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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Extraterrestres - A verdade[1] para iniciantes




Extraterrestres - A verdade[1] para iniciantes

Têm que existir!...

A vida aparece, surge, em qualquer planeta que possua as condições para acolhê-la e lhe permita evoluir, nascer, crescer, reproduzir-se, e morrer, porque nenhum planeta é tão grande ou que possa “inchar” para permitir uma biomassa infinita. Uns têm que dar lugar aos outros, alterando os genes para poderem “evoluir”...

... Mas estão tão longe, tão longe, que neste universo de 14,5 bilhões de anos não haveria tempo para percorrer a distância entre eles e nós, considerando que não se pode viajar à velocidade da luz, que o tunelamento quântico só é possível para partículas e não para grandes ou medias massas, que depois dos respectivos planetas esfriarem tinham que desenvolver a vida e uma civilização, e que teriam de evoluir ao ponto de fabricar máquinas, foguetes... Nossa civilização – que provavelmente começou ao mesmo tempo da dos extraterrestres – tem apenas 12.000 anos e a vida que nos originou apenas 4,5 milhões de anos... Basta fazer as contas, mesmo considerando foguetes fantásticos... Não houve tempo para um contato.

Mas se não tiveram tempo de chegar até nós, de onde vem a crença de que já os viram, foram abduzidos, apanhados e dissecados em Roswell[2], vêem discos voadores, naves espaciais, e existem tantos centros de discussão sobre o assunto? Eric Von Daniken[3] chegou a perguntar-se se os deuses eram astronautas! Seu livro foi muito vendido, um excelente negócio. Sobre Roswell devemos lembrar que existem pessoas com degeneração genética que apresentam características diferentes dos seres normais. Sempre houve quem disponibilizasse cadáveres dessas pessoas para “estudo”. 

Em criancinhas nos assustavam com o diabo, com o famoso “bicho papão”, nos adulavam com o Papai Noel, com os duendes endiabrados que eram ricos e tinham um caldeirão no inalcançável final do arco-íris, e para acalmar as noites de pesadelo que nos criavam, os anjos da guarda que zelavam por nossas vidas mesmo quando os exércitos invadiram cidades e mataram quase todos. Alguns por histeria coletiva, disseram que viram a virgem Maria - que só foi virgem até ser deflorada [4]– aparecer numa moita de urzes. A idéia cristã de um nascimento virgem é extraída de um versículo em Yeshayáhu descrevendo uma "alma" que dá à luz. A palavra "alma" sempre significou uma mulher jovem, mas os teólogos cristãos séculos mais tarde traduziram-na como "virgem". Isto relaciona o nascimento de Jesus com a idéia pagã do primeiro século, de mortais sendo impregnados por deuses. Outros esperam que o Rei D. Sebastião apareça numa manhã de nevoeiro.  Crença é crença... Quase impossível de desmistificar. Cada um de nós deve respeitar a opinião alheia, embora se possa provar que está equivocada porque os enganaram. Normalmente evangelizam seres desde criança, porque não sabem discernir e ficam “fiéis” para sempre, mesmo que não saibam – e normalmente não sabem – quais as razões. As pitonisas de Delfos, encharcadas de vapores de enxofre, drogadas por essas emanações, em êxtase, diziam que falavam com os deuses e os interpretavam. Elas viviam pouco, mas o santuário faturava alto e até Alexandre – o Macedônio se foi consultar lá, zombando do que os deuses “disseram”. Em Alexandria, uma estátua de bronze representando Zeus que dirigia uma biga, era movimentada por engrenagens hidráulicas e os crentes pensavam que Zeus subia aos céus, assim como o profeta Elias, e Jesus Cristo ressuscitou contrariando a própria lei de D’Us de que tudo o que nasce, morre, de morte definitiva e única. 

Da mesma forma, durante a guerra fria, e mesmo muito antes, foram lançados no mercado revistas em quadrinhos falando sobre o assunto que, convenhamos, é do máximo interesse, por nos dar a esperança de não sermos os únicos no universo e termos “irmãos” de vida espalhados pelo universo. Meche com nosso imaginário, com o lúdico. A concepção é válida, mas terem chegado até nós, não, como vimos no primeiro parágrafo. As viagens no tempo são também impossíveis[5]. Durante as duas primeiras guerras, era importante que as populações vigiassem os céus para detectar aviação inimiga. Nada melhor do que associar o nacionalismo à existência de extraterrestres para vigiar os céus, e os céus foram vigiados. Durante a guerra fria nada foi diferente. Centros de análise de informação separavam essas informações entre “visões” e realidades. As realidades eram a aviação do eixo.

Algumas pessoas sofrem de alucinações, e em atos inexplicáveis, vão para um lugar alto e se jogam no espaço. Esses comprovam imediatamente a impossibilidade. Morrem. Comprovar que os extraterrestres não tiveram tempo para chegar aqui, ao nosso planeta, exige observação e estudo e não é tão fácil de explicar, mas os crentes que esperem... 

Falaremos sobre isto nos próximos milhares de anos.  Não arrisquemos falar numa espera de milhões de anos, porque em milhões de anos já se pode explicar a possibilidade de viagens interplanetárias para além de nosso sistema solar, e a grande aposta é: Quem visitará quem pela primeira vez.

Rui Rodrigues

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cartas marcadas - Marlene Caminhoto Nassa



CARTAS MARCADAS


Marlene Caminhoto Nassa
Na escuridão do meu dia


Seguro fiapo de luz
Que possa


Nessa grande fossa
De alguma maneira


Me iluminar.


