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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Quatro histórias para não voar.


Quatro histórias para não voar.


Confessemos que é muito bom sonhar dormindo ou acordados. Nos sonhos podemos realizar tudo o que queremos, mesmo sabendo – depois dos sonhos - que é impossível. Quando nosso senso da razoabilidade funciona, podemos estudar os sonhos mais a fundo e vir a torná-los realidade. Quando não funciona, temos os grandes desastres. Alguns ficaram na história e são muito interessantes. Talvez desse tipo de sonhos, ligados à aviação, ao poder de voar, tenham surgido as imagens de anjos e de anjas, as geringonças de Leonardo Da Vinci que projetou muitos sonhos e não realizou nenhum que funcionasse, o demoiselle de Santos Dumont que segundo dizem só dava pulos, e muitas histórias fantasiosas como as de Peter Pan e Sininho, Superman, o Homem Aranha...

Destas quatro que conto a seguir, só a primeira é uma lenda sem base real. As demais são verdadeiras.

  1. Ícaro e suas asas de cera – 1.300 Antes de Cristo

Conta-se que o rei de Minos aprisionava o Minotauro, um monstro com corpo de homem e cabeça de touro num labirinto para que ele se perdesse e não pudesse fugir.  Minos, da ilha de Creta, era filho nada mais nada menos que de Zeus, o deus máximo dos povos helênicos que havia transado com uma princesa fenícia, chamada Europa. O nome Europa deriva dessa princesa, e a cultura da ilha de Creta daquela época é chamada de minoica, também por associação com o nome de Minos.  

Teseu foi o herói lendário grego que matou o monstro Minotauro, mas somente pode fazê-lo com a ajuda de Dédalo que tinha um filho chamado Ícaro: Teseu deveria usar um novelo de lá que iria desenrolando na medida em que caminhasse pelo labirinto para saber onde era a entrada e voltar. Teseu entrou, usou o novelo de lá e matou o Minotauro. Quem não gostou nada disso foi o rei Minos que prendeu Dédalo e ícaro no labirinto. Para fugir, construíram asas com penas de pássaros coladas com cera. Os partiram para o vôo, não sem antes Dédalo aconselhar o filho a não voar muito perto do sol para que a cera não derretesse, nem perto do mar, onde a umidade poderia aumentar o peso das asas e provocar a queda.  Ícaro, entusiasmado com o vôo, voou muito alto e como previsto, a cera derreteu. Caiu no mar e morreu.

2.      João de Almeida Torto e suas asas de pano com dobradiças de ferro - 1540



O Brasil já fora descoberto há quarenta anos e começava a povoação com imigrantes dispostos a construir uma nova vida em terras menos competitivas e mais livres da Inquisição quando numa manhã o povo da cidade de Viseu, no Norte de Portugal, alvoroçou-se com a notícia apregoada por toda a cidade:
“Saibam todos os senhores habitantes desta cidade, que não terminará este mês sem se ver a maior das maravilhas, a qual vem a ser um homem desta cidade voar, com asas feitiças, da torre da Sé ao Campo de São Mateus, pelo que responde por sua pessoa e bens – João de Almeida Torto”.

João de Almeida Torto era enfermeiro do hospital de Santo Antônio, mestre das primeiras letras e costumava escrever cartas familiares e de amores, cobrando o dobro do preço por estas últimas. Era casado e sem filhos. Construiu as asas com panos fortes, duas de cada lado, a debaixo menor que a de cima, pelas quais passavam, também de cada lado, três argolas de ferro enchumaçadas com panos, por onde João Torto enfiaria os braços. Duas dobradiças de ferro faziam a junção das asas superiores, e as inferiores possuíam um cinto de cabedal que se cingia ao corpo de João. Os sapatos tinham três solas com espaço entre elas para amortecer o pouso, e usou uma máscara em forma de bico de pássaro, quer por composição estética ou superstição, e no dia 20 de junho de 1540, às 17:00 horas em ponto, lá estava João de Almeida Torto, testamento passado em nome da mulher, cercado de uma multidão, na Torre da Igreja com as suas asas que fizera subir por cordas. Lançou-se e algo deu errado: Uma das dobradiças emperrou e não pode bater um dos lados das asas. Além disso, o bico de passaro desceu-lhe ate os olhos de forma que ficou impedido de ver adiante. Assim mesmo conseguiu “voar” até um telhado próximo, mas não se segurou e caiu. Ficou desacordado, e aparentemente apenas com o braço esquerdo deslocado. O feito poderia ter um relativo sucesso, mas João de Almeida Torto não resistiu ao impacto e morreu. Um dos sapatos perdeu-se.

3.      A passarola do padre Bartolomeu de Gusmão – 1.700 depois de Cristo.


O padre Bartolomeu Lourenço nasceu na cidade brasileira de Santos em 1.685 e possivelmente já sabia das histórias de Ícaro e de João de Almeida Torto. Nunca fiando, não acreditou nas asas para uso de seres humanos visando ao vôo. Em homenagem a seu preceptor jesuíta Alexandre de Gusmão, adotou a partir de 1718 o apelido de Gusmão. Bartolomeu de Gusmão. Viajou muito entre Santos, Salvador e Lisboa e conseguiu planejar e construir uma tubulação de água para levar água de um brejo para o seminário de Belém, em Cachoeira, onde estudava.

Em 1707 recebeu a primeira patente de invenção outorgada a um brasileiro, pelo rei D. João V: “invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar”. É possível que se tratasse de um carneiro hidráulico.Viajando pela Europa, patenteou em 1713, na Holanda, uma “máquina para a drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar”, cuja patente somente veio a público em 2004 de acordo com pesquisa efetuada pelo escritor Rodrigo Moura Visoni.

Em 1709, e seguindo o principio de Arquimedes, mas do mais leve do que o ar e não do mais leve do que a água começa a trabalhar num protótipo de um balão. Isso mesmo. Um simples balão contendo ar aquecido, desses que soltam perigosamente nos dias dos santos populares e que incendeiam tudo o que é combustível quando caem e tombam. Porém, como pretendia construir um protótipo destinado a levar pessoas e desejava preservar o seu projeto que nunca saiu do papel, desenhou um projeto falso, tendo uma cesta em forma de barco e uma cobertura em forma de pássaro, evidentemente sem o balão. Este projeto em forma de barco correu toda a Europa e deu fama a Bartolomeu.

