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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Tempestade russa no Pontal do Peró





Tempestade russa no Pontal do Peró

Lembro-me, quando garoto, minha avó rezando a um santo para que as tempestades passassem longe ou fossem leves. Eu tinha meus sete anos e ela me aconselhava a não me aproximar das janelas. Quando mais tarde aprendi que o vidro é um bom isolante, o ficar perto das janelas já não me preocupava. Mais tarde aprendi tudo o que um engenheiro necessitava saber sobre eletricidade mesmo cursando engenharia civil. A partir daí eu, que já não tinha medo de tempestades, comecei a gostar delas. Nada melhor do que uma tempestade para que nos possamos sentir integrados à natureza, percebermos nossa fraqueza e nossa grandiosidade.  Pior ainda que naqueles tempos da década de 50 elas chegavam de repente, sem avisar. Éramos apanhados no meio da rua, no meio do campo, no meio do mar, em pleno ar. Já no Rio, aprendi logo que quando as coisas ficam muito feias, dizemos “a coisa ta russa”. 

Desde ontem que a defesa civil de Cabo Frio avisara que poderia cair granizo e aconselhou a população a não sair para a rua. Logo imaginei uma tempestade do tipo a coisa ta russa. A última vez que caiu granizo lembro-me bem, eram enormes pedregulhos, quebraram-se muitas telhas, muitos galos nasceram em muitas cabeças, e a própria prefeitura se encarregou de distribuir telhas grátis para a população carente. Não dá nada, mas dá telhas. Mas como não há uma tempestade igual á outra e eu já passei por muitas, aguardei esta com ansiedade. Agora havia a NET e eu também podia avisar o pessoal da região, se a energia não caísse, o que é costume nestas ocasiões. Passei a manhã toda esperando a tempestade, nada!

Às 17:15 notei que começou a escurecer e a temperatura baixando rapidamente. Fui para o computador e publiquei no Facebook em duas páginas da região:

“ATENÇÃO PESSOAL: PANELAS NA CABEÇA!!! VAI CAIR PEDREGULHO DE GRANIZO!!! Sai de baixo!!!!!”

E saí para a porta da frente.

Chegava uma nuvem como se fosse um cogumelo de pé curto, branca, circular, algodoenta, em meio a nuvens negras como breu, trovoadas ao longe. Medi mentalmente o tempo entre a visão dos raios e o barulho dos trovões, em segundos, e multipliquei por 240 para ver a que distância estavam caindo os raios. Caiam a cerca de 1.500 metros, depois 800, depois 400, e de repente o clarão e a imediata chibatada, como chicote de Hércules – Hércules não usava chicote, mas se usasse deveria ser muito grande e fazer um barulhão – Esse caíra a uns cinqüenta metros e meus ouvidos estiveram a ponto de zunir. As árvores balançaram como plumas de avestruz levando tapas do Hércules, e a chuva caiu como tromba de elefante que espirra por resfriado forte. As portas de vidro da sala inflavam e desinflavam com a força da pressão do vento. Pensei que tudo iria alagar. A tempestade estava ali, e outra realidade era aquela voz de garota russa ou ucraniana (acho que era russa) loura, olhos azuis, meio inocente, meio sacana, meio carente, meio ávida, mas com a pele completamente rosada, que me dizia em russo num sussurro vindo do sofá da cama:





- Приходите Rui, хотят играть с гуся, да? (Eu não entendi o que ela dizia, mas entendi que me chamava pelo nome e imaginei o que queria).

Fiquei com ela no sofá, tal como uma tempestade. Primeiro devagar, de mansinho, quase que despercebidamente, como quem dá uma caixa de bom-bons de surpresa. Aquela pele era de me deixar louco, os lábios carnudos e úmidos como o interior de um “petit gateau” de morango. Era doce aquela russa perdida no turismo de praia da região e que me tinha encontrado. Queria renegar a bandeira russa, pedir asilo político, xingar o Putin, mas os tempos eram outros e era muita areia para eu carregar no meu caminhão por muito tempo na vida. O mais certo seria se apaixonar por um turista americano desses que passam a vida fazendo surf, caladinhos, cada um no seu canto como quem não quer porra nenhuma, e voar com ele para Honolulu para pedir asilo político ao Obama. Eu ficaria com um par de chifres daqueles de boi de raça “barrosã” que os tem extremamente longos e que não nos deixam passar pelo portão nem do Kremlin.

E enquanto pensava nisto, ouvia-a dizer-me no ouvido enquanto a penetrava:

-   да ... да ... так что ... Подробнее ... Засуньте это до крыльев гуся .. О! Быстрее ... С силой .. Таким образом, вы меня убить ...

Quando nos desmaiamos no sofá, abraçados, perguntou:

- У вас есть водка ?

A ultima palavra soou-me a vodka, mas como não tinha, apanhei uma garrafa de “cabernet sauvignon” e servi em dois copos. Fomos olhar a tempestade que se afastara, mas já anoitecera. A chuva agora era fina e não caíra nem uma pedra de granizo. Não importa... Nem vinho nem водка se tomam com gelo. Depois de três dias aqui, a russa partirá não sei para onde, nem sei por quanto tempo se lembrará de mim ou eu dela.

Pela TV – a energia não falhou – soubemos que cabo Frio tinha alagado, uma árvore caíra sobre uma casa comercial no centro. Nada como não estar no lugar errado, na hora errada, na tempestade errada, na cidade errada. Bom mesmo é estar no lugar certo, na hora certa, na casa certa, com a russa toda certinha depois da cortina de ferro se ter fechado, agora toda aberta.

Mentalmente comecei a dizer adeus a Irina Korolenko.

Rui Rodrigues.

