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quarta-feira, 9 de março de 2016

A menina da Pastelaria





Eu quero,
Tu queres,
Ele e ela querem,
Nós todos queremos,
Vós quereis,
Eles e elas querem...
Sexo!

Este verbo primordial é na verdade o Verbo da vida, o primeiro ato do começo do principio que nos invadiu os genes, criou hormônios e nos faz cair no desejo. Quando se diz que Deus expulsou Adão do Paraíso, fica-se pensando se o teria feito por ciumes. E começa por sinais inequívocos, sempre sem palavras, em trocas sutis de olhares, pequenos gestos, que, correspondidas, nos fazem disparar o coração, causam ansiedade e gritam pela consumação. A partir daí nada nem ninguém impede a continuação do processo de "amar", um verbo com 7,5 bilhões de interpretações, muitas mais se incluirmos também o mundo animal.



Abraços e beijos são muito bons para a alma, mas os carinhos da alma são muito melhores, principalmente se acompanhados de abraços, beijos, toques e apalpos. Alvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, escreveu um poema intitulado "Tabacaria" (pode ver em http://www.passeiweb.com/estudos/livros/tabacaria_poema). Normalmente havia uma menina em cada tabacaria, mas ela não parece ser o tema principal do poema, embora se "sinta" um toque de feminismo e talvez algo mais, porque o termo "pequena" quando diz "come chocolates, pequena" não se refere necessariamente a uma criança, mas a uma menina já crescida e pronta para o amor, a quem o Esteves lhe teria dado tais chocolates, saindo depois da tabacaria com a mão no bolso (seria troco no que mexia, e nesse caso em moedas?). Creio que Alvaro de Campos expressou um desejo ou aproximação sexual, uma cena de "conquista por chocolates". No mundo do "aqui fora" conquista-se com roupas, pinturas, perfumes, olhares, palavras, poemas, uma miríade de formas para atingir a dadiva de carinhos mútuos, atingir o gozo pleno. No mundo do "aqui dentro" nunca se sabe das intenções, porque elas, as intenções, raramente são iguais durante toda a vida de um individuo, não importa o sexo. As intenções são resultados cumulativos de sensações do dia a dia, em relação a alguém ou qualquer coisa: Podem mudar a qualquer momento, em maior ou menor grau.

As tabacarias estão fechando as portas, enquanto ao ar livre proliferam os pontos de crack e outras drogas. As tabacarias nunca venderam drogas, nem nos tempos do Láudano, um extrato de opio com efeitos sedativos, que era vendido em "pharmácias" como um elixir "maravilhoso" a preços populares. A menina da pastelaria não vende drogas. Vende honestos pastéis, cerveja em lata, refrigerantes, água, e nos dá de presente o seu sorriso e sua simpatia pela qual não pagamos nada. Entre amor e o desejo, o fio ou a superfície de separação é tênue. Por vezes o amor vem depois do desejo, outras vem antes. Amando a menina da pastelaria? Não... Sem a minima chance de dar certo nem por dois dias, sem qualquer tipo de julgamento, mas em função da vida jovem que ela ainda está conhecendo e do meu ciclo de vida que estou em fase de chegada... Mas sonhar não custa, é um prazer por sinal, e pena que não saiba eu versejar como Fernando Pessoa. Far-lhos-ia, dos mais lindos, e que jamais identificaria como a ela dirigidos, não fosse apaixonar-se por mim.   


Rui Rodrigues

terça-feira, 8 de março de 2016

O sentido da vida. Parada em Orenburg.

Pouco depois da hora de almoço chegou ao Bar um senhor com seus oitenta anos ou mais, vestindo uma camisa florida de algodão, tênis, de shorts e óculos escuros carregando uma bengala que não aparentava lhe ser necessária. Parecia mais um adorno ou "arma" de defesa pessoal. Sentou-se numa mesa, pediu uma garrafa de vinho chileno Carmenére, e umas torradas, queijos Roquefort, Brie, e da Serra, este muito especial, de sabor forte mas que parece requeijão cremoso. Perguntamos se esperava alguém. Disse que não sabia e esclareceu: Ela não me deu certeza de vir. Se ela vier e demorar muito, peço outra garrafa e mais uns queijinhos...


Passou-se mais de meia hora, os queijos e as torradas estavam no fim e a garrafa com uns dois dedos de vinho esperando no fundo para serem despejados, quando vimos uma mulher deslumbrante caminhar na sua direção. Aparentava ter menos de cinquenta anos. Adivinhou-se que era a "mulher esperada" porque ele levantou a mão chamando minha bela secretária Anita Castro, e pediu mais uma garrafa e uma tábua de queijos, rodando a mão sobre a mesa com o dedo indicador apontando para baixo, as sobrancelhas esticadas ao máximo, pipocando por cima do aro dos óculos. A beleza das duas mulheres e a jovialidade do senhor chamaram a atenção dos clientes e em breve se formou uma roda de conversa. O senhor manuseava algumas fotos mostrando cavalos. A qualquer momento se esperava que lhes fizesse menção.  



