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terça-feira, 19 de maio de 2015

Política internacional – Refletindo sobre guerras - 2015


(Deus não joga dados nas guerras nem quer saber o que é uma guerra)

1.    Refletindo sobre guerras


Dito assim pode parecer a quem lê que a política seja uma ciência. Estuda-se realmente, há até diplomados com o título de “cientistas políticos”, mas é como o tempo: Difícil de prever resultados. Estão neste compartimento as utopias, por exemplo, e a política do dia a dia, que obtém mais soluções – nem sempre soluções – pelos métodos de “redução ao absurdo” e “das tangentes”, do que por equações que nos dêem um resultado credível. Na política, 1+1 não é igual a 2. Longe disso. Poucos meses após Hitler e Stálin terem assinado um acordo de não agressão, Hitler invadiu a Rússia, e antes do ataque a Pearl Harbor, o embaixador japonês garantiu a paz a Roosevelt. Nem Stálin nem Roosevelt esperavam por estes ataques. Há ciência na política, é certo, mas a política em si não é uma ciência. Falta-lhe a previsibilidade, a formulação matemática que nos leva a obter previsões que se venham a confirmar na realidade. Porém, não há como negar as evidências: Não se pode viver sem a política desde os tempos em que há milhões de anos começamos a juntar-nos em grupos, tribos, nações e a ocupar este planeta. De vez em quando algumas nações se unem para combater outras, mas passados tempos, algumas dessas formam novas e diferentes alianças, e aqueles velhos aliados se tornam inimigos. O que nunca se viu foi China e Rússia juntas, com apoio de países sul-americanos e africanos. É preocupante!


Somos um caos de humanidade. Se analisarmos a política como uma teoria do caos, talvez a possamos transformar em ciência que permita previsões seguras. Até lá, jogam-se os dados todos os dias.  

2.    Os estopins das guerras


Qualquer fato ou mentira serve para acender os rastilhos. Nos gabinetes e ministérios, com a ajuda de computadores e serviços de inteligência espalhados pelas nações, tecem-se cenários de guerras eventuais, mas a humanidade é como um polvo que “tateia” até onde pode ir antes de ir realmente. De vez em quando as pontas dos tentáculos queimam e recolhem-se repentinamente. Até chegam a pedir desculpas pela “intromissão”. No passado bastavam apenas duas invasões de países por uma potência para iniciar uma guerra. Uma invasão apenas poderia ser considerada como “caso particular”, mas duas significava certamente “expansão”. Todos tememos movimentos expansionistas. Também já foram causa de guerras assassinatos de alguém mais ou menos famoso. 
E até já houve algumas porque o noivo se recusou a casar com a princesa do país que até então era amigo, ou teve amantes quando era casado com a princesa de outro país. Qualquer motivo é motivo. O que leva realmente à guerra e a guerras generalizadas são outros motivos por detrás dos imediatos: São os motivos reais, verdadeiros, frios. Por isso se pode garantir que as guerras começam de fato antes de as vermos iniciar-se. Injustiças podem acumular-se sem resposta do mundo livre, em função de negociações ou busca de soluções, mas normalmente as pressões vão subindo como numa panela de pressão. Um dia a panela arrebenta. 

3.    Os motivos dissuasórios.

Grandes potências têm hoje um arsenal atômico tão grande que poderiam destruir este planeta e extinguir toda a vida vezes seguidas, provocando um “inverno nuclear”. Quem se atreveria assim, a usar o primeiro míssil nuclear? Este parece ser o primeiro motivo dissuasório de uma guerra mundial. Mas, se nos lembrarmos dos programas de “guerra nas estrelas” do presidente Reagan, mísseis nucleares poderiam ser destruídos em pleno vôo. Não estamos certo disso, nem da eficácia do sistema. Alguns mísseis explodiriam. Não há outros motivos suficientemente dissuasórios para serem considerados fortes para tal. Todos os demais elos de relacionamento entre potências e nações são fracos. Podem ser rompidos a qualquer momento.

4.    As fragilidades dos sistemas políticos.



Em ditaduras nunca se sabe o verdadeiro perfil de quem assume o poder. Fidel Castro, como exemplo, foi ajudado pelos EUA na revolução cubana até que se declarou comunista porque os americanos o julgaram como mais um que lutou pelo poder. Nunca saberemos se é ou não comunista de fato. Um ditador tanto pode ser um sujeito cheio de boas intenções quanto cheio de más intenções. No entanto, ditadores fazem o que querem. Ou comprando os políticos, ou tomando o poder. Nas democracias há também nichos de ditatoriais, quando o governo pode, por exemplo, governar por decretos ou por qualquer outro nome que se dê aos decretos (como Atos Institucionais ou Medidas Provisórias). No entanto, um dos mais intrigantes e perigosos dispositivos democráticos é o fato de qualquer presidente poder declarar guerra a outros países sem ter que dar satisfações aos senados e câmaras, ou usá-las por terem sido compradas com gordos salários, comissões ou de outra forma qualquer. Os senadores brasileiros, por exemplo, recebem gordas maquias anuais do atual governo, além de gordos salários recheados de benefícios, e os partidos políticos recebem bilhões extraordinários. Como votarem contra o governo? São um caminho aberto para a oligarquia de políticos e de partidos políticos, no fundo uma ditadura.

5.    Crises econômicas antecedem guerras



É histórico. Consta em qualquer dos anais históricos em qualquer língua ou país, da história internacional. Mas sempre temos esperança que seja diferente. No entanto é fácil explicar. Trata-se da pressão econômica e suas conseqüências, principalmente a característica humana de sobrevivência que leva à irracionalidade. Esta irracionalidade é aproveitada pelos políticos ou para não perderem o poder ou para conquistá-lo. Dizem ao povo que “são a solução” quer pelos caminhos da paz, pelos da guerra, ou pela neutralidade. Mas são solução para quê? Normalmente os maiores males de uma crise econômica mundial são inflação pela escassez de bens, a perda de empregos pela retração de mercados, o aumento da miséria, a deterioração dos serviços públicos, a agitação política em busca de soluções ou de oportunistas que querem o poder. Não há como “educar” nosso espírito de sobrevivência uma vez que o sistema onde está instalado desde a nascença de cada um de nós é um lugar inacessível ao controle humano: Está no bulbo raquidiano, uma parte de nosso cérebro ao qual não temos qualquer acesso consciente, mas que altera nossos instintos. Um deles, em épocas de crise, é ganharmos uma aversão a estrangeiros dentro de nossas fronteiras, vendo-os como “competidores” potenciais que nos vêm tirar a comida de nosso prato. É esse bulbo raquidiano que controla nossas batidas cardíacas, nossa respiração, controla a produção de hormônios, nos faz subir a adrenalina quando levamos um susto, por exemplo.