Fez algumas experiências com balões simples dos quais a maior parte pegou fogo ao descer e tombar. Não se viu em sua invenção nada importante ou útil, e pelo contrário, se temia pelo seu uso que poderia pegar fogo em matas e casas. Em 1723 voltou mais uma vez a Portugal onde foi acusado pela diabólica inquisição de simpatizar com cristãos-novos. Mas já se convertera ao judaísmo em 1722 por absoluta falta de fé. Muitos cristãos, ou quase todos naquela época não tinham fé. Tinham medo da diabólica inquisição. Fugiu para a Espanha no final de setembro de 1724 com seu irmão Frei João Álvares com intenções de chegar à Inglaterra. Na linda cidade amuralhada e medieval de Toledo, Bartolomeu adoeceu gravemente e aos 38 anos faleceu. Os restos mortais encontram-se desde 2004 na catedral Metropolitana de S. Paulo.
Há um grande ditado: “Ganha fama e deita-te na cama”. Bartolomeu ganhou fama, mas não se deitou na cama. Pelo contrário, viajou muito, mas não sabemos bem para quê. Indeciso, recebeu rito católico: Confessou-se, comeu a hóstia e recebeu a extrema-unção, recebendo assim permissão para que seu corpo fosse enterrado.

4.      Adelir de Carli voa com mil balões - 2008


O padre Adelir de Carli benzia tudo, até caminhões, e deve ter benzido os mil balões que o levaram aos céus – literalmente – no dia 20 de abril de 2008 em Paranaguá. Ele pretendia bater um recorde e ficar 20 horas no céu, para chamar a atenção e angariar fundos a sua obra de construção de um hotel com 100 quartos para os motoristas de caminhão que trafegam pela BR-277 no Paraná. Mas os ventos o empurraram para mais de 50 km da costa, mar adentro.  Prevenido, o padre conseguiu fazer contato via celular, pouco antes da queda. Por meses foi dado como desaparecido até que parte de seu corpo foi encontrada perto de uma plataforma de petróleo a 100 km de Macaé no Estado do Rio de Janeiro.

Evidentemente que o vôo foi efetuado com muita fé, pouco estudo estratégico, sem estudo de correntes aéreas, condições climáticas, mecânica dos balões. O fato de cair significa que os balões estouraram. Na medida em que se sobe a pressão diminui e os balões inflam até romperem, estourarem. Se tivesse pousado no oceano, tranqüilamente, os balões o sustentariam e poderia usar o celular.  

Após a morte do padre Adelir de Carli, vândalos saquearam a sede da Pastoral Rodoviária que ele dirigia, invadiram o refeitório e roubaram um freezer, pratos panelas e talheres, e roubaram materiais de construção destinados á Igreja Matriz.

Tinha 41 anos e recebeu postumamente o prêmio Darwin, internacional, para vencedores que tiveram mortes inusitadas, acidentais. O Darwin Award saúda a evolução do genoma humano. Pessoas que não perpetuarão os seus genes. Além do mais, era padre e pressupõe-se que não podia ter relações sexuais. Mas nem por isso todos os padres recebem esse prêmio. 
Mas nem sempre sonhar é perigoso. Então, continuemos a sonhar, que mata muito menos do que viagem de avião, de bicicleta, e do que fumar ou ser atropelado por motorista bêbado. A lei brasileira está de parabéns por poder multar e prender, agora que a lei foi alterada, todos os que dirigirem mostrando sinais de embriaguês, porque o tal do bafômetro prendia e multava quem bebia e não quem tomava drogas e dirigia.

Rui Rodrigues

A necessidade da política tal como a conhecemos


A necessidade da política tal como a conhecemos
 A democracia tal como a imaginamos e não como é
Toda a experiência, o conhecimento e os arquivos técnicos que possuímos sobre “política” advêm de tipos de governo em que ela sempre foi necessária, por mais pérfida e inumana que possa parecer. Esses governos se caracterizam, ainda nos dias de hoje, por uma enorme concentração das decisões de poder, no sigilo de estado, na preservação de interesses pessoais e empresariais de quem influi nesse poder e muitas vezes lhes dita as decisões. A esta influencia se chama normalmente de “loby”. Nas ditaduras são as “eminências pardas” que atuam na sombra e transmitem tais interesses. Fazem a “ponte” entre o poder e os interesses das classes dominantes, sejam elas religiosas ou do empresariado. Uma sociedade precisa de tudo o que é prestável e de tudo o que é imprestável, porque é da diversidade que se faz o consenso. Todos temos uma palavra a dizer e que deve ser ouvida e soluções podem aparecer de onde menos se espera.

Um bom e drástico exemplo da necessidade da política, no contexto dos governos ditatoriais e dos representativos em geral, é a declaração de guerra. Todos os ministérios bélicos que conhecemos se intitulam eufemisticamente de “Ministério da Defesa”, mas são destes ministérios que sempre se iniciam os ataques, o que não é estranho, porque a política é a arte de convencer, exigir, realizar, de tal forma que no máximo fique a dúvida sobre a verdade, a necessidade ou mérito e o povo controlado. A decisão da declaração de guerra em regimes de democracia participativa fica entregue ao presidente do governo, ao primeiro ministro, ou mesmo ao rei ou rainha, e deve ser aprovado pelo Congresso. Foi assim que vimos Bush declarar guerras e após os primeiros ataques se dirigir ao Congresso para informar, sendo aplaudido. Mas... E o povo que lhe deu os soldados, gastará o seu dinheiro na guerra, o que pensa? Ora isso não interessa na política. Por isso o sistema é chamado de representativo. Representa – ou deveria representar – o povo, embora o povo jamais seja consultado seja para o que for. É como se o sistema tivesse o condão de adivinhar o que o povo quer, mesmo num país, como os Estados Unidos, em que cerca de 50% são do partido republicano e outros 50% são do partido democrata, pensando todos da mesma forma, de tal modo, que se houvesse apenas um partido não faria a mínima diferença quanto à política interna e externa.

E numa democracia participativa, como seria a declaração de guerra?

