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quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Feliz Natal - Adeus Primavera.



Feliz Natal - Adeus Primavera.

Se o (a) leitor não gostar de ler sobre coisas tristes,
Melhor não ler este texto.

Tínhamos combinado passar o Natal juntos, um pequeno e restrito grupo de amigos que não chegávamos a meia dúzia. Seríamos exatamente cinco e meio, porque o mais jovem de nós é uma menina muito simpática, que ainda vai completar três anos. Dia 19 de dezembro, veio a notícia: Um amigo, que ia passar a noite de Natal conosco, havia se suicidado. Justamente no final da Primavera. Dificilmente deixaremos de falar sobre o assunto neste natal. Será mais triste. Mas não me lembro de Natal alegre em toda a minha vida! Nem um!

Quando era garoto, até meus quatro anos de idade, não tinha muita noção das coisas. O Natal era uma festa como outra qualquer, muito parecida com os meus aniversários em que também ganhava presentes. A parte triste da festa é que, embora ouvisse essa referência muito raramente – parecia que as pessoas evitavam falar nisso – comemorava-se o nascimento de uma criança, tal como eu, morta meses mais tarde, pela altura da Páscoa. Naquela época ainda não tinha percebido que se comemorava toda uma vida compactada em apenas um ano. Páscoa era outra festa, mas esta, referia-se à morte dessa tal criança chamada Jesus. Era uma história muito triste, mas ao longo de minha vida assistiria a histórias tanto, ou até muito mais tristes, como a história de Anne Frank, dos perseguidos pela Inquisição, dos torturados pelas ditaduras ao longo dos séculos. Para quem não sabe, colocavam os perseguidos pela religião dentro de uma armadura de ferro com pregos pela parte interior. Quando fechavam a porta da armadura – era dividida em duas partes com dobradiças - os espinhos já penetravam na carne. Depois, enquanto os perseguidos não confessassem o que os inquisidores queriam, colocavam um braseiro por debaixo da armadura, que ia assando o perseguido ou a perseguida. Se a qualquer momento confessasse, mandavam assim mesmo, todos sujos porque não os levavam para fazer as necessidades, para fogueiras que acendiam em praças públicas, para intimidar os outros cidadãos. Estes aderiam à religião por medo, e quando a Inquisição acabou, os sacerdotes soltaram os demônios do inferno deles e os largaram sobre os cidadãos para que se amedrontassem. Nunca vi nenhum demônio em toda a minha vida, e nem vou ver. Acredito em Deus, mas num Deus inteligente que não cria anjos ruins. Se os tivesse criado, os destruiria. Colocar demônios poderosos para atarantar a vida das pessoas seria sinal de um péssimo distúrbio mental de Deus, e uma demonstração de que seria sádico, porque os fracos seres humanos não teriam como evitar o poder dos demônios. Deus é muito mais inteligente do que os sacerdotes herdeiros daqueles que mandavam para a fogueira.


Nosso amigo suicidou-se. Para ele o mundo deixou de existir e certamente já não pensa no que comprar e levar para a ceia de Natal. Aliás, não pensará em nada. Estará agora no Xeol (Xéo, céu), mas não sabemos como é o Xeol, nem onde fica, nem como será. Quem anda por lá nunca veio a público dizer-nos como é para que possamos entender, e Deus, esse nunca nos expôs sobre o assunto. Andaram dizendo que se expressava através de “inspiração divina”, e que o chefe das igrejas era infalível, mas foram esses mesmos que mandaram gente para a fogueira e disseram que tudo girava em torno da Terra – e não do Sol – e inspiraram lutas imensas e terríveis a que deram o nome de Cruzadas para que todos pensassem da mesma forma sobre Deus. E sempre arrecadando verbas de óbolos, esmolas, doações, contribuições, e disseram que os reis eram descendentes dos deuses... Ora vejam, quanta mentira infalível... Até me lembra quando chegava o Natal e diziam que era o Pai Natal, o Papai Noel que me mandava presentes. E quando eu não queria tomar sopa no inverno, diziam que iam chamar o "bicho papão" para me comer ou para comer a minha sopa e que eu sentiria fome... Quanta mentira banha a credulidade popular, porque não conseguem ver Deus como o amigo – ou amiga, porque não tem sexo por não ter sido gerada – e que nem corpo deve ter. Creio que nenhum povo entendeu melhor o que é Deus, do que o povo judeu: Não lhe atribuiu corpo ou imagem. Mas depois vieram aqueles que não entendiam de Deus e fundaram uma igreja em que Deus copulava com humanas – vendo Deus como um ser masculino – mas que logo O esqueceram, adotando como Deus um ser humano que foi morto e morto ficou para sempre porque nunca, nunca mais, apareceu. Porque se teria escondido, como que negando a sua vinda, ou tornando-a sem sentido? Só o povo daquela época teria merecido vê-lo? Deus é para todos. Deveria ter permanecido, e não seria numa água benta que residiria seu espírito, nem numa pequena fatia de massa feita folha de papel que sacerdotes, alguns que até praticaram pedofilia, benzeram com um passe de mágica de mãos passando por cima dessas folhas de massa em gesto de cruz. Mágicos também fazem gestos e fazem sumir as coisas que logo voltam a aparecer. Alguns desses sacerdotes dizem que encaminham o espírito dos mortos para Deus com a extrema-unção. Mágica fantástica essa... Costumam cobrar pelos serviços, ou humildemente aceitar donativos. Os sacerdotes de Osíris e Hórus faziam o mesmo no antigo Egito, e em Roma as Vestais, e em Atenas não era diferente. Costumes que dão lucro e passam de geração em geração.
E lá se foi o nosso amigo... Ele se preocupava com o planeta, aproveitando todas as sobras de cozinha para cultivar minhocas e prover de boa terra com húmus quem tinha pequenas hortas e jardins particulares na região do Peró. Calmo, tranqüilo, viu muitos crepúsculos rosados levantando-se sobre o mar enquanto o Sol se debruçava para dormir no ocaso e os pescadores encostavam seus barcos na praia para descarregar peixe. Viu muitas auroras em outros tons de rosado no mesmo lugar, com ondas mansas ou ondas revoltas, o Sol nascendo no horizonte sobre o mar, perto de uma ponta de terra que sempre enfrenta o mar perto de Búzios, lá bem ao longe, que quando há nevoeiro nem se vê. É quando os pescadores saem em seus barcos, proa ao mar, em busca de peixe para o sustento da família. Se senador não paga impostos, e ainda recebe quinze salários trabalhando apenas de terça a quinta feira, pescador com muito mais razão não deveria pagar impostos.
Este Natal vai ser triste, tão triste, que resolvemos dispensar da morte um peru que não será consumido e, portanto, viverá em paz. Os perus deveriam viver em liberdade na natureza para alimentar, em caso de extrema necessidade, quem tiver fome. Comeremos apenas bacalhau que duvidamos seja bacalhau de verdade, porque nos enganam muito neste nosso planeta. Há pelo menos oito anos que a pesca do bacalhau está restrita na União Européia porque a pesca intensiva estava reduzindo o seu tamanho de forma tão drástica que corria perigo de extinção. Como pode então haver tanto bacalhau disponível no mercado? Mas não aparece ninguém mostrando a guia de importação desses bacalhaus, para sabermos que é realmente bacalhau e não pescada salgada.
O amigo, lá no Xeol, bem que podia, pelo menos num instante, ver por uma janela no espaço tempo, um portal, o brinde que lhe faremos em sua homenagem como grande cidadão. Não freqüentava culto, mas tinha todo o respeito pela natureza e pelos demais seres humanos. Esse sim, um filho de Deus.

