A caixa preta da Caverna.
(Histórias são apenas histórias, sempre fruto da
imaginação. Filmes também. O medo sentido quando se vêm histórias no cinema ou
quando nos contam em crianças, têm a função de nos preparar para a realidade do
futuro e nos ajudar a vencer as dificuldades. As crianças de hoje, porque
leram, ouviram ou assistiram a muitas histórias proporcionadas pelos pais, já
não têm tanto medo como nas gerações passadas. O medo tolhe, imobiliza, e neste
mundo não se pode ter medo de nada, mas deve saber-se sempre quando se deve
agir ou ficar quieto perante uma ameaça real).
- A
chegada na caverna escura
Quando empurraram Maralice para
dentro da caverna, sentiu medo. Um medo muito grande. Aquilo não era uma
brincadeira, e alem da escuridão total, fazia frio. Parecia que tinha entrado
na geladeira da mãe dela, bem lá em cima no freezer onde fazia mais frio. Tentou
sentir onde estava e percebeu que não estava só. Lá ao fundo ouviu um choro de
criança como ela. Foi caminhando na direção do choro, muito devagar para não
cair ou bater com a cabeça em alguma coisa, porque não enxergava nada, até que
sentiu algo tocar em seus pés. Agachou-se e viu que eram os pés de uma criança
que chorava, encostada na parede de pedra de uma caverna. Aquilo era uma caverna.
Ouviu uns chiados e algo lhe bateu no rosto, algo fedorento. Eram morcegos.
Agora que seus olhos se habituavam à escuridão percebeu que estava numa gruta
cheia de morcegos, e que à sua frente estava uma menina que chorava. Aquilo nem
era choro, era um soluçar triste de perder a respiração. Perguntou-lhe porque
chorava, porque estava ali. A menina se agarrou a ela e disse no seu ouvido:
- É gente má que nos raptou.
Pode olhar à volta, quando conseguir enxergar, que há mais meninos e meninas
aqui nesta gruta. Estamos todos presos e alguns, os mais velhos, estão presos
por correntes para não fugirem. Como apanharam você?
- Eu... Eu... Ofereceram-me balinhas e chocolates e me disseram que havia mais no carro ali perto e disseram que eu fosse até lá. Eu fui. Então me empurraram para dentro do carro e saíram às pressas dali, da pracinha onde eu brincava, e me trouxeram direto para cá. Taparam-me os olhos para eu não ver para onde iam. Eu me chamo Maralice e você?
- Eu... Eu... Ofereceram-me balinhas e chocolates e me disseram que havia mais no carro ali perto e disseram que eu fosse até lá. Eu fui. Então me empurraram para dentro do carro e saíram às pressas dali, da pracinha onde eu brincava, e me trouxeram direto para cá. Taparam-me os olhos para eu não ver para onde iam. Eu me chamo Maralice e você?
- Delia. Chamo-me Delia.
Disseram que minha mãe estava no carro e me levaram até lá. Quando cheguei vi
que não era o carro de minha mãe, e quando ia reclamar me empurraram também.
Foi muito rápido. Também me taparam os olhos e me trouxeram para cá. Estou com
sede e fome. Eles dão comida?
- Só três vezes por dia.
Tudo sanduíche e água. Quando queremos fazer numero um e numero dois é num
banheiro improvisado aqui nos fundos que tem um pouco de luz que vem não sei de
onde, mas quase não se vê nada. Cheira mal e não temos como limpar. Já tentamos
gritar mas não adianta. Ninguém escuta. Isto aqui é uma caverna.
- Quantos somos aqui? Perguntou
Delia.
Caverna escura quando a porta está aberta |
Uma voz mais grossa, de
menino mais velho, veio lá do fundo. O garoto devia ter uns seis anos e estava
com as penas amarradas por correntes a uma argola de ferro.
- Somos cinco: três
amarrados e vocês duas. Meu nome é Marcos, os outros são Felipe e Beto. Nós
três chegamos juntos. Estávamos jogando uma partida de futebol numa pracinha,
chegaram uns caras dizendo que jogávamos muito bem e que queriam nos apresentar
a um cara do Flamengo que estava sentado num banco. O cara disse que nos ia dar
uma camisa do Flamengo e nos passaram algodão com um líquido que nos fez
desmaiar. Depois chegamos aqui. São uns bandidos. Estamos com saudades de
nossas mães, de nossos pais. Passaram o dia andando pela caverna. Maralice
encontrou uma caixa grande de madeira com tampa. Tinha um cadeado e estava bem
no fundo da caverna de frente para a porta da entrada. Era muito pesada e não
podia movê-la. Avisou os outros.
