O Mensageiro
Um verdadeiro Cidadão do Mundo
Há quem se vanglorie de ser
cidadão do mundo, só porque morou em dois ou três países e visitou mais um par
deles, ou, ainda, tem dupla nacionalidade. Isso não é ser cidadão do mundo.
Cidadão do mundo, mesmo, realmente, é o Pedro. Pedro Nogueira da Silva que
contou sua história no Bar do chopp Grátis para quem quis ouvir. Foi uma noite
e tanto.
Onde Pedro nasceu ao certo não
se sabe, mas foi em 1950 na Sérvia, antiga Yugoslávia. Com 16 anos engravidou
uma moça e queriam obrigá-lo a casar. Seus pais não eram ricos, nem pobres, mas
conseguiram arranjar-lhe o dinheiro suficiente para comprar uma passagem para a
França. Acobertaram o filho porque se sabia que a moça era uma doidivanas que
saía com muitos rapazes. Pedro só tinha saído uma noite e mesmo assim tinha
sido rápido e em pé. Depois ela não o procurou mais e continuou saindo com os
outros rapazes. Naquela época nem existia teste de DNA, e valia a palavra da
moça que dizia quem era o pai. Às vezes era, outras vezes não. A família e
Pedro resolveram não discutir, pularam essa etapa da vida, e numa manhã, assim
de repente, Pedro já não estava na aldeia, os pais não sabiam dele, a moça teve
que escolher outro marido. Durante a viagem chegou a pensar que era melhor aliviar-se
com maricas. Esses não teriam filhos nunca. Um dia casaria decentemente, mas
desistiu da idéia. Não suportaria beijar
um macho sem peitos, e seria capaz até de agredi-lo se um dia lhe pedisse para
se virar que ele também queria ter prazer. Isso jamais. Depois, com a
doidivanas longe dele, o mundo estava aberto para a vida normal que sempre
tivera, mas os pesadelos só estavam começando.
Bem que seu pai o instruíra
para ser um sujeito correto, honesto, família, mas também o avisara que o mundo
lá fora do ambiente de casa era muito diferente. Logo conferiu e sentiu que
era. Sua vida adulta estava começando e já se via encrencado sem que tivesse
feito algo errado.
Foi direto de Belgrado a
Paris pelo velho “Orient Express”, ainda a vapor cuja companhia os mantinha por
tradição. Ainda no trem conheceu dois sujeitos que também viajavam para lá.
Disseram que iam alistar-se na Legião Francesa. Pedro contou-lhes o seu caso e
disse-lhes que não sabia para onde ir, como conseguir um emprego. Conversaram
bastante porque sono era exatamente o que não tinham. Só quando o trem estava
chegando a Paris os dois lhe contaram que eram inocentes num caso em que se
envolveram com a policia e houvera um morto e vários feridos. Tinha sido na
tarde do dia do embarque e lutavam pela independência da Sérvia tentando minar
o governo de Tito, que unificara a Yugoslávia contra vontade das diferentes
etnias da região. Tito fizera o seu sonho, mas apagar o sonho dessas etnias.
Pedro achou que os dois tinham uma boa moral, eram gente decente e convidou-se
para entrar com eles na Legião Estrangeira. Por sorte, em vez de o trem ir para
a Gare du Nord, de onde saem e aonde chegam os trens de viagens internacionais,
o deles foi desviado para a Gare Montparnasse, que hoje já não existe. Lá, a
alfândega era mais suave e o controle de passageiros ineficiente, ainda mais
quando a estação se enchia de nevoeiro provocado pela fumaça dos trens a vapor
como aquele. Decidiram arriscar e não saltar do trem em movimento.
Entraram para a Legião Estrangeira.
Após alguns meses de treinamento, na Córsega, onde estava lotado, Pedro foi
despachado para o Tchad em 1969 quando o governo do Chade pediu ajuda militar à França para abafar uma
revolta tribal importante. O batalhão de Pedro, o 2. ° REP foi então mandado a
esse país onde participou, durante quatro meses, de tiroteios contra os
rebeldes, até que a revolta malograsse. Envolveu-se em tiroteios, e chegou a
uma conclusão. Na guerra de guerrilha não se pode avançar de peito descoberto
na base da heroicidade. O indivíduo deve prevenir-se se quiser preservar a
vida. Os mais afoitos, nascidos para serem heróis, avançam e são geralmente
abatidos pelos inimigos. Viu alguns amigos seus caírem assim. Um dia o sargento
disse-lhe para avançar. Pedro deu uma olhada no ambiente e viu um inimigo atrás
de uma árvore com a arma apontada para onde ele estava. Disse para o sargento
que primeiro tinham que abater o guerrilheiro para que ele avançasse. Não era
louco. O Sargento olhou, viu o guerrilheiro e abateu-o com uma granada. Depois lhe
disse: Agora pode ir, porra! E Pedro
respondeu-lhe:
- Meu
sargento, desculpe o que vou dizer, não sou suicida, e agora vou, caralho!
