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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Viagem no tempo de minha vida...

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1- Instantes depois de minha chegada antes do primeiro trem ...

O mundo era o que eu via. O que eu via era esquisito. Nunca conseguia entender o mundo que via. Muita vegetação, muito frio e aquela coisa branca gelada a que chamavam de neve no inverno, sorrisos de um pessoal que me circundava dia e noite, até que levei o primeiro tapa e pensei que eram meus inimigos. Davam-me comida e isso era muito bom. Doces tambem, e isso era melhor. Um dia achei que ia morrer de febre e falta de respiração, e meu pai voltou com uma injeção, depois de caminhar 24 quilômetros até a vila mais próxima e acordar o farmacêutico. Não havia nem telefone, nem taxi, nem carreira de ônibus na "bila". Nem televisão. A agulha quebrei contraindo os músculos da "peida", e assim era Fornelos, minha terra encantada, longe de tudo e de todos que conheci depois. Este mundo é enorme! Os campos cheiravam a frutas, o rio a peixes, as casas cheiravam a comida e a vinho. Das chaminés saía fumaça cheirosa nos dias mais frios... E comecei a gostar de viver. Aquele era realmente o meu lugar como se fosse uma segunda roupa, um traje. Senti-me muito confortável. Volta e meia me adestravam para a vida como adestravam o cachorro do vizinho, mas de forma mais suave. Muito mais suave, e entendi que se aprendesse bem, teria as coisas mais gostosas que me pudessem dar, e a certeza de me dar bem na vida. Treinavam-me para isso, e aos três anos, mesmo não sendo costume na época, me mandaram para uma escola como "ouvinte". Aquilo era muito bom... Ensinavam coisas incriveis e as pernas de minha professora eram muito mais bonitas vistas por baixo da mesa dela, onde lhe ajeitávamos o braseiro para lhe aquecer os pés. Alunos não tinham isso e as nossas mãos ficavam duras de frio. Então um dia me levaram para o trem, e minha vida mudou. Do que deixei para trás pouco voltei a ver mais de meia duzia de vezes. Minha mãe, nunca mais. Ouvi de uns que não me fez falta. Ouvi de outros que foi uma pena mas não que fizesse ou não falta. Não poderia julgar paixões. As paixões encobrem as verdades. Minha mãe faleceu muito antes de poder voltar a ver-me, quando eu tinha dez anos e ela cerca de 30 e era muito linda. Meu pai teve muito bom gosto. Soube que começou por namorar a irmã dela.       


2- Setenta e um anos depois numa sexta feira


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Hoje é sexta-feira. Há cinco meses, mais que isso, que não fumo nem como sal, a não ser em comidas enlatadas como ervilhas e molho de tomate, por exemplo, quando as uso. Muito pouca carne vermelha, pouca de frango e a maioria da carne é de peixe. Cadilac é um cavalo que não é meu, mas vem me visitar uma vez que outra, postando-se ao lado da janela. Urso é um cachorro que também não é meu, mas tem uma vontade danada de ser. Segue-me para toda a parte. Obedece a algumas ordens minhas. Outras não... Quando vamos na praia, por exemplo, me acompanha até ele "ter pé", mas não me segue mais adiante por causa das ondas: Geralmente são 7 uma atrás da outra. Hoje a praia estava curta porque o mar avançara quase até o passeio. As ruas cheias de areia como que formando dunas. O lugar aqui perto está cheio de dunas. Na volta passei no posto. Minha pressão está excelente mesmo depois da caminhada. Comprei uns "bricabraques" nos supermercados e voltei para casa. Hoje as mocinhas estavam todas pintadas, arrumadas como se fosse sábado ou domingo. Uma senhora idosa - também - parecendo uma menina de seus 30 anos, se assustou com o Urso e disse: - Nossa! Que cachorro enorme... Mas Urso é um cachorro quase 100% labrador, e mais manso que pombo de praça procurando milho... Quando entendi, ela já tinha ficado para trás e eu já ia lá na frente... Mas guardei o rosto. Ela é um pedaço de mau caminho pra qualquer um que cruze com ela e tenha o estalo do dedo mais rápido que eu...  Mais na frente, numa esquina perto de duas árvores, vi quatro crianças entre os seus sete e doze anos. todas meninas. Sentadas na calçada encostadas ao muro. Todas com celular teclando, sem conversarem. Não viram nada do que se passou à sua volta. Nem imaginam o que seja o jogo da Amarelinha. Sou menino e sei desse jogo. Via as meninas jogarem. Um dia para lhes agradar, joguei com duas delas, e embora achasse uma infantilidade de jogo sem graça, joguei. Elas gostaram. Eu acho que a vida é muito por aí... Agradar enquanto se pode, onde se pode e no que se pode. Não  cheguei aqui de trem. Quando vim de vez, vim de carro. Depois vendi porque me saía  muito caro. Imaginem que eu pesava 79 quilos e a S-10, 830 quilos. Todo o combustível servia para carregá-la sobre rodas e eu ainda lhe servia de motorista. Tudo às minhas custas... 

