Colocaríamos os siris dentro dele. E lá fomos cada um com um puçá numa mão, mochila nas costas, um copo de vinho na outra. Quando provei o vinho, subi aos céus e desci ao mar... Era um vinho que já não está disponível no mercado das “Côtes d’Auvergne”. Um “La Légendaire”. 

De certeza absoluta fizera parte da bagagem do Gilles, porque não há vinho desses à venda nos supermercados do Brasil, e muito menos nos de Cabo Frio. Em termos de Supermercados, Cabo Frio merecia melhor, com mais diversidade. Além disso são extremamente caros a pretexto de ser uma zona turística. Guardamos as taças na mochila depois de acabarmos com a primeira dose, Gilles pegou a lanterna e começamos a caçada aos “crabes”. E Gilles foi falando.
- Mulher quando criança é cercada de todo carinho dos pais. Nós, meninos, somos tratados de forma mais dura. Por isso as mulheres esperam sempre um carinho, um presente, uma consideração, um cuidado carinhoso. São muito sensíveis. Nós as ferimos muitas vezes sem sabermos, porque somos mais brutos. Imagine você, meu amigo, se eu tiver um caso mais sério com Amélia e depois não der certo... Eu sentiria muito e ela também. Mas por outro lado, sinto-me irresistivelmente atraído por ela. OLHA!... ALI... ALI... DOIS CRABES! – gritou Gilles, e passamos-lhes imediatamente os puçás. Continuamos conversando.

(Senti que Gilles só queria desabafar, falar, exorcizar os seus fantasmas, ouvir-se a si próprio e sentir o que suas palavras provocavam em sua intuição, se a alterava, ou se abalava sua consciência. Até mesmo se esta as aplaudia, incentivando-o no  processo do amor. Amélia tinha apenas 45 anos, ele 75 anos, nenhum dos dois era criança. Amélia buscava seu ultimo grande amor na vida, Gilles também, mas esse era um processo de tentativas comuns aos insistentes que buscam neste planeta um paraíso particular. A melhor definição que eu tinha dos dois era que eram “muito experientes” nessa busca. Nos últimos dois anos, Amélia tinha feito três tentativas infrutíferas. Gilles era o que se chama de mulherengo, casara três vezes e nunca mais encontrara o “grande amor redentor”). Já estávamos com quase uma dúzia de siris. Uma “quatorzena” seria o necessário. 

-Olha... Entendo que tudo na vida é um recomeçar. Chorar sobre o leite derramado não adianta nada. Eu mesmo vivi numa região da França que inclui um lugar conhecido como Gergóvia.  Ninguém quer falar de Gergóvia, porque foi uma das vergonhas da França. Tínhamos um rei chamado Vercingetórix, que perdeu a batalha final em Gergóvia para César, o romano. Então a Gália inteira caiu sob domínio romano. Mas a França ressurgiu, não foi? É por isso que eu digo que tudo na vida pode ser recomeçado. O meu problema em particular é o tempo. O meu já é pouco. Mais dez, vinte anos?

- Ué! – disse eu enfaticamente – Se vocês se apressarem ainda podem criar uma criança e quando você bater as botas ela estará adulta com 20 anos. A mim não parece uma má idéia. Vocês são saudáveis, fortes. Não ficarão doentes tão cedo. Dá para investir na idéia de juntarem os trapinhos e resolverem a vossa vida.

Demos uma leve parada. Fomos até a areia. Foi então que reparei que ele vinha arrastando a garrafa na água, tampada, evidentemente, para que a temperatura se mantivesse fresca. Ele me disse como fazia, enquanto a desarrolhava e servia mais uma taça para cada um:
- Arrasto a garrafa pela água e de vez em quando a elevo para que a água em sua superfície se evapore e a temperatura baixe.
Provei o vinho. Estava com temperatura bem mais baixa do que quando a abrira. Contamos os siris. Dezoito. Eram suficientes. Eram agora oito horas da noite. Resolvemos parar a caçada aos crabes e voltar para casa.