Só possuo a cruz do destino


Para nela me crucificar


E ela é tão fria


O quanto minha vida


É vazia




Nem mesmo o calor


Tão tênue desse verso


Fará algum reverso


Na nossa separação




Nas cartas marcadas


Desse destino tão perverso


Não haverá mais verso


Nosso jogo chegou ao fim




Eu sem você


E você sem mim...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O que é emigrar - Portugueses



O que é emigrar[i] - Portugueses
(não é fácil falar sobre isto, ainda mais quando a verdade dói, mas precisa ser dita)

Na minha terra cultiva-se a vinha, e ainda que nos tempos de hoje algumas religiões insistam na proibição de vinho, lembro-me sempre de Adão, Abraão, Salomão, Jesus, cultivando a vinha. Bebo sem nunca ter apanhado uma bebedeira a ponto de ficar nu diante dos filhos. E para falar em emigração portuguesa tenho que abrir uma garrafa e começar a sorvê-la gole por gole. É um assunto difícil de abordar porque se trata na verdade de uma diáspora por pátria madrasta, bem diferente da judia. A nossa sempre foi evitável. A judia não. A nossa se deve a desinteresse pátrio. A judia, a perseguições por povos estrangeiros. Mas tenho que me sentir como judeu português, porque 40% da população tem sangue judeu e meus sobrenomes de família não o podem nem querem negar. Sou duplamente emigrado por duas razões distintas.

Mas antes de falar sobre a emigração, devo esclarecer um assunto que demonstra  até que ponto a ignorância e as paixões religiosas podem provocar as minhas lamentações que choro nas ruínas do muro do templo. De ascensão judia, minha avó paterna chamava-se Maria de Jesus Pinto Nogueira, meu pai Gabriel Rodrigues Monteiro, e minha mãe, Maria Adelaide Nogueira. Ao darem-me o nome de Rui Alberto, o normal pelas leis portuguesas seria chamar-me Rui Alberto Nogueira Monteiro, mas á revelia de minha mãe, chamaram-me de Rui Alberto  Rodrigues Monteiro porque as famílias em certo ponto da convivência passaram a não se suportar. Todas as divergências na aldeia de Fornelos costumam ficar nas alcovas e no silêncio sem ser levadas a praça pública. Ninguém sabe de nada, mas as coisas acontecem. Quando eu tinha dez anos, para entrar no Liceu precisei de uma certidão de nascimento. O nome que nela constava era ainda mais indecente: Rui Alberto Monteiro Rodrigues. Agora, por erro proposital e não por coincidência, passei a não ser nem filho de meu pai, nem de minha mãe, mas de uma mulher chamada Monteiro e de um homem chamado Rodrigues. Em minha terra bebe-se regularmente – é terra de vinhos - mas não de forma irresponsável. Curiosamente, das famílias judias mais perseguidas na inquisição foram os Rodrigues os que mais sofreram com perdas de terras, de bens, de religião, de vida queimada em fogueiras que diziam ser santas.

A emigração portuguesa

Nós portugueses gostamos muito de fazer sexo. Somos amantes do sexo, e emigrados, não fazemos distinção entre raças, e quer seja índia, negra ou amarela, tanto homens quanto mulheres nunca fizeram qualquer distinção. O rei Salomão também não. Uniu-se á rainha de Sabá dando origem a grande prole. No entanto, sempre mantivemos uma população no entorno dos 11 milhões de habitantes há já alguns séculos. Não somos de ter muitos filhos por casal, a vida sempre foi difícil, e o excesso sempre foi empurrado para fora por falta de interesse dos governos em criar condições de vida para os filhos da pátria. Emigramos desde o século XVI e ainda mais a partir do final do século XIX, quando os portugueses emigraram em levas e começaram a mandar para a metrópole as fortunas que adquiriam fora das fronteiras, impossíveis de ganhar dentro delas. Como hoje, ainda. Para quem precisava emigrar ficava sempre um sentimento: Seria o emigrante um falhado na vida, que contrariamente aos demais não conseguia  sobreviver em sua própria pátria? Seria um incapaz? Mas depois de breve analise de suas capacidades e de sua vida, ficava a certeza de que sim, era capaz. O problema é que não havia oportunidades para todos. Não eram criadas oportunidades para todos. Os governos já dispunham de bastantes fundos mandados para o tesouro nacional como reservas para uma vida futura em sua pátria, consumindo o que ganhara fora dela. Os governos usaram esses fundos, sempre, e financiaram guerras, e compraram ouro como lastro e emprestaram e beneficiaram empresas portuguesas com esses fundos. As empresas, com tamanha facilidade de fundos do governo nunca precisaram ser eficientes. Nos últimos anos Portugal se manteve com dinheiro de emigrantes e do turismo. Meu bom pai disse-me uma frase que se usa muito entre emigrantes no Brasil: “Pátria é onde a gente se sente bem”. Abraçou o Brasil sem esquecer Portugal, eu tentei mas não consegui. Abracei o Brasil, tenho Portugal como mãe madrasta, amo os portugueses e ainda mais as portuguesas, exclusos de culpa porque não sabem[1], não conhecem: 40% ainda são tecnicamente analfabetos porque só sabem escrever o nome quando muito. Poucos sabem de história, ciências gerais ou exatas e destas muito menos.

Meu pai aprendeu a arte da alfaiataria. Seu pai, meu avô, tentara a aventura no Brasil, onde se associou a donos de bares e perdeu dinheiro. Voltou com uma “pleurisia líquida” que lhe foi consumindo os pulmões e as propriedades. Fora enganado pelos sócios do Brasil, e depois pelos médicos que lhe prometeram cura ainda sem a descoberta da penicilina que o salvaria. Quando a penicilina chegou a Portugal, meu avô estava morto e os dois filhos homens menores de idade trabalhavam nas minas de volfrâmio que era exportado para a Alemanha de Hitler. Essa exportação de volfrâmio rende a Portugal, ainda hoje, uma posição menos privilegiada entre os aliados ocidentais. Esse minério destinado à fabricação de tanques Panzer matou muitos dos que nos davam a mão. Outras políticas de aproximação com os aliados aliviaram essa situação, mas não anularam a impressão histórica de que “jogamos com um pau de dois bicos”, como medida esperta de quem não pode ser inteligente nem sensível. Nosso governo da oportunidade não foi inteligente por apostar no lado errado, e não foi sensível, porque Hitler era um predador de judeus, um apologista da predominância de raças, e portugueses não são da raça alemã.

