Quando
ainda garoto, ouvi uma história que se gravou em minha memória. Não lembro se a
ouvi de meu tio – que me contava algumas histórias de vez em quando – ou se foi
pelo rádio, num programa de Maria Patacho, em que as histórias eram contadas
pelos próprios personagens e com sonoplastia. Este era um grande programa para
crianças. Foi tão bom ser criança que ainda continuo sendo um pouco dessa coisa
que não se deve desperdiçar, e que deve ser salva, também, pela humanidade. Uma
das histórias que me contou meu tio, ou ouvi, falava de um pai que, tendo sido
mordido por um cachorro raivoso, pediu á filha ou ao filho, que o amarrasse bem
a uma pilastra para que não atentasse contra a vida de seus filhos se por acaso
ficasse doente de raiva. Essa história me marcou: alguém se precavia de sua própria violência para salvar alguma coisa.
Infelizmente
chegamos num dos primeiros grandes sintomas de que algo não corre bem no nosso
planeta, limitado em tamanho. A Holanda conquistou terras ao mar e tornou-se
maior. Não podemos fazer o mesmo com o nosso planeta. Por mais que possamos
usar criteriosamente a superfície terrestre, um dia chegaremos infalivelmente
ao limite de não caber mais nenhum ser vivo adicional, sob pena de colapso
total, extinção. Sabemos também que não é necessário atingir tal limite para
que a humanidade se destrua a si mesma. Antes mesmo de atingidos os limites, o
stress será tal que as tensões levarão a guerras de aniquilação. Tais guerras
serão de preservação de raças, de nações, mas não me admiraria se em vez de
guerras raciais viessem a serem guerras de aglomerados financeiros. O capital
invadiu as defesas dos conceitos de família e de Estado, e sem bandeira, moral
ou religião, tomam conta do mundo.
Nesta
primeira fase de degradação da humanidade, assistimos à extinção de espécies,
não por efeitos naturais de clima, de vulcões criando invernos nucleares,
meteoros ou cometas colidindo com a Terra, ou vírus destruindo a vida que
conhecemos. A extinção das espécies se processa de forma acelerada pela invasão
de terras virgens, santuários de vida selvagem, porque a humanidade não tem
freio para a sua ambição. Infelizmente, ambição por dinheiro, por terras, pela
riqueza que essas terras podem proporcionar, ou no caso de baleias, que
continuam sendo mortas de forma premeditada, pelos lucros que a sua carne dá
aos assassinos e aos receptadores dessas carnes que devoram por puro prazer
inconseqüente. Matam-se gorilas porque alguns idiotas que acumulam este título
com o de “reis” da ignorância teimam em crer que as mãos desses gorilas
produzem uma potência sexual acima da média. Da mesma forma, outros idiotas
acreditam que chifre de rinoceronte produz uma potência sexual que perderam ao
longo dos anos, sem perceberem que a falta não é de potência sexual, mas de
interesse pelo sexo. Outros idiotas ainda caçam javalis, elefantes, qualquer
tipo de caça, porque preferem não proteger suas propriedades e investir em
outras coisas, como por exemplo, em armas de caça ou em falsa fé por crença
ignorante. Todos estes acham que a verdade, o governo a religião ou o planeta
lhes pertencem exclusivamente, porque têm dinheiro para comprar alguma coisa e
pouca inteligência para poder julgar do que é ou não justo.
Salvemos
os botos, as tartarugas, os pandas, os cachorros e gatos vadios, as florestas,
as fontes de água potável; salvemos as terras dos agrotóxicos, o ar da poluição
dos aviões, das fumaças de fábricas, os solos da contaminação de materiais
radioativos, de milhões de toneladas de merdas cagadas todos os dias pela
humanidade; salvemos as plataformas marinhas da poluição dos poços de petróleo,
dos esgotos que deságuam nos oceanos; salvemos as crianças que morrem nos
hospitais, ou a caminho, porque não há recursos para salvá-las; salvemos as
crianças porque não têm o que comer; salvemos as crianças porque não têm acesso
á educação; salvemos os adolescentes porque não têm acesso ao trabalho
justamente remunerado; salvemos as famílias porque sem educação básica, gastam
onde os anúncios lhes dizem para gastar e não onde e como deveriam; salvemos a
educação, a saúde, o saneamento básico, porque causam mortes disfarçadas de
destino.
Mas
salvemos tudo isto de quem? De quê?
O
que molesta a nossa inteligência, e nos reduz a cacos de pedras, é que devemos
salvar tudo isto de nós mesmos. Devemos salvar a humanidade empedernida de
falsos conceitos, desviada por propagandas tendenciosas, de deficientes
programas de governos, dos verdadeiros objetivos: Viver bem e feliz, de forma
sustentável.
Mas
se a própria humanidade não toma consciência de seus objetivos, então a
natureza se encarregará de repor a ordem no mundo que desarrumamos e
degradamos.
Rui Rodrigues
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