Arquivo do blog

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Veja o seu destino.


Veja o seu destino.


A nossa vida consciente é cheia de incógnitas e de curiosidades e qualquer analogia de suas características com a física quântica não seria mera especulação.  Há quem diga que nosso destino está traçado e quem diga que podemos traçá-lo de forma consciente de forma a atingirmos um ou vários objetivos na vida. Outros dizem ainda que vamos desenhando o nosso destino a cada passo que damos, mesmo sem termos consciência de que queremos atingir algum objetivo. Talvez todos tenham razão.

  1. Os vários caminhos de Feynman (Figura 1)
Feynman - Richard Feynman - dedicou sua vida ao estudo da Física Quântica, foi merecedor de um prêmio Nobel em 1965. Descobriu que partículas, em sua trajetória de um ponto A até um ponto B, se movem segundo uma “onda de probabilidades”, podendo estar em qualquer lugar conforme figura 1. A cada possibilidade chamou de “história” mas há um detalhe: Se imaginarmos que num determinado instante a pudéssemos localizar exatamente, poderíamos marcar sua posição num gráfico. Se, porém, pudéssemos voltar no tempo e repetir – exatamente – a experiência e no mesmo instante pudéssemos voltar a medir a sua posição, muito provavelmente estaria em posição diferente (dentro da tal onda de probabilidades). Isto é tão certo, que muitas das teorias – que já poderiam ter sido chamadas de leis - são utilizadas até hoje demonstrando a sua veracidade e eficácia.

Imaginemos que acreditamos na existência de uma alma pessoal e intransferível, que nos move o corpo, segundo decisões tomadas num computador a que chamamos cérebro. A título de referência, andaram fazendo experiências com pessoas à beira da morte, pesando-as instantes antes de falecerem e logo após o óbito, quando a “alma” abandona o corpo. A diferença de peso representou aproximadamente 23 gramas. Independentemente da credibilidade desta medição, é crença geral que a alma não tem peso, seria apenas energia. Então, para ir de um ponto A até um ponto B, nossa alma poderia tomar vários caminhos, e, se não houvesse interferências, poderia chegar lá em mais ou menos tempo dependendo do caminho que tomasse. Como está presa, amarrada ao corpo, irá muito mais devagar e, salvo engano ou necessidade, escolherá o caminho que lhe parecer mais curto, consumindo menos tempo em seu percurso. Os pontos A e B são aleatórios para cada decisão tomada na vida. Se quiséssemos definir o percurso desde o nascimento (ponto A) até a morte (ponto B), ser-nos-ia impossível pelo simples fato de que vivemos num mundo com “múltiplas” histórias de múltiplos corpos vivos que nos cercam, de múltiplas histórias da natureza que de vez em quando parece enfurecida e se mostra hostil através de desastres naturais, o próprio Sol nos envia tempestades solares que fazem os seus estragos, e nunca podemos negligenciar os raios cósmicos, os raios de tempestades elétricas, meteoros que caem sobre o planeta. Nem bêbados ao volante que nos podem interromper a nossa pacata viagem.

Com um pouco de boa vontade e de imaginação, poderíamos ir ainda mais além e imaginar uma parte da “alma” adiantando-se ao corpo para “ver” o que nos espera lá no ponto B, quer este ponto seja um ponto comum do dia a dia, como por exemplo, o escritório ou o posto de trabalho para onde nos deslocamos, ou o momento da “passagem” desta para a outra vida. Com um pouco mais de imaginação, e em referência à possibilidade de viagens de teletransporte, numa primeira fase se transferiria a alma e só depois se transportaria o corpo. Provisoriamente, a alma poderia habitar um “chip” de uma máquina cibernética. Não fosse nossa imaginação, ainda hoje estaríamos cortando pedaços de lascas de pedra para fazermos machados de mão ou flechas, e viveríamos em tribos em alguma caverna onde continuaríamos a proteger-nos dos animais ainda mais selvagens do que nós próprios, se é que isso é possível... Mas nem só Feynman descobriu essa coisa incrível de algo não estar exatamente num lugar, mas numa “onda” de probabilidades. Um sujeito chamado Schrödinger descobriu algo ainda mais incrível.

  1. O gato de Schrödinger
Erwin Schrödinger foi laureado com o prêmio Nobel de Física em 1933 e até hoje ninguém contestou suas equações, e está provado que elas funcionam pra valer. Também se de dedicou à Física Quântica e ficou famoso por causa de um gato imaginário que colocou numa caixa imaginária com um dispositivo movido ao acaso da emissão de uma partícula. Se a partícula aparecesse acionava um martelo que quebrava uma fina ampola de veneno fortíssimo que mataria o gato. A probabilidade de a partícula aparecer seria de 50%. Se a partícula não aparecesse, o gato continuaria vivo. Ou seja, sempre que abríssemos a caixa para ver se o gato estava vivo ou morto, umas vezes estaria realmente vivo, outras morto. Até aqui todos podemos entender a física quântica. O problema começa a complicar quando Schrödinger descobriu que o gato tanto podia estar vivo como morto, e aqui a maioria de quem tenta entender a física quântica se perde. Um gato ou está vivo ou está morto. Pode até estar meio vivo, meio morto, mas enquanto não morrer, está vivo, e depois de morto não vive mais.

No fundo, o que Schrödinger quis dizer é que existe um fator que complica a realidade: a observação. Todas as vezes que abríssemos a caixa estaríamos influenciando nos resultados. É esta relação que fica difícil entender. Um resumo deste fenômeno poderia ser descrito da seguinte forma:

Seria indistinguível, lá dentro, na privacidade da caixa, o estado do gato que seria o resultado de uma onda com dois estados: o de 50% de gato vivo e outros 50% de gato morto, resultando num terceiro estado em que o gato estaria – simultaneamente-vivo e morto! Ao abrir a caixa, interferiríamos neste estado e o veríamos ora morto, ora vivo a cada vez que a abríssemos.

Voltemos então ao começo de nosso artigo para seguirmos as histórias múltiplas de Feynman, agora sob o ponto de vista das probabilidades de Schrödinger, no âmbito de um futuro dependente ou não de um destino prefixado.


  1. O meu, o seu, o nosso destino...

(... E porque este mundo nos parece simultaneamente tão extremamente simples e tão complicado).

Ao caminharmos por uma rua, despreocupadamente, nosso planeta também gira, o Sol está lá em cima, em seus movimentos, pessoas a pé ou em veículos se movem, e nós, olhando as pedras da calçada não os vemos não reparamos. Qualquer coisa pode estar acontecendo, mas não temos a mínima idéia. Só temos uma idéia muito vaga de que o “mundo continua” como se fosse uma enorme onda, resultado da soma de uma imensidão de outras ondas, em que pessoas conhecidas ou não estarão tomando esta ou aquela atitude, direção, movimento. Ao levantarmos os olhos das pedras da calçada enfrentamos a realidade – pelo menos é o que nos parece – e podemos ver um ciclista quase colidindo conosco. Fixemo-nos neste detalhe: O ciclista que quase colide conosco.

Umas vezes colidirá. Mas não segundo a porcentagem de Schrödinger dos 50%. Schrödinger escolheu propositalmente a porcentagem de 50% porque contava a historia de apenas um gato com duas opções: ou vivo ou morto. Nossas opções na vida real são infinitamente menores, porque pode não ser uma bicicleta, podendo ser algo mais leve, como um garoto de skate, um árvore parada no meio do caminho, um pequeno poste de sinal de trânsito, um caminhão, um automóvel, ou absolutamente nada... Pode não haver nada nem ninguém à nossa frente em nosso caminho...