Entre um copo e outro, durante um almoço, sentados no sofá, falando em particular com meu tio Ângelo, meu pai contava triste:

- Imagina que um dia pensei em montar uma alfaiataria e precisava comprar algumas coisas, dentre elas uma tesoura de alfaiate e um ferro de passar, daqueles a carvão. Falei com pessoas da família e amigos, mas não vais acreditar: Ninguém me emprestou dinheiro, uma porcaria, uma ninharia, para me ajudar.  Isso deu-me tanta tristeza que resolvi emigrar. O tio, irmão da tua avó, minha mãe, mandou-me uma “carta de chamada” do Brasil, e arrumou-me um quarto para passar uns dias. Em dois meses já tinha o meu apartamento que depois comprei. Em dois anos montei a minha loja, a “Alfaiataria Motta” e chamei o teu tio Ângelo para ser sócio. A família é muito importante na vida da gente, nossos reais e únicos amigos com quem se pode contar. E mesmo assim, tens que abrir o olho, meu filho.

Sábio pai, sábio tio que aprenderam de meus avós paternos a educação que lhes deram.  Gente que sobrevive, e vive, sem favores de ninguém, quando por vezes até um abraço ajuda. Ajudaram muita gente porque souberam o que era não terem ajuda.

Não enganaram brasileiros para ficarem bem de vida. Não fumaram, não beberam em demasia, só compraram carro por volta dos cinqüenta anos de idade, não andaram em círculos sociais para gastar e mostrar que tinham dinheiro, sem se escusarem de uma ou outra sem criar hábitos, economizaram e reaplicaram o dinheiro, e ao fim de um par de décadas, tinham sete lojas. O caixa era o bolso de tantos fregueses, e o dinheiro ia para o Banco no Brasil e para a Caixa Geral de Depósitos em Portugal. Trabalho honesto, gente honesta, bons frutos. Dos filhos não seguiu carreira universitária quem não quis. O mundo mudou e ninguém passa fome.

Outros portugueses chegaram ao Brasil. Muitos. Milhares. Centenas de milhar desde o final do século XIX até este século XXI portugueses são obrigados a emigrar por falta de “oportunidades”. Emigram em diáspora para todos os países do mundo. Uns dormiram em alcovas, amassaram o pão que o diabo amassou, e todos, de uma forma ou outra, se integraram à sociedade brasileira, à sociedade americana, à sociedade alemã, francesa, inglesa, do Liechtenstein, do Canadá, México, Venezuela, Andorra... São reconhecidos como trabalhadores e empreendedores honestos. Somos um dos países que mais mão de obra oferece ao mundo desenvolvido.  Nossos governos em Portugal teimam em não desenvolver o aprendizado, a educação, a técnica. Autênticos portugueses emigrantes quando voltam a Portugal, com dinheiro, fugindo de crises em países para onde emigraram e que mudaram a sua política como foi o caso da Venezuela, são chamados pejorativamente como “retornados” ou portugueses de “segunda categoria”. Portugueses emigrados não precisam da pátria madrasta e, muito menos, aqueles cujos filhos hoje participam de governos na França e em outros países. O que os move de volta à Pátria é a ilusão da saudade, do lugar onde nasceram, e cada vez mais se depositam os lucros em país para onde se emigrou e menos se manda para a metrópole. Ser amigo, governar, não é tapa nas costas, sorriso de crocodilo, palavras nada mais que palavras que, ditas a quem viajou, sofreu e vingou, não passam de palavras por mais que a ignorância lhes diga que convencem.

Os ventos da história que Salazar não deixava entrar em Portugal, enfunando velas de palavreado pueril e ignóbil de ditador (com aquela voz fina de fraco vingador de bullyng infantil) chegaram muito antes ao Brasil. Ouvi os ventos da história e compreendi meu pai e a minha pátria. Em dois anos meu linguajar era carioca, de acadêmico, formado já com “trinta anos de praia” no Rio, embora só tivesse 19.

Portugal é aquela minha pátria mãe que se casou com políticos corruptos dos quais não se vê livre, e da qual só preciso para matar saudades, seja em que lugar for, de norte a sul. Em particular minha terra e alguns amigos de infância que ficaram. Outros emigraram e não ouvi mais falar deles. Não os culpo por não se fazerem presentes.

Mas preciso entender se é a pátria madrasta ou a raça. Quando descobrir, decidirei se ainda tenho saudades. Vi no Brasil como na comunidade judia se ajudam uns aos outros e na qual tenho bastantes amigos. Chega a parecer que são eles os “cristãos”. Um deles foi meu padrinho de casamento. Alguns portugueses também. Mas nem todos. É necessária a união do povo português em torno dos interesses comuns. Hoje, com a crise de 2008, os filhos são novamente obrigados a emigrar porque, por comodismo e ilusórios benefícios próprios, deixamos que os governos se sucedam sucessivamente sem cessar, sem mudar o que é fundamental: Dar condições ao povo para sobreviver e viver em paz e com conforto. Se não fosse para isso, porque razão precisaríamos de governo? Bastaria uma central de polícia e um código de leis.

Rui Rodrigues

PS – Para novo tipo de governo, que não explore o povo português, consultar http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

   




[1] A NET é pródiga em informação sobre índices sobre qualquer assunto, incluindo corrupção, com o devido desconto por falsificação ou “acomodação” de dados pelo poder público. Digite o assunto, a palavra “índice” e terá todos.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Os três mundos paralelos em que vivemos



Os três mundos paralelos em que vivemos


Costumamos viver nossa vida seguindo como que lendo sempre o mesmo capítulo de vasto livro em que cada capítulo é um tema, um assunto. Temos uma certa tendência a olhar apenas para o mais imediato, o mesmo grupo de amigos, percorrer as mesmas ruas, o mesmo bairro, cercados por nossas preferências que se transformam em hábitos, padrões. Passamos sem ver, sem sentir, muitas vezes sem saber o que se passa fora desse capitulo do livro da vida, de nosso “círculo” pessoal. Em passeios ao exterior do Estado, da nação ou do continente vemos a paisagem, apreciamos as comidas, as bebidas, e isso basta porque que coisa outra poderia interessar nesse momento de deslumbramento?

