Arquivo do blog

sábado, 10 de dezembro de 2011

Temos que salvar tudo





Quando ainda garoto, ouvi uma história que se gravou em minha memória. Não lembro se a ouvi de meu tio – que me contava algumas histórias de vez em quando – ou se foi pelo rádio, num programa de Maria Patacho, em que as histórias eram contadas pelos próprios personagens e com sonoplastia. Este era um grande programa para crianças. Foi tão bom ser criança que ainda continuo sendo um pouco dessa coisa que não se deve desperdiçar, e que deve ser salva, também, pela humanidade. Uma das histórias que me contou meu tio, ou ouvi, falava de um pai que, tendo sido mordido por um cachorro raivoso, pediu á filha ou ao filho, que o amarrasse bem a uma pilastra para que não atentasse contra a vida de seus filhos se por acaso ficasse doente de raiva. Essa história me marcou: alguém se precavia de sua própria violência para salvar alguma coisa. 

Infelizmente chegamos num dos primeiros grandes sintomas de que algo não corre bem no nosso planeta, limitado em tamanho. A Holanda conquistou terras ao mar e tornou-se maior. Não podemos fazer o mesmo com o nosso planeta. Por mais que possamos usar criteriosamente a superfície terrestre, um dia chegaremos infalivelmente ao limite de não caber mais nenhum ser vivo adicional, sob pena de colapso total, extinção. Sabemos também que não é necessário atingir tal limite para que a humanidade se destrua a si mesma. Antes mesmo de atingidos os limites, o stress será tal que as tensões levarão a guerras de aniquilação. Tais guerras serão de preservação de raças, de nações, mas não me admiraria se em vez de guerras raciais viessem a serem guerras de aglomerados financeiros. O capital invadiu as defesas dos conceitos de família e de Estado, e sem bandeira, moral ou religião, tomam conta do mundo.

Nesta primeira fase de degradação da humanidade, assistimos à extinção de espécies, não por efeitos naturais de clima, de vulcões criando invernos nucleares, meteoros ou cometas colidindo com a Terra, ou vírus destruindo a vida que conhecemos. A extinção das espécies se processa de forma acelerada pela invasão de terras virgens, santuários de vida selvagem, porque a humanidade não tem freio para a sua ambição. Infelizmente, ambição por dinheiro, por terras, pela riqueza que essas terras podem proporcionar, ou no caso de baleias, que continuam sendo mortas de forma premeditada, pelos lucros que a sua carne dá aos assassinos e aos receptadores dessas carnes que devoram por puro prazer inconseqüente. Matam-se gorilas porque alguns idiotas que acumulam este título com o de “reis” da ignorância teimam em crer que as mãos desses gorilas produzem uma potência sexual acima da média. Da mesma forma, outros idiotas acreditam que chifre de rinoceronte produz uma potência sexual que perderam ao longo dos anos, sem perceberem que a falta não é de potência sexual, mas de interesse pelo sexo. Outros idiotas ainda caçam javalis, elefantes, qualquer tipo de caça, porque preferem não proteger suas propriedades e investir em outras coisas, como por exemplo, em armas de caça ou em falsa fé por crença ignorante. Todos estes acham que a verdade, o governo a religião ou o planeta lhes pertencem exclusivamente, porque têm dinheiro para comprar alguma coisa e pouca inteligência para poder julgar do que é ou não justo.

Salvemos os botos, as tartarugas, os pandas, os cachorros e gatos vadios, as florestas, as fontes de água potável; salvemos as terras dos agrotóxicos, o ar da poluição dos aviões, das fumaças de fábricas, os solos da contaminação de materiais radioativos, de milhões de toneladas de merdas cagadas todos os dias pela humanidade; salvemos as plataformas marinhas da poluição dos poços de petróleo, dos esgotos que deságuam nos oceanos; salvemos as crianças que morrem nos hospitais, ou a caminho, porque não há recursos para salvá-las; salvemos as crianças porque não têm o que comer; salvemos as crianças porque não têm acesso á educação; salvemos os adolescentes porque não têm acesso ao trabalho justamente remunerado; salvemos as famílias porque sem educação básica, gastam onde os anúncios lhes dizem para gastar e não onde e como deveriam; salvemos a educação, a saúde, o saneamento básico, porque causam mortes disfarçadas de destino.

Mas salvemos tudo isto de quem? De quê?

O que molesta a nossa inteligência, e nos reduz a cacos de pedras, é que devemos salvar tudo isto de nós mesmos. Devemos salvar a humanidade empedernida de falsos conceitos, desviada por propagandas tendenciosas, de deficientes programas de governos, dos verdadeiros objetivos: Viver bem e feliz, de forma sustentável.

Mas se a própria humanidade não toma consciência de seus objetivos, então a natureza se encarregará de repor a ordem no mundo que desarrumamos e degradamos.

Rui Rodrigues 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Grato por seus comentários.