Por vezes nos perguntamos o
que fazemos por aqui, num lugar tão hostil, cheio de vulcões, terremotos,
tornados, furacões, maremotos, enchentes, estiagens que geram fome, e guerras
que geram mortos e fome. No dia a dia vivemos em constante luta pelo emprego,
pelo salário, por uma vaga em qualquer coisa.
De caça, nos transformamos
em caçadores. Matamos tudo o que vimos à nossa volta. Seremos realmente
inteligentes, ou não passamos de uns iludidos sobre pretensa manufaturação à
semelhança de Deus? A propósito, quando todas as esperanças de continuar
vivendo, vendo a vida ameaçada quer por ferimentos produzidos por animais mais
selvagens, por desastres, por febres desconhecidas, o “homo” da antiguidade
olhava para cima, para os céus, e orava aos deuses. Um dia verificaram que Deus
é zeloso de seus segredos e que teríamos de desvendá-los com muito sacrifício,
mas também com muito prazer, e se descobriu a ciência, o que levou milhões de
anos.
Os arqueólogos são os primeiros
a sentir o drama: Desenterram corpos dos estratos e substratos da Terra, com
idades entre 12 e 20 anos desde cerca de três milhões de anos até cerca de
6.000 anos atrás. Eram poucos os que conseguiam atingir uma idade avançada, e por
idade avançada devemos entender quem tinha alcançado os trinta, trinta e cinco
anos. Hoje, a esperança de vida anda por volta dos oitenta anos. O primeiro
sentimento que nos passa pela cabeça é a razão de vivermos esta luta, como quem
quer chegar a algum lugar e tem uma missão. Tanto esforço, tanto sofrimento, têm
que ter um objetivo final.
Se hoje, quem tem
consciência e medita sobre estes pontos, acha que o planeta é difícil, é porque
não se lembra ou não sabe o que este planeta já foi nem o que ainda virá a ser...
Vamos ver? Vamos ver como não satisfeitos com a seleção natural que nos trouxe
até aqui, ainda inventamos outros mecanismos de seleção artificial?
- Há cerca
de dois milhões e quinhentos mil anos atrás – Homo Habilis
A humanidade teve um berço: No
Vale do Rift que se estendia desde onde hoje se situa a Tanzânia (Olduvai), até
a Etiópia (Turkana), apareceram os primeiros hominídeos. Foi num vale
relativamente tranqüilo como esse, longe das grandes feras que a espécie de
mamíferos que chamamos de primatas se desenvolveram. Podemos imaginar esses
indivíduos, nossos ancestrais, habitando árvores, comendo frutas e folhas, os
quais, quando se distraiam e caiam das árvores ou desciam desprevenidos para
apanhar alguma fruta que tombava, encontravam pela frente animais como hienas,
leões, chitas, que os devoravam em minutos. O problema é que o clima mudou, a
comida começou a escassear, e nossos ancestrais tiveram que baixar das árvores
e procurar novos territórios onde encontrar comida. Foi um problema. Morreram
muitos. Morriam hominídeos todos os dias. O despertar depois de uma noite de
sono agitado, de olhos entreabertos e sentidos aguçados, era sempre um
pesadelo. O que lhes aconteceria nesse dia? Quem morreria? Cada indivíduo era
importante no grupo porque tinham cada um a sua função, inclusivamente a de
guardar o grupo e avisar se algum animal predador se aproximava. Não podemos
ter certeza se sentiam sentimentos como os que temos hoje, até porque não
enterravam seus mortos. Não podemos acreditar que se preocupassem muito com a
vida alheia, de tão preocupados com a sua própria, exceto por aqueles que mais
contribuíam para a coletividade. Faziam ferramentas rudimentares, de pedra de
mão lascada, de forma a empunhá-la, o lado oposto à mão talhado em forma
cortante.
Quando o clima mudou, tiveram que descer das árvores, penetrar em um mundo novo e desconhecido, não porque o desejavam fazer, mas porque se viram obrigados. Mas para enfrentar este novo mundo e ganhar a competição com as feras que os queriam depredar, seria necessário muito mais do que os dentes como arma. E assim se passaram 700.000 anos. Setecentos mil anos é um tempo muito grande para nossa escala de tempo. São gerações e gerações que cada vez mais se adaptavam às dificuldades e à necessidade de viver. Seus braços foram ficando mais curtos, o cérebro cresceu e a fronte ficou mais ampla, os maxilares se suavizaram, o dedão do pé aproximou-se dos demais dedos de forma a poder caminhar e correr melhor em pé, e um pequeno osso, o hióide apareceu na base do queixo permitindo a fala. Nossas características físicas arredondadas da infância se mantiveram ao longo do crescimento até a fase adulta. Isto prolongou o tempo de convivência com os pais que continuavam vendo no adolescente a “criança” que precisava de seus cuidados. Por um lado, prolongou o tempo de aprendizado das novas gerações, por outro, o aparecimento e evolução dos sentimentos de interdependência, amizade e amor. E quando olharam uns para os outros, jamais poderiam reconhecer os seus antepassados. Eram agora os Homo Ergaster, o primeiro da linhagem humana, que já dominava o fogo, a pedra lascada, e emitia os primeiros sons para se comunicar.