E o mundo que vemos desta forma, não é o mundo real. É apenas uma parte sem a mínima importância para o universo, o mundo, a nação, o clube, o partido político, a igreja, a empresa, e muitas vezes a própria família ou grupo de amigos. Ver o mundo total completo significa sofrimento, perda do prazer, incomoda, entristece, dói. Mostra-nos nossa impotência e incompetência para mudar o que se consolidou ao longo de milhões de anos, sempre em evolução, mas sempre também com os mesmos problemas. Quando desejamos que nosso prazer continue, algo acontece que o interrompe de forma temporária ou definitiva mas, quando pensamos desconsolados que precisamos do prazer, ou o buscamos e encontramos, ele vem de surpresa ao nosso encontro. E nem sempre! O mundo total, completo, só faz sentido se visto em seu conjunto: O mundo da luz, o da consciência e o das trevas. Os três correm em paralelo, exceto quando se encontram de forma definitiva, quase sempre de forma abrupta, de repente.

O mundo da luz

É iluminado, deslumbrado, vê-se a cada minuto, mas nem todos nele podem caminhar, o que é motivo de contemplação dos que podem, por se acharem privilegiados. Só o vê quem está bem consigo mesmo, seja rico ou pobre, e isto depende da ambição de cada ser. Há alegria neste mundo, as pessoas sorriem, nada parece ameaçar a continuidade da alegria, do sentimento de bem estar, nem mesmo guerras, falecimentos, perdas de qualquer tipo, porque o futuro parece não existir ou estar muito, demasiadamente longe. É o chamado “estado de graça”. Dão-se conselhos aos que sofrem, aos necessitados, sem, contudo, nos vermos na própria pele dos sofredores e necessitados, e costumamos dizer que “somos abençoados por Deus” e amamos ainda mais a religião que professamos, porque seria através dela que conseguiríamos alcançar esse estado de graça. Distribuem-se roupas velhas pelos necessitados reciclando lixo que já incomoda, mas não se vai a um shopping comprar-lhes roupas novas. Dão esmolas de centavos, mas pagam dízimos a igrejas. Não deixam entrar pobres nos templos porque lhes deteriora a imagem.  O perfume e cheiro de lençóis de linho passados conforta o dormir e o despertar, ainda mais se o pijama for de seda. Filhos lindos e sossegados, fazendo-lhes a vontade, educados e formados, são bálsamos no mundo da luz. O mundo da luz desfila em carros por ruas entupidas, faz demoradas compras em shoppings, tem motorista, porteiro e empregada subserviente como patrícios tinham escravos fiéis e confidentes. Há nuvens de escuridão de dia e de noite, mas não são suficientes para ofuscar a luz. A consciência diz que amanhã se resolve, que amanhã se repara, que amanhã é outro dia. Há comida farta na geladeira e se não trocar de carro neste ano, no próximo terá um novo. Mendigo na rua é um problema do Estado e graças ao seu deus particular, não precisa pedir esmolas, mas é o que faria um dia, porque mendigos recebem muitas esmolas e não precisam da sua. Continuará votando nos candidatos do mesmo partido, sem questionar seus atos, porque é graças a eles que tem trabalho, e dos motivos que a maioria reclama não conhece o que isso seja. Por vezes sabe porque já teve algum desses problemas, mas já esqueceu para não sofrer e os benefícios compensam. Quem precisar que aja do mesmo modo. Nada precisa ser mudado no mundo da luz, talvez apenas alguns pequenos ajustes para melhorar a sua vida particular. Não diferencia um lá de um mi, não reconhece um compositor de outro, mas escuta músicas clássicas e vai ao teatro assiste a uma peça ou outra pela propaganda, porque quando lhe perguntarem se já a assistiu, dirá que sim e dirá até o que fez antes e depois da peça: Foi comer uma sopa naquele restaurante famoso. Acreditamos nas verdades que nos interessam.

No mundo da luz, dinheiro só é problema porque sente necessidade de gastar mais e por isso precisa ganhar mais, numa corrida sem limites, com pequenas metas pelo caminho até chegar nem sabe onde, mas certamente até onde puder. No mundo da luz perdem-se amigos, mas novos surgem entre almoços, jantares, encontros, conivências, identidades de momento. Os que ficam pelo caminho de certo modo se perderam e já não lhes merecem a amizade. Frases e promessas tiveram seus motivos para serem esquecidas, são relevadas para o fundo dos arquivos do esquecimento. Tudo o que é bom se louva e não se faz, porque geraria sofrimentos e provações que de momento, com tanta luz, seria até idiotice perder tempo com isso. As dores dos amigos merecem uma visita ao hospital, uma atenção, mas coitados, tinham sua hora marcada com a vida e a viúva e os filhos certamente encontrarão uma forma de sobreviver. Não há muitas dores no mundo da luz que durem mais do que uma volta da terra em torno de si mesma. Um tempo que se pode controlar neste mundo de luz. A luz ofusca e não deixa ver.



O mundo das trevas


Neste mundo paralelo apenas se vislumbra a luz por breves instantes, quando há a necessidade do atrevimento em atravessar o mundo da consciência para chegar até o mundo da luz. Alguns já nasceram nesse mundo de trevas, mas a maioria caiu nele, de repente. Uns dizem que seu deus os desamparou, outros que a vida é assim, outros ainda não têm consciência do que aconteceu. Alguns se atribuem a culpa pelas ações ou omissões em sua vida, mas são raros estes e já não há tempo para a recuperação, salvo casos isolados.

Não há luz neste mundo, nem é visto pelos do da luz. Fica oculto em hospitais, em asilos, em camas não compartidas, em valas e abrigos invadidos por exércitos, em casebres com esgoto a céu aberto e sem água potável, em prisões sem controle de direitos humanos onde se promove a promiscuidade como pena adicional, em lares onde se discute o dia inteiro buscando motivos para a discussão do dia seguinte, em escolas onde se persegue como forma de afirmação com costumes arcaicos que não se abandonam porque pensam fazer parte da seleção natural física e não de inteligência. Não há luz no mundo das trevas cercado de dor, sofrimento, emplastros de sangue que lavaram do corpo as feridas que não fecham, que não se curam, num mundo de gritos sufocados por poderosas anestesias que não impedem a consciência de que algo chega ao fim sem visitas, sem acompanhantes, melhor que nem aparecessem quando chegam com palavras que deveriam ter sido antes, quando ainda estavam no mundo da luz, sem nunca, nunca, dizerem as verdades que deveriam ter sido ditas. Deste mundo fogem porque incomoda e ofusca o prazer de viver na luz, de forma despreocupada, porque já são muitas as preocupações para viver suas próprias vidas.

