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sábado, 8 de dezembro de 2012

Costa dos Esqueletos – Um árido grão de areia feito de alma



Costa dos Esqueletos – Um árido grão de areia feito de alma

- Sai dessa janela!... Não vês que está a relampejar?

Eu saía da janela para lhe fazer a vontade, para não provocar discussões, não porque quisesse sair. Meus oito anos de idade não permitiam muito mais do que alguns segundos de teimosia apreciando a tempestade depois da ordem de minha avó para sair da janela. Lá fora o vento empurrava a chuva em cortinas inclinadas, gotas de chuva escorriam pelos vidros das janelas, pombos encolhidos sacudiam as penas nas beiradas dos telhados, chapéus de chuva viravam-se do avesso expondo transeuntes à natureza. Minha avó era daquelas pessoas de mente forte, corpo frágil, mas que temia a natureza. Provavelmente pressentia alguma relação entre os deuses do céu e os amedrontadores trovões, os raios que de vez em quando queimavam alguma pessoa como se tivesse sido assada, esturricada, por ordem dos deuses. 

Ainda no dia anterior haviam calcetado a rua com paralelepípedos de basalto cobertos com areia e piche, e os passeios com pedra portuguesa, e fazia sol. Os calceteiros ao bater com os martelos nas pedras lembravam-me os versos de Cesário Verde, apreciador das pequenas coisas da cidade de Lisboa, e que lhe davam vida.  Gostava de fixar-me nas pequenas coisas, porque são detalhes da composição das coisas enormes, e não se pode entender o que é grande sem se saber de que é feito, como é composto. Foi assim com o átomo, que compõe planetas e estrelas que sempre vimos sem entender. Sem a compreensão do átomo, jamais teríamos entendido como é o Universo. De vez em quando precisamos ficar a sós, ou até sós, para podermos ver e entender os grãos que compõem a natureza e a nós mesmos. 


Foi o que fiz num final de semana ao sul de Angola quando visitei a cidade do Tômbwa a serviço, e mandei parar a van quando estávamos a caminho da cidade do Namibe para apanharmos um avião e voltarmos a Luanda.  Tômbwa é o nome dado a uma planta muito especial que apenas existe no deserto do Namibe: A Welwitschia Mirabilis. O deserto é extremamente seco, e as raízes desta planta chegam a aprofundar-se até 90 metros abaixo do nível do solo para buscar a água de que necessita. Nada mais cresce por lá a não ser algumas espécies de líquenes. Junto à costa, há apenas leões marinhos, focas, gaivotas, atraídas pelo farto peixe trazido pela corrente fria de Benguela que chega à costa vinda do Pólo Sul e provoca os ventos alísios e o nevoeiro da costa.


Esta corrente dificulta a ida para Norte, porque chega a atingir cerca de 300 km de largura em frente a Benguela, puxando as embarcações para o meio do oceano, a caminho do Brasil. Á superfície, a corrente desce em direção à Antártida e cria a secura que se sente até no respirar no deserto do Namibe e na Costa dos Esqueletos onde fica a cidade do Tômbwa, antiga Porto Alexandre, quando Angola e Portugal ainda eram irmãos briguentos e desunidos, um explorando o outro em troca de muito pouca coisa, quase nada. Esta corrente se encarrega de trazer para a costa todos os tipos de esqueletos de animais marinhos, embarcações que não conseguem vencer a corrente e “morrem” encalhadas na praia. O revolver do fundo do mar e das areias, pelas ondas e pela corrente, mostra diamantes de vez em quando.

Não há chuva na costa dos esqueletos. Há desolação, morte, esquecimento. Nem a humanidade se lembra de forma constante dos náufragos que deram á costa e aqui morreram de inanição, assim como pingüins morrem quando chegam à praia do Peró, em Cabo Frio, como turistas desprevenidos que vêm pela corrente de Humboldt. Encaminhados de volta ao mar, são trazidos pela próxima onda, exaustos, cansados. Jazem finalmente com os olhos perdidos no espaço, as areias recobrindo rapidamente o morticínio, como se tivesse vergonha de mal causado. Mas não seria culpa dos pingüins se encantarem pela corrente sem pensar no dia de amanhã? Melhor pensarmos em decorrências de atos pessoais praticados, o que nos leva a concluir que os pingüins também têm livre arbítrio, não sendo esta uma prerrogativa apenas dos seres a que chamamos de humanos. Não é possível que seja. Haverá certamente sentimentos de animais que ainda não conseguimos identificar. Talvez por uma teimosia em acharmos que Deus fez este planeta apenas para nós. Foram pensamentos como este que levaram à escravidão, à prepotência de uma raça sobre a outra, defasadas apenas por algumas décadas ou séculos de progresso científico.

Parece que a evolução humana se faz como as dunas do Namibe, juntando grãos de areia muito lentamente até que se forme uma duna, mas dunas não têm vida própria: São formadas, empurradas e desfeitas pelo vento. Que ventos nos empurram? E como testemunha, lá estava o esqueleto de navio que já foi belo singrando os mares. Quebraram uma garrafa de champanhe em seu casco quando foi lançado aos mares. Teve uma bela madrinha, cruzou os oceanos sempre invencível vencendo marés e correntes, transportou tripulações, passageiros, fora limpo e escovado todos os dias, pintado para repor a beleza tirada pelas ondas e o sal dos mares.  Acobertou amores com e sem sentimentos de culpa. Transportou mercadorias, mas os registros foram comidos pelo sal, encharcados e desfeitos pela água. Ali perto, um esqueleto de baleia que se transformou de organismo vivo em organismo morto sem registro algum, sem funeral, sem comitê de adeus ou lúgubres carpideiras.


As Welwitschia Mirabilis podiam migrar mais para a costa para não precisarem criar raízes tão profundas, mas lá, a água do mar é salgada e as mataria. Se fossem mais para o interior, suas raízes poderiam ser menos profundas, porque lá existem montanhas e água em abundância, mas elas ainda não aprenderam a ter raízes curtas, e a vida não teria o mesmo valor sem a dificuldade de procurar água cada vez em solos mais profundos. Ela aprendeu que são as dificuldades da vida que alimentam a alma.

Antes de perder a paisagem da Costa, olhei pela última vez para as areias, para os esqueletos enquanto bebia alguns goles de água de uma garrafa estratégica de água mineral que há muito ganhara temperatura até se tornar morna, mas mesmo assim, refrescante.  Lembrei-me de minha avó e de seus conselhos quanto às tempestades. Certamente desmaiaria se lhe tivesse contado que um dia um raio caiu a menos de cinqüenta metros de mim e de um grupo de amigos, no Rio Grande do Sul, provocando um brilho extremamente branco que quase me cegou, e um estampido que me deixou os ouvidos zunindo por bons minutos. Anos mais tarde viria a constatação de uma leve deficiência, quase imperceptível no meu ouvido esquerdo. A natureza que me criara fizera também seu pequeno estrago comigo. Um dia fará um estrago ainda maior. É inevitável. Mas, quem tem medo da natureza, tão bela, que nos fará esquecer a dor quando tudo se apagar, e a corrente de Benguela e a Costa dos Esqueletos nem representarem mais uma lembrança?

