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sexta-feira, 11 de abril de 2014

Geriatria prática emocional

Geriatria prática emocional

Olá... Nem sei se o termo “geriatria emocional” existe. 
O que sei é que não sou médico, não frequentei qualquer curso de medicina ou de enfermagem, mas tenho certeza absoluta que tenho 68 anos, não sou saradão, não tenho tanquinho, mas afora isso meu aspecto saudável está de acordo com a minha idade e os tempos mais modernos. Estou envelhecendo à velocidade estonteante de 24 horas por dia e mais alguns minutos para completar aquele tempo do ano solar (que de quatro em quatro anos exige um ano com o mês de fevereiro com mais um dia:29)...

Nosso planeta viaja pelo espaço a uma velocidade de 107.000 quilômetros por hora e nem por isso me sinto tonto.  Minha cabeça gira, juntamente com a Terra em torno de seu eixo, a uma estonteante velocidade de 1.700 km por hora na região do Equador, diminuindo até a região dos pólos, mas nem por isso vejo minha casa rodar quando chego em casa. Pior ainda, nossa Terra, e eu com ela, viajamos a uma velocidade de cerca de 1.000.000 de quilômetros por hora em volta do centro de nossa Galáxia e nem por isso deixo de dormir  e acordar todos os dias sem que desmaie eternamente. O que me faz desmaiar eternamente, para todo o sempre, é meu corpo que não agüenta o tranco do envelhecimento e começará a falhar até parar.

Não é novidade para ninguém. Todos sabemos disso. Faz parte da vida a transformação da deterioração. Então de que reclamamos quando envelhecemos? Quer sonho temos de permanecermos sempre jovens e que benefícios reais nós temos? Trabalhar mais uns tempos? Divertir-se mais uns tempos? Conviver mais uns tempos? Até poderia ser por esses motivos isoladamente ou em conjunto, mas pensemos melhor, mais apuradamente... Tem gente igual a nós que transaram a vida inteira sem parar, trabalharam feitos escravos até virando noites, divertiram-se noite e dia até no trabalho, conviveram até terem que dar desculpas para não irem a uma festa ou outra, e mesmo assim ainda querem viver mais se sentindo sempre jovens? Perfeito... É válido... Mas ainda podemos pensar mais apuradamente...

Quando chegar a hora de não haver mais remédio para o envelhecimento, cai a ficha, o passado fica para trás, vem a saudade, e o desejo... O desejo eterno, tão eterno quanto a passagem, de nos determos um pouco mais por este planeta, mas já nem forças teremos para cumprir mais um par de anos. Nesse curto período de consciência do que somos, e acontece amiúde, nem mais nos lembramos de rostos, fatos, festas, conquistas, e as modernidades tecnológicas ficam tão longe de nós, que nem nos conseguimos adaptar. As velocidades do nosso planeta continuam de igual forma, a chuva continua caindo, as estações do ano tanto nos trazem flores como folhas caídas como calor ou neve, mas já não nos interessamos por política, por inovações que não podemos utilizar, Nossos netos nem nos reconhecem bem. Chegam, dizem “olá, vô, um beijo” e saem correndo para brincar. Muito diferente, nossos amigos e amigas vão se passando, e os nossos assuntos preferidos deixam de ser abordados, porque a juventude tem outras preferências para abordar e a maioria delas nem dominamos.

O que quero dizer é que assim como seres nem chegam a nascer por acidentes ou doenças, outros se passam cedo de mais em plena infância, adolescência ou juventude e outros demoram demasiado para se passarem. Buscamos sempre a justiça em nossas vidas, em todos os atos sem exceção. Reclamamos de nossos governos quando as leis não nos parecem justas, mas não entendemos ainda as leis da vida, de nossas vidas. Definitivamente não as aceitamos. Já tentamos descobrir a “pedra filosofal”, o “elixir da longa vida”, remédios, vacinas, cremes... Podemos prolongar a vida, mas nem todos. E até isso  é normal e justo nas leis da natureza. Basta olharmos em volta com olhares de aceitar o que vemos. Podemos revoltar-nos contra amigos, familiares, governos, mas a natureza tem suas leis que ninguém nem nada pode alterar. Nem Deus, e por um simples motivo: Foi assim que Ele construiu este mundo, e por ser perfeito, não tem nada que lhe alterar... Não importa quanto "tempo" vivemos, porque o tempo é relativo. Depende do que fazemos nele, ou com ele. 

Então, há que viver o que temos dia a dia, nós os idosos, sem nos preocuparmos com a natureza da vida nem da morte...  Pelo menos nossa qualidade de vida melhora sem o estresse de lidar com  o que não podemos controlar nem sabemos direito como funciona. Em particular, sou dos que crê que a natureza de cada um é uma particularidade “oculta” de nosso conhecimento e que deve ser entendida e atendida naturalmente. Afinal, de que adianta vestir um disfarce de palhaço, diariamente, se não sou palhaço e, na intimidade, sem a fantasia, me revelo como um despalhaçado, mostrando exatamente a minha natureza “natural”? É um tremendo erro nos enganarmos a nós mesmos, porque os outros, só podemos enganar por um breve período de tempo, e ao sentirem-se enganados, passam a enganar-nos.

® Rui Rodrigues

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