(Dei um pulo no futuro
á custa de uma infinidade de sinapses e voltei com esta visão. Se forem lá e
também tiverem estas visões, por favor, avisem que publicaremos. Nossa humanidade e nossa nação precisa muito de quem tenha visões a futuro).
O professor entrou na
sala de aula. Seu rosto era de um rosa tão escuro que parecia vermelho. Tinha
uma bela cabeleira dourada. Os alunos na sala receberam-no em silêncio.
Levantaram-se quando ele entrou e se sentaram logo que, com um gesto, ele fez
sinal para que se sentassem. Sentaram-se em silêncio. O professor falou:
- Como é habitual em todas
as segundas feiras, leio para vocês os cinco primeiros princípios do “Livro da
Vida” que norteiam a nossa civilização para que nunca se esqueçam. Leiam
comigo, por favor, e não se esqueçam que não é apenas para decorar e “saber”
repetir. É para sentir o significado mais profundo do que implicam estes
princípios.
Dos princípios se
fazem as leis, e delas tudo se fez, e o tempo era um oceano e a matéria outro
que nele se movia e evoluía, e onde foi possível a vida se fez porque assim são
as leis da natureza desde os princípios.
Princípios 1.1
E da matéria se
fizeram as três águas: A terra, as águas e a atmosfera, e destas surgiu a vida
que assim está nas leis.
Princípios 1.2
E para manter a vida
há que se adaptar rapidamente e estar preparado para as mudanças porque elas
vêm quando menos se espera.
Princípios 1.3
Desperdiçar
inteligência é desperdiçar a vida, porque sem inteligência não há salvação,
razão porque te lembrarás que não se pode desperdiçar o tempo por ser a
natureza quem dirige a vida não importa como ela seja.
Princípios 1.4
Tu és nada e ao nada
voltarás, mas prepararás o caminho para teus descendentes viverem ainda melhor
do que tu, pelo que abdicarás de todo e qualquer livre arbítrio que implique no
prejuízo de outro ou do planeta, a menos que tua própria vida esteja em perigo.
Princípios 1.5
Um aluno levantou o
braço. Queria falar. O professor assentiu com a cabeça.
- Poderia explicar o que
significa A.E. e D.E.? A turma teve algumas dúvidas ao ler o texto de sua aula
que dará hoje, como preparação para o entendimento.
- Bom... Temos que contar
o tempo para tudo no nosso dia a dia, e medir o tempo decorrido em relação ao
passado para que possamos ter noção da “distância” no tempo e assim medirmos
uma porção de coisas, incluindo a nossa evolução. Algumas entidades científicas
propuseram o nascimento do primeiro Senhor que uniu as nações numa só, outros
propuseram a do nascimento do primeiro filósofo, mas precisávamos de um “tempo
universal”... Assim, foi aprovado por unanimidade das nações o ano zero como o
da data do primeiro documento escrito por nossa humanidade. Nossa data de hoje
é 04-12-4932. Isso significa que descobrimos a escrita há cerca de quatro mil
novecentos e trinta e dois anos.
- E F.H. o que significa?
- Houve uma civilização
inteligente antes da nossa, a dos humanos, mas foi extinta ao que tudo índica
por eles mesmos. Tudo começou com um aquecimento global que seria natural, mas
que eles mesmos aceleraram por sua ambição de produzir coisas e bugigangas de
que nem precisavam realmente. Queriam essas coisas por curiosidade, ambição e
vaidade. Foi uma civilização do desperdício. F.H. significa “Fim dos Humanos”.
Eles se extinguiram há cerca de 2,5 milhões de anos, quase nada na escala de
tempo de nossa Galáxia. Ainda temos pela frente uns sete bilhões de anos até
que o Sol engula este planeta. Por isso as bases que já instalamos no quarto
planeta a partir do Sol. Nossa civilização começou entre 42 e 52 milhões de
anos atrás da mesma espécie original. O Homo Sapiens evoluiu primeiro, nós
aprendemos alguma coisa com eles, quase nada. O mais importante que aprendemos
é que “poderíamos” aprender. Eles se extinguiram e nós seguimos adiante.
- Por que não fomos
extintos, professor?