Não encontrei nenhum diamante.

Rui Rodrigues

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Lula suicidou-se!


Lula suicidou-se!

O suicídio político é pior do que o suicídio físico: Este acaba com tudo na vida e com ela própria; aquele deixa o indivíduo consciente de sua inutilidade e incapacidade em todos os dias que restarem de sua vida. Passa a ser um vivente abandonado, execrado, desconsiderado.
 Lula (corrupto?) com o corrupto Maluf
Lula suicidou-se politicamente. É o único responsável por sua morte política, porque pederu o senso do que é justo, do que é errado até mesmo perante a lei. Ou é mal aconselhado, ou Lula é assim mesmo.

Lula foi um político, um ser humano como outro qualquer, dentre aqueles que tiveram um princípio político, um apogeu e um declínio. A história universal é uma fonte de consulta onde podemos encontrar figuras históricas como a de Lula em cada dia da história da humanidade, em cada página de livro. Lula não foi mais nem menos do que um desses. Houve piores e menos ruins. Raros foram os que se possam considerar como “melhores”. A política não serve ao povo, mas às instituições. A prova disto são as forças de polícia e os exércitos quando marcham sobre o povo quando este reclama.

Lula, sua determinação e a sociedade.

Com o mesmo ufanismo e prazer com que uma criança de oito anos mostra para os pais que conseguiu andar numa bicicleta sem as mãos, Lula mostraria para a sociedade que, apesar de tecnicamente analfabeto, sem diploma, sem nunca ter sido eleito para cargo publico, sem nunca ter passado em concurso público, sem nunca ter mostrado sua competência, chegaria a presidente da República. Mas como conseguir isso, desta forma tão incongruente, tão atípica, tão estéril e vazia?
Teria que apostar em várias coisas: No populismo, na venalidade dos políticos, valer-se dos momentos históricos da política. Tinha consciência, nos anos 70 e 80 que o Brasil estava numa ditadura odiada pelo povo e por larga banda dos próprios políticos, artistas, intelectuais. Traria todos os descontentes para o seu lado. Como? Usando seu poder de persuasão sobre os trabalhadores do ABC onde atuava, mediando salários e condições de trabalho entre esse povo trabalhador e os empresários. Tiraria partido de ambos os lados, porque precisaria deles para se tornar o primeiro presidente analfabeto e ignorante do Brasil. É altamente provável que, naquela época, Lula realmente pensasse que poderia tirar o povo brasileiro da miséria financeira, política, de educação, e de tudo, incluindo água potável, rede de esgotos, energia elétrica. Como não seguir um homem destes que apostava o que tinha, e que era nada, contra os que tinham tudo?

As sociedades sempre agem com o coração, enquanto as elites agem com o conhecimento. É uma guerra desigual. O coração sempre perde, mas Lula apostou que venceria.

Lula, o ABC e seus aliados políticos.

Como líder sindical, Lula conseguiu sempre duas vitórias, uma de cada lado: Os trabalhadores obtinham algumas vantagens aparentes através de mobilização para greves em movimentos de ruas, o patronato não perdia, porque obtinha razoáveis vantagens nas negociações. Lula intermediava, fazia adesões políticas de ambos os lados do muro. Todos se julgavam vencedores, e Lula poderia ser a balança da razoabilidade interposta entre o povo e o governo com os empresários do outro lado. Mas havia alguém que discordava: Leonel Brizola, o qual, de esquerda desarmada, sempre havia combatido a ditadura. Lula poderia ter-se aliado a Brizola desde o começo de sua carreira francamente política, mas preferiu a esquerda armada, porque Brizola, de brilhante carreira política, era agora um adversário com alto potencial de lhe tirar a oportunidade de vir a ser presidente. Leonel o chamava de “sapo barbudo”. Se fosse vivo, hoje, Leonel Brizola o chamaria provavelmente de “cobra barbuda”.

Depois que Lula se dedicou exclusivamente à política, as greves se reduziram, os sindicatos foram perdendo a força. O ABC e seus problemas já não preocupavam Lula. Foram os dois primeiros erros de Lula: Abandonar o ABC e aliar-se à esquerda armada não representativa da nação brasileira. Esquerdas e direitas armadas são extremistas e o Brasil não é extremista.

Lula presidente do Brasil

É praxe ou costume, ou hábito que quem tem mais dinheiro disponível para propaganda e outros atos, se elege presidente em qualquer nação: Dinheiro compra opinião, faz opinião e pode comprar votos de forma direta ou indireta. É assim também nos EUA. Sobras de campanha nunca se sabe para onde vão nem a quem pertencem, se ao Partido político, ou se aos candidatos, ou se é distribuído entre todos. No Brasil soube-se através do caso PC - PC Farias, que ele detinha as sobras da campanha de Collor. Foi Collor quem não permitiu que Lula ganhasse uma das eleições para presidente da República a que concorreu. Lula muniu-se de sujeitos semelhantes que controlavam o caixa dois de suas campanhas. Enquanto iludidamente se pensava que o caixa dois representava sobras de campanha, o povo nunca deu muita importância. O problema apareceu quando se soube que as sobras de campanha eram verbas públicas utilizadas pelo PT para eleger os seus candidatos. A extrema esquerda sempre apóia qualquer ato por mais torpe que seja, justificando que os meios justificam os fins. Dilma, José Genoíno e a esquerda coadjuvante nos governos e campanhas de Lula, também. Porém, o povo, não. O povo continua querendo justiça, e esse foi mais um erro de Lula, ao achar que o povo justificaria seus atos mesmo que injustos.

Face ao governo de coalizão entre um ex-sindicalista ignorante e a esquerda armada do passado, Lula foi endossando posicionamentos políticos que deixaram o povo ainda mais apreensivo: Simpatia com Fidel Castro que governa uma Cuba desatualizada e cada vez mais decadente. Simpatia por Ahmadinejad que quer fabricar uma bomba atômica e nega, assim como diz que não houve Holocausto dos povos judeu e cigano; a Hugo Chávez que é outro ignorante de esquerda que afunda a Venezuela cada vez mais, e a Cristina Kirshner que afunda a Argentina, e a outros visionários ignorantes que não percebem para onde o mundo caminha, e que nem sabem contar pelos dedos. Se soubessem, veriam quantos países comunistas ainda existem no mundo e quantas eram há algumas décadas atrás. O mundo muda, mas a esquerda não muda. Não muda porque é ignorante e idealista e mesmo contra tudo e contra todos não sabe mudar. É como fiel de fé. Ainda bem que são cada vez menos.

