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domingo, 12 de agosto de 2018
Uma visita silenciosa
Não chegou nem partiu, porque não o viram, e portanto nem existiu, mas estava lá no dia em que passei por uma experiência ao levar um choque elétrico e ficar com os cabelos em pé como se fosse um porco-espinho. O choque durou apenas um segundo porque o disjuntor desarmou. Mas... Mas esse segundo se estendeu tanto no espaço-tempo, que pude conversar com ele por mais de meia hora. Foi o que eu deduzi!
Com o choque elétrico vi tudo em tons de azul, branco e preto, mas até o branco e o preto eram azulados. A nave que vi era gelatinosa, com aparência de ondas de água. O alienígena me explicou que a nave era construída de espaço-tempo, assim transparente tal como o vemos daqui da Terra, a melhor e mais eficiente forma de viajar pelo espaço-tempo: Uma nave de espaço tempo, assim como se os mais eficientes submarinos fossem construídos com água. Ele mesmo era azul.
Na verdade tudo foi muito confuso. Eu queria falar e ele já me respondia a perguntas que nem fizera e apenas o escutei. Sim, falava nossa língua. Estava viajando há alguns dias para conhecer o universo. Fazia parte de um programa especial em que uma parte da população viajava para pontos determinados do espaço e quando voltasse transmitia o aprendizado para a população científica. Claro que o custo afetivo era enorme: Na volta ao seu planeta o astronauta não veria nem um conhecido sequer: Todos teriam falecido há centenas de anos atrás. Era o paradoxo das viagens no tempo. Você viaja a uma velocidade próxima da da luz, passa minutos no espaço e quando volta tem a mesma idade e todo mundo conhecido está morto ou com o pé na cova.
Perguntei-lhe o que achou de nós, os terrestres.
Ele me disse:
" Vocês são montes de carne, ossos e sangue como qualquer animal, qualquer ser vivo. todos vocês têm olhos,sangue, coração, cérebro... Apenas os estágios de desenvolvimento são diferentes. Se chiparem um chipanzé, ou uma galinha, eles podem ficar mais inteligentes que qualquer humano. As formas de vida em outros planetas não são nada diferentes da que se vê aqui em vosso planeta ou em revistas de desenhos... Todos com olhos, sangue, braços, pernas, corpo envolto num saco de peles, comem, transam, defecam, têm momentos felizes, riem, choram, sonham, e estudam o universo... E curioso, quando você tem noção do que é o universo todo o resto vira coisa comum, e perde muito da importância como se você estivesse em casa, numa casa muito grande. O interesse está sempre no desconhecido...
Ah... Sim... Viajo sozinho. Não deixei ninguém triste quando parti para esta viagem, e quando voltar não encontrarei ninguém vivo daqueles que conheci. Nem os filhos que geraram com meus genes."
..................................
O universo é muito solitário. Por isso que as humanidades se juntam em grandes cidades onde é mais fácil a oportunidade de conviver, a variedade de opções. Mas não deixa de ser triste olhar para o céu, ver a grandiosidade de seu espaço-tempo, e saber que a temperatura fora de corpos celestes é de quase zero graus absolutos, ou seja, aproximadamente - 273 graus... E que as espécies pouco se comunicam entre si, assim como formigas e papagaios, ou famílias dentro de uma espécie...
Em nenhum momento aquela gelatina que constituía a nave espacial "pousou" na Terra. Antes de começar a ver tudo colorido, aquele azulado do choque elétrico desapareceu enquanto a gelatina se desvanecia.
Pensei que essa coisa de contatos imediatos de terceiro grau fossem mais problemáticos, traumáticos, espalhafatosos, mas no universo é tudo muito simples e repetitivo. Chega a ser rotineiro.
Rui Rodrigues
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