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sexta-feira, 1 de março de 2013

Construindo imagens do mundo.

 Construindo imagens do mundo.

Precisava de uma imagem para a qual pudesse olhar a qualquer instante e rebuscar explicações, detalhes, que me ajudassem a compreender o mundo em que vivo. Há quem viva sem esta necessidade, perguntando-se todos os dias “porquê?”, sem encontrar qualquer razoabilidade nos fatos, angustiando-se, sofrendo, ou simplesmente nada se perguntar, e encolhendo os ombros e dizer “a vida é assim mesmo”. E mesmo dos que se questionam e tentam construir imagens, como eu, há que não desprezar os pequenos detalhes. Sem eles não se explicam os grãos, os pedregulhos, as rochas nem os limos e árvores que compõem este mundo e lhes dão significado.

A imagem que cada um de nós tem deste mundo depende dos grãos coletados para compor a sua imagem. Por isso, e porque são tantos os grãos, os detalhes, as minúcias, não há, de certeza absoluta, dois seres que o vejam como realmente ele é, e muito menos dois seres que o vejam de forma igual. A probabilidade de duas imagens serem idênticas com tal infinidade de detalhes de todos os tipos é nula até a mais infinita casa decimal.

É isso que nos faz diferentes uns dos outros, e não apenas a carga genética e nossa interação com o mundo. Estes são apenas pequenos grandes detalhes de um universo ainda muito e muito maior. E esta constatação nos imprime o sentimento angustiante de que somos pequenos, muito pequenos, pouco mais do que um grão de fino pó, face à enormidade dos fatores que compõem nosso universo físico e moral, mas que nos faz gigantes, quase pequenos deuses, ao constatarmos que mesmo sendo tão pequenos, tão ínfimos, temos a capacidade de entender tanto do mundo que nos rodeia e dominar-lhe apreciável parte.

E temos assim a explicação para todos os campos divergentes do conhecimento humano. Sob o ponto de vista da percepção e avaliação humana do mundo ao nosso redor não há diferenças tão gritantes entre quem tem um DNA com qualquer deficiência ou quem o tem perfeito e não aproveita as suas qualidades. As descriminações a que assistimos devem-se exatamente à “imagem” que cada um de nós construiu para si mesmo, colhendo grãos, pontos, limos, árvores, e para a qual olha todos os dias tomando-a como referência para o seu comportamento.

Somos catadores de pichels, grãos, gotas, impressões, fatos, notícias. Coletamos tudo e nada é lixo. O que é lixo para uns não o é para outros e há riquezas imensas nos lixos que coletamos.  E então nos classificamos uns aos outros pelo lixo ou pelas riquezas que coletamos. Mas como nem todo o lixo é lixo e muitas riquezas o são, ou em outras palavras, como nem toda a riqueza é riqueza e muito lixo é, podemos ser induzidos a pensar, face ás imagens que construímos, que riqueza é tudo o que os outros não dividem e lixo é tudo o que esses mesmos jogam fora. Fora de sua mente ou fora do mundo material que detêm. É a característica classificação do equivoco e somente uma imagem mais completa que se possa construir permitirá identificar o que realmente é lixo e o que é riqueza. Mas nenhum de nós tem tempo suficiente de vida para construir uma imagem perfeita. As que temos são geralmente reaproveitadas de antigos formadores de imagens as quais copiamos e refazemos a cada dia, mudando-lhe os detalhes de lugar, retirando-os, colocando novos detalhes, diferentes, ou alterando-lhes a intensidade.

O projeto americano para mapear o cérebro humano contribuirá de forma determinante e efetiva para um melhor conhecimento da mente humana, a exemplo do que já aconteceu com o projeto “genoma”. Porém, e, como sempre, muitos novos pichels, pontos, curvas, cores, serão incluídos ou removidos, ou mudados de lugar. Uns para construir novas imagens, e outros para destruírem muitas das que já existem. Porém, neste aparente caos de imagens há uma determinada ordem que ainda não conhecemos, mas que determina a “direção” em que se move a humanidade. A humanidade se move na linha do “adotado”, isto é, o que a humanidade adota, seja riqueza ou lixo, perdura por momentos de tempo ínfimos para os padrões do universo, e depois são abandonados ou persistem através dos séculos. Um exemplo? A humanidade veste-se, não anda nua pelas ruas. Talvez algum dia a adoção de roupa se extinga, mas os pichels da imagem da moral ainda não o permitem, embora haja muitos de nós que a adotam. Eu por exemplo, em minha casa ando invariavelmente nu num clima tropical. Pessoas de regiões próximas a pólos vestir-se-ão sempre enquanto a Terra não for torrada pelo Sol. Muitos de nós construímos padrões morais que ridicularizam o nu, Outros crêem, como eu, que a moral não tem nada a haver com a vestimenta que nos disfarça.

Espero que este texto ajude a compor a imagem que constrói do mundo em que vive e que todos nós estamos construindo sem sabermos qual o rumo que a humanidade há de tomar.


Rui Rodrigues

PS – Experiência recente com ratos nos quais implantaram chips no cérebro, locados a milhares de quilômetros de distância – um nos EUA e outro no Brasil - demonstraram ser possível a intercomunicação cerebral. A notícia que li, não deixa antever qual o principio físico que foi utilizado, mas tudo leva a crer que tenha sido o da física quântica segundo o qual um “quanta” de luz tanto pode ser uma partícula como uma onda. Duas partículas colocadas em contato uma com a outra e  depois separadas, mesmo que pela distância extrema do Universo, sempre que uma mudar o spin, a outra muda também o seu de forma instantânea. Esta descoberta poderá levar no futuro a uma “rede” Net constituída e interligada por cérebros, além de computadores cujo “CPU” seja um cérebro ou vários interligados. 

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