Lucy descobre que economês e latim não se bicam


·                                

Lucy decidiu aprender latim. Claro que não queria chegar a níveis extremamente elevados, mas, assim, apenas para “dar pro gasto” como dizia um dos seus tutores. O começo foi excitante. Lucy leu a expressão “Qui nimium probat nihil probat”. Sem acesso ao Google, teve de recorrer ao professor Higgins, e este lhe explicou, algo enfarado, que aquele que prova muito acaba provando é nada.
- Que interessante! – opinou Lucy – então acumular excesso de provas acaba enterrando o que desejava provar, o tal “quod erat demonstrandum” vai pra o vinagre? Isso se aplica ao tal Mensalão? Ou ficamos apenas com o “Quivi praesumitur bônus donec probitur malus”, ou seja qualquer um é presumido bom até provar que é mau.
- Exato, vejo que percebeu.
- Mas nesse caso, para provar a culpa, precisamos de provas. Muitas provas. Então como fica o tal nimium probat.
- São necessárias provas, mas não um monte , para evitar que o público e os magistrados adormeçam.
- Então vamos falar um pouco a respeito da economia deste país. “Ceteris paribus”, ou seja, mantendo constantes as demais condições, estamos preocupados com o quê? Vamos imaginar que apenas um dos elementos da nossa análise matinal esteja mudando, e vamos tentar entender o que parece preocupar esse pessoal que debaixo de uma fachada de otimismo passa seu tempo roendo as unhas de preocupação.
De onde será que a Lucy tirou isso?
- O ministro Manteiga, cujo nome se traduzido em italiano daria...deixa pra lá, ostenta sorrisos de propaganda de dentifrício e alardeia um desempenho maravilhoso para nossa economia, enfim a economia de vocês, que seria ainda melhor não fosse o desempenho da economia chinesa. Ele fala também num tsunami monetário, mas como não sei o que é tsunami, não comentarei essa parte. Estamos desesperados porque a China crescerá apenas algo como 7% este ano. OK. Primeiro é saudável. Crescer todo ano a 10% é uma impossibilidade, comparável à anedota do inventor do jogo de xadrez que pediu como recompensa um grão de trigo pela primeira casa, 2 pela segunda, 4 pela terceira e assim por diante.
- Chega de anedotas! – Lucy percebeu que o interlocutor mantinha uma aparência severa. Já que o taciturno, sorumbático, macambúzio tutor parecia impermeável a uma abordagem jocosa, resolveu prosseguir num tom neutro.
- Suponhamos que a China (com seus imensos estoques ociosos de moradias, carros etc.) cresça 7% este ano.
Suponhamos ainda, para simplificar – Lucy já conhecia, ainda que superficialmente a teoria das matrizes insumo-produto de Leontieff, mas resolveu simplificar - que o único fornecedor estratégico da China sejamos nós. Imaginemos que a China seja um monopsônio e que nós não tenhamos outro destino para nossas exportações. Nada de mencionar nossas exportações para o Tadjiquistão, Bulgaria e Namíbia por exemplo. Significa que se antes, em 2011, exportávamos 100 unidades de qualquer coisa, este ano exportaremos 107, com crescimento de 7% (mantendo nossa participação na importação chinesa, cela va sans dire), muito melhor que o crescimento do que esse nosso PIB que dificilmente crescerá 2% em 2012.
ONDE ESTÁ O DRAMA? – A exclamação de perplexidade de Lucy justifica a “caixa alta”. Se vamos crescer só aqueles míseros 2% - tomara – a causa deve ser outra.
- Bem, Lucy, esse negócio de se lava sem dir não entendo porque não falo italiano, mas você mesma disse que eles estão com estoques enormes e que falta digerir tudo isso antes de retomar a marcha batida para frente e para o alto, acrescento eu, seu dedicado mestre.
- Concordo, querido professor, mas supondo – não tenho receio de tornar-me redundante - que a economia chinesa não passe de uma matriz 1x1, na qual sejamos os únicos fornecedores, ao invés de produzir 110 , produzirão 107. Então, quem exportou no ano anterior 100, agora exportará 107. Isso é tão ruim?
- Lucy, você se esquece de que havendo quantidades demandadas menores, os preços caem e as 107 unidades exportadas renderão até menos que as 100 do exercício anterior.
- Mas por que falar quantidades menores? Mutatis mutandis, em 2011 eram 100 e agora serão 107! Até concordo com o conceito elasticidade preço da demanda, mas isso ainda não me satisfaz. Ceteris paribus algo está errado. Mestre, poderia ter me derrubado se dissesse simplesmente que o crescimento das exportações não determina necessariamente o crescimento do PIB. 1 x 0 para mim.
-Lucy, trouxe sua lição de Física? Não tenho tempo para suas divagações. Esses detalhes me cansam. De minimis non curat praetor. Isso sem contar que para discutir Economia, precisamos de letras gregas não de frases latinas!
- Já que magister dixit, obedeço. Cá está a série de problemas resolvidos.
- De qualquer maneira, saiba que nosso crescimento ainda há de causar inveja e posso trazer provas acachapantes.
- Não será necessário. Depois que aprendi que Qui nimium probat nihil probat, estou sem vontade de examiná-las.
-Tá bem, Lucy. Depois, para continuar em busca da verdade, convido você para tomarmos um bom vinho. In vino veritas.
-Hâ?

Por Alex Solomon

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

CHINA , presente e futuro -中国,现在和未来


CHINA , presente e futuro -中国,现在和未


1 – Um pouco do passado

Em 1949, ao fim de uma longa guerra civil, a China transformou-se em um país Comunista. Era moda, a juventude mundial queria mudanças, não se conhecia a Democracia participativa, e em todo o mundo, desde 1917 quando o comunismo apareceu pela primeira vez na Rússia, o mundo começou a mostrar uma tendência no sentido de seguir o comunismo. Nos anos seguintes e até bem pouco tempo, existiam mais de 60 países comunistas em todo o mundo. Hoje existem apenas dois, que nem o são tanto assim: Coréia do Norte e Cuba, sendo que Cuba atravessa um momento de incipiente transição para o capitalismo, até agora o grande vencedor da contenda sem que para isso houvesse uma guerra ou revolução mundial para “instaurar” o capitalismo. No entanto sofre-se com o capitalismo porque não é acompanhado da verdadeira democracia, a participativa.[1] A China já não é um país comunista. Isso está patente em sua economia, na crescente liberdade dos cidadãos para montar negócios, exportar, e principalmente pelas diferenças sociais que estão totalmente contra qualquer filosofia comunista. São muitas as diferenças sociais e estão aumentando.

De 1949 até hoje, a China tem sido uma ditadura imposta pelo Partido Comunista Chinês que não pergunta o que o povo quer: Faz, ou mal ou bem, em nome do povo. O povo não depende de si mesmo e é refém dos atos de governo. Com mudanças muito lentas, a China não será democrática nem nos próximos 50 anos, a menos que apareça gente corajosa como o desconhecido de Tianamen. 



