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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Um corpo humano dissecado

Um corpo humano dissecado


Aqui, pelo Bar do Chopp Grátis, passa todo tipo de indivíduos, sem exceção. Certo dia de Outono passou por     aqui uma mulher atraente, acompanhada de um sujeito franzino, cuja beleza contrastava com a dela. Ele era realmente feio. Ambos bem vestidos eram igualmente inteligentes. Sua conversa chamou a atenção da clientela, e os sons do tinir de copos e pratos e a vozearia foram diminuindo a tal ponto que em qualquer recanto do imenso bar se podiam ouvir suas vozes embora falassem em tom razoável. Todos escutaram o que disseram, e como concordavam entre si, não importa qual deles teria sido o “dono” das palavras e frases. Eis o resumo do que disseram, uma nova visão do que, para eles, é um ser humano.


Concluíram que, mais cálcio, menos cálcio, mais comprimento menos comprimento, todos os ossos humanos eram iguais, a tal ponto que, na ausência de um exame de DNA qualquer osso humano é inconfundível e tem apenas uma classificação de origem: São ossos humanos! Concluíram o mesmo para a carne: Com maior ou menor graus de gordura e de alguns elementos químicos, toda a carne deles é indistinguível uma da outra: É carne humana. E assim também para as vísceras e o sangue. Concluíram que os seres humanos se distinguem uns dos outros apenas pela aparência externa da pele, do cabelo, pelos adereços e roupa, pela cor dos olhos e pelas impressões digitais. Dissecaram o que era um corpo humano em sua materialidade: Uma humanidade de irmãos indistinguíveis em sua essência material, a não ser pela primeira linha de diferenciação aparente que é a cor dos olhos, dos cabelos e da pele, além das impressões digitais e pela segunda linha, ainda mais material, dos adereços e roupas. Diferenciação aparente, porque todos as peles são praticamente iguais química e fisicamente, assim como os cabelos e os olhos. No fundo, e sob todos os aspectos, a materialidade é idêntica. Não fosse o que “vemos” e “entendemos”, todos seriamos rigorosamente iguais, unidades autônomas constituídas essencialmente de carbono.



(Todos esperaram pela dissecação da “alma”, do espírito ou do “eu” próprios de cada um. A curiosidade era muito grande. Todos pediram mais bebidas, mais salgadinhos. Naquele bar o chopp era e sempre foi grátis, mas os salgadinhos carregavam em si o preço dos chopps ainda mais salgado.).

Para eles, a alma, o espírito ou o “eu” de cada um, era como um outro corpo com ossos, carne, órgãos e pele, todos de diferente constituição entre si, porém todos também iguais na essência, tal como aconteceu com a dissecação da parte material do corpo humano.

Os “ossos” desta parte “imaterial” do complemento do corpo humano são a “inteligência” intrínseca que se revela logo ao nascer: os corações sabem como bater e em que ritmo, os pulmões funcionam normalmente, os braços, pernas e cabeças se movem de igual forma para todos os recém-nascidos. É algo que corresponde ás funções do “bulbo raquidiano” e sistema reptiliano [1], de comando inacessível a qualquer ser humano e que regula as funções vitais: Ninguém pode comandar seu coração para que pare repentinamente, ou que seu estômago ou o fígado parem de funcionar. A carne é a realidade do mundo observável, a influência do meio, que varia de indivíduo para indivíduo.No entanto, para todos é essencialmente idêntico, porque o mundo observável se mostra a todos de igual forma. Todos vêem o mesmo mundo embora possam viver sob influências ou realidades diferentes, como quem nasce em “berço de ouro” ou quem nasce numa favela, mas todos vêem os dois lados. Se tentarem ignorar algum deles é por sua própria determinação, por omissão, condescendência ou determinação.  Isto corresponde ao neocortéx cerebral [2], onde reside a consciência da razão. A emoção, para eles, está nos órgãos vitais deste “segundo corpo” imaterial e corresponde ao nosso sistema límbico [3], voltado para as emoções, as artes, a sensibilidade.


Para eles, em sua dissecação do corpo humano, sendo um material e outro imaterial, mas de formação “semelhante”, no imaterial cada “órgão” tem sua função. Neste, os olhos servem apenas e exclusivamente para sentir, conjuntamente com os “ouvidos”, e a boca expressa o resultado de todo o envolvimento de todos os órgãos: É uma capa como a pele, a primeira linha de identificação de cada corpo humano, aquilo que aparece e transcende para os outros seres da mesma espécie. Um outro animal de outra espécie, não percebe as diferenças entre os seres humanos, porque não os julga pelas “capas” de pele material ou de “pele” imaterial, a alma, o espírito, o “eu” de cada um.


Ao avaliarmo-nos uns aos outros, é sempre por estas capas de pele material e imaterial, jamais pela totalidade do indivíduo, o que ele realmente é. Não seria nenhuma heresia, á verdade, dizermos que vivemos num mundo irreal, exatamente por que julgamos o que vemos e não temos meios de ver tudo de forma completa e total, sem capas, por debaixo da pele física, da pele moral, ética, sensível, da imaterialidade. O que vemos, não é a realidade. Temos plena consciência disso, mas teimamos em julgar pelas aparências, pelo que vemos com nossos deficientes sentidos. E certamente nunca nos entendemos a menos que sejamos tão parecidos em todos os fatores que constituem a nossa imaterialidade, ou que estejamos dispostos, por convicção ou conveniência, a concordar com terceiros.