No mundo das trevas pairam as pesadas e negras nuvens do esquecimento, entre sons escutados como se de longe atestando que não há forma de voltar no tempo, evitar as trevas, curar-se dos males das trevas. Dante e seu inferno, enquanto no mundo da luz a vida corre entre expectativas de um resultado de um jogo de futebol, de um novo desfile de modas, uma nova canção, as férias que se aproximam, o carro novo na garagem, comprar vinhos e queijos no supermercado para convidar os amigos para um bate papo, uns goles de alegria e esperança no amanhã. A enfermeira tem uma cruz vermelha no peito e isso é sinal de que se foi atingido por bala inimiga, e das que não têm cruz vermelha nem verde nem azul, sinal de que o mundo da luz se afastou ou foi afastado sem garantia de voltar a ele ou, ainda, de que na prisão a revolta por maus tratos gorou, houve luta e o mundo das trevas ficou definitivamente negro. Há quem viva no mundo da luz, vendo a luz e não podendo ter-lhe acesso. Drogam-se para esquecer que há luz, ali ao alcance da mão, mas que lhes é impossível alcançar. Outros enganam seus estômagos dia após dia, envoltos em sombras, até que desfaleçam e sejam esquecidos em hospitais onde há outras prioridades para serem atendidas. No mundo das trevas o individuo é um ser, como outra vida qualquer, por cujo mundo de luz se reza no mundo que a tem, entre benzeres, cânticos, promessas, que não se cumprem porque sem estas necessidades de pedir pelos outros, mesmo a deus, não se redimiriam as omissões do mundo da luz. Este, deixa que exista o mundo das trevas, de forma proposital, para que possa ter a oportunidade de rezar, benzer-se, pedir a deus pela salvação do mundo das trevas e assim se considerar uma pessoa boa, religiosa, credível, que terá um lugar no Xeol, no céu, no paraíso ou á direita de deus. No mundo das trevas não há esperança de que se faça algo para mudar, para abrir um caminho entre os dois mundos passando pelo mundo da consciência. O mundo da consciência é mais doloroso do que propriamente o mundo das trevas, porque põe a nu as nossas indecências, as nossas fraquezas, os nossos erros. Faz-nos sentir excrescências, nadas que em nada de útil contribuíram para unir todos estes três mundos e dar-lhes novo futuro.
No mundo das trevas, a vida está por um fio ou por uma corda, mas bambos, indecisos, sem futuro de esperança e que se podem romper a qualquer instante. Nada mais se pode fazer, nem há condições para isso. O relógio do tempo está à beira de parar. Neste mundo as esperanças ficaram no outro, o da luz, e no mundo da luz, só há esperanças de milagre porque não se pode perder tempo para mudar nada que está tão conveniente. No mundo da consciência sabe que existem dois mundos: o da luz e o das trevas, o primeiro ao qual se dedica a existência, o segundo do qual não se quer saber para que não se jogue sombra sobre o que se vive em meio a raios de luz que iluminam quem está vivo, anda pelas ruas, se mostra em telas de celulares e aparelhos de TV... A vida continua. A escuridão ofusca e não nos desperta a vontade para ver.


O mundo da consciência
  
É o mundo da sabedoria. Um mundo maravilhoso, um laboratório de soluções. Não é um mundo político, sequer religioso ou de algum time de futebol. É a ponte entre o mundo das trevas e o mundo da luz. É preciso muita coragem, determinação para entrar neste mundo, no qual não se entra levianamente do dia para a noite. É preciso uma preparação que pode durar anos, uma vida inteira. Neste mundo nada assusta. Nem o que vem do mundo da luz, nem o que vem do mundo das trevas. É um mundo sem subterfúgios, sem desculpas, de análise. Se tiver coragem, vontade e determinação, entre nele, e estude a essência das coisas que vemos, sentimos. Leia tudo, saiba sobre tudo. Terá que deixar o mundo das aparências e dos sorrisos treinados para agradar... Não há professores no mundo das trevas nem do mundo da luz que possam abrir o mundo da consciência a alunos que não queiram entrar nele. Do mundo da consciência, uma vez que se entra, nunca mais se sai, a não ser para breves incursões num e noutro, enquanto houver esperança de ver e a esperança ainda fizer a vida. Aqui, no mundo da consciência se faz a verdadeira vida, sem concursos públicos, sem exames, sem indicação de gente influente. Tudo depende do que se aprende no mundo da luz.

Rui Rodrigues

sábado, 13 de outubro de 2012

Portugal - Como sair da crise de 2008



CRISE EM PORTUGAL


Portugal – Como sair da crise de 2008

Estamos no final de 2012 e a crise ainda rói a economia portuguesa, as instituições, as famílias, e agora o estomago. Precisamos sair dela. Mas como?

Em primeiro lugar precisamos admitir certas coisas, mas a mais importante é que somos corruptos ou indiferentes à corrupção. Sem admitirmos isto nada muda. Quem nunca usou de influência para ser atendido numa clínica médica, para ganhar um posto de trabalho, aprovar um projeto na câmara municipal, passar à frente numa bicha, ser promovido (a) no emprego? Ora, se é isto que queremos ser, na verdade corruptos, então não necessitamos mudar nada, e quem mais puder, mais terá. Porem, se pelo contrário somos contra este estado de coisas, então temos que mudar para um regime político que permita a vigilância popular sem, contudo, perdermos o sentido do que é realmente uma democracia. Muitos regimes políticos já se disseram “democráticos” e até a Alemanha Oriental chegou a intitular-se “República Democrática da Alemanha”, mas quem viveu lá sabe perfeitamente que o que não existia, de todo, era democracia. Stalin dizia que governava o povo e que isso, sim, é que era regime democrático, mas a URSS já não é comunista. O comunismo não funcionou. Dizem os governos capitalistas que são democráticos, e são, completamente, tal como entendemos a democracia, por falta de exemplos de uma verdadeira democracia, aquela em que o povo é ouvido todos os dias e não esporadicamente ou constitucionalmente de quatro em quatro anos ou de cinco em cinco. E o capitalismo está demonstrando que pode devorar mentes e estomago de forma tão eficiente quanto o comunismo de Stalin. Monarquias já demonstraram que ou são absolutistas, ou pouco liberais, ou de conveniência.