2 – A China de hoje

A China é o segundo maior país do mundo em área e tem uma população à volta dos 1.4000.000.000 habitantes. É também a segunda economia do mundo. Possui cerca de 116 milhões de analfabetos[2], 150.000.000 de pobres[3] e é o primeiro do mundo em acidentes de trabalho, fortes sinais de que a preocupação maior do governo chinês não são os cidadãos, mas a produção industrial. Para ser comunista não poderia ter tamanhas diferenças sociais, tantos analfabetos e a mortalidade infantil não poderia beirar os 53 por mil habitantes. É um descaso pela cidadania, tal como em qualquer país falsamente democrático como são os que adotam a Democracia Representativa, que colocou nas mãos dos banqueiros o capital público gerando a crise de 2.008 e as suas conseqüências.


Os salários são relativamente baixos se comparados aos ocidentais de países de mesmo escalão. Uma diferença em dólares de cerca de 300% inferior[4]. Só como exemplo, enquanto um operário especializado ganha cerca de 1.500 dólares no ocidente, na China ganha meros 500 dólares. O ocidente não tem como competir com a China enquanto os salários dos chineses e outras medidas de política comercial não evoluírem na China.


No contexto mundial, é considerada como uma economia emergente, mas na verdade é uma potência mundial, com tecnologia de ponta, armas nucleares, forças armadas modernas e bem equipadas. É um grande país do presente. Se vier a ser um grande país do futuro, de forma constante, isso estará nas mãos do povo chinês, porque muitas mudanças serão necessárias e não se sabe até que ponto os cidadãos chineses gritarão por elas. A pressão do Estado chinês, uma ditadura, ainda é muito grande, e sem democracia as partes mais fracas não são ouvidas, perdendo-se assim o rumo do progresso que passa a ser propriedade dos que dirigem a nação. Sempre foi assim na humanidade e não será diferente na China. Nos paises democráticos o povo exige em massa e o governo é obrigado a atender. Na China, nos dias de hoje, isso não se consegue. O Estado é fechado a “sugestões” que vão contra os seus interesses. A vaidade de governar e de mandar ainda se faz muito presente na China, por medo de que a política tome “outros rumos”.

3- A China do futuro




Na década de 60 o mundo ocidental, em plena guerra fria, alertava para o perigo da “onda amarela”. Temia-se uma invasão de chineses, todos comunistas, obrigando à leitura recitada, sem raciocinar, do livro vermelho de Mao tse Tung. Mao Tse Tung morreu, o livro vermelho serve para calço de mesas velhas roídas pelos cupins, a China já não é comunista, e a onda amarela chegou ao mundo de forma absolutamente democrática e capitalista, como tsunami que derruba uma a uma as indústrias do ocidente. Nenhum estrategista militar conseguiria tal feito, nem que tivesse implante cerebral de Alexandre, o mancebo macedônio, Napoleão o ulcerado, ou de Ho Chi Min, o vietnamita destroçador de generais franceses e americanos que lutaram por políticos ditatoriais e não por interesses cidadãos do povo francês ou americano: Entram na guerra sem perguntar aos cidadãos se a desejavam.

A China do futuro é matemática.

Não se pode crescer indefinidamente a taxas altas. Elas decrescem na medida da demanda mundial e do crescimento econômico da nação. È como a velocidade de um objeto em relação à velocidade da luz: Na medida em que a velocidade do objeto aumenta, a massa aumenta e torna mais difícil aumentar a velocidade. Quanto mais, menos.
O povo chinês, ainda que a passos de tartaruga, vai tendo acesso ao conhecimento e às diversas culturas e evoluirá na democracia. Os futuros governos da China acompanharão o desenvolvimento democrático em sintonia com o povo, ou, alternativamente haverá mudanças por força de revolução. Não há outra opção.

Para o bem geral da humanidade espera-se que a China evolua em paz e tranqüilidade e que, ao atingir o topo, por aí fique de forma permanente, sem voltar às deficiências de ser governada pela cabeça de confrarias de uns poucos em detrimento das massas populacionais. Para isso, o Japão é um excelente exemplo. Começou sua escalada econômica produzindo bens de terceira ou quarta categoria, a preços baixos, e tornou-se uma potência econômica. Mas o Japão sofre do mal da falta de matéria prima. A China tem de sobra e suas fronteiras estão mais perto dessas matérias. Falta-lhe a Democracia Participativa para ficar por pelo menos uns 500 anos à frente do mundo. E para se ser líder mundial é necessário estar em sintonia com os povos do mundo.

Parabéns e meus abraços à China! Se puder, dê uns conselhos à Coréia do Norte e a Cuba e não deixe que Bahsar-Al_Assad continue a massacrar o povo sírio. É um pobre exemplo de política internacional. 


Rui Rodrigues

P.S. - Deixo meu abraço em particular a Hong-Kong, Macau, Formosa e Xangai.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Ilusões em um mundo real, ou realidades num mundo de ilusões?





Ilusões em um mundo real, ou realidades num mundo de ilusões?

A moderna Física Quântica abre-nos uma janela para a eventualidade de sermos meras imagens animadas, “hologramas” [1] de um mundo real, diferente, muito próximo, que não podemos conhecer: Estaria em outra das onze dimensões deste nosso universo. Através da holografia podemos “reconstituir” a imagem de uma maçã em três dimensões, por exemplo, a partir de uma parte dela e não dela toda.

Neste nosso mundo a que chamamos, talvez ilusoriamente de “real” – pelo menos aparentemente – têm  surgido magos e mágicos que nos deixam perplexos com suas mágica, que, já o sabemos, não passam de meros truques que nos desviam a atenção. Numa fração de segundo a mágica foi completada sem que tenhamos percebido como. Ninguém de uma platéia de centenas de pessoas consegue perceber como os truques são feitos.

Na nossa vida diária o tempo em segundos passa tão rapidamente que, preocupados ao atravessar uma rua, perdidos numa concentração mental para resolver um problema, beijar a mulher ou o homem amado, não percebemos o tempo e este passa como que por encanto, mágica, como um relâmpago. Ter a mente ocupada faz-nos não perceber essa outra dimensão do mundo em que vivemos: o tempo. Nessas ocasiões “agradáveis” o tempo parece parar. Pelo contrário, quando estamos ansiosos  ou preocupados, o tempo arrasta-se e os segundos parecem horas, as horas dias, os dias semanas... Parecemos crianças (nosso consciente) quando nos diz o nosso subconsciente: Seja um bom menino e faça algo para eu ganhar uma boa dose de dopamina”

Quando assistíamos a espetáculos circenses – que estão acabando – ou quando nos divertimos ou passamos por aquilo a que costumamos chamar de “bons momentos” sofremos reações químicas em nosso cérebro e grandes doses de endorfinas[2] são injetadas dando-nos a sensação de prazer. São essas descargas de dopamina, por exemplo, que nos dão a sensação de prazer e nos iludem a avaliação da medida do “tempo”, nos tira do mundo real e nos transporta para o mundo da ilusão temporal sem que, contudo, isso signifique que o que fazemos não seja real, de verdade. No entanto, o que sentimos depende da capacidade de cada um de produzir e de interpretar essas substâncias neurológicas como fonte de prazer e de intensidade de prazer.