Sigmund Freud foi muito claro em sua tese ao descrever o funcionamento do cérebro humano, seus problemas, seus desajustes. O casal do bar que foi ouvido atentamente pelos demais fregueses não foi tão claro, mas as semelhanças de nossa imaterialidade com a constituição de nosso corpo humano nos dão razões para, pelo menos, meditarmos sobre o que de nós é “construído” para efeitos de vida em sociedade e o que realmente somos. O que gostaríamos de fazer e não fazemos, para atender as leis de convivência das sociedades, e o que mudaríamos para que as sociedades pudessem viver mais em paz e tranqüilidade sem que essa paz e essa tranqüilidade fossem apenas uma obrigação vital para o convívio. Ao ser apenas uma obrigação vital, e não uma enraizada opção de consciência, damos a oportunidade a que, por acharmos que podemos prevalecer nossas opiniões, deflagremos a guerra e a violência. Grandes filósofos como Zaratustra, Moisés, Jesus, Buda e outros, que passaram por este mundo entenderam perfeitamente estes mistérios do comportamento humano, baseado nas influências do meio externo modificando o “eu” próprio de cada um ao longo dos anos, e nossa adaptação às leis de convívio e dos padrões de comportamento estabelecidos pelas sociedades nas quais nos inserimos.



A nossa ilusão e o nosso alheamento do mundo real, aquele que não podemos ver por nossa própria deficiência, é como uma química tão peculiar à que nos faz ter prazer no sexo, na comida, nos cheiros, nas paisagens que nos passam pelos olhos, onde o bom e o mau se confundem segundo quem os observa e analisa, a tal ponto que a chuva pode ser tão boa para os agricultores (ou tão ruim se for em demasia), quanto poder ser tão ruim para veraneantes.


Há um longo caminho, um caminho realmente muito longo para a total compreensão do que é realmente um ser humano. Ficaremos admirados no futuro ao constatarmos que nenhum controle poderá controlá-los, por que seu poder de camuflagem é realmente importante para a sua própria sobrevivência. É por isso que sistemas políticos demasiadamente controladores da mente humana sempre foram vencidos pelas massas ou por parte delas. A humanidade e as sociedades não podem ser controladas por longos períodos de tempo. Sua revolta contra o controle está na essência de sua constituição, deflagrada em função de sua capacidade de suportar o insuportável, na medida em que, sob certas condições, se dá a vida pela liberdade, porque sem liberdade não vale a pena viver. O PT e sua base aliada, e as ditaduras de veludo atuais na Venezuela, Uruguai, Cuba, Bolívia e Argentina, não perceberam isto. Cuba está começando a perceber. 

® Rui Rodrigues











[1] Bulbo raquidiano, bolbo raquidiano, medulla oblongata, medula oblonga, ou simplesmente bulbo é a porção inferior do tronco encefálico, juntamente com outros órgãos como o mesencéfalo e a ponte, que estabelece comunicação entre o cérebro e a medula espinhal. A forma do bulbo lembra um cone cortado, no qual a substância branca é externa e a cinzenta interna. É um órgão condutor de impulsos nervosos.Relaciona-se também com funções vitais como a respiração, os batimentos do coração e a pressão arterial, e com alguns tipos de reflexos como mastigação, movimentos peristálticos, fala, piscar de olhos, secreção lacrimal e vômito (mais específico da área postrema). Por isso uma pancada nessa área ou a sua compressão por parte do cerebelo, que se encontra posteriormente, pode causar morte instantânea, paralisando os movimentos respiratórios e cardíacos. (Ver em (http://pt.wikipedia.org/wiki/Bulbo_raquidiano )

[2] Neocórtex, "novo córtex" ou o "córtex mais recente" é a denominação que recebem todas as áreas mais desenvolvidas do córtex. Recebe este nome pois no processo evolutivo é a região do cérebro mais recentemente derivada. Essas áreas constituem a "capa" neural que recobre os lóbulos pré-frontais e, em especial, os lobos frontais dos mamíferos. É a porção anatomicamente mais complexa do córtex. Separa-se do córtex olfativo por meio de um sulco denominado fissura rinal. Possui diversas camadas celulares e diversas áreas envolvidas com as atividades motoras, intimamente envolvidas com o controle dos movimentos voluntários, e funções sensoriais.(ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Neoc%C3%B3rtex )
[3] Na superfície medial do cérebro dos mamíferos, o sistema límbico é a unidade responsável pelas emoções e comportamentos sociais. É uma região constituída de neurônios, células que formam uma massa cinzenta denominada de lobo límbico.
Originou-se a partir da emergência dos mamíferos mais antigos. Através do sistema nervoso autônomo, ele comanda certos comportamentos necessários à sobrevivência de todos os mamíferos, interferindo positiva ou negativamente no funcionamento visceral e na regulamentação metabólica de todo o organismo (ver em http://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_l%C3%ADmbico ).

