PORTUGAL – O FUTURO DESSA SOCIEDADE AMORFA
Quem viveu a vida toda no mesmo lugar, na mesma cidade, atendendo as preocupações diárias, limitando-se às notícias da mesma fonte, normalmente a mesma rede de TV, assistindo os mesmos programas, e não freqüentou universidade, não sabe, não pode saber como se move o mundo, o que faz o mundo, como se comporta, os motivos que levam sociedades, famílias, indivíduos, a tomar certas atitudes que há primeira vista nos parecem sem muita ou nenhuma lógica, e, se pelo contrário tais atitudes nos parecem louváveis e que gostaríamos de adotar, não sabemos como agir porque as condições e modos de vida dessas sociedades são diferentes das nossas.Não há um só elemento de qualquer sociedade do mundo que saiba tudo. E os que mais sabem não se metem em política porque esta atenta contra a sociedade. Os que mais sabem não atentam contra ela. Mas é a política que pode mudar as condições de vida de uma sociedade, de um planeta. Ao olhar pelo mundo, minha referência, desta vez, é Portugal, apesar dos pesares.
Falar das sociedades portuguesas do passado e como se comportaram em termos de nação, quase não vale a pena, porque se estamos bem devemos continuar assim, e se estamos mal, o passado não importa. Importa o presente onde se deve mudar o que necessita ser mudado visando o futuro. Porém deve ser feita uma referência às famílias que sempre dominaram a política, o comércio e a indústria: Nunca fizeram alterações fundamentais na estrutura da nação porque sempre se sentiram satisfeitos. As mudanças sempre advieram das necessidades, e o povo raramente se move porque há uma cultura da conformação à espera do milagre, talvez uma herança católica pós-inquisição, mas com base nesta. O povo português tem medo dos “governos”, sussurra pelas ruas e em casa, embora após a ditadura de Salazar esteja mais afoito, porém indeciso e dividido. Explode suas raivas em conversas lançando impropérios contra os governos, mas fica apenas nisso. O povo português discute a política, mas não a faz, simplesmente vota nos candidatos que os partidos lhes apresentam. E são sempre os mesmos, anos a fio, o que lhes permite, aos candidatos, o acordo tácito do “agora eu, depois tu, aprova-me e deixa-me quieto que depois faço o mesmo”.
Com população que varia há cerca de 200 anos entre os 10 e os 11 milhões de pessoas, continua-se com acesso limitado às universidades. Somente uma pequena parte da juventude pode ter acesso ao ensino superior e quer tenha formação ou não, é obrigada a emigrar porque não se criam empregos suficientes, os salários são dos mais baixos da Europa. Fruto dessa inércia secular, não há um só motor de automóvel genuinamente português, não há praticamente nenhum bem que não seja importado, e se não o é, pagam-se divisas pelos direitos de fabricar. Máquinas fotográficas são reparadas em Espanha. Tudo fica difícil, tudo é difícil, o país está politicamente amarrado. Boa parte do capital depositado nos Bancos portugueses é referente contas de emigrantes que ganham no exterior o que seria impossível ganhar em sua pátria.
Portugal tem tido, sem exceção, governos traidores das ansiedades cidadãs.
Mas porque não se muda?
Principalmente por medo, advindo da ignorância. Saber ler e escrever não é sinônimo de ter conhecimento e discernimento, e alguns números indicam o nosso grau de educação, de tal ordem deficiente, que estar na Comunidade Européia somente serve para supri-la de mão de obra não qualificada e consumir os produtos do resto dos países membros. Além disso, há sempre alguém que tem um padrinho que a colocou num cargo público e não quer mudar para não o perder.
Sobre educação, e extraído do link abaixo indicado, estudos recentes demonstram que “35% da população detém o primeiro ciclo do ensino básico; 27,3% têm um nível de instrução superior ao ensino obrigatório em Portugal, o 3º ciclo do ensino básico ou 9º ano de escolaridade. Com uma instrução média (bacharelato) e superior temos 11.3% da população, sendo que destes 44% são do sexo masculino e 56% do feminino. Contas feitas, em Portugal no século XXI a percentagem de indivíduos que não tem qualquer escolaridade é maior do que a dos indivíduos com um nível médio (bacharelato) ou superior. E, dentro destes últimos, a maioria é do sexo feminino”.
Somos um país predominantemente ignorante, e isto não convém à cidadania. Convém aos que governam e é tão agradável – sabemos disso – pertencer ao governo, que partidos e políticos nele se mancomunam e se eternizam. Boa parte sai do governo bem mais rica do que quando nele entrou. Todos sabemos disto, mas não nos movemos, por conformados, orando nas igrejas, esperando D. Sebastião, a segunda vinda de Cristo, mais um milagre em Fátima, comovendo-nos com estátuas de virgens choronas. Não fazemos a dança indígena da chuva, mas rezamos para que chova.
Somos crentes do absurdo.
Mas onde está a amorfalidade de nossa sociedade? Parece lógico concluir que ainda acreditamos no “Senhor Doutor” candidato político, por falta de educação e por crença no absurdo, chegando a comemorar em grupos de amigos que “ele até me apertou a mão”, como prova de que vai cuidar dos interesses da comunidade; Os emigrantes não podem ter parte ativa na política a não ser votar nos mesmos partidos, nos mesmos políticos, porque a maior parte do ano estão fora das fronteiras; os protegidos do governo não querem mudar nada; Os ignorantes, conforme vimos são a maioria – acreditam em qualquer coisa que não saibam explicar e não sabem explicar absolutamente nada; com o advento da globalização as poucas empresas portuguesas preferem investir em países estrangeiros, deixando o país às traças, traçando o país, e isto é grave, porque já nem o povo interessa ao governo ou aos empresários portugueses;
Não temos ilusões de sermos uma Alemanha, um Rússia, EUA ou Canadá, mas se não conseguirmos educar o povo, mudar a mentalidade e a idiossincrasia nacional, não conseguiremos sequer ser uma Noruega, uma Islândia, uma Suíça, Finlândia, Suécia... E seria muito fácil. Um pouco demorado, mas fácil. Bastaria uma nova constituição votada item a item pela população e que não pudesse ser alterada sem votação popular do que se propõe ser mudado, como se faz em Democracias Participativas.
Não são os governos que fazem a nação: São as sociedades ainda que, e felizmente, amorfas, porque é da divergência que se faz a democracia.
Rui Rodrigues
Referências:
Sobre educação http://www.marktest.com/wap/a/n/id~45c.aspx
Sobre Democracia Participativa ; http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/
Sobre emigração : http://imigrantes.no.sapo.pt/page6Estatist.html
Ver as novas constituições da Suíça, da Islândia, e dos países nórdicos.
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