Para sair da crise econômica e de tradição do que se entende “governar” e democracia, é necessário que se utilizem largamente os dispositivos e mecanismos modernos colocados à nossa disposição: a Internet e as redes sociais. Só para reclamar? Seria muito pouco. As redes sociais e os celulares podem servir para muito mais do que isso: Para votar!

Podemos votar em tudo o que quisermos sem necessitar que “representantes” em sua maioria corruptos, nos representem fazendo o que querem e muito mal entendem sem que tenhamos – hoje – um dispositivo legal que nos permita tirá-los de onde os pusemos por equivoco, porque nos enganaram. Contar que um dia aparecerá governante que nos atenda, é como jogar na totoloto...Eles existem mas atendem apenas os amigos. Já se dizia no passado que “aos amigos tudo, aos inimigos a lei”, e contar com a sorte de se eleger um amigo que nos dê emprego, significa perder duas coisas a futuro: o amigo e o emprego.

Mas como mudar?

Sabemos que a Constituição que deveria governar o país e nos governar, é falha, porque permite e tem permitido o que vemos, o que sofremos a tudo que assistimos Precisamos de outra Constituição que atenda a vontade dos cidadãos. Alguém tem que alinhavar uma nova Constituição nesse sentido e fazê-la votar por todos os cidadãos interessados em votar, item por item, tirando dos governantes o poder que têm de decidir sozinhos sem nos consultar. Uma constituição que só possa ser alterada mediante consulta popular e não por decretos, todos urgentes, todos convenientes. Um bom exemplo que pode servir de base é a constituição da Suíça ou da Islândia, Noruega, Suécia... Lembremo-nos que já não somos uma potência mundial, D. Sebastião não voltará nem em manhã de nevoeiro, Cristo ressuscitado talvez daqui a uns milhões de anos, Pai Natal só em cinema ou representado por nossos pais. Duendes também existem, mas em peças de teatro e cinema. Somos portugueses e sempre mudamos o que não gostamos para conseguir o que queremos desde nossa independência em 28 de junho de 1128 após vitória na batalha de S.Mamede. Basta fazer as contas para vermos quantos anos perdemos a reclamar sem conseguirmos honestidade de nossos governantes. Estamos em 2012 em meio a violenta crise.

Sem uma nova constituição não se muda absolutamente nada! E teremos os mesmos perfis de políticos que nos abraçam e nos dão apertos de mão e tapas nas costas apenas em campanhas políticas. Depois fazem o que querem, como querem, quando querem. Nós também queremos e podemos querer e ter.

Sobre Democracia Participativa, existem muitos sites na NET emitidos em várias línguas. Recomendo este: http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

Rui Rodrigues

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O Brasil de hoje - Uma opinião sem muita filosofia



Jogando com o mundo

O Brasil de hoje - Uma opinião sem muita filosofia

Nunca esperei que me dessem alguma coisa, mas sempre desejei que me dessem algo, porém desconfiando sempre de quem me oferecesse algo sem que eu tivesse demonstrado o correspondente desejo. Por isso vi passar o tempo da vida ao lado do meu tempo de vida. Caminhos paralelos, mas sempre que possível, independentes. Por isso nunca dependi muito dos outros. Vi no mundo erguer-se a cortina de ferro e a cortina de bambu, e vi quando se fecharam. Vi levantarem o muro de Berlim e vi quando foi derrubado. A guerra do Vietnam começou e acabou. Cuba fez uma revolução que dura até hoje  e implantou o comunismo, mas vi que dos sessenta países que se tornaram comunistas, restam dois ou três e não se tem a certeza do quanto são realmente comunistas. Alguns anos depois da revolução cubana e das barricadas de Paris, quando o mundo se deslumbrava com a férrea vontade da juventude de mudar o mundo, assisti a uma revolução no Brasil, esta montada para libertar o Brasil daqueles que também o queriam libertar. Vi que tanto os libertadores de um lado quanto do outro, tentavam pela força – e sem perguntar ao povo se queria ser libertado ou que tipo de liberdade queria – atingir os seus objetivos. Eram objetivos deles, certamente, como se a sociedade brasileira, perfeitamente capaz não pudesse ou não fosse digna de ter opinião. Diziam de ambos os lados que os fins justificavam os meios. Poucos anos depois assisti ao 25 de abril em Portugal: “Estava bonita a festa, pá”, mas José Saramago já pensava em largar Portugal e ir-se embora da Pátria madrasta. Tanto de um lado do Atlântico quanto do outro, alguns “sempre os mesmos” alçaram-se aos mais altos postos do poder e, sensivelmente não mudaram nada de essencial. Quando caiu o muro de Berlim, pensei que o comunismo tinha acabado, mas veria mais tarde que, já bastante deturpado e sem aquele aparato dos dias da guerra fria, ainda existia no ânimo de alguns a vontade de nivelar as sociedades até uma pretensa linha de igualdade em que não haja diferenças sociais. Esqueceram-se que nestes casos o nível de vida tem que cair de forma abrupta e que logo o dinheiro se troca por “influências”, como em cadeias ao redor do mundo: Sem dinheiro, onde todos os presos são “iguais”, uns têm mais influência do que outros e passam “melhor” a vida na prisão. Qual não foi a minha surpresa quando ao final de um processo que durou quase cem anos – de 1917, ano da revolução russa, até os dias atuais – constato que o mundo mudou para o que o ocidente desejava, o capitalismo, mas que, a exemplo do comunismo e do socialismo, não libertaram ninguém, e mantiveram as populações no desconforto multimilenar de se verem angustiadas porque lhes falta dinheiro, empregos, saúde publica, segurança, ensino adequado, bons salários, razoáveis aposentadorias, infra-estruturas, mas, sobretudo dinheiro, por causa de estratosféricas porcentagens de juros sobre o capital, impostos sobre os ganhos, e em muitos países por filosofias religiosas que diferenciam de forma abismal a vida das mulheres da vida dos homens. Surgira o neoliberalismo econômico, a primavera árabe, o FMI, a crise de 2008.