- Há
cerca de um milhão e duzentos e cinqüenta mil anos atrás – O Homo Ergaster.
Eram agora os Homo Ergaster,
o primeiro da linhagem humana, que já dominava o fogo, a pedra lascada, e
emitia os primeiros sons para se comunicar. Tinha cerca de 60 quilos, altura entre 1,6 a 1,7 metros,
crânio com cerca de 900 cm3, aproximadamente 74% do cérebro atual. Viveu na terra até 150.000 anos atrás, mas
não desapareceu. Evoluiu também por força da necessidade. Outras espécies
desejariam evoluir também – se tivessem consciência disso – mas para evoluir
cada vez mais é necessário que o cérebro também evolua. Parece haver uma “comunicação”
entre a percepção do mundo que nos rodeia e a nossa “inteligência” genética,
que adquire a consciência da necessidade de mudar as características e altera
os genes muito vagarosamente ao longo de milênios.
Aprendeu a caçar em bando, dividindo as
tarefas. Caçava enormes animais como o mamute, e competia com os tigres dente
de sabre. Caçava os enormes e galhudos “Cervus megaceros” e fugia do enorme urso das cavernas “Ursus
speleus” ou Urso das cavernas. Descobria também o uso da beladona, umas bagas negras, que o faziam
entrar em delírio e achar que o que via em seus delírios eram comunicações com
seres sobrenaturais. Talvez daí tenha surgido a primeira concepção do divino,
da existência de deuses bons e deuses maus.
E assim se foi
invadindo o planeta. Na escala do tempo um milhão de anos é muita coisa para
nós, humanos...Nossa civilização começou há doze mil anos apenas. De África,
invadimos a Europa, a Ásia, as Américas, a Oceania, a Lua, e estamos preparados
para invadir Marte. O mundo que nos parecia grande, ficou extremamente pequeno.
O Universo que cremos ser infinito ficará um dia pequeno para todos nós. Se
nosso corpo não agüenta a natureza, somos capazes de inventar remédios, fazer
operações cirúrgicas em nosso corpo, vestir “peles” artificiais que nos
pretejam. Deus deve estar orgulhoso de como nos fizemos, dia após dia, desgraça
após desgraça que nos empurrava para a extinção.
Um dia, grupos genéticos que haviam deixado a África há milhões de anos, encontravam descendentes diferentes. Eles haviam evoluído para se adaptarem ao meio em que passaram a viver por séculos. Foi assim que apareceriam o Homem de Neanderthal e o Homem de Cro-Magnon
Um dia, grupos genéticos que haviam deixado a África há milhões de anos, encontravam descendentes diferentes. Eles haviam evoluído para se adaptarem ao meio em que passaram a viver por séculos. Foi assim que apareceriam o Homem de Neanderthal e o Homem de Cro-Magnon
- O Homo Erectus.
Um dia, grupos
genéticos que haviam deixado a África, como o Homo Erectus, há milhões de anos,
passaram a encontrar descendentes diferentes que já não reconheciam como da
mesma espécie. Eles haviam evoluído para se adaptarem ao meio em que passaram a
viver por séculos. Há cerca de 300.000 anos atrás, o Homo Erectus desapareceu.
Talvez se tenha extinguido ou tenha sido absorvido por uma espécie humana mais
desenvolvida, ou evoluído por si mesmo. Foram os primeiros a povoar a Ásia e a
Europa. Eles mediam entre 1,30 e 1,70 m de altura, com 70 quilos e seu volume craniano tinha entre 750
e 1250 cm³ conheciam e dominavam o fogo, usavam machados de mão e faziam
utensílios de madeira. O Homo Erectus estava a alguns passos de evoluir para
Sapiens, mas deve ter sido com surpresa que viu vir de África levas de homens e
mulheres bem diferentes e mais bem apetrechados.
4.
O Homo Sapiens aparece há cerca de
10.000 anos atrás.
