Construindo imagens do mundo.
Precisava de uma imagem para
a qual pudesse olhar a qualquer instante e rebuscar explicações, detalhes, que
me ajudassem a compreender o mundo em que vivo. Há quem viva sem esta
necessidade, perguntando-se todos os dias “porquê?”, sem encontrar qualquer
razoabilidade nos fatos, angustiando-se, sofrendo, ou simplesmente nada se
perguntar, e encolhendo os ombros e dizer “a vida é assim mesmo”. E mesmo dos
que se questionam e tentam construir imagens, como eu, há que não desprezar os
pequenos detalhes. Sem eles não se explicam os grãos, os pedregulhos, as rochas
nem os limos e árvores que compõem este mundo e lhes dão significado.
A imagem que cada um de nós
tem deste mundo depende dos grãos coletados para compor a sua imagem. Por isso,
e porque são tantos os grãos, os detalhes, as minúcias, não há, de certeza
absoluta, dois seres que o vejam como realmente ele é, e muito menos dois seres
que o vejam de forma igual. A probabilidade de duas imagens serem idênticas com
tal infinidade de detalhes de todos os tipos é nula até a mais infinita casa
decimal.
É isso que nos faz
diferentes uns dos outros, e não apenas a carga genética e nossa interação com
o mundo. Estes são apenas pequenos grandes detalhes de um universo ainda muito
e muito maior. E esta constatação nos imprime o sentimento angustiante de que
somos pequenos, muito pequenos, pouco mais do que um grão de fino pó, face à
enormidade dos fatores que compõem nosso universo físico e moral, mas que nos
faz gigantes, quase pequenos deuses, ao constatarmos que mesmo sendo tão
pequenos, tão ínfimos, temos a capacidade de entender tanto do mundo que nos
rodeia e dominar-lhe apreciável parte.
E temos assim a explicação
para todos os campos divergentes do conhecimento humano. Sob o ponto de vista
da percepção e avaliação humana do mundo ao nosso redor não há diferenças tão
gritantes entre quem tem um DNA com qualquer deficiência ou quem o tem perfeito
e não aproveita as suas qualidades. As descriminações a que assistimos devem-se
exatamente à “imagem” que cada um de nós construiu para si mesmo, colhendo
grãos, pontos, limos, árvores, e para a qual olha todos os dias tomando-a como
referência para o seu comportamento.
Somos catadores de pichels, grãos, gotas, impressões, fatos, notícias. Coletamos tudo e nada é lixo. O que é lixo para uns não o é para outros e há riquezas imensas nos lixos que coletamos. E então nos classificamos uns aos outros pelo lixo ou pelas riquezas que coletamos. Mas como nem todo o lixo é lixo e muitas riquezas o são, ou em outras palavras, como nem toda a riqueza é riqueza e muito lixo é, podemos ser induzidos a pensar, face ás imagens que construímos, que riqueza é tudo o que os outros não dividem e lixo é tudo o que esses mesmos jogam fora. Fora de sua mente ou fora do mundo material que detêm. É a característica classificação do equivoco e somente uma imagem mais completa que se possa construir permitirá identificar o que realmente é lixo e o que é riqueza. Mas nenhum de nós tem tempo suficiente de vida para construir uma imagem perfeita. As que temos são geralmente reaproveitadas de antigos formadores de imagens as quais copiamos e refazemos a cada dia, mudando-lhe os detalhes de lugar, retirando-os, colocando novos detalhes, diferentes, ou alterando-lhes a intensidade.
O projeto americano para
mapear o cérebro humano contribuirá de forma determinante e efetiva para um
melhor conhecimento da mente humana, a exemplo do que já aconteceu com o
projeto “genoma”. Porém, e, como sempre, muitos novos pichels, pontos, curvas,
cores, serão incluídos ou removidos, ou mudados de lugar. Uns para construir
novas imagens, e outros para destruírem muitas das que já existem. Porém, neste
aparente caos de imagens há uma determinada ordem que ainda não conhecemos, mas
que determina a “direção” em que se move a humanidade. A humanidade se move na
linha do “adotado”, isto é, o que a humanidade adota, seja riqueza ou lixo,
perdura por momentos de tempo ínfimos para os padrões do universo, e depois são
abandonados ou persistem através dos séculos. Um exemplo? A humanidade
veste-se, não anda nua pelas ruas. Talvez algum dia a adoção de roupa se
extinga, mas os pichels da imagem da moral ainda não o permitem, embora haja
muitos de nós que a adotam. Eu por exemplo, em minha casa ando invariavelmente
nu num clima tropical. Pessoas de regiões próximas a pólos vestir-se-ão sempre
enquanto a Terra não for torrada pelo Sol. Muitos de nós construímos padrões
morais que ridicularizam o nu, Outros crêem, como eu, que a moral não tem nada
a haver com a vestimenta que nos disfarça.
Espero que este texto ajude
a compor a imagem que constrói do mundo em que vive e que todos nós estamos
construindo sem sabermos qual o rumo que a humanidade há de tomar.
Rui Rodrigues
PS – Experiência recente com
ratos nos quais implantaram chips no cérebro, locados a milhares de quilômetros
de distância – um nos EUA e outro no Brasil - demonstraram ser possível a
intercomunicação cerebral. A notícia que li, não deixa antever qual o principio
físico que foi utilizado, mas tudo leva a crer que tenha sido o da física
quântica segundo o qual um “quanta” de luz tanto pode ser uma partícula como
uma onda. Duas partículas colocadas em contato uma com a outra e depois separadas, mesmo que pela distância
extrema do Universo, sempre que uma mudar o spin, a outra muda também o seu de
forma instantânea. Esta descoberta poderá levar no futuro a uma “rede” Net
constituída e interligada por cérebros, além de computadores cujo “CPU” seja
um cérebro ou vários interligados.
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