Lula, os empresários, os políticos e a corrupção.

Na vida de todo o cidadão, há sempre um momento em que se governa a vida por esforços pessoais, e o momento em que a vida passa a governar o cidadão por causa e conseqüência de seus próprios atos. Foi assim também e inexoravelmente com Lula. Ficou amarrado aos tratos políticos e às uniões políticas que promoveu ou aceitou. Assim, já durante o primeiro mandato, deixou o governo entregue, como sempre, a seus conselheiros políticos de extrema esquerda que já sabiam que revoluções pelas armas, sem o apoio do povo, não logram êxito. Entretanto, fez uma simbiose com o poder do empresariado: Financiava as viagens a negócios a título de relacionamento internacional, enquanto aproveitava para alardear sua figura pelo mundo e conhecer novos países. Não que se seja contra o aumento das exportações brasileiras, mas à manutenção da ineficiência de nossas industrias e empresas em termos de competição internacional, através de mecanismos de ajuda com verbas públicas. O que Lula fazia era conceder ajudas dos mais diversos tipos, fazendo aparecer chefes de industria como Eike Batista. E continuou numa série de erros políticos e conceituais, próprios de ignorante ou de líder populista mal aconselhado: Deu indevidamente um passaporte diplomático para o filho que a justiça foi obrigada a retirar-lhe; Numa visita a Cuba posiciona-se a favor de Fidel Castro quanto à manutenção e condições de vida de presos políticos; tenta interferir na política internacional contra a nuclearização do Irã, propondo negociações com Ahmadinejad, quando este nunca se dispôs a negociar verdadeiramente, abrindo e franqueando o acesso às informações e instalações pela fiscalização internacional; Usa verbas públicas para se reeleger; compra votos no senado com verbas públicas conforme demonstrado no julgamento do mensalão. Une-se a um político que fora indiciado, julgado como corrupto e finalmente libertado após cumprir pena: Paulo Maluf.

Lula aprendeu que mesmo sendo preso, se pode voltar à política, e mesmo sofrendo impeachment, se pode voltar ao senado, como bem demonstrou Fernando Collor que cada vez mais apresenta um olhar e um comportamento irritadiço de menino mimado ou de portador de deficiência mental. Tanto Collor, quanto Lula, ambos ambiciosos de poder, para mostrar ao mundo com quantos paus se faz uma canoa. A sociedade percebe isso. Fidel pegou em armas. Lula e Collor jamais se atreveriam. A política teria que ser mais sutil. Se o senado é corrupto e se fizeram eleger para distribuir cargos, prestígio, Lula sabia muito bem com quem estava lidando, e deu-lhes o que queriam: O partido dele – e como se fosse possível, sem o conhecimento de Lula – distribuíram verbas públicas para comprar votos no senado e fazer passar leis que lhes interessavam. Indicaram militantes sem qualificação, inclusivamente um bacharel para o Supremo Tribunal Federal e detrimento de outros mais capacitados. Nem perguntaram ao pessoal do ABC nem à sociedade brasileira se aprovariam tais projetos e leis. Mas a sociedade ainda estava deslumbrada com o trabalhador sem dedo que nunca tinha trabalhado, nunca tinha ocupado cargo público, e passara a perna em todos fazendo-se eleger e reeleger. Saiu com aprovação recorde, não sem antes colocar no governo uma esquerdista, antiga militante da guerrilha, que sabia o que Lula não sabia: Um pouco mais sobre canoas. Ela sabe com quantos paus se faz uma canoa, e tal como Lula perde todos os dias colaboradores por corrupção. É como se o PT, ou a presidência do PT só indicasse corruptos para governar uma nação. E o povo, quem elege? Com que consciência elege? Nem repara que enquanto lhe dão um salário família, uma bolsa família, outros levam muito mais do que isso em maracutaias que nunca devolvem aos cofres públicos. O PT parece que dá, mas tira muito mais, milhares de vezes mais.

Lula suicidou-se politicamente e não vale mais que uma pequena parcela do que já valeu. A ala intelectual do PT afasta-se a cada dia desse partido que , certo dia no passado, chegou a representar os ideais de um mundo mais justo com bandeira verde e amarela.

Dilma não pode ficar em cima do muro, sob pena de ter sua confiança abalada pelo partido que a suporta. O povo não admitirá outro mensalão, nem algo parecido. Nem ministras da casa civil corruptas, nem ministros corruptos, com sinais de riqueza inexplicável, cometendo todo o tipo de atrocidades sobre o tesouro público. Para onde vai esse dinheiro? Quem o recebe? O que faz com ele?
 Tal pai tal filha ?
Lula suicidou-se politicamente a nível nacional e internacional. Algumas instituições lhe retirariam os “diplomas” com que foi agraciado no tempo em que ainda representava um sujeito idealista, justo, incorruptível.

Dilma é uma incógnita para quem conhece a idiossincrasia nacional.

Rui Rodrigues. 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Economia - Um jogo de pôquer ?