A agitação populacional contamina o governo, quando não é o contrário. Os sistemas produtivos não podem entrar em colapso por falta de mercado, de bens de raiz como gás, minério de ferro ou alumínio, nióbio, petróleo, trigo, água, soja. O mercado se auto-regula. Economia é uma ciência porque lida com números, mas não pode prever, por exemplo, que meia dúzia de banqueiros tenham declarado em 2008 que estavam literalmente à beira da falência que o governo americano não lhes injetasse em suas contas umas centenas de bilhões de dólares para compensar seus erros, que eles mesmos admitiram, mas a crise estava iniciada, passando à Europa e depois ao resto do mundo. Ainda estamos nela e não deverá terminar antes de 2028.  Só para lembrar o inicio deste item, crises econômicas mundiais antecedem as guerras, o que não significa que haja guerras sempre que haja crises econômicas mundiais.

6.    Contemporizações internacionais são sinais de fraqueza ou prelúdios?

A “fraqueza” de uma nação pode ser boa para o país. Normalmente evita a guerra, e pode ser confundida com “excelente política” se esse país se livra de uma guerra por algum tempo sem que pareça covarde. A população fica satisfeita, os “adversários” ganham seu respeito. Já vimos disso na crise dos mísseis em Cuba, em muitos fatos históricos do passado, e mais recentemente na crise da invasão da Criméia pela Rússia. A Rússia invadiu e está invadida até hoje. Até avião comercial foi derrubado sem que nada acontecesse em termos de política internacional. Nenhum país foi julgado covarde, mas tal como já se disse algumas linhas atrás, a pressão está aumentando na panela de pressão. 

Estivéssemos no século XVI, ou XVII, ou mesmo no XIX, a invasão da Criméia daria certamente origem a uma guerra mundial. Quer dizer... Como política não é verdadeiramente uma ciência, embora inclua ciência em seu bojo, podemos dizer que “seria altamente provável” que houvesse uma guerra mundial. Porque não houve até agora? Exatamente por causa dos motivos dissuasórios e também por outros dois motivos: A pressão da panela ainda não é suficiente para explodi-la; O jogo de interesses internacionais permite algumas extrapolações, concessões ao status quo, Em que algumas potências tomam uma parte de “lá” ou “daquilo” e outras tomam outra parte de “cá”, ou “disto”.
Apenas como exemplo, os russos tomaram a Criméia depois de terem ficado com parte da Geórgia e dizimado parte da Chechênia, enquanto os EUA continuam no Iraque, no Afeganistão, a Alemanha é a “mandatária” da União Européia.  A Grécia corre para o lado da Rússia, a maior parte do gás da Rússia passa a ir para a China, a Inglaterra pensa em sair da União Européia, Portugal a seguirá se ela fizer isso, a Grécia sem dúvidas. Lembra muito, tudo isto, a divisão do mundo entre Hitler e Stalin nos acordos que fizeram antes da Rússia ser invadida pela Alemanha nazista. Um dos pontos de acordo era a divisão da Polônia entre eles. Atualmente, dentre tantos outros pontos de concordância e de discórdia entre nações importantes, há um que nos causa muita admiração: O silêncio aparente da China continental em relação a Taiwan, a China Insular, e a disputa por umas ilhas a caminho do Japão com este país. Será a China assim tão paciente?
E agora em 2015?

7.    Haverá nova guerra mundial?



Haverá sim, mas não se sabe como nem quando. Pode até acontecer como produto nefasto desta crise econômica – muito grave – como também passar em brancas nuvens, sem declarações de guerra entre potências. Não adianta lançarmos dados. Podemos isso sim, dizer apenas das “probabilidades” se num conjunto de equações substituirmos as incógnitas por algumas certezas que temos, mas a condição humana e de cada país segundo seu tipo de governo podem alterar as suposições. No entanto, se houvesse guerra há um cenário que preocupa mais do que quaisquer outros: A possibilidade de China e Rússia se unirem numa guerra como aliados contra o que se chama de Ocidente.

Qualquer fato imediato poderia servir de motivo para uma guerra. Podemos ter certeza que novas armas estão sendo testadas, que os serviços secretos do mundo inteiro estão atentos, e nós no Brasil, como sempre, assistimos, e se tomarmos partido, arriscamos a sofrer sem estarmos preparados nem para nos defendermos. Não temos nada próprio e eficiente que possa servir como força de dissuasão para grandes potências não nos atacarem. O que os impede ainda é a democracia que parece ser um pouco efetiva nesse aspecto. Nunca cuidamos disso e continuamos importando armas em vez de desenvolvê-las construí-las. Num futuro não muito longe, isso pode ser determinante para nossa independência como nação, como povo, como cultura. Já andaram exterminando judeus, armênios, poloneses, cristãos, índios, ateus, camponeses, ucranianos, ciganos, albigenses, quiseram exterminar bascos, e outros povos. Basta consultar a história para se ter uma noção. Não se podem esquecer guetos, gulags, “paredões” nem campos de concentração. A democracia é uma dama pálida que desmaia sob qualquer perigo, até de susto. Deserte numa guerra para ver o que lhe acontece.

8.    Os "faros" que percebem o cheiro da guerra.


O maior sinal de cheiro de guerra próxima, é o silêncio da ONU. Está paralisada. Quieta. Silenciosa. Já vimos isso na antiga Sociedade das Nações, sua precessora. Não se mete nem contra o Boko Haram, nem contra o Estado Islâmico, nem contra nada. Faz atualmente “obras de beneficência como qualquer ONG. Talvez saibam melhor que nós, humanidade popular internacional, simples contribuintes sem acesso a segredos de estado, o que está por detrás dos movimentos fronteiriços e das belicosidades mundiais e não se queira meter em “seara alheia”, o que poderia torná-la numa agregadora ou desagregadora de “aliados”. Quando algumas potências se preparam para uma guerra que não existe, ela acabará por existir.

O que é passar provação mais difícil do que um povo abandonar um continente e ir-se instalar numa ilha? Pois foi o que os ingleses fizeram há cerca de 6.000 anos atrás. Embora tenham vivido lá muito antes, foi apenas quando terminou a era do gelo e as ilhas britânicas voltaram a ter condições de vida que voltaram para lá. Seu senso de “sobrevivência” é tão grande que estão lá até hoje, sobreviveram a romanos e alemães nazistas, não entraram na zona do euro, e se questionam sobre continuarem na União Européia. É um sinal de aproximação maior com o Pacífico, Austrália, Nova Zelândia, EUA. “Mi casa, tu casa” dos mexicanos não parece ser muito credível. “Eu não falar tua língua” ainda ressoa nos ouvidos. Alemanha e França querem dominar e dominam a União Européia. Tanto podem ser aliados como inimigos.