- Na
central de polícia
Maibi e Maya estavam na
central de polícia. Havia guardas entrando e saindo, viaturas da polícia,
homens e mulheres presos com algemas, algumas pessoas até tinham boa cara, mas
a maioria era mal encarada mesmo, com cara de bandidos. Devia haver uma fábrica
de fazer bandidos, porque quase todos eles tinham a mesma cara: Eram muito mal
encarados. O olhar deles era duro, e nem rindo conseguiam ser simpáticos.
Outros tinham até olhar doce, meigo, estavam bem vestidos, mas estavam com
algemas e isso não podia ser nenhuma injustiça. Não se pode acreditar nas
pessoas só pela cara e pela simpatia.
Maibi e Maya estavam na
central de polícia para fazer uma queixa. O capitão da polícia, o capitão
Pires, perguntou educadamente:
-Pois não, minha senhora, o
que a trás aqui?
Maibi, mãe da Maya, falou:
- Estávamos na pracinha e vi
quando um senhor chegou perto de uma criancinha e lhe ofereceu o que pareceu
ser uns doces de chocolate. Não achei estranho porque pensei ser pessoa de
família. O que achei estranho foi que quando voltei a olhar na direção de onde
a criança tinha ido, um carro preto, o carro estava arrancando e pude ver que a
criança se debatia lá dentro. Poderia ser uma criança daquelas irrequietas,
poderia, mas não gostei da cara da motorista. Era mal encarada. Anotei a placa.
E Maibi tirou da bolsa um
papel com o número de uma placa. E continuou:
- Pode não ser nada, mas
resolvi vir aqui com minha filha e contar, porque se for assunto de família,
ótimo. Se não for, estarei à disposição para ajudar. A criança pode ter sido
raptada e como mãe não gostaria que isso acontecesse com a minha filha. Seria
terrível.
- Agiu muito bem, minha
senhora. Por favor, deixe o seu telefone para entrarmos em contato se vier a
ser necessário. Se todos agissem assim nesta cidade, denunciando, a vida de
todos nós seria mais tranqüila.
Maya, com seus quase quatro
anos não se conteve e disse também:
- Se encontrarem os
bandidos, prendam-nos a todos e se eu estivesse com a minha roupa de princesa
Maya, eu mesma ia atrás deles e os obrigaria a virem aqui se entregarem para
ficarem presos. Isso não se faz. É muito feio.
O guarda sorriu, e
perguntou:
- Como é mesmo seu nome?
- Meu nome é Maya. Ás vezes
sou a princesa Maya...
-Ora diga lá, princesinha
Maya... Porque acha que eles são bandidos?
- Porque já vi aquela menina
vir para a pracinha muitas vezes e vem sempre com uma babá. Hoje nem vi a
babá...
- Maya... Porque não me
contou antes que conhecia a mocinha?
Maya olhou admirada para a
mãe e soltou: - Caraca, mãe... Porque você não perguntou... Nem me disse que
vinha na delegacia. Se tivesse dito, eu contava...
O guarda e Maibi sorriram.
- E qual o nome da sua
amiguinha, princesa Maya... Isso ajudaria muito – Perguntou o policial.
- Maralice... O nome dela é
Maralice. É lourinha como eu e a babá dela também. O homem que a levou para o
carro eu já o vi com a babá.
O policial ia anotando tudo
num papel. Voltou a dizer que entraria em contato se fosse necessário. Quando
terminou, agradeceu e Maibi e Maya saíram da delegacia. Estava na hora de Maya
tomar o seu lanchinho com leite de chocolate, suco de fruta e um grande donut
que gostava de molhar no leite de chocolate.
- Na
toca dos bandidos
Um sujeito bem arrumado,
penteado, bonitão, simpático disse para a mulher que estava sentada no sofá vendo
televisão.
- Não tira os olhos da TV.
Se precisar sair do sofá, fica com os ouvidos atentos. Se as famílias forem
ricas, pedimos resgate. Se não forem, vendemos a garotada. Entendeu? Não saia
daí...
- A mulher assentiu com a
cabeça. Pegou uma lata de cerveja, abriu e esticou as pernas para relaxar,
empurrando-as contra o chão e sorveu uns longos goles de cerveja gelada. Disse
laconicamente:
- Pódeixá. Já estou com o
bloco de notas para anotar tudo. Logo vão dar notícia de desaparecimento. Há
uma semana que raptamos crianças e nada de notícias na TV. Parece que gostam de
silêncio ou que ninguém se interessa por raptados. Será que não divulgam porque
não é matéria paga?
-Não sei nem me interessa,
Ra. Vou dar uma olhada nas crianças.
-Certo, Boni, eu fico na
minha.