Nosso futuro depende de observarmos ou não o que se passa à nossa volta, porque interagimos com tudo e tudo interage conosco, mesmo que não olhemos à nossa volta. Mortos ou de olhos e ouvidos fechados, é como se não existíssemos. Nossos atos se refletem nos atos dos outros e de volta, em nós mesmos. Com tantos fatores interferindo em nossa vida – e cada um de nós conhece os principais em sua vida – prever o futuro, e dizer que já está montado, não faz o mínimo sentido. Mas imaginemos que sim... Que o futuro já esteja traçado. Que computador fantástico seria capaz de, a cada instante, registrar tudo o que acontece no universo para reprogramar tudo para o instante seguinte?

Isto merece uma reflexão bem demorada... Que computador seria esse, tendo que rever tudo a cada instante, para o instante seguinte em todo o universo?

Simplesmente não faz sentido. O futuro não pode estar traçado.

Tanto que não está, que se em vez de olharmos as pedras da calçada, estivéssemos olhando em frente, veríamos o garoto da bicicleta vindo em nossa direção. O que não impedira de o garoto nos aparecer de repente, vindo por detrás, mas não será por isso que andaremos todos com espelhos retrovisores para nos cuidarmos do que nos vem pelas costas. Afinal, também poderia ser um vaso caindo de uma varanda de um prédio, ou um bueiro da Light ou da Ampla explodindo no solo...

Por isso, estar atento á vida é muito importante, desde que não nos impeça de viver ou nos limite esse prazer.

Não estive em Woodstock e por isso ninguém que foi se lembrará de mim. A maioria dos que estiveram lá, já não se lembram dos que por lá estiveram também. Quem foi, achará hoje que foi sozinho, ou com uma meia dúzia de amigos. Dizem que foi uma “congregação”. Mas que congregação foi essa que ninguém se lembra de quem esteve lá? O evento Woodstock existiu mesmo?

Rui Rodrigues



sábado, 15 de dezembro de 2012

Massacres nos EUA – Há solução?

Massacres nos EUA – Há solução?


No final deste artigo apresenta-se um histórico de atentados semelhantes desde 1966 até 14 de dezembro de 2012, mas não seria de admirar se este tipo de comportamento suicida como ultimo ato de vida, arrastando para a morte gente absolutamente inocente, tivesse um sem número de exemplos ao longo da história da humanidade. Como parar com este tipo de comportamento, poder controlá-lo, evitá-lo, dar-lhe um fim? Parece não ter solução, porque nunca se sabe de onde pode vir um desvio de comportamento deste tipo. Normalmente os agressores não expõem seus sentimentos, são reservados, não levantam suspeitas. É como uma negação de uma existência correta durante toda a vida, reservando para o final uma ação que a negue.

Podemos perguntar-nos se não existirá nada de semelhante na atitude dos antigos faraós do Egito, quando a pretexto de serem “servidos” no Além, eram enterrados em sarcófagos cercados de seus fiéis servidores que eram enclausurados em sua tumba depois de lhes terem dado beberagens para que não sentissem a morte. Acreditariam mesmo na vida após a morte, sabendo que para serem embalsamados lhes tiravam o cérebro pelo nariz, e lhes extraiam todas as vísceras? E como poderiam comer todas as refeições que lhe deixaram ao lado do sarcófago se não tinham intestinos, estômago? Se havia sadismo era por parte dos sacerdotes que inventaram a religião, provavelmente de inicio para ganhar dinheiro e poder, para viverem à tripa forra. Hitler mandou construir fornos para eliminar o povo judeu e o povo cigano, e quem sabe, se ele tivesse ganhado a guerra, não queimaria também toda a humanidade para que apenas a raça alemã pudesse reinar sobre a terra. Ou seja, não é necessário ser-se louco par cometer atrocidades em nome de algo que se acredita. Felizmente não tivemos a oportunidade de saber o que faria Hitler a seguir porque também se suicidou. Parece que a característica comum à maioria destes sujeitos, não loucos, que agem como loucos, seja o fato de não suportarem “interrogatórios” após cometerem os atos: Suicidam-se ou fazem-se matar!

Parece que os atentados contra sociedades, grupos, famílias, estão intimamente relacionados com o “poder”. Reis podem, presidentes podem, indivíduos também podem, cada um a seu modo, sem medo de pena de morte. Como ter medo de pena de morte se o indivíduo já está a fim de se matar ou fazer matar? E provavelmente há um relacionamento intimo também com a vingança por falta de “consideração” que tenham sofrido, ou descriminação, normalmente durante a infância e contra a qual não vêem como obter compensação por “meios legais”. Provavelmente se acham uma espécie de “escória” social sem modo de recuperação. No final, parece ser a sociedade que acaba por produzir indivíduos como estes que não aprenderam a lidar com as pressões e frustrações da vida. Não aprenderam porque provavelmente não souberam ensinar. Alguns sobem ao poder.  Nos EUA existem movimentos no sentido de reduzir, evitar, impedir a compra de armas pela população civil, mas não podemos estar certos de que indivíduos deste tipo, sem armas de fogo, não viessem a usar métodos de eliminação ainda piores, sem darem um único tiro. Meios existem. As diferenças sociais devem estar mais relacionadas com estes eventos do que nos possa parecer, e menos do que com a liberdade dos cidadãos comprarem facilmente uma arma para se defenderem.

Já ouvimos falar dos danos causados para toda a vida em indivíduos que sofrem Bullyng. Pelo menos até a metade do século passado, se um garoto ou uma garota chegassem em casa de olho roxo, poderiam apanhar ainda mais se não dissessem que também tinham batido no agressor. O problema é que os agressores costumam agir em matilha quando praticam o bullyng e os assediados normalmente os temem. Este assunto era normalmente deixado pelos pais para serem resolvidos pelos filhos, com os filhos dos outros, na escola ou fora dela. Aconteceu comigo. Mas os agressores se deram mal, porque os peguei isolados um por um, depois que me bateram. Agressões de bullyng raramente eram levadas ao conhecimento da diretoria de escolas e universidades. Numa associação desastrosa entre sentimentos desencontrados, sem um laço que os agregue de forma construtiva, surgem crianças sádicas ou iludidas de que têm a força, a supremacia, que normalmente já lhe negaram em casa, e escolhem sempre uma “vítima”, aparentemente mais fraca, para mostrarem a si mesmas que podem. Podem qualquer coisa que possam, não lhes importa o “que” nem a razão. Mas acabam sempre por atacar no seio da comunidade, grupo social ou empresa em que se sentiram “diferenciados”.  Os que praticam o Bullyng sentem-se impelidos a mostrar que também “podem”, de forma continua, todos os dias, em casa, no colégio ou na rua. Não há freio.

Por outro lado, nos que sofrem bullyng, parece ser que quando há freio na vingança, por força das circunstâncias, e não por uma compreensão do que significa a vida, alguns agressores calam-se, enconcham-se, tecem o futuro como se fosse um programa de vida. Tentam mostrar ao mundo ou a alguém, numa só ação, como foram “injustos” esses agressores, como foram descuidados, como ficaram à mercê de sua própria incompetência quando desprevenidos. Geralmente culpam os pais, os professores por sua incapacidade de os proteger e até de os ter ensinado a “ser como os outros”. Eles percebem que os fortes podem mostrar os seus sentimentos, e que os fracos devem escondê-los. Preparam-se para o massacre quando os fortes estiverem desprevenidos, matando-os e o objeto de seus maiores cuidados: crianças!