Pena que para a humanidade seja como se ele nunca tivesse existido porque não saía em jornais, não tinha programa em TV, não era cantor de radio, não roubava no senado disfarçado de gente fina, gente do bem. E tal como há mais de sessenta anos, ninguém fala no menino que foi perseguido e morto. O espírito de Natal está dentro de caixas de presente, de vapores alcoólicos, de férias do congresso onde pretendiam votar 3.000 vetos à presidência num só dia para ganharem mais uns trocados dos royalties do petróleo. O Natal é um imenso parque de comércio religioso - será mesmo? - ao redor do mundo... 

Mentem-nos muito!

Rui Rodrigues   


terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Contratos - No âmbito da administração pública


Contratos - No âmbito da administração pública

Pedimos antecipadas desculpas, mas neste artigo não couberam as fotos de todos nem de todAs, porque são exageradamente muitos e muitAs  ...

Todos os dias, em cada compra que fazemos, pagamos impostos. Anualmente temos que pagar impostos adicionais à Prefeitura, aos departamentos de trânsito e ao leão, o famigerado Imposto de Renda. Nosso governo é uma máquina perfeita de recolher impostos. Se fosse assim, tão eficiente com a administração pública, certamente nada teríamos a reclamar.  Mas o que se vê não é assim. E o que não se vê, também: Não vemos a aplicação dos nossos impostos como se vê na Europa, no Japão, nos EUA – Já foram à Lua e nós estamos na Lua... Ganham prêmios Nobel adoidado porque têm centros de pesquisa e universidades bem instaladas com ótimos professores; Têm órgãos públicos eficientes... Têm tanta coisa que não percebemos como conseguem gastar tão pouco para fazerem tanta coisa, se nós não conseguimos fazer coisa nenhuma com tanta gastança de impostos. O que está errado já sabemos e se descobrem novos casos dia a dia.  

  1. Aos engenheiros, advogados de contratos.
Contratos estabelecem todas as condições de prestação de seu objetivo e as responsabilidades das partes envolvidas.  Quando um contrato não prevê situações que podem ocorrer durante sua vigência, foi mal elaborado. Está errado por incompetência de quem o elaborou ou de quem instruiu a sua elaboração, e produzirá corrupção que se efetivará a curto, médio ou longo prazo. Aos engenheiros ou advogados de contratos, um recado: Façam o seu trabalho como deve ser feito, e se lhes pedirem ou exigirem para “não colocar aquela cláusula” ou “colocar aquela cláusula”, tirar ou pôr um sinal gráfico, denunciem ou peçam demissão. Nada se esconde, e muito menos a incompetência. Nos tempos atuais, nem as maracutaias dos grandalhões se podem esconder. Não sejam instrumentos da ambição de outros em troco de “reconhecimento”, de um aumento de salário ou de participação na maracutaia. Elaborem um “diário” onde deixem tudo registrado, juntando documentação, e escondam-no em lugar seguro (em sua casa, os “amigos” podem procurar por ele e encontrá-lo). Esse diário poderá salvar a sua honra no futuro. Se tiver algum diploma de curso específico, não o empreste a “amigos”: Podem tirar uma cópia, substituir o nome deles pelo seu e se esse diploma tiver uma “marca específica”, anotada em diário, poderá ser denunciado a qualquer momento como falso.



Cooperar com a corrupção é como ter uma guilhotina sobre a cabeça, que pode e vai descer a qualquer momento! Não faça da corrupção uma arma: a vítima pode – e vai - ser você!


  1. Aos ministros de Órgãos Públicos e chefes de setores que contratam.
Políticos são eleitos popularmente. O povo elege acreditando na sapiência de seus eleitos. Costumam votar em cidadãos do povo, acreditando que os podem representar melhor por “entenderem” as suas necessidades. Candidatos a eleições são geralmente populistas, porque se elegem pela quantidade de votos, e para se ter uma quantidade razoável de votos têm que ser populistas. É um preço a pagar pela democracia. Como em outros países que conhecemos o nível de educação é mais elevado, é raro elegerem quem não tenha diploma que não seja comprado pelas esquinas, ou que não o tenha. Mas o que entende um político desses dos que elegemos por aqui, a respeito de contratos, de matemática financeira, de administração de recursos humanos, de técnicas de engenharia ou de medicina, de balanços e gestão financeira? Geralmente não entendem absolutamente nada de raiz, e agem como robôs, assim como certos “palhaços” que decoram o seu papel, ou até a assinatura, mas no fundo estão sempre com medo de serem enganados. Ficam ao sabor de seus “assistentes”. Cercam-se de “gente de confiança”, mas nunca sabem o alcance total do “conselho”, nem sua qualidade. Fazem o que lhes manda os que o colocaram no posto, ou o que a “base aliada” lhes permite. Dentro da permissividade que se instala, todos sentem o cheiro da carniça, e contratados, contratantes, assessores, assessorados, terceiros e terceirizados, todos levam o seu quinhão por debaixo do pano. Os rabos ficam presos de forma tácita, explícita ou não.
Antigamente os ministérios funcionavam a “portas fechadas” e o que se fazia por lá era apenas da conta dos órgãos envolvidos. Hoje não. Há muita gente boa, experts, fora dos órgãos públicos que entendem mais do ramo e dos “negócios” que os ministros, os chefes, os mandantes e os corrompidos. É uma questão de tempo serem descobertos por denúncias a jornais, à Polícia Federal. Até as simples propinas pagas em prefeituras para aprovação de projetos são hoje denunciadas. As batatas da corrupção estão assando no forno e em poucos dias estarão disponíveis para consumo.