Bem, o governo poderia tomar todas as providências, desde o plano estratégico até o posicionamento de tropas e equipamentos, dentro ainda das fronteiras da nação, tudo pronto para o ataque, mas teria que colocar essa declaração em votação de emergência. Convocados os cidadãos a votar, o governo daria as suas explicações sobre a necessidade e abriria os canais de votação: redes sociais, celulares, telefones fixos, LANS, postos de votação 24 horas, a exemplo de Bancos 24 horas, e o povo votaria no prazo de 12 horas, sem voto obrigatório. O resultado determinaria a mais lídima expressão democrata da sociedade. Ou a ação prosseguiria, ou as tropas voltariam aos quartéis.

O mesmo raciocínio se aplica à fixação de taxas de impostos – todos eles – que atualmente não têm o mínimo sentido: Pagam-se impostos sem sabermos de antemão como se pretende que sejam usados. Depois de recebidos pelo estado é que vão ver onde gastá-lo. E tanto dinheiro, e a fraqueza humana quando se age isoladamente, tão grande, que é mais do que natural que cada órgão do estado tente puxar a brasa para a sua sardinha... Cada Estado, cada Órgão tenta arrebanhar o maior quinhão possível desses impostos. Para o povo, todos os anos carecem de primavera, outono e verão. Vive-se num inverno financeiro, porque não há alívio nos impostos. Isso cansa, isso esmorece, isso cria crises financeiras incríveis, o povo se estressa.

E como seria numa democracia participativa?

Os orçamentos de estado não são aprovados pela “oposição” nem por um senado. As contas da União são aprovadas por voto popular, e é pela apresentação desse pressuposto de gastos que se estabelece a taxa dos impostos, um imposto único. Para cada orçamento anual se emite um valor de taxa, de forma tal que haverá anos de aperto e anos de alívio. Nos anos de alívio a população poderá economizar ou gastar. Nos anos de aperto, se terá o que temos hoje: Aperto econômico. A economia não pode ser algo fixo, imutável, apenas para os cidadãos. Precisa-se de uma economia menos volátil, mais firme, mais humana, sujeita às necessidades de quem a faz e alimenta: os cidadãos. Se uma constituição como a do Brasil estabelece que os juros não passarão de 12 por cento ao ano, não pode haver taxas de juros bancários que ultrapassem esse valor. Isso seria, como é, usura e anticonstitucional. Governos que se dizem representativos fecham os olhos para o que interessa às “eminências pardas”, lobistas, pagadores de propaganda para eleições. É neste ambiente que se faz “política” alijando o povo de dar a sua opinião.

Numa democracia participativa a política se faz com a conotação de emitir “opinião” para que o povo se oriente e possa votar de forma consciente, porém sem o poder de fazer a política. Político não manda nada, não vota nada, a não ser como cidadão comum, da mesma forma que todos os outros, interessados, também votarão. Neste tipo de democracia, político é apenas mais um a votar. Quando uma lei for proposta para votação, irão aparecer os políticos que a apoiarão dando os seus motivos, e os que irão contra, expondo também os seus. Os cidadãos não ficarão pendentes de um senado de cerca de 300 indivíduos que em troca de um milhão de moedas se poderão comprar e até vender a mãe em mercado negro.

É algo para refletir. Afinal de onde saem os políticos em que votamos, senão do seio da sociedade, do povo? O que tem eles que nós não temos para decidir o que é bom para o povo, para o cidadão, para a nação?

Os políticos não têm nada demais, e agindo em alcatéia, em cáfila, em récua, em bando, podem nos fazer um estrago tão grande, que nossas sociedades jamais vêm um futuro realmente diferente. Parece que a vida nos é sempre difícil, quando na verdade poderia ser muito melhor, com um progresso fantástico, porque não haveria desperdícios. E mal ou bem, seria a vontade popular e não a vontade de meia dúzia. Olhemos a crise de 2008... Por falta de dinheiro, os Bancos pediram ajuda aos governos. Estes lhes emprestaram o dinheiro. A pergunta é: Porque razões não emprestaram o dinheiro aos devedores? A resposta é simples. Não emprestaram porque a causa da inadimplência popular residia no decréscimo da economia e não havia previsão de manutenção ou aumento da quantidade de empregos. Devedores poderiam perder os seus empregos e ficarem ainda mais inadimplentes. Mas quem foi o responsável pelo decréscimo da economia? Aparentemente ninguém, mas se nos aprofundarmos na pesquisa sobre corrupção, sobre a política financeira, sobre a aplicação dos impostos, sobre como se pagam as dívidas “morais” de campanha dos que se elegem, da divisão de verbas por setor da economia e Órgãos públicos, sobre empréstimos e juros baixos cobrados por instituições do governo a empresas, e em todos os setores da economia e da administração pública incluindo ministérios, encontraremos muitos culpados, certamente.

Constroem-se estradas que passam propositalmente por construções, terras ou instalações privilegiadas, deixando áreas populosas sem esse beneficio, e se aplicam recursos públicos em festas e propaganda política para dizer que tudo vai bem, apesar de populações inteiras sem redes de água, esgoto, energia elétrica. Estamos com apagões constantes, no Brasil, que se devem a uma pressão das empresas de energia elétrica para aumentar os preços e provocar no estado a necessidade de lhes construirmos mais usinas elétricas a preço de banana com os dinheiros públicos, quando deveriam ser elas, que levam o dinheiro dos lucros, a melhorar o seu sistema de manutenção, e a construir novas usinas.

A política atua do lado errado, contra os cidadãos, porque os políticos têm o poder de decidir em nosso nome, sem que se vejam obrigados a nos perguntar seja o que for. Presidente nem manda: As forças políticas lhe determinam o que fazer, como fazer, quando fazer. Porque razão fazer não lhes importa, desde que o povo fique quieto.

Vamos mudar tudo isto?

