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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

a propósito de música ...



Sobre música, 

(Ou de como podemos ser cegos e surdos, mesmo quando vemos e ouvimos)

Quando em 1954 “Bill Halley & the comets” apareceu nas ondas do rádio, eu já tinha 09 anos de idade, e começava a querer namorar. Por onda passava, lá estava o conjunto tocando Rock around the clock...: nas ruas, em casa, nas festas. Não havia propaganda implícita na música, nenhuma conotação de qualquer tipo: era apenas música, poesia. O povo ouvia e dançava porque queria. Isso era suficiente.

Inicialmente despretensioso, o Rock around  the clock logo se transformou num conhecidíssimo “rock around the world”... Toda vez que a música terminava, dava vontade de escutar outra vez. O povo adotava a música, escutava, cantava, dançava. Para quem gosta de evolução da música, pode ainda escutá-lo em http://www.youtube.com/watch?v=-mZLpDuuf40 .

Desde pequeno, porém, eu tenho um enorme problema: consigo assobiar as músicas, mas decorar títulos e letras é um tormento. Foi por isso que segui engenharia e não medicina, porque sempre tive dificuldades de decorar, memorizar. Memorizei Rock around the clock porque o título provoca reflexão sobre o tempo... Movemo-nos no tempo, o tempo manda em nós, mas nós mesmos fazemos o tempo render ou se desperdiçar num sorvedouro desconhecido... marcou também o meu gosto pela música.

Bill Halley foi durante um par de anos o meu herói do mundo lúdico, que me aliviava as horas de estudo, da vida cheia de tarefas, da pressão de me adequar a uma sociedade por me ser total e compreensivamente impossível adaptar a sociedade á minha forma de pensar.

Em 1955 Elvis Presley arrebenta nas paradas de sucesso com “That’s all right mama” – está tudo certo, mamãe. Durante alguns meses rivalizaram nas emissoras de radio, nos anúncios, pequenos resumos filmados a cores que passavam antes do inicio dos filmes nas sessões de cinema. Competiam nos jornais, nos canais de televisão, ainda a preto e branco, nas festas familiares. Na prática, o rock nascera em 1954, e em 1955 já tinha dois ídolos, e duas canções: uma falando do tempo, outra falando das preocupações com a moral e a ética. Comecei a desconfiar, com 10 anos, que a música nos mandava recados, que se entendidos, poderiam mudar o mundo. Com “Follow that dream” (siga aquele sonho) em 1962, e ainda na década de 60 com “Nothingville” (cidade do nada) e “If I can Dream” (se eu puder sonhar), Elvis mandava novos recados ao mundo, durante os movimentos sociais contra a guerra do Vietnam e o racismo. Elvis ainda pode ser visto vivo em http://www.youtube.com/watch?v=9CMlYVu9J4g .

Porém fã de Elvis Presley, logo tive que dividir minhas preferências musicais – e pelos vistos das mensagens transmitidas pelos títulos e temas das músicas – Com um conjunto que desde 1960 vinha disputando as preferências do público: “The Beatles”, com Ringo Star, George Harrison, John Lennon, Paul McCartney. Juntos ou separados, produziram canções como  “All you need is Love” (tudo o que você precisa é de amor); “All together now” (todos juntos agora); “Peace of mind” (Paz de espírito) e outras. Quem desejar ouvir os Beatles pode ainda fazê-lo em http://www.dailymotion.com/video/x15f3t_the-beatles-all-you-need-is-love_music#rel-page-2.

Muitos outros grupos, muitos cantores e cantoras apareceram desde então, e um em particular: Pink Floyd com a música “Another brick in the wall” (Mais um tijolo na parede), dizendo que não precisamos de mais educação...  Pode ser ouvido em http://www.youtube.com/watch?v=lwTpZpwjtIE ...

Há muitas formas de “ouvir” música: impregnando-se de melodia e sons para incentivar a produção de substâncias químicas no cérebro que nos dão prazer; ouvir a melodia, os acordes, os instrumentos, e “viajar” no lúdico enquanto lembranças e desejos nos vêm á mente; ouvir por ouvir como se não existisse a música, a melodia, a letra, apenas como pano de fundo para o que estamos fazendo; entender o que a letra quer dizer e imaginarmos situações futuras ou passadas; analisar tecnicamente a composição como crítico de arte, sem a menor emoção, apenas a razão de cada timbre, de cada pausa, de cada escala, do conjunto, se fará sucesso ou não, ou simplesmente, se a melodia é ou não é boa para dançar, para ouvir, para ouvir depois do jantar, ir a um show. Alguns ainda não se importam com a melodia nem com a letra: Basta que seja cantada por seu artista de preferência.  

Isto não é uma crítica. É uma constatação de que cada ser da humanidade tem o direito de fechar os ouvidos ou os olhos, ou os dois, para o que não lhe interessa, quer o motivo do desinteresse tenha bases consistentes, ou se trate apenas de emoção, como quem diz que não gosta de peixe cru com molho shoyu e gengibre, sem nunca ter provado.

Casualmente, ou nem tanto por acaso, política também é assim, como a música... E embora a canção seja a mesma, cada um a interpreta como sabe, quer, ou deseja.

Um conjunto, muito especial, adotou o nome de “Faith No more” – Fé nunca mais!

Rui Rodrigues

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