Ora, isto não se resolve com a eliminação das armas de fogo do mercado.  Eles descobrirão novas armas que poderão ser captadas de um arsenal sem fim capaz de matar em grande número. No que respeita às armas, a maioria da população americana ainda cresceu ouvindo histórias do velho oeste, cow-boys que defendiam a própria vida e as diligências. Assistiram a filmes, e em muitos deles seu herói era o bandido, o aparentemente mais fraco. E faz-lhes todo o sentido que possuir uma arma é uma questão de vida ou morte contra “bandidos”, e há muitos em todos os lugares do mundo, com tendência a haver cada vez mais: O sistema econômico e político o permitem e o incentivam. O problema é que para eles, “bandido” é quem não os protegeu ou lhes impôs ações de bullyng. Não é assim na velha Europa. Não se imagina que um defensor da vida use sua arma para matar outros indivíduos por vingança.

O problema está na cultura. É certo que as treze famílias que fugiram da velha Europa para construir um mundo novo, eram também religiosas e dotadas de toda a moral possível, e seus descendentes, continuam dignos, porém criou-se uma mentalidade, talvez pelo tamanho do território e dos sucessos que a nova nação veio a ter na política internacional, que para se ser um bom cidadão é necessário demonstrar ser forte e inteligente. Na Europa também, mas a moral e a ética são mais socializadas dos que nos EUA. Estas duas vertentes do gênio humano, a moral e a ética, aprendem-se em casa mesmo antes de os alunos irem para as escolas, e as escolas públicas sempre garantiram a freqüência a todos os cidadãos desde tenra idade. Há serviços de ajuda pública constante através de serviços sem uso de caridade. A caridade machuca o ego. Nos EUA a ajuda em sua maior contribuição vem da caridade de associações e do Exército de Salvação.

Nos EUA criou-se uma cultura segundo a qual a Constituição americana dá oportunidade igual para todos, sendo o problema de não conseguir essa tal oportunidade do cidadão, que geralmente não tem culpa das oscilações políticas e econômicas. Quem não vai à escola é porque os pais não têm capacidade de ganhar dinheiro. Na Europa não há diferenças sensíveis entre escolas públicas e particulares, e a educação dá-se em casa sem necessidade de bater, salvo desonrosas exceções. Na Europa, alguém pode até se suicidar, mas não é comum que saia pela rua matando primeiro os outros, geralmente inocentes. Na Europa não se atinge o limite de sair dando tiros por corredores, praças, empresas, exceto, como em qualquer lugar, quando se trata de doença mental.  

Evidentemente, como o total de vítimas deste tipo de agressão entre 1966 e 2012, é de 204, sendo 147 os mortos e 57 os feridos, o governo dos EUA não mudará absolutamente nada e a educação não chegará a todos. É a velha questão do custo benefício. Acharão que são poucas as vítimas para justificar uma recessão na fabricação e venda de armas, promover acesso escolar a todos os americanos e americanas, dotar a nação de serviço público gratuito de saúde, ensinar os pais a educar, combater as causas que geram  indivíduos como esses.

O ultimo agressor, de vinte anos de idade e reconhecidamente um sujeito inteligente, matou a própria mãe e depois mais seis adultos e vinte crianças entre cinco e dez anos, pelo menos dois tiros em cada uma. Ele não era louco.

Absolutamente não era louco, e nada irá mudar nos EUA. Continuaremos ouvindo notícias destas. O próximo louco tentará superar o numero de vítimas como se estivesse, disputando os recordes do Guiness, independentemente da idade, posição social, estado de liquidez financeira.

Rui Rodrigues

--------------)))00000(((-------------



Publicado:  20/07/12 - 12h09 - Atualizado:  14/12/12 - 17h49

- Agosto de 1966:  O estudante de 25 anos Charles Whitman abriu fogo contra colegas da Universidade do Texas, em Austin, da torre do relógio local. No ataque, 16 pessoas morreram e 31 ficaram feridas.
- Julho de 1984:  James Oliver Huberty, um segurança aposentado, matou 21 pessoas em uma lanchonete do McDonald's na Califórnia. Policiais executaram o atirador em troca de tiros.
- Agosto de 1986:  Pat Sherrill, um funcionário dos correios de 44 anos que iria ser demitido, matou 14 pessoas em posto dos correios em Oklahoma. Após o ataque, suicidou-se.
- Junho de 1990:  James Edward Pough, que tinha envolvimento com gangues na Flórida, atirou aleatoriamente contra funcionários da General Motors e depois se suicidou. Matou nove pessoas.
- Outubro de 1991:  O pescador desempregado George Hennard abriu fogo em uma cafeteria Luby's, no Texas, matando 23 pessoas, em um ataque que ficou conhecido como o Massacre de Luby's, o mais mortífero na história do país até o Massacre de Virgínia Tech (ver Abril de 2007).
- Abril de 1999:  Os estudantes, Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17 anos, abriram fogo na escola de Columbine, em Littleton, perto de Denver, no estado do Colorado. Treze pessoas morreram, 12 estudantes e um funcionário da escola. Vinte e seis pessoas ficaram feridas. Após o atentado, os dois se mataram.
- Julho de 1999:  Um homem abriu fogo e matou nove pessoas em Atlanta, depois de ter assassinado a esposa e os dois filhos. Ele cometeu suicídio cinco horas depois do ataque.
- Setembro e Outubro de 2006:  Um atirador invadiu uma escola Amish, na Pensilvânia, e provocou a morte de cinco meninas. Dias antes, um adolescente de 15 anos armado matou o diretor de uma escola em Wisconsin. Dois dias antes, um sem-teto armado pegou seis meninas de uma escola do Colorado como reféns, estuprou-as e matou uma antes de cometer suicídio.
- Abril de 2007:  Virginia Tech, uma universidade em Blacksburg, no estado da Virgínia, se torna palco do mais sangrento massacre na história dos EUA. Um estudante armado matou 32 pessoas e depois se suicidou.
- 2 de abril de 2012:  um atirador mata sete pessoas e fere três ao fazer disparos contra uma universidade cristã em Oakland.
- Julho de 2012:  Um homem mascarado matou 12 pessoas na pré-estréia do filme "Batman - O cavaleiro das trevas ressurge”, no Colorado.
- Agosto de 2012:  Wade Michael Page, um ex-militar de 40 anos que participava de movimentos neonazistas, matou seis pessoas em um templo sikh em Oak Creek.

Em 14 de dezembro de 2012, conforme noticiário da Reuters e informação colhida na rede globo de televisão em 14 de dez.