Os EUA partiram para o xisto como fonte alternativa de obtenção de combustíveis. O povo pode não gostar principalmente os ambientalistas, mas é o que têm para não dependerem dos russos nem dos bolivianos para sua independência energética. Os alemães estão quase a 100% de energia eólica e solar. Por aqui no Brasil, o que interessa é a propaganda. Vamos depender sempre dos outros, a vida é uma sambar funqueiro, times de futebol e discursos inflamados do PT e do PMDB dizendo que tudo vai bem. Vai bem o quê, para quem, cumpañeros? A roubalheira?
O Reino Unido continua unido, independente, e tem onde buscar o que necessita, é parte da Commonwealth, ajuda mútua. Porto mais que seguro, a união faz a força. Dilma nem sabia que o governo estava demissionário em Portugal por causa das eleições. Pensou que o governo se tivesse demitido. Está gravado em entrevista. Há cooperação, bem vinda, até especial, mas não há Commonwealth nas lusófonas terras de cá, nem de lá, nem de além. As “mágoas” políticas se sobrepõem à razão. Deve ser mais uma latinice.


A Rússia fez acordos com Cuba para uso de portos. O Brasil financiou a construção. Haverá algum acordo secreto com a Rússia ou com Cuba? A Rússia tem porto na Síria. A China constroi um canal na Nicarágua para não ter que usar o canal de Panamá. A Rússia faz vôos de reconhecimento invadindo espaços aéreos europeus, seus submarinos visitam portos dos países nórdicos invadindo águas territoriais. As bases americanas nos Açores estão em dúvida quanto á sua continuidade a serviços dos EUA por iniciativa desta nação. Com mísseis e maior autonomia de vôo de seus aviões talvez nem necessite delas. Putín egresso da KGB tem promovido sua permanência no governo desde que Boris Ieltsin, o bêbado, largou o poder. Há fortes indícios de que quer reconstruir a URSS. A oposição russa jura que ele subverteu o sistema eleitoral e fraudou as eleições. Fez acordo recente com a China para venda de gás combustível, uma forma de retaliar contra as sanções econômicas dos EUA e Europa por sua invasão da Criméia. A Rússia é o maior país Europeu em extensão, e tem a mais desenvolvida tecnologia. A Rússia tenta espalhar a sua influência pelo mundo. A Alemanha nazista também fez isso antes da segunda guerra mundial.

A China...Nas décadas de 60, até os 80 do século passado não se falava noutra coisa senão no “perigo amarelo”. Podemos imaginar a China, que compra no exterior apenas porque os produtos de raiz são mais baratos, guardando assim as suas reservas, com uma população esfomeada? Podem arrebentar com qualquer panela de pressão. Unidos à Rússia, podem arrebentar todo o estoque mundial de panelas de pressão. Ou pelo menos parece. Com seu regime comunista para os trabalhadores garantindo preços baixos de mão de obra, e uma parte capitalista para governantes e seus apaziguados empreendedores industriais e comerciais, a China vem competindo com as industrias nacionais dos demais países em preços, aniquilando-as. Detroit nos EUA, antigamente um portento industrial, já perdeu suas industrias e 70% de sua população. Não foi apenas nos EUA. A Globalização é até certo ponto um engodo. Industrias fundamentais para a sobrevivência em países que cuidam de sua sobrevivência não são vendidas a terceiros. Continuam “em casa”.
Industrias e serviços estratégicos são fundamentais para manter a nacionalidade, as fronteiras.


® Rui Rodrigues

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Minha Casa,minha Sina...

A ilusão do minha casa minha vida... A realidade é Minha Casa, Minha Sina.

Depois que receberem os imóveis, assalariados de renda baixa não poderão revender os imóveis. Mesmo sabendo-se que:
- Não terão dinheiro para pagar o condomínio (são sempre muito caros)
- A inflação lhes come o salário
- A energia elétrica lhes consome o salário
- O custo da água lhes consome o salário
- A internet está cara e é ruim
- Os remédios aumentam de preço a toda hora
- O desemprego os deixará sem trabalho e sem salário...
- Que o FIES não é pára todos e que terão que deixar de estudar
- Que não haverá creches para todos e que terão de parar de trabalhar para cuidar dos filhos
- Que muitos morrerão em filas de hospitais entupidos desde as UTIS até os corredores da morte.
E tudo isso proporcionado pelo governo do PT, pela base aliada e por essa escumilha de políticos corruptos que fazem sem planejar nem medir conseqüências... É governo para "inglês ver", e proletários chorarem.
É um governo de tirar o pé de uma lama e o enfiar na outra lama, passo a passo, todos os dias...


® Rui Rodrigues 

Chamou-a de cadela. Porquê, meu deus?- Conto erótico



(Conto erótico, do Bar do Chopp Grátis, contado por um cachorro)

De mundo cão já ouvimos falar e de cadelas também. Mas cadelas são as fêmeas dos cães, e se sabemos que cães transam até uns com os outros, o que dizer das cadelas, que nem transam umas com as outras? Mas chamar uma mulher de cadela é demais. Não existe nenhum ser humano melhor do que uma mulher. Pelo menos para mim. Sou tarado por elas, por um motivo simples: Tornam tudo mais fácil, dão-nos prazer e quando começam a competir conosco, dividimos os bens, mas não permitimos que continuem a nos dividir a vida em pedacinhos. É simples assim. De outro modo é complicado!
 
Aí ouvi o cara chamar a mulher de cadela, quando estava - ela- fazendo pole no meio da rua! Uma violência! Fui até o cara e dei-lhe um par de sopapos, tabefes ou que raios fossem aqueles tapas que lhe dei. Apanhei em dobro da mulher, a tal da “cadela”, que avançou sobre mim como uma loba que defendesse os filhotes e até me mordeu na orelha esquerda com a boca cheia de dentes. O policial salvou-me da raiva dos dois. Dela e do cara. Regra número um para defendermos o próximo, no caso a próxima, é saber antecipadamente se a próxima precisa de ou quer ajuda. Se disser que algumas mulheres gostam de certos “maus tratos” ainda que verbais, as outras me atacam e me batem. Mas para você que é novato nestas coisas de “amar a próxima”, tenha muito cuidado. Assista primeiro ao filme ou leia o livro “50 tons de cinza”, ou melhor “50 tons do Grey” – Grey é cinza e Grey é o nome do “dominador” do filme – para entender o que estou dizendo. Juca Chaves dizia nos idos dos anos 70: “Mulher tem que ser uma dama na sociedade e uma puta na cama”. Ele estava certo. Um sujeito decente trata a mulher como uma dama e vem o “Robertão” e a trata como uma puta. Aí o bicho pega porque o bom da fita passa a ser o Robertão por quem a mulher tara. Solução? Fora de casa você tem que ser o Robertão. Quando a mulher descobrir, divida os bens e saia de casa. Mau conselho este? Então siga outro melhor.

Um dia a tal mulher cruzou comigo no caminho, lá no centro da cidade do Rio. Reconheceu-me e se aproximou. Eu já me protegi com as mãos em volta do rosto. Percebi que não era uma boa estratégia e peguei o celular para discar 190, mas parei um instante para ouvi-la. Ela estava tentando falar comigo.
-Me desculpe daquele dia – disse ela com um sorriso – Só depois que reconheci meu erro, mas você saiu correndo e não tive tempo de lhe agradecer. Aquele cara que me chamou de cadela era meu marido. Ele chegou a achar que você era meu amante.