domingo, 13 de abril de 2014

Desvendado o caso do vôo Malaysia MH-370

Desvendado o caso do vôo Malaysia MH-370


“Ziru-Ziru-Eit” [1] é um agente triplo que trabalhou para o M-16 britânico, a CIA americana e a  Bu Guojia Anquan (ou Guoanbu) da China (中华人民共和国国家安全部中華人民共和國國家安全部). Cidadão nascido no território especial chinês de Macau, nos tempos do mandato português, quando se aposentou pegou em suas tralhas e veio para o Brasil. Ficou esquecido até que foi requisitado pela CIA por três motivos: Sua experiência, seus olhos puxados e a cor amarelada de sua pele que facilitavam sua penetração em países orientais e o previsto desaparecimento de um avião comercial em circunstâncias muito estranhas: O vôo MH-370 da Malaysia Air Lines.

  1. Espião de olhos amendoados interrompe coito – 28 de fevereiro 2014
Ziru-Ziru-Eit, ou melhor, Ziruziru, é um espião mais de origem britânica por força do trabalho (viveu muito tempo em Hong-Kong) do que portuguesa (nasceu em Macau), estava transando com uma chilena gostosa que conhecera em Búzios, quando o seu celular – cedido pela CIA caso viesse a ser necessário - tocou. Gritou um “puta que o paliu” sonoro, desmontou da chilena e foi atender enquanto a moça de coito interrompido acabava o processo de prazer manualmente, gritando extasiada: - No te pares... Hijoeputa... Hijoeputa...
Escutou atentamente o que lhe diziam do outro lado da linha. Ia aquiescendo com a cabeça como se tivesse alguém a seu lado atento e precisasse demonstrar-lhe sua aquiescência. Tinha uma memória sensacional como todo e qualquer espião digno do nome, de forma que nem precisou anotar nada do que lhe diziam. Terminada a ligação, dirigiu-se ao banheiro, lavou o saco no bidê, apanhou a sua mochila-kit – tinha várias todas sempre prontas para viajar – vestiu uma roupa leve e saiu batendo a porta depois de gritar para a moça quase desmaiada sobre a cama: - Eu te ligo logo que puder. É uma emergência.

Antes de bater a porta tirou um pequeno aviãozinho de papel de um compartimento externo da mochila – um origami - atirou-o na direção da cama onde estava a moça e saiu definitivamente. Cada mochila tinha um aviãozinho de cortesia sempre preparado para as suas saídas às pressas, um velho hábito de cortesia. A moça pegou o aviãozinho, viu que tinha um texto escrito e leu:
- Tive que sair às pressas. Voltarei em breve para você. Aguarde-me e me desculpe sempre que pensar em mim até minha volta.


  1. Algures na fronteira do Irã com a Ossétia do Sul – 01 de março de 2014
Noite escura e fria em céu enevoado que escondia a Lua. Primeiro desceu do céu, numa clareira da floresta, um helicóptero russo. Menos de dois minutos depois desceu e pousou um iraniano. De cada um dos dois helicópteros desceu apenas um homem que se dirigiram um em direção ao outro. Apertaram-se as mãos. Um raio de Lua que conseguiu furar o bloqueio de nuvens iluminou por segundos os dois homens: Dmitri Medvedev e Mahmoud Hahmadinejad. Era um encontro  sigiloso, importantíssimo. Ninguém sabia do encontro nem mesmo os pilotos, de total confiança dos serviços secretos das duas nações. A partir de certo ponto ainda dentro das respectivas fronteiras os dois helicópteros tinham sido dirigidos automaticamente através de GPS.  Essa era uma das funções dos satélites  estáticos russos. Mas lá em cima não havia apenas satélites russos. Muitos deles eram americanos. Pelo menos um era e estava assestado para aquela clareira.
Após uma conversa que não demorou mais do que dez minutos os dois se despediram e os helicópteros alçaram vôo retornando a seus territórios.
- Ai!... Cruz credo...De quem é este cachorro? – perguntou Medvedev, o corpo todo retesado, levantando o joelho esquerdo para cima do direito sobre o assento e levando as mãos para junto ao peito num gesto de nítida repulsa.
- Não é meu, disse o piloto. – pensei que fosse de Vossa Excelência, disse o segurança. 
Chegaram à conclusão de que o cachorro deveria ser selvagem daquela região, e entrara no helicóptero enquanto aguardavam o Hahmadinejad. Não viram problema nisso e resolveram largá-lo em Moscou quando chegassem lá.
Em menos de um minuto o Coronel Rinty (o cachorro era treinado pelo exército americano para cativar desconhecidos e tinha aparelhos eletrônicos de escuta e vídeo implantados. Fazia parte da operação de espionagem “Snowthen”). Mas a bordo começou uma grande amizade entre o São Bernardo, coronel Rinty, e Medvedev, a segunda estrela maior do kremlin depois de Putin, o presidente.