3-  Entre inicio do começo e o principio do fim.


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Vai a história toda de uma vida... No inicio do começo e perto do  fim, a historia é toda quase nossa. Neste imenso intervalo  de tempo é que a vida é comum a muita gente, e não somos donos dela. Não devemos portanto nem contar, porque  seria dispor da história de outras pessoas como se fosse nossa. 

A melhor forma de contá-la é com a imaginação, porque se passou em todos os continentes e recantos, menos na Australia e polos Norte e Sul. Então, em termos de passado, imagine-se numa nau partindo para outros continentes a instalar escritórios, a fazer obras, construções, onde ninguém te conhecia... Ou em termos de futuro, embarcar numas espaçonaves e partir para esses planetas ainda desconhecidos e fundar colonias, fazer obras... Dar inicio a alguma coisa para o futuro que se espera seja boa para a humanidade total ou a do lugar...

Mas isso fica para outros momentos. Agora tenho ao fogo o que sobrou de carne de umas cabeças de peixe-espadas e de pargos, cozinhando  com cebola picada, salsinha, coentros e alhos, um toque de pimenta, sem sal... Vou adicionar farinha de mandioca torrada mexendo sempre, sem deixar ficar pipocando de vapor na panela. Chama-se a isso "pirão"... Mas não é "meu pirão primeiro"... Vou dar um pouco para o Urso que nem é meu.         
  

® Rui Rodrigues 


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Não invadam meu espaço, papo em ônibus contagia e receitas na pressão.

A - As  propagandas e o  respeito pela personalidade


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Numa propaganda da Boticário aparecem três casais de namorados: Duas mulheres, dois homens e um casal heterogêneo. Creio que no futuro poderemos escolher qualquer coisa baseados numa lei que deve ser soberana, do tipo: NÃO INVADA MEU ESPAÇO , PORQUE EU SOU "ASSIM"...

(E seguir-se-ia a descrição do como sou "eu"... Se for hétero, não me invadam com orgulhos gay... Se for capitalista, não me invadam com comunistas que julgo idiotas. Mas..... Se for pela humanidade, cada um como é, que venham todos.... Soft... Sem orgulhos, sem querer impor idiotices . Todo o convicto de algo julga os oponentes como "idiotas". Que se aceite isso então e não se ofendam os outros com a "nossa" presença ou insidiosidade !)


Eu não uso nem vou usar Boticário, mas a Boticário é uma empresa comercial... Ela que sabe como quer atingir o mercado... Se eu fosse o dono da Boticário, faria três anúncios em separado... Vai perder clientes !!!! Tudo o que seja forçado, não se engole...

B - Conversa e simpatia pegam mais  fácil que vírus.


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Peguei o ônibus e fui para C.Frio... Depois de idas e vindas, e muitas decepções com bancos e casas lotéricas que não recebem cartões do ITAU, em dias de greve bancaria, fui ao Super. Encontrei um senhor de 80 anos na duvida sobre que cachaça comprar... havia muitas... Depende da disponibilidade financeira, da vontade de viajar no álcool mais rápido que a luz no espaço-tempo, e da aporrinhação que a família possa nos dar ao abrirmos a garrafa... Como era para "caipirinha", recomendei a velha Pitu, a mais barata de todas, destinada a ser misturada a uma mistura de açúcar com limão amachucados na porrada de um pedaço de pau , o pilão, num almofariz, e não confunda com almoxarife nem com xerife...
Por acaso pegamos o mesmo ônibus de volta... E viemos conversando... O ônibus inteiro conversou.. Assim como quem tosse em Igreja, e todos passam a tossir...
Prefiro os almofarizes brejeiros de pedra e madeira aos "modernosos" lisos e "impecáveis" 

A natureza das pessoas e das coisas me embriaga... Não é a cachaça não!