Em busca de um novo entendimento para a economia mundial
  economia - um jogo de poquer
Economia e “palavra”, no sentido de honra, estão intimamente ligados desde os princípios da humanidade. Quando se inventou a escrita, a “palavra” passou a ficar registrada por escrito para que todos a pudessem ver, entender, e não negar que tinham lido e entendido.
Nos primórdios das trocas comerciais conhecia-se a palavra da “honra”, aquela que assegurava qualquer troca comercial, entre os contratantes e seus herdeiros. Como não havia moeda que representasse um valor fixo de referência, as trocas comerciais se faziam na base do escambo: trocas de mercadorias, sendo os valores de referência baseados em bois, cabras, legumes, frutas. Podemos imaginar que em tempos de seca ou de enchentes, com as safras perdidas, gado e criações perdidas, os valores de referência sofressem sensível variação que provocava verdadeiras catástrofes entre criadores, plantadores, e as populações que tinham que pagar com mais trabalho para obter menos mercadorias nas feiras diárias, populares. Os historiadores do passado remoto estavam mais interessados em contar os feitos de seus reis e príncipes do que em contar as desgraças, por motivos óbvios: Os escribas eram pagos por esses reis e príncipes, e o que dava fama eram as coisas “boas” que aconteciam no reino. Essa tradição dos escribas se estendeu até o advento da democracia mais plena, em que o povo tem o direto a se expressar pelo voto, o que somente aconteceu a partir de meados do século XIX, e assim mesmo restrito a uma pequena quantidade de nações do planeta.
A variação dos valores de referência eram perfeitamente entendidos pela população quando se devia a causas naturais. O que era difícil de aceitar era a variação por aumento de impostos ou por ambição de reis e príncipes, a menos que uma causa nacional, como uma guerra, o justificasse. Quando não havia explicação razoável para o aumento dos valores de referência, o povo ficava sem noção do que acontecia. Não conheciam ainda o que atualmente chamamos de “inflação”, e que tanto se pode dever a uma deficiente administração, gastando-se mais do que se arrecada e obrigando à emissão de moeda sem o correspondente lastro, ou a ambição da classe produtora em alguns ou todos os setores da economia – por fraqueza das leis de governo – e que não exerce controle sobre os preços. Agora, em pleno ano de 2012, quando há deflação nos preços em todo o globo, com recessão nas principais economias, o Brasil exportando menos e diminuindo seus valores unitários de bens exportáveis para poder continuar no mercado de forma competitiva, os preços internos aumentam, na contra-mão das leis da economia. É um claro pacto entre governo e classe produtora, contra os interesses dos cidadãos. O estado já não governa: Assiste a uma classe terceirizada governar, refazendo-lhe as leis nos corredores, emitindo Medidas Provisórias que as alteram, suprimem, distorcem.
A lei serve agora a economia e não os aspectos sociais dos cidadãos. Os Bancos cobram os juros que querem. Se cobrarem duzentos por cento ao mês não haverá forma do Estado controlar essa cobrança. A lei é ampla no entendimento de “mercado livre” ou de “neoliberalismo econômico”, mas o estado obriga o cidadão ao pagamento sobre lei de juros imposta por Bancos. Agências do Banco Itaú já não grampeiam comprovantes de pagamento aos respectivos cupons – ensejando a perda do comprovante – o ar condicionado nas agências foi reduzido ao mínimo – há infiltrações, nem todas as lâmpadas funcionam. O que importa é ganhar dinheiro, sugar dinheiro de uma massa socialmente anônima, tocada como gado dentro das agências independentemente da idade, desde que a agência dê o maior lucro “possível”. As reclamações batem em juízes do Estado ou da União. Nem uns nem outros estão interessados no aspecto social deste gado especial por que é extremamente educado.
A economia se rege por muitos fatores e favores. É uma ciência “exata” apesar do caos aparente. Uma borboleta batendo as asas em Wall Street não muda as regras nem a evolução da economia, mas um banqueiro dizendo que sua empresa passa por aperto financeiro que se pode espalhar pelo globo, pode. Já aconteceu algumas vezes com conseqüências catastróficas para as nações. Alguns banqueiros se suicidaram, outros também perderam suas ações, mas o que sobra deles sempre fica mais rica após estas crises: É como um jogo de cartas marcadas, em que muitas vezes um poker de ases perde para um Royal straight flush, ou o jogador que tem este jogo sofre um ataque cardíaco antes de mostrar o jogo. No entanto, o “enfoque” do que é comercializável e para onde se devem canalizar os investimentos, tem sido o segredo dos empreendedores mais bem sucedidos ao longo do planeta ao longo dos séculos. Nestes casos, a excelência está em ser sempre o primeiro a possuir e vender determinado produto novo que “agradará” ao mercado e do qual este fique pendente ou dependente. O mercado das drogas são um bom (socialmente péssimo) exemplo desta premissa. A propaganda se faz de pessoa a pessoa, ou vinculada à mídia. Não raro se faz propaganda antes da nova mercadoria invadir o mercado. É um tipo de propaganda por “indução”.
Até meados do século XIX não era raro que os governos, em época de crises que geravam desempregos, lançassem mão de obras públicas para manter a sociedade em um nível razoável de sustentação. Com a canalização recente de verbas públicas para cobrir deficiências prováveis ou fictícias em organismos financeiros, esta modalidade fica impossível.  Como acabamos de ver, alguns Bancos economizam tanto em grampos para juntar comprovante de pagamento com cupom de talão de pagamentos, que duvidamos que estejam preocupados em garantir o emprego de cada vez maior numero de cidadãos desempregados.
Mas onde estará, então, a nova inteligência para a economia da crise mundial com que nos defrontamos na zona do Euro, com o baixo crescimento dos países emergentes e das maiores economias mundiais e com o “pibinho” que logo se transformará em “pibete” da nossa querida nação brasileira?
É uma questão de mudar o enfoque e haverá trabalho e desenvolvimento para todo o planeta.
O enfoque atual dos governos, e de modo geral, é dividir as verbas públicas em “fatias” de um bolo construído com recolha de impostos, para atender o que se chama de administração pública. Uma parte vai para as forças armadas, outra para o funcionalismo público, e muitas outras fatias para reserva de ajuda a empresas perdulárias, educação, saneamento básico, ONGS de caráter duvidoso ou atuantemente eficientes. A iniciativa privada continua olhando o mercado com os anteolhos do aqui e agora, e num futuro interdependente do aqui e agora, como, por exemplo, a indústria automobilística que olha com desprezo para as leis. Estas são claras quanto às velocidades máximas, mas os fabricantes continuam fabricando carros para “voarem” pelas estradas.  Não fosse assim, e os motores seriam bem mais baratos e consumiriam menos combustíveis fósseis. Porém, a falsa moral é como a das drogas: “Não se pode acabar com as drogas porque elas dão emprego a uma boa parte da sociedade”, e poderemos até ficar impressionados com o conceito de “boa parte da sociedade” aplicada ao comércio das drogas que, diga-se de passagem, nem impostos pagam. O comércio internacional ficaria muito grato aos governos se considerassem suas industrias como “ilegais” contanto que não lhes fossem cobrados impostos, tal como no caso das drogas.  Parece á primeira vista que ou não entendemos muito bem os caminhos da lei e de sua aplicação, ou não entendem muito bem de economia. Talvez até nem nos entendam e seja necessário mostrar-lhes o que queremos. 
Podemos refletir sobre alguns programas de cooperação internacional que gerariam empregos, desenvolveriam a ciência, canalizariam recursos, dariam um “rumo” á humanidade, que até ao momento tem vivido colada a este planeta, vendo os dias se sucederem às noites sem uma meta comum, um objetivo, cada nação puxando para um lado, para um interesse, sem aparente conjugação de esforços. Esta falta de conjugação de esforços geram desperdícios e não têm objetividade.
Vamos construir nossas bases em Marte, no planeta Europa, preparar escudo de defesa contra meteoritos, erradicar a pobreza com programa massivo de produto de alimentos saudáveis, levar a educação a cada lar do mundo, mesmo que o lar seja a parte debaixo de um viaduto, de uma ponte, construir saneamento básico em todas as localidades. Cada cidadão com seu computador pessoal. Podemos lembrar-nos que se, por exemplo, as fábricas atuais de computadores pudessem fabricar o dobro, os preços se reduziriam por questão de economia de escala. Mas porque não fabricam o dobro?  Porque não há mercado. E porque não há mercado? Não será por que está caro, ou porque se fabrica pouco, ou porque não há empregos para todos? Porque razão, ao fim de alguns anos definidos em lei, as invenções caem em domínio público e não mais se podem cobrar royalties, e o Windows, vencido todos os prazos, ainda não é de domínio público e custa caro?