  1. O uso dos cidadãos pela máquina do Estado

Quando a máquina de estado é corrupta, já é sintomático quando se concorre a cargo público. Ninguém o faz para “moralizar” a máquina corrupta, mas para fazer parte da distribuição de segredos, de lucros extra-salariais. Basta ver quantas denúncias partiram de dentro do governo nos últimos cem anos. Dizer que ninguém que concorra seja honesto, seria uma falsidade, mas é patente que a corrupção está à solta e não se escutam denúncias dos que assistem a essa corrupção e com ela convivem, quer como “inocentes úteis”, quer como participantes ativos de forma explícita ou “entendível”, compreensível, implícita...
Cargos geralmente têm suplentes, vices, postos que servem para ocupar o lugar de alguém que venha a ter necessidade de ser substituído. Para o político, não existem amizades como as conhecemos em família, ou numa roda de amigos de longa data. Alguém tem que assumir os “erros” e a autoria de fatos denunciados, e quem “paga o pato” pode até muito bem ser o mordomo, a secretária, o arquivista, a gerente geral da higiene funcional...  Alguns políticos até mandam matar segundo seus interesses. A vaidade e a ambição humanas causam este tipo de simbiose que corrói as verbas públicas e deixam o país num estado ilusório de que é a sexta economia do mundo, mas com a pobreza espalhada por toda a corte, a ignorância verificada e constatada em exames de avaliação de médicos formados, advogados formados, e até a presidenta se “enganou” fazendo constar em seu currículo que tinha mestrado de economia, quando até se duvida da autenticidade de seu diploma, que mesmo autêntico, ainda deixa dúvidas: Pode uma guerrilheira fugitiva assistir ativamente às aulas, sentar em bancos de turma para fazer as provas, vivendo-se em regime de ditadura com a DOPS nos calcanhares de todos os simpatizantes de “esquerda”?
A Polícia Federal e o Supremo Tribunal Federal têm dado mostras da lisura de princípios com que têm atuado na coleta de provas e julgamento de ações penais correlacionadas com a corrupção. Afinal, são dois órgãos, dois baluartes da integridade nacional. Junto com a OAB, parecem ser os únicos, porque até mesmo o Tribunal de Contas da União não tem conseguido descobrir as maracutaias, exceto quando já estão grafadas e fotografadas em jornais, e são coisas públicas. Parece que este Tribunal, mais justamente seria denominado Tribunal de Pequenas Contas da União: O que descobre é sempre coisa pequena, quase sem importância.

O Brasil está no caminho certo para a moralização da máquina de governar desta linda, bela, ativa, inteligente nação.

A transparência é uma exigência nacional, e a escolha de assessores, ministros, conselheiros, e toda a parafernália de cargos públicos deve obedecer a critérios bem definidos que ainda não existem. Não existe uma cartilha sobre a elegibilidade do funcionalismo público, e a documentação apresentada pelos candidatos deve ser submetida a fiscalização obrigatória para que não haja no meio gente desqualificada com diplomas falsificados.

Urge a moralização do Estado Nacional para que não se olhe para cada funcionário público como um corrupto em potencial e se verifique mais tarde que era um olhar perfeitamente adequado.  

Rui Rodrigues

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Veja o seu destino.


Veja o seu destino.


A nossa vida consciente é cheia de incógnitas e de curiosidades e qualquer analogia de suas características com a física quântica não seria mera especulação.  Há quem diga que nosso destino está traçado e quem diga que podemos traçá-lo de forma consciente de forma a atingirmos um ou vários objetivos na vida. Outros dizem ainda que vamos desenhando o nosso destino a cada passo que damos, mesmo sem termos consciência de que queremos atingir algum objetivo. Talvez todos tenham razão.

  1. Os vários caminhos de Feynman (Figura 1)
Feynman - Richard Feynman - dedicou sua vida ao estudo da Física Quântica, foi merecedor de um prêmio Nobel em 1965. Descobriu que partículas, em sua trajetória de um ponto A até um ponto B, se movem segundo uma “onda de probabilidades”, podendo estar em qualquer lugar conforme figura 1. A cada possibilidade chamou de “história” mas há um detalhe: Se imaginarmos que num determinado instante a pudéssemos localizar exatamente, poderíamos marcar sua posição num gráfico. Se, porém, pudéssemos voltar no tempo e repetir – exatamente – a experiência e no mesmo instante pudéssemos voltar a medir a sua posição, muito provavelmente estaria em posição diferente (dentro da tal onda de probabilidades). Isto é tão certo, que muitas das teorias – que já poderiam ter sido chamadas de leis - são utilizadas até hoje demonstrando a sua veracidade e eficácia.

Imaginemos que acreditamos na existência de uma alma pessoal e intransferível, que nos move o corpo, segundo decisões tomadas num computador a que chamamos cérebro. A título de referência, andaram fazendo experiências com pessoas à beira da morte, pesando-as instantes antes de falecerem e logo após o óbito, quando a “alma” abandona o corpo. A diferença de peso representou aproximadamente 23 gramas. Independentemente da credibilidade desta medição, é crença geral que a alma não tem peso, seria apenas energia. Então, para ir de um ponto A até um ponto B, nossa alma poderia tomar vários caminhos, e, se não houvesse interferências, poderia chegar lá em mais ou menos tempo dependendo do caminho que tomasse. Como está presa, amarrada ao corpo, irá muito mais devagar e, salvo engano ou necessidade, escolherá o caminho que lhe parecer mais curto, consumindo menos tempo em seu percurso. Os pontos A e B são aleatórios para cada decisão tomada na vida. Se quiséssemos definir o percurso desde o nascimento (ponto A) até a morte (ponto B), ser-nos-ia impossível pelo simples fato de que vivemos num mundo com “múltiplas” histórias de múltiplos corpos vivos que nos cercam, de múltiplas histórias da natureza que de vez em quando parece enfurecida e se mostra hostil através de desastres naturais, o próprio Sol nos envia tempestades solares que fazem os seus estragos, e nunca podemos negligenciar os raios cósmicos, os raios de tempestades elétricas, meteoros que caem sobre o planeta. Nem bêbados ao volante que nos podem interromper a nossa pacata viagem.

Com um pouco de boa vontade e de imaginação, poderíamos ir ainda mais além e imaginar uma parte da “alma” adiantando-se ao corpo para “ver” o que nos espera lá no ponto B, quer este ponto seja um ponto comum do dia a dia, como por exemplo, o escritório ou o posto de trabalho para onde nos deslocamos, ou o momento da “passagem” desta para a outra vida. Com um pouco mais de imaginação, e em referência à possibilidade de viagens de teletransporte, numa primeira fase se transferiria a alma e só depois se transportaria o corpo. Provisoriamente, a alma poderia habitar um “chip” de uma máquina cibernética. Não fosse nossa imaginação, ainda hoje estaríamos cortando pedaços de lascas de pedra para fazermos machados de mão ou flechas, e viveríamos em tribos em alguma caverna onde continuaríamos a proteger-nos dos animais ainda mais selvagens do que nós próprios, se é que isso é possível... Mas nem só Feynman descobriu essa coisa incrível de algo não estar exatamente num lugar, mas numa “onda” de probabilidades. Um sujeito chamado Schrödinger descobriu algo ainda mais incrível.