C- Na cozinha... Aproveite tudo

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Um dia destes tiraram meu peixe do forno em alvoroço, porque eu tinha colocado "muita água"... Os mestres cucas reuniram-se em volta do pirex admirados com a enchente... Eu não disse nada... Sou peixe-acato... Mas a água se destinava a ser misturada com um pouco de farinha de mandioca torrada, assim a modos de pirão... (eu tinha perguntado antes se havia farinha de mandioca em casa e o peixe era de minha filha... Um tremendo de um badejo...

Para não desperdiçar nada, hoje preparei carne assada na panela de pressão, uma forma da carne ficar sempre bem mole...

1- Ponha tudo o que queira por de temperos e não refogue nada. Junte uns dois copos de água... Cozinhe em duas etapas: A os primeiros 30 minutos tal como... Depois abra a tampa, e junte batatas na água cortadas em rodelas... Feche a tampa e cozinhe por mais 30 minutos...


2- Junte farinha de mandioca na água que sobrar... alecrim, salsa, caldo de carne (para quem não quiser arriscar no sal por causa da pressão)

Sirva como quiser, coma quanto quiser, bata palmas, chame as bombeiras, curta a vida, beba todas, e se a policia aparecer por causa do barulho, chame pra dividir... O mulherio entra com a cerveja, o papo, os carinhos e os beijinhos. Farta retribuição garantida !!!!


®
 Rui Rodrigues

domingo, 11 de setembro de 2016

Impressões impressas da semana de 11-set-16

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1- A proposito das eleições em S. Paulo onde já vivi uns anos.

Se fosse uma corrida de cavalos todos com tendencia de curvar a cabeça para o lado da cerca, a esquerda, apostaria no 45... O que parece curvar menos... Porque até o major é de esquerda... Mas isso se fosse uma corrida de cavalos e apostássemos na sorte... Jogos de azar, loterias cheias de cavalos e éguas azarões... Tô fora !!!!! E além do mais, o papo dos candidatos continua o mesmo nas propagandas... Os olhos de um lado para o outro para LEREM os discursos que outros escrevem... Ou seja... Os candidatos não sabem o que dizer... Alguém lhes diz o que dizer... Votamos em gato por lebre !!!!!

2- A proposito da Imbecilidade de Lula, apologista da ignorância, a que se referiu Lima Duarte. 

Se um extraterrestre me dissesse:" - Me mostra um dos teus que seja o mais imbecil para comparar com os nossos"... Eu lhe indicaria o Lula com recomendação e louvor, medalha de ouro... Acreditou que nos enganaria, esse idiota ladrão...

3- A proposito de existirem demasiadas provas contra Lula e o STF nem tomar conhecimento ou desprezar, livrando Lula da prisão.. 

O teor de moralidade e de ética na idiossincrasia nacional se mede hoje pela moralidade e ética conducentes dos atos do STF que se imiscuiu nas decisões de câmara e senado nacionais, provavelmente na esperança de salvar protegidos mútuos acusados de ladravagens de dinheiros públicos... Faz-se necessária uma intervenção para que o Brasil não se transforme na "Republica dos Onze" que suceda a uma outra, a "Republica do 13".....

4- A proposito do cantor de fados Carlos do Carmo em Lisboa, ter dito a uma brasileira que gritara "Fora Temer" enquanto ele cantava que fosse dizer isso na TV e que chegou a pensar que ela o tivesse mandado à merda.

No fundo uma troca de piropos e galanteios... Ela queria ser avacalhada, chamada de lagartixa e jogada na parede... Ele a esperaria no camarote na esperança de que ela pedisse desculpas... Pessoas são sempre muito imprevisíveis quando viajam a negócios, e ficam muito soltas quando vão a Lisboa pra pegar um trem ir a Zurique e abrir uma conta ou tirar uns trocados dela sem nem mostrar passaporte durante a viagem... Conheço um artista de capa preta e que carrega uma garrafa de whisky pela vida afora, que se encontrou com uma presidente de olheiras até no traseiro, pra acertarem os ponteiros dos "fusos honorários"... São uns bardamerdas...


® Rui Rodrigues 



sábado, 10 de setembro de 2016

Todos sabem quem rouba... Mas andam soltos ainda...

Escuta-se muita coisa no Bar do Chopp Grátis entre uns copos e outros...


