O enigma dos sete ministros
(baseado no célebre conto de Alu Baba e os 38 ladrões)
Era
uma vez um Grande Reino que abrangia desde as selvas de muitos acres, passando
pelas areias dos lençóis de água cercados de areias, por savanas cerradas, por
planícies, montanhas e vales às pampas. Era um grande Reino, onde tudo era
alegria. Antigamente era governado por um Califa- Alilula Bar Ba Abudo com seus
ministros, mas nos últimos tempos, foi governado por uma amiga do Califa
impossibilitado que ele ficou de governar por causa de uma rouquidão crônica.
Esse Califa era muito honesto, tanto que quando lhe vieram contar que seu filho
e uns amigos de adolescência se aproveitavam de descuidos nos cofres públicos –
que assaltavam – foi logo dizendo que não segurava a barra de ninguém, numa
clara demonstração de que não importam os laços familiares quando alguém urina
fora do penico. Com a rouquidão, sua melhor amiga assumiu o poder por
recomendação do próprio Califa –agora ex-califa- ao povo que o adorava. A
missão dela seria seguir em frente, e se algo desse errado, ele seria
re-eleito. Mas o governo do Califa tinha sido tão bom, que o povo, por pura fé,
e sabendo que sua amiga estava no governo, a apoiaria incondicionalmente. Por
isso, tudo o que acontecesse de errado no Reino seria atribuído à conjuntura
internacional, a crises, aos inimigos políticos. Os fundamentos que regiam o
Reino seriam preservados. Todos a temiam e era mesmo de Têmer, porque ela
governava na base do Pêtêléco.
Mas Califas honestos, não obriga a que o bando também seja.
Eram
então 38 os ministros do Reino. Sátrapas mais precisamente, porque tinham
autonomia para muitas coisas, como se governassem reinos solidários. Para se
ter uma idéia, esses ministros tinham à sua disposição um orçamento de cerca de
600 bilhões de Corruptelas (Corruptela é a moeda nacional do reino). Como o
faturamento anual do Reino é de cerca de três trilhões, esses ministros tinham
muito poder, porque lidavam com cerca de vinte por cento de todas as corruptelas
disponíveis. Em seis meses de reinado, a amiga do Califa, deu sete Pêtêlécos.
Sete ministros foram pro brejo por denúncias de apropriação e distribuição a
rodo de bens públicos, mais precisamente, de corruptelas, a moeda forte do
país. Havia indícios, mas ninguém reparava nos indícios. Um deles era a
arrecadação de impostos, cada vez mais a cada trimestre, batendo records, mas
os serviços públicos – a cargo dos ministérios – ficam cada vez mais
deficientes. Para onde ia o dinheiro? Ninguém
se perguntava, ninguém sabia. Aceitavam o fato como chuva que cai no meio de um
pic-nic, à providência, não divina, mas das “coisas”, da “conjuntura”, do
“momento”, da “oposição”, jamais à generosidade ministerial em relação às
verbas públicas. Mas nem havia oposição no governo nem nos ministérios, porque
todos andavam á volta do mesmo: a distribuição das verbas públicas.
Nenhum
jornal do Reino publicou algo em que se perguntasse se haveria um “chefe” por
detrás dos ministros, como no velho conto do Ali Baba Preta e os 38 ladrões. É
como se os ministros não fossem organizados e roubassem por conta própria. Era
inadmissível para o povo crente e leigo, que houvesse alguém por detrás de tudo
isso, arquitetando, fazendo estratégias... Já o povo mais laico e ileigo achava
que tudo isso era uma grande armação para se apoderarem dos tesouros nacionais.
Um roubava aqui, outro ali, todos aprovavam as contas de todos e quando uns saíssem
do poder, e outros entrassem, todas as contas seriam também aprovadas. Também
nenhum órgão da mídia média ou da mídia baixa, ou da mídia alta se preocupou
com o fato dos órgãos Públicos nunca descobrirem nada: Quem descobria tudo eram
jornalistas que nem fizeram curso para detetives, nem cursos de polícia, nem
cursos de advocacia, nem eram juízes estaduais ou federais... Estranho, mesmo,
era que os ministros fossem tão imbecis de se deixarem apanhar com a mão dentro
do pote de açúcar – como criancinhas – ou melhor, dentro do pote do tesouro
onde se guardavam as Corruptelas – a moeda nacional do Reino.
O
povo chorava as suas corruptelas perdidas, porque cada ministro que saía não ia
preso, não pagava indenizações, não devolvia as corruptelas, supervalorizadas,
Sempre que era necessário dar um jeitinho – uma das famas do Reino – emitiam e
aprovavam uma Medida Provisória e numa noite de votações, lá se ia esfarrapando
a constituição...
Era
um grande mistério, o caso dos sete ministros, todos eles com culpa no
cartório, saindo muito mal na fotografia. Um deles disse que só saía a tiro, e
desprezando o fato da Califa ser já avó, passada da fase de deslumbramentos
amorosos, pediu perdão declarando-lhe amor! – Disse que a amava... Mas o que o
povo mais se perguntava era sobre a epidemia... Seriam apenas sete dos 38? Ou
seriam mais, ou todos?
Houve
até quem fosse apanhada recebendo dinheiro á sucapa, sem declarar seu
recebimento e foi absolvida por aqueles outros que na mesma função dela a
isentaram... Grupo? Quadrilha? Bando? ... Mas quem será o chefe?
Nos
velhos tempos do Reino, quando Bancos passavam mal de finanças, deixava-se o
banco – ou os bancos – falir, para que aprendessem. Um dos 38, que tomava conta
da economia, resolveu doar as Corruptelas aos Bancos para ajudá-los a evitar
uma crise... Mas não evitou, e os Bancos estão cada vez mais ricos... Todo dia
diz que a crise que grassa e assola Outros Reinos do planeta, será suave, mas o
crescimento da economia neste ano, beira o zero... Mente muito esse ministro.
Esse não deve ser o chefe do Bando, mas certamente deve ser o “caixa”...
O
povo espera o desfecho final, porque vai cair mais um: Ali Pi Menta e Tal. Com
oito ministros de 38, em seis meses, nos três anos que restam á Califa, não
sobrará nenhum, e como não devolvem nem uma corruptelazinha sequer, os cofres
ficarão vazios. Quando ouro Califa for eleito, aprovará assim mesmo as contas
do Califado anterior e dirá que a culpa foi da Califa que acabou de sair e dos
outros anteriores.
Há
algo de podre no Califado das Corruptelas. Esperamos que a mídia resolva o
mistério, porque nenhum ministério sabe o que está acontecendo...
Kadu
Kastranjo
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