  1. Palácio do Kremlin, 01 de março de 2014.

Em sua enorme mesa envernizada sem qualquer documento para despacho, ornamentada apenas com o brilho do verniz e uns bricabraques de arte proletária russa – umas bonequinhas de encaixar umas dentro das outras – Putin, o presidente russo levantava e abaixava freneticamente o calcanhar direito para cima e para baixo como se movido por motor elétrico. Estava impaciente. Levantou-se, descalçou um sapato, tirou a meia, sentou-se no chão e começava a roer a unha do dedão do pé quando pelo interfone ouviu a comunicação da portaria: - O camarada Medvedev  chegou, camarada Putin.
Finalmente! Desabafou para si mesmo um Putin agora bem mais alegre. Voltou a vestir a meia mesmo pelo avesso, calçou o sapato que agora parecia mais apertado, passou a mão pelos cabelos olhando para um espelho imaginário e dirigiu-se à geladeira disfarçada de estante no fundo da sala. Quando Medvedev entrou, ele já estava com dois copos de vodka na mão. 
-Ele não é uma gracinha? Perguntou Medvedev enquanto soltava um cachorro preto enorme, um São Bernardo peludo.
Putin não teve tempo de responder. O cachorro atirou-se ao peito do presidente e o lambeu no rosto.
- Que porra de cachorro é esse, Med? Perguntou Putin.
- Encontrei-o na clareira ontem à noite quando me encontrei com o Mahmoud. Estava meio perdido na floresta e entrou no helicóptero. Foi amor à primeira vista. Ele não é uma gracinha, Putin?
- Depois vejo isso. Agora vamos a uma vodka e falar sobre o que interessa. Ele tem pulgas?
- Não... Só umas verruguinhas minúsculas sem importância. Mas deixa-te contar do encontro com o iraniano... Vai ser dia 07 de março deste ano. A operação foi elaborada para o 11 de setembro, mas substituída pela dos aviões que derrubaram as torres gêmeas, que foi muito mais eficaz. Agora foi implementada logo que os ucranianos se revoltaram contra a adesão à Rússia por prevenção. Como você mesmo disse, ou foi o Snowden, não me lembro, é bom ter sempre uns planos prontos em caso de necessidade.
- E como vai ser o plano? Perguntou Putin enquanto se servia de outra vodka e oferecia mais um copo a Medvedev.
- Mahmoud não deu a informação completa para não o comentarmos com ninguém, por segurança Pediu para ficarmos atentos ás comunicações malaias e chinesas. Isso é bom para nós para distrair as atenções da Ucrânia...
- Qual é o grau de certeza de sucesso? Putin estava preocupado, uma das raras vezes em que franziu o cenho em toda a sua vida.
- Cem por cento. Desastre aéreo, um só sobrevivente que já recebeu uma boa grana no Irã e que ao saltar de pára-quedas no meio do oceano índico será recolhido por um barco de pesca. Se a operação tiver dado errada, recolhem o sobrevivente e dão-lhe uns tratos adequados para sabermos onde se errou. Se a operação der certa, deixam o cara se afogar no oceano e vão pescar. Simples, né?
Ah... E não vão encontrar facilmente os restos do avião...
E Medvedev entornou a vodka de um trago só.


- Parabéns, meu amigo!... Ficaremos então atentos (disse Putin). Amanhã trataremos da crise da Ucrânia como ela merece. O mundo ficará dividido entre acompanhar a crise e o desastre aéreo. Beijinho para despedir...
E os dois se beijaram ao modo russo mais íntimo, na boca com direito a um linguado.   
- Aquilo é uma ereção? Perguntou Putin a Medvedev, apontando para o pênis do São Bernardo... É grande!
- É...- Respondeu Medvedev – nos divertimos bastante durante o vôo de helicóptero ontem à noite. Você vai gostar, prometo!

E Medvedev saiu da sala com o andar bamboleante digno de uma Marilyn Monroe em seus dias de maior glória.

  1. Pentágono, EUA, 01 de março de 2014.
Uma sala enorme cheia de computadores telas de TV, mesas, gente trabalhando, mapas do planeta, comando de satélites, celulares, tinha sido montada para a “operação Snowthen” que visava a detecção de ações e de problemas envolvendo territórios, fronteiras e países de influência russa, o que compreendia países como a China, Malásia, Irã, Vietnam, Síria, Paquistão, dentre outros, e até  Brasil Cuba e Venezuela na América latina.
O coronel Tankersley começou a rir de forma quase incontrolável. Ele costumava ser muito sério, mas daquela vez não agüentou. Logo que se recompôs, sob os olhares admirados do pessoal da sala, pegou o telefone vermelho. Do outro lado, o presidente Barak Obama atendeu.
- Sim, coronel... Novidades? 
- Sim, senhor presidente... O coronel Rinty foi adotado...
- Desculpe, coronel Tankersley... Quem é o coronel Rinty?
- Bem, senhor presidente, eu comando a operação Snowthen, senhor, e combinamos um código... “Au-au”, lembra?
- Ah... Sim... Quer dizer que está atuando... E o que descobriram?
- Vou mostrar-lhe, senhor presidente, Via WEB. Por favor, ligue o seu computador. Aguardarei na linha até que me dispense, senhor... Mas saiba também que nosso agente especial está em campo, senhor.
- Certo... Espere... Já está... Estou vendo os dois... E... O coronel Rinty está com eles... Incrível... (E Barak Obama caiu na gargalhada...)
- Está dispensado, coronel Tankersley... Já desconfiava, mas não sabia que os dois se amavam tanto... Excelente trabalho, coronel... Um beijo pra você!  (e desligou rindo). Um coronel repentinamente sisudo remoeu meia dúzia de “fuck, fuck, fuck” enquanto teclava em ritmo alucinante em seu computador.  Esquecera de dizer ao presidente que o parlamento Russo autorizara Putin ao uso da força na Crimeia naquele mesmo dia. Estava lhe mandando um relatório sucinto, de uma página, para corrigir o esquecimento. Ficariam atentos ao dia 07 de março de 2014, mais especificamente na Malásia e na rota do vôo MH-370.