 - Um total de 28 pessoas morreu depois de um tiroteio numa escola no Estado norte-americano do Connecticut e em um local próximo, informou a polícia nesta sexta-feira. O atirador atirou contra a própria mãe e foi preso. Houve dúvidas – ou ainda há - se tinha sido ele, que tem 20 anos, ou o irmão mais velho. O número inclui 20 crianças, entre cinco e dez anos, e seis adultos, além do atirador e de uma vítima adulta (a mãe) num outro local em Connecticut, segundo autoridades. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Curemo-nos a nós mesmos


Podemos imaginar os primeiros passos, as primeiras investidas no conhecimento de todas estas coisas do Universo. Certamente começou muito lá atrás, há milhões de anos, com a curiosidade de crianças, mulheres, homens mais introspectivos, ao olharem para certas plantas, cogumelos, sapos, sem saberem se eram comestíveis. Não tinham como saber, mas umas plantas aliviavam as dores, outras faziam dormir, outras ainda provocavam alucinações. Muitos dos primeiros que experimentaram morreram. Os que tinham visões passaram a temer deuses que só existiam quando ingeriam as plantas ou lambiam os sapos, e eram bons e maus aqueles deuses; Os outros, os que só assistiram, aprenderam e passaram a informação adiante. E assim a humanidade chegou a um período, depois de uma milionária caminhada de anos, a um período tenebroso a que se chamou de “idade das trevas” ou Idade média. Foi o auge dos sacerdotes oriundos das visões fantasmagóricas de deuses que se arrependiam de ter criado a humanidade, que fabricavam “damas de ferro” onde cozinhavam, assavam e espetavam os corpos de gente inocente que depois queimavam em fogueiras. Era o tempo das “bruxas” e dos alquimistas. Foi o tempo da reflexão sobre o que é real e o que não é. Como costuma acontecer, quando se chega ao fundo do poço, não se pode descer mais, e a tendência é subir.
 A Idade das Trevas foi o fundo do poço do qual emergiram os químicos, os físicos, os matemáticos, os médicos, os engenheiros, os filósofos, a indústria, o desenvolvimento do comércio, e mais tarde os celulares, as televisões de plasma, os aviões a jato, as viagens interplanetárias, o estudo do genoma humano, a alta produção por hectare das plantações e culturas, os automóveis elétricos, os computadores pessoais, a Internet, a cura do câncer ainda que parcial. Na Idade Média nem se sabia o que era câncer, mas “sabiam”, os “humildes fiéis convenientes” com toda a convicção, que “deus” mandara fazer cruzadas contra os “infiéis” e queimar gente inteligente em fogueiras. Falava-se em nome de “deus”. Um deus muito estranho esse, certamente, e que, apesar de sua “infalibilidade” continua a ser credível!”


E hoje descobrimos, finalmente, que este planeta é um fábrica, que cada corpo vivo é uma pequena central de produtos e de produção, que a vida deve manter-se e ser preservada, que cada unidade é fundamental para a sobrevivência de todo o sistema. Ácidos, bases e sais, aldeídos, álcoois, e outros produtos químicos existem em qualquer ser humano, em muitas plantas; o ferro e os metais vieram de estrelas que explodiram; outros produtos descobrimos e criamos, e as outras “fábricas”, aquelas que produzimos para obtermos grandes quantidades dos produtos, são artificiais, porém de toda a utilidade porque servem a muitos fins construtivos, e, eventualmente, destrutivos. Evoluímos, sempre, com determinismo pessoal ou coletivo, podendo decidir a qualquer momento que caminho deva ser seguido.
Evidentemente que num planeta limitado, nada deve ser longevo, viver eternamente, sob pena de não permitir as novas gerações, a evolução que elas trazem. Imaginando que todos fossemos eternos e que continuássemos a nos reproduzir, este planeta se encheria em apenas algumas décadas, impossibilitando a vida e a convivência. A conclusão simples e fatal é que temos, obrigatoriamente, que falecer a qualquer momento. Não haveria outra forma de haver vida, se não estivesse aliada à morte, por total falta de espaço para evoluir. Por isso, o que se busca é uma vida – enquanto durar – que seja digna, evitando os sofrimentos naturais, mas sem criar sofrimentos artificiais, como parece ser o caso das destruições em massa pelas guerras.

Mas, se somos fábricas ambulantes, onde se produzem células “T” que nos resguardam de doenças, e possuímos ao nosso alcance vacinas e remédios que podem ajudar-nos na cura de doenças, precisamos descobrir os mecanismos que atuam em nosso corpo e salvam a uns e a outros não, deixando que os processos de infecção ou contaminação, deixem de parecer “aleatórios”. Nosso próprio corpo nos pode curar desde que tomemos, desde a infância, certos cuidados. A longevidade  a que chegamos, a cerca de 80 anos como expectativa de vida, deve-se muito mais aos cuidados com a alimentação, a hábitos alimentares, aos cuidados com a higiene do que à descoberta de vacinas e medicamentos, mas jamais teríamos estes resultados se não fossem as vacinas, os medicamentos, e o desenvolvimento da medicina através da engenharia, e em particular, da engenharia genética. 

Precisamos descobrir a “inteligência” pessoal que nos cura a nós mesmos de todas as doenças e ferimentos, como fez uma galinha que foi ferida com um grande corte no pescoço por um gambá e se recuperou e sobreviveu. Postou 14 ovos em ninho que fez e começou a chocá-los. Certa noite outro gambá veio e lhe comeu quase todos os ovos deixando apenas quatro. No dia seguinte o gambá voltou e deu-lhe um corte tão grande nas costelas que as vísceras apareceram e a galinha caminhava devagar e mancando. Uma semana depois, a galinha estava em processo visível de cicatrização curada a milho e água. Os dois gambás foram mortos a tiro. O criador das galinhas teria que optar entre a sobrevivência dos gambás ou das galinhas, mas não temos certeza de que o Criador tenha uma espingarda de doenças e de desastres para eliminar o que quer que seja deste planeta. Parece que o Criador fez o Universo sujeito a leis impressas na sua formação e saiu para outros lugares. Sem ele por perto para cuidar de cada um de nós, temos que aprender a nos curarmos a nós mesmos. Pode perfeitamente ser que a cura “pessoal” por meios naturais e a própria evolução se expliquem através de uma relação de informação entre o cérebro e o cerebelo, retransmitidas ao ADN celular. O que exatamente estamos fazendo agora parece estar nesse caminho, mas só foi possível depois que nos livramos do poder daqueles que, baseados não se sabe em quê, sem razão alguma, quiseram impedir o desenvolvimento das ciências com argumentos de mágicos que não sabiam como fazer mágicas.


Ou nos apresentavam números de mágicas que não eram mágicas, mas curas pessoais por meios naturais e para evoluirmos é necessário que nos livremos do mal – “Amem” – dos que tentam limitar o conhecimento quer usem a política, a religião, a força, a economia, ou qualquer outro meio ou arma para nos impedir.



Rui Rodrigues

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O dia em que "Maquiavel" entregou o livro ao Príncipe
























Naquele ano de 1513 Nicholo Machiavegli[1] não chegaria ao palácio do príncipe a pé, de forma humilde. Não ia pedir-lhe nada de forma explícita. Pelo contrário, iria dar-lhe um presente como se fosse um ovo de dragão que, esperava, o príncipe viesse a adotar como filho: Seu livro escrito nesse mesmo ano, demonstrando tudo o que sabia de política, das sociedades, do poder. Tampouco chegaria de forma arrogante como quem acha que a experiência é um diploma incontestável, e experiência era o que lhe sobrava. Chegaria em sua própria carruagem, mas subiria as escadarias de forma digna, carregando de forma perceptível, mas não facilmente identificável e ostensiva o seu presente ao príncipe: Um belo livro cujo título era exatamente esse, “O príncipe”, onde demonstrava seus profundos conhecimentos das sociedades, do modo de governá-las, de seus limites de tolerância, e das forças que possuem ou que as podem manobrar sem que percebam. 