E voltamos ao começo, à necessidade de mudar o mundo. O arrocho está muito grande, insuportável. Há riscos de revoluções populares, instabilidade política de Portugal à China, do Canadá á Argentina. Do Egito à África do Sul. Nossa humanidade é como um bando de crianças que acreditam em Papai Noel, em duendes, que no final do arco-íris há um pote cheio de ouro que não é guardado por exércitos bem armados, mas por inocentes, bobos e avaros duendes.

Desde os tempos da ditadura de Vargas que o Brasil vem desenvolvendo a sua industria, melhorando as leis, e para quem vê do lado de dentro e do lado de fora, está tudo arrumadinho, somos a quinta economia do mundo, tudo no seu lugar, exceto quando se sobem morros e se visitam cidades do interior, quando vamos na periferia das cidades e vemos esgotos a céu aberto, ou quando enfrentamos filas da saúde pública onde gente se amontoa pelos corredores, faltam remédios, morre gente na fila por falta de atendimento, transportes públicos antigos, decadentes, perigosos, polícia sem recursos e que não pode conter a contravenção nem os crimes, reservas florestais invadidas sem recursos para conter as invasões.  E medito sobre o que foi feito, com tantos trilhões recolhidos em impostos, ano após ano.  Não há como entender o fato de sermos a quinta ou sexta economia do mundo... Nem a Venezuela como o país de maior equilíbrio social, Cuba onde tudo são “maravilhas” desde a educação à saúde, ao esporte. Fico com a impressão de que tem alguém mentido, ou todos estão mentindo. Não posso entender a pasmaceira Argentina em torno da bela Cristina Kirshner, que controla saques em Bancos, países visitados por seus cidadãos, uma economia decrescente, visões delirantes de ingerência inglesa nas Malvinas. A América latina e estes paises não terão sucesso onde URSS e China falharam porque o mundo mudou, as sociedades mudaram, os anos 60 e seus ideais acabaram.

Vi ministros milagrosos da economia dizerem aos quatros ventos que o Brasil ia muito bem, como Delfim Neto, Roberto Campos, Funaro, Mantega, mas sempre com muitas dores de “crescimento”: Se num faltou mercadorias nos supermercados, noutro a inflação foi galopante na casa dos três dígitos, no outro confiscaram a poupança pública, no outro subiram os juros tão altos que 40% da população está inadimplente ou nos Bancos, ou na vida. Num governo em particular reduziram os salários ou impediram que fossem reajustados como sacrifício para o crescimento do Brasil. O Brasil cresceu, as crianças cresceram, mas come-se menos para economizar, os aposentados ajudam os filhos, os filhos ajudam os aposentados, quem não tem ajuda assalta, a China ainda vende barato, mas os comerciantes vendem como se comprassem quase caro. O Brasil vende as suas terras em forma de minérios, mas continua sem expressão de prêmios Nobel, de produtos manufaturados de alta tecnologia própria, e depende de pagar royalties para fabricar dentro das próprias fronteiras. Recentes fiascos de corrupção a nível de Congresso seriam motivos para reflexão e movimentos populares, mas sofre-se em casa, reclama-se nas redes da Internet e não passa disso: O povo está inebriado, anestesiado com o ”partidarismo fiel” como gambá que acabou de chupar o sangue do pescoço de uma galinha gorda. A propaganda do governo continua fazendo o seu papel, através de reportagens onde se usam palavras como ‘otimismo “, ‘desenvolvimento” e se dão notícias de pouca expressão que não causem impactos negativos sobre o moral da população. Medidas Provisórias a titulo de nada, restringem a transparência governamental para as obras da Copa e dos Jogos Olímpicos onde se investem trilhões de reais quando o pressuposto era de alguns bilhões. Com um mundo em recessão, incentiva-se a gastar, a aumentar produções e safras. Depois os produtores choram a perda dos investimentos por falta de mercado devido à recessão . Informaram que a nação estava cheia de vagas de trabalho, mas logo informaram que o nível nacional era baixo, calando qualquer reclamação de falta de empregos por sentimento de culpa, como se a culpa fosse do cidadão candidato a uma vaga de trabalho. Nunca a mídia teve papel tão importante na história da humanidade para solapar as reivindicações cidadãs. O Tsunami da crise de 2008 ainda não chegou ao Brasil e não há país algum aonde ela já chegou que possa afirmar que esteja controlada. O Brasil verá nos próximos anos o preço amargo da corrupção.

Na Grécia, Espanha, França, Portugal, e em todos os países da Europa há movimentos nas ruas, mas não têm nem meta nem rumo[1]. Sabem porque reclamam, mas não têm uma meta para dizer: Queremos esta filosofia de governo, porque todas as que conhecem já falharam.

Num mundo que parece sofrer de apatia cidadã, fico preocupado com os “rompantes” da humanidade, quando suporta tudo o que pode suportar dos governos e de repente, estoura como vulcão, inundando o mundo de artefatos bélicos, sangue pelas ruas, assim como acontece a quem vai ao baile na carruagem de abóbora e quando dá meia noite repara que está pobre, com roupas sujas e resolve, horrorizado, mudar a vida.

Rui Rodrigues

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A princesa Maya e os duendes Gorubos .





A princesa Maya e os duendes Gorubos .

Os duendes gorubos viviam na terceira gaveta do terceiro armário da terceira sala do terceiro prédio da terceira transversal da terceira rua depois da casa da princesa Maya. Era lá que ficava a creche aonde ela ia todo o dia da semana - menos sábado e domingo – para se encontrar com seus irmãos de creche.

Os gorubos eram pequenininhos e só apareciam quando queriam. Eram muito brincalhões e usavam uns chapéus verdes, pontudos, e tinham orelhas muito grandes. Todo dia quando as tias não estavam na sala de aula os gorubos saiam das gavetas e gritavam:

- Pocupagaruba... Pocupagaruba!