- Com a mudança da
composição química da atmosfera, o ar tornou-se irrespirável. Excesso de
dióxido de carbono e metano, altas temperaturas. Sobreveio um inverno nuclear
de curta duração. Mais ou menos dois anos. Quem podia, enquanto pôde, usou
oxigênio engarrafado até os últimos instantes, consumiu estoques. Não se
produzia nada. Se alguém produzisse, roubavam, assaltavam, matavam. Morriam aos
milhares, milhões todos os dias, e nos últimos anos de câncer de pele. Aí
vieram as doenças. Para piorar, quem tivesse uma arma vivia mais uns dias ás
custas dos outros. Nossa espécie [1]
estava habituada a passar dias a fio numa ilha, a ilha de Koshima, á beira da
praia – nossos ancestrais sabiam nadar – e absorviam uma mistura de ar normal misturado
com os gases das fontes termais. Estavam mais preparados para as mudanças na
composição química do ar que sobreveio. Durante um ano, mais ou menos, após a
extinção dos humanos nossa espécie sofreu algumas baixas, mas com o fim da
atividade humana a flora do planeta começou a jogar no ambiente o oxigênio que
havia sido perdido, e a consumir o dióxido de carbono.
- E quando saíram da ilha
de Koshima para povoar a terra?
- Em cerca de 500 anos.
Antes mesmo da extinção humana nossos ancestrais já nadavam entre ilhas da
região. Um dia conseguiram fazer uma jangada de troncos. Também tinham
aprendido com os humanos a lavar batatas doces. Sabiam como plantá-las. Nestes
dois milhões de anos que então se passaram evoluímos. Ficamos muito parecidos
com eles, mãos, pés, pernas... Há quem diga que antes da situação ficar
crítica, cientistas humanos fizeram experiências genéticas com nossos
ancestrais, dando-nos genes humanos que não possuíamos. Nossas tentativas para
encontrarmos ossadas de nossos ancestrais e fazer análise de ADN até agora
foram infrutíferas.
- Como sabemos de tudo
isso, professor?
- Através de escavações e
principalmente porque nossos ancestrais se preocuparam muito em preservar o que
o tempo não havia destruído. Em muitos porões antigos de casas e universidades
se preservaram muitas informações. Foram guardadas. Aprendemos muito com elas.
- Quais as diferenças
principais de nossa civilização para a deles?
- São poucas, importantes
e fundamentais. Recomendo que apertem a tecla “I” para gravação em vossos
implantes cerebrais, porque junto com os cinco princípios que lemos no inicio
desta aula, são a base de nossa civilização.
- A pressa só é importante quando usada a favor
da coletividade. Afora isso, não temos pressa nenhuma. Como exemplo, nossos
veículos movidos a energia renovável e não poluente. Motores de carros de
polícia, corvetas marítimas de fiscalização, transportes públicos, são de
potência e velocidade máximas. Transportes particulares têm velocidade
mínima. Outro ponto importante é que não se aprova o uso industrial de
nada antes de se comprovar seus efeitos sobre o ambiente. Nem se constrói
casa onde não haja antes uma rede de esgotos, iluminação, adução de águas
pluviais para tratamento e consumo. Os humanos perderam o controle neste
aspecto e não queremos repetir o erro deles.
- Abolimos a esperteza política e não temos
nenhum político. O que temos são funcionários públicos que fazem valer
leis aprovadas pela população para municípios e estados. Os Estados juntos
formam a União. A união somente distribui verbas em caso de catástrofes.
De resto cada estado tem que sobreviver por si só para não criar
preguiçosos acomodados e dependentes. A maior vergonha para um Estado é
ser “mais pobre” que o outro. Eles competem para que cada um seja melhor
que o outro.
- Imposição de “cotas de filhos”. A população
não pode ter crescimento populacional acima de limites sustentáveis
estabelecidos. Antes de nascerem as crianças devem ter lugar em escolas,
garantia de sustento, creches disponíveis. Então podem nascer. Não
entendemos hoje como os humanos nunca perceberam isto. Deve ter sido
porque diziam que se amavam uns aos outros, mas não parece que se amassem
muito. Nós não nos amamos uns aos outros, mas amamos nossa civilização,
nossa preservação da vida. Vivemos como podemos e devemos viver, e não
como “queremos” viver. E agindo assim conseguimos um dia, já lá vão mais
de três mil anos, viver como queremos realmente. É como o filho protegido
achar que tem que ser sempre atendido e se tornar um bandido. Não criamos “proteções”
especiais.