Olhei a mulher de alto a baixo. Não era grosseira. Tinha um pouco de classe, tinha seus quarenta e poucos anos, bem vestida sem exageros, a pele diáfana bem tratada, cheirava muito bem, preencheria muito bem uma cama que sem ela não teria o menor uso para mim. Quase não durmo. Sim... O que mais interessa, tinha olhos verdes, uma bundinha um pouco cheia e arrebitada, peitos fartos sem exagero, uma cinturinha de filão como cantaria o Luiz Gonzaga pai ao som de sacolejante acordeão.  Ela estendeu-me a mão.

Saímos pela rua caminhando a esmo porque perdi a noção de meu rumo. Lembro que ia para a Candelária e de repente estava caminhando para a Sete de Setembro viajando numa imaginária cama onde eu e ela estávamos confortavelmente agarrados, completamente nus, nos beijando adoidadamente.  Contou-me tudo o que eu não queria saber porque não tinha a mínima importância, nem eu ouvia realmente, e não me disse nada daquilo que mais me interessava. E continuamos conversando sobre assuntos que nem me lembro, porque minha cabeça rodava, ainda que não tivesse tomado o mínimo pingo de álcool. Aliás, tenho que mandar um e-mail ao Lula avisando que a 51- Ouro, tem o mesmo sabor da 51-comum, e que a cor deve ser “artificial”, para agregar custo ao produto. Se quiser fazer 51-Ouro em casa, muito mais barata, junte à cachaça normal umas gotas de café ou desses sabores artificiais que tenham cor marrom. Stalin também tomava uns copos fenomenais. Morreu porque os médicos não quiseram interferir em sua doença com medo dele se salvar e por qualquer errinho os mandar para o paredão ou enforcar.
 Ao passarmos por um hotel, desses para executivos, ela olhou para a tabuleta que balançava ao vento, e olhou para mim. Aí convidei discretamente:
- Quer entrar para descansar um pouco da caminhada?
Ela sorriu e abanou afirmativamente os cabelos que emolduravam os olhos verdes. Foi o que eu vi e mais me chamou a atenção. Quase não escutei quando ela me disse: - Você deve dizer isso para todas...E também não vou contar o que aconteceu no Hotel, porque seria muito sórdido. Mas lembro perfeitamente dela, da cama, do quarto e daquelas frases que nos fazem ir aos céus: - Assim, até o talo... Mais... Mais... Mais... Ai... Ai... Quero mais... Ó deus... Vem... Vem... Nada comparado com o “estou-me a vir” que se deve dizer em Lisboa quando se está gozando.
Aí que entendi a história toda daquele momento em que a vi pela primeira vez, quando ela me disse:
- Seu cachorro... Quero ser sua cadela... Vem... Assim... Vem por trás...Ela deveria dizer isso para todos. 


Cinqüenta tons de bege são muito melhores que 50 tons de cinza porque destes últimos nunca provei. Não sou dominador. Já o Grey deve saber como é. Ou a autora do livro. Como o motel não tinha elevador, não foi possível dizer-lhe Hanna! Enquanto ela me chamava pelo nome, sem sabermos se nos voltaríamos a ver ou não. Cinqüenta tons de cinza também foram cinqüenta tons de voz com direito a choro. Uma cachorrada do Grey.

Saí catando marca de batom na minha camisa branca. Passei no bar e joguei umas gotas de cachaça na camisa enquanto o parceiro do bar jogava uns goles para o santo. Me mostrem um santo que lhes mostrarei um cachorro. Mostrem-me uma santa que lhes mostrarei uma cadela.  


® Rui Rodrigues

Falando francamente – sobre horizontes políticos





Todas as filosofias políticas que conhecemos pecam pelo mesmo pecado bem original, arrastando todos os políticos, em decorrência: Não dão a mínima importância - propositalmente – à condição da natureza humana. De outra forma não poderiam “mandar” nas populações. Cientistas políticos giram em torno de velhos temas desgastados sem horizontes para o futuro de uma humanidade que se desenvolve e pensa mais rapidamente do que eles.Parecem velhos discos de vinil com agulha rodando no vazio de som. 

  1. Não é verdade que mães e pais na maioria dos contatos diários parecem não se entenderem?
  2. Não é verdade que irmãos e irmãs também sempre andam em disputas?
  3. E também não acontece sempre que alunos tentam mostrar que são mais capacitados que outros?
  4. E não é verdade que uns são mais bem dotados que outros para certas tarefas e funções, e que estão sempre buscando melhores salários?
  5. E quem não quer uma casa melhor, um carro melhor, um emprego melhor?
  6. E quem não quer uma roupa melhor, uns sapatos melhores?
  7. E saúde pública melhor? Quem quer?
  8. E Ensino melhor, quem quer?
  9. E transportes públicos melhores?
  10. E quem não gostaria de mais segurança na cidade, ou cidade e campo sem bandidos?
  11. E creches, para que se possa trabalhar sabendo que as crianças estão sendo bem tratadas?
  12. E serviços básicos de saneamento?
  13. E um salário justo que não nos faça depender do Estado?
  14. E uma aposentadoria ou que outro nome tenha, que nos permita chegar à velhice com dignidade?

Há muito mais coisas que queremos.

  1. Um mundo de paz
  2. Um mundo de maiores igualdades entre os seres humanos
  3. A cura definitiva de doenças graves
  4. Um mundo de mais e completo e honesto amor.
  5. Liberdade de falarmos – e de sermos OUVIDOS em decorrência...

Há muitas mais coisas que queremos, mas já sabemos que

1.      Com o capitalismo não chegamos a ter isso, nem meio disso, aliás, muito pouco disso como sabemos.
2.      Com o comunismo, como já provado, quase nada disso.
3.      Com o socialismo, um pouco disso.
4.      Seremos exigentes demais, ou conformados demais?

Quem sabe, e dirão que é outra utopia, a Democracia Participativa Total e completa – SEM INTERMEDIÁRIOS – seja a solução para nossos males? Tente conferir no link a seguir...Mas não podemos tirar do pote mais do que o pote tem, e do que tem, há que dividir sem esquecermos de alimentar o pote para que sempre haja de onde tirar alguma coisa. Foi nisto tudo que o comunismo falhou, o capitalismo não se acerta, e o socialismo não consegue entender. 

domingo, 17 de maio de 2015

Contos do Barão de Rodrigsh.- Parte 1



Ella Athal é uma jornalista israelense que conheceu o Barão de Rodrigsh, Quando passou pelo “Bar do Chopp Grátis” em sua viagem pelo Brasil, contou esta história que fez fechar o bar, reunir todas as mesas do bar à sua volta, prendendo a atenção de todos. Silêncio total. Nem tilintar de copos, nem zunido de moscas. O Bar nunca teve moscas nem “ficou às moscas”.