Em busca desse prazer, ou melhor, da obtenção dessas substâncias neurológicas que nos dão o sentimento de prazer, nos iludimos muitas vezes, de forma proposital, não consciente, ao corresponder a um interesse em objetos amados, como, por exemplo, o namoro, a paixão. Frases, toques de pele, perfumes, sexo, nos atraem para obtenção dessas substâncias. Passamos assim, como num passe de mágica, do mundo real para o virtual, imaginário, como numa armadilha. Se analisássemos friamente a situação, poderíamos sentir outros fatores envolvidos nas frases, nos toques de pele, nos perfumes, nos incentivos à “paixão” e evitar possíveis sofrimentos futuros, mas isso não poderia produzir a dopamina em nosso cérebro e não sentiríamos prazer nisso, embora deva existir quem possa lidar em certos momentos com essa mágica de provocar essa necessidade em outrem, mas sem o envolvimento emocional para a produção própria da dopamina.

É por isso que homens e mulheres se iludem exatamente dessa forma, quando, apesar de saberem os defeitos dos parceiros, continuam buscando neles a sua companhia em busca de momentos de prazer, ou melhor, de momentos que os façam produzir a dopamina, que por sua vez produz a sensação de prazer. São capazes de viver anos a fio até que a realidade aflore e busquem outras pessoas outros motivos na vida que as façam produzir tanta ou mais dopamina do que antes. Dizem por exemplo, que nada melhor para “esquecer” um amor frustrado do que arranjar outro amor, o que deve ser interpretado, como nada melhor para conseguir novas doses de dopamina, do que arranjar um novo “amor” que provoque a sua produção. Do termo dopamina surgiu o termo “dopado”,não por acaso. O “amor” dopa! Temos aqui, especificamente, o caso de uma magia, uma mágica da natureza que nos transporta do mundo real para o virtual, e por vezes confundimos os dois.

Dizíamos, antigamente, que o amor vinha da alma sem sabermos exatamente o que é a alma, e que muitos achavam e ainda acham que se situa no coração, um músculo operacional, sem raciocínio próprio, que faz sempre a mesma coisa cerca de 60 vezes por minuto: bombear sangue das veias e para as veias. Um músculo que apenas é controlado por uma pequena parte do cérebro, do tamanho de um punho fechado, o bulbo raquidiano. E sobre este bulbo raquidiano, não temos a menor centelha de controle. Ele é autônomo, independente. Vivemos realmente em mundo de ilusões que confundimos com a realidade ou que transformamos em “realidade”.

Indo um pouco mis além no mundo das ilusões, quando candidatos a eleições nos vêm pedir votos, nós, que estamos muito ocupados com o nosso trabalho, com nossa família e amigos – e com nós mesmos -  nos iludimos jogando dopamina no cérebro quando os vemos ou ouvimos, dizendo para nós mesmos;

- É este... É este que vai resolver os nossos problemas.

É outra ilusão. Os candidatos também jogam dopamina em seus cérebros quando nos vêem ou ouvem nossos gritos de apoio, e sentem prazer, dizendo para si mesmos:

- São estes... Com os votos destes eleitores resolverei todos os problemas dos que pagaram a minha propaganda e os meus próprios problemas. Agora sou gente importante!

Não nos iludamos... Ou devemos iludir-nos para ganharmos nossas doses de dopamina?

Rui Rodrigues

domingo, 16 de setembro de 2012

O Mensageiro


O Mensageiro
Um verdadeiro Cidadão do Mundo

Há quem se vanglorie de ser cidadão do mundo, só porque morou em dois ou três países e visitou mais um par deles, ou, ainda, tem dupla nacionalidade. Isso não é ser cidadão do mundo. Cidadão do mundo, mesmo, realmente, é o Pedro. Pedro Nogueira da Silva que contou sua história no Bar do chopp Grátis para quem quis ouvir. Foi uma noite e tanto.

Onde Pedro nasceu ao certo não se sabe, mas foi em 1950 na Sérvia, antiga Yugoslávia. Com 16 anos engravidou uma moça e queriam obrigá-lo a casar. Seus pais não eram ricos, nem pobres, mas conseguiram arranjar-lhe o dinheiro suficiente para comprar uma passagem para a França. Acobertaram o filho porque se sabia que a moça era uma doidivanas que saía com muitos rapazes. Pedro só tinha saído uma noite e mesmo assim tinha sido rápido e em pé. Depois ela não o procurou mais e continuou saindo com os outros rapazes. Naquela época nem existia teste de DNA, e valia a palavra da moça que dizia quem era o pai. Às vezes era, outras vezes não. A família e Pedro resolveram não discutir, pularam essa etapa da vida, e numa manhã, assim de repente, Pedro já não estava na aldeia, os pais não sabiam dele, a moça teve que escolher outro marido. Durante a viagem chegou a pensar que era melhor aliviar-se com maricas. Esses não teriam filhos nunca. Um dia casaria decentemente, mas desistiu da idéia.  Não suportaria beijar um macho sem peitos, e seria capaz até de agredi-lo se um dia lhe pedisse para se virar que ele também queria ter prazer. Isso jamais. Depois, com a doidivanas longe dele, o mundo estava aberto para a vida normal que sempre tivera, mas os pesadelos só estavam começando.

Bem que seu pai o instruíra para ser um sujeito correto, honesto, família, mas também o avisara que o mundo lá fora do ambiente de casa era muito diferente. Logo conferiu e sentiu que era. Sua vida adulta estava começando e já se via encrencado sem que tivesse feito algo errado.