  1. Em um bairro de Kuala Lumpur, dia 02 de março de 2014.


Antigamente espiões tinham que fazer todo o trabalho no campo de operações. Agora eram simplesmente “uns braços humanos” do sistema. Tudo era feito nas agências de espionagem e os dados transmitidos por comunicação segura para o teatro de operações. Por isso a importância de Snowden, um agente americano que desertara de seu posto nos EUA e estava agora na Rússia, foragido. Ele sabia tudo sobre espionagem no éter dos bits que corriam em código pelas ondas das estações de transmissão de sinal para a Internet e outros “centros” secretos de comunicação política e militar. Até os celulares da ministra do Estado Alemão, Ângela Merkel tinha sido invadido, assim como membros do próprio senado americano. Snowden tinha um amigo colorido no Brasil e não era à toa. O Brasil é um país de largo uso da Internet, com acesso fácil, enorme volume de bits em circulação, uma dor de cabeça para o governo que quer reprimir a população impedindo-a de falar o que quer por essas vias de comunicação. Usaram Snowden e sua espionagem para votarem no senado uma lei para impedir e limitar a comunicação.


Ziruziru já em Kuala Lumpur, num hotel de terceira classe, sentiu vibrar o celular que tinha comprado ainda no aeroporto. Apertou a tecla para ligá-lo e viu na tela o aviso de um e-mail cujo emissor já conhecia. Acessou o e-mail. Imediatamente um programa foi descarregado em segundos. Seu celular agora era uma linha de bits impenetrável. Ninguém mais em lugar nenhum do mundo poderia interferir nessa “linha” de comunicação entre ele e o Pentágono. Desligou o celular e subiu para o seu quarto. Lá voltou a ligá-lo. O primeiro documento era uma lista de passageiros do vôo Malaysia MH-370 que partiria de Kuala Lumpur para Pequim na tarde do dia 07 de março ás 16:40.Na lista parcial, e do que lhe chamava a atenção, já confirmados, constavam três americanos (ele era um deles), dois canadenses e seis australianos que bem podiam ser também “americanos” com passaporte facilitado politicamente para efeitos de espionagem, um russo e dois ucranianos. O resto não lhe chamou a atenção. A maioria era chinesa. A lista definitiva ele saberia logo que se sentasse em sua cadeira de primeira classe, instantes depois da partida. No entanto algo lhe chamou a atenção. Faltavam os iranianos, como o Pentágono avisara para que ficasse atento, já que a operação era iraniana. Ziruziru tinha certeza absoluta que eles apareceriam no ultimo instante. Voltou a ligar o celular para ter certeza de que nenhum detalhe lhe passara, mas a mensagem havia desaparecido como que por encanto. Tinha que ficar muito mais atento da próxima vez que recebesse uma mensagem.

  1. A situação se complica na Ucrânia. 06 de março de 2014.


Na Crimeia as coisas corriam ao agrado de Putin. Durante meses forçara o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych a trazê-la de volta para a esfera de influência russa. O povo, pelo contrário, queria que ela fizesse parte da União Européia. A população revoltou-se porque lhe parecia natural que se fizesse um Plebiscito ao melhor estilo democrático. Viktor não tinha a menor intenção disso em seu suntuoso palácio em Kiev. Nem ele nem Putin. Quando em 23 de fevereiro o presidente da Ucrânia foi deposto pelo Parlamento, Putin se preocupou bastante. Tinha que por em prática o plano “B”, bem mais difícil, que chamaria a atenção do mundo livre. Precisava de um terceiro plano que distraísse pelo menos um pouco a opinião pública. Algo de grande impacto emocional: Uma catástrofe!
Sabia que o Irã era um refúgio para os “heróis santos” do Islã, dispostos a morrer por uma boa causa islâmica, e alcançar o paraíso onde sete virgens os esperariam. Putin mandou então tropas para a fronteira da Crimeia, a primeira e mais importante parte a ser tomada da Ucrânia. Seu projeto maior era trazer para a esfera russa toda a Ucrânia, mas o destino obrigava a que a tomasse por partes. Hoje, dia 06 de março, o Conselho Supremo da Crimeia votou e aprovou sua anexação à Rússia.
Dias negros pela frente, pensou Putin, e o disse a seu amigo Medvedev que brincava na sala com o São Bernardo, deixando a mão escorregar de vez em quando pelos órgãos sexuais avantajados do animal que ficava todo excitado.
- Nós os pressionamos com o gás da Sibéria, Putin!
- Claro que sim... A Europa não têm como se abastecer de gás em outras fontes. Pelo menos num período próximo. Acho que vamos empurrar a Europa para abrir mais poços de gás, e extrair gás de xisto. Até lá tomamos conta da Ucrânia. Depois volta tudo ao normal.
- Amanhã é o dia. Prepara-te porque o mundo vai desabar em cima da Rússia pela Crimeia, e vamos torcer para não juntarem os fatos com o avião da Malaysia.
- Não importa... Disse Putin... Esta crise vai me reeleger na Rússia. Ou a mim ou a você... Fica tranqüilo. Aprendemos rapidamente como funciona o capitalismo democrático: Somos ricos. Se a coisa pegar por aqui, nos exilamos na Suíça ou no Caribe. Brasil, talvez...
E depois de um longo beijo de amor camarada, os três saíram do Kremlin.
No Pentágono, o coronel ria mais uma vez ás gargalhadas. Do outro lado do computador, Obama e Michele batiam com os pés no chão de tanta dor nas arcadas dentárias e nos músculos de seus cérebros de tanto rir.