No fundo, um recado a quem veria em alguns instantes: Lorenzo de Médici, duque de Urbino. Lorenzo era novo e por mais inteligente que fosse faltava-lhe a experiência. No entanto, estava seguro que talvez a ele mesmo, Machiavegli, lhe tivesse faltado experiência ao lidar com os Médici. Mas com tudo isso, Machiavegli estava consciente de seu maior grau de experiência e de inteligência em relação aos demais conselheiros nomeados pelo príncipe. Uma dessas posições deveria ter sido sua. Perseguido pelos Médici que até Papas haviam feito eleger com dinheiro, intrigas, e até assassinatos, fora preso, torturado e passara a conhecer o outro lado do poder. Sofrera as conseqüências. Talvez por isso o tivessem esquecido, embora ainda pudesse ser muito útil à unificação da Itália, dividida em principados. Tudo dependeria do Príncipe. 

Machiavegli aprendera, a duras penas, que o poder nunca - jamais -  é eterno. O segredo da política é mantê-lo pelo maior tempo possível, com a maior segurança, e o menor número de   problemas. Sempre aparece alguém, algum príncipe, algum reino, principado ou nação mais forte. Poder é bom enquanto dura e se baseia no respeito pelos antagonistas. Nada pode ser desprezado. Tinha muita coisa a propor ao Príncipe Lorenzo, e principalmente, torná-lo rei de uma Itália unificada. Tinha sua lógica. Mas primeiro teria que estudar melhor o íntimo do príncipe e saber do acolhimento a suas idéias. Saberia ele que Veneza era uma república de sucesso e enorme poder marítimo graças à sua forma de lidar com o mundo exterior? Não tinha recentemente construído a praça de S. Marcos, que ficaria pronta no ano seguinte, em 1514, um símbolo de sua riqueza comercial? Não estava Portugal, aquele pequeno reino no final da península ibérica, junto às colunas de Hércules, em franco progresso comercial e marítimo? Pois se pequenos reinos e principados podiam ser uma Veneza ou Portugal, o que não seriam os reinos de Itália unidos, tanto mais que Portugal e Veneza? Claro que com pouco esforço Veneza conseguia minar os lucros dos empreendimentos comerciais de Espanha e Portugal financiando-lhes os projetos, as construções de caravelas, cobrando juros altíssimos, mas com o dinheiro e os empreendimentos, uma Itália unida poderia ser muito maior, dominar a Europa, tal como Roma já o tinha feito.

Machiavegli sabia dos motivos que mantinham os príncipes italianos desunidos e eram muitos, mas o principal era a própria competição entre eles. Não queriam ser uma nação poderosa e grande: Queriam apenas competir entre si e isso os divertia, dava-lhes razão para viver ou para morrer. O outro motivo era a forma de governar. Enquanto príncipes fariam o que quisessem em seus reinos. Mas para serem uma nação teriam que mudar para uma república. A república lhes limitava os poderes sobre o povo. E o jogo entre eles, a motivação para a própria vida era a competição num jogo de poder. Além do mais todos temiam o maior problema de todos: Qual dos príncipes dominaria sobre os demais num reino unido de Itália?

Machiavegli já estava chegando ao imponente Palácio de Urbino. As rodas de sua carruagem produziam um zumbido agradável de poder, aliado ao tropel dos quatro cavalos. Era um gosto que poderia voltar a ter em breve se conseguisse prender a atenção de Lorenzo. No livro que lhe entregaria dentro da caixa que levava a seu lado, no estofamento da carruagem, constavam algumas frases política e filosoficamente ponderadas que traduziam a vida e o poder tal como são, mas uma delas continha uma realidade que ele próprio experimentara: o fator sorte!. E isso nunca se podia esquecer.  Ele mesmo, o ex-secretario da segunda secretaria de Florença, por quatorze longos anos, cuidando da política externa principalmente, tinha sido demitido da função por puro azar, do qual a sorte é sempre o único antídoto, porque perdida a confiança, por azar, os méritos próprios não se consideram e só por grande sorte se podem recuperar a confiança perdida. Machiavegli sabia disso. Por isso precisaria de muita sorte, porque o príncipe certamente sabia o que lhe tinha acontecido: No ano passado, em 1512, tinha sido demitido sob acusação de ser um dos responsáveis por política contra a família dos Médici, e grande colaborador do governo anterior. Fora obrigado a pagar mil florins de ouro e proibido de se afastar de sua terra natal, a Toscana. Isto era verdade e aceitara bem como parte do risco político, mas o que nunca conseguira entender foi o azar terrível de constar como provável simpatizante da causa republicana numa lista elaborada por dois jovens, sem o seu conhecimento: Agostino Capponi e Pietropolo Boscoli, foram presos por política contra o governo, fundadores de uma causa republicana que postulava a união dos reinos italianos num só Reino.

Evidentemente que os dois jovens tinham acertado em cheio em sua concepção do que deveriam ser as tendências de Machiavegli, mas este defendia a filosofia da causa e não a causa em si, o que era muito diferente, mas inimigos políticos não vêem diferença em questões tão sutis. Foi preso e torturado por 22 dias seguidos, mas eis que a grande sorte apareceu em sua vida, tão de repente e inusitada, como o azar de constar numa lista, sem a sua intervenção: O Papa Julio II faleceu em 21 de fevereiro de 1513, apenas dez meses atrás, e quem se elegeu em sua substituição, foi um florentino. Nada mais nada menos que João de Médici, com o nome de Leão X. Machiavegli beneficiou-se do indulto papal e foi anistiado. Não perdera tempo, acabara seu livro e ali estava com uma caríssima cópia, pronto para entregá-la ao príncipe. No fundo o livro tinha muitas e várias intenções. Uma delas era redimir-se de suas condenações e mostrar que sempre estivera não só do lado do poder de Florença, como também de toda a Itália, como poder ainda maior de um povo que falava a mesma língua, herdeiro da glória de Roma. Mas aí estava algo da idiossincrasia que podia entender: Enquanto Roma fora uma república, fracassada no final, porque perdeu tudo o que tinha conquistado, deixou no povo a certeza que nenhum governo cuidaria realmente do povo. Duques, príncipes, toda a nobreza sabia disso. Pior ainda era a política suja que se tecia nos corredores de um governo central e que retirava o poder aos delegados nos reinos. Por isso tinham aparecido os condottieri, que usurpavam o poder e governavam cada um o seu reino. Estes, bem lá no fundo gostavam de uma Itália dividida em reinos, porque sempre aparecia a oportunidade de aparecer um condottiero menos hábil e tomar-lhe terras, poder, impostos. A política dos príncipes jogava simultaneamente com a sorte, ou o azar, e a competência.


Fazia frio naquele dia de dezembro de 1513, e flocos de neve começaram a cair sobre o Palazzo Vecchio. Maior frio lhe ia na alma de Machiavegli. Sua idade já estava avançada para a época, e embora não fosse fator impeditivo, sempre ficara o fato de ter sido preso por duas vezes, pago pesado tributo como multa, torturado. Isso era imperdoável, sinal de que se tinha afastado do equilíbrio do poder, da compostura, da avaliação política, e sinal pior ainda, que não teve amigos para o livrarem daquele pesadelo. Foi neste estado de espírito que Nicholo Maquiavegli subiu as escadas do palácio, e ainda mais se abateu ao olhar os guardas que já lhe tinham feito as saudações quando era secretario da segunda secretaria e o haviam recebido em suas viagens de negociação política a França, a Veneza, ao Papa e aos demais estados italianos.