  1. O gato de Schrödinger
Erwin Schrödinger foi laureado com o prêmio Nobel de Física em 1933 e até hoje ninguém contestou suas equações, e está provado que elas funcionam pra valer. Também se de dedicou à Física Quântica e ficou famoso por causa de um gato imaginário que colocou numa caixa imaginária com um dispositivo movido ao acaso da emissão de uma partícula. Se a partícula aparecesse acionava um martelo que quebrava uma fina ampola de veneno fortíssimo que mataria o gato. A probabilidade de a partícula aparecer seria de 50%. Se a partícula não aparecesse, o gato continuaria vivo. Ou seja, sempre que abríssemos a caixa para ver se o gato estava vivo ou morto, umas vezes estaria realmente vivo, outras morto. Até aqui todos podemos entender a física quântica. O problema começa a complicar quando Schrödinger descobriu que o gato tanto podia estar vivo como morto, e aqui a maioria de quem tenta entender a física quântica se perde. Um gato ou está vivo ou está morto. Pode até estar meio vivo, meio morto, mas enquanto não morrer, está vivo, e depois de morto não vive mais.

No fundo, o que Schrödinger quis dizer é que existe um fator que complica a realidade: a observação. Todas as vezes que abríssemos a caixa estaríamos influenciando nos resultados. É esta relação que fica difícil entender. Um resumo deste fenômeno poderia ser descrito da seguinte forma:

Seria indistinguível, lá dentro, na privacidade da caixa, o estado do gato que seria o resultado de uma onda com dois estados: o de 50% de gato vivo e outros 50% de gato morto, resultando num terceiro estado em que o gato estaria – simultaneamente-vivo e morto! Ao abrir a caixa, interferiríamos neste estado e o veríamos ora morto, ora vivo a cada vez que a abríssemos.

Voltemos então ao começo de nosso artigo para seguirmos as histórias múltiplas de Feynman, agora sob o ponto de vista das probabilidades de Schrödinger, no âmbito de um futuro dependente ou não de um destino prefixado.


  1. O meu, o seu, o nosso destino...

(... E porque este mundo nos parece simultaneamente tão extremamente simples e tão complicado).

Ao caminharmos por uma rua, despreocupadamente, nosso planeta também gira, o Sol está lá em cima, em seus movimentos, pessoas a pé ou em veículos se movem, e nós, olhando as pedras da calçada não os vemos não reparamos. Qualquer coisa pode estar acontecendo, mas não temos a mínima idéia. Só temos uma idéia muito vaga de que o “mundo continua” como se fosse uma enorme onda, resultado da soma de uma imensidão de outras ondas, em que pessoas conhecidas ou não estarão tomando esta ou aquela atitude, direção, movimento. Ao levantarmos os olhos das pedras da calçada enfrentamos a realidade – pelo menos é o que nos parece – e podemos ver um ciclista quase colidindo conosco. Fixemo-nos neste detalhe: O ciclista que quase colide conosco.

Umas vezes colidirá. Mas não segundo a porcentagem de Schrödinger dos 50%. Schrödinger escolheu propositalmente a porcentagem de 50% porque contava a historia de apenas um gato com duas opções: ou vivo ou morto. Nossas opções na vida real são infinitamente menores, porque pode não ser uma bicicleta, podendo ser algo mais leve, como um garoto de skate, um árvore parada no meio do caminho, um pequeno poste de sinal de trânsito, um caminhão, um automóvel, ou absolutamente nada... Pode não haver nada nem ninguém à nossa frente em nosso caminho...

Nosso futuro depende de observarmos ou não o que se passa à nossa volta, porque interagimos com tudo e tudo interage conosco, mesmo que não olhemos à nossa volta. Mortos ou de olhos e ouvidos fechados, é como se não existíssemos. Nossos atos se refletem nos atos dos outros e de volta, em nós mesmos. Com tantos fatores interferindo em nossa vida – e cada um de nós conhece os principais em sua vida – prever o futuro, e dizer que já está montado, não faz o mínimo sentido. Mas imaginemos que sim... Que o futuro já esteja traçado. Que computador fantástico seria capaz de, a cada instante, registrar tudo o que acontece no universo para reprogramar tudo para o instante seguinte?

Isto merece uma reflexão bem demorada... Que computador seria esse, tendo que rever tudo a cada instante, para o instante seguinte em todo o universo?

Simplesmente não faz sentido. O futuro não pode estar traçado.

Tanto que não está, que se em vez de olharmos as pedras da calçada, estivéssemos olhando em frente, veríamos o garoto da bicicleta vindo em nossa direção. O que não impedira de o garoto nos aparecer de repente, vindo por detrás, mas não será por isso que andaremos todos com espelhos retrovisores para nos cuidarmos do que nos vem pelas costas. Afinal, também poderia ser um vaso caindo de uma varanda de um prédio, ou um bueiro da Light ou da Ampla explodindo no solo...

Por isso, estar atento á vida é muito importante, desde que não nos impeça de viver ou nos limite esse prazer.

Não estive em Woodstock e por isso ninguém que foi se lembrará de mim. A maioria dos que estiveram lá, já não se lembram dos que por lá estiveram também. Quem foi, achará hoje que foi sozinho, ou com uma meia dúzia de amigos. Dizem que foi uma “congregação”. Mas que congregação foi essa que ninguém se lembra de quem esteve lá? O evento Woodstock existiu mesmo?

Rui Rodrigues



sábado, 15 de dezembro de 2012

Massacres nos EUA – Há solução?

Massacres nos EUA – Há solução?


No final deste artigo apresenta-se um histórico de atentados semelhantes desde 1966 até 14 de dezembro de 2012, mas não seria de admirar se este tipo de comportamento suicida como ultimo ato de vida, arrastando para a morte gente absolutamente inocente, tivesse um sem número de exemplos ao longo da história da humanidade. Como parar com este tipo de comportamento, poder controlá-lo, evitá-lo, dar-lhe um fim? Parece não ter solução, porque nunca se sabe de onde pode vir um desvio de comportamento deste tipo. Normalmente os agressores não expõem seus sentimentos, são reservados, não levantam suspeitas. É como uma negação de uma existência correta durante toda a vida, reservando para o final uma ação que a negue.

Podemos perguntar-nos se não existirá nada de semelhante na atitude dos antigos faraós do Egito, quando a pretexto de serem “servidos” no Além, eram enterrados em sarcófagos cercados de seus fiéis servidores que eram enclausurados em sua tumba depois de lhes terem dado beberagens para que não sentissem a morte. Acreditariam mesmo na vida após a morte, sabendo que para serem embalsamados lhes tiravam o cérebro pelo nariz, e lhes extraiam todas as vísceras? E como poderiam comer todas as refeições que lhe deixaram ao lado do sarcófago se não tinham intestinos, estômago? Se havia sadismo era por parte dos sacerdotes que inventaram a religião, provavelmente de inicio para ganhar dinheiro e poder, para viverem à tripa forra. Hitler mandou construir fornos para eliminar o povo judeu e o povo cigano, e quem sabe, se ele tivesse ganhado a guerra, não queimaria também toda a humanidade para que apenas a raça alemã pudesse reinar sobre a terra. Ou seja, não é necessário ser-se louco par cometer atrocidades em nome de algo que se acredita. Felizmente não tivemos a oportunidade de saber o que faria Hitler a seguir porque também se suicidou. Parece que a característica comum à maioria destes sujeitos, não loucos, que agem como loucos, seja o fato de não suportarem “interrogatórios” após cometerem os atos: Suicidam-se ou fazem-se matar!