Foi direto de Belgrado a Paris pelo velho “Orient Express”, ainda a vapor cuja companhia os mantinha por tradição. Ainda no trem conheceu dois sujeitos que também viajavam para lá. Disseram que iam alistar-se na Legião Francesa. Pedro contou-lhes o seu caso e disse-lhes que não sabia para onde ir, como conseguir um emprego. Conversaram bastante porque sono era exatamente o que não tinham. Só quando o trem estava chegando a Paris os dois lhe contaram que eram inocentes num caso em que se envolveram com a policia e houvera um morto e vários feridos. Tinha sido na tarde do dia do embarque e lutavam pela independência da Sérvia tentando minar o governo de Tito, que unificara a Yugoslávia contra vontade das diferentes etnias da região. Tito fizera o seu sonho, mas apagar o sonho dessas etnias. Pedro achou que os dois tinham uma boa moral, eram gente decente e convidou-se para entrar com eles na Legião Estrangeira. Por sorte, em vez de o trem ir para a Gare du Nord, de onde saem e aonde chegam os trens de viagens internacionais, o deles foi desviado para a Gare Montparnasse, que hoje já não existe. Lá, a alfândega era mais suave e o controle de passageiros ineficiente, ainda mais quando a estação se enchia de nevoeiro provocado pela fumaça dos trens a vapor como aquele. Decidiram arriscar e não saltar do trem em movimento.

Entraram para a Legião Estrangeira. Após alguns meses de treinamento, na Córsega, onde estava lotado, Pedro foi despachado para o Tchad em 1969 quando o governo do Chade pediu ajuda militar à França para abafar uma revolta tribal importante. O batalhão de Pedro, o 2. ° REP foi então mandado a esse país onde participou, durante quatro meses, de tiroteios contra os rebeldes, até que a revolta malograsse. Envolveu-se em tiroteios, e chegou a uma conclusão. Na guerra de guerrilha não se pode avançar de peito descoberto na base da heroicidade. O indivíduo deve prevenir-se se quiser preservar a vida. Os mais afoitos, nascidos para serem heróis, avançam e são geralmente abatidos pelos inimigos. Viu alguns amigos seus caírem assim. Um dia o sargento disse-lhe para avançar. Pedro deu uma olhada no ambiente e viu um inimigo atrás de uma árvore com a arma apontada para onde ele estava. Disse para o sargento que primeiro tinham que abater o guerrilheiro para que ele avançasse. Não era louco. O Sargento olhou, viu o guerrilheiro e abateu-o com uma granada. Depois lhe disse: Agora pode ir, porra!  E Pedro respondeu-lhe:

- Meu sargento, desculpe o que vou dizer, não sou suicida, e agora vou, caralho!

Essa sua atitude e discernimento no calor da batalha, pensando, observando, antes de agir, valeu-lhe a recomendação do sargento e deu inicio a uma carreira que jamais imaginara seguir.

Ao fim de três anos conseguiu sua identidade francesa: Louis François D'Avignon. Gostou do nome, mas logo que saísse da Legião Francesa o trocaria para não lhe seguirem o rastro. Foi o que aconteceu no final de 1972.  Um dos amigos que fizera na legião francesa, disse-lhe que os americanos estavam precisando de gente especializada em inteligência e comunicações, que era a especialidade de Pedro. A missão seria no Vietnam. Um dia no Porto de Bastia, na Córsega, foi abordado por um indivíduo da CIA. Disse que se Pedro estivesse disposto a cumprir a missão ganharia um bom salário, e descreveu uma série de vantagens entre as quais se incluía a nacionalidade americana. Além do mais, se aceitasse, ele trataria de tudo junto à Legião Francesa. Pedro aceitou e pediu apenas uma semana de férias para resolver uns assuntos.

Soubera que em Portugal a corrupção era bem popular. Desde a segunda guerra mundial na qual o governo português se absteve de participar, que Lisboa se transformou num centro de espionagem com a mesma importância de Viena. Assim, disposto a obter um passaporte diferente, apanhou um “ferry boat” de Ajaccio, na Córsega, até Marseille e daí a Paris e Lisboa. Em dois dias tinha um passaporte tão verdadeiramente falsificado, que jamais descobririam ser falso. Foi nesse dia de 1972 que se transformou em Pedro Nogueira da Silva. E foi com este nome que entrou para o exército americano como membro da inteligência em comunicações e adotou a cidadania americana.

Chegou ao Vietnam, participou de algumas operações e das negociações para troca de prisioneiros a partir de 1975, com tanto sucesso que lhe passaram a dar missões importantes, altamente sigilosas. Uma delas foi um recado para Manuel Noriega, o general panamenho, ditador, que andou metido com traficantes de drogas e fazia lavagem de dinheiro. No entanto, como anteriormente tinha cooperado com os governos americanos, mandaram que lhe se levasse o seguinte recado: Que fugisse para a França, sem garantias de que não seria perseguido, mas que o governo americano faria de tudo para que não o matassem e não o extraditassem para os EUA. Sua família seria protegida. Realmente, apesar de aparentemente perseguido pelos americanos, fugiu para a França. Foi capturado, julgado a sete anos de prisão e finalmente foi extraditado para o Panamá. O governo americano não se intrometeu neste processo. Foi uma negociação entre o governo do Panamá e o da França.

Outro recado sigiloso que Pedro levou foi para o Bin Laden, logo após o 11 de setembro.  O recado era o seguinte: Bin Laden tinha cooperado com a CIA na guerra do Afeganistão na época da ocupação russa e em outras operações, não sendo assim um individuo qualquer na organização. Porém, como se tinha passado abertamente para o lado contrário aos interesses dos EUA, seria perseguido implacavelmente. A concessão americana seria o tempo em função dos integrantes da Al-Qaeda que Osama entregasse aos EUA por denuncia do local onde se encontrassem. Para cada um deles um período de tempo de vida, devendo entregar pelo menos sete deles. Se isto fosse cumprido teria sua vida garantida, morrendo para o mundo e vivendo incógnito e em segurança nos EUA, devidamente vigiado. Faria uma operação estética com um célebre cirurgião brasileiro. De fato, existem fotos de Osama Bin Laden morto após ataque a sua casa em Abbotabbad no Paquistão, foram feitos exames de DNA, mas não há provas reais de que tenha morrido. Seu corpo teria sido jogado ao mar. Para Pedro Nogueira da Silva, Bin Laden está bem guardado e ainda trabalha para a CIA.

Outra operação foi no Iraque. Um recado para Sadam Hussein. Não havia forma de fugir da CIA. Seria encontrado, preso, julgado culpado e morto pela forca com a cabeça arrancada na corda. A CIA nunca lhe perdoou a venda de petróleo aos russos e alemães...

Teve muitas mulheres, o Pedro, mas não sabe se deixou alguns filhos pelo mundo. Era um sujeito muito ocupado. Disse que um dia passaria pelo bar do chopp grátis para contar umas histórias sobre as mulheres que teve, mas que prefere não dizer os nomes: Não porque já não se lembre, mas por preservação da identidade.

