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sábado, 8 de outubro de 2011

O despertar do Norte de África (O despertar da humanidade?)





Todos nos perguntamos o que aconteceu no Norte de África que, de repente, Egito, Líbia, Tunísia, decidiram revoltar-se e exigir democracia... Mas se analisarmos os fatos à luz difusa de uma vela de humanidade, poderemos ver que não se poderia esperar outra coisa.
Foram muitos os séculos em que, em nome de Maomé aquelas terras foram conquistadas. O grande Islã não é fruto de uma revolução tecnológica, filosófica ou racial, mas sim de um movimento religioso que começou verdadeiramente no ano 610 DC, quando Maomé num de seus retiros para jejuar, nas montanhas da Arábia, julgou ter ouvido uma voz, a do anjo Gabriel, -personagem da mitologia cristã e judaica - incitando-o a “recitar”. O que Maomé recitou, movido pela fé, deu origem ao livro religioso o “Corão”. O que Maomé passou então a transmitir na península Arábica, foi uma religião baseada na Torá judaica e nos testemunhos de uma nova compilação de documentos a que se chamaria futuramente de Bíblia Cristã. O movimento correu o mundo do Norte ao Sul de África e estendeu-se até a Índia e à China. Encontrou resistência em Israel, na Europa, e quando o Novo Mundo foi descoberto em 1498 (América do Norte) e 1500 (América do Sul), o islamismo não ia a bordo das caravelas, Também não viajou a bordo dos navios que colonizaram a Austrália e a Nova Zelândia.
As guerras religiosas principalmente entre cristãos e muçulmanos explica-o amplamente, porque embora em seus livros esteja patente o amor ao próximo e a compreensão, a realidade se mostrou outra. Assim como o cristianismo foi perseguido em Roma, o islamismo foi perseguido na Europa Cristã. Ambos os movimentos eram expansionistas, tentando impor a sua religião ao maior número de fiéis, oferecendo-lhes o céu após a morte, assim agissem na terra dentro de padrões que, se por um lado beneficiavam a coexistência de homens e mulheres na sociedade, por outro os condicionava á obediência e à sujeição às leis. Sem o “direito romano”, a “Lei” eram os preceitos contidos nos livros sagrados das religiões. Foi por essa dúbia interpretação das leis, em que os dirigentes da nação tinham funções “divinas”, que cristãos e muçulmanos se declararam mutuamente guerras intermináveis e sangrentas. No Oriente Médio de hoje ainda perdura essa guerra, agora limitada a árabes e judeus, contida por sucessivos acordos de paz que são sempre rompidos, quer por novos assentamentos em terrenos em disputa para as fronteiras do povo palestino, ou por foguetes ou homens-bomba lançados da faixa de Gaza contra Israel.
Se olharmos desde o ano de 622 DC até os dias de hoje, poderemos ver que foram muitos os ditadores que governaram países da Europa e daquilo a que chamamos de mundo ocidental, mas foi no mundo islâmico que eles mais perduraram até os nossos dias, numa simbiose entre a educação de acato ao Corão por parte da população crente, de bons fiéis, por um lado, e de outro por esses ditadores que vivem em mordomias, são ricos, cercados de tudo o que a população não tem. O controle da população, nesses países de governo ditatoriais, tem sido feita ao longo da história através da aplicação da “Lei” que inclui o corte das mãos a ladrões, o apedrejamento de mulheres por motivo de traição sexual, a voz calada, os rostos das mulheres cobertos para não despertar desejos, sua participação na política e na religião completamente vedadas. Curiosamente, o marido é o pater-família do Código Romano, responsável por toda a família. Mulheres como objeto, podem ser prometidas em casamento por acordos entre pater-famílias sem direito a escolher. Mulher não tem posição social no Islamismo, são proibidas de dirigir automóveis. O que poderia mudar tudo isso no Norte de África, depois de 1.400 anos de tradição que imobilizou o desenvolvimento islâmico?
Nas duas últimas décadas do século XX, o desenvolvimento do mundo ocidental deu um pulo, um salto, graças ás descobertas em todos os níveis da ciência, colocando homens no espaço e na Lua, construindo satélites artificiais, desvendando o genoma do corpo humano, construindo uma estação espacial, vendendo nas lojas a preços populares bilhões de computadores e criando a Internet, uma forma de comunicação instantânea que acabava com os segredos dentro das fronteiras físicas de qualquer país. Este tipo de comunicação, aliado à tecnologia das câmaras digitais, derruba qualquer tentativa de qualquer governo de esconder o que se passa dentro de suas fronteiras, mas mais ainda, não impede que, de dentro de suas fronteiras, se saiba o que se passa no mundo. Quando na década de noventa do século XX a CE- Comunidade Européia se ampliou a 27 países e a Turquia, país islâmico, se candidatou à comunidade, o mundo se abriu ainda mais para o mundo islâmico. Era impossível esconder que as mulheres pintavam as unhas, mostravam os rostos e as curvas do corpo, dirigiam automóveis, tinham suas empresas, deixavam os filhos em creches, votavam para eleger seus políticos, e eram presidentes de suas nações. Como se não fosse bastante, marinheiros, pescadores, pessoal do corpo diplomático, funcionários das companhias de aviação, comerciantes, industriários e industriais, empresas estrangeiras com escritórios dentro das fronteiras desses países, ajudavam a divulgar as maravilhas do mundo ocidental. Como impedir este conhecimento?
Isso era impossível, e logo começaram as ondas de cidadãos atravessando o Mar mediterrâneo em busca de uma vida melhor e livre, arriscando a própria vida, tal como alemães da alemanha oriental o faziam atravessando o muro de Berlim para a parte ocidental. Então, uma a uma as ditaduras islâmicas do Norte de África foram caindo e nos dias de hoje só podem ainda apoiar ditadores e o “paredón” cubano aqueles que, por serviços prestados a partidos têm a esperança vã de um dia virem a fazer parte de governos de ditadura. O mundo já não tem fronteiras isoladas do conhecimento. Todas as portas da humanidade estão abertas. Por essas portas podem ver-se ainda os redutos de ditadura tradicional herdados do passado: As sedes de governo, onde tudo se resolve e leis são ditadas e impostas sem se consultar o povo. O despertar do Norte de África não é um caso isolado sobre o qual a imprensa mundial quase não fala. Não fala porque não entendeu ainda o que se passa, não com o Norte de África, mas com a humanidade, que sempre escolhe os seus caminhos por mais que lhe sejam impostos outros caminhos.
Assim como o poder corrompe, e o dos ditadores corrompe mais ainda, assim também a humanidade é capaz de corromper, convencendo os escalões dos governos ditatoriais que algo tem que mudar... Quem não vê que a humanidade caminha para a sustentabilidade? Quem não vê que, com os meios tecnológicos colocados à sua disposição, a humanidade já pode votar em tudo o que é votável, e tudo se pode votar? Instantaneamente, sem que sejam necessários alguns “eleitos” desconhecidos, indicados por Partidos Políticos, para decidirem em nome das sociedades? Porque razão tosca e primária, as sociedades se deverão submeter ás vontades nem sempre confessáveis de meia dúzia de eleitos que não se podem deseleger durante quatro longos anos?
Os tempos que vêm trarão um progresso inimaginável às sociedades e à humanidade. Podemos até pensar na vida eterna.
Rui Rodrigues

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