O sujeito abriu a porta da
casa, feita só de tijolos, no meio do mato e entrou numa casinha pequena nos
fundos. Abriu a porta. A uns três metros, na parede em frente, havia um buraco
e outra porta. Esta dava para uma gruta. O cano, que tinha sido instalado por
dentro da parede, permitia ouvir os sons que vinham da gruta. Estava tudo em
aparente silêncio. Então colocou uns óculos para ver de noite, e fechou a porta
da rua. Tudo ficou escuro porque aquele aposento não tinha janelas. Quando
abriu a porta pôde ver que as crianças estavam em seus lugares. Os garotos
amarrados e as duas meninas uma junta á outra. Soluçavam. Nenhuma das crianças
viu o homem naquela escuridão. Tirou os óculos especiais, fechou todas as
portas, saiu e entrou na casa da frente onde estava a moça chamada Ra. Disse:
- Estou pensando... Se
pudéssemos pegar aquela menina bonitinha que a mãe chama de Maya... Sei que é
perigoso voltarmos lá na praça. Teríamos que fazer de forma diferente. Seriam
três garotos e três meninas. Seria uma boa grana.
- Na
casa de Maya
-
Mãe... Aquela gente toda na polícia. Com algemas. Coitados. O que eles fizeram?
– Perguntou Maya enquanto desenhava no quadro negro que a mãe tinha colocado na
parede do quarto.
-
Coitados? (Maibi estava admirada com a candura da filha). Alguma coisa ruim
devem ter feito, porque a polícia só prende bandidos e pessoas para fazer
perguntas quando são suspeitas de ter feito alguma coisa ruim.
-
Pois é, mãe. Se me oferecerem alguma coisa na rua, eu corro pra você. Não aceito
não.
-
Isso, Maya. Já deixei você alguma vez sozinha?
-
Não! ... Tem sempre alguém perto. A dinda, o dindo, a vó, você e até o vô Rui
quando vem aqui em casa. Vocês não largam do meu pé... – E Maya riu às
gargalhadas.
-É
Maya, mas toma sempre muito cuidado. Estamos sempre por perto, mas vai que em
algum momento não estamos. Nunca saia do lugar onde estiver. Alguém vai chegar.
Se você não sair do lugar te encontramos. Caso contrário, já viu... Não temos
jeito de te encontrar. O que você está desenhando?
-
O homem do carro que levou a menina. Está bem parecido.
Maibi
olhou o desenho. Eram uns garranchos muitos bem desenhados, com proporções, mas
o rosto podia ser o de um milhão de homens residentes em qualquer lugar do
Brasil. Era branco, jovem, o cabelo bem cortado virado para um lado. As orelhas
deveriam ser grandes porque Maya as desenhara assim e usava óculos escuros. Maya
olhava para a mãe apreciando o seu lindo desenho quando pôs a mão sobre os
óculos do rapaz e disse:
-
Os olhos dele são pretos.
-
Como você sabe, se está de óculos?
-
Estava de óculos hoje, mas já vi os olhos dele outro dia.
-
Ha... Tá... E o que é aquilo ali no braço dele?
-
Aquilo... Você não está vendo, mãe? “Aquilo” é uma tatuagem. Se mostrar uma
igual sei qual é.
Maibi foi para o computador, digitou
“tatuagens”, olhou, mostrou para a Maya. Depois digitou “tattoo”, que era
tatuagem em inglês e outras imagens apareceram. Maya apontou para uma delas.
-
É essa mãe! – Maya mostrou um enorme dragão vermelho jogando fogo pela boca e
pelo nariz.
Não se tinham passado mais
de dez minutos no computador. Maibi pegou a máquina fotográfica digital, tirou
uma foto do desenho de Maya, baixou a imagem do “tattoo” para o pendrive e
desligou o computador.
- Vamos deitar, dona
detetive desenhista, que por hoje chega, já é tarde e precisa dormir para ir
para a escola amanhã cedo... Já nanar...
Na manhã seguinte a primeira
coisa que Maibi fez foi passar na delegacia para mostrar o desenho de Maya e o
tattoo. O capitão apresentou-a ao Delegado que ao ver o desenho de Maya disse:
Perfeito! Desenho perfeito... Eu conheço esse rosto. É do Boni, um foragido da
polícia.
- A
caixa preta na caverna
Noite
ou dia para as crianças na caverna era sempre noite porque não entrava luz.
Boni sempre fechava a porta da entrada, colocava os óculos para ver de noite, e
só então levava a comida para as crianças e substituía o papel higiênico. Quem
lavava o banheiro eram elas mesmas. Nessa noite, Boni tirou as correntes dos
meninos dizendo:
-
Agora que já sabem se comportar vou tirar as correntes, mas não façam bagunça
senão vou fazer vocês chorar muito.