- O objetivo maior de nossa civilização é
transportá-la integralmente, sem falhar um único cidadão, para outros
planetas, porque este nosso o terceiro a contar do Sol, será absorvido,
torrado, incluído ao Sol em pouco mais que quatro bilhões de anos. Para
criarmos condições em outros planetas, leva milhares, milhões de anos. Por
isso já começamos em Marte o nosso treinamento. Uma comparação: Dos
humanos, se tivessem sobrevivido á grande extinção, só gente de três ou
quatro países teriam chegado a novos planetas para os colonizar. Mais de
95 por cento da população da Terra pereceria, porque nunca se preocuparam
em salvar todo mundo. Salvar-se-ia apenas quem pudesse.
- As espécies vivem neste planeta hermético
constituindo a natureza. Então a natureza vem antes do indivíduo em
importância de cuidados. Por isso que fazemos análises diárias do
Ambiente. Por vezes até precisamos poluir mais para mantermos as
porcentagens químicas a que estamos habituados. Outras vezes até o pouco que
poluímos pode gerar uma catástrofe. Mantemos hoje o planeta em suas
condições ideais. De certa forma isto também não é muito bom, porque evita
a “evolução” das espécies. Ainda estudamos estes aspectos.
- A ambição e a falta dela são controladas.
Ninguém pode ser tão rico que possa comprar um ministério público, indicar
alguém para cargos, formar um exército. Os humanos faziam isso. São poucos
os exemplos que seguimos dos humanos. O melhor que fizeram foi a
tecnologia. Nem os religiosos se aproveitavam. Todos eles pertenciam a
empresas comerciais que arrecadavam verbas, usavam menos de um por cento
para obras assistenciais como propaganda, e o resto servia para se
expandirem pelo mundo para arrecadar mais verbas, obterem mais poder.
- Os Bonobos são uma
espécie muito semelhante á nossa. Temos um programa especial para acelerar a
sua evolução. Fizemos algumas alterações genéticas e estão indo muito bem. São
menos “frios” do que nós e estão mais voltados para o amor. Um dia serão como
nós e nós como eles e poderemos, juntos, ocupar planetas para os quais
estejamos mais adaptados. Já se estuda o cruzamento entre nós e eles. Estudamos
também a possibilidade de evolução acelerada de outras espécies.
- E a religião,
professor, como funcionava?
- Esse será o tema de
nossa próxima aula. Mas vou adiantar que fizeram uma enorme confusão com o
conceito de “moralidade”. Para eles até a evolução era imoral e jamais permitiriam uma troca genética entre nossa espécie e a humana. Até a próxima...
Não esqueçam de fazer o resumo da aula como trabalho, e o “aparte” com proposta
de evolução sobre este tema, ou seja, o que mudariam em nosso comportamento
para a melhora de nossa civilização.
-Só mais uma pergunta,
professor... É verdade que os continentes já se moveram nestes dois milhões de
anos após o FH?
- Vejam neste vídeo [3]... Moveu-se muito pouco. Ainda não é tão sensível no clima, mas precisamos nos prevenir... Um novo Pangea – os humanos chamavam a essa nova aglomeração de continentes de “Amasia” - vai prejudicar nossa existência. Graves mudanças climáticas se esperam sempre bem devagar. Temos tempo...Não desperdiçaremos nosso tempo como os humanos desperdiçaram. Se tivessem se dedicado á vida em vez de se dedicarem á morte, já estaríamos com eles há muito mais que dois milhões de anos em outros planetas, espalhando-nos pelo Universo. E há filósofos entre nós que se perguntam “Porque teríamos que nos espalhar pelo universo”... Agora chega!... Bom dia a todos, aproveitem o dia para se divertirem e estudar.
- Vejam neste vídeo [3]... Moveu-se muito pouco. Ainda não é tão sensível no clima, mas precisamos nos prevenir... Um novo Pangea – os humanos chamavam a essa nova aglomeração de continentes de “Amasia” - vai prejudicar nossa existência. Graves mudanças climáticas se esperam sempre bem devagar. Temos tempo...Não desperdiçaremos nosso tempo como os humanos desperdiçaram. Se tivessem se dedicado á vida em vez de se dedicarem á morte, já estaríamos com eles há muito mais que dois milhões de anos em outros planetas, espalhando-nos pelo Universo. E há filósofos entre nós que se perguntam “Porque teríamos que nos espalhar pelo universo”... Agora chega!... Bom dia a todos, aproveitem o dia para se divertirem e estudar.
® Rui Rodrigues
[1] Conhecidos como “Macacos
das Neves” ou “Macacos de cara vermelha” existentes na Ilha de Koshima, Japão.
Ver em https://www.youtube.com/watch?v=-sZ48htPLgs