Basta que se exija uma nova constituição nos moldes da que se propõe em http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/index.php?pagina=1290573303

Rui Rodrigues

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

A natureza da bipolaridade e as sociedades humanas



A natureza da bipolaridade e as sociedades humanas

Ainda a propósito da morte do amigo Geraldo Monteiro[1]


Temos a salutar “mania” de classificarmos tudo o que vemos. Sem essa classificação ficaria impossível definirmos o universo em que vivemos e tudo o que contém. Da mesma forma, costumamos classificar, de forma automática, o que é “bom” e o que não o é, pelo menos para nós mesmos, o que é agradável ou não. Dizem que masoquistas costumam gostar do sofrimento, sendo este bom para eles, detestável para os demais. Cada planta tem seu tipo de folha, embora todas elas cumpram a mesma função, e a alta porcentagem da “raça” amarela no meio de tantas outras deste planeta, não faça dela uma espécie diferente de homo sapiens sapiens. Todas as folhas são normais, todas as raças são normais, e bipolaridade é uma classificação do comportamento de uma porcentagem dos seres humanos avaliada em cerca de dez por cento pela OMS - Organização Mundial da Saúde. Mas no fundo, todas as folhas têm seu grau de semelhança em relação às demais, todas as raças são semelhantes às demais, e o que se classifica como “doença” da bipolaridade, antes conhecida como doença maníaco-depressiva, tem seu grau de gravidade. Parece provado que pode haver uma relação de origem genética, e que na maioria dos casos se manifesta por volta dos trinta anos de idade.
Parece que podemos concluir que até o  aparecimento dessa doença devidamente identificada e catalogada, poderia ser confundida com qualquer outra. Deve haver um ou mais “gatilhos” que a deflagrem. De forma latente pela herança genética, ou por causas relacionadas com a vivência do indivíduo, algo faz deflagrar as características que permitem a classificação de um indivíduo como bipolar.  Bem a propósito, a partir de 1992 adotou-se a CID, e a mais recente é a CID-10 [2], que permite classificar através de códigos com até seis dígitos, todos os tipos de doenças de acordo com a sua morbidez, causas, circunstâncias sociais, sistemas de reembolso, etc. Assim, a comunidade internacional pode fazer seus estudos e estatísticas, de forma integrada. Para o transtorno bipolar, o código definido é o F31 que vai de F31.0 a F31.9, de acordo com a seguinte etimologia[3]:

CID 10 - F31   
Transtorno afetivo bipolar
CID 10 - F31.0   
CID 10 - F31.1   
CID 10 - F31.2   
CID 10 - F31.3   
CID 10 - F31.4   
CID 10 - F31.5   
CID 10 - F31.6   
CID 10 - F31.7   
CID 10 - F31.8   
CID 10 - F31.9   

 
O transtorno bipolar caracteriza-se pela variação extrema de humor exaltado e depressão, em vários graus de gravidade que variam de pessoa para pessoa, e de estado para estado de cada indivíduo. Atribui-se o deflagrar desses estados ao estresse, mas se procuramos um “gatilho” para que a doença apareça, temos que buscá-lo nas causas que originam o estresse.

Em outras palavras, o indivíduo é absolutamente saudável enquanto não se vê submetido a um forte estresse, e parece que o estresse não é uma doença, mas um estado mental de atenção relacionado com a sensibilidade humana e animal em geral. O estresse é benigno, porque nos coloca num estado de atenção máxima perante o perigo: ou lutamos ou fugimos. Nosso corpo adquire um comportamento específico nessas oportunidades de perigo, preparando o corpo exatamente para a luta ou para a fuga. O tratamento mais eficaz da “doença” parece ser a eliminação das causas do estresse, normalmente com origem no lado social da humanidade. Talvez o ser humano bipolar seja mais sensível do que os demais para as “injustiças” sociais, mas destas, os governos cuidam pouco. Uma boa fonte de pesquisas seria o estudo do aumento ou diminuição – provavelmente o aumento – destes casos em épocas de crises econômicas e sociais.  Governos fazem propaganda para diminuição do consumo de cigarros para melhorar a saúde pública. Sociedades deveriam fazer propaganda para que os governos melhorem as condições do social também para diminuir as doenças, mas sob este aspecto, cidadãos e governos parecem estar muito longe um do outro, em patamares diferentes, estados diferentes de atenção. A comunidade internacional em geral cuida da doença, mas não tanto das causas da bipolaridade.

Numa síntese muito particular do que se entende por “bipolaridade”, parece ser um estado psicológico decorrente de situações de estresse que ultrapassam a capacidade do indivíduo para as superar, alternando fases de euforia e depressão de acordo com a sua “esperança” de atenuação das causas do estresse, ou do temor de seu recrudescimento, conforme “avaliado” pelo seu subconsciente.

Abraham Lincoln, Agatha Christie, Britney Spears, Cary Grant, Buzz Aldrin - o astronauta, Edgar Allan Poe, Ernest Hemingway, Sigmund Freud, Elizabeth Taylor, Vincent van Gogh , Charles Chaplin , Winston Churchill, dentre muitos outros, eram portadores da doença.

Aos especialistas, e aos investigadores que procuram solução fundamentada para suicídios, a palavra.

Rui Rodrigues


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A morte de Geraldo Monteiro

A morte de Geraldo Monteiro


Nossa amiga Renata Cristiane, brilhante repórter, relatou assim o falecimento de Geraldo Monteiro [1]:

Depois de desaparecer misteriosamente nessa terça-feira em função de um surto psicológico, o professor e biólogo Geraldo Monteiro, foi encontrado de forma trágica. 

Cometeu suicídio por enforcamento na noite-madrugada (19) em Cabo Frio, no Peró num local conhecido por peregrinação evangélica, Monte Moriá.

A Polícia Militar e os parentes localizaram o corpo do professor que estava preso por corda a uma árvore frondosa na trilha do Monte Moriá. 


Mais cedo, familiares estavam apreensivos em busca do biólogo, que sofria de depressão profunda e havia desaparecido sem deixar notícias. Os amigos e parentes chegaram a pedir ajuda à imprensa e à polícia para tentar localiza-lo. E no início da madrugada, a busca chegou ao fim de forma surpreendente e inesperada.A família encontrou uma carta de despedida de Geraldo.

O velório acontece nessa sexta-feira (21), até às 14h. Sepultamento será às 14:30h

*É com muito pesar que trazemos essa informação e lamentamos profundamente a perda de um dos maiores defensores e protetor da natureza e meio-ambiente de Cabo Frio e toda Região dos Lagos. ".