- Acabo de chegar de Orenburg, na Russia. Fui ver uns cavalos selvagens, que têm 64 cromossomos em vez dos 64 que todos os cavalos têm.   
- E o que isso quer dizer?
- Quer dizer que são cavalos pre-históricos. Estavam extintos na natureza e havia uns poucos em zoológicos. Na França conseguiram que se reproduzissem e recentemente foram levados para seu habitat natural, nas estepes russas, para Orenburg. Estive lá e eles me deram um sentido da vida. 
- Não entendi como!
- Vejam essa foto dos cavalos gozando de um momento de prazer, relaxados, curtindo a vida em grupo sobre a neve. São chamados de cavalos de Przwalski, o nome de um coronel russo que descobriu um crânio e um couro dessa espécie na China. O mesmo tipo de cavalo que foi desenhado nas cavernas de Lascaux há cerca de 15.000 anos.
- Mas como lhe deu um sentido da vida, senhor?!...
- Nogueira...Meu nome é Nogueira!
- O que percebeu no sentido da vida, senhor Nogueira?
- Reparem bem... Esses cavalos da foto gozam de um bom momento da vida, relaxados, e tanto quanto sabemos não percebem que existem, porque não possuem cérebro desenvolvido capaz de "idealizar" o amanhã. Apenas nós, humanos, temos essa percepção que nos torna inteligentes.
- Sim... Mas... E então?


- Então que de repente, naquele frio das estepes, ao olhar aqueles cavalos pré-históricos de espécie recuperada, imaginei um futuro em que a humanidade se possa sentir assim, ao final de longa jornada de milhões de anos de existência. Uma história que não serviria para nada por estarmos em extinção, um presente melancólico por falta de continuidade no futuro e um futuro que não valeria a pena viver pelo sofrimento de sentir todos os sonhos mortos. Assim como se nossa existência não tivesse valido a pena, como se nunca tivéssemos existido.
- Então acha que o que vale mesmo é o presente, não é? 
- Sim...E o que se faz com ele visando o futuro. Nos divertimos mais em grupo do que a sós. Tirando a diversão, o resto é o sofrimento da sobrevivência.
- Mas, senhor Nogueira... Se nos preocuparmos apenas com o presente, como podemos garantir o nosso  futuro?
- Divertindo-nos em estudarmos e pesquisarmos para o futuro.Nossa salvação como espécie está neste planeta e fora dele. precisamos sair daqui. Não temos quem nos salve como salvaram o cavalo-de-przewalski.
- E rezando ao Salvador?
- Nem a Buda, nem a D`Us, nem Alah, nem  a Vishnu...Dizem que, da ultima vez que um Deus se intrometeu diretamente na existência da humanidade e no planeta Terra, foi para mandar um diluvio que nos deixou quase na extinção, tal como  os cavalos... 


- Numa situação dessas, como ficaria nossa economia, com todo mundo voltado para a exploração, colonização ou expansão espacial? De onde viriam os "lucros" se nos outros planetas não há vida para explorar economicamente? 

- Há recursos minerais e ninguém que os reclame.  Alguns aqui na Terra já estão escassos. Nosso lixo e terras contaminadas poderiam ser levadas para lá.
- E porque ainda não viram isso e estamos tão atrasados na pesquisa espacial?
- Por que gastamos nossas verbas em guerras. Falta inteligência aos que elegemos para presidentes e reis. São muito "imediatistas". As industrias voltam-se para o consumo populista da propaganda e da guerra e perdem-se no que deveria ser mais importante.
- O imediatismo pode trancar-nos definitivamente numa caverna para todo o sempre sem que haja alguém que lhe desvende as pinturas ou nos classifique os ossos.

O tempo lá fora do Bar, agora já pela noite, tornou-se sombrio e tempestuoso. Começou a chover. Da rua vinham os sons de pneus rolando sobre água, ouviram-se trovões, raios riscaram os céus trazendo novos fregueses. Alguns clientes são sempre surpresas especiais,    

® Rui Rodrigues 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Historia de criancinhas: Vamos brincar de governar?


1- A parte triste das brincadeiras




O bairro era de gente pobre e remediada. As crianças viviam na rua. Muitos dos pais eram cachaceiros, batiam nas mães. Todos os pais e mães, quando voltavam do trabalho, reclamavam dos salários e do trabalho excessivo. As crianças queriam mudar o mundo, cresceram alimentando a raiva dos pais. Algumas roubavam pequenas coisas dos outros e das outras casas como compensação do que julgavam ser uma injustiça social. No seu pensamento de criança acreditavam que deveriam ter um minimo para viver mesmo sem trabalhar, de forma que os pais pudessem ficar mais tempo em casa para lhes dar atenção, o que faria diminuir as reclamações paternas, aliviar a dura vida em casa onde muitas vezes faltava comida e sobravam garrafas vazias. Outras saiam nas ruas para mendigar moedas com que comprar cerol, pipas, ou mais tarde um cigarro avulso, um pedaço de crack. Assistiam a programas de televisão e viam anúncios com gente muito arrumada, comprando coisas maravilhosas, carrões, gente de férias, viagens de avião, e imaginavam como poderiam ter acessoa tudo isso se nem sabiam falar bonito como eles. E as casas? com camas maravilhosas, elevadores, porteiro para servir...Ficava-lhes tão longe um futuro desses e tão difícil, trabalhoso de conseguir, que muitos desanimavam só de pensar. Alguns queriam igualdade num mundo cheio de desigualdades, queriam iguais oportunidades sem processos de formação: A igualdade como direito adquirido até de ter um diploma nem que fosse ao tapa em professor. Alguns chegaram a dar!

2- Brincando de governar, como consequência.  




Certo dia uma dessas crianças, um menino, disse para os outros: Vamos brincar de governar! não perguntou. Mandou. Os outros aceitaram, mesmo sabendo de antemão que ele seria o maioral.