1.    Ella Athal se encontra com o Barão Rodrigsh

Duques e Condes são muito introspectivos, sisudos. Barões são mais populares, por serem a fronteira entre o povo e a nobreza. Embora títulos de nobreza hoje só sirvam para não se sabe o quê, que nem se escuta falar, o de Barão soa como aventura. Foi com este espírito que Ella Athal descobriu o Barão de Rodrigsh quando estava a bordo de um balão desses que levam a bordo mais botijões de gás e sacos de areia do que pessoas. A cesta do balão era um barco com vela e tudo. Estava de partida para África. Ella então perguntou se poderia ir com ele. Ella era muito linda e ficara impressionada com os bigodes brancos e retorcidos do Barão, cheirando a tabaco. Sentia-se segura com ele. Ella jogou então a sua mochila para dentro da barca do balão, o Barão ateou fogo aos queimadores de gás e o balão começou a fazer pressão na corda que o prendia ao solo. O barão cortou a corda e o balão subiu aos céus. Era pelo por do sol.

(Foi assim que Ella viajou com o Barão sem muitas particularidades pessoais. Apenas relatou os fatos e as histórias do Barão).

2.    Como se fazem necessidades em pleno vôo.


- Barão!... Como se faz cocô a bordo deste balão? – Perguntou-lhe Ella, com o rosto já suando. Agüentara quanto pudera até se ver obrigada a perguntar.
- Lá em baixo, ao fundo do corredor entre os beliches. Pode puxar descarga que quando chegar lá em baixo, no solo ou no mar ninguém notará. Vai chegar tudo pulverizado. Faziam o mesmo em alguns aviões antigos. Como acha que era antigamente com aqueles aviões da primeira guerra mundial? Contam as histórias, mas nunca falam nesses detalhes. Alguns tinham um buraco no assento e um tipo de bolsa que abria para permitir a desova. Ou então, os pilotos faziam suas necessidades dentro do macacão de vôo. Por isso se que em filmes a mocinha sai correndo para o piloto logo que sai do avião para o beijar, é mentira. Os pilotos fediam... (E deu uma sonora gargalhada)... Mas tranqüilize-se, disse. Hoje já existem “reservatórios” especiais, embora alguns deles continuem despejando tudo aqui em baixo. Se andar pela cidade, tome cuidado com aviões que passam lá em cima... (E voltou a rir).

3.    O balão do Barão é multiuso, cheio de "guéri-guéri".



O Barão era assim. Cheio de surpresas, detalhando o que sempre escondiam. Ella Athal tinha receio do balão do Barão. Parecia uma geringonça, mas logo ganhou confiança quando passaram pela primeira dificuldade. Em pleno Oceano Atlântico viram uma enorme tempestade pela frente. Era tão grande que para contorná-la teriam que perder uns dois dias. Então o Barão Rodrigsh baixou-o até o nível do mar, pôs em funcionamento uma máquina de enrolar pano de balão, e quando este estava já enrolado e guardado, ligou o motor da barcarola e apertou um botão. Subiu uma capota transparente que impedia a entrada de água e mergulharam no mar, navegando até que saíram da área de tempestades. Enfrentaram enormes polvos marinhos, espadartes enfurecidos, tubarões irritados e fantasmas de piratas no fundo do mar. Depois que calcularam ter passado a área da tempestade, emergiram. Logo na frente avistaram o Cabo da Boa Esperança. Estava tão perto que desembarcaram no porto para comprarem mantimentos. Peixe não, por que tinham pescado muitas lagostas viajando pelo fundo do mar.

Saíram do porto no balão. Passaram dias viajando pelos ares, a Terra sempre perto.A bela Ella Athal continuava contando sua história embevecendo todos os presentes, como se fossem sócios da Ambev, tomando cerveja atrás de cerveja, interessados em seus relatos.

4.    O baloneiro é mágico.



- Gente... (disse a bela Ella, Athal, com olhar de incrédula). O baloneiro, o barão Rodrigsh é mágico. Eu não sabia, mas é mágico. Só me dei conta quando os gansos passaram voando...
- QUAIS GANSOS? (Ouviu-se em coro da platéia e alguns até se engasgaram com a cerveja).
- Apareceram uns gansos voadores no céu quando estávamos sobrevoando o delta do Nilo, perto da cidade do Cairo... Voavam em “V” como se fossem para uma batalha. Fiquei assustada porque poderiam vir contra nós para pousarem na barcarola, e avisei o Barão. Aí ele muito calmo me disse:
- Prepare-se para o pior. São gansos galafantes.
- O que são galafantes?
-É uma palavra espanhola que significa “ladrões”. Esses gansos roubam tudo o que podem em suas viagens. Prepare-se que vão pousar aqui.
- Então... (continuou Ella, Athal)... Um bando de uns vinte gansos enormes pousou na barcarola. Tinham os pescoços muito compridos, e o barão chegou a olhar para mim com terceiras e quintas intenções, mas estava meio ocupado com uma tesoura tentando cortar as asas dos gansos. Então o avisei que se cortasse as asas dos gansos eles não poderiam voar e teríamos que matá-los. Era melhor enxotá-los. Começamos a enxotá-los, mas saiam de um lugar, voavam logo para outro da barcarola. E aí o Barão se mostrou. Fez um largo gesto com as mãos onde havia uma panela e os gansos foram entrando um atrás do outro sem nunca encherem a panela. Olhei a panela, e dentro havia vinte gansos quietos, pequenos, grasnando de medo. O Barão então enfiou a mão na panela e foi tirando uns papéis. Eram ações ao portador de grandes companhias, diamantes, pepitas de ouro, tudo marcado com uma estrelinha e o numero 13. Então, depois de livrar a carga dos gansos galafantes, o Barão bateu um panelaço ensurdecedor na panela usando um porrete de aço, e os gansos foram saindo das panelas meio mirrados, tristes, com olhares de pobres imigrantes africanos quando pedem ajuda às autoridades de imigração ou quando pedem perdão depois de presos. Todos tinham agora uma tatuagem nas costas: Uma estrela com o número treze. A estrela era vermelha. O Barão juntou tudo numa caixa e pediu para que eu a despachasse logo que chegássemos a bom porto. Tinha um endereço: À Polícia Federal do Brasil.

5.    Os sentineleses da Baía de Bengala nas ilhas Andaman.



Logo que os gansos se foram, a caminho do Brasil, ou seria Venezuela Cuba ou Argentina, não sabemos, olhamos para baixo e vimos uma ilha que o Barão logo reconheceu como a ilha de Sentinela, na Baía de Bengala. Aliás, desde 2004 quando houve um tsunami que passou por lá, duas ilhas se juntaram numa só: A Ilha de Constança que antes ficava a cerca de 600 metros de uma outra a Sentinela do Norte que era como uma salsicha. A união das duas numa só a tornou ligeiramente quadrada e o nível subiu cerca de dois metros. Pertence à Índia embora seja legalmente independente. Nela vivem os Sentineleses, cerca de 400 indivíduos, desde 60.000 anos atrás. Não querem conhecer o continente, nada, e a Índia também não está interessada neles. Se puderam viver bem durante 60.000 anos, poderão tranqüilamente viver mais outros 60.000.