O Amarelismo Petista

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E .. Porque vereadores que defenderiam o povo pertencem a partidos políticos, defendendo os interesses dos partidos e seus salários e benesses?
Tudo fogo di paia pelas cidades e campos de militantes decepcionados até com o MST, CUT e os sindicatos dos preguiçosos...
Que isto, que aquilo, passando por Haia, pela ONU, por Cannes... Que falta lhes fez o Rui Barbosa, a "Águia de Haia"...
Madame rapeira, rainha da sucata, deve estar agora nadando numa piscina cheia de pasta de mandioca entubada nos USA, paredes cobertas de fotos de crianças com cachorro atras, "vento eólico" encanado em hélices, e diplomas de economia amarrados em pacotes a uma bicicleta pedaleira movida a faixas de presidente...
Agora vai chegar-lhes a Síndrome do Delírio II, quando tiverem que falar em publico para ganhar uma vaga no trono do concubinato do Vereadorismo sem ponto e sem indicação... Cada palavra uma piada... Falta o chacrinha para gritar-lhes:
- Vai pra cadeia ou não vai????
E nestas eleições vemos a mesma conversa de sempre, tudo vago, nada especifico e tem até candidato dizendo que "não promete nada"... E evidentemente nada lhe poderá ser cobrado... Quem votar nessa senhora vai querer apenas uma "vaguinha", a comunidade que se vire... Sai barato não !!!!
Quando não se ataca ninguém de outros partidos, a sociedade deles se fez, e todos eles ganham, o povo perde!...
Sai barato não !!!!

O papo dos candidatos continua o mesmo nas propagandas... Os olhos de um lado para o outro para LEREM os discursos que outros escrevem... Ou seja... Os candidatos não sabem o que dizer... Alguém lhes diz o que dizer... Votamos em gato por lebre !!!!!

Lula - O filho do Brasil- o filme

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Foi o titulo que deram a um filme do tipo ejaculação precoce durante ato que se destinava a comer a merenda antes do lanche... A Pátria Virgem ficou decepcionada...
A culpa foi também do marqueteiro e do roteirista, em segundo plano. Em primeiro plano de quem financiou a película, da direção e da diretoria... Todos apressados!... Porque...


... Lula acha que se move sobre a nata da moralidade e da ética nacionais compradas - literalmente- a "carteiradas" politicas. Quem escreveu aquele roteiro do filme sobre o Luiz Ignácio deveria ter esperado a morte do homenageado, porque assim perdeu ,com o roteiro pela metade - a oportunidade de contar a historia do sapo que se metamorfoseou numa Saramandaia indigna de um prato de arrodz...
Puseram a carroça na frente dos bois! .. E queriam fazer filminho de Anta também, pra ganhar da Cultura... Todos chiques e aburguesados, muitos vivendo no estrangeiro como esses da foto!...


Rui Rodrigues

sábado, 3 de setembro de 2016

Sobre a imortalidade do corpo e da alma



Em breve, (nem tanto, que estas coisas levam tempo) no Bar do Chopp Grátis, um texto - ainda sendo elaborado- sobre muitas coisas interessantes do Universo e uma nota simples sobre a Imortalidade!!!!

Mas é tão simples conseguir a imortalidade verdadeira, que fico estarrecido como ainda não somos imortais... O que nos terá atrapalhado? A razão do cérebro, ou a paixão do coração? Eu ainda acho que Paixão e razão moram no cérebro, e não no coração...
Notas

Nota 1 - A imortalidade é muito simples, mas exige algumas concessões de menor importância ... Como os prazeres estão no cérebro, através de "injeções" de proteína que nos impomos a nós mesmos como quem se masturba , esta parte pode ser resolvida através de "impulsos" virtuais. O cérebro, onde tudo se processa, é relativamente fácil de manter... Bem conservado com oxigênio, a determinada temperatura, proteínas e açucares, pode ser "acoplado" a um corpo completamente mecânico com peças substituíveis, por milênios, bilhões de anos... Robôs dependentes podem fabricar tudo isso a preço de banana... A produção de "alimentos" acabaria... A Terra ficaria entregue a ela mesma, de forma selvagem, salpicada por pequenas ilhas povoadas por humanos, uma base apenas mantida por saudosismo, como quem diz: Nascemos aqui!...  Muitas viagens espaciais, muito trabalho lá fora... Sexo via TV "interna"... Acabou-se a descriminação, escolas, professores, policiais, estado. E corações ... A imortalidade não pode ter corações! Ha tanto trabalho para realizar, que não se pode perder tempo com besteiras, e pensar com o coração gera muito atraso...