Reunido um pequeno grupo de amigos na noite de Natal, no Peró, ergueu-se um brinde ao amigo Geraldo. Ele deveria estar presente também, porque assim estava previamente combinado, mas sua morte inusitada, imprevista e chocante, quase impede a reunião do grupo. Como não podia deixar de ser, não se falou noutra coisa na data em que se comemorava o nascimento de Jesus Cristo, que passados curtos 33 anos, seria crucificado apesar de inocente. Geraldo Monteiro também era um inocente que lutava contra a falsa inocência dos que defendem o Ambiente com palavras e o atracam com ações. Mais do que isso, Geraldo não enfrentava o mundo hostil à natureza, de forma culposa ou premeditada, de forma política. Geraldo Monteiro enfrentava frontalmente os problemas, e assim ganhou alguns inimigos e "não simpatizantes".

Geraldo Monteiro tinha inimigos porque são muitos e escusos os interesses de alguns que palmilham esse mundo e que não têm a sensibilidade de Geraldo Monteiro. Esses alguns são muitos e ocupam terras, retiram areias de lugares inadequados ao retiro, dão alvarás que deveriam ser negados, cobram mais valias sem providenciarem infra-estruturas que permitam a habitação digna, enfim, há muitos modos e modelos de burlar a lei de forma “legal” mas que afronta a cidadania, a preservação da natureza, o bom senso, e Geraldo Monteiro não gostava disso. Mas Geraldo não era político e enfrentava os problemas de peito aberto, frontalmente, e a cada dia se sentia mais impotente, porque a “máquina” da irresponsabilidade se move lentamente, movida a notas de dinheiro, é amoral, tremendamente forte, e todos podem errar na administração pública, restando ao cidadão a morosa e muitas vezes ineficiente lei.  Lei que está sob administração do próprio estado, e que por isso mesmo dificilmente moverá alguma tese eficiente contra o próprio estado ou módulos eficientes que lhes pagam os salários, o bem estar, o conforto.
Geraldo Monteiro se viu sem saída. Em sua carta, deveriam os familiares e amigos abster-se de procurá-lo numa saída de volta imprevisível. Geraldo não sabia se voltaria. Havia ainda alguma esperança quando foi dado como desaparecido.

Não sabia se voltaria... Estava em dúvida! Não tinha certezas. Tudo era possível. Ninguém tinha certeza de nada. Será que já temos certeza, daquelas verdades absolutas, das quais não restam as mínimas dúvidas do que aconteceu?

Imaginemos um escritor de contos policiais ao estilo de Agatha Christie e Poirot, C. C. Van Dine, Ellery Queen, Sir Arthur Conan Doyle e Sherlock Holmes, Maurice Leblanc e Arséne Lupin... E se poderia imaginar que alguém soube do teor da carta prévia de aviso, viu nela uma grande oportunidade, procurou Geraldo Monteiro, encontrou-o antes de todos, e o enforcou...  Poderíamos ter mais uma história do crime perfeito, assim como tantos crimes que ainda aguardam por solução. Agiram muito bem as autoridades públicas ao não permitir a cremação do corpo, o que poderia eliminar quaisquer evidências, não de um suicídio, mas de um crime urgentemente premeditado aproveitando a oportunidade única de um desaparecimento com carta de aviso prévio.

Claro que qualquer hipótese de não suicídio, pode ser considerada como uma elucubração mental, proveniente do reino da fantasia, mas nenhum dos autores citados de histórias policiais – a aprendemos muito com os escritores de ficção policial – desprezaria uma investigação mais a fundo do ocorrido.

Num mundo político que até parece ficção, cheio de injustiças e maracutaias, mensalões e cachoeiradas, de desvios de verbas, de presos injustamente e de liberação injusta de incriminados que nem são chamados a depor, de invasões de terras índias, de abusos na compra de merenda escolar, e tantas outras notícias que se escutam em noticiários da mídia, ou se lêem em jornais, populações e rodas de amigos sempre esperam que um dia a justiça aja de modo completo seguindo todos os trâmites legais até uma conclusão final, estudo apurado da cena do crime e as evidências esmiuçadas até a exaustão para que não restem dúvidas sobre se foi suicídio ou crime. Mesmo que os pretensos assassinos não sejam encontrados, mesmo que haja fortes indícios de que foi suicídio.

Afinal, há sempre a arma e o gatilho. Seriam infundados os temores de Geraldo Monteiro, ou o gatilho da bipolaridade foi deflagrado com razão de causa? A lei precisa aproximar-se mais das teorias de Freud, porque nada é tão simples como a complicada mente humana parece fazer supor em sua simplicidade de mostrar apenas os resultados sem evidenciar as causas.

O que fez Geraldo escrever que não havia saída?

Rui Rodrigues.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Uma nova frente da economia – A economia do século XXI ?



Uma nova frente da economia – A economia do século XXI ?


Se deixarmos a economia entregue a governos, em épocas de apogeu gastam como se não houvesse amanhã e constroem equipamentos de guerra para garantirem essa economia. Em épocas de recessão, usam os equipamentos bélicos que construíram e declaram guerras porque lhes parece a única saída para se livrarem dos problemas.

O que é economia, comércio, dinheiro, impostos, e todos esses termos correlacionados, e como funcionam em conjunto?

A resposta verdadeira não é fácil, porque muitos já o tentaram fazer, criaram novos conceitos e a economia ainda está em plena evolução. O controle destas economias gerou filosofias políticas que por sua vez geraram os tipos de governo a que sempre estivemos submetidos. Cada um terá alguma definição particular para economia. Uma resposta completa, abrangente, teria que considerar a ambição humana, o desperdício de objetivos construtivos, a ignorância sobre o  comportamento, a vaidade humana. Continuamos fazendo “pesquisas de mercado”, e lançamos mão dos “fazedores de opinião” para empurrar um bonequinho idiota que qualquer um gostaria de ter. No entanto é possível raciocinar livremente, consultar a história da humanidade e constatar que não é tão difícil encontrar saídas para crises econômicas sem passar por conflitos bélicos nem recessões. Pelo contrário, é o desenvolvimento associado à economia e ao empresariado que produz o  conforto econômico, o bem estar das populações. Hoje a economia depende do que o empresariado sabe fazer e do mercado. Países comunistas que tentaram gerir a economia já deram com os burros n’água e dos quase sessenta não mais do que um é ainda e assumidamente comunista: A Coréia do Norte.

