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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012



O que esperamos nós, amantes da ética, casados com a moral?


Parece que ser amante da ética é uma traição á moral com quem somos casados... Ou, se formos casados com a ética, uma traição ao sermos amantes da moral, mas ética e moral são irmãs gêmeas, habitando a mesma ilha de esperança onde vive a humanidade. Não fosse bigamia, para nossos padrões enrijecidos pela tradição, diríamos que seria legal – sob os dois aspectos- sermos casados com as duas...

Assim é na política e em seus efeitos sobre nossas vidas. Amamos a ética e a moral, mas vivemos numa ilha de esperança, cercados de amoralidade e falta de ética, num mar que nos assola as casas, nos destroça o futuro, nos rasga os desejos, nos come os ossos e bebe nosso sangue do nosso trabalho do dia a dia...

É assim que emprestam nosso dinheiro aos bancos sem vermos retorno; nos cobram juros exorbitantes e nos acabam com as economias de toda uma vida; que elegem ministros que roubam, distribuem verbas como lhes apraz, e se vão ilesos na moral e na ética porque na realidade nunca a tiveram, e sem a terem, não há o que perder; emprestam nosso dinheiro do BNDES para a compra de aeroportos que pagarão se não forem á falência, a titulo de melhor administração; dão aumentos a si mesmos, mas não aumentam os salários dos que trabalham, como se o trabalho de nada valesse, porque distribuí-lo lhes dá maiores benefícios; alteram a constituição e as leis para que não se possa saber o quanto se gasta e como se gasta para as obras da Copa e dos Jogos Olímpicos; permitem que se roubem remédios caríssimos e que independentemente do custo, faltem remédios e médicos para a saúde pública; com as verbas dos impostos, permitem que empresas de saúde privada usem os serviços de saúde pública, já deficiente; usam as verbas das aposentadorias para financiar projetos cujos lucros jamais veremos, afundando cada vez mais a possibilidade de aposentadorias tranqüilas depois de décadas destinadas ao engrandecimento da nação; dizem que greves são ilegais, as daqueles que justamente exigem revisão de seus parcos salários, enquanto outros, sem estar sujeitos à “legalidade” da greve, se aumentam regiamente.

Que engrandecimento é esse? Que democracia é essa? Que estado Novo é esse, o da Nação?

E dão-nos festas pagas com nosso dinheiro, trabalho a cargo de prefeituras, para que nos possamos distrair enquanto nos roubam... E distraídos fiquemos imbecilmente alegres e despreocupados olhando e ouvindo, embevecidos, as propagandas do governo dizendo que somos os maiores do mundo... E sem educação, conhecimento, cultura, são poucos os que percebem que em meia dúzia de anos, as obras deixaram de se fazer por milhões, para passarem a custar bilhões... Uma inflação que não se pode explicar se não usarmos as cifras da corrupção para efetuar o cálculo.

Os maiores do mundo, assim de repente?

Quem acredita nisso?

Nesse mar de marolas sutis e falsas, bordejando uma ilha de esperança, logo virão as ondas fortes e as bravas, aquelas que afundam a esperança.

Por esse tempo, muitos já terão ido à míngua, ainda sem educação e sem estudos, sem infra-estruturas, ainda sem nada do que nossas esperanças nos gritavam que era nosso direito... Deixamos a luta para filhos e netos, com essa imensa porcentagem de nossos jovens fora da escola? Sem educação, nossos jovens não mudarão nada. Serão escravos do sistema, tal como nós, vivendo falsas democracias.

Somos assim tão covardes?

Quem se move?



Rui Rodrigues

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