Por estes tempos, apareceu por aqui uma "robota" burrinha que elegeram presidentA da republica... Falava tudo o que lhe ditavam via comunicador auricular. Um tipo de robô diferente em que todo o corpo é humano, pele e tudo, mas ainda não pensa como gente. Destituíram-na por ser muito avacalhada. 


® Rui Rodrigues

domingo, 28 de agosto de 2016

TERRA- 22.016 DC- Crônica Nonata

Frame Um

Esta crônica começa numa visita que um descendente meu me fez, convidando-me  para visitar a minha família no futuro. Jamais imaginei que meus genes pudessem ter tanto sucesso, mas de trilhões de genes, meus descendentes ainda tinham uma meia dúzia herdada apenas de meus avós, pais e de mim mesmo, 20 mil anos depois deste ano de 2016, o que não deixa de ser notável. Chegaram numa noite de setembro de 2016, perguntaram em meu ouvido se eu queria visitá-los, eu disse que sim e acordei num quarto decorado ao estilo desta década de 2.000 e "dezes": Uma janela com cortina, uma cama simples, um móvel com uma TV em cima, um armário embutido, uma porta para a sala e outra para o banheiro, uma cômoda. Um laptop na mesinha de cabeceira junto a um abajur. A mesinha de cabeceira tinha portinhola com penico. Achei estranho a portinhola e o penico, e ia me levantar quando a porta se abriu deixando entrar as vozes num português muito esquisito mas agradável ao ouvido. Um casal entrou no quarto. Tinham os olhos puxados, eram morenos de olhos azuis. Vestiam roupas coladas ao corpo como se fossem uma segunda pele. Consegui entender que iam me deixar sozinho e passar um filme sobre o que havia para além daquele quarto para que eu não tivesse um "choque cultural" e me sentisse tão eufórico ou tão infeliz que pudesse ter "morte" instantânea... Viagens no tempo eram possíveis sim... Mas a lei número um desde que as viagens se tornaram possíveis foi: "Nunca deixe pistas de que viajou no tempo. Pode matar os seus ancestrais, como seu avô, por exemplo, e você deixar de existir". 


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Frame dois

Deixaram-me sozinho com a TV ligada. Ela era em 3D mesmo, no duro, e projetava uma imagem no quarto em três dimensões que quase se podiam tocar. Levantei-me, e me coloquei no meio do programa que passava, e incrivelmente aquele pessoal todo interagiu comigo, me apertou a mão, as meninas me deram beijos. Minha estatura fora reduzida instantaneamente ao tamanho deles. Não havia raças humanas... Eram todos de mesmo padrão: Olhos puxadinhos, pele morena, uns louros, outros de cabelo ruivo, preto, olhos verdes, azuis, castanhos, cor de mel. Havia um pessoal com cartazes pedindo cotas em universidades para pessoal com olhos cor de mel. Tudo isto no meio de uma praça com vistas para... Isso mesmo... Com vistas para os céus. A praça imensa estava situada num enorme edifício que deixava as nuvens a pelo menos uns dois quilômetros abaixo. Fui até a janela, abri-a, e vi a praça, as pessoas, minha imagem apareceu na TV. Sorri! Tinham-me dado as boas vindas. O programa continuou mostrando imagens do planeta. Era tudo selva, pradarias, e onde antes existiam cidades agora havia apenas meia duzia de edifícios em cada uma. Parecia não haver carros, trens, ônibus, nada... 
Nenhum tipo de transporte, nem aviões ou navios. Os edifícios eram enormes, é certo, mas mesmo assim notava-se que as populações haviam sido drasticamente reduzidas... 

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Frame três 

Uma locutora contou rapidamente que essa queda drástica na população se devera a uma grande crise existencial atribuído ao inconsciente coletivo, mas que os cientistas não estavam convencidos, porque nesses casos as populações mais atingidas são sempre as mais cultas por terem mais consciência e conhecimentos da realidade e que não tinha acontecido assim. As populações de África, por exemplo, quase haviam desaparecido. Desconfiava-se de algum movimento terrorista que tivesse dizimado as populações. Os chineses foram os que mais sofreram. Havia suspeitas também de um plano internacional de governos unidos para "viabilizar" a vida no planeta que antes estivera sujeita a um crescimento "idiota" sem controle algum, cada um botando filhos no mundo à toa, sem fundamento ou necessidade, apenas pelo "prazer" de ter filhos. Dizem também, que os "altruístas" acharam a vida tao difícil que acabaram por concluir que não valia mais a pena viver, visto a vida ser uma "virtualidade" que aparece, dura pouco e desaparece como se nunca tivesse existido. Então se perguntaram para que fim deveriam existir, e não tendo chegado a conclusão, se suicidaram. Ninguém nunca acreditou nisso. Atribuem toda essa confusão a uma seita que se cansou de esperar a volta de Jesus e desistiu. Nem havia mais Papas homens. Eram todas mulheres e de outros tipos. E agora os prazeres eram outros. Sexo era a unica droga natural humana permitida em todas as instituições e em qualquer lugar, sob quaisquer circunstâncias.  