Parece que os atentados contra sociedades, grupos, famílias, estão intimamente relacionados com o “poder”. Reis podem, presidentes podem, indivíduos também podem, cada um a seu modo, sem medo de pena de morte. Como ter medo de pena de morte se o indivíduo já está a fim de se matar ou fazer matar? E provavelmente há um relacionamento intimo também com a vingança por falta de “consideração” que tenham sofrido, ou descriminação, normalmente durante a infância e contra a qual não vêem como obter compensação por “meios legais”. Provavelmente se acham uma espécie de “escória” social sem modo de recuperação. No final, parece ser a sociedade que acaba por produzir indivíduos como estes que não aprenderam a lidar com as pressões e frustrações da vida. Não aprenderam porque provavelmente não souberam ensinar. Alguns sobem ao poder.  Nos EUA existem movimentos no sentido de reduzir, evitar, impedir a compra de armas pela população civil, mas não podemos estar certos de que indivíduos deste tipo, sem armas de fogo, não viessem a usar métodos de eliminação ainda piores, sem darem um único tiro. Meios existem. As diferenças sociais devem estar mais relacionadas com estes eventos do que nos possa parecer, e menos do que com a liberdade dos cidadãos comprarem facilmente uma arma para se defenderem.

Já ouvimos falar dos danos causados para toda a vida em indivíduos que sofrem Bullyng. Pelo menos até a metade do século passado, se um garoto ou uma garota chegassem em casa de olho roxo, poderiam apanhar ainda mais se não dissessem que também tinham batido no agressor. O problema é que os agressores costumam agir em matilha quando praticam o bullyng e os assediados normalmente os temem. Este assunto era normalmente deixado pelos pais para serem resolvidos pelos filhos, com os filhos dos outros, na escola ou fora dela. Aconteceu comigo. Mas os agressores se deram mal, porque os peguei isolados um por um, depois que me bateram. Agressões de bullyng raramente eram levadas ao conhecimento da diretoria de escolas e universidades. Numa associação desastrosa entre sentimentos desencontrados, sem um laço que os agregue de forma construtiva, surgem crianças sádicas ou iludidas de que têm a força, a supremacia, que normalmente já lhe negaram em casa, e escolhem sempre uma “vítima”, aparentemente mais fraca, para mostrarem a si mesmas que podem. Podem qualquer coisa que possam, não lhes importa o “que” nem a razão. Mas acabam sempre por atacar no seio da comunidade, grupo social ou empresa em que se sentiram “diferenciados”.  Os que praticam o Bullyng sentem-se impelidos a mostrar que também “podem”, de forma continua, todos os dias, em casa, no colégio ou na rua. Não há freio.

Por outro lado, nos que sofrem bullyng, parece ser que quando há freio na vingança, por força das circunstâncias, e não por uma compreensão do que significa a vida, alguns agressores calam-se, enconcham-se, tecem o futuro como se fosse um programa de vida. Tentam mostrar ao mundo ou a alguém, numa só ação, como foram “injustos” esses agressores, como foram descuidados, como ficaram à mercê de sua própria incompetência quando desprevenidos. Geralmente culpam os pais, os professores por sua incapacidade de os proteger e até de os ter ensinado a “ser como os outros”. Eles percebem que os fortes podem mostrar os seus sentimentos, e que os fracos devem escondê-los. Preparam-se para o massacre quando os fortes estiverem desprevenidos, matando-os e o objeto de seus maiores cuidados: crianças!

Ora, isto não se resolve com a eliminação das armas de fogo do mercado.  Eles descobrirão novas armas que poderão ser captadas de um arsenal sem fim capaz de matar em grande número. No que respeita às armas, a maioria da população americana ainda cresceu ouvindo histórias do velho oeste, cow-boys que defendiam a própria vida e as diligências. Assistiram a filmes, e em muitos deles seu herói era o bandido, o aparentemente mais fraco. E faz-lhes todo o sentido que possuir uma arma é uma questão de vida ou morte contra “bandidos”, e há muitos em todos os lugares do mundo, com tendência a haver cada vez mais: O sistema econômico e político o permitem e o incentivam. O problema é que para eles, “bandido” é quem não os protegeu ou lhes impôs ações de bullyng. Não é assim na velha Europa. Não se imagina que um defensor da vida use sua arma para matar outros indivíduos por vingança.

O problema está na cultura. É certo que as treze famílias que fugiram da velha Europa para construir um mundo novo, eram também religiosas e dotadas de toda a moral possível, e seus descendentes, continuam dignos, porém criou-se uma mentalidade, talvez pelo tamanho do território e dos sucessos que a nova nação veio a ter na política internacional, que para se ser um bom cidadão é necessário demonstrar ser forte e inteligente. Na Europa também, mas a moral e a ética são mais socializadas dos que nos EUA. Estas duas vertentes do gênio humano, a moral e a ética, aprendem-se em casa mesmo antes de os alunos irem para as escolas, e as escolas públicas sempre garantiram a freqüência a todos os cidadãos desde tenra idade. Há serviços de ajuda pública constante através de serviços sem uso de caridade. A caridade machuca o ego. Nos EUA a ajuda em sua maior contribuição vem da caridade de associações e do Exército de Salvação.

Nos EUA criou-se uma cultura segundo a qual a Constituição americana dá oportunidade igual para todos, sendo o problema de não conseguir essa tal oportunidade do cidadão, que geralmente não tem culpa das oscilações políticas e econômicas. Quem não vai à escola é porque os pais não têm capacidade de ganhar dinheiro. Na Europa não há diferenças sensíveis entre escolas públicas e particulares, e a educação dá-se em casa sem necessidade de bater, salvo desonrosas exceções. Na Europa, alguém pode até se suicidar, mas não é comum que saia pela rua matando primeiro os outros, geralmente inocentes. Na Europa não se atinge o limite de sair dando tiros por corredores, praças, empresas, exceto, como em qualquer lugar, quando se trata de doença mental.  

Evidentemente, como o total de vítimas deste tipo de agressão entre 1966 e 2012, é de 204, sendo 147 os mortos e 57 os feridos, o governo dos EUA não mudará absolutamente nada e a educação não chegará a todos. É a velha questão do custo benefício. Acharão que são poucas as vítimas para justificar uma recessão na fabricação e venda de armas, promover acesso escolar a todos os americanos e americanas, dotar a nação de serviço público gratuito de saúde, ensinar os pais a educar, combater as causas que geram  indivíduos como esses.