Essa sua
atitude e discernimento no calor da batalha, pensando, observando, antes de
agir, valeu-lhe a recomendação do sargento e deu inicio a uma carreira que
jamais imaginara seguir.
Ao fim de três
anos conseguiu sua identidade francesa: Louis François D'Avignon. Gostou do
nome, mas logo que saísse da Legião Francesa o trocaria para não lhe seguirem o
rastro. Foi o que aconteceu no final de 1972.
Um dos amigos que fizera na legião francesa, disse-lhe que os americanos
estavam precisando de gente especializada em inteligência e comunicações, que
era a especialidade de Pedro. A missão seria no Vietnam. Um dia no Porto de
Bastia, na Córsega, foi abordado por um indivíduo da CIA. Disse que se Pedro
estivesse disposto a cumprir a missão ganharia um bom salário, e descreveu uma
série de vantagens entre as quais se incluía a nacionalidade americana. Além do
mais, se aceitasse, ele trataria de tudo junto à Legião Francesa. Pedro aceitou
e pediu apenas uma semana de férias para resolver uns assuntos.
Soubera que
em Portugal a corrupção era bem popular. Desde a segunda guerra mundial na qual
o governo português se absteve de participar, que Lisboa se transformou num
centro de espionagem com a mesma importância de Viena. Assim, disposto a obter
um passaporte diferente, apanhou um “ferry boat” de Ajaccio, na Córsega, até
Marseille e daí a Paris e Lisboa. Em dois dias tinha um passaporte tão
verdadeiramente falsificado, que jamais descobririam ser falso. Foi nesse dia
de 1972 que se transformou em Pedro Nogueira da Silva. E foi com este nome que
entrou para o exército americano como membro da inteligência em comunicações e
adotou a cidadania americana.
Chegou ao
Vietnam, participou de algumas operações e das negociações para troca de prisioneiros
a partir de 1975, com tanto sucesso que lhe passaram a dar missões importantes,
altamente sigilosas. Uma delas foi um recado para Manuel Noriega, o general
panamenho, ditador, que andou metido com traficantes de drogas e fazia lavagem
de dinheiro. No entanto, como anteriormente tinha cooperado com os governos
americanos, mandaram que lhe se levasse o seguinte recado: Que fugisse para a
França, sem garantias de que não seria perseguido, mas que o governo americano
faria de tudo para que não o matassem e não o extraditassem para os EUA. Sua
família seria protegida. Realmente, apesar de aparentemente perseguido pelos
americanos, fugiu para a França. Foi capturado, julgado a sete anos de prisão e
finalmente foi extraditado para o Panamá. O governo americano não se intrometeu
neste processo. Foi uma negociação entre o governo do Panamá e o da França.
Outro
recado sigiloso que Pedro levou foi para o Bin Laden, logo após o 11 de
setembro. O recado era o seguinte: Bin
Laden tinha cooperado com a CIA na guerra do Afeganistão na época da ocupação
russa e em outras operações, não sendo assim um individuo qualquer na
organização. Porém, como se tinha passado abertamente para o lado contrário aos
interesses dos EUA, seria perseguido implacavelmente. A concessão americana
seria o tempo em função dos integrantes da Al-Qaeda que Osama entregasse aos
EUA por denuncia do local onde se encontrassem. Para cada um deles um período
de tempo de vida, devendo entregar pelo menos sete deles. Se isto fosse
cumprido teria sua vida garantida, morrendo para o mundo e vivendo incógnito e
em segurança nos EUA, devidamente vigiado. Faria uma operação estética com um
célebre cirurgião brasileiro. De fato, existem fotos de Osama Bin Laden morto
após ataque a sua casa em Abbotabbad no Paquistão, foram feitos exames de DNA,
mas não há provas reais de que tenha morrido. Seu corpo teria sido jogado ao
mar. Para Pedro Nogueira da Silva, Bin Laden está bem guardado e ainda trabalha
para a CIA.
Outra
operação foi no Iraque. Um recado para Sadam Hussein. Não havia forma de fugir
da CIA. Seria encontrado, preso, julgado culpado e morto pela forca com a cabeça
arrancada na corda. A CIA nunca lhe perdoou a venda de petróleo aos russos e
alemães...
Teve muitas
mulheres, o Pedro, mas não sabe se deixou alguns filhos pelo mundo. Era um
sujeito muito ocupado. Disse que um dia passaria pelo bar do chopp grátis para
contar umas histórias sobre as mulheres que teve, mas que prefere não dizer os
nomes: Não porque já não se lembre, mas por preservação da identidade.
Rui Rodrigues
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