  1. O embarque no vôo MH-370 da Malaysia Airlines. Dia 07 de março.
Do dia 02 de março até o entardecer do dia 06, Ziruziru dedicara-se a memorizar as listas de passageiros e os informes da Inteligência do pentágono, e a fazer algumas compras especiais. Recebera via inteligência, em Kuala Lumpur, uma máscara especial para gases, com ampola de oxigênio, que lhe permitiria passar pelo menos uma hora oxigenado. As exigências alfandegárias de verificação de bagagem em Kuala Lumpur eram suaves por que não havia terrorismo por lá. Quando no banheiro do aeroporto, minutos antes de embarcar recebeu uma chamada do Pentágono e conferiu a lista, notou que dois passageiros tinham embarcado com passaportes falsos. Os passaportes tinham sido roubados de dois italianos. As fotos deles estavam no relatório do pentágono. Eram dois iranianos, que finalmente haviam aparecido.
Desde que os localizou na fila de embarque passou a observá-los discretamente. Nenhum deles falou ou olhou para o outro. Não chamavam a atenção. Notou também os outros dois americanos. Provavelmente um deles seria da inteligência americana, mas por questões de segurança nenhum saberia da existência do outro. A medida destinava-se a uma possível falha de algum deles. Se um falhasse, o outro assumiria o seu trabalho. Duzentos e trinta e nove pessoas a bordo, incluindo 12 tripulantes.

Prestou atenção também no comandante, Zaharie Ahmad Shah, de 53 anos e no co-piloto, Fariq Abdul Hamid, de 27 anos que voava pela primeira vez como co-piloto e tendo apenas experiência em cinco outros vôos como “co-piloto de checagem”. Para a inteligência americana nenhum dos dois representava perigo algum. Tirando o restante dos tripulantes e dos passageiros, o principal perigo parecia vir dos dois iranianos. E preparou-se para o pior. Estava ali para isso. Tinha que voltar para sua chilena gostosa, lá no Brasil. Tinha que completar o coito interrompido. Tinha que sair vivo dessa, mas tinha suas dúvidas. Ás 16:41 o Boeing 777-200ER com 53.465 horas de vôo elevou-se nos ares a caminho de Pequim. Ouviu choro de crianças. Eram cinco: três chinesas e duas americanas.



8.      O vôo MH-370 da Malaysia Airlines. Quase uma hora de vôo, 17:30.



Por volta das 17:00, com mais ou menos meia hora de vôo, Ziruziru sabia que algo estava errado: O comandante pelo comunicador pediu educadamente que desligassem qualquer aparelho eletrônico por que “poderiam” interferir no computador de bordo.  Para o treinado Ziruziru, isso era sinal de que já estavam interferindo, porque o avião continuava “inclinado”, subindo sempre e já deveria estar “nivelado” pelo tempo de vôo. Se subisse a uma altitude próxima dos 13.000 metros, isso significava que haveria descompressão e todos morreriam a bordo. E se continuasse subindo isso só significava que ou a cabine de comando havia sido tomada ou que o próprio piloto ou co-piloto haviam programado um vôo “diferente”. Mas como “tomar” a Cabine de comando do Boeing, se ninguém tinha passado pela primeira classe, onde estava sentado, a caminho da cabine do piloto? Se sua hipótese estivesse certa, isso só seria possível se um hacker estivesse a bordo interferindo eletronicamente no computador do avião.Às 17:25 o avião ainda continuava desnivelado


Então Ziruziru resolveu agir. Primeiro consultou seu celular com GPS e verificou a altitude: 11.000 metros. Até aí poderia ser considerada uma altitude normal, embora não fosse comum. Só não poderia continuar subindo mais. Levantou-se e foi até a cozinha do avião na cauda da classe comercial. Os dois iranianos estavam tranqüilos, quase em meditação. Não olhavam fixamente para ninguém. Um deles logo na segunda fila da comercial. O outro a meio da aeronave. Logo em seguida sentiu seus ouvidos - treinados em tantos vôos que já efetuara – começarem a sentir uma leve descompressão. Sua adrenalina subiu repentinamente ao sentir o perigo e voltou rapidamente para a primeira classe. Ao passar pelo iraniano na segunda fila notou que ele tirara uma máscara e se preparava para usá-la. Olhou para trás e viu que o outro se levantava já usando também uma máscara. Não teve dúvidas que eles iriam tomar a cabine de comando onde havia condições de mantê-la pressurizada mesmo que houvesse despressurização no restante da aeronave. Não tinha tempo a perder. Sentou-se em sua poltrona, e tirou sua máscara que colocou discretamente cobrindo-se com o cobertor do avião. Ouviu murmúrios a bordo. Logo em seguida alguns gritos roucos de angústia. Em menos de 15 segundos só haviam mortos no avião exceto ele e os dois iranianos, mas não sabia se havia mais deles ou cúmplices com máscara. 