Mas tinha que subir as escadarias e entregar o livro olhando o príncipe nos olhos. Afinal, até que a entrevista terminasse, a esperança da sorte era a última coisa a desconsiderar, mas isso só aconteceria no leito de morte se viesse a ter um. Provavelmente seria enterrado sem pompa nem circunstância. As sociedades nunca se lembram do passado, preocupadas que estão no presente com o seu futuro. 

Rui Rodrigues


PS –

  1. Machiavegli nunca mais retornou à política. Machiavegli teimara sempre em não aprender uma coisa fundamental: O político sempre deseja os melhores conselheiros, mas não são estes que decidem, sob pena de ele mesmo, o político, perder o poder. Assim, quando o político decide, depois de ouvir algumas opiniões de conselheiros, a solução geralmente é híbrida de todos eles. É o político que, mal ou bem, manda. Quando acerta, o mérito é de todos, incluindo os conselheiros; Quando erra, jura que foi mal aconselhado. Aparentemente os políticos divertem-se em plena luz do dia, maquinam na penumbra do amanhecer ou entardecer, e vingam-se à noite.
  2. Depois da ida a Palácio, Machiavegli viveu no ostracismo até 1520 em sua casa em Sant'Andrea em Percussina, Florença. Lá produziu muitas obras, incluindo “ A Madrágora”, uma famosa peça de teatro. Com a morte do príncipe Lorenzo, Júlio de Médici que mais tarde se tornaria Papa, assumiu o poder em Florença. Mais benévolo que Lorenzo ou o Papa anterior, contratou Machiavegli para escrever uma “História de Florença”. Faleceu em 21 de junho de 1527 aos 58 anos.




[1] Nomes próprios deveriam ser intraduzíveis.  A assinatura de Nicholo Machiavegli não deixa duvidas quanto à verdadeira grafia de seu nome. 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mudanças climáticas - Resumo



 Mudanças climáticas - Resumo



Vivemos num mundo “amigo” para a maioria de nós. Por exemplo, temos uma percepção de temperatura quando se sente frio, na neve, ou calor ao Sol dos trópicos, quando abrimos um forno e experimentamos temperaturas ainda mais quentes, e muitos de nós até podemos avaliar o quanto deve ser quente num alto forno onde se fundem os minérios para fabricar o aço (algo em torno dos 3.000 graus centígrados), mas para muito poucos não conseguimos ter a percepção do que seja a temperatura no interior ou exterior do Sol, ou mesmo de nosso planeta Terra. Também não podemos imaginar o quanto é frio no espaço exterior, a temperaturas próximas do zero absoluto. Como, com tamanha falta de percepção poderemos avaliar o que significaria um pequeno aumento da temperatura média de nosso planeta, tão insignificante como apenas dois graus centígrados? Quase a totalidade dos sete bilhões e meio de habitantes deste planeta dirá que apenas dois graus de aumento na temperatura média não pode representar absolutamente nada de fundamental. Mas quando acontecer, as mudanças climáticas mudarão as condições de vida de tal ordem que a invilibizarão, e não teremos agricultura, os oceanos subirão. Isto é certo! 

Meditando sobre o assunto, vejamos quais são as perspectivas, mas temos que viajar um pouco no tempo, para trás, para vermos o que a história deste planeta nos conta. A partir da história poderemos ver se existem fatores naturais – apenas naturais – que possam ser determinantes para uma mudança climática catastrófica de forma suave ao longo do tempo, ou de repente, como raio que cai à nossa frente, a meia dúzia de passos de nós, e a escassos segundos do fim da nossa tranqüilidade. Este artigo destina-se a quem nunca freqüentou salas de Universidades e para aqueles que, mesmo que os tenham freqüentado, não tenham tido a oportunidade de assistir a aulas específicas sobre estas matérias.  

A Ciência do Planeta Terra
Para entendermos este nosso planeta, temos que aceitar que atualmente, em termos de ciência, está mais perto do caos do que de ciência exata. Sabemos como funciona o clima, o centro da terra, a atmosfera, a biomassa, as condições de vida dos seres que por aqui existem, mas não temos equações matemáticas que nos permitam avaliar como será o “amanhã”, de forma credível. A ciência da Terra parece-se mais com o caos (desordem) ou com a física quântica, mas desta, já conhecemos muitas das equações e podemos calcular com muito boa aproximação “onde” estará um elétron em determinado momento. No que respeita a efeitos estufa, aquecimento global, aparecimento de tornados ou terremotos ou erupções vulcânicas, temos algumas teorias e nada é preciso, calculável, dedutível. No entanto vale lembrar que todo o nosso sistema está relacionado com a cosmologia por efeito dos raios Solares e dos movimentos em torno do Sol e da própria Galáxia, dos movimentos da crosta terrestre e do estado magmático do interior do planeta, e de outros fatores interdecorrentes. Alguns fenômenos são repetitivos, mas não têm ciclo determinado: Sabe-se que irão acontecer, mas não sabemos quando nem seu grau de intensidade, e a maior parte das vezes nem sabemos onde.

Parece que os governos têm gastado o nosso dinheiro de impostos em coisas que não têm a mínima importância, para mostrarem eficiência, e não os têm aplicado em ciências, pesquisa e inovação de equipamentos exatamente onde deveriam ter sido gastos para não continuarmos tão ignorantes sobre o nosso planeta. É certo que fazem aplicações neste sentido, mas é muito pouco. Acham que quando a catástrofe chegar, as perdas se contabilizarão como “coisas da natureza” e não como “ineficiência governamental”. O planeta é forte, e inteligente, como podemos ver, mas nós somos fracos, e pelos vistos com inteligência bem reduzida, apesar de nossas vaidades e autoconvencimentos.

Mas temos certeza absoluta de uma coisa: Se a temperatura ambiente subir em média mais dois pequenos e inocentes graus centígrados, ou seja, passar para 16 graus centígrados à superfície, estaremos literalmente “fritos”.

A instabilidade natural antes do aparecimento da vida. .

Nosso planeta teve um “parto normal” isto é, no seio da “Via Láctea”, a nossa Galáxia, por sua vez fruto da explosão de uma estrela “supernova” ao que tudo indica. Formou-se pela adição constante de poeira e meteoros em rotação em torno de uma aglomeração maior (a do próprio Sol), num processo que demorou bilhões de anos, pela ação da força da gravidade. Na medida em que mais massa era agregada aos núcleos de formação do Sol e dos planetas do sistema Solar, maior era a temperatura, atingindo o ponto de fusão da matéria: A Terra chegou a ser uma enorme bola de massa fundida, avermelhada, fumegante, um oceano único de lava sem montanhas. Isso foi há 4.567.000.000 de anos atrás, mas o interior de nosso planeta continua sendo uma massa de lava incandescente. Vivemos sobre uma crosta dividida em placas a que chamamos de tectônicas, que “navegam” muito devagar nesse magma interior.   Os choques dessas placas provocam terremotos. O choque de duas dessas placas são responsáveis pela elevação dos Himalaias, e o choque de outras duas, pelos Andes. Algures há bilhões de anos atrás, um meteoro chocou-se com a Terra e sua massa, levando junto parte da de nosso planeta, formou a Lua. O ciclo da Lua é hoje de 28 dias, mas de tão próxima da Terra já chegou a ser de cerca de 10 dias apenas. O nosso próprio dia já chegou a ter apenas 10 horas e não 24.