Da geladeira, tirou um pedaço de queijo roquefort e começamos a preparar a janta. Às oito e meia a garrafa estava vazia. Havia mais duas na geladeira. Quando o “pene roquefort aux crabes” ficou pronto, a conversa ainda estava como no início. Gilles estava com dúvidas se deveria ou não levar adiante a sua penúltima tentativa de não deixar fugir mais um grande amor em sua vida. Amélia, que eu já conhecia bem, ainda poderia tentar muitas vezes em sua vida. Gilles não. Eu sabia e ele sabia tão bem quanto eu.

A noite tinha esfriado e mesmo depois de tomarmos uma ducha quente, a temperatura convidou-nos a irmos para a área da churrasqueira onde jogamos umas lenhas e acendemos o fogo.

Enquanto traçávamos o jantar, divino, Gilles disse:

- Há algo mais, Rui... A mulher francesa tem fama de ser muito sensual, mas é devido a filmes de Hollywood e em parte ao velho Oeste americano, na época da corrida do ouro. Muitas prostitutas francesas correram para lá, tirando as senhoras idosas do sério, porque lhes desvirtuavam os maridos, fazendo na cama as novidades a que não estavam habituados. O que é uma francesa diferente de uma brasileira? Não há diferenças, a não ser as que encontramos de uma pessoa para outra. A espécie humana é como qualquer outro animal: Todos os indivíduos se assemelham. Um extraterrestre que chegasse a este planeta, se sentiria como nós olhando para indivíduos da Ásia. Parecem todos iguais.  Por isso me pergunto: O que busco eu? Uma mulher diferente, ou um caso diferente?


Fez-se um silêncio. Olhamo-nos e eu encolhi os ombros, balancei a cabeça, dando-lhe a impressão que lhe fazia a mesma pergunta. Isso era um problema que ele tinha que resolver. E como bom cavalheiro, não me tinha perguntado pela vida de Amélia, se tinha muitos namorados, ou mesmo se eu já tinha transado com ela. Isso não interessava. E não mesmo... Ele entendeu.

- Sabes de uma coisa? Amanhã de manhã, a primeira coisa que vou fazer será ligar para ela e combinar um encontro... Vou pedi-la em casamento. Gostaria que você e sua namorada estivessem presentes. Querem ser padrinhos ?

Abri um largo sorriso, despejei o resto da terceira garrafa nas taças e ergui um brinde:

- Até que enfim, velho safado... Tomaste a ultima grande decisão de tua vida... Um brinde ao casamento... Seremos padrinhos. Aliás, vou te contar um segredinho. Minha namorada já tinha falado de vocês. Ela acha que seria ótimo para os dois se tentassem trilhar as vossas vidas de mãos dadas. Santé!...

- Santé!!!! – Disse Gilles – E me deu um grande abraço com direito a palmadas nas costas... – Você foi o cupido que me flechou a mim e a Amélia.

E eu tinha certeza disso.

Continuamos conversando sobre vários assuntos, sempre com o nome de Amélia bailando nos lábios de Gilles por mais alguns minutos. Mon oncle (meu tio) francês foi dormir feliz. Liguei para minha namorada e preparei-a para o encontro do dia seguinte pedindo-lhe a reserva que eu sabia que ela tinha. Sua boca seria um túmulo até que Gilles pedisse Amélia em casamento. Mas é a tal coisa... Esta vida tem muitos caminhos que mudam a cada segundo ou se mantêm no rumo por mais ou menos tempo. Nada é definitivo até que aconteça alguma mudança e quando acontece se tem a certeza de não ser eterno... Mentalmente pedi aos céus para não estragarem a tênue felicidade que de vez em quando nos bafeja, mesmo para os que decidem casar depois de se conhecerem um pouco mais de 30 curtos dias. 

Que sejam muito felizes!

© Rui Rodrigues

Fotos de cima para baixo:

1- Os amigos de Gilles, da região D'Auvergne.
2- Gilles em suas pescarias em Auvergne  
3- Vinho de Bordeaux, sensacional - la Légandaire, de Pierre Desprat. 
4-  Pene de siri com queijo roquefort (salpicado de coentro)