Mutilação genital feminina - Humanidade
condescendente - até onde?
Falar do passado pode ser
válido apenas como referência. As leis e os costumes estão mudando rapidamente,
e até a moral, a ética, e os direitos humanos decorrentes parecem ter sempre
duas faces dependendo em que extremos se incluem os que analisam os fatos que
neles se podem enquadrar.
Por exemplo, para ocidentais
– imaginando que seja inquestionável o que é ser ocidental – o corte do
clitóris feminino enquadra-se como um atentado aos direitos humanos, em
particular aos da mulher, e fere os seus costumes, a sua moral e a sua ética.
Já para os adeptos deste procedimento, de forte tradição em quase toda a África
central e em alguns países da Ásia, é um ato normal que faz parte dos costumes.
Cerca de três milhões de mulheres são mutiladas anualmente por este processo.
Em 2006, cerca de 140 milhões de mulheres em todo o mundo tinham recebido esta
bárbara intervenção em seus corpos. Não bastassem as deficiências físicas a que
todos estamos sujeitos, criaram esta para as mulheres nas regiões indicadas a
título de que nasçam mais filhos homens, e de que não se vejam tentadas ao
prazer com estranhos ao harém ou ao marido, dentre outros fatores. Com o corte
do clitóris, grande parte ou a totalidade do prazer dessa zona erógena se perde
nas mulheres. Fazem sexo porque têm que fazer, porque é assim. O ponto é: o que
se pode e deve fazer para ir diminuindo esta prática até que cesse
definitivamente?
Não me parece que uma
intervenção armada sob os auspícios da ONU pudesse resolver esta pendência;
Seria uma catástrofe, um erro colossal. Mandar agentes infiltrados para
derrubarem o governo e instaurar uma nova Constituição, também não, porque o
erro seria o mesmo, sob forma diferenciada. Comprar a mídia desses países para
que começassem uma conscientização em todos os níveis, seria outro erro igual
sob forma também diferente. Manter ONGS que cuidem desse assunto nesses países,
é uma solução a muito longo prazo. Acredito mais num intercâmbio cultural. Em
contato com a civilização ocidental, as influências seriam mais rápidas e
abrangentes, e o movimento para mudar seria de dentro para fora, isto é, as
próprias mulheres e muitos dos homens se interessariam por acabar com esta
prática. O dinheiro pago às ONGS, e que não é pouco, seria utilizado para
cobrir as despesas de intercâmbio. Ou se manteriam os dois processos.
O certo é que algo tem que
ser feito urgentemente. Não se pode mutilar o corpo humano de forma tão
trágica, a título de manter costumes e idiossincrasias, só porque alguém, lá
atrás no tempo, também os tenha mudado para permitir o que vemos hoje. São três
milhões de mulheres todos os anos, o numero total passa dos 150 milhões.
Podemos questionar muitos
hábitos estranhos como este, lembrando que a Turquia, em contato com a
civilização ocidental mantém uma firme liberdade de costumes em relação ao
mundo muçulmano, apesar de ser um país muçulmano. Não vi na Turquia nenhuma
mulher com o rosto coberto, nas cidades ou nos campos, embora muitas usem véus cobrindo-lhes
os cabelos.
Evidentemente não faltará
quem ache, por convicção ou para não se incomodar, que este é um assunto
inerente às sociedades nas quais esta prática faz parte de suas tradições, mas
nossa omissão em adotar uma estratégia eficiente e definitiva nos coloca numa
situação tão desumana que é como se estivéssemos de acordo com esta prática.
A humanidade, e cada
indivíduo em particular têm que ser livres para fazer com seus corpos o que
desejarem, desde que não os usem para impedir, limitar ou fazer cessar a
liberdade dos demais.
E somos responsáveis,
completamente responsáveis pelo que está acontecendo a essas mulheres.
Rui Rodrigues
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