Ao longo da história deste planeta já houve períodos de extremo calor, de frio extremo, os oceanos já tiveram seu nível a cerca de 50 metros acima do atual, já passamos por duas eras em que todo o globo estava coberto de gelo. A temperatura fora de nosso planeta é de cerca de -40 graus negativos na estratosfera, até cerca do zero quase absoluto para além dela, no espaço sideral. O universo todo em média é frio, beirando o zero de temperatura.

Nosso planeta ainda é naturalmente instável num universo também instável. Numa escala de tempo cósmico, tudo muda. Somos um nicho ecológico instalado num planeta, por um período de tempo predeterminado. O fim deste planeta está programado para mais uns quatro bilhões de anos. Nosso fim está próximo por mais distante que nos pareça. Seria uma pena que perecêssemos como uma espécie viva. Nem nos confortaria pensar que poderíamos sobreviver transformados num simples “chip” inteligente, ou que Deus, aos nos fazer como dizem os crentes (e cada um tem seu deus) já programou também o nosso fim.

Como vemos, a instabilidade natural do planeta continua viva em nossos dias. Não há motivos para relaxarmos a não ser nossas vaidades e falso conforto, nossa irresponsabilidade pelo futuro.


As mudanças climáticas após o surgimento da vida na Terra.

Há cerca de 3,5 bilhões de anos atrás, a vida surgiu neste planeta, mais provavelmente nos oceanos, ao abrigo dos raios infravermelhos emitidos pelo Sol. Mas, ao aparecer e se multiplicar, largou na atmosfera um gás ao qual teria de se adaptar ou perecer: O CO2, que invadiu o nosso planeta - substituindo a de amônia e metano - e viria a filtrar os raios solares permitindo o aparecimento de novos tipos de vida. De simples bactérias, a vida evoluiu para organismos maiores e logo a Terra se encheu de vida, com plantas e animais de grande porte. Onde estava a inteligência para esta adaptação da vida ao ambiente? A resposta só pode ser uma: Residia no ADN, a molécula em espiral que carrega toda a carga genética. Note-se que nos dias de hoje, nós mesmos estamos mudando, também, a atmosfera em que vivemos. Mas não somos apenas nós que a modificamos. Vulcanismos sem aparente explicação já a transformaram de tal forma que quase toda a vida se extinguiu há cerca de 400 milhões de anos. Há cerca de 286 milhões de anos um meteoro que também acabou com cerca de 98% da vida na Terra criou um inverno nuclear (quando o Sol fica encoberto por nuvens por vários anos seguidos). A vida depende da luz do Sol, benigna, mas não consegue viver com a incidência de raios ultravioleta e infravermelhos. Não a vida como a conhecemos por aqui. A atmosfera serve para filtrar estes raios, além de manter a temperatura ambiente que sem ela seria de aproximadamente 18 graus negativos em média. A Terra voltaria a ser uma bola de gelo como o planeta Europa do sistema solar.
Parece-nos, ao olharmos para o passado da vida neste planeta, que o ciclo de vida e morte não se aplica apenas aos seres vivos como nós, simples mortais, mas também a todo o universo. Espécies aparecem e desaparecem da face da Terra como que numa renovação. Estrelas e Galáxias aparecem e desaparecem como numa renovação do Cosmos. A existir Deus, ele certamente é perfeccionista e ainda não acabou de construir o Universo. Não vem isto ao mérito da existência ou não de Deus, mas em favor de uma coerência, de uma lógica. Se o Universo ainda está sendo construído, então Deus não fez ainda o Universo, embora já se tenha feito a Luz, e a semana de trabalho já tenha terminado porque temos luzeiros no céu para presidir os dias e as noites, e a vida existe. Somos os reis da Terra, porém, ainda não aprendemos a administrar-nos e a administrá-la. Somos como filhos perdulários e pródigos.

Clima atual

Desde cerca de 200.000 anos atrás que o clima se estabilizou. Para nós, parece-nos que sempre foi assim, mas o deserto do Sahara já foi uma floresta, depois uma savana onde tribos criavam gado, muito antes que formassem as cidades de Tebas ou Menfis no Egito. Hoje é um imenso deserto, seco e árido. 

Parece cada vez mais que a vida dos seres humanos se abriu numa janela no tempo que ainda existe, mas que se pode fechar a ao longo de mais umas décadas, centenas ou milhares de anos.  Com ou sem fábricas, com ou sem toneladas de lixo soltando vapores de metano e de CO2, com ou sem aviões, e todos os veículos motorizados lançando estes produtos na atmosfera, a Terra segue seu traçado caótico onde os últimos 200.000 anos parecem mais ter sido um “descanso” ou férias planetárias em seu rumo desconhecido.

Concentrando-nos objetivamente em nosso futuro

O que precisamos realmente, não é ficar em discussões sobre o que causa ou o que não causa o aquecimento global. Precisamos mudar o foco de nossos esforços no que se refere às mudanças climáticas, porque seja qual for o motivo, humano ou natural, sabemos que a Terra muda seu clima por ação externa de meteoros ou por ação da própria constituição do planeta que ainda se acomoda e está em total movimentação, ou por ação do homem. Precisamos preparar-nos para catástrofes, nem que para isso se retirem verbas de Prefeituras para pagar shows de propaganda para distrair a nossa atenção, ou se tenha que pagar menores salários a deputados, senadores e vereadores: Precisamos investir em soluções a futuro, e não em conforto e conveniências de políticos.Não temos tanto tempo assim para nos prevenirmos porque não existe fórmula da matemática ou da Física que possa determinar o “quando” acontecerá. Certeza, mesmo, é de que acontecerá. E o que acontecerá? A subida de nível dos oceanos que atingirá mais de cinqüenta metros acima do nível atual; secas prolongadas e invernos terríveis, falta de água e de alimentos porque perecem as culturas.

Precisamos acabar com o conceito pueril e inconseqüente de que a vida tem que ser vivida enquanto estamos vivos sem pensar nas gerações para além da nossa. Nem que para isso tenhamos que reduzir as riquezas de quem tem exageradamente muito, para investir em projetos de salvação da humanidade. A maior e mais importante “propriedade” deste planeta é ele mesmo: Nossa querida Terra, nossa querida humanidade.

Por vezes chega a parecer que não somos sérios com a existência de nossa espécie, e passamos o tempo e gastamos nossas verbas preocupados com qual Deus é o mais forte, qual partido político nos dará mais sobras anuais de salários, qual nos proporcionará mais conforto temporal enquanto pudermos pagar para ter seja o que for, mesmo que absolutamente temporário ou para guardar no armário até que passe de moda e não sirva para mais nada.

Já sabemos administrar o lixo. Foi um grande passo. Agora precisamos aprender a administrar o desperdício e olhar para o futuro de nossa espécie. A natureza não desperdiça nada, nem tempo. Se olharmos à nossa volta e voltarmos a ler os velhos e novos livros sobre a história da Terra, podemos aprender muitas coisas.

