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terça-feira, 17 de julho de 2012

As gatas e os gatos - Tentando compreender




As gatas e os gatos

Muita gente tem gatos, mas vê-os como animais quietos que gostam de estar perto. Alimentam-nos e isso é tudo. Algumas outras pessoas fazem carinho em seus animais. São mais raros. Mas gato é muito mais do que isso. Passarei a referir-me a uma gata em especial, a Sarkye, minha agradável e interessante companheira.

Sarkye é uma gata tricolor, branco negro e laranja dourado, que tem um comportamento específico. Por seu comportamento, merece uma homenagem. Se fosse um ser humano poderia ter uma estátua em qualquer parque de qualquer cidade. Ela merece muito mais do que isso, ou a ração que lhe dou.

Lourdes Vieira e uma amiga me perguntaram por telefone, da rua, se eu gostava de gatos. Isso foi em 2002, em Lisboa e me lembro de ter respondido que “dependia da cara” do gato ou da gata, certamente tendo como referência os que eu já vira em toda a minha vida, e em desenhos de Walt Disney. Nessa mesma tarde, apareceram lá em casa com uma gatinha tricolor que não tinha nem um palmo de comprimento. Tinha sido encontrada numa lixeira de rua, buscando comida. Encontraram-na faminta, perseguida, deprimida e estressada. Sobretudo arredia a qualquer contacto. Mas era linda. Como apreciador da beleza e dos perseguidos adotei-a como o mais novo membro de um lar que há dois anos era apenas meu, fruto de uma onda internacional de lares desfeitos por divergências no modo de viver, uma caverna urbana de pintor, cheia de telas prontas, duas ou três em execução.

Pintores sempre sofreram a influência dos odores das tintas, e muitos se viciaram com eles. Muitos também bebiam quer pelo prazer de beber, quer pelo relaxamento mental que lhes reduzia a censura própria e os libertava para os devaneios no uso das cores, dos temas, das formas. Sem viciar em tintas porque passei a pintar com acrílico, eu bebia uísque, Whisky e Whiskey, e na oportunidade, quando a sarkye entrou em minha vida, de uma garrafa de Cutty Sark. Daí o nome de minha simpática gata.

Ela consegue adivinhar quando estou meditabundo. Nessas ocasiões, sinto algo no ambiente e olho em volta. Invariavelmente dou com os meus olhos nos olhos dela que me fitam amarelos, límpidos, transparentes, perscrutadores como que a me perguntar: - E então...Qual é o problema? 

Se algo cai no chão, não sai do lugar até que eu preste atenção e apanhe o objeto caído. Quando tenho algo aquecendo no fogão, olha insistente e freqüentemente para lá. Mia para sair de casa e fazer as suas necessidades lá fora na área de serviço, e quando por motivos que desconheço parece avessa a miar, fica parada em frente à porta até que eu me dê conta e a abra. Deve ter seus motivos para umas vezes miar e outras não. Bebe água da torneira. Quando sente sede ou fome, mia diferente como se dissesse algumas frases. Quando vou para o banheiro acompanha-me e fica ali do meu lado. Já perdeu o hábito de se enfiar dentro de minhas calças ou shorts arriados. Aprendeu a entender o meu “não” dito de forma firme mas em tom baixo e carinhoso. E quando digo “vem sarkye”, esteja onde estiver vem correndo. Quando subo nos quartos, no alto da escada, acompanha-me, como sempre. Mete-se debaixo das camas, mas quando digo “vem sarkye”, ela sai correndo para o hall. Aprendeu que quando chamava e não vinha, ficava trancada por bom tempo.

Moro perto da praia, a uns cento e cinqüenta metros no máximo. Não há cachorros nas ruas. Um dia experimentei deixar que ela me acompanhasse á praia. Seguiu-me sempre, miando atrás de mim, como que dizendo que eu me afastava muito. Na metade do caminho parou. Voltei e deixei-a em casa. Interessante quando assobio... Esteja onde estiver vem ronronar e deita-se a meu lado buscando meus braços. Fica me cheirando, seu rosto quase encostado ao meu, tentando perceber onde está aquele “passarinho” que canta. Quando me deito, enrosca-se aos meus pés. É bom no inverno. Quando estou no computador, vem encostar sua cabeça em meu braço. Adora quando lhe coço a garganta ou lhe faço um cafuné na cabeça. Gosta quando saio para pescar e lhe dou algum peixe. É dia de sair da ração e quando cozinho, fica de costas para mim, na cozinha, como que a me guardar de “predadores”. Deve ser um hábito antigo, adquirido de quando foram domesticados os primeiros gatos.

Afora isso sempre me surpreende chamando-me para brincar. Ou o faz dando-me uns tapas na minha perna e correndo em seguida para se esconder, ou indo para o alto das escadas e começando a miar para que eu corra atrás dela. Não há como não me lembrar da religião hindu e levado a pensar que ela é inteligente, sabe o que faz, e que numa próxima reencarnação virá no corpo de uma bela mulher. Já estou pedindo a Deus que lhe dê uma alma, se é que a não tem já... Ela merece!