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Quem fazia todo o trabalho agora, eram os robôs. Trabalhavam quase gratuitamente (salvo reparos no seu exoesqueleto ou atualização de soft e hardware) e  para uma população mundial reduzida agora a pouco mais de uns quinhentos milhões de pessoas, que trabalhavam duas horas por dia, dormiam sete horas em média e se divertiam o resto do tempo. O Paraíso havia chegado. A Terra tinha colonias em Marte e no planeta Europa. Ainda não havia sinal de extraterrestres. Mercadorias e pessoas se transportavam por subterrâneos.

Na foto um dos andares onde vive uma família média de cinco pessoas em 22.016 DC. Os robôs fazem todo o trabalho de cultivo, manutenção, etc...  
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Frame quatro 

Quando acabei de ver o programa na TV, fui caminhando até a porta. Meus descendentes me aguardavam. Eram cinco. Uma neta, a mãe, um avô, em linha direta, e o pai da menina e a avó como família associada. Não pude fazer-lhes muita companhia porque eles se alimentavam com pilulas que engoliam com água. Podiam também injetar alimentos de forma intravenosa. Pra mim tinham um bolo virtual de chocolate com velinhas e tudo como nos velhos tempos. Estava ótimo! Eles quiseram ser muito simpáticos e disseram que essa minha "viagem" se devia a um programa que o governo havia patrocinado, tipo gincana. Quem levasse ao programa o ancestral mais distante ganhava uma viagem a Alfa-centauro e a perpetuação de seus genes que seriam incluídos em novas incubações de humanos. Perguntei se podia dar uma transadinha - a ultima depois do limite no tempo em que morrerei, já que estou fazendo vivo uma viagem ao futuro - E me disseram que sim, com umas profissionais das melhores que existiam no planeta, todas robôs. Fiquei impressionado com o avanço da tecnologia. Nem as mais lindas neguinhas de engenho dos tempos da colonização, nem as mais lindas mulheres dos saloons americanos dos tempos das carruagens, nem as mais lindas mulheres do "Batôn Rouge" parisiense as superavam... Passei bons minutos com elas.  
        
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O povo daquele futuro provava-me que homens e mulheres não precisavam uns dos outros para viverem, apenas precisavam de sua "tradução", de seu significado e certamente de seus genes, mas estes já se armazenavam em nitrogênio liquido a temperaturas próximas do zero absoluto. 

Frame Cinco

Depois das comemorações, minha família me encheu de abraços, e me comunicaram que infelizmente teriam que se despedir de mim porque as viagens não permitiam mais que dois dias de convívio que estavam chegando ao fim. Prometeram que se ganhassem a gincana me depositariam umas granas boas através de um "input", um "flash" quando eu fosse jogar na Megassena. Eu ganharia o premio maior porque adivinharia as seis dezenas, mas se esqueceram de dizer quando. Nem fizeram as contas, eu creio, para saberem durante quanto tempo eu ficaria vivo ainda, a partir de setembro de 2016. E foi assim que voltei para aquele quarto com uma velinha de recordação do bolo virtual de aniversário, e umas lembranças que nem me recordo mais se foram reais, virtuais ou produto de sonhos. Garanto que não tenho  nem uma velinha de aniversário em casa, e que nunca acertei na Megassena. Então, para todos os efeitos, ainda podemos acreditar que, felizmente, tudo o que leram não corresponde a uma realidade do futuro, mas apenas a uma perspectiva virtual, uma hipótese de um total de tri-bi-hexa-bilhões de hipóteses muito mais plausíveis.

Quando me senti em casa, preparei um spaghetti mais pra espaguete que para spaghetti, com molho de carne e linguiça calabresa, com um toque de coentros, queijo ralado e azeite das montanhas hibéricas. Ainda joguei um pouco de farinha de mandioca bem torrada sobre os líquidos do prato para deixar a comida mais encorpada...

Mas... O que fazia aquela boneca tipo robô em cima de minha  cama, me esperando?      

® Rui Rodrigues