Constatamos que se podem mudar as leis. Mas também constatamos que para uns se aplicam e para outros não, por divergência de “interpretação”. Quem tiver um Royal straight flush ganha!

Rui Rodrigues. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

De antenas viradas para Deus



Sempre disse que sou crente em Deus O ser Único, onipresente, todo poderoso, construtor do Universo, Legislador das Leis que o regem. O que não posso acreditar é que seja como os sacerdotes de todas e cada uma das religiões nos dizem que seja. A aceitar o que esses religiosos nos dizem, Deus não seria único: Cada religião teria o seu e esses “deuses” não podem expressar a totalidade do Ser que é Deus. Sendo assim, há longos anos virei minhas antenas para Deus, para todos os lados do Universo, buscando entender porque as religiões divergem tanto, e vindos desse espaço infinito escutei alguns ecos de um planeta idêntico à Terra, como se fosse gêmeo, porém atrasado em 100 anos em relação a este nosso, em que vivemos. E parece que Deus é bem diferente do que dizem por lá e por aqui.

Numa aldeia ao Norte da Península de Akadraban, no Continente de Anilim, existe um país muito religioso. A maioria acredita em Deus e há séculos rezam por doentes que tossem convulsivamente e acabam por morrer esvaídos em sangue como se os pulmões se rasgassem. Alguns se salvavam dando sinais de que Deus escutara as suas preces. Isso fazia com que a cada novo caso, novas promessas se fizessem para que Deus salvasse esses novos doentes acreditando os devotos que poderiam ser atendidos em suas preces. Recentemente uma médica pesquisadora descobriu uma vacina extraída de um fungo. Evidentemente que havia uma indústria girando à volta da doença: Os médicos prometiam cura ou discretamente informavam que “fariam todo o possível“, os sacerdotes recebiam donativos e oferendas. Muitas famílias perderam tudo o que tinham economizado na vida para curar os seus doentes. Ficaram pobres, foram morar em bairros pobres e adquiriram outras doenças por falta de serviços sanitários. As antenas dirigidas para essa aldeia de Akadraban já não escutam nenhuma prece a Deus para curar seus familiares dessa doença pulmonar porque ela já não existia. Uns diziam que Deus lhes mandara a vacina. Os médicos diziam que até poderia ter sido, mas que o mais certo tinha sido a vacina ser decorrente de seus estudos através do uso de sua inteligência que, agora sim, Deus tinha dado à humanidade. Só não sabiam como Deus tinha introduzido essa inteligência em seus cérebros, mas uma parte, senão a maior parte, era devida ao estudo em Universidades através da transmissão de conhecimentos de geração em geração.
Na cidade de Ambrush no outro continente ainda lutavam com uma doença que paralisava os membros, atrofiava os músculos de crianças deformando-as e impedindo movimentos. Numa gruta onde alguns fiéis disseram ter ocorrido um milagre, fizeram um santuário. As peregrinações eram constantes. Quando o membro afetado da criança era a perna esquerda, ofereciam moldes de cera de perna esquerda e assim era para todos os membros. Ao sair os fiéis sempre deixavam esmolas na caixa de coleta. Um dia houve uma epidemia de uma doença que fazia cair os cabelos. Passaram a oferecer os seus próprios cabelos em sacrifício que faziam cortar pela raiz e doavam ao santuário. Os sacerdotes administradores passaram a vender esses cabelos para fazer perucas e arrecadavam bom dinheiro que juntavam à cera derretida vendida para os fabricantes de moldes de cera. O santuário nem pagava imposto. Quando descobriram as vacinas para a queda do cabelo – uma doença que aqui chamamos de tifo e que se adquire em águas contaminadas – os fiéis deixaram de rezar a Deus para esse fim e passaram a tomar vacina. Quando descobriram as vacinas para a atrofia muscular, a paralisia muscular, deixaram também de rezar a Deus porque já não era necessário, mas o costume ficou e ainda hoje vão aos templos para deixar suas mechas de cabelo, suas velas – já não moldes de membros, e continuam deixando suas esmolas, desenvolvendo o comércio local.
Agora pedem a Deus pela paz mundial porque só há uma meia dúzia de doenças que ainda não têm cura. Quando tiverem, os sacerdotes temem pelo fim das hordas de fiéis. Alguns pensam que enquanto houver desgraças no mundo, as religiões estarão salvas.

Um comentarista de radio de um terceiro continente, dizia a seus ouvintes:

- Há uma queda no número de fiéis, muitos templos estão fechando. Dizem que com a diminuição das doenças, salvas por vacinas, remédios, cirurgias, melhores hospitais e rápido atendimento, os fiéis agora pedem a Deus pela paz mundial, para lhes garantir o emprego, preservar-lhes a vida de desastres ou de assaltos de meliantes, que os furacões passem bem longe (mesmo que destruindo outras cidades onde vivem outros fiéis), que os terremotos sejam em outro continente (onde vivem outros fiéis) e que os morros não desabem com a chuva, mas que se tiver que chover que chova em outro lugar. Entretanto, a maioria esmagadora dos fiéis, em enquête levantada pela radio nos últimos cinco anos demonstra que os maiores pedidos a Deus são feitos para que não chova no final de semana, que seu time de ludopédio ganhe o campeonato, e que Deus lhes dê bons governantes que não roubem as verbas públicas nem declarem guerra sem motivo. Algumas fiéis ainda pedem que Deus dê bons maridos para suas filhas, um futuro bom para os filhos e que as rugas demorem bastante a modificar-lhes o rosto.

É como se Deus tivesse feito o mundo a partir do nada deixando que suas leis evoluam fazendo-o evoluir e se tenha ausentado para cuidar de outros mundos, deixando que a humanidade aprenda a cuidar de si mesma: Unindo-se definitivamente em torno de uma vivência e sobrevivência dignas, construtivas, de modo a que um dia possam encontrar-se com Deus, que então ficará muito orgulhoso ao ver que sua obra progrediu e já O pode ver ao longo dos universos.

Deus está em toda a parte, mas tal como nossos pais, também deixa que progridamos na vida, de forma a nos tornarmos independentes. O comércio é só um modo de vida.

Rui Rodrigues

sábado, 1 de dezembro de 2012

Planeta Terra - O que é isto ?


Por vezes nos perguntamos o que fazemos por aqui, num lugar tão hostil, cheio de vulcões, terremotos, tornados, furacões, maremotos, enchentes, estiagens que geram fome, e guerras que geram mortos e fome. No dia a dia vivemos em constante luta pelo emprego, pelo salário, por uma vaga em qualquer coisa.

Teríamos vindo para este planeta como humildes anjos “do bem” (êta frase complicada esta) para mudarmos a animalidade do mundo, ou somos uns anjos do mal que viemos para destruir toda a vida diferente que possa existir ao longo do vasto Universo? Afinal, já quase destruímos a vida animal que aqui existia. Ou tudo se deve a uma deficiente interpretação deste mundo em que vivemos?