- Eu sou o rei! Rei não... Sou o Presidente!(disse ele, o maioral, que se chamava Ignácio) 
- E eu sou a chefe de policia! (disse uma menina que se chamava Delma)
Ignácio apressou-se a aceitar. Delma era uma menina que não podia ser contrariada sob pena de pesadas desavenças no grupo. Ela tinha um revólver, era quem mais roubava para eles, e graças a ela até bola de futebol oficial tinham comprado. Os outros concordaram também. Com Delma não se discutia!  
-  Chico vai ser o ministro da educação!(Ignácio não dava tempo a ninguém para pensar nem para propor nada).
- Mas Ignácio... (atalhou o tal Chico). Eu só tenho o primeiro ano da escola. O Cardoso é que tem já o terceiro ano. Ele que deveria ser o ministro  da educação...
- Deixa de ser besta!... Tu que vai ser o ministro, Chico, porque  tenho mais confiança em ti que nele. Competência nao interessa. O Cardoso vai ser o ministro das forças armadas. A Delma que manda, e o Cardoso fica de florzinha, só de decoração. 

E Ignácio foi designando um a um os seus ministros, prometendo a Delma que se um dia deixasse de ser Presidente a indicaria para o seu lugar. No final das nomeações, não sobrou ninguém para fingir ser o povo. Resolveram que o povo seria o povo do lugar e que cada ministro teria que conseguir sua própria verba. Os ministros roubariam para o grupo. Alguns pais começaram a punir seus filhos assaltantes, porque não queriam dar maus exemplos, e porque roubar na comunidade lhes traria grandes desavenças entre os  adultos. Os meninos começaram a roubar nas vizinhanças.

Cresceram e se tornaram adolescentes, continuando . Assaltaram bancos, fizeram raptos relâmpago, mas nem todos. Uns nunca participaram dos roubos, preservando-se para serem ministros e terem a vida "ilibada". Alguns foram presos e soltos por serem "de menor". Delma foi uma destas que sotaram para se regenerar.

3- A vida adulta, uma sublimação da infância.    




Quem não pode adivinhar como essas crianças desamparadas na infância se comportam na vida adulta, ajudando-se uns aos outros, chorando a cada "injustiça" que o mundo lhes proporciona?  E quando  chegam a governar, elegendo-se por propaganda paga, na qual a maioria ignorante acredita, o que fazem, senão tentar implantar sua "lógica" de vida ou de entendimento politico? O que pode ser o povo, alem de contribuinte forçado para angariar fundos e dividir entre amigos e apoiantes, se nem sabem como funciona a economia de uma nação? 
Para eles, economia é a capacidade de um povo pagar impostos, não importando se têm ou não para pagar moradia, se lhes sobra ou não comer. 
Se conhecem  alguém com estas características, tomem cuidado. Usam as instituições para cumprirem com seus desígnios, comprando seus membros, nomeando seus ministros, criando novas leis, modificando as antigas até que nada nem ninguém se lhes oponha. Nem precisam mais usar armas como na adolescência. Dizem que são democráticos e que as forças armadas lhe garantem a democracia de não serem nada democráticos ao imporem leis e atos comprados com a força e as verbas publicas que a hierarquia republicana lhes dá. 

Rui Rodrigues  

domingo, 6 de março de 2016

A Tabaroa e o Ladrão de Rombônia no Reino do Tabaronato


Este conto é de arrepiar os cílios dos olhos!

Conta-se que um certo pretenso politico, no fundo um orador de muita lábia que nunca trabalhou e ficou rico, chegou ao fim da vida e queria se aposentar. Para garantir o futuro, indicou uma tabaroa da vida para o substituir no comando do Reino, onde nomeou ministros e gente segundo sua própria estirpe. A tabaroa, que sabia assinar o nome, assinaria tudo o que lhe mandassem, e como tinha uma memoria razoável, faria tudo o que lhe determinassem, sem pestanejar que ela nao pestaneja. Porém, já no final de seu mandato, o rei, também ele um tabarouo, dedicou-se a preparar uma saída triunfal, na socapa e na calada da noite, mandando carregar todos os bens do palácio em contêineres que transferiria para sua nova e regia morada em famosa praia do reino, a poucas léguas de uma mini-fazenda, ricamente mobiliada. Dedicou-se também a destruir empresas publicas retirando-lhes o capital de todas as formas possíveis e imaginárias, para distribuir, também de todas as formas possíveis e imaginárias a todos os que o tinham ajudado a manter o seu poder no reino. O reino, que antes tinha um nome muito sugestivo de coisa que pega fogo, como se fosse um braseiro, mudou de nome. Agora merece o apelido de Rombônia, porque os cofres foram arrombados e as contas publicas apresentam rombos homéricos, devido a erros crassos cometidos pela tabaroa e pelo tabarouo (tabaréu é outra coisa). 





O reino é na realidade um Tabaronato, por ser dirigido por gente tabaroa, bronca, ignorante, querendo mandar em quem tem conhecimentos, onde apregoam um socialismo do tipo "dividir as riquezas do reino entre amigos e o povo que sofra". Manteve-se pela propaganda, enquanto o povo não começou a sentir a degradação dos serviços públicos, a inflação que lhe comia o aluguel, as roupas, a comida, e os obrigava a ficar na escuridão para não gastar energia. Depois vieram os mosquitos carregando microcefalias por falta de saneamento básico, e veio a Policia Federal por corrupção ativa, passiva, e adjacente, sempre latente nos meios do ex-rei sempre rei até o ultimo dia que está perto de chegar, e da rainha que nunca o consegue ser por ser excessivamente tabaroa, demais da conta, um deus nos acuda de imbecilidade atordoada. Uma imprestável,exceto pelas assinaturas acordadas com o ex-rei e seus asseclas.


