Betinho Viking e Benjo Samurai San.
Viajamos muito juntos. Eu e meu filho Beto.
Assim, que me lembre, a
primeira viagem que fizemos juntos foi num feriadão no Rio de Janeiro. Saímos
da cidade e fomos até Pati do Alferes desfrutar da tranqüilidade de um hotel
fazenda. Mas ele nem se lembra. Tinha uns seis meses, mal se sentava ainda e a
foto dele, sentado ao sol na grama, tentando apanhar folhas de uma planta, não
mostra bem a realidade. Logo a seguir, ele tombaria. Depois se sucederam muitas
viagens. Ao Rio Grande do Sul, a Angra dos Reis quando freqüentávamos a casa do
tio Oracy e da tia Martha, mas eram viagens pequenas. Um dia saí de Barraquilla
e nem posso descrever a ansiedade e depois a minha alegria quando fui apanhar
Betinho e Maibizinha no aeroporto de Bogotá. Eu já estava em Barranquilla num
projeto da Morrison Knudsen e eles viajaram desacompanhados – a mãe ficara
ainda mais uns dias no Rio de Janeiro. Há olhares que não se esquecem jamais. O
olhar de alegria dos dois subindo as escadas ao meu encontro, os corações
batendo apressados (sempre fui do tipo de pai de abraçar meus filhos ouvindo as
batidas do coração. As batidas do coração são a verdadeira alma, indicam a
alegria ou a tristeza).
Depois as viagens se
sucederam umas às outras. De Porto Bolívar (Media Luna) para Barranquilla, a
Cartagena de Índias, Porto Rico, México, Estados Unidos de Costa a Costa, Aruba,
Curaçao, Jamaica, Portugal. Também viajaram sem mim e sem a mãe pela Europa, de
trem com uma amiga, a Marcinha, usando trem. Já maior de idade, fui com Beto a Amsterdã
para conhecermos o “red lights on”, sem direito a “curtir” o lugar. Também
viajei sem eles, mas senti a sua falta. Filhos devem ser como roupa, colados ao
corpo, como uma extensão de nosso corpo, de nossa mente, porque nossos genes
estão lá, e mesmo que não estejam, a convivência e o coleguismo os substituem
muito bem. É o que pais adotivos costumam dizer e nos quais acredito.
Suzana costumava cozinhar
com Maibi. Suzana foi a avó dela. A vida moderna muitas vezes não nos permite
cozinhar assiduamente, mas Maibi aprendeu com a avó, com a mãe e comigo. Não
era raro irmos para a cozinha e enquanto conversávamos, íamos alegre e
divertidamente cozinhando. Betinho é dois anos mais novo do que Maibi. No
começo, ficava olhando. Depois começou também a cozinhar. Creio que o que o fez
despertar para a cozinha foi um acontecimento marcante em nossas vidas, quando
ele tinha quatro anos. Tínhamos ido acampar na Rio Santos e um amigo meu,
japonês, que trabalhar comigo em S. Paulo, o Kasuo, estava casualmente numa
barraca ali perto. Eu e Beto pescávamos nas rochas e chegamos com uns dez
peixes galo que Kasuo nos ensinou a preparar à sua moda: Sashimi popular,
cortado em cubos numa tigela, com molho shoyu, limão e gengibre ralado. Betinho gostou
tanto que hoje tem a profissão de Sushimen com experiência em restaurantes
japoneses de Lisboa, Barcelona e pelos vistos agora a um passo de nova
experiência em outro país.
Dizia-lhes quando eram
criancinhas de carregar pela mão, que deveríamos ter “hobbies” interessantes,
dos quais gostássemos bastante, para o dia em que parássemos de trabalhar numa
determinada profissão em que fomos ultrapassados por gerações mais novas, até
para sobreviver.
Curiosamente, tanto Betinho
como Maibi fizeram dos hobbies a profissão. Longe de lamentar, regozijo-me com
os rumos que levam.
Betinho está na Noruega num
lugar em que, no verão, os dias não têm mais do que quatro horas de sol quando
não há nuvens. Felizmente, também, a Noruega não é um país eminentemente
capitalista, socialista ou comunista. È um belo país Humanista onde todos
trabalham para o bem estar comum.
Temo, sem temor, que o
Brasil passe a ser um país “Hobby” de Betinho... E creio até que seja uma
tendência da humanidade. Quando vim para o Brasil, cheguei como português que
já admirava este país. Amo-o tanto que
casei com uma gaúcha, tenho meus filhos brasileiros e por aqui terei a minha
ultima morada. Luis Cláudio, um grande amigo nosso, saiu do Nordeste e foi
trabalhar em Lisboa. Tem dois filhos portugueses e por lá ficou adquirindo
dupla nacionalidade. Diz que não voltará a viver no Brasil. Vem de vez em
quando matar saudades.
Beto “Viking” e Benjo Samurai San estão na
Noruega.
Rui Rodrigues
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