Somos importantes, mas não para nós mesmos. Somos importantes para a humanidade. Sem nós ela não pode existir.

Rui Rodrigues

sábado, 8 de dezembro de 2012

Costa dos Esqueletos – Um árido grão de areia feito de alma



Costa dos Esqueletos – Um árido grão de areia feito de alma

- Sai dessa janela!... Não vês que está a relampejar?

Eu saía da janela para lhe fazer a vontade, para não provocar discussões, não porque quisesse sair. Meus oito anos de idade não permitiam muito mais do que alguns segundos de teimosia apreciando a tempestade depois da ordem de minha avó para sair da janela. Lá fora o vento empurrava a chuva em cortinas inclinadas, gotas de chuva escorriam pelos vidros das janelas, pombos encolhidos sacudiam as penas nas beiradas dos telhados, chapéus de chuva viravam-se do avesso expondo transeuntes à natureza. Minha avó era daquelas pessoas de mente forte, corpo frágil, mas que temia a natureza. Provavelmente pressentia alguma relação entre os deuses do céu e os amedrontadores trovões, os raios que de vez em quando queimavam alguma pessoa como se tivesse sido assada, esturricada, por ordem dos deuses. 

Ainda no dia anterior haviam calcetado a rua com paralelepípedos de basalto cobertos com areia e piche, e os passeios com pedra portuguesa, e fazia sol. Os calceteiros ao bater com os martelos nas pedras lembravam-me os versos de Cesário Verde, apreciador das pequenas coisas da cidade de Lisboa, e que lhe davam vida.  Gostava de fixar-me nas pequenas coisas, porque são detalhes da composição das coisas enormes, e não se pode entender o que é grande sem se saber de que é feito, como é composto. Foi assim com o átomo, que compõe planetas e estrelas que sempre vimos sem entender. Sem a compreensão do átomo, jamais teríamos entendido como é o Universo. De vez em quando precisamos ficar a sós, ou até sós, para podermos ver e entender os grãos que compõem a natureza e a nós mesmos. 


Foi o que fiz num final de semana ao sul de Angola quando visitei a cidade do Tômbwa a serviço, e mandei parar a van quando estávamos a caminho da cidade do Namibe para apanharmos um avião e voltarmos a Luanda.  Tômbwa é o nome dado a uma planta muito especial que apenas existe no deserto do Namibe: A Welwitschia Mirabilis. O deserto é extremamente seco, e as raízes desta planta chegam a aprofundar-se até 90 metros abaixo do nível do solo para buscar a água de que necessita. Nada mais cresce por lá a não ser algumas espécies de líquenes. Junto à costa, há apenas leões marinhos, focas, gaivotas, atraídas pelo farto peixe trazido pela corrente fria de Benguela que chega à costa vinda do Pólo Sul e provoca os ventos alísios e o nevoeiro da costa.


Esta corrente dificulta a ida para Norte, porque chega a atingir cerca de 300 km de largura em frente a Benguela, puxando as embarcações para o meio do oceano, a caminho do Brasil. Á superfície, a corrente desce em direção à Antártida e cria a secura que se sente até no respirar no deserto do Namibe e na Costa dos Esqueletos onde fica a cidade do Tômbwa, antiga Porto Alexandre, quando Angola e Portugal ainda eram irmãos briguentos e desunidos, um explorando o outro em troca de muito pouca coisa, quase nada. Esta corrente se encarrega de trazer para a costa todos os tipos de esqueletos de animais marinhos, embarcações que não conseguem vencer a corrente e “morrem” encalhadas na praia. O revolver do fundo do mar e das areias, pelas ondas e pela corrente, mostra diamantes de vez em quando.

Não há chuva na costa dos esqueletos. Há desolação, morte, esquecimento. Nem a humanidade se lembra de forma constante dos náufragos que deram á costa e aqui morreram de inanição, assim como pingüins morrem quando chegam à praia do Peró, em Cabo Frio, como turistas desprevenidos que vêm pela corrente de Humboldt. Encaminhados de volta ao mar, são trazidos pela próxima onda, exaustos, cansados. Jazem finalmente com os olhos perdidos no espaço, as areias recobrindo rapidamente o morticínio, como se tivesse vergonha de mal causado. Mas não seria culpa dos pingüins se encantarem pela corrente sem pensar no dia de amanhã? Melhor pensarmos em decorrências de atos pessoais praticados, o que nos leva a concluir que os pingüins também têm livre arbítrio, não sendo esta uma prerrogativa apenas dos seres a que chamamos de humanos. Não é possível que seja. Haverá certamente sentimentos de animais que ainda não conseguimos identificar. Talvez por uma teimosia em acharmos que Deus fez este planeta apenas para nós. Foram pensamentos como este que levaram à escravidão, à prepotência de uma raça sobre a outra, defasadas apenas por algumas décadas ou séculos de progresso científico.

Parece que a evolução humana se faz como as dunas do Namibe, juntando grãos de areia muito lentamente até que se forme uma duna, mas dunas não têm vida própria: São formadas, empurradas e desfeitas pelo vento. Que ventos nos empurram? E como testemunha, lá estava o esqueleto de navio que já foi belo singrando os mares. Quebraram uma garrafa de champanhe em seu casco quando foi lançado aos mares. Teve uma bela madrinha, cruzou os oceanos sempre invencível vencendo marés e correntes, transportou tripulações, passageiros, fora limpo e escovado todos os dias, pintado para repor a beleza tirada pelas ondas e o sal dos mares.  Acobertou amores com e sem sentimentos de culpa. Transportou mercadorias, mas os registros foram comidos pelo sal, encharcados e desfeitos pela água. Ali perto, um esqueleto de baleia que se transformou de organismo vivo em organismo morto sem registro algum, sem funeral, sem comitê de adeus ou lúgubres carpideiras.


As Welwitschia Mirabilis podiam migrar mais para a costa para não precisarem criar raízes tão profundas, mas lá, a água do mar é salgada e as mataria. Se fossem mais para o interior, suas raízes poderiam ser menos profundas, porque lá existem montanhas e água em abundância, mas elas ainda não aprenderam a ter raízes curtas, e a vida não teria o mesmo valor sem a dificuldade de procurar água cada vez em solos mais profundos. Ela aprendeu que são as dificuldades da vida que alimentam a alma.

Antes de perder a paisagem da Costa, olhei pela última vez para as areias, para os esqueletos enquanto bebia alguns goles de água de uma garrafa estratégica de água mineral que há muito ganhara temperatura até se tornar morna, mas mesmo assim, refrescante.  Lembrei-me de minha avó e de seus conselhos quanto às tempestades. Certamente desmaiaria se lhe tivesse contado que um dia um raio caiu a menos de cinqüenta metros de mim e de um grupo de amigos, no Rio Grande do Sul, provocando um brilho extremamente branco que quase me cegou, e um estampido que me deixou os ouvidos zunindo por bons minutos. Anos mais tarde viria a constatação de uma leve deficiência, quase imperceptível no meu ouvido esquerdo. A natureza que me criara fizera também seu pequeno estrago comigo. Um dia fará um estrago ainda maior. É inevitável. Mas, quem tem medo da natureza, tão bela, que nos fará esquecer a dor quando tudo se apagar, e a corrente de Benguela e a Costa dos Esqueletos nem representarem mais uma lembrança?

Não encontrei nenhum diamante.

Rui Rodrigues