O ex-rei nega todos os bens, todas as riquezas adquiridas depois de ser rei, porque antes era um pobretão, e a Policia Federal lhe bateu na porta com intimação, pedindo-lhe para ir prestar declarações na delegacia como cidadão comum que era, por já não ser rei. Ele esperneou, disse que não ia, e existe um vídeo em que ele, falando ao telefone com a tabaroa rainha, disse que a Policia Federal deveria enfiar a intimação no cu de alguém, linguagem esta bem de acordo com o politicamente incorreto ensinado por mãe tabaroa ou pelas circunstancias decorrentes de nunca ter gasto um tostão para ir aprender em escolas publicas. Mas foi!... Hoje a Policia federal voltou a sua casa e deixou um envelope que pode ser um convite singelo e bucólico para que ele mesmo se apresente na PF de forma a não precisar ser algemado. A rainha sofre com processo de Impeachment porque a população não aguenta mais tais desperdícios, desmandos e incompetência nacional e internacional. Como ela não tem conhecimentos por ser tabaroa, pede conselhos e é mal aconselhada. O que parece incrível, mas se entende, é que é sempre mal aconselhada! Sempre, não falha uma, como se os seus assessores fossem de uma espécie genuinamente tabaroa interessada em reduzir o reino a um redondo zero...
    


Consultado um mago do reino, que tem o poder de adivinhação, foi-lhe perguntado qual seria o futuro do reino. O mago é dos antigos, assim como o bretão Merlim, o celta druida Panoramix, que fazem previsões ali mesmo, no ato, e não dos do tipo Nostradamus, romano, que escreve, escreve, e deixa a interpretação múltipla para os do futuro. Nostradamus enxergava o futuro com olhos baços, talvez fruto de acentuado glaucoma. Nosso mago então, como gente da terra, cozinhou umas mandiocas até virarem uma pasta e fez um café coado. Serviu-nos o café e separou as borras que jogou sobre a pasta de mandioca. Depois deu uma misturada usando uma colher de Pau-Brasil. Disse:

- Vejo que o mal que a tabaroa fez ao povo de Rombônia foi tão grande, que somente os agraciados com bens, cargos e favores lhe são estupidamente fieis. Mas são apenas 3% do povo. Ela os representa, evidentemente, mas não representa os restantes 97%. Por isso a nação entende que ela deve abdicar de ser rainha porque nem governa, nem pode, nem deixa governar. Nos próximos dias o ex-rei será preso como bandido comum que é. A rainha, tabaroa, pode ser intimada a depor por assinar tudo o que lhe mandam assinar, mostrando assim que não decide, não tem voz própria, como se fosse um "duende", um vulto, empestado pela corrupção... Nada impede de ser investigada porque nem reis, nem presidentes, nem primeiros-ministros se podem esquivar da lei que é para todos.

E finalizou

O reino se verá livre da tabaroa e de seu comparsa, e de muitos outros do bando, e voltará a ser a grande nação que era, com ordem e progresso. Quem apostar na bolsa, pode comprar acoes até da Petrobras. Quem tiver dólares pode vender porque a paridade vai  ficar 1:2 e se os guardar perde dinheiro. Se quiser ficar mais seguro, que os troque por libras ou euros. 

Quem apostar que a rainha tabaroa e o ex-rei vão continuar fazendo suas estrepolias, pode tirar seu cavalinho da chuva, ou deixá-lo lá com um chapeuzinho de frevo, escoiceando e pinoteando ao ritmo de impeachment que não fará a minima diferença. O reino ficará livre deles também. Em breve, muito, muito, brevemente... Talvez  dia 14 de março deste ano da graça de 2016!

Rui Rodrigues 


        

sexta-feira, 4 de março de 2016

Lula ao entrar na Papuda...


- Olá companheros...Sou inocente!
- Nós também  semo tudo inocente! Te prenderam por quê ?

- Sabe que eu nem sei ???
- Tu também roubou??
- E desde quando presente é roubo?
- Te deram o quê ?
- Pessoal... Um triplex, milhões em palestras que nem fiz, fazendas, sítios, uns diamantinhos de Angola, doações ao Instituto Lula, estadias, viagens, passagens, umas graninhas... tudo pixulequinho de nada...
- Levantou o braço quando foi preso?
- Não!!! faltou desodorante lá em casa...
- Disse pelo menos que ia reclamar no tribunal de Haia?
- Hiiii... Num ia dar certo... O cumpanhero ai, o Ze Dirceu já tentou mas não colou...
- E agora, Lula, nosso grande e imaculado líder, o que vamos fazer?
- Vamos nos converter à Igreja Evangélica e virar pastores...
Em coro...

Amem !!!! Jezuiz... Aleluiaaaaa !!!!Semo tudo bençoado...


Rui Rodrigues 

Luiz "O Lorotas" quer um promotor imparcial

Qualquer interpretação do Lorotas como Lula, o petista, não é problema deste blog. É de quem interpreta.  Lula é o homem mais O-nesto deste planeta e arredores. Nossa intenção é aproveitar a onda e passar bons momentos com leitura desopilantrica. As imagens de Lula servem apenas para as novas gerações entenderem o que é um mau (péssimo) exemplo 