E a as crianças começavam a fazer bagunça. Não ouviam nada, mas os gorubos tinham o poder de se comunicar com as crianças dizendo aquelas palavras mágicas. Às vezes a bagunça era muito grande, e a tia entrava na sala dizendo:

- Ai, ai, ai... Que é que houve aqui? Parece que passou um furacão... Comportem-se e toca a arrumar tudo... Quem começou esta bagunça?

E as crianças olhavam sempre umas para as outras, sem saber quem tinha começado. Elas nem conheciam os gorubos. Nunca os tinham visto. Não sabiam que eram os gorubos. Mas cada uma das crianças sabia que todas eram muito bem comportadas e que alguma coisa as tinha levado a fazer aquela bagunça toda. Todas reconheciam que a sala estava bagunçada, tudo fora do lugar. Então elas fizeram uma reunião para tentar descobrir o que as fizera mudar de comportamento.

Armaram um esquema: quando a tia saísse da sala, ficariam quietas, e cada criança procuraria num lugar para ver se viam alguma coisa. Procuraram no saco de brinquedos, abriram todas as gavetas, mas nada. Quando olharam à volta, estava tudo desarrumado. Claro! Tinham mexido em tudo e tinha que estar desarrumado. Então arrumaram tudo outra vez e ficaram quietas esperando a tia. Quando viu tudo arrumado a tia disse:

- Olha só...Que lindo.. Tudo arrumado.. Vou dar-lhes um presente. Vamos fazer uma festa ! Vocês querem?

Ouviu-se uma algazarra, as crianças gritando, ao mesmo tempo, que queriam, perguntando se tinha bolo, bolo de quê, quantos pedaços para cada uma, se tinha refrigerante e qual era.

Enquanto comia um pedaço de bolo de chocolate, a princesa Maya disse para a tia:

- Sabe, tia, nós não sabemos porque bagunçamos a sala quando a senhora sai da sala, mas estamos pensando que pode ser alguma coisa que nos faz fazer isso, mas só faz isso conosco, porque quando a tia está, não há bagunça.

- E o que você acha que é? – Perguntou a tia.

-Não sei! Respondeu a princesa Maya, mas vamos descobrir.

Muitos dias se passaram, com as crianças cuidando da sala para ver se viam alguma coisa que as fizesse fazer bagunça, mas não descobriram nada, até que certo dia...

Foi depois de um trabalho que tiveram que fazer em grupo, depois do recreio, e que a tia tinha passado para fazerem. Ficaram ainda mais cansadas e a tia lhes perguntou se queriam dormir um pouco para descansar. E as crianças se deitaram, e se prepararam para dormir, mas a princesa Maya lembrou-se de continuar a procurar o que é que fazia as crianças fazerem bagunça. E ficou atenta entre um cochilo e outro. Ficou com os olhos quase fechados, olhando à volta, escutando tudo, até mosquito voando ao longe. De repente, olhou para um raio de luz que passava por debaixo da fresta da janela. Havia algo estranho no raio de luz. Ele tremia e os raios de luz não tremem. Passam retos, sempre na mesma direção. Concentrou o olhar, levantou-se devagarzinho e foi olhar. Mas ao tocar no raio de luz, sem querer, ficou pequenininha de repente, e então levou um tremendo susto ao ouvir uma grande gargalhada.

Na frente dela estava um ser enorme que a olhava com curiosidade, Tinha um chapéu verde, pontudo, e as orelhas muito grandes.

- Quem é você? – perguntou séria a princesa Maya, logo que o susto passou.

- Eu sou um gorubo. Vivo aqui com meus irmãos e irmãs e viajamos a uma velocidade muito grande, á velocidade da luz, que é o que se move à maior velocidade no Universo... Universo é esse espaço imenso onde vivem todas as estrelas e planetas. Agora estamos neste seu planeta, que é a Terra. Como se chama?- perguntou o gorubo.

- Chamo princesa Maya, tenho três anos, olha – e mostrou três dedinhos para o gorubo - e sei contar até um dois três quarenta cem. Em inglês também! Conhece minha mãe?

- Conheço – disse o gorubo. E continuou... Como vivemos em raios de luz que correm todo o universo, e iluminam tudo quando se encostam nas pessoas e nas coisas, conhecemos tudo e todos do Universo. Estamos presos nesta gaveta porque há poucos raios de luz. E este raio de luz que agora está batendo em nós é muito pequeno para podermos sair daqui...

- São vocês que nos fazem fazer essa bagunça toda quando a tia não está na sala?

O gorubo foi apanhado de surpresa. Não contava com aquela pergunta... E respondeu: - É... É... Quando estamos tristes, na escuridão da gaveta, gritamos - Pocupagaruba... Pocupagaruba! Para nos alegrarmos...

(Ao pronunciar as palavras, os outros gorubos acordaram e começaram a gritar - Pocupagaruba... Pocupagaruba! As crianças da creche acordaram e começaram a fazer bagunça. Não viram a princesa Maya e começaram a chamar a tia)

Entretanto, um dos gorubos perguntou para aquele que estava falando com a princesa Maya, o gorubão: - É esta princesa que nos vai tirar da gaveta? E o gorubo chefe disse: Não sei, mas ela pode.

- Eu acho que posso, disse a princesa Maya, mas primeiro tenho que voltar a ser grande. Como faço?

-Isso é simples... Disse o gorubão, basta sair deste raio de luz.

A princesa Maya então se afastou do raio de luz e logo começou a crescer rapidamente. Com a mão, abriu um pouco a janela e a sala foi inundada pela luz. A princesa Maya ainda pôde ver os gorubos sendo levados muito velozmente pelos raios de luz a caminho do Universo ou de outra creche. Diziam adeus à princesa Maya, agradecidos e felizes.

Quando os amiguinhos da princesa Maya a viram, disseram:

- Olha... Olha... A princesa Maya está aqui... Onde estava você, que ninguém viu?

E a princesa Maya disse:

- Eu estava num raio de luz salvando os gorubos da escuridão da gaveta, mas acho que vocês não vão acreditar...

(E contou para eles e para a tia que estava chegando toda preocupada, o que lhe acontecera... Mas parece que não acreditaram)

Rui Rodrigues

(É bom nunca parar de sonhar. São sempre os sonhos que se transformam em realidades, jamais as realidades em sonhos...)