Mas há dois problemas principais: O mercado não sabe o que pedir aos empresários para consumir, pois só conhece o que está disponível, e é o empresariado atual que compõe o mercado com base no que tem “disponível” para comercializar. Só sabe fabricar e vender o que conhece, e as industrias não dificilmente se adaptam a uma modificação que lhes permita continuar num mercado quando este se altera. Isto leva empresas à falência e à saturação do mercado. A Ford, a Boeing, e poucas outras, são exceções. Algo necessita ser feito para que a humanidade não sofra crise após crise que a torna instável por insegurança do amanhã. A economia deve usufruir o presente, mas sempre voltada para o futuro. Talvez se entenda melhor onde queremos chegar se pensarmos numa industria automobilística que passe centenas de anos usando sempre o mesmo combustível, os mesmos tipos de motores, trocando apenas o modelo e um ou outro acessório. Esta indústria morre e dará lugar a outra pioneira em “algo diferente”. Empresários que não evoluam, vão à falência. A prova é que assistimos a falências todos os dias em todos os lugares do mundo. Os empregados, que não sabem fazer outra coisa, têm que passar por reaprendizado numa vida ativa que é curta e na qual não se pode perder tempo. Somos muito atrasados em questões de economia e não costumamos entender a economia como uma faceta humana, mas como algo intangível e amoral à qual nos temos que moldar. Apreciemos do passado o que segue, para chegarmos ao que poderá ser o futuro da economia:


  1. O primeiro ato comercial
Há várias hipóteses, mas é quase seguro que se deu quando os caçadores voltaram da caça, há cerca de 4,5 milhões de anos atrás. As melhores partes da caça foram dadas ao chefe da tribo e ao pajé em troca de proteção física e ordens de comando para o primeiro, e de recomendação para bênçãos celestiais pelo segundo. O preço era estabelecido de comum acordo: Se fosse justo, o chefe não batia, não mordia, nem mandava matar ninguém do grupo de caça, e o pajé fazia boas preces. Alguns membros da tribo comiam bem menos ou nem comiam para satisfazer as necessidades do chefe da tribo e de seu grupo de guerreiros “preferidos”. Outra hipótese teria como base o valor a pagar a uma família pela “doação” da filha a um pretendente para a encher de filhos e ganhar prestígio na tribo. A família dela pagaria o dote de modo a garantir a sobrevivência genética e a influência na tribo. Mulher boa era mulher parideira, de ancas largas, carnuda, de peitos enormes, musculosa e disposta para “todo o serviço”. Macho bom era o sujeito forte, de boa queixada para morder com força, punho bravo para bater nos outros e caçar, vontade sexual para sempre fazer filhos todos os dias se fosse possível.

  1. Antes da invenção do dinheiro
Alguns milhares de anos atrás construíram-se mercados onde se praticava o escambo. Quando se começou a dar valor ao ouro, a venda era preferencialmente efetuada com quem o tivesse. O escambo era um problema enorme. Podemos imaginar como na negociação se depreciava o valor da mercadoria, porque quem a queria comprar, e como era valorizada por quem a tinha para vender. Na Turquia ainda hoje se negocia assim, até mesmo em Istambul, onde para se comprar um par de belos tapetes turcos feitos em Kayseri se podem gastar umas quatro horas e sair da loja com o estômago cheio de chá. Podemos imaginar brigas entre mercadores, entre mercadores e clientes, entre clientes entre si se a mercadoria era escassa. 
E havia os impostos, mas vamos deixar de lado os impostos, porque em Mohenjo Daro, uma cidade estado com mais de 10.000 habitantes, com esgoto e água canalizados, há cerca de quatro mil anos, já se fabricavam carimbos para identificar o proprietário das  mercadorias e saber se essa mercadoria estava registrada e tinha seus impostos respectivos recolhidos ao Estado. Por essa época não eram necessários os “fazedores” de opinião: O que se vendia eram tecidos, jóias, cerâmicas, armas, gado, hortaliças e móveis. Quando Dario inventou o dinheiro já se conhecia o Código de Hamurabi, que além de outras disposições, estabelecia a conduta em relações comerciais e determinava os impostos. Era uma coletânea de leis escritas em alfabeto cuneiforme que as crianças nas escolas com todo o prazer copiavam para gravar na mente a sua conduta. Naquele tempo já havia escolas, já se pensava a sério na educação, na moral e na ética.

  1. A invenção do dinheiro.
O governo brasileiro recebe por ano cerca de 4 trilhões de reais. Imaginemos que não houvesse dinheiro ainda, e tudo fosse arrecadado pelo Estado em mercadorias, como no tempo do escambo e dos carimbos de Moenjo Daro. Os armazéns para guardar estas mercadorias teriam que ser descomunais e no caso de gado, mercadoria perecível, o Estado ainda teria que alimentá-lo para não morrer, adicionando custos e reduzindo a margem de lucro. Pior ainda: Teria que vender essas mercadorias, mas para trocá-las por qual mercadoria? Ouro, pérolas, pedras preciosas, jóias, certamente, que nem sempre estavam disponíveis. Foi isso que preocupou Ciro, rei dos Persas, que inventou um padrão base que serviria como unidade básica: Um bom cavalo tantos “dinares”, uma vaca, um boi, hortaliças. Para comprar coisas grandes, moeda cunhada com alto valor. Para comprar coisas pequenas, moeda de baixo valor. Nessa época nem se sonhava com socialismo nem com comunismo. Aliás, na ex-URSS, o comunismo tinha característica de capitalismo troglodita em que o único empresário era o Estado. Alimentos e bens eram comprados com cupons. O Estado soviético estabelecia os valores de cada mercadoria. Evidentemente que não havia “impostos” pelo simples fato que já estavam embutidos, juntamente com o lucro do Estado soviético, no preço das mercadorias. Eram comunistas muitos espertos, Stalin, e os que os sucederam. Stalin não usava cupons, evidentemente e mataria – ou matou – quem se atrevesse a contestar a sua política e sua forma de ver o comunismo. A turba malta da esquerda idealista apontava a URSS como modelo de um estado socialista exemplar, sem saber que para trocas comerciais com países fora da cortina de ferro e chumbo era necessário dinheiro. Dinheiro vivo, porque o rublo era coisa interna da URSS e ninguém acreditava nessa moeda, sempre supervalorizada pelo governo soviético. Aliando-se, por exemplo, a Angola, trocava material bélico por diamantes e ouro que engrossavam os que já extraía em terras do Volga. Com esses diamantes e esse ouro, a URSS saldava seus compromisso internacionais. Até que o ouro e os diamantes já não eram suficientes para  manter o estado russo e suas manias ditatoriais de falso socialismo como o do partido dos trabalhadores do Brasil, o PT. O primeiro passo foi parar sua ajuda a Cuba, ou melhor, a Fidel Castro. Depois veio a Perestroika, a queda do muro de Berlim, e a falência do regime comunista. Devotos cristãos nas igrejas choravam de júbilo porque Jesus Cristo finalmente tinha convertido a URSS. Os russos pensavam de forma diferente: O que lhes faltou foi mesmo o dinheiro. Sua economia que nunca funcionou – era uma morte anunciada – parou de funcionar.  