Luiz "o Lorotas" é um traficante que não trafica drogas. Trafica outras coisas. Deu-se o caso de ter comprado umas cotas em três apartamentos do tipo Minha Casa Minha Vida de uma Cooperativa de bancários, sendo que o Luiz Lorotas não é bancário nem Honorário. os três encarapitados um em cima do outro. Um dia, foi fazer uma visita para ver como estavam as obras, e deixou escapar ao construtor - com quem tinha fortes laços de cooperação - que o apartamento "não estava a seu gosto". Modesto e humilde, o Luiz Lorotas esperava que o construtor entende-se que o tal apartamento, que eram três encarapitados um em cima do outro, acima de suas posses. Mas o construtor, entendendo que o Luiz Lorotas vivia regiamente por ter benefícios que lhe rendiam centenas de milhares de reais por mês, quis dizer que o apartamento estava pobre demais. Por isso mandou mobiliar, construir um elevador particular, e ate a mulher e um filho foram lá dar pitaco de arquiteto-decorador. E continuaram pagando as prestações até que o caso bateu na policia Federal. Os demais cotistas ficaram irritados, com justa razão, porque eram pobres ou remediados, e não tinham influencia, e Luiz o Lorotas, tinha e muita. O Lorotas foi intimado a se explicar. Disse que o promotor era parcial e quis que fosse afastado. Depois, por não ser possível afasta-lo, disse que não ia depor. Finalmente mandou uma missiva, e seu Instituto - não é que o Lorotas tem um Instituto no qual recebe "doações" cheirando a "serviços" anteriormente prestados? - explicou como se fosse ele, para dar "força". Depois desmentiu e depois complementou. Uma confusão, cada assessor uma sentença... O papo foi mais ou menos assim, antes de Luiz sentar o rabo na central da PF...


- Eu não vou me expricar. Não lhes devo expricacão por besteira como essa. O promotor não é do meu partido politico o que já gera duvidas porque o caso não é de ladroaje, mas de politica...

- Então quem você quer que seja o Promotor? 
- Tem que ser um que já tenha nos defendido no passado. Tenho que escolher e informar a minha indicada para tirar os que são contra e colocar os que são a favor...
- Mas o senhor chama a isso de justiça? 
- Olhe, sabe? Se chamo de justiça ou não, é problema seu. O que não pode é eu escolher alguém que vai me dar ordem de prisão. 
- O que o leva a achar que vão dar-lhe ordem de prisão?
- Porra!... Eu fiz uns favores a esse pessoal no passado. Fiz muitos. Então eles acharam que queriam me dar um presente em compensação. Nada mais justo. Mas só aceitei se não ficasse em meu nome pro pessoal não falar que Lula isto, Lula aquilo...
- Mas no final não moraria no apartamento?
- Não... Esse era só pra guardar uma porrada de coisa que eu  ganhei de presente quando era o presidente do Brasil. 
- Nossa!... Três andares de deposito urbano de alto luxo na beira da praia e com elevador privativo!...Nesse caso você deve ter outros muito mais ricos que este para morar...
- Queria morar mesmo, descansar, em Atibaia, que o esquema é o mesmo...Numas fazendas que tenho por ai, e continuar ganhando minha aposentadoria presidencial, junto com os mimos do pessoal que me admira... Mas a policia é muito teimosa.
- Mas afinal, o Youssef deu dinheiro para a construtora que construiu o seu apartamento. Ou seja... Não foi doação da construtora. Alguém lhe deu o dinheiro...
- Eu não vou depor... Isso nem interessa! 



Acabaram por trocar o Ministro da Justiça. .Não era bem o que o Luiz Lorotas queria, mas contava que o novo ministro destituísse os promotores que o incomodavam. Um promotor de S. Paulo nem insistiu em chamar novamente o Lorotas a depor, mas três dias depois, a Policia Federal bateu no apartamento de Lula para o levar - se preciso fosse amarrado e mareado para depor. 


O que o povo nas ruas se perguntava era como que, mudando ministros as leis  mudam também, e o que é justo quando ha influencia  na justiça... Fizeram uma enquete. somente três por cento da população apoia o partido dele e disseram que os "fins" justificam os meios, mesmo sem saberem quais os fins, quais os meios porque só lhes dão pão com mortadela quando os tais ficam ricos, incluindo o Lorotas. Os outros 97% disseram que a lei deve ser igual para todos e que o Lorotas não tem razão nenhuma. Esta atitude mobilizou as forças democráticas, os promotores não foram demitidos e Luiz - O Lorotas, catador de tretas - vai ter que ir a julgamento. Como homem comum, já teria ido, mas ele não é um homem comum. Ele é o dono de uma nação. 

Eis alguns comentários correlatos:


Mas ela não perde o rebolado... absolutamente hilária... Adora rebolar em "speeches" governamentais, cercada de serventes e luz de holofotes Broadwianos . Quando for presa vai ser um arraso, com direito a beijim no ombro...(referindo-se a uma grande amiga do Luiz Lorotas, quando se constatou que sempre que o dólar desce e a bolsa sobe aumentam as probabilidades do Impeachment dela, o que acarretaria a falta de apoio da senhora ao Lorotas)

- Imaginem o Delcidio e sua delação premiada... E que no mesmo dia passe uma cópia para um jornalista amigo (deve ter muitos)...Para a Policia Federal é sigilo... Para os jornalistas um "furo"... (a propósito de os amigos do Lorotas dizerem que se houve vazamentos, então o réu fica impune, o que seria uma tremenda sacanagem, porque fato é fato, e artificio é artificio que não anula o fato)
- Já imaginaram quando Pallocci, Erenice, Mercadante, Falcão, Mantega, Levy, Aldo Rabelo, Graça Foster, e tantos - tantos,tantos - outros delatarem premiadamente, em que pocilga de prisão serão lançados Dilma e o Lorotas ??????? Eu jogaria em prisão comum precisando de reforma (reforma que eles não fizeram), sem piaçaba pra limpar vaso, sem papel higiênico (mas com folhas da revista Veja para lerem a merda que fizeram), e água potável do nível morto...