Rui Rodrigues

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Portugal - O futuro dessa sociedade amorfa





torreão

PORTUGAL – O FUTURO DESSA SOCIEDADE AMORFA

Quem viveu a vida toda no mesmo lugar, na mesma cidade, atendendo as preocupações diárias, limitando-se às notícias da mesma fonte, normalmente a mesma rede de TV, assistindo os mesmos programas, e não freqüentou universidade, não sabe, não pode saber como se move o mundo, o que faz o mundo, como se comporta, os motivos que levam sociedades, famílias, indivíduos, a tomar certas atitudes que há primeira vista nos parecem sem muita ou nenhuma lógica, e, se pelo contrário tais atitudes nos parecem louváveis e que gostaríamos de adotar, não sabemos como agir porque as condições e modos de vida dessas sociedades são diferentes das nossas.
Não há um só elemento de qualquer sociedade do mundo que saiba tudo. E os que mais sabem não se metem em política porque esta atenta contra a sociedade. Os que mais sabem não atentam contra ela. Mas é a política que pode mudar as condições de vida de uma sociedade, de um planeta. Ao olhar pelo mundo, minha referência, desta vez, é Portugal, apesar dos pesares.
Falar das sociedades portuguesas do passado e como se comportaram em termos de nação, quase não vale a pena, porque se estamos bem devemos continuar assim, e se estamos mal, o passado não importa. Importa o presente onde se deve mudar o que necessita ser mudado visando o futuro. Porém deve ser feita uma referência às famílias que sempre dominaram a política, o comércio e a indústria: Nunca fizeram alterações fundamentais na estrutura da nação porque sempre se sentiram satisfeitos. As mudanças sempre advieram das necessidades, e o povo raramente se move porque há uma cultura da conformação à espera do milagre, talvez uma herança católica pós-inquisição, mas com base nesta. O povo português tem medo dos “governos”, sussurra pelas ruas e em casa, embora após a ditadura de Salazar esteja mais afoito, porém indeciso e dividido. Explode suas raivas em conversas lançando impropérios contra os governos, mas fica apenas nisso. O povo português discute a política, mas não a faz, simplesmente vota nos candidatos que os partidos lhes apresentam. E são sempre os mesmos, anos a fio, o que lhes permite, aos candidatos, o acordo tácito do “agora eu, depois tu, aprova-me e deixa-me quieto que depois faço o mesmo”.
Com população que varia há cerca de 200 anos entre os 10 e os 11 milhões de pessoas, continua-se com acesso limitado às universidades. Somente uma pequena parte da juventude pode ter acesso ao ensino superior e quer tenha formação ou não, é obrigada a emigrar porque não se criam empregos suficientes, os salários são dos mais baixos da Europa. Fruto dessa inércia secular, não há um só motor de automóvel genuinamente português, não há praticamente nenhum bem que não seja importado, e se não o é, pagam-se divisas pelos direitos de fabricar. Máquinas fotográficas são reparadas em Espanha. Tudo fica difícil, tudo é difícil, o país está politicamente amarrado. Boa parte do capital depositado nos Bancos portugueses é referente contas de emigrantes que ganham no exterior o que seria impossível ganhar em sua pátria.
Portugal tem tido, sem exceção, governos traidores das ansiedades cidadãs.
Mas porque não se muda?
Principalmente por medo, advindo da ignorância. Saber ler e escrever não é sinônimo de ter conhecimento e discernimento, e alguns números indicam o nosso grau de educação, de tal ordem deficiente, que estar na Comunidade Européia somente serve para supri-la de mão de obra não qualificada e consumir os produtos do resto dos países membros. Além disso, há sempre alguém que tem um padrinho que a colocou num cargo público e não quer mudar para não o perder.
Sobre educação, e extraído do link abaixo indicado, estudos recentes demonstram que “35% da população detém o primeiro ciclo do ensino básico; 27,3%  têm um nível de instrução superior ao ensino obrigatório em Portugal, o 3º ciclo do ensino básico ou 9º ano de escolaridade. Com uma instrução média (bacharelato) e superior temos 11.3% da população, sendo que destes 44% são do sexo masculino e 56% do feminino. Contas feitas, em Portugal no século XXI a percentagem de indivíduos que não tem qualquer escolaridade é maior do que a dos indivíduos com um nível médio (bacharelato) ou superior. E, dentro destes últimos, a maioria é do sexo feminino”.
Somos um país predominantemente ignorante, e isto não convém à cidadania. Convém aos que governam e é tão agradável – sabemos disso – pertencer ao governo, que partidos e políticos nele se mancomunam e se eternizam. Boa parte sai do governo bem mais rica do que quando nele entrou. Todos sabemos disto, mas não nos movemos, por conformados, orando nas igrejas, esperando D. Sebastião, a segunda vinda de Cristo, mais um milagre em Fátima, comovendo-nos com estátuas de virgens choronas. Não fazemos a dança indígena da chuva, mas rezamos para que chova.
Somos crentes do absurdo.
Mas onde está a amorfalidade de nossa sociedade? Parece lógico concluir que ainda acreditamos no “Senhor Doutor” candidato político, por falta de educação e por crença no absurdo, chegando a comemorar em grupos de amigos que “ele até me apertou a mão”, como prova de que vai cuidar dos interesses da comunidade; Os emigrantes não podem ter parte ativa na política a não ser votar nos mesmos partidos, nos mesmos políticos, porque a maior parte do ano estão fora das fronteiras; os protegidos do governo não querem mudar nada; Os ignorantes, conforme vimos são a maioria – acreditam em qualquer coisa que não saibam explicar e não sabem explicar absolutamente nada; com o advento da globalização as poucas empresas portuguesas preferem investir em países estrangeiros, deixando o país às traças, traçando o país, e isto é grave, porque já nem o povo interessa ao governo ou aos empresários portugueses;
Não temos ilusões de sermos uma Alemanha, um Rússia, EUA ou Canadá, mas se não conseguirmos educar o povo, mudar a mentalidade e a idiossincrasia nacional, não conseguiremos sequer ser uma Noruega, uma Islândia, uma Suíça, Finlândia, Suécia... E seria muito fácil. Um pouco demorado, mas fácil. Bastaria uma nova constituição votada item a item pela população e que não pudesse ser alterada sem votação popular do que se propõe ser mudado, como se faz em Democracias Participativas.
Não são os governos que fazem a nação: São as sociedades ainda que, e felizmente, amorfas, porque é da divergência que se faz a democracia.  
Rui Rodrigues

Referências:

Sobre educação http://www.marktest.com/wap/a/n/id~45c.aspx
Sobre Democracia Participativa ; http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/
Sobre emigração : http://imigrantes.no.sapo.pt/page6Estatist.html
Ver as novas constituições da Suíça, da Islândia, e dos países nórdicos. 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Homens e mulheres à frente do “seu” tempo!