Deve ser assim que a coisa funciona (disse Ella Athal e continuou sua história, com o bar inteiro prestando a maior atenção).

- Então descemos na ilha, cheios de presentes para eles. O homem que parecia ser o chefe se acercou de nós, olhou os presentes e disse num perfeito português:
- Somos comunistas. Só eu falo a vossa língua e por isso sou o chefe. E podem guardar os vossos presentes. Vão tirar fotos na casa do baralho (ou algo parecido que ele disse).
Então, disse Ella Athal, lhe perguntei se não precisavam de saúde pública, hospitais, remédios... E ele me respondeu:
- Aqui se morre de morte natural. Aceitamos isso. Tomamos chás de ervas, fazemos emplastros, damos uns tabefes em quem fica pálido, pomos lãzinha na testa para parar de ter soluços. Há 60.000 anos que somos assim...
- E de dinheiro não precisam?
- Para quê? Comprar de quem, se caçamos, plantamos, e dividimos tudo?
- E para controle de natalidade? Se aumentarem muito em número não caberão na ilha nem haverá alimentação para todo mundo.
-  Temos nosso próprio método para garantir sempre o mesmo numero. Pegamos os mais espertos da tribo, os que mais reclamam, e jogamos do despenhadeiro junto com a família toda. É uma seleção natural. Mas nunca precisamos fazer isso. Quando passamos de 400, dividimos a aldeia ao meio e separamos as mulheres dos homens por uns cinco anos. Até lá já morreram alguns de nós e então já podem transar novamente, mas sempre usando métodos contraceptivos naturais, como o chá de Dong Quai ou Angélica chinesa. As mulheres tomam o chá para regular a menstruação, e se falham tomam do mesmo jeito que abortam. Aqui nesta ilha não cabe sempre mais um.
- E segurança, como fazem?
- É simples... Ladrão de mulher e abusador de menores, corta o pau e ele vira mulherzinha da tribo. Se roubar alguma coisa, apanha até ficar tonto e devolve tudo. Se já estragou o que roubou e não pode devolver, jogamos do desfiladeiro.
- E instrução?
- Para quê instruir? Gente instruída reclama muito e deixa os outros se sentindo ironizados porque não sabem o que eles sabem. Então os chamamos de prepotentes. Melhor que fiquem ignorantes. Já vivemos assim muito bem há mais de 60.000 anos. Tudo controlado.
- E antes de serem comunistas, o que eram?
- Sempre fomos comunistas. Só que não sabíamos disso.
- E quando souberam?
- De um caixote de livros de Mao Tse Tung, escritos em português, destinados á leitura obrigatória em Macau durante o governo comunista da China. Só fiquei com um livro para mim. O resto tasquei fogo.
- E se um dia invadirem a ilha como se defenderão?
- Não vão invadir. Aqui não temos petróleo, nem ferro, nada... Só tínhamos cobras naja, galinhas e porcos selvagens. As najas deixamos ficar porque servem para controle de natalidade. As galinhas e os porcos que ficaram selvagens matamos todos porque eram objeto de disputa entre a tribo. Tribo feliz é a tribo que não tem nada para dividir. Vamos fumar o cachimbo da paz?
- E nos convidou para fumar um enorme cachimbo feito de bambu – disse Ella Athal – Mas não fumamos... Era pura maconha!



(Então ouviu-se no bar o dono falar através do equipamento de som, pedindo para tomarmos os últimos goles porque já eram três da madrugada e o bar tinha que fechar. Ouviu-se uma vozearia de reprovação amigável).

Ella Athal prometeu que no dia seguinte continuaria com a história.


® Rui Rodrigues 

sábado, 16 de maio de 2015

Sopa das mil e uma noites afrodisíaca à Rui Rodrigsh




Não se trata de uma “economia de guerra”, mas nestes tempos de alta inflação, mais do que o governo diz que é – efeito Goebbels, o nazista-
Há que ter prazer de uma forma que seja também  saudável, e, sobretudo, econômica.

Esta sopa é especial para os que não costumam beber água e são avessos a legumes... Água é boa para o organismo, para a saúde. Então vamos a esta receita deliciosa.

Numa panela grande junte:

Água – para cobrir tudo com pelo menos três dedos acima dos sólidos.
Duas cebolas médias ou grandes.
Dois dentes de alho.
Uma cenoura grande cortada em cubos.
Meio repolho médio cortado em pedaços.
Duas batatas médias cortadas aos cubos pequenos.
Meio palmo de lingüiça calabresa cortada em pequenos cubos.
Uma xícara de chá de carne moída.
Duas xícaras de chá de massa fusili.
Três colheres de chá de curry.
Três cebolas médias cortadas aos pedaços.
Quatro ovos de galinha sem a casca – depois que a água estiver fervendo.
Sal a gosto - Cuidado para quem tiver pressão alta.
Um cubo de caldo de carne knorr ou similar raspado.
Pode acrescentar tomate cortado aos pedacinhos.
Se desejar, gotas de pimenta. 
Ferva tudo...
Folhas de hortelã para “decorar” o prato...

Deixe ferver tudo por uns vinte minutos e sirva com queijo ralado e/ou azeite... Acompanhe com torradas, vinho ou sem nada mesmo. Já tem muita coisa na mistura...

Seu corpo lhe agradecerá. Dos peitos á próstata, passando pelo útero.


® Rui Rodrigsh 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Conversas ao borralho - O sopro.



(Enquanto lê, convido a abrir nova página e escutar Django Reinhardt como musica de fundo para o texto)
https://www.youtube.com/watch?v=SR7U9T5Mdj4

De vez em quando o tempo esfria. Com tempo frio a alma e o corpo se contraem e obrigam a pensar. Tempo quente, pelo contrário, leva à expansão da alma, o sangue esquenta e a vontade é a de nos divertirmos um pouco até sem muita preocupação. O borralho da lareira, que é quando as labaredas já se foram e ficam apenas as brasas irradiando um ultimo calor, deixa-nos a um passo do inferno e a outro do paraíso. O vento quando sopra traz algumas coisas de volta do passado. O farfalhar de folhas podem ser de vestidos e meias de seda de mulher que nos vêm lembrar os velhos afagos perfumados e os beijos úmidos daqueles quando os olhos se fecham, em meio a roçar de pernas de mulher uma na outra. Pode até ouvir-se o som dos elásticos que seguravam as meias de seda ao serem soltos. Hoje as pernas vêm já preparadas assim como os hambúrgueres do fast-food. A maioria delas nem possuem mais aqueles pelinhos suaves e louros de água oxigenada. As pernas chegam a ser escorregadias de tão lisas e cremosas. As estátuas de cera do museu de madame Tussauds lá em Paris são assim mesmo. Já passei a mão em duas delas. Uma era de Marilyn Monroe. Não têm o tato de “naturais”.