O ultimo agressor, de vinte anos de idade e reconhecidamente um sujeito inteligente, matou a própria mãe e depois mais seis adultos e vinte crianças entre cinco e dez anos, pelo menos dois tiros em cada uma. Ele não era louco.

Absolutamente não era louco, e nada irá mudar nos EUA. Continuaremos ouvindo notícias destas. O próximo louco tentará superar o numero de vítimas como se estivesse, disputando os recordes do Guiness, independentemente da idade, posição social, estado de liquidez financeira.

Rui Rodrigues

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Publicado:  20/07/12 - 12h09 - Atualizado:  14/12/12 - 17h49

- Agosto de 1966:  O estudante de 25 anos Charles Whitman abriu fogo contra colegas da Universidade do Texas, em Austin, da torre do relógio local. No ataque, 16 pessoas morreram e 31 ficaram feridas.
- Julho de 1984:  James Oliver Huberty, um segurança aposentado, matou 21 pessoas em uma lanchonete do McDonald's na Califórnia. Policiais executaram o atirador em troca de tiros.
- Agosto de 1986:  Pat Sherrill, um funcionário dos correios de 44 anos que iria ser demitido, matou 14 pessoas em posto dos correios em Oklahoma. Após o ataque, suicidou-se.
- Junho de 1990:  James Edward Pough, que tinha envolvimento com gangues na Flórida, atirou aleatoriamente contra funcionários da General Motors e depois se suicidou. Matou nove pessoas.
- Outubro de 1991:  O pescador desempregado George Hennard abriu fogo em uma cafeteria Luby's, no Texas, matando 23 pessoas, em um ataque que ficou conhecido como o Massacre de Luby's, o mais mortífero na história do país até o Massacre de Virgínia Tech (ver Abril de 2007).
- Abril de 1999:  Os estudantes, Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17 anos, abriram fogo na escola de Columbine, em Littleton, perto de Denver, no estado do Colorado. Treze pessoas morreram, 12 estudantes e um funcionário da escola. Vinte e seis pessoas ficaram feridas. Após o atentado, os dois se mataram.
- Julho de 1999:  Um homem abriu fogo e matou nove pessoas em Atlanta, depois de ter assassinado a esposa e os dois filhos. Ele cometeu suicídio cinco horas depois do ataque.
- Setembro e Outubro de 2006:  Um atirador invadiu uma escola Amish, na Pensilvânia, e provocou a morte de cinco meninas. Dias antes, um adolescente de 15 anos armado matou o diretor de uma escola em Wisconsin. Dois dias antes, um sem-teto armado pegou seis meninas de uma escola do Colorado como reféns, estuprou-as e matou uma antes de cometer suicídio.
- Abril de 2007:  Virginia Tech, uma universidade em Blacksburg, no estado da Virgínia, se torna palco do mais sangrento massacre na história dos EUA. Um estudante armado matou 32 pessoas e depois se suicidou.
- 2 de abril de 2012:  um atirador mata sete pessoas e fere três ao fazer disparos contra uma universidade cristã em Oakland.
- Julho de 2012:  Um homem mascarado matou 12 pessoas na pré-estréia do filme "Batman - O cavaleiro das trevas ressurge”, no Colorado.
- Agosto de 2012:  Wade Michael Page, um ex-militar de 40 anos que participava de movimentos neonazistas, matou seis pessoas em um templo sikh em Oak Creek.

Em 14 de dezembro de 2012, conforme noticiário da Reuters e informação colhida na rede globo de televisão em 14 de dez.

 - Um total de 28 pessoas morreu depois de um tiroteio numa escola no Estado norte-americano do Connecticut e em um local próximo, informou a polícia nesta sexta-feira. O atirador atirou contra a própria mãe e foi preso. Houve dúvidas – ou ainda há - se tinha sido ele, que tem 20 anos, ou o irmão mais velho. O número inclui 20 crianças, entre cinco e dez anos, e seis adultos, além do atirador e de uma vítima adulta (a mãe) num outro local em Connecticut, segundo autoridades. 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Curemo-nos a nós mesmos


Podemos imaginar os primeiros passos, as primeiras investidas no conhecimento de todas estas coisas do Universo. Certamente começou muito lá atrás, há milhões de anos, com a curiosidade de crianças, mulheres, homens mais introspectivos, ao olharem para certas plantas, cogumelos, sapos, sem saberem se eram comestíveis. Não tinham como saber, mas umas plantas aliviavam as dores, outras faziam dormir, outras ainda provocavam alucinações. Muitos dos primeiros que experimentaram morreram. Os que tinham visões passaram a temer deuses que só existiam quando ingeriam as plantas ou lambiam os sapos, e eram bons e maus aqueles deuses; Os outros, os que só assistiram, aprenderam e passaram a informação adiante. E assim a humanidade chegou a um período, depois de uma milionária caminhada de anos, a um período tenebroso a que se chamou de “idade das trevas” ou Idade média. Foi o auge dos sacerdotes oriundos das visões fantasmagóricas de deuses que se arrependiam de ter criado a humanidade, que fabricavam “damas de ferro” onde cozinhavam, assavam e espetavam os corpos de gente inocente que depois queimavam em fogueiras. Era o tempo das “bruxas” e dos alquimistas. Foi o tempo da reflexão sobre o que é real e o que não é. Como costuma acontecer, quando se chega ao fundo do poço, não se pode descer mais, e a tendência é subir.
 A Idade das Trevas foi o fundo do poço do qual emergiram os químicos, os físicos, os matemáticos, os médicos, os engenheiros, os filósofos, a indústria, o desenvolvimento do comércio, e mais tarde os celulares, as televisões de plasma, os aviões a jato, as viagens interplanetárias, o estudo do genoma humano, a alta produção por hectare das plantações e culturas, os automóveis elétricos, os computadores pessoais, a Internet, a cura do câncer ainda que parcial. Na Idade Média nem se sabia o que era câncer, mas “sabiam”, os “humildes fiéis convenientes” com toda a convicção, que “deus” mandara fazer cruzadas contra os “infiéis” e queimar gente inteligente em fogueiras. Falava-se em nome de “deus”. Um deus muito estranho esse, certamente, e que, apesar de sua “infalibilidade” continua a ser credível!”


E hoje descobrimos, finalmente, que este planeta é um fábrica, que cada corpo vivo é uma pequena central de produtos e de produção, que a vida deve manter-se e ser preservada, que cada unidade é fundamental para a sobrevivência de todo o sistema. Ácidos, bases e sais, aldeídos, álcoois, e outros produtos químicos existem em qualquer ser humano, em muitas plantas; o ferro e os metais vieram de estrelas que explodiram; outros produtos descobrimos e criamos, e as outras “fábricas”, aquelas que produzimos para obtermos grandes quantidades dos produtos, são artificiais, porém de toda a utilidade porque servem a muitos fins construtivos, e, eventualmente, destrutivos. Evoluímos, sempre, com determinismo pessoal ou coletivo, podendo decidir a qualquer momento que caminho deva ser seguido.
Evidentemente que num planeta limitado, nada deve ser longevo, viver eternamente, sob pena de não permitir as novas gerações, a evolução que elas trazem. Imaginando que todos fossemos eternos e que continuássemos a nos reproduzir, este planeta se encheria em apenas algumas décadas, impossibilitando a vida e a convivência. A conclusão simples e fatal é que temos, obrigatoriamente, que falecer a qualquer momento. Não haveria outra forma de haver vida, se não estivesse aliada à morte, por total falta de espaço para evoluir. Por isso, o que se busca é uma vida – enquanto durar – que seja digna, evitando os sofrimentos naturais, mas sem criar sofrimentos artificiais, como parece ser o caso das destruições em massa pelas guerras.