Quando os dois iranianos chegaram á porta da cabine, Ziruziru sacou sua arma e atirou. Os dois caíram mortos. Atirou na porta da cabine para entrar. Lá dentro, como suspeitava, também haviam morrido o piloto e o co-piloto. Verificou os aparelhos da aeronave. Todos desligados, incluindo o “transponder” [2]. Agora era o único ser vivo a bordo, sem qualquer comunicação possível. Sentou-se confortavelmente na cadeira do piloto e tentou manobrar o avião manualmente. Olhou o relógio. Eram 17:35. Conseguiu manobrar os “flaps” [3] e o avião deu uma guinada para a esquerda baixando a altitude. O avião começou a descer. Poderia voar ainda por umas quatro longas horas, mas o oxigênio de sua máscara não duraria tanto. Nem se ele usasse as máscaras dos dois iranianos mortos.
Com o avião estabilizado, dirigiu-se a seu assento e apanhou sua mochila, na verdade um pára-quedas. Depois foi até o assento onde os iranianos se haviam sentado. Olhou sua bagagem. Nela havia duas pequenas bombas programadas para as 17:40. Ele não tinha mais tempo disponível nem  para desarmar as bombas. Eram duas e poderia falhar numa delas. Calculou que o avião estivesse agora a uns oito mil metros. Voltou à cabine e destravou as portas. Ali mesmo logo na saída do compartimento da primeira classe, abriu a porta devagar e saltou. Um par de minutos depois viu a explosão.Não sobraria nada do voo MH-370.




             9.      Final




O desaparecimento do avião gerou controvérsias de 7 de março até hoje, 13 de abril, porque não se encontraram destroços, e por outros motivos [4]. Sabe-se, entretanto, que a Crimeia passou para o controle russo, e que provavelmente outras partes da Ucrânia cairão sob seu domínio. A União européia e o mundo ocidental aplicam sanções crescentes de efeito sobre a Rússia que depende do gás exportado para a UE. Putin, Medvedev e o coronel Rinty continuam muito amigos e não raro dormem os três na mesma cama. Medvedev continuará tomando seus porres homéricos.O povo chinês continua indignado porque ninguém sabe de nada, coisa a que deveriam estar habituados, mas a empresa de aviação não é chinesa. Então podem reclamar. A caixa preta – que na verdade é amarela - do avião esgotará suas baterias em mais um par de dias e ficará perdida provavelmente para sempre.  Sem avião e sem corpos para serem estraçalhados em morgues para verificação da “causa mortis” ninguém saberá o que aconteceu a menos que as agências de inteligência resolvam abrir o bico.  Sem provas, os mortos serão dados como desaparecidos, e sem atestado de óbito não se pode provar que morreram. Assim, só os netos  poderão receber indenização da companhia aérea se algum dia a obrigarem a isso. Ali pelas bandas de Búzios, no Brasil, uma chilena vive feliz sem coitos interrompidos e toda vez que chega aos céus pelas mãos do competente Ziruziru, grita desesperada como estivesse sendo esfaqueada. Os dois gostam de muita emoção. Ela perguntou-lhe onde tinha ido. Ele disse que ao Uruguai. Deu-lhe de presente um lindo pacote de “Sativa Canabis” puríssima, livremente cultivada por lá. No meio internacional da espionagem, Ziruziru nunca pegou um vôo da Malaysia Airlines. Ele está pensando em escrever um livro de memórias antes que perca a memória definitivamente com a idade. 



 

® Rui Rodrigues







[1] Não confundir com James Bond, o famoso espião britânico, que tinha autorização para matar. Ziru-Ziru-Eit tinha permissão não só para matar como também para dar uns tapas nas vítimas para extrair informação e dentes sãos. 
[2] O transponder é um transmissor de rádio na cabine do piloto, que se comunica através de um radar de solo com o controle de tráfego aéreo, transmitindo dados da aeronave. Evita colisões. É um radar aperfeiçoado.
[3] Placas embutidas (e algumas extensíveis) que funcionam como lemes para aumentar a resistência ao ar, dando sustentabilidade e manobrabilidade  aos aviões.   
[4] Sinais de destroços foram informados por chineses e americanos, mas as buscas não resultaram em nada positivo. Os russos mostraram-se comedidos em dar opinião apesar de seus satélites. Os celulares dos passageiros continuaram dando sinais de operacionalidade apesar de se saber que esse sinal é emitido pela empresa que gera os sinais. A aeronave parece ter-se dissolvido no ar.  

