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sábado, 12 de maio de 2012

Zaratustra, Nietzsche e outras coisas




Zaratustra, Nietzsche e outras coisas...

Somos testemunhas vivas de que “propaganda é a alma do Negócio”. Mas isto já se sabe há milênios. Para que as idéias não se propagassem, já proibiram livros de Sócrates, Platão, e disseram que Nietzsche não era um exemplo a ser lido. Niccolò Paganini, um compositor violinista que revolucionou a arte de tocar este instrumento foi indiciado como o “violinista do diabo”, proibido de ser ouvido. Rasgaram livros de Platão e de Sócrates, queimaram a biblioteca de Alexandria, mas sempre algum de nós guarda algo em algum lugar que preserva o passado. Num mundo tão pequeno como o nosso, nada se esconde por uma eternidade.

Num mundo rico em diversidade natural, paisagens, idéias, é humano que a cada nova paisagem se esqueça a anterior, a cada idéia nova se relegue a anterior, até mesmo por uma limitação natural de assimilar de forma consciente e concomitante tudo o que sabemos e vemos. Somos reféns de uma prática nossa de desejarmos identificar-nos a um grupo para não sermos rejeitados e podermos viver amparados por seus participantes. Se este grupo cresce, acaba por desejar impor suas idéias a todo o mundo conhecido, exercendo uma ditadura moral. A união de grupos formou nações por identificação de costumes e princípios.

Situam o nascimento de Zaratustra (Zoroastro conforme a ele se referiram os gregos) em cerca de 258 anos antes de Alexandre (dito o Grande), ou seja, cerca de 600 AC. Teria nascido em terras iranianas ou do Afeganistão. Estudos recentes devidamente suportados pela arqueologia e a lingüística indicam que isso aconteceu entre 1.500 e 1.200 AC. Esta diferença de datas é muito importante, porque coloca o povo judeu em contato com o Zoroastrismo numa época em que era comum o judaísmo aceitar a existência de vários deuses, incluindo os dos aquemênidas conforme referenciam a Bíblia, a Tora, o Corão.

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu a 15 de outubro de 1844 em Röcken, localidade próxima a Leipzig. Karl Ludwig, seu pai, pessoa culta e delicada, e seus dois avós eram pastores protestantes; o próprio Nietzsche pensou em seguir a mesma carreira. Escreveu dentre outros livros, “Assim falou Zaratustra”. Pelo título somos levados a pensar que Nietzsche endossa os pensamentos de Zaratustra, mas na medida em que vamos desenvolvendo a leitura, começamos ora a achar que Deus não existe, ora a ficarmos confusos sobre sua existência. Nietzsche permite em sua redação que julguemos de sua existência e questionemos se não seremos herdeiros de sua imagem, podendo vir a tornarmo-nos em pequenos e limitados deuses, ou melhor, os superseres humanos. 

Mas porque razão teria Nietsche usado Zaratustra e seus princípios e não Moisés, Jesus Cristo, Buda ou qualquer outro mito de nosso passado bem remoto? Parece que a explicação mais adequada é a de que Zoroastro teria influenciado todas as demais religiões em termos da unicidade de Deus, o deus único, todo poderoso, onipresente e onipotente.

De fato, enquanto na época de Zaratustra existiam vários e muitos deuses em cada religião conhecida, este afirma em seus escritos, no livro “Avesta” que só existe um Ahura Mazda. Zaratustra foi o único profeta que escreveu o próprio livro de religião, visto que todos os demais foram todos escritos por terceiros décadas ou séculos após os acontecimentos. No livro “Avesta” e no “Os Gathas de Zaratustra”, este de 17 páginas constituído de hinos, estão contidos os fundamentos do monoteísmo pela primeira vez na história da humanidade. Conjunturas dos muitos movimentos internacionais  que mudaram filosofias, conquistaram países, e vêm mudando a configuração da humanidade ao longo dos séculos, fizeram com que outras religiões viessem a ser hoje mais conhecidas, mas sem dúvida alguma, face aos documentos históricos, Zoroastro foi o primeiro profeta monoteísta da historia da humanidade. É referido nos “Contos das Mil e uma Noites”, impresso com base em tradições orais que foram passando de geração em geração.

Para Zoroastro (e até certo ponto para Jesus da Nazaré) Deus era bom e não havia que temer a Deus. Somente deviam temer a Deus quem não o conhecesse. Creio que Deus não se teme e quem não o conhece não pode ser imputado de culpa. Seria como achar que Deus não se interessa pelas culturas milenares que ainda vivem na idade da pedra, como na Amazônia, Austrália e outros lugares, que não foram sequer evangelizados. O próprio Deus não vem a Terra para evangelizar, e se aceitamos que um dia já o teria feito, teremos que nos perguntar porque razão jamais voltou a fazê-lo. Deus não desiste de sua obra. Então Deus será diferente do que pensam sobre ele.

Podemos discutir, sem chegarmos a uma verdadeira conclusão, que tipo de raciocínio levaria alguém a pensar num Deus único naquelas épocas em que todos achavam que para cada mal, cada necessidade, deveria haver um pequeno deus. Sabemos que era absolutamente normal os sacerdotes e profetas da antiguidade se fazerem entrar em transe tomando bebidas alucinógenas. Seus sonhos em transe deram origem a deuses violentos, a apocalipses terríveis que foram depois interpretados.

Zoroastro começou o monoteísmo. A imperfeição de seus rudimentares conceitos fez surgir novas religiões baseadas em seu monoteísmo. A propaganda ou a sua ausência provocou a divulgação ou o esquecimento de muitas delas que conhecemos apenas por legados desencavados dos sítios arqueológicos. Nietzsche partiu do princípio de que somos feitos á imagem de Deus, e se isso é verdade – como de fato parece ser – então não podemos ser maltratados por nossos semelhantes, nem explorados, nem escravizados de algum modo, e todos devemos participar, sem distinção, na construção das leis das nações a que pertencemos, vivendo em paz com todas as demais nações, dedicando-nos á grande tarefa de construímos nossas casas em novos planetas, povoar o universo, vencer doenças, tornar-nos imortais se assim o desejarmos, verdadeiros pequenos deuses que em nada podem afrontar o único Deus.

Também não acredito que Deus não cuide de quem não acredita nele. Isso não seria atitude de Deus.


PS - Para outras consultas existe farta literatura na Net. Indico algumas a seguir, e quem tiver oportunidade recomendo a leitura dos livros sagrados aqui referenciados e em particular “Cosmos, Caos e o mundo que virá” de Norman Cohn – Editora Companhia das Letras. Norman foi professor da Universidade de Sussex, diretor da Columbus Center, ocupou a cátedra Astor Wolfson. Escreveu três livros mais.




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