Mas, se somos fábricas ambulantes, onde se produzem células “T” que nos resguardam de doenças, e possuímos ao nosso alcance vacinas e remédios que podem ajudar-nos na cura de doenças, precisamos descobrir os mecanismos que atuam em nosso corpo e salvam a uns e a outros não, deixando que os processos de infecção ou contaminação, deixem de parecer “aleatórios”. Nosso próprio corpo nos pode curar desde que tomemos, desde a infância, certos cuidados. A longevidade  a que chegamos, a cerca de 80 anos como expectativa de vida, deve-se muito mais aos cuidados com a alimentação, a hábitos alimentares, aos cuidados com a higiene do que à descoberta de vacinas e medicamentos, mas jamais teríamos estes resultados se não fossem as vacinas, os medicamentos, e o desenvolvimento da medicina através da engenharia, e em particular, da engenharia genética. 

Precisamos descobrir a “inteligência” pessoal que nos cura a nós mesmos de todas as doenças e ferimentos, como fez uma galinha que foi ferida com um grande corte no pescoço por um gambá e se recuperou e sobreviveu. Postou 14 ovos em ninho que fez e começou a chocá-los. Certa noite outro gambá veio e lhe comeu quase todos os ovos deixando apenas quatro. No dia seguinte o gambá voltou e deu-lhe um corte tão grande nas costelas que as vísceras apareceram e a galinha caminhava devagar e mancando. Uma semana depois, a galinha estava em processo visível de cicatrização curada a milho e água. Os dois gambás foram mortos a tiro. O criador das galinhas teria que optar entre a sobrevivência dos gambás ou das galinhas, mas não temos certeza de que o Criador tenha uma espingarda de doenças e de desastres para eliminar o que quer que seja deste planeta. Parece que o Criador fez o Universo sujeito a leis impressas na sua formação e saiu para outros lugares. Sem ele por perto para cuidar de cada um de nós, temos que aprender a nos curarmos a nós mesmos. Pode perfeitamente ser que a cura “pessoal” por meios naturais e a própria evolução se expliquem através de uma relação de informação entre o cérebro e o cerebelo, retransmitidas ao ADN celular. O que exatamente estamos fazendo agora parece estar nesse caminho, mas só foi possível depois que nos livramos do poder daqueles que, baseados não se sabe em quê, sem razão alguma, quiseram impedir o desenvolvimento das ciências com argumentos de mágicos que não sabiam como fazer mágicas.


Ou nos apresentavam números de mágicas que não eram mágicas, mas curas pessoais por meios naturais e para evoluirmos é necessário que nos livremos do mal – “Amem” – dos que tentam limitar o conhecimento quer usem a política, a religião, a força, a economia, ou qualquer outro meio ou arma para nos impedir.



Rui Rodrigues

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

O dia em que "Maquiavel" entregou o livro ao Príncipe
























Naquele ano de 1513 Nicholo Machiavegli[1] não chegaria ao palácio do príncipe a pé, de forma humilde. Não ia pedir-lhe nada de forma explícita. Pelo contrário, iria dar-lhe um presente como se fosse um ovo de dragão que, esperava, o príncipe viesse a adotar como filho: Seu livro escrito nesse mesmo ano, demonstrando tudo o que sabia de política, das sociedades, do poder. Tampouco chegaria de forma arrogante como quem acha que a experiência é um diploma incontestável, e experiência era o que lhe sobrava. Chegaria em sua própria carruagem, mas subiria as escadarias de forma digna, carregando de forma perceptível, mas não facilmente identificável e ostensiva o seu presente ao príncipe: Um belo livro cujo título era exatamente esse, “O príncipe”, onde demonstrava seus profundos conhecimentos das sociedades, do modo de governá-las, de seus limites de tolerância, e das forças que possuem ou que as podem manobrar sem que percebam. 

No fundo, um recado a quem veria em alguns instantes: Lorenzo de Médici, duque de Urbino. Lorenzo era novo e por mais inteligente que fosse faltava-lhe a experiência. No entanto, estava seguro que talvez a ele mesmo, Machiavegli, lhe tivesse faltado experiência ao lidar com os Médici. Mas com tudo isso, Machiavegli estava consciente de seu maior grau de experiência e de inteligência em relação aos demais conselheiros nomeados pelo príncipe. Uma dessas posições deveria ter sido sua. Perseguido pelos Médici que até Papas haviam feito eleger com dinheiro, intrigas, e até assassinatos, fora preso, torturado e passara a conhecer o outro lado do poder. Sofrera as conseqüências. Talvez por isso o tivessem esquecido, embora ainda pudesse ser muito útil à unificação da Itália, dividida em principados. Tudo dependeria do Príncipe. 

Machiavegli aprendera, a duras penas, que o poder nunca - jamais -  é eterno. O segredo da política é mantê-lo pelo maior tempo possível, com a maior segurança, e o menor número de   problemas. Sempre aparece alguém, algum príncipe, algum reino, principado ou nação mais forte. Poder é bom enquanto dura e se baseia no respeito pelos antagonistas. Nada pode ser desprezado. Tinha muita coisa a propor ao Príncipe Lorenzo, e principalmente, torná-lo rei de uma Itália unificada. Tinha sua lógica. Mas primeiro teria que estudar melhor o íntimo do príncipe e saber do acolhimento a suas idéias. Saberia ele que Veneza era uma república de sucesso e enorme poder marítimo graças à sua forma de lidar com o mundo exterior? Não tinha recentemente construído a praça de S. Marcos, que ficaria pronta no ano seguinte, em 1514, um símbolo de sua riqueza comercial? Não estava Portugal, aquele pequeno reino no final da península ibérica, junto às colunas de Hércules, em franco progresso comercial e marítimo? Pois se pequenos reinos e principados podiam ser uma Veneza ou Portugal, o que não seriam os reinos de Itália unidos, tanto mais que Portugal e Veneza? Claro que com pouco esforço Veneza conseguia minar os lucros dos empreendimentos comerciais de Espanha e Portugal financiando-lhes os projetos, as construções de caravelas, cobrando juros altíssimos, mas com o dinheiro e os empreendimentos, uma Itália unida poderia ser muito maior, dominar a Europa, tal como Roma já o tinha feito.