Homens e mulheres à frente do “seu” tempo!
(E o mundo que herdamos)

Não há neste texto nenhuma referência específica a algum personagem histórico ou familiar que tenha as características de estar á frente de “seu” tempo, como se costumam vangloriar alguns personagens que conhecemos de nossa vida familiar e no meio de amigos e amigas, ou de fatos históricos que costumamos exaltar. Até mesmo porque ninguém está à “frente” de seu tempo. O que se pode é estar à frente de conceitos e preconceitos em relação ao senso comum do que são as formas “normais” de se agir em sociedade, grupos ou nações, afastando-nos de tais conceitos, preceitos, preconceitos, tradições. No fundo todos nós, sem exceção, temos um desejo hereditário, genético, de mudar o mundo. Não fosse esse desejo, não construiríamos nada, não estudaríamos para descobrir novos materiais, novas filosofias, o mundo ficaria parado, não haveria evolução. Com muito vagar vamos descobrindo coisas novas a cada dia, rejeitando o que não desejamos, lutando contra o que nos aflige e nos é difícil extinguir, adquirindo novos hábitos que nos parecem interessantes.

Herdamos um mundo. Todas as gerações herdam o mundo que seus antecessores lhes deixam, inacabado, imperfeito, à disposição para ser alterado, mudado, revirado do avesso. Creio que existe uma memória “genética” que interfere no relacionamento das novas gerações com as anteriores, principalmente no relacionamento entre filhos e pais. Vou mais longe: Na inconformação com o mundo que se lhes depara, cheio de imperfeições, filhos culpam os pais e as gerações passadas, lá no fundo de sua “ID” [1], por herdarem essas imperfeições, e mais particularmente, mas agora nem sempre, da condição de vida que herdaram de seus genitores com variância de grau, isto é, uns mais outros menos.

No caso específico do termo “mulheres à frente de seu tempo”, ou de homens à frente de seu tempo, refere-se este a mulheres que contestam os hábitos tradicionais e agem de forma diferenciada, rejeitando esses hábitos e adotando novos. Esses hábitos são sociais, políticos, pessoais, de comportamento. No mundo que vemos hoje, é como se o comportamento masculino fosse a “senilidade” e o feminino a “juventude” contestadora: os homens no poder na França de 1968, as mulheres montando barricadas nas ruas de Paris contra os métodos e conceitos da educação francesa da época. Ou as mulheres pelas ruas sendo presas porque faziam passeatas em Londres e Paris exigindo o direito de também poderem votar nas eleições. Cheias de razão, evidentemente. A mesma razão que tiveram para acabar com os cintos de castidade, uma geringonça que os maridos lhes punham, feita de aço ou couro, com cadeado, aplicada ao sexo para que não fossem violadas ou se aproveitassem da ausência dos maridos para praticar sexo com o risco de gerarem filhos bastardos.

Mas de onde veio essa tradição de que o homem é quem mandava nos filhos e nas mulheres?

Se não voltarmos muito tempo atrás, podemos atribuir esse vilipêndio ao direito romano que se baseava no “pater famílias”, cujo código foi aprovado numa sociedade em que os “patrícios” ou nobres faziam as leis para uma massa social constituída de escravos, artesãos, soldados e mulheres, velhos e crianças. O direito romano zelava pelos direitos dos homens, calava as mulheres e crianças que não tinham direito a nada, nem a falar. Os “pater família” podiam inclusivamente dispor da vida de suas esposas e filhos. Foram os homens que redigiram e aprovaram o código romano.

Mas podemos ir mais longe, para trás no tempo e ler por volta do ano 623 da nossa era, o Corão, escrito por homens. Também este livro separa os direitos dos homens e das mulheres, dando todos os direitos aos homens e tirando todos os direitos das mulheres. Seria então o Corão o culpado pelos hábitos e tradições que tiraram os direitos das mulheres por séculos? Parece que não, porque ainda podemos voltar atrás mais uns séculos no tempo, e lermos o que escreveram nos livros sagrados cristãos por volta dos anos 60 – 70 de nossa era. Estes textos não descriminam tanto a mulher como o Corão, mas, também escrito por homens colocam as mulheres em um estado tão ausente que até hoje a Igreja católica, a precursora das igrejas de Cristo, não aceita mulheres em suas fileiras hierárquicas, e tão cedo não se verá uma Papisa. Ao que parece, a religião muçulmana e a católica vêm na mulher algum tipo de “impureza” que as faz manter afastadas dos diálogos com “Deus”, não lhes concedendo também o dom de “perdoar” pecados. Será Deus uma entidade discriminante e discriminatória? .
Mas como podemos ainda voltar mais atrás no tempo, veremos que a culpa também está em outros textos mais antigos ainda, como se as “tradições” viajassem – e viajam – no tempo, sendo adotadas porque estavam “funcionando” nas sociedades onde foram iniciadas.

E voltamos então a cerca de 6.000 anos AC, á religião judaica. Está escrito no Gênesis a descriminação de Eva, a culpada por desviar Adão da obediência às leis de Deus e os castigos que tanto Adão quanto Eva teriam recebido de Deus. A mulher seria sempre tentada pelo mal (a cobra que lhe morde o calcanhar) e seria serva do homem a quem teria que obedecer. Quer a religião muçulmana quer a católica descendem da religião judaica. Seria então a religião judaica a responsável pela descriminação da mulher? Somos levados a pensar que não. Teremos que voltar ainda mais no tempo, á época em que os homens e as mulheres viviam em cavernas e não tinham religiosidade como a conhecemos hoje. Sabiam que existiam forças na natureza, raios que matavam, que as pessoas morriam mesmo sem lutar, sem serem feridas. Enterravam seus mortos deitados de lado, com os joelhos dobrados sobre o estômago, cobrindo-os de flores e colocando pedras em cima. Não se sabe se as pinturas rupestres foram pintadas por homens ou por mulheres, mas parece que as mulheres, que não tinham de sair para caçar deveriam ter mais tempo para se dedicarem á arte, e os traços são incrivelmente suaves para a brutalidade necessária a caçadores. Os homens, esses se ausentavam por vezes por dias. Eram fortes, musculosos, massas brutas prontas a matar para se alimentarem e para defenderem a sua prole e o seu grupo. Sem leis escritas, era necessário que alguém exercesse a liderança nos grupos que por aquela época, ainda sem agricultura não passavam dos 100 elementos. Os alimentos disponíveis num entorno não permitiam grupos maiores sob risco de terminarem rapidamente e os obrigarem a mover-se da caverna ou do lugar para outros mais distantes. Chegados nesses lugares, a mesma organização deveria ser mantida para que o grupo pudesse sobreviver sem lutas internas para disputar os alimentos. Essa organização incluía o chefe, o macho alfa, o mais forte e ativo, um intermediário entre o grupo e as forças da natureza incluindo a sabedoria sobre as plantas comestíveis e medicinais, os caçadores, e o resto: Idosos crianças e mulheres. Se atentarmos para esta organização, veremos que um líder ou chefe, não precisaria ter muito trabalho para governar: as mulheres eram dominadas pelos homens, e cuidavam dos idosos e das crianças. O chefe teria assim, de um grupo de cerca de 100 pessoas, que governar apenas os caçadores, cerca da sexta parte: 15 cidadãos.