Quando o sopro de vento passou pela lareira, vi a loura se aproximar, com seu sorriso encantador, assim como marca registrada, moldado ao longo de anos a fio, pelo menos uns 25, e sem ele ela era uma pessoa um pouco diferente, como se fosse outra. Usava diu como se fosse um cinto anticastidade, muito antes da pílula ser inventada, mas tão seguro o tal do diu, quanto o cinto de castidade, ou até mais. Ironicamente tinha Castro no nome e uns olhos verdes que eram fatais. Foi com ela que percebi pela primeira vez como nossos corpos são um amontoado de carne segura por ossos, tendões e nervos, com uma pele que nos impede de ver o que está dentro. Somos montes de carne com miolos, sobreviventes da natureza da vida, passando um tempo neste planeta como se estivéssemos de férias nos tempos livres, porque nos tempos ocupados não conseguimos pensar mais longe do que uma centena de metros. Dizemos que estamos trabalhando. Pelo menos temos essa impressão, e muitas vezes nos perguntamos para quê todo esse trabalho, para que fim maior trabalhamos tanto. Passamos a vida a trabalhar. Os únicos momentos de diversão eram com ela, principalmente quando tirava as meias, depois o vestido, e já sem roupa passávamos algumas horas juntos na cama, dividindo prazeres. Há quem não possa ter prazeres por causa do trabalho e quem não possa trabalhar por causa dos prazeres. E lá se foi a loura de olhos verdes e meias de seda quando novo sopro fez as brasas do borralho darem um estalo e uma miríade de pequenas estrelas se misturaram na paisagem com as outras estrelas do céu. Claro que foi apenas uma ilusão, mas iría jurar que quer as estrelas do céu, quer as da lareira, eram exatamente do mesmo tamanho, todas quentes. Como a gente se ilude!



Aproveitei o ensejo e fui até o balcão da cozinha. Abri uma garrafa de vinho, cortei duas fatias de queijo e duas de pão. Servi-me de um copo de vinho, coloquei tudo num prato dentro de uma bandeja e levei até a mesinha perto do borralho. Foi então que reparei numa figura bem conhecida sentada numa cadeira, já à mesa. Era Peter, amigo do João Padeiro. João Padeiro morava na época em que nos conhecemos, na mesma rua. Era excessivamente católico, muito certinho, não saía jamais de uma linha de comportamento. Tinha nascido para isso, completamente previsível. O sobrenome Padeiro herdou entre nós por causa do ramo de comércio a que seu pai se dedicava. Já Peter era o oposto. Um extraordinário jogo de cintura e um espírito de sobrevivência que fizeram dele exatamente isso: Sempre na malandragem, equilibrou-se a vida toda num fio de navalha. Chegou a chefiar uma gang de ladrões juvenis para conseguir dinheiro nos tempos difíceis das guerras coloniais, em Lisboa. O João Padeiro morreu nessas guerras. Perguntei ao Peter como andava a vida dele. Disse-me que trabalhava agora para o governo em obras assistenciais e que namorava duas irmãs com o consentimento dos pais. Casara, mas separara-se da mulher que morava no mesmo prédio dele e que o via subir pelo menos duas vezes por semana com as duas irmãs. As roupas dele tinham um cheiro meio de perfume meio de maconha. Passava horas a fio na cama mesmo durante a semana em dias de trabalho. Empregos do estado permitem que se conheçam médicos do estado que atestam com atestados, fornecedores do estado que fornecem fornecimentos, advogados do estado que conhecem onde os rabos ficam presos. As duas irmãs nunca brigaram entre si. Tinham o resto da semana livre. Levantei-me para apanhar mais um copo. Quando voltei, Peter havia sumido. Nunca mais o vi. O borralho continuava quente.


- Oi!... (Ouvi vindo da garagem. Era uma voz feminina, conhecida).
- Oi!... Senta-te! (Disse-lhe, enquanto me levantava e lhe preparava a cadeira de ferro fundido branco, para que se sentasse. Um dia pintaria as cadeiras e as mesas de preto). Ajeitei-lhe a cadeira. Sentou-se e então continuei:
- Há quantos anos não te vejo... Como chegaste?
- Pelo sopro do vento. Uma onda me deixou na praia. Sou a sereia da tua vida.
- Sim, sempre foste. O que nunca entendi foi por que não nos casamos, sendo tu tão linda, tão perfeita de corpo, tão prendada... O tipo de mulher que ninguém perderia.
- Mas eu sei! – Disse-me ela, com um sorriso. E antes que lhe perguntasse concluiu:
- Conhecemo-nos uns meses antes do tempo em que estaríamos preparados um para o outro. Tudo tem o seu tempo, e por vezes nosso tempo corre mais depressa para uns do que para outros. Naquela época tinhas a “tua vida”. Corrias de um lado para o outro, abraçavas todas as oportunidades. A vida era apenas aquele momento diferente todos os dias. Não paravas quieto. Do trabalho para a universidade, de lá para as aulas particulares... Para os namoros... Que mulher deixarias escapar se te olhasse mais interessada e te agradasse?
- Quer dizer que sabias disso... (Eu sempre desconfiara que ela sabia de minhas aventuras, mas nunca me encostara contra a parede obrigando-me a uma confissão).
- Sabia... Quer dizer... Desconfiava com aquela certeza. Homens e mulheres têm o tal do sexto sentido. Sempre se sabe. São pequenas “coisas” deslocadas de um perfil que não batem. É como um relógio com arritmia...
- Entendo... Mas agora já não dá mais para voltarmos atrás, não é? Tudo mudou muito. Não?
- Mudou!... Mudamos a cada dia. Quem está perto da gente não nota, e por isso há casamentos que duram uma vida. Quem se afasta por algum tempo nota a diferença. Ofereces-me um café?
- Claro!... E levantei-me da cadeira, indo até a cozinha. Coloquei o filtro na máquina de café, o pó, três medidas de café, água no reservatório e quando voltei para o borralho da lareira, as cadeiras estavam vazias. Minha sereia tinha-se ido, provavelmente para nunca mais voltar. As pessoas mudam muito e o peixe anda escasso. Fiquei com a preocupação de algum pescador lhe lançar a rede de arrastão e lhe romper as meias de mesmo nome. Ela ficava sensacional com aquelas meias. Já não se usam. E foi com melancolia que notei que quase nada se usa mais. Ou quando se usa não têm o mesmo sabor. Aquele sabor inconfundível que só o sopro do tempo faz reavivar as brasas do borralho. Era uma brasa, Mora!



®Rui Rodrigues.


terça-feira, 12 de maio de 2015

Geografia Humana - mais uma visão.