De caça, nos transformamos em caçadores. Matamos tudo o que vimos à nossa volta. Seremos realmente inteligentes, ou não passamos de uns iludidos sobre pretensa manufaturação à semelhança de Deus? A propósito, quando todas as esperanças de continuar vivendo, vendo a vida ameaçada quer por ferimentos produzidos por animais mais selvagens, por desastres, por febres desconhecidas, o “homo” da antiguidade olhava para cima, para os céus, e orava aos deuses. Um dia verificaram que Deus é zeloso de seus segredos e que teríamos de desvendá-los com muito sacrifício, mas também com muito prazer, e se descobriu a ciência, o que levou milhões de anos.  

Os arqueólogos são os primeiros a sentir o drama: Desenterram corpos dos estratos e substratos da Terra, com idades entre 12 e 20 anos desde cerca de três milhões de anos até cerca de 6.000 anos atrás. Eram poucos os que conseguiam atingir uma idade avançada, e por idade avançada devemos entender quem tinha alcançado os trinta, trinta e cinco anos. Hoje, a esperança de vida anda por volta dos oitenta anos. O primeiro sentimento que nos passa pela cabeça é a razão de vivermos esta luta, como quem quer chegar a algum lugar e tem uma missão. Tanto esforço, tanto sofrimento, têm que ter um objetivo final.

Se hoje, quem tem consciência e medita sobre estes pontos, acha que o planeta é difícil, é porque não se lembra ou não sabe o que este planeta já foi nem o que ainda virá a ser... Vamos ver? Vamos ver como não satisfeitos com a seleção natural que nos trouxe até aqui, ainda inventamos outros mecanismos de seleção artificial?


  1. Há cerca de dois milhões e quinhentos mil anos atrás – Homo Habilis
A humanidade teve um berço: No Vale do Rift que se estendia desde onde hoje se situa a Tanzânia (Olduvai), até a Etiópia (Turkana), apareceram os primeiros hominídeos. Foi num vale relativamente tranqüilo como esse, longe das grandes feras que a espécie de mamíferos que chamamos de primatas se desenvolveram. Podemos imaginar esses indivíduos, nossos ancestrais, habitando árvores, comendo frutas e folhas, os quais, quando se distraiam e caiam das árvores ou desciam desprevenidos para apanhar alguma fruta que tombava, encontravam pela frente animais como hienas, leões, chitas, que os devoravam em minutos. O problema é que o clima mudou, a comida começou a escassear, e nossos ancestrais tiveram que baixar das árvores e procurar novos territórios onde encontrar comida. Foi um problema. Morreram muitos. Morriam hominídeos todos os dias. O despertar depois de uma noite de sono agitado, de olhos entreabertos e sentidos aguçados, era sempre um pesadelo. O que lhes aconteceria nesse dia? Quem morreria? Cada indivíduo era importante no grupo porque tinham cada um a sua função, inclusivamente a de guardar o grupo e avisar se algum animal predador se aproximava. Não podemos ter certeza se sentiam sentimentos como os que temos hoje, até porque não enterravam seus mortos. Não podemos acreditar que se preocupassem muito com a vida alheia, de tão preocupados com a sua própria, exceto por aqueles que mais contribuíam para a coletividade. Faziam ferramentas rudimentares, de pedra de mão lascada, de forma a empunhá-la, o lado oposto à mão talhado em forma cortante.


Quando o clima mudou, tiveram que descer das árvores, penetrar em um mundo novo e desconhecido, não porque o desejavam fazer, mas porque se viram obrigados. Mas para enfrentar este novo mundo e ganhar a competição com as feras que os queriam depredar, seria necessário muito mais do que os dentes como arma. E assim se passaram 700.000 anos. Setecentos mil anos é um tempo muito grande para nossa escala de tempo. São gerações e gerações que cada vez mais se adaptavam às dificuldades e à necessidade de viver. Seus braços foram ficando mais curtos, o cérebro cresceu e a fronte ficou mais ampla, os maxilares se suavizaram, o dedão do pé aproximou-se dos demais dedos de forma a poder caminhar e correr melhor em pé, e um pequeno osso, o hióide apareceu na base do queixo permitindo a fala. Nossas características físicas arredondadas da infância se mantiveram ao longo do crescimento até a fase adulta. Isto prolongou o tempo de convivência com os pais que continuavam vendo no adolescente a “criança” que precisava de seus cuidados. Por um lado, prolongou o tempo de aprendizado das novas gerações, por outro, o aparecimento e evolução dos sentimentos de interdependência, amizade e amor. E quando olharam uns para os outros, jamais poderiam reconhecer os seus antepassados. Eram agora os Homo Ergaster, o primeiro da linhagem humana, que já dominava o fogo, a pedra lascada, e emitia os primeiros sons para se comunicar.

  1. Há cerca de um milhão e duzentos e cinqüenta mil anos atrás – O Homo Ergaster.
Eram agora os Homo Ergaster, o primeiro da linhagem humana, que já dominava o fogo, a pedra lascada, e emitia os primeiros sons para se comunicar. Tinha cerca de 60 quilos, altura entre 1,6 a 1,7 metros, crânio com cerca de 900 cm3, aproximadamente 74% do cérebro atual.  Viveu na terra até 150.000 anos atrás, mas não desapareceu. Evoluiu também por força da necessidade. Outras espécies desejariam evoluir também – se tivessem consciência disso – mas para evoluir cada vez mais é necessário que o cérebro também evolua. Parece haver uma “comunicação” entre a percepção do mundo que nos rodeia e a nossa “inteligência” genética, que adquire a consciência da necessidade de mudar as características e altera os genes muito vagarosamente ao longo de milênios.
Aprendeu a caçar em bando, dividindo as tarefas. Caçava enormes animais como o mamute, e competia com os tigres dente de sabre. Caçava os enormes e galhudos “Cervus megaceros” e fugia do enorme urso das cavernas “Ursus speleus” ou Urso das cavernas. Descobria também o uso da beladona, umas bagas negras, que o faziam entrar em delírio e achar que o que via em seus delírios eram comunicações com seres sobrenaturais. Talvez daí tenha surgido a primeira concepção do divino, da existência de deuses bons e deuses maus.


Catástrofes naturais, a ausência de conhecimentos sobre doenças, ataques de feras, foram fazendo estragos entre estes hominídeos, e, como reação, fazendo-os evoluir numa busca incessante pela sobrevivência. Era preciso sobreviver, mesmo que não tivessem a mínima idéia da razão. Uma razão que ultrapassa a própria razão do indivíduo e transcende para o coletivo.  