Depois
saiu fechando a porta.
Soltos,
os meninos esticaram as pernas. Foram ao banheiro. Depois voltaram e junto com
as meninas combinaram de tatear toda a caverna, para saberem como era e se tinha
alguma coisa por lá além da caixa enorme que Maralice tinha encontrado. Nada.
Não havia nada mais, Voltaram à caixa. Não sabiam se tinha alguma coisa dentro.
Resolveram usá-la para se sentarem. Mais tarde, as crianças não sabem quando
nem a que horas, porque na escuridão perdiam a noção do tempo, Boni voltou. Ao
sentirem abrir a porta as crianças levantaram-se da caixa e ficaram em pé. Boni
trouxe-lhes uns colchões, travesseiros e lençóis para elas dormirem e voltou a
sair. O primeiro a chegar, Marcos, já estava ali há três dias. Não tinham idéia
de quanto tempo ainda iriam ficar ali. Beto e Felipe concordaram que para
trazerem colchões ainda iriam passar muito tempo naquela prisão. Os colchões
vieram em cima de uns estrados de madeira.
-
Felipe...- Disse Beto – Vamos abrir essa caixa!
-
Como? Não temos como. (Felipe tinha certeza que era impossível. Não havia nada
que pudessem usar para abrir aquela fechadura).
-
Temos sim. Lembra que tínhamos combinado explodir o ralo do play hoje?
Felipe
lembrou-se. Beto adorava fogos de artifício e com a mesada do pai tinha
comprado umas “cabeças de nego”. Já tinha feito isso antes e até tinha voado
pedra até o segundo andar do edifício. Eles e os gêmeos lá do prédio, embora
fossem crianças exemplares, legais, simpáticas, de vez em quando fugiam do
padrão e faziam coisas dessas, como derrubar bananeiras do jardim para roubarem
os cachos. Não era exatamente roubar. A síndica do prédio é que se aproveitava
da área de jardim, plantava bananeiras e não dividia com os condôminos. As
crianças do prédio até faziam uma certa justiça. Por isso ninguém as denunciava
quando cortavam as bananeiras.
-
E o barulho? – Perguntou Felipe preocupado.
-
Ninguém vai ouvir. Lembra que gritamos e ninguém nos escuta? – lembrou Beto
E
se lançaram ao empreendimento. Não tinham fósforos, mas Beto aprendera com o
pai a fazer fogo esfregando uma madeira na outra até esquentar bastante e uma
delas pegar fogo. Do estrado de madeira dos colchões conseguiram tirar umas
lascas pequenas e furá-los para tirar a espuma de nylon que sabiam que pegava
fogo muito facilmente. E começaram o trabalho de esfregar uma madeira na outra,
revezando-se os três: Beto, Felipe e Marcos. Não sabem quanto tempo se passou,
mas como não estavam com fome, ainda demoraria a que o tal de Boni lhes vir
trazer comida. Beto tirou quatro cabeças de nego do bolso, amarrou-as à
fechadura do Baú com os plásticos do colchão que o Boni nem tivera o trabalho
de retirar, e envolveu tudo com enchimento dos colchões, pronto para ser ateado
fogo. Quando finalmente Felipe gritou que tinha conseguido uma brasa na
madeira, todos sopraram para que desse uma pequena chama. O forro do colchão
usado como combustível logo pegou fogo. Levaram-no até as cabeças de nego e
prenderam fogo. A outra parte do forro do colchão que estava envolta em
plástico à volta das cabeças de nego logo pegaram fogo. Todos se afastaram para
o fundo da caverna. De repente, quando menos esperavam...
CABUM!
Foi
um “cabum” enorme porque as quatro cabeças de nego estouraram ao mesmo tempo.
Ouviu-se um barulho metálico. O cadeado estava solto com a violência do
estouro. Os restos das chamas ainda permitiram ver o que continha o baú. Era
uma caixa de ferramentas. Tudo enferrujado. Aquela caixa poderia ser a salvação
deles. Por sorte nem o Boni nem a Ra tinham ouvido o barulho. Boni tinha saído
e ra estava de olho nas notícias da TV.
- Na
delegacia os pais das crianças estão desesperados.
Os
pais das crianças choravam, desesperados, porque amavam muito os seus filhos e
temiam que os bandidos os maltratassem. Queriam justiça. Reclamavam da falta de
segurança. Havia psicólogos na delegacia que tentavam conversar com eles.
Quando o capitão Pires apareceu, junto com o delegado, as perguntas e as
reclamações subiram de tom. Os ânimos estavam exaltados. Pires tentou serenar
os ânimos:
-
Calