Perfumes se fazem com extratos (óleos), água, álcool e fixadores. A palavra perfume vem do latim Pro Fumum, que significa “através da fumaça”. É interessante nos fixarmos no significado de “através da fumaça”.
O hábito do perfume vem do Oriente Médio, mais precisamente, do antigo Egito, há cerca de 4.000 anos, quando foi inventado. Nessa época, usavam-se ungüentos, ou seja, óleos de plantas, mas certamente os primeiros perfumes eram provenientes da queima do incenso, do benjoim, do galbano triturados e aglutinados com a mirra e o azeite de oliva. Esta mistura era queimada e seu fumo (Fumum) era naturalmente perfumado. Incrustava-se nas roupas. Quando se ia aos templos, onde se queimava esta mistura, associava-se o cheiro gostoso aos deuses, a alma e o corpo pareciam limpos. Certamente era muito agradável.
Por aquela época, como ainda hoje nas terras quentes durante o dia e frias durante as noites do Oriente Médio e Norte de África, os povos sempre usaram túnicas compridas – também chamadas de caftan, djellabia, dishdasha ou gallibia, em árabe - para reter a umidade do corpo e proteger dos raios solares. Vasos com misturas similares á acima descrita, eram postos para queimar. Quem desejava perfumar-se, colocava o vaso com a mistura queimando, e de pé, deixava que o fumo da queima lhe impregnasse a roupa, a pele. Era o perfume ou o Pro Fumum, através da fumaça, do fumo. Do oriente médio, atravessando o mediterrâneo, ou em lombos de camelos em caravana, o perfume chegou à Europa.
Todo o bom perfume deve ter equilíbrio. Não pode ser extremamente “ácido”, ou muito “doce”, e ao ser usado, não pode pecar pelo exagero. Para termos uma ideia do significado do equilíbrio nos perfumes, podemos comparar com a nossa percepção da essência das coisas, de qualquer coisa, e do sentimento que nos provoca. O equilíbrio dos perfumes é o equilíbrio da vida, dos sentimentos, e somos as melhores testemunhas, porque costumamos punir o exagero ou a deficiência no sentir das coisas da vida.
Mas o que seria dos perfumes sem não sentíssemos o cheiro?
Pessoas capazes de sentir grande número de aromas, contratadas pela indústria de perfumes, são capazes de reconhecer 2.000 aromas diferentes (uma pessoa comum reconhece apenas 12), Por isso não admira que pouco mais de 300 pessoas no mundo tenham essa capacidade.
É através de nosso nariz que sentimos os cheiros. Em 2004 o prêmio Nobel de medicina foi atribuído a Linda Buck e Richard Axel por terem explicado como o olfato funciona. Descobriram que os cílios de cada neurônio olfativo (temos cerca de 10.000.000 deles atrás de nossas fossas nasais, e os cílios desses neurônios estão em contato direto com o ar que inspiramos pelo nariz), são recobertos por apenas um tipo de cerca de mil proteínas detectoras de moléculas odorantes. Podemos identificar mais de 10 mil odorantes porque o nosso olfato usa essas proteínas de maneira combinada e, assim, conseguimos perceber uma variedade enorme de cheiros.
Buck e Axel demonstraram como o sinal detectado no nariz é transmitido para o cérebro. Em primeiro lugar, os sinais são enviados ao bulbo olfativo. De lá, a informação pode seguir dois caminhos. Um deles é ser enviada para regiões do cérebro consideradas superiores, onde a percepção consciente do aroma é gerada, isto é, detectamos a molécula odorante do maracujá – por exemplo- e pensamos imediatamente: “Isso é maracujá.” Mas outro caminho é quando a informação segue para estruturas cerebrais consideradas primitivas, que comandam nossas emoções e memórias olfativas – é mais ou menos quando um cheiro nos faz lembrar de um lugar ou de alguém.
Chegamos assim à essência sobre os olfatos e os perfumes: o depoimento de Maomé. O profeta e fundador do islamismo, Maomé, acreditava no poder dos perfumes e, segundo dizem, teria afirmado certa vez: "Três coisas são importantes para mim na Terra: mulheres, perfumes e orações.Tirando as Orações, Maomé tinha um gosto perfeitamente atualizado do mundo em que vivemos. Em ambiente que certamente seria perfumado, cercado de belo harém, não nos podemos admirar de que tivesse razão. Teria dito também: "O perfume é o alimento que nutre meus pensamentos."
Por vezes nosso cérebro se engana quando cheiramos severamente a essência de uma frase que, dita por outra pessoa, nos pareceria perfumada. Alguns de nós só sentimos 12 emoções, outros conseguem distinguir 20.000...
Rui Rodrigues
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