Zeca Vamporra
Zeca Vamporra, dizem, nunca teve mãe. Não teve mãe, também dizem, porque se sentia
rejeitado por ela. Como andam sempre dizendo, e nunca assumem quem disse, passo
adiante: Ele não era filho do pai dele. Era filho de um outro pai, e a mãe não
sabia quem era por razões óbvias. Nada de reprovável. O problema é que a mãe
sempre o via como “o filho do desconhecido” e não como filho dela. Zeca
Vamporra suportava tudo com estoicismo. Um dia provaria que tudo estava na
medida certa para ele. Passaria a perna em todo mundo e ninguém notaria. Não é
que a mãe dele que era mãe, nunca percebeu que ele a odiava? Se a mãe não
percebia, o mundo também não!
Zeca Vamporra era um revoltado, daqueles que aprendeu a esconder a sua revolta para ter tranqüilidade em casa... Sofria mil martírios, sempre calado, desde que conseguisse atingir os seus objetivos. Na escola era medianamente aplicado. Aos 19 anos já era líder estudantil. Não porque soubesse alguma coisa das matérias, mas porque estava na moda reclamar de tudo e ser da esquerda, Tcheísta mais que Fidelista. Socialista não era mesmo. Gostava muito de ouvir o hino da “internacional socialista” e se arrepiava todo. Curtia uma boa vida, desde que paga pelos outros. Não precisava ser “expert” em qualquer matéria. Conhecia as pessoas e sabia do que era capaz.
Um dia trancafiaram o Zeca Vamporra, ao tentar fundar uma
espécie de Congresso Estudantil contra a ditadura. Como tinham seqüestrado um
embaixador, ele e mais um grupo foram libertados e deportados em troca do
político. Chegou até Cuba e fez uma plástica lá. Nunca acreditou que um dia a
ditadura acabasse. Não acreditava no seu próprio movimento, nem em Che, nem em
Fidel, e tratou de mudar a cara para não ser reconhecido. Mas continuou
gostando muito de dinheiro, e de não dar o corpo aos abutres em batalhas. O
negócio dele, como profundo conhecedor das pessoas, era gerir. Gerir qualquer
coisa.
Foi aí que se perdeu o rastro do Zeca Vamporra.
Dizem uns que morreu na Serra Maestra com o Che. Dizem
outros que Zeca Vamporra é falso e que é outra pessoa, e que por isso alegaram
a tal operação plástica em Cuba. Outros dizem que foi o Pitanguy que lhe fez a
plástica quando visitou Cuba.
Eu não sei de nada.
O que sei é que Zeca Vamporra tinha um comparsa político em
ascensão enquanto eram vivos: Taumaturgo Bode! ... O temível Taumaturgo bode.
Morreram, ou sei lá, na mesma época. E passaram a agir em surdina. Cada um para
um lado. Taumaturgo até lhe facilitou a vida quando por sua influencia
aprovaram uns documentos que deixavam o dito por não dito, o passado enterrado
sem vencidos nem vencedores, um helicóptero jazendo no fundo do mar com o
sujeito que não queria deixar as coisas em banho Maria.
Zeca Vamporra funda então um Partido com um sócio. O sócio,
a principio, era muito honesto de princípios, mas o Zeca destruía as bases de
qualquer um e disse-lhe.
-Cara... Sem dinheiro não podemos fazer nada. A URSS está
nas últimas. Vai quebrar. Cuba está com bloqueio e a China não se mete nisso.
Vais apanhar dinheiro onde para levarmos o Partido adiante? Você quer um
Partido quebrado?
Diante das evidências, o sócio aquiesceu. Na verdade fez um
contrato com o diabo, ou um representante dele, com assinatura em branco. Nunca
mais se separaram.
Então Zeca Vamporra começou a aparecer. Como fantasma. Arrecadou
dinheiro para a causa usando uma conta ns Ilhas Jacaré já defloradas por tantas
contas internacionais. Ajudou a empichar um alto membro do governo que mais
tarde, em revanche, lhe atrapalharia a vida ajudando os inimigos que fizera a
porem-no para fora do cargo que tinha. Nisso o Taumaturgo Bode ajudou um
bocado, porque cada um tinha um dossiê mais grosso que a Barragem de Três
Quedas e se respeitavam mutuamente. Se um dia um deles resolvesse abrir os
dossiês, acabariam com a vida de ambos.
Mas afinal, estão vivos...
Eu não sei de nada. É tudo o que contam outros fantasmas que
andam por aí, de menor expressão, loucos para subir no podium e assumirem a
chefia da Congregação Nacional dos Fantasmas, tendo até várias ONGs que
defendem tudo na propaganda, mas não fazem nada de útil para defender: O dinheiro
que recebem é todo gasto em notas frias que nunca expressam nada do que foi
gasto. Aliás, com as notas frias, nem gastam dinheiro. Só distribuem o que
recebem do governo.
Dizem, não sei, que uma vez quando se encontraram, o Sócio,
Zeca Vamporra e Taumaturgo, comentaram e assentiram que o povo era burro
mesmo. E que os empresários, em troca de
uns favores, pagavam a peso de ouro. Eles eram apenas intermediários entre a
burrice popular e a avareza dos empresários. Sempre tinha sido assim. A
revolução afinal tinha ganho a batalha contra a ditadura, porque agora estava
no poder!!!!
Riram a bandeiras despregadas, estourando as pregas anais de tanto rir. Gritavam:
- Companheiros! ... Ganhamos!... Estamos no poder, e os
trouxas estão lá... O povo pastando e os empresários pagando até barato. O idiota do Fidel está lá com a sua Revolución
o muerte!... Todo bloqueado, caquético, pé na cova, o povo vivendo numa crise
eterna!.. O Che está morto, o otário...
Morreu pelos camponeses que continuam na merda de sempre...
Quando Zeca Vamporra e Taumaturgo Bode atacam as vítimas,
sempre como fantasmas, o mundo de um lado treme, do outro toma champanhe, do
outro fazem festas em Paris com muitos guardanapos, de outro enchem os alforjes
de dinheiro, o outro, o maior, agora está convencido que é classe C e já não é
pobre...
Zeca Vamporra ganhou este apelido porque era uma palavra
comum na época. Se suas comunicações fossem grampeadas, tudo o que ouviriam
como referencial era um “Porra” bem colocado.
Vampiro raiz do nome Vamporra é porque sempre viveu à custa
do sangue dos outros. Anda sempre com uma pasta cheia de dinheiro que os outros
pensam ser de documentos.
Rui Rodrigues
Qualquer semelhança será por decisão própria de cada um ver o que quer ver. Eu vejo apenas um fantasma.
ResponderExcluirQue boa noticia, Rui.
ResponderExcluir