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quinta-feira, 6 de julho de 2017

Os cheiros da cozinha


Resultado de imagem para panela de arroz no fogo

Há uma panela no fogo onde se cozinha um arroz com louro, azeite, alho e cebola. Começa a cheirar, odores escapulindo da panela pela tampa sem sotaque. Comida não tem sotaque nem nacionalidade. Comida tem apenas modos e tradições. Este arroz serve para fazer companhia a uma feijoada feita com feijão preto, um rabicó e uma pata de porco, e um naco generoso de linguiça calabresa que nunca conheceu a Calábria. O porco também não. Adivinho que vivia em Minas Gerais, tranquilamente até ser escolhido. Amália quis preparar um "refogado" pra dar mais sabor, enquanto a chuva começava seu canto coral para acompanhar o frio que inundava o ambiente como se fosse um gás. Ainda relembramos os velhos tempos em que tudo era inesperadamente bom e acolhedor, mesmo quando não parecia. Um naco de queijo, um pedaço de pão e uma taça de vinho antes da feijoada, como que para abrir o apetite com chave de ouro. Olhamos em volta, mas não havia ninguém para nos bater palmas. Perguntamo-nos porque haveriam de nos bater palmas, se quem nos conhece não as bate? Concluímos que era por não terem mãos livres, ocupadas que sempre estavam em fazer pequenos pedaços de nada com que constroem montanhas de nada. Pra nada. Um dia os seres humanos evoluirão para seres sem mãos, ou como as dos dinossauros, muito pequenas, para serem usadas apenas para teclar num I-X qualquer desses do futuro, em que se pensa numa coisa e ela nos aparece.


Depois do jantar, Amália sumiu!

Rui Rodrigues

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