Esta organização saiu das cavernas e passou para as cidades como tradição, quando se descobriu a agricultura. Um rei teocrático governava na realidade um sexto da população, considerando que as mulheres não tinham voz ativa e eram da responsabilidade de pais e maridos. Esta organização consta nos livros que chamamos sagrados, chegou até nós viajando desde cerca de três milhões de anos atrás, e está viva, operante, embora com algumas alterações que de tão tênues, pouco se nota a diferença, bastando atentar para a proporção de homens e mulheres nos postos de governo, na diferença de salários, nos casos de violência policial de homens contra as mulheres, nas fábricas, nos postos de trabalho braçal ou técnico e de gestão do trabalho, nas universidades.

Se formos buscar culpados teremos que buscá-los em nós mesmos que não mudamos ainda a nossa forma de entender o mundo. O mundo humano é apenas uma parte de um mundo maior limitado pelas dimensões deste planeta em que vivemos. Precisamos mudar alguns importantes conceitos para que possamos viver em paz entre os homens e as mulheres de forma a desenvolvermos as condições necessárias á manutenção da vida.

Este planeta não se destina a ser dividido, mas á vida da humanidade, concentrando os esforços na sua manutenção e não na sua divisão. Não há outra forma de continuarmos vivendo sob um mínimo de condições auto-sustentáveis.

Paz na terra aos homens – e mulheres – de boa vontade!... E mude-se tudo o que deve ser mudado.

Rui Rodrigues

A ID segundo Sigmund Freud - Divisão do Inconsciente

Freud procurou uma explicação à forma de operar do inconsciente, propondo uma estrutura particular. No primeiro tópico recorre à imagem do "iceberg" em que o consciente corresponde à parte visivel, e o inconsciente corresponde à parte não visivel, ou seja, a parte submersa do "iceberg". De sua teoria ele estava preocupado em estudar o que levava à formação dos sintomas psicossomáticos (principalmente a histeria, por isso apenas os conceitos de inconsciente, pré-consciente e consciente eram suficientes). Quando sua preocupação se virou para a forma como se dava o processo da repressão, passou a adotar os conceitos de id, ego e superego.
§                    O id representa os processos primitivos do pensamento e constitui, segundo Freud, o reservatório das pulsões, dessa forma toda energia envolvida na atividade humana seria advinda do Id. Inicialmente, considerou que todas essas pulsões seriam ou de origem sexual, ou que atuariam no sentido de auto-preservação. Posteriormente, introduziu o conceito das pulsões de morte, que atuariam no sentido contrário ao das pulsões de agregação e preservação da vida. O Id é responsável pelas demandas mais primitivas e perversas.
§                    O Ego, permanece entre ambos, alternando nossas necessidades primitivas e nossas crenças éticas e morais. É a instância na que se inclui a consciência. Um eu saudável proporciona a habilidade para adaptar-se à realidade e interagir com o mundo exterior de uma maneira que seja cômoda para o id e o superego.
§                    O Superego, a parte que contra-age ao id, representa os pensamentos morais e éticos internalizados.
Freud estava especialmente interessado na dinâmica destas três partes da mente. Argumentou que essa relação é influenciada por fatores ou energias inatas, que chamou de pulsões. Descreveu duas pulsões antagónicas: Eros, uma pulsão sexual com tendência à preservação da vida, e Tanatos, a pulsão da morte, que levaria à segregação de tudo o que é vivo, à destruição. Ambas as pulsões não agem de forma isolada, estão sempre trabalhando em conjunto. Como no exemplo de se alimentar, embora haja pulsão de vida presente, afinal a finalidade de se alimentar é a manutenção da vida, existe também a pulsão de morte presente, pois é necessário que se destrua o alimento antes de ingeri-lo, e aí está presente um elemento agressivo, de segregação.





[1] ID – Segundo Sigmund Freud, ver no final do texto 

Extremos


EXTREMOS

Marlene Caminhoto Nassa


A tristeza se liquidifica

Na lágrima que verte

Da sensação que fica

No vórtice da emoção

Que arrebatadoramente

Levou de roldão a razão


É de extremos nossa mente

Ódio e paixão nos habitam

Livremente

No lugar da vida

Pode restar a ferida

Ou a morte

Nessa difícil lida

Por sorte

Teremos paixão

Ou será só solidão


Viver em extremo

No fio da navalha

Beber o veneno

Esperando a mortalha

Ou por algo que valha

Como um gozo feliz

Estraçalha qualquer motriz


A bala pronta na agulha

É tudo aquilo que se diz

Pode ser a fagulha

Com gosto amargo de fel

Ou delicioso mel

Pode ser um estopim

Que queime e mate raiz

Ou que nos leve ao céu

Ou que nos faça para sempre

Infeliz!


Palavras


PALAVRAS

Marlene Caminhoto Nassa


Sobrepostas em camadas de memória

Bailam as palavras no dicionário

Anunciam derrota ou celebram vitória

São às vezes como orações de breviário

Que o padre reza no silêncio em sua cama

Significam e trazem o peso de sua história

E se revestem de flores como nessa rama

Ou de dores e de horrores e não de glória

De acordo com a maneira que se trama:

Na poesia, na prosa, na paródia ou na simples fala

Em sotaques, em quem odeia ou em quem ama

Ou na palavra solta e desenfreada que se rala

Enrosca, acumula, engrandece, engravida e cresce

De sentidos, de história, de desejos e de prece...