Machiavegli sabia dos motivos que mantinham os príncipes italianos desunidos e eram muitos, mas o principal era a própria competição entre eles. Não queriam ser uma nação poderosa e grande: Queriam apenas competir entre si e isso os divertia, dava-lhes razão para viver ou para morrer. O outro motivo era a forma de governar. Enquanto príncipes fariam o que quisessem em seus reinos. Mas para serem uma nação teriam que mudar para uma república. A república lhes limitava os poderes sobre o povo. E o jogo entre eles, a motivação para a própria vida era a competição num jogo de poder. Além do mais todos temiam o maior problema de todos: Qual dos príncipes dominaria sobre os demais num reino unido de Itália?

Machiavegli já estava chegando ao imponente Palácio de Urbino. As rodas de sua carruagem produziam um zumbido agradável de poder, aliado ao tropel dos quatro cavalos. Era um gosto que poderia voltar a ter em breve se conseguisse prender a atenção de Lorenzo. No livro que lhe entregaria dentro da caixa que levava a seu lado, no estofamento da carruagem, constavam algumas frases política e filosoficamente ponderadas que traduziam a vida e o poder tal como são, mas uma delas continha uma realidade que ele próprio experimentara: o fator sorte!. E isso nunca se podia esquecer.  Ele mesmo, o ex-secretario da segunda secretaria de Florença, por quatorze longos anos, cuidando da política externa principalmente, tinha sido demitido da função por puro azar, do qual a sorte é sempre o único antídoto, porque perdida a confiança, por azar, os méritos próprios não se consideram e só por grande sorte se podem recuperar a confiança perdida. Machiavegli sabia disso. Por isso precisaria de muita sorte, porque o príncipe certamente sabia o que lhe tinha acontecido: No ano passado, em 1512, tinha sido demitido sob acusação de ser um dos responsáveis por política contra a família dos Médici, e grande colaborador do governo anterior. Fora obrigado a pagar mil florins de ouro e proibido de se afastar de sua terra natal, a Toscana. Isto era verdade e aceitara bem como parte do risco político, mas o que nunca conseguira entender foi o azar terrível de constar como provável simpatizante da causa republicana numa lista elaborada por dois jovens, sem o seu conhecimento: Agostino Capponi e Pietropolo Boscoli, foram presos por política contra o governo, fundadores de uma causa republicana que postulava a união dos reinos italianos num só Reino.

Evidentemente que os dois jovens tinham acertado em cheio em sua concepção do que deveriam ser as tendências de Machiavegli, mas este defendia a filosofia da causa e não a causa em si, o que era muito diferente, mas inimigos políticos não vêem diferença em questões tão sutis. Foi preso e torturado por 22 dias seguidos, mas eis que a grande sorte apareceu em sua vida, tão de repente e inusitada, como o azar de constar numa lista, sem a sua intervenção: O Papa Julio II faleceu em 21 de fevereiro de 1513, apenas dez meses atrás, e quem se elegeu em sua substituição, foi um florentino. Nada mais nada menos que João de Médici, com o nome de Leão X. Machiavegli beneficiou-se do indulto papal e foi anistiado. Não perdera tempo, acabara seu livro e ali estava com uma caríssima cópia, pronto para entregá-la ao príncipe. No fundo o livro tinha muitas e várias intenções. Uma delas era redimir-se de suas condenações e mostrar que sempre estivera não só do lado do poder de Florença, como também de toda a Itália, como poder ainda maior de um povo que falava a mesma língua, herdeiro da glória de Roma. Mas aí estava algo da idiossincrasia que podia entender: Enquanto Roma fora uma república, fracassada no final, porque perdeu tudo o que tinha conquistado, deixou no povo a certeza que nenhum governo cuidaria realmente do povo. Duques, príncipes, toda a nobreza sabia disso. Pior ainda era a política suja que se tecia nos corredores de um governo central e que retirava o poder aos delegados nos reinos. Por isso tinham aparecido os condottieri, que usurpavam o poder e governavam cada um o seu reino. Estes, bem lá no fundo gostavam de uma Itália dividida em reinos, porque sempre aparecia a oportunidade de aparecer um condottiero menos hábil e tomar-lhe terras, poder, impostos. A política dos príncipes jogava simultaneamente com a sorte, ou o azar, e a competência.


Fazia frio naquele dia de dezembro de 1513, e flocos de neve começaram a cair sobre o Palazzo Vecchio. Maior frio lhe ia na alma de Machiavegli. Sua idade já estava avançada para a época, e embora não fosse fator impeditivo, sempre ficara o fato de ter sido preso por duas vezes, pago pesado tributo como multa, torturado. Isso era imperdoável, sinal de que se tinha afastado do equilíbrio do poder, da compostura, da avaliação política, e sinal pior ainda, que não teve amigos para o livrarem daquele pesadelo. Foi neste estado de espírito que Nicholo Maquiavegli subiu as escadas do palácio, e ainda mais se abateu ao olhar os guardas que já lhe tinham feito as saudações quando era secretario da segunda secretaria e o haviam recebido em suas viagens de negociação política a França, a Veneza, ao Papa e aos demais estados italianos.

Mas tinha que subir as escadarias e entregar o livro olhando o príncipe nos olhos. Afinal, até que a entrevista terminasse, a esperança da sorte era a última coisa a desconsiderar, mas isso só aconteceria no leito de morte se viesse a ter um. Provavelmente seria enterrado sem pompa nem circunstância. As sociedades nunca se lembram do passado, preocupadas que estão no presente com o seu futuro. 

Rui Rodrigues


PS –

  1. Machiavegli nunca mais retornou à política. Machiavegli teimara sempre em não aprender uma coisa fundamental: O político sempre deseja os melhores conselheiros, mas não são estes que decidem, sob pena de ele mesmo, o político, perder o poder. Assim, quando o político decide, depois de ouvir algumas opiniões de conselheiros, a solução geralmente é híbrida de todos eles. É o político que, mal ou bem, manda. Quando acerta, o mérito é de todos, incluindo os conselheiros; Quando erra, jura que foi mal aconselhado. Aparentemente os políticos divertem-se em plena luz do dia, maquinam na penumbra do amanhecer ou entardecer, e vingam-se à noite.
  2. Depois da ida a Palácio, Machiavegli viveu no ostracismo até 1520 em sua casa em Sant'Andrea em Percussina, Florença. Lá produziu muitas obras, incluindo “ A Madrágora”, uma famosa peça de teatro. Com a morte do príncipe Lorenzo, Júlio de Médici que mais tarde se tornaria Papa, assumiu o poder em Florença. Mais benévolo que Lorenzo ou o Papa anterior, contratou Machiavegli para escrever uma “História de Florença”. Faleceu em 21 de junho de 1527 aos 58 anos.




[1] Nomes próprios deveriam ser intraduzíveis.  A assinatura de Nicholo Machiavegli não deixa duvidas quanto à verdadeira grafia de seu nome.