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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mutilação genital feminina - Humanidade condescendente - até onde?





Mutilação genital feminina - Humanidade condescendente - até onde?

Falar do passado pode ser válido apenas como referência. As leis e os costumes estão mudando rapidamente, e até a moral, a ética, e os direitos humanos decorrentes parecem ter sempre duas faces dependendo em que extremos se incluem os que analisam os fatos que neles se podem enquadrar.

Por exemplo, para ocidentais – imaginando que seja inquestionável o que é ser ocidental – o corte do clitóris feminino enquadra-se como um atentado aos direitos humanos, em particular aos da mulher, e fere os seus costumes, a sua moral e a sua ética. Já para os adeptos deste procedimento, de forte tradição em quase toda a África central e em alguns países da Ásia, é um ato normal que faz parte dos costumes. Cerca de três milhões de mulheres são mutiladas anualmente por este processo. Em 2006, cerca de 140 milhões de mulheres em todo o mundo tinham recebido esta bárbara intervenção em seus corpos. Não bastassem as deficiências físicas a que todos estamos sujeitos, criaram esta para as mulheres nas regiões indicadas a título de que nasçam mais filhos homens, e de que não se vejam tentadas ao prazer com estranhos ao harém ou ao marido, dentre outros fatores. Com o corte do clitóris, grande parte ou a totalidade do prazer dessa zona erógena se perde nas mulheres. Fazem sexo porque têm que fazer, porque é assim. O ponto é: o que se pode e deve fazer para ir diminuindo esta prática até que cesse definitivamente?

Não me parece que uma intervenção armada sob os auspícios da ONU pudesse resolver esta pendência; Seria uma catástrofe, um erro colossal. Mandar agentes infiltrados para derrubarem o governo e instaurar uma nova Constituição, também não, porque o erro seria o mesmo, sob forma diferenciada. Comprar a mídia desses países para que começassem uma conscientização em todos os níveis, seria outro erro igual sob forma também diferente. Manter ONGS que cuidem desse assunto nesses países, é uma solução a muito longo prazo. Acredito mais num intercâmbio cultural. Em contato com a civilização ocidental, as influências seriam mais rápidas e abrangentes, e o movimento para mudar seria de dentro para fora, isto é, as próprias mulheres e muitos dos homens se interessariam por acabar com esta prática. O dinheiro pago às ONGS, e que não é pouco, seria utilizado para cobrir as despesas de intercâmbio. Ou se manteriam os dois processos.

O certo é que algo tem que ser feito urgentemente. Não se pode mutilar o corpo humano de forma tão trágica, a título de manter costumes e idiossincrasias, só porque alguém, lá atrás no tempo, também os tenha mudado para permitir o que vemos hoje. São três milhões de mulheres todos os anos, o numero total passa dos 150 milhões.

Podemos questionar muitos hábitos estranhos como este, lembrando que a Turquia, em contato com a civilização ocidental mantém uma firme liberdade de costumes em relação ao mundo muçulmano, apesar de ser um país muçulmano. Não vi na Turquia nenhuma mulher com o rosto coberto, nas cidades ou nos campos, embora muitas usem véus cobrindo-lhes os cabelos.

Evidentemente não faltará quem ache, por convicção ou para não se incomodar, que este é um assunto inerente às sociedades nas quais esta prática faz parte de suas tradições, mas nossa omissão em adotar uma estratégia eficiente e definitiva nos coloca numa situação tão desumana que é como se estivéssemos de acordo com esta prática.

A humanidade, e cada indivíduo em particular têm que ser livres para fazer com seus corpos o que desejarem, desde que não os usem para impedir, limitar ou fazer cessar a liberdade dos demais.

E somos responsáveis, completamente responsáveis pelo que está acontecendo a essas mulheres.

Rui Rodrigues


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