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Geriatria prática emocional

Geriatria prática emocional

Olá... Nem sei se o termo “geriatria emocional” existe. 
O que sei é que não sou médico, não frequentei qualquer curso de medicina ou de enfermagem, mas tenho certeza absoluta que tenho 68 anos, não sou saradão, não tenho tanquinho, mas afora isso meu aspecto saudável está de acordo com a minha idade e os tempos mais modernos. Estou envelhecendo à velocidade estonteante de 24 horas por dia e mais alguns minutos para completar aquele tempo do ano solar (que de quatro em quatro anos exige um ano com o mês de fevereiro com mais um dia:29)...

Nosso planeta viaja pelo espaço a uma velocidade de 107.000 quilômetros por hora e nem por isso me sinto tonto.  Minha cabeça gira, juntamente com a Terra em torno de seu eixo, a uma estonteante velocidade de 1.700 km por hora na região do Equador, diminuindo até a região dos pólos, mas nem por isso vejo minha casa rodar quando chego em casa. Pior ainda, nossa Terra, e eu com ela, viajamos a uma velocidade de cerca de 1.000.000 de quilômetros por hora em volta do centro de nossa Galáxia e nem por isso deixo de dormir  e acordar todos os dias sem que desmaie eternamente. O que me faz desmaiar eternamente, para todo o sempre, é meu corpo que não agüenta o tranco do envelhecimento e começará a falhar até parar.

Não é novidade para ninguém. Todos sabemos disso. Faz parte da vida a transformação da deterioração. Então de que reclamamos quando envelhecemos? Quer sonho temos de permanecermos sempre jovens e que benefícios reais nós temos? Trabalhar mais uns tempos? Divertir-se mais uns tempos? Conviver mais uns tempos? Até poderia ser por esses motivos isoladamente ou em conjunto, mas pensemos melhor, mais apuradamente... Tem gente igual a nós que transaram a vida inteira sem parar, trabalharam feitos escravos até virando noites, divertiram-se noite e dia até no trabalho, conviveram até terem que dar desculpas para não irem a uma festa ou outra, e mesmo assim ainda querem viver mais se sentindo sempre jovens? Perfeito... É válido... Mas ainda podemos pensar mais apuradamente...

Quando chegar a hora de não haver mais remédio para o envelhecimento, cai a ficha, o passado fica para trás, vem a saudade, e o desejo... O desejo eterno, tão eterno quanto a passagem, de nos determos um pouco mais por este planeta, mas já nem forças teremos para cumprir mais um par de anos. Nesse curto período de consciência do que somos, e acontece amiúde, nem mais nos lembramos de rostos, fatos, festas, conquistas, e as modernidades tecnológicas ficam tão longe de nós, que nem nos conseguimos adaptar. As velocidades do nosso planeta continuam de igual forma, a chuva continua caindo, as estações do ano tanto nos trazem flores como folhas caídas como calor ou neve, mas já não nos interessamos por política, por inovações que não podemos utilizar, Nossos netos nem nos reconhecem bem. Chegam, dizem “olá, vô, um beijo” e saem correndo para brincar. Muito diferente, nossos amigos e amigas vão se passando, e os nossos assuntos preferidos deixam de ser abordados, porque a juventude tem outras preferências para abordar e a maioria delas nem dominamos.

O que quero dizer é que assim como seres nem chegam a nascer por acidentes ou doenças, outros se passam cedo de mais em plena infância, adolescência ou juventude e outros demoram demasiado para se passarem. Buscamos sempre a justiça em nossas vidas, em todos os atos sem exceção. Reclamamos de nossos governos quando as leis não nos parecem justas, mas não entendemos ainda as leis da vida, de nossas vidas. Definitivamente não as aceitamos. Já tentamos descobrir a “pedra filosofal”, o “elixir da longa vida”, remédios, vacinas, cremes... Podemos prolongar a vida, mas nem todos. E até isso  é normal e justo nas leis da natureza. Basta olharmos em volta com olhares de aceitar o que vemos. Podemos revoltar-nos contra amigos, familiares, governos, mas a natureza tem suas leis que ninguém nem nada pode alterar. Nem Deus, e por um simples motivo: Foi assim que Ele construiu este mundo, e por ser perfeito, não tem nada que lhe alterar... Não importa quanto "tempo" vivemos, porque o tempo é relativo. Depende do que fazemos nele, ou com ele. 

Então, há que viver o que temos dia a dia, nós os idosos, sem nos preocuparmos com a natureza da vida nem da morte...  Pelo menos nossa qualidade de vida melhora sem o estresse de lidar com  o que não podemos controlar nem sabemos direito como funciona. Em particular, sou dos que crê que a natureza de cada um é uma particularidade “oculta” de nosso conhecimento e que deve ser entendida e atendida naturalmente. Afinal, de que adianta vestir um disfarce de palhaço, diariamente, se não sou palhaço e, na intimidade, sem a fantasia, me revelo como um despalhaçado, mostrando exatamente a minha natureza “natural”? É um tremendo erro nos enganarmos a nós mesmos, porque os outros, só podemos enganar por um breve período de tempo, e ao sentirem-se enganados, passam a enganar-nos.

® Rui Rodrigues