  1. O Topogigio e outros objetos de consumo

Apareceu na televisão, na década de 60. Era um boneco baseado na anatomia de um rato ao qual lhe foi emprestada uma voz “diferente” com sotaque italiano – os filmes italianos estavam na moda – e que levou o mundo inteiro às lojas para comprá-lo. Era apresentado com trejeitos dengosos, e tinha sacadas inteligentes. Premeditadamente não tinha voz de cantor, o que o tornava “comum”. Provocou uma febre de consumo que levava a audiência ao máximo com seu programa semanal. Passada a febre, não se fala mais nesse boneco, boa parte foi parar no lixo ou doado para instituições beneficentes depois de usados, e deve haver alguns guardados como reminiscências de infância. Quem os guarda o faz por associá-lo a outros eventos agradáveis dos “velhos tempos”.

Mercado faz-se.

Até hoje se vendem “santinhos”, cruzes e imagens dos três pastores em Fátima, e todo o bom muçulmano tem que ir a Meca pelo menos uma vez na vida. Meca vive cheia. Os mercados se constroem. Se alguém muito importante disser um dia que o ouro não vale nada, a maioria dos detentores de ouro o venderão sem se verem obrigados a isso.  É enorme a credulidade humana bem assim a sua vaidade e a vontade de se socializar, pertencer a um grupo de “elite” moral, religiosa, financeira, esportiva.  Constantes roubos no Brasil já mudaram a moda por aqui: Não se usa ouro nem jóias preciosas nas ruas e mesmo em festas particulares é sempre conveniente alugar jóias ou usar excelentes falsificações. Como nem os apartamentos em condomínio estão a salvo, guardam-se as jóias em caixas de segurança em bancos. Correram notícias, carentes de credibilidade, que o povo francês empareda barras de ouro há mais de trinta anos. Na forma como decorre a economia européia não seria de estranhar se tiverem que vir a esburacar as paredes. Mega empresas e Bancos guardam e imobilizam as suas disponibilidades financeiras aguardando oportunidade de comprar empresas menos eficientes.

A Ferrari e outras marcas de automóveis cujo velocímetro ultrapassa os trezentos quilômetros por hora, continuam a vender bem, mesmo sabendo-se que as estradas não permitem mais do que 150 km por hora. A partir daí é multa e risco para quem usa essas estradas e nem corre a essa velocidade, embora muitos veículos tenham velocímetros que ultrapassam os 220. Na verdade, o que importa ao Estado a segurança particular cidadã, se valor mais alto, o de mercado, se impõe?

  1. Uma economia diferente possível
Não é necessário mudar nada de substancial. Basta criar um novo vetor que seja bastante construtivo, de interesse geral, tornar um sonho em realidade, e canalizar recursos para essa atividade: O desenvolvimento tecnológico visando viagens espaciais, ocupação de novos planetas. O mundo inteiro nessa tarefa. Dar um novo rumo às sociedades humanas, diminuir os conflitos internacionais e internos. Uma humanidade voltada para o espaço e não para o interior de cidades entupidas de veículos particulares que já não apresentam as vantagens de quando as estradas estavam vazias. As possibilidades são enormes. Pode transformar-se numa “febre” mundial, que nos anteciparia ao desfalecer de nossa estrela única: O Sol.

Todo um planeta trabalhando na construção de novos mundos. Já deu certo uma vez.

Rui Rodrigues

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Feliz Natal - Adeus Primavera.



Feliz Natal - Adeus Primavera.

Se o (a) leitor não gostar de ler sobre coisas tristes,
Melhor não ler este texto.

Tínhamos combinado passar o Natal juntos, um pequeno e restrito grupo de amigos que não chegávamos a meia dúzia. Seríamos exatamente cinco e meio, porque o mais jovem de nós é uma menina muito simpática, que ainda vai completar três anos. Dia 19 de dezembro, veio a notícia: Um amigo, que ia passar a noite de Natal conosco, havia se suicidado. Justamente no final da Primavera. Dificilmente deixaremos de falar sobre o assunto neste natal. Será mais triste. Mas não me lembro de Natal alegre em toda a minha vida! Nem um!

Quando era garoto, até meus quatro anos de idade, não tinha muita noção das coisas. O Natal era uma festa como outra qualquer, muito parecida com os meus aniversários em que também ganhava presentes. A parte triste da festa é que, embora ouvisse essa referência muito raramente – parecia que as pessoas evitavam falar nisso – comemorava-se o nascimento de uma criança, tal como eu, morta meses mais tarde, pela altura da Páscoa. Naquela época ainda não tinha percebido que se comemorava toda uma vida compactada em apenas um ano. Páscoa era outra festa, mas esta, referia-se à morte dessa tal criança chamada Jesus. Era uma história muito triste, mas ao longo de minha vida assistiria a histórias tanto, ou até muito mais tristes, como a história de Anne Frank, dos perseguidos pela Inquisição, dos torturados pelas ditaduras ao longo dos séculos. Para quem não sabe, colocavam os perseguidos pela religião dentro de uma armadura de ferro com pregos pela parte interior. Quando fechavam a porta da armadura – era dividida em duas partes com dobradiças - os espinhos já penetravam na carne. Depois, enquanto os perseguidos não confessassem o que os inquisidores queriam, colocavam um braseiro por debaixo da armadura, que ia assando o perseguido ou a perseguida. Se a qualquer momento confessasse, mandavam assim mesmo, todos sujos porque não os levavam para fazer as necessidades, para fogueiras que acendiam em praças públicas, para intimidar os outros cidadãos. Estes aderiam à religião por medo, e quando a Inquisição acabou, os sacerdotes soltaram os demônios do inferno deles e os largaram sobre os cidadãos para que se amedrontassem. Nunca vi nenhum demônio em toda a minha vida, e nem vou ver. Acredito em Deus, mas num Deus inteligente que não cria anjos ruins. Se os tivesse criado, os destruiria. Colocar demônios poderosos para atarantar a vida das pessoas seria sinal de um péssimo distúrbio mental de Deus, e uma demonstração de que seria sádico, porque os fracos seres humanos não teriam como evitar o poder dos demônios. Deus é muito mais inteligente do que os sacerdotes herdeiros daqueles que mandavam para a fogueira.