E assim se foi invadindo o planeta. Na escala do tempo um milhão de anos é muita coisa para nós, humanos...Nossa civilização começou há doze mil anos apenas. De África, invadimos a Europa, a Ásia, as Américas, a Oceania, a Lua, e estamos preparados para invadir Marte. O mundo que nos parecia grande, ficou extremamente pequeno. O Universo que cremos ser infinito ficará um dia pequeno para todos nós. Se nosso corpo não agüenta a natureza, somos capazes de inventar remédios, fazer operações cirúrgicas em nosso corpo, vestir “peles” artificiais que nos pretejam. Deus deve estar orgulhoso de como nos fizemos, dia após dia, desgraça após desgraça que nos empurrava para a extinção.


Um dia, grupos genéticos que haviam deixado a África há milhões de anos, encontravam descendentes diferentes. Eles haviam evoluído para se adaptarem ao meio em que passaram a viver por séculos. Foi assim que apareceriam o Homem de Neanderthal e o Homem de Cro-Magnon



  1. O Homo Erectus.
Um dia, grupos genéticos que haviam deixado a África, como o Homo Erectus, há milhões de anos, passaram a encontrar descendentes diferentes que já não reconheciam como da mesma espécie. Eles haviam evoluído para se adaptarem ao meio em que passaram a viver por séculos. Há cerca de 300.000 anos atrás, o Homo Erectus desapareceu. Talvez se tenha extinguido ou tenha sido absorvido por uma espécie humana mais desenvolvida, ou evoluído por si mesmo. Foram os primeiros a povoar a Ásia e a Europa. Eles mediam entre 1,30 e 1,70 m de altura, com 70 quilos e seu volume craniano tinha entre 750 e 1250 cm³ conheciam e dominavam o fogo, usavam machados de mão e faziam utensílios de madeira. O Homo Erectus estava a alguns passos de evoluir para Sapiens, mas deve ter sido com surpresa que viu vir de África levas de homens e mulheres bem diferentes e mais bem apetrechados.

4.      O Homo Sapiens aparece há cerca de 10.000 anos atrás.
Homem de Neanderthal e o Homem de Cro-Magnon apareceram na Europa. Talvez como evolução do Homo Erectus. O de Neanderthal tinha uma capacidade encefálica entre 1200 e 1700 cm³ (levemente maior que a dos humanos modernos) altura de 1,60, eram muito fortes e atarracados. Espalharam-se da Península Ibérica á Turquia, ao Oriente Médio e Irã. Cerca de 30.000 AC, desaparecem da face da Terra. Há quem diga que foram absorvidos pelo Homem de Cro-Magnon, e há quem diga que foram trucidados por estes depois de 10.000 anos de conflitos.  
O Homem de Cro-Magnon era alto: Entre 1,80 e 2,00 metros com uma capacidade cefálica entre 1.500 e 1.790 cm3, originários do Norte de África espalharam-se por toda a Europa. É a espécie mais próxima do Homo Sapiens. Moravam também em cavernas, mas denotavam um acabamento razoável em suas armas e instrumentos de pedra lascada. Usavam o chifre da rena e o marfim, fabricavam arpões. Já conheciam a agricultura. 


Ora estes somos nós, depois de um longo caminho evolutivo de cerca de três milhões de anos. Caminho tão longo talvez se explique pela rejeição política à inteligência humana. Pessoas inteligentes ainda hoje são rejeitadas por serem confundidos com “perigos políticos”, competidores, arrogantes, donos da verdade, e coisas do gênero. Os livros de história estão cheios de exemplos. Não fosse assim, e tendo começado nossa saga há três milhões de anos, poderíamos hoje já termos chegado ao outro extremo da Galáxia em que vivemos. 


Aos que ainda praticam ou são simpáticos à descriminação racial, é bom que saibam que este Homo Sapiens que dominou o mundo veio de África. A mais recente “trilha” provável refere-se a leitos de rios que cortavam o Saara e chegavam até a Líbia vindos do centro do continente africano. Daí se espalharam por toda a Terra. Isso foi à 130 a 170 mil anos atrás. Já era dotado de cérebro altamente desenvolvido, possuía raciocínio abstrato, introspecção e podia resolver problemas. Além disso, tinha consciência, racionalidade e sapiência. Há cerca de 50.000 anos atrás adquiriu a forma final que podemos reconhecer em qualquer rua ou lugar deste nosso pequeno planeta. 

Se há algo que deve deixar Deus orgulhoso de sua obra, é que, através das leis que disponibilizou para este universo, o homem se fez!... Demorou bilhões de anos, mas se fez. O próximo passo é ver quanto Deus se parece conosco. Entretanto, como se a seleção natural não fosse suficiente para selecionar os mais “aptos”, criamos nós mesmos nossos artifícios para eliminarmos os menos aptos: inventamos o dinheiro, e quem o não tem, morre. Quem compra motos, aqueles artefatos de duas rodas, está mais propenso a extinguir-se. Já não extinguimos animais selvagens, nem espécies humanas. Agora vamos extinguindo seres humanos perfeitamente capazes, mas sem dinheiro, ou que andam de moto, ou que respiram produtos poluentes largados por veículos e fábricas.


Depois que alguém fez moda dizendo que “temos que viver o hoje porque o amanhã é incerto”, esquecemos definitivamente o nosso amanhã e nos divertimos no hoje. Foi um longo caminho entre descer das árvores e voar sobre elas. Quanto mais somos inteligentes, mais inteligentes nos tornamos, e parece não haver limites para este computador que possuímos chamado cérebro. 

Rui Rodrigues

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Tempo , para leigos Quânticos como eu.




O Tempo [1], para leigos Quânticos como eu.


Nada como um grande “desastre” na vida para nos fazer refletir sobre o nosso passado, o presente e o futuro. Nessas horas de apreensão, costumamos pensar no que fizemos durante toda ela para que ocorresse o “sinistro”, o desastre em nossa vida, e pensarmos se tivéssemos agido de modo diferente, se o poderíamos ter evitado. Podemos até pensar se Deus nos castigou, se nos castigamos, ou se foi um acaso que determinou o acontecimento, o fato. Crentes e ateus pensarão de modo diferente, mas não é sobre Deus este tema.

Telmo Lunardi é um grande amigo que conheci há 37 anos atrás, na Tijuca, Rio de Janeiro. Costumávamos tomar nossos chopes nos finais de semana no condomínio onde morávamos, à beira da piscina, ou em saídas com as famílias para distrair. As duas famílias são amigas até hoje. Com minha separação matrimonial, perdi o contacto até porque vivemos em cidades diferentes e Telmo dedica boa parte de sua vida a velejar. Lá por 1996, Telmo teve um problema nos rins e precisou ser operado. Um corte dado de forma deficiente provocou um problema ainda maior e ele necessitou de uma longa recuperação. Quase que Telmo nos deixou caminhando sozinhos no tempo. Recuperou-se, e quando já estava em convalescença, caminhando devagar, empurrando uma mesinha com rodas onde se encontravam o soro pendurado, os remédios, uma bolsa para a urina que lhe saía por uma sonda, rosto meio amarelado, tivemos uma conversa inesquecível: Telmo me dizia, dentre outras coisas, que Deus sabia tudo, que o futuro estava predeterminado, e que, fizéssemos o que fizéssemos, tudo aconteceria como previamente determinado. Mesmo que Deus não existisse, era como se a vida de cada um fosse um filme a que estamos assistindo: Conhecíamos o inicio do filme, o momento atual, mas não conhecíamos o final, embora já estivesse “realizado”, e nada o pudesse alterar. Em tal situação, pedir alguma coisa a Deus, como, por exemplo, a sua própria melhora, de nada adiantaria. O futuro estava traçado.