Rui Rodrigues 




  









quarta-feira, 2 de março de 2016

O catador de tretas

Et aedificare imaginem hominis, agit.

Antes de começarmos, vejamos alguns dos significados de "Treta":

s.f. Artimanha; o que se faz com o objetivo de enganar, de iludir; ação astuciosa, ardilosa: conseguiu o emprego com uma treta ardilosa.
Gíria. Mentira; ação ou comportamento repleto de falsidade: contou uma treta, mas não acreditei.
Gíria. Bagunça; confusão ou desordem: aquela escola é uma treta!
s.f.pl. Tretas; discurso que busca enganar, iludir: o presidente só disse tretas e o povo acreditou.

Intróito


Esta história não tem pés nem rabo nem cabeça, e não deve ser levada a sério, tratando-se de diversão literária. Tão inacreditável quanto alguém dizer que não há ninguém mais honesto que ele próprio neste pais, arredores e transoceânicos. E mesmo que haja, esta história continuará sendo uma invenção literária, produto  de papos de bar.
O catador de tretas é um ser imundo que um dia emergiu do fundo do mar de lama como pobre criancinha desamparada e hoje faz parte - ou vai fazer - 
da literatura de cordel de Garanhuns por se mostrar como essência das lamas que inundam o pais (jamais se esperava isso desse ser nojento). O catador de tretas é essencialmente um individuo que faz ou manda fazer qualquer coisa, e que, mesmo vendo, ou sendo avisado do erro, nem tenta consertar: Usa tretas para tentar justificar-se. Se uma treta não serve, tenta outra, e assim, de treta em treta, vai levando a vida. Construiu uma imagem e fizeram-lhe um filme que hoje seria rodado de forma completamente oposta, assim como quem construiu estatuas de Lenine e depois as derrubou. Isto numa sociedade burra ou dominada pela força de paredões de abate a tiro da opinião e da palavra, poderia funcionar mas não eternamente, exceto em Cuba. No Brasil não funciona. Vai contra a índole nacional. Estes diálogos são fruto de um sujeito que visitou O Instituto Granjeiro Lula em Atibaia e que perdeu o emprego vitima de redução premeditada de efetivo em tempos de economia difícil em franco despencamento. Assim como surgiu, ele levantou da mesa e desapareceu sem sequer mostrar a identidade ou deixar registro.


Diálogos do catador de tretas


- Não vou!... Não vou, nem eu nem a Maricota. Eles não podem intimidar uma figura publica tão notória como eu.
- Mas trata-se de uma intimação judicial...
- Que se foda a intimação, porra! Pra mim é uma intimidação...
- Mas você não pode ignorar a lei. Isso é conhecido como desacato.
- Para a lei possa até ser que seje desacato... Pra mim não é. A policia não tem jurisdição sobre mim. Só o Supremo Tribunal Federal que teria mas eles não vão me trair.
- Mas trata-se de uma ordem dada por um juiz e o senhor já não preside.
- Que se foda esse juizinho de merda, um titica... Vou entrar com um Habeas Corpus!
- Mas assim mostra que está com medo... Equivale a uma confissão!
- Foda-se! Depois vou para o Tribunal de Haia...
- Não vai adiantar... O Zé Dirceu já disse isso, nunca foi, e está preso... Levantou até o braço pra dizer que era revolucionário e que não era ladrão...
- Então vou trocar o Ministro da justiça e acabar com quem quer acabar comigo...Troco até o STF inteiro...
- Ninguém quer acabar com você, assim como ninguém quer acabar com ninguém do tráfico em particular. Trata-se de denuncia e apuracão de responsabilidades. Se não tem culpa, vai lá e te explica...
- Mentira! Eles querem acabar comigo. Só culpam gente do PT!
- E vocês? não têm denuncias a fazer deles? Acaso fizeram alguma denuncia e as investigações não prosseguiram?
- Não quero saber, porra! Tenho um nome a zelar.
- Mas assim você não zela pelo nome. Todo mundo vai perceber que é manobra, golpe! Se têm alguma coisa contra a oposição, têm que delatar, denunciar.
- Temos nada!...Seja qual for o partido que nos substitua não vai mudar nada. Veja só...Temos o Foro de S. Paulo. Criamos partidos que têm no nome "comunista", "popular", "socialista"... Esses estão conosco, mais o "rede" e o "Solidariedade". Os outros não importam por serem inexpressivos. Não têm votos!
- Mas nesse caso, a ser assim, em seis meses de novo governo o povo vai para as ruas novamente...
- E nós jogamos-lhes a policia em cima, e o exército se for necessário. O que não se pode é destruir a minha imagem. Vou mandar-lhes um escrito cheio de linguiça, e eles que se virem com o que lhes vou mandar. Poderia advogar-me o direito de não produzir provas contra mim mesmo. Entretanto, vou mudando as peças do xadrez, você sabe... Troco um, depois outro...
- E ela vai deixar?
- Se ela está reclamando, eu pergunto quem ela pensa que é? Uma secretária ruim pra cacete, ruim de roda, sem jogo de cintura, uma autômata que nem sabe falar, e mal sabe assinar ou fazer umas continhas de armazém que eu pus lá... Aceita tudo! Nem pra catar bosta, mas é fiel a quem a pôs lá em cima. Deve ser a unica virtude que ela tem. O resto jaz no pó.
- E por que indicou alguém assim tão ruim?
- Porque assim ela se responsabilizava, nós ganhávamos com a situação, e no final do mandato, o povo não a aguentaria mais e assumiríamos novamente o poder para "salvar a Pátria". Isto no primeiro mandato, mas estava indo tudo tão bem, o povo aceitando tudinho direitinho, que pensamos em prorrogá -la por mais um mandato, sem que eu me desgastasse.
- O que deu errado então?
- Ela começou a achar que era tudo tão fácil, que quis governar sozinha e se atolou igual vaca no brejo. As ruas deram o grito e a oposição bateu feio, nós sem nada pra bater neles.
- E os famosos bens e sua riqueza?
- Veja bem...Eu fiz muita gente rica por este Brasil afora que ninguém imagina. Eles me retribui de muitas maneiras, cada um como pode e pra se ser dono de alguma coisa não se precisa ter escritura, que é pra não poderem dizer "ele tem isto e aquilo". Tem muita gente com inveja dos outros e não os deixa crescer. Quer ver um exemplo? Fidel Castro é dono de Cuba inteira e não tem nada no nome dele. Houve outros na hist
ória. 