Nosso amigo suicidou-se. Para ele o mundo deixou de existir e certamente já não pensa no que comprar e levar para a ceia de Natal. Aliás, não pensará em nada. Estará agora no Xeol (Xéo, céu), mas não sabemos como é o Xeol, nem onde fica, nem como será. Quem anda por lá nunca veio a público dizer-nos como é para que possamos entender, e Deus, esse nunca nos expôs sobre o assunto. Andaram dizendo que se expressava através de “inspiração divina”, e que o chefe das igrejas era infalível, mas foram esses mesmos que mandaram gente para a fogueira e disseram que tudo girava em torno da Terra – e não do Sol – e inspiraram lutas imensas e terríveis a que deram o nome de Cruzadas para que todos pensassem da mesma forma sobre Deus. E sempre arrecadando verbas de óbolos, esmolas, doações, contribuições, e disseram que os reis eram descendentes dos deuses... Ora vejam, quanta mentira infalível... Até me lembra quando chegava o Natal e diziam que era o Pai Natal, o Papai Noel que me mandava presentes. E quando eu não queria tomar sopa no inverno, diziam que iam chamar o "bicho papão" para me comer ou para comer a minha sopa e que eu sentiria fome... Quanta mentira banha a credulidade popular, porque não conseguem ver Deus como o amigo – ou amiga, porque não tem sexo por não ter sido gerada – e que nem corpo deve ter. Creio que nenhum povo entendeu melhor o que é Deus, do que o povo judeu: Não lhe atribuiu corpo ou imagem. Mas depois vieram aqueles que não entendiam de Deus e fundaram uma igreja em que Deus copulava com humanas – vendo Deus como um ser masculino – mas que logo O esqueceram, adotando como Deus um ser humano que foi morto e morto ficou para sempre porque nunca, nunca mais, apareceu. Porque se teria escondido, como que negando a sua vinda, ou tornando-a sem sentido? Só o povo daquela época teria merecido vê-lo? Deus é para todos. Deveria ter permanecido, e não seria numa água benta que residiria seu espírito, nem numa pequena fatia de massa feita folha de papel que sacerdotes, alguns que até praticaram pedofilia, benzeram com um passe de mágica de mãos passando por cima dessas folhas de massa em gesto de cruz. Mágicos também fazem gestos e fazem sumir as coisas que logo voltam a aparecer. Alguns desses sacerdotes dizem que encaminham o espírito dos mortos para Deus com a extrema-unção. Mágica fantástica essa... Costumam cobrar pelos serviços, ou humildemente aceitar donativos. Os sacerdotes de Osíris e Hórus faziam o mesmo no antigo Egito, e em Roma as Vestais, e em Atenas não era diferente. Costumes que dão lucro e passam de geração em geração.
E lá se foi o nosso amigo... Ele se preocupava com o planeta, aproveitando todas as sobras de cozinha para cultivar minhocas e prover de boa terra com húmus quem tinha pequenas hortas e jardins particulares na região do Peró. Calmo, tranqüilo, viu muitos crepúsculos rosados levantando-se sobre o mar enquanto o Sol se debruçava para dormir no ocaso e os pescadores encostavam seus barcos na praia para descarregar peixe. Viu muitas auroras em outros tons de rosado no mesmo lugar, com ondas mansas ou ondas revoltas, o Sol nascendo no horizonte sobre o mar, perto de uma ponta de terra que sempre enfrenta o mar perto de Búzios, lá bem ao longe, que quando há nevoeiro nem se vê. É quando os pescadores saem em seus barcos, proa ao mar, em busca de peixe para o sustento da família. Se senador não paga impostos, e ainda recebe quinze salários trabalhando apenas de terça a quinta feira, pescador com muito mais razão não deveria pagar impostos.
Este Natal vai ser triste, tão triste, que resolvemos dispensar da morte um peru que não será consumido e, portanto, viverá em paz. Os perus deveriam viver em liberdade na natureza para alimentar, em caso de extrema necessidade, quem tiver fome. Comeremos apenas bacalhau que duvidamos seja bacalhau de verdade, porque nos enganam muito neste nosso planeta. Há pelo menos oito anos que a pesca do bacalhau está restrita na União Européia porque a pesca intensiva estava reduzindo o seu tamanho de forma tão drástica que corria perigo de extinção. Como pode então haver tanto bacalhau disponível no mercado? Mas não aparece ninguém mostrando a guia de importação desses bacalhaus, para sabermos que é realmente bacalhau e não pescada salgada.
O amigo, lá no Xeol, bem que podia, pelo menos num instante, ver por uma janela no espaço tempo, um portal, o brinde que lhe faremos em sua homenagem como grande cidadão. Não freqüentava culto, mas tinha todo o respeito pela natureza e pelos demais seres humanos. Esse sim, um filho de Deus.

Pena que para a humanidade seja como se ele nunca tivesse existido porque não saía em jornais, não tinha programa em TV, não era cantor de radio, não roubava no senado disfarçado de gente fina, gente do bem. E tal como há mais de sessenta anos, ninguém fala no menino que foi perseguido e morto. O espírito de Natal está dentro de caixas de presente, de vapores alcoólicos, de férias do congresso onde pretendiam votar 3.000 vetos à presidência num só dia para ganharem mais uns trocados dos royalties do petróleo. O Natal é um imenso parque de comércio religioso - será mesmo? - ao redor do mundo... 

Mentem-nos muito!

Rui Rodrigues