Rui Rodrigues


Apêndice: A história dos gatos pode ser resumida assim:

Os primeiros animais mamíferos chamavam-se Creodontes e surgiram há cerca de 60 milhões de anos atrás, e floresceram admiravelmente após a extinção dos dinossauros. O gato partilha com cães, ursos e outros mamíferos um ancestral comum - uma criatura pequena, semelhante à doninha, de corpo comprido e pernas curtas, chamada Miacis. Surgido dos creodontes há cerca de 50 milhões de anos e bem adaptado a uma época hostil da história do planeta, o Miacis evoluiu e prosperou, transformando-se na diversidade da moderna família de carnívoros que hoje conhecemos. Uma das ramificações do Miacis produziu os primeiros "gatos", os Proailurus, que caminhavam com a planta dos pés no chão. 

Há cerca de 20 milhões de anos, o Proailurus deu lugar ao Pseudaelurus, que já caminhava nas pontas dos dedos e possuíam poderosos caninos afiados. Do grupo dos Pseudaelurus emergiram os antepassados diretos do atual gato doméstico, os Felidae. Durante os milhões de anos seguintes, o Felidae  subdividiram-se em muitas subespécies, todas extraordinariamente aparentadas com os gatos modernos. Há doze milhões de anos atrás surgiu o Felis lunensis, espécie européia que se julga ser a antepassada direta da atual família de gatos selvagens, sendo menores que seus predecessores. Nesta época, os gatos modernos dividiram-se em dois grupos, os do Velho Mundo e os do Novo Mundo. Um grupo de felídeos selvagens, pequenos e independentes,   espalhou-se então pela Ásia, Europa e África. Parentes dos gatos contemporâneos eram criaturas sofisticadas, construídas para sobreviverem. Pequenos, asseados, perfeitos carnívoros, os gatos de então já possuíam garras retráteis, que podem ser consideradas uma obra-prima da natureza, imprimindo maior velocidade na caça e contribuindo para um bote mortífero. 

A dentição do gato também evoluiu com perfeição, com dentes preparados para segurar, furar, matar, cortar e reduzir a presa a pequenos pedaços facilmente engolidos.Com a domesticação, outras mudanças se perpetuaram, tanto físicas quanto comportamentais. O cérebro diminuiu de tamanho, o sistema digestivo modificou-se para adaptar-se a outro tipo de alimentação, a pelagem tornou-se mais variada, e o temperamento bravio do gato sofreu uma alteração permanente, para adequar-se ao convívio com o homem. O gato doméstico atual parece ser produto de um cruzamento entre o Felis sylvestris (europeu) e o Felis lybica (africano).
No antigo Egito eram mumificados e considerados como pequenos deuses.

₢ Rui Rodrigues

7 comentários:

  1. http://elsenorgato.blogspot.com.br/2009/11/orientacao-dos-gatos.html

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  2. REENCANTAR O OLHAR
    Marlene Caminhoto Nassa


    TU QUERIAS REENCANTAR O TEU OLHAR
    E PENSANDO EM PODER TE AJUDAR,
    AOS TEUS OLHOS DE MENINO,
    UM COLORIDO EU QUIS DAR.
    MAS DENTRO DE MIM,
    QUANDO AS CORES FUI BUSCAR,
    TOMEI-ME DE ESPANTO
    EU ESTAVA VAZIA!
    SEM COR E SEM ENCANTO...
    SÓ AÍ FUI DAR-ME CONTA
    QUE AS CORES E A ALEGRIA,
    EU COLOCAVA TODAS NA POESIA
    E FICAVA DESSE MODO
    CADA DIA MAIS VAZIA!

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  3. CIÚMES
    Marlene Caminhoto Nassa

    Não há margens
    e nem formas para te medir
    Transbordas de meus
    sentimentos
    e pensamentos
    esparramando
    minhas emoções
    de qualquer jeito
    Desmedido ciúme
    invade-me o sangue
    e meu queixume
    azeda-me a veia
    depois que me prendestes
    à tua teia
    E esse sangue
    se coalha
    chacoalha
    encalha
    entala
    e me cala
    na veia
    Mas é a viúva negra
    Que te come
    nessa teia
    e nessa ceia...

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  4. OUTROS OLHARES
    Marlene Caminhoto Nassa

    Olhes-me com olhos do teu coração
    Entendas-me sem nada falar
    Use a compreensão de poeta
    Tateando por meus sentimentos
    Lendo no braile dos dedos e da emoção
    Os por quês desta minha solidão
    Explores-me nesse teu ato
    Minucioso perfeito e exato
    Com teus dedos e teu desejo de fato
    Enviando do coração ao corpo meu
    As provas inequívocas do desejo teu
    E encontrarás escondida nos espaços,
    Camuflada entre outros traços meus
    A menina que se expõe
    Frágil e nua
    aos olhos teus...

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  5. 60 milhoes de anos é uma teoria! a terra não tem tudo isso nao!

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  6. Caro Jaime Rodriguez,,, A terra tem 4,54 bilhões de anos !!!! Tem muito onde encontrar informações a respeito na WEB. Sugiro uma http://pt.wikipedia.org/wiki/Idade_da_Terra

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  7. Só mais um detalhe, caro Jaime Rodriguez... 60 milhões a que me referi, refere-se ao aparecimento dos primeiros animais na terra... Pode ler novamente.. Abração !

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Grato por seus comentários.