- É para isso o Foro de S. Paulo?
- Claro!... Veja bem... Se tentarem me tirar o poder que tenho os países do pacto invadem o Brasil e vice versa...
- Mas não invadiram a Argentina na saída da Cristina, nem a Venezuela com a perda do Maduro que agora manda menos até sair. Na verdade é uma questão de tempo... Nem na Bolívia onde o Evo Morales perdeu a oportunidade num plebiscito de continuar no governo por mais oito anos... Acho que esse negócio do Foro furou!
- Por isso que eu não posso perder a minha condição de intocável, deixar de ser a maior figura politica que o Brasil já teve, por sermos a maior potencia do continente. Se eu continuar mandando ainda posso ajuda-los a manter o ideal. Eles não têm dinheiro que chegue, entende? E só nós podemos ajudar porque somos os mais ricos dos companheiros.
- Mas isso é uma treta louca, um delírio! Ainda acredita nisso? 




Foi por causa desta ultima pergunta que a causa do desemprego foi a redução premeditada do efetivo em um, talvez uma meia  duzia. 

(Pra quem nunca sabe de nada, nunca ouviu nada, não fala nada e foge de intimação da policia, além de ser a pessoa mais honesta do mundo, fica claro que esta historieta aqui contada não é verdadeira, e não é mesmo! Apenas uma hipótese imaginativa de uma mente curiosa, caso as paredes falassem mais honestamente)


Rui Rodrigues

terça-feira, 1 de março de 2016

A gênese dos pintos e o paraíso.

Esta história é fruto de conversas em que, numa roda de amigos, discutimos sobre a criação e abate de aves, mais especificamente frangos. Um dos clientes na mesa do bar é funcionário de uma fábrica de criação de pintos, acompanhando desde o eclodir dos ovos até o abate. Ele é cliente habitual do Bar do Chopp Grátis.
Um dia sentou na mesa onde costumamos nos reunir e nos perguntou:   

-O que é "inteligência"? Conhecemos muitos dos processos que resultam no que podemos chamar de inteligência, mas não existe uma definição credível, confiável e abrangente. Ainda não,mas quando chegarem a uma conclusão, teremos uma dor em nossa consciência, porque não pode ser tão diferente de animal para animal... 

E a consciência? creio que estamos tão avançados quanto no que se refere a inteligência. O livro " O futuro da mente" de Michio Kaku, aborda o assunto de acordo com os maiores avanços da ciência e constata que sabemos  ainda muito pouco do que sejam a inteligência, a consciência. E memória? Qual a galinha que não sabe onde fica o galinheiro, o cachorro que não sabe qual a sua casa, o gato que sabe como abrir portas pulando na maçaneta e não esquece? Então vamos imaginar que os pintos tenham pelo menos um pingo de inteligência, outro de consciência e outro de memória, logo ao nascer, e daí  para a frente até morrerem, mais dois pingos espaçados ao longo do seu crescimento.  




Agora imaginem uma escuridão sem passado onde desponta uma consciência que não sabe o que seja escuridão, mas sente pela primeira vez que o mundo em que vive tem que ser rompido, que tem de sair dali. Sente ser imperioso sair daquele mundo escuro para continuar qualquer coisa que nem sabe o que seja. Começa a dar bicadas na parede que o separa dessa escuridão para algo que não conhece, mas para onde é imperioso ir, e consegue quebrar a parede. Por instantes, logo que consegue romper esse mundo escuro, fica confuso com tantos piares enlouquecedores à sua volta, iguais aos seus, e com umas pequenas luzes que emitem também calor vindas de cima. Todos os outros são amarelos, praticamente idênticos. Sente estar cercado de outros seres que piam como ele, e identifica os piados como chamados de desespero. Falta-lhes algo. Um ser semelhante que lhes dê comida, que os possa abrigar, dar-lhes calor. Têm sede, mas não há água. Estão todos dentro de novos mundos de onde não podem sair, cercados de barras que seus bicos não quebram. Assim passam a primeira fase de sua vida, entre piados sede e fome, por longas oito horas. 