Minha visão era completamente oposta. Sempre acreditara que poderíamos mudar alguma tendência do futuro de acordo com os nossos atos, o nosso caminhar na vida, isto é, no tempo. Hoje não tenho tanta certeza.  Albert Einstein me deixou em dúvida, mas em compensação, as alternativas são excitantes.

Quando passei no vestibular para a Universidade de exatas, em 1967, escolhi engenharia porque tinha uma enorme vontade de viabilizar enormes projetos, de difícil cálculo, modernizar o presente, e queria ganhar bons salários. Foi nessa época que comecei a me interessar por física, e, em especial, pela física quântica. Minha profissão me empurrou pela vida e só nos tempos vagos continuava lendo alguma coisa a respeito. Meus conhecimentos de matemática ficaram por ali, limitados aos da Universidade de Engenharia, e por isso meu entendimento desta Física tem os seus problemas: Falta-me conhecimento matemático para desenvolver cálculos, mas tenho uma razoável percepção. Com esta percepção, igual á de quase todos nós, três fatos sempre me intrigaram:

1-     Porque razão o tempo parece andar mais devagar quando esperamos que algo de bom, que sabemos irá acontecer aconteça realmente?(como em vésperas de uma festa, de um passeio, receber o salário, esperar que chegue sexta-feira).
2-     Como será possível viajar no tempo de forma “diferente”? (já que viajamos no tempo enquanto estamos vivos, parados ou em movimento).
3-     Porque razão, viajando nós para norte, sul, oeste, ou em qualquer direção tridimensional, o tempo sempre flui, aparentemente, numa só direção, isto é, no sentido do futuro, para frente, sem uma direção fixa?
4-     Haverá um espaço-tempo, ou um tempo que flui continuamente, ou não haverá nenhum tempo, ou, finalmente haverá vários “tempos” em “camadas” ou como vetores?

A matéria tal como a conhecemos se comporta fisicamente de dois modos: No microcosmo das partículas, o da física quântica, elétrons dão saltos quânticos, mudando de uma órbita para outra sem percorrerem o espaço entre elas; não se pode determinar a posição exata de um elétron, mas o local onde “provavelmente” está, um mundo louco do qual sabemos quase tudo e não sabemos quase nada. No macrocosmo da força de gravidade, para moléculas e massas maiores, tudo parece resolvido e determinado. Se a gravidade somente se apresenta mensurável em grandes massas – relativamente às partículas – o que dizer do tempo em relação às partículas atômicas? Estará o lugar entre as camadas de elétrons não sujeito ao tempo e espaço?  

Isto me parece fazer sentido (a mim que sou leigo) porque não havendo espaço a percorrer entre camadas de elétrons, também não existe tempo, e o elétron pode dar o seu salto quântico quando desejar ou se sentir “excitado” energeticamente, Mesmo embora sabendo que, onde não há espaço nem tempo teríamos uma singularidade, ou seja algo parecido com um buraco negro, mas a física quântica é louca, maluca e fora de nossa capacidade – ainda – de dominá-la.  

Se tivéssemos um aparelho capaz de medir o tempo decorrido entre o momento em que um neutrino começa a atravessar um átomo, fazendo-o obrigatoriamente pelo “espaço” entre camadas de elétrons, talvez se chegasse à conclusão que o tempo gasto seria de exatamente zero, com pelo menos quinze ou vinte casas decimais.

Nossos telescópios são cada dia mais potentes. Vêem estrelas e planetas como eram até há bilhões de anos, e um dia chegarão até o momento em que nosso universo tinha cerca de 300.000 anos e aí irão parar porque nessa oportunidade o universo não era transparente e a luz ainda não existia. Se tivéssemos telescópios ainda mais potentes poderíamos ver o que acontece na superfície dos planetas e estrelas que estão a apenas alguns milhares de anos-luz, e se neles houver vida, o que estiver acontecendo por lá – naquele tempo – e se tivéssemos naves que viajassem acima da velocidade da luz, poderíamos ir lá, intervir na evolução a fim de preparar uma ocupação futura e voltar a tempo de assistir ao ultimo documentário na International Geographic. Era disso que meu amigo precisaria quando foi operado. Não creio que isso seja possível, porque a velocidade da luz não pode ser ultrapassada, mas para quem acredita, já poderiam ter feito isso com nosso planeta.

Ao nível de partículas, o entrelaçamento quântico (quando duas partículas se aproximam e ficam “dependentes” uma da outra mesmo que depois sejam afastadas a longas distâncias), permitiria o “teletransporte”, e já se fazem experiências nas ilhas espanholas de La Palma e Tenerife. Extrapolando, uma partícula poderia ter sido deixada em Alpha de Centauri e sua entrelaçada viajado até nós, depois de quatro anos de viagem.  Se um dia se puder fazer isto com equipamentos humanos, ou com pessoas, nos permitiria fazer o caminho inverso de forma instantânea través de teletransporte quântico. .


O problema é que ao se criar uma “cópia” real, idêntica, o original se destrói. Há vertentes filosóficas a respeito, tema que já se discute desde as discussões entre Albert Einstein e Niels Bohr, e que podem levar a uma revisão das leis da física, ou ao seu desenvolvimento em mais um grande passo da ciência.  Mas repare-se que, ao se destruir o original, isto é como a nossa morte. Morremos, mas a nossa outra parte continua viva no tempo. É a esta segunda parte nossa que chamamos de alma, e que não julgamos ser material porque ainda não a identificamos nem medimos (como o gato de Schrödinger)?
Curiosamente, a grande questão que ainda persiste, tal como no tempo de Einstein e de Bohr, em 1935, é que ao medirmos uma partícula, ao analisá-la, ela se comportaria como se tivesse “vontade” e quebraria o encanto. Em outras palavras, só haveria uma forma de  saber se temos alma: Seria ir até onde ela provavelmente estaria, mas ao fazermos isso, e então voltarmos, poderíamos encontrar o morto, absolutamente vivo ou seu cadáver destruído como se nunca tivesse existido...


Física Quântica e tempo são coisas para loucos, mas funcionam perfeitamente e as interpretamos corretamente com as equações que já possuímos.

Rui Rodrigues.