Somos já tantos, nós, os humanos, que já merecíamos ser considerados como um “mar de gente”, um oceano humano. Se somarmos a biomassa humana obteremos um numero aproximado de 562.500.000.000 [1]de quilos. Nem os dinossauros deveriam ter tanta biomassa apesar de serem tão estupidamente enormes: Eram mais pesados, bem mais, mas não eram tantos quanto a nossa humanidade senão teriam comido todas as florestas do planeta. Graças à natureza da qual nos originamos, possuímos um mecanismo de autocontrole de natalidade que funciona mais ou menos assim: Imaginemos uma área controlada de onde animais não possam sair. Neles vivem apenas a vegetação, antílopes e leões. Os antílopes se desenvolvem porque há muita comida e os leões também porque têm muitos antílopes para caçar. Na medida em que a vegetação começa a faltar, a quantidade de antílopes baixa também e em decorrência a quantidade de leões. Numa situação extrema, uma grande seca contínua por alguns anos extinguiria antílopes e leões por falta de comida.



Nossa humanidade, embora digam que é “semelhante” a Deus, feita à sua imagem, não é não. É exatamente como qualquer outro ser vivo que depende da vida neste planeta. Pode extinguir-se do mesmo modo, não temos nada de diferentes dos outros animais no quesito “viver”. Devem ter dito e escrito essa linda frase da semelhança para nos fazerem subir o ânimo, colocar-nos num patamar intermediário entre toda a vida na Terra e deus, de forma a nos entendermos como “gente importante” e podermos entender os sacerdotes que nos disseram isso e que se diziam intermediários entre deus e os demais seres humanos. Rendeu-lhes próspero negócio com pombas, rezes, e notas farfalhantes de gordos dinheiros, dos quais, os sonantes, em moeda, pertenciam a César. Notas de dinheiro é coisa recente gerada pela inflação dos dízimos. Mas voltando à nova geografia: Merecemos uma nova geografia para incluir neste planeta o mar de gente em que esta humanidade se transformou desde quando não passava de uma pequena tribo de símios arborícolas que tiveram que se pôr de pé para ficarem com a cabeça acima da vegetação rasteira e perscrutar os horizontes à procura de possíveis predadores que os pudessem comer. Nossa humanidade já foi alimento de muitos predadores. O medo subjacente que lhe ficou desses predadores é tanto e tão enraizado no nosso DNA, que pessoas que nunca viram uma cobra ou um rato, quando alguém grita: “COBRA!”, foge ou fica estática, congelada pelo medo, sua frio, passa mal. Quando gritam “rato”, sobem em cima de cadeiras, sofás e mesas. E nossa humanidade decidiu acabar de vez com todos os predadores maiores. Está quase conseguindo, “herdando” assim o planeta.



Sem predadores, a terra da Terra foi ocupada, ampliaram-se as áreas de cultura, mais alimento ficou disponível, e a biomassa da humanidade aumentou em progressão geométrica. Somos agora cerca de 7,5 bilhões de seres humanos pesquisando como se pode cultivar mais para alimentar mais, num planeta que não estica. Somos muito inteligentes para procurarmos novas formas de produzir mais alimentos, em patamares, em garrafas “pet”, através de modificações genéticas, e qualquer dia estaremos enchendo oceanos de plataformas com terra para aumentarmos a área de cultivo, o que seria um desastre ecológico para as plataformas marinhas. Mas somos tão falta de inteligência que não conseguimos controlar nossa própria natalidade sem auxílio dos antigos predadores. Sem termos quem nos coma, estamos em risco de nos comermos uns aos outros em guerras, em epidemias, por falta de camada de ozônio, por falta de ar, água...Políticos e comerciantes dizem que quanto maior a população, maior o desenvolvimento industrial e comercial, maior a coleta de impostos, mais o país cresce. É por aí que estamos indo. O problema é que para tudo há um limite e ainda não aprendemos qual é o nosso limite. Somos uma humanidade jovem que pensa como os jovens: Para tudo se dá um jeito. Basta pensar... E por vezes, já em pleno afã de realizar o tal jeito, se defronta com impossibilidades que demoram tanto para serem resolvidas, que quando vem a solução, já nos comemos uns aos outros reduzindo a nossa população em guerras. Deve ser para isso que as guerras servirão: Substituem os predadores na função de reduzir a quantidade de bocas a alimentar. As riquezas acumuladas pelos que morreram passam então para as mãos dos sobreviventes, melhorando-lhes a “vida”. Os que morreram já não têm a quem culpar ou a quem agradecer porque estão mortos. Os sobreviventes dizem que agradecem a deus. Entende-se! São semelhantes a Ele. Os que morreram não deveriam ser. E rezam missas com as notas herdadas.



Grandes guerras matam muito de uma vez só ao longo de uma meia-dúzia de anos. Pequenas guerras matam muito mais ao longo de décadas, séculos, milênios. Esta é a nossa geografia. Vivemos em pequenas guerras com o apoio tácito das organizações internacionais, morrendo milhões por ano, bilhões por século, trilhões por milênio... E aparentemente ninguém está interessado em se organizar para que a dor das guerras acabe através de controle de natalidade. Igrejas precisam de mais fiéis para contribuir com dízimos e esmolas, governos precisam de maior volume de impostos. O que necessitamos não é de socialismo ou comunismo para que todos possam ter um bom quinhão das riquezas, até porque esta filosofia política apenas sobrevive porque é a “esperança” – vã – das maiorias pobres, e acaba por dividir a amargura da pobreza sem nada mais para dividir porque os leões - sejam de que filosofia política forem- comem tudo num mundo sem pasto para ovelhas.



O que precisamos neste planeta para que todos vivam com relativa privação de dificuldades e tristezas, é que cada país tenha uma população que não seja excessiva, isto é, que não ultrapasse sua capacidade de gerar-lhe conforto em todos os sentidos e níveis. O Canadá é um excelente exemplo: Área de 10 milhões de quilômetros quadrados, e uma população de 34 milhões de habitantes. Há terra, comida, saúde, transportes, educação e desenvolvimento para todos. Nossa geografia política, e principalmente nossa geografia da humanidade devem mudar não para conceitos filosóficos da ciência política voltada para a política, mas para o controle de natalidade. Se continuarmos gerando filhos como coelhos, em breve comeremos todo o pasto, e para que isso não aconteça, dizem os políticos tem que haver guerras para reduzir os comedores de pasto.
Auto-sustentabilidade é isso: Podemos herdar a terra da terra, sim, e os mares e os ares, mas há um limite para quantos poderão beneficiar-se dessa herança. E nem o Universo inteiro seria suficiente para a teoria do “sempre cabe mais um...” Um dia nem mais um caberá da forma como vamos parindo por este mundo.

Se for triste ou não, não me cabe julgar. Esta visão é a da realidade. Precisamos mais de geógrafos - e de outros elucidados especialistas - do que de políticos, via de regra escolhidos por "simpatias" ou pela fé da ignorância.



® Rui Rodrigues



[1] 7,5 bilhões de pessoas a um peso médio de 75 quilos. (A humanidade está ficando mais alta e “acima do peso”). O total das águas nos oceanos é de 1.332.000.000 de quilômetros cúbicos aproximadamente. Área de terras emersas, aproximadamente 150 milhões de quilômetros quadrados, e de mares 360 milhões.