O mundo à sua volta se ilumina de repente. Aquele pinto ouve um som forte, seu mundo balança causando incertezas, medos, dores, pelo rodar do trator. Pisoteiam-se uns aos outros, alguns sucumbem. Sente-se desamparado, entregue a um destino que nunca viu e sente também que aquele barulho enorme que ouviu antes de se começar a mover, agora o acompanha enquanto se movem. Alguns dos que sucumbiram piam fraco, parecem estar sofrendo. Outros jazem inertes, os olhos parados, olhando sempre para o mesmo lugar. Repara então que esse seu novo mundo cheio de grades se abre num lugar cheio de correias transportadoras e mecanismos barulhentos, e os despeja a todos, num recipiente, aos magotes. O lugar está cheio de outros mundos gradeados despejando pequenos seres amarelos no mesmo lugar de onde são transportados até as mãos de seres gigantes, com grandes patas que torcem os pescoços a uns irmãos e a outros não. Notou claramente que as mãos enormes torciam os pescoços dos mais fracos. Olhou para baixo e viu que alguns caíam das correias transportadoras no afã de fugirem dali. Estava confuso por não saber onde estava, o que viria a seguir, nem porque estava ali. Ficou contente por não lhe terem torcido o pescoço. Meteram-no num outro mundo cheio de grades. Seus irmãos agora eram todos fortes, mas continuavam apertados uns aos outros. Foram levados para um outro lugar, sem grades, onde havia comida e água, luzes em cima de onde vinha calor, mas nenhum ser igual a eles, maior, com asas onde pudessem se esconder e que pudessem chamar de mãe. Ficaram lá por cerca de 30 dias.        


 




Com uns cinco dias nesse mundo mais espaçoso já se conheciam uns aos outros e o ambiente era alegre. De vez em quando disputavam comida, mas correu voz entre eles que estavam num paraíso onde havia comida e água em abundância, calor. Tinham um grande e poderoso provedor que lhes dava luz e calor, comida e água e isso era tudo do que precisavam. Não precisavam saber mais nada e tinham medo de saber. Cresceram muito e ficaram quase adultos. Adoravam o provedor, e agora eram como anjos brancos, com fortes asas, se houvesse espaço voariam. Viam o mundo lá fora, com uma luz enorme na parte de cima sob fundo azul que logo desaparecia para dar lugar a outra que não transmitia calor, sob fundo escuro. E isso se repetia em horários quase certos, mas ali dentro, no paraíso, era sempre como a luz mais forte e quente, aquela que normalmente aparecia lá fora sob fundo azul, exceto nos dias em que caía água de lá. Por falta de referencia, comiam a todo o instante e engordavam muito. Um dos irmãos deu a ideia de chamar Sol ao disco maior e de Lua ao menor. Dia ao tempo com o maior, noite ao tempo passado com o menor disco luminoso. Ao provedor chamaram de Deus. Deus era bom, tinha-lhes dado a vida e os alimentava. Deus era fiel. Se tudo o que viam era assim e tinham um Deus que os provia, então esse provedor lhes dera o paraíso, fizera o mundo em que  viviam segundo sua vontade e de certeza os tinham feito parecidos com ele. Deus deveria ser um Frango enorme, que nunca se via, mas que mandava os provedores de mãos enormes que torciam pescoços de pinto, servir-lhes, atendê-los. Aos fins  de semana Deus, o enorme frango provedor, desaparecia para descansar. Chamaram ao irmão que tivera o vislumbre, de profeta. Ele entendia o provedor. De vez em quando, quando a ração parecia que ia acabar, o profeta levantava as asas, piava mais alto, e dizia que tinha pedido a deus por mais ração. E a ração chegava. O profeta conhecia  o esquema de horários da ração. Os irmãos reservaram-lhe o melhor lugar do Paraíso, defendiam-no das bicadas dos outros irmãos descrentes. Um dia trouxeram uns irmãos de outro lugar. Eles sabiam de outras coisas. Houve desentendimentos entre eles.
 


Havia um buraco na malha que cercava o paraíso, defendida por anjos armados, com aspecto  igual ao daqueles que torciam o pescoço dos pintos. Suspeitaram que havia alguma guerra de bicadas nas imediações. Alguns irmãos escapuliram pela calada de uma noite escura e chuvosa. Viram quando um raio caiu do céu. Três deles foram fulminados instantaneamente. Disse o irmão que tivera o vislumbre da associação do provedor a um Deus, o profeta, que tinha sido castigo do Todo Poderoso, coisa de que alguns duvidaram, porque aqueles raios também eram produzidos no paraíso, ali mesmo, quando alguns fios, descapados por tantas bicadas, se encostavam. Saiam fagulhas, davam choques, irmãos morriam exalando cheiro de penas queimadas. Era o mesmo cheiro que de vez em quando chegava ao paraíso vindo de bem perto dali, de uns barracões parecidos com aquele onde estavam e do qual vislumbravam luzes azuis. A partir desse dia, em que viram os irmãos serem chamuscados e pararem de cantar, andar, olhar, se mexerem, começaram a chamar a esses barracões de inferno, por simples associação do cheiro de penas queimadas. Os irmãos que haviam chegado por ultimo ao paraíso disseram que havia uma guerra entre provedores e que cada barracão tinha seu Deus, seu provedor. Durante as guerras chegavam caminhões, carregavam os irmãos e desapareciam. Chamaram vida aos instantes em que podiam piar e morte à escuridão. Inferno era o lugar de luz azul onde todos morriam com cheiro de penas queimadas. Por vezes os provedores usavam armas cintilantes, muito poderosas para evitar que invasores roubassem as fieis aves do paraíso.

Certo dia pela noite vieram novamente os das máquinas, e os levaram a todos para uma sala iluminada por luz azul para que ficassem relaxados. Haviam chegado ao inferno. Não sentiram dor. Sentiram alivio e não deixaram memória para a posteridade. Se fosse por terem cometido pecado por fazerem ovos, jamais seriam expulsos do paraíso. Nunca souberam como eram as frangas, nem cogitaram de sua existência.    

Rui Rodrigues