O Homem
de Cro-Magnon era alto: Entre 1,80 e 2,00 metros com uma capacidade cefálica
entre 1.500 e 1.790 cm3, originários do Norte de África espalharam-se por toda
a Europa. É a espécie mais próxima do Homo Sapiens. Moravam também em cavernas,
mas denotavam um acabamento razoável em suas armas e instrumentos de pedra
lascada. Usavam o chifre da rena e o marfim, fabricavam arpões. Já conheciam a agricultura.
Ora estes somos nós, depois de um longo caminho evolutivo de cerca de três milhões de anos. Caminho tão longo talvez se explique pela rejeição política à inteligência humana. Pessoas inteligentes ainda hoje são rejeitadas por serem confundidos com “perigos políticos”, competidores, arrogantes, donos da verdade, e coisas do gênero. Os livros de história estão cheios de exemplos. Não fosse assim, e tendo começado nossa saga há três milhões de anos, poderíamos hoje já termos chegado ao outro extremo da Galáxia em que vivemos.
Aos que ainda praticam ou são simpáticos à descriminação racial, é bom que saibam que este Homo Sapiens que dominou o mundo veio de África. A mais recente “trilha” provável refere-se a leitos de rios que cortavam o Saara e chegavam até a Líbia vindos do centro do continente africano. Daí se espalharam por toda a Terra. Isso foi à 130 a 170 mil anos atrás. Já era dotado de cérebro altamente desenvolvido, possuía raciocínio abstrato, introspecção e podia resolver problemas. Além disso, tinha consciência, racionalidade e sapiência. Há cerca de 50.000 anos atrás adquiriu a forma final que podemos reconhecer em qualquer rua ou lugar deste nosso pequeno planeta.
Ora estes somos nós, depois de um longo caminho evolutivo de cerca de três milhões de anos. Caminho tão longo talvez se explique pela rejeição política à inteligência humana. Pessoas inteligentes ainda hoje são rejeitadas por serem confundidos com “perigos políticos”, competidores, arrogantes, donos da verdade, e coisas do gênero. Os livros de história estão cheios de exemplos. Não fosse assim, e tendo começado nossa saga há três milhões de anos, poderíamos hoje já termos chegado ao outro extremo da Galáxia em que vivemos.
Aos que ainda praticam ou são simpáticos à descriminação racial, é bom que saibam que este Homo Sapiens que dominou o mundo veio de África. A mais recente “trilha” provável refere-se a leitos de rios que cortavam o Saara e chegavam até a Líbia vindos do centro do continente africano. Daí se espalharam por toda a Terra. Isso foi à 130 a 170 mil anos atrás. Já era dotado de cérebro altamente desenvolvido, possuía raciocínio abstrato, introspecção e podia resolver problemas. Além disso, tinha consciência, racionalidade e sapiência. Há cerca de 50.000 anos atrás adquiriu a forma final que podemos reconhecer em qualquer rua ou lugar deste nosso pequeno planeta.
Se há
algo que deve deixar Deus orgulhoso de sua obra, é que, através das leis que
disponibilizou para este universo, o homem se fez!... Demorou bilhões de anos,
mas se fez. O próximo passo é ver quanto Deus se parece conosco. Entretanto,
como se a seleção natural não fosse suficiente para selecionar os mais “aptos”,
criamos nós mesmos nossos artifícios para eliminarmos os menos aptos: inventamos
o dinheiro, e quem o não tem, morre. Quem compra motos, aqueles artefatos de
duas rodas, está mais propenso a extinguir-se. Já não extinguimos animais
selvagens, nem espécies humanas. Agora vamos extinguindo seres humanos
perfeitamente capazes, mas sem dinheiro, ou que andam de moto, ou que respiram
produtos poluentes largados por veículos e fábricas.
Depois que alguém fez moda dizendo que “temos que viver o hoje porque o amanhã é incerto”, esquecemos definitivamente o nosso amanhã e nos divertimos no hoje. Foi um longo caminho entre descer das árvores e voar sobre elas. Quanto mais somos inteligentes, mais inteligentes nos tornamos, e parece não haver limites para este computador que possuímos chamado cérebro.
Rui Rodrigues
Depois que alguém fez moda dizendo que “temos que viver o hoje porque o amanhã é incerto”, esquecemos definitivamente o nosso amanhã e nos divertimos no hoje. Foi um longo caminho entre descer das árvores e voar sobre elas. Quanto mais somos inteligentes, mais inteligentes nos tornamos, e parece não haver limites para este computador que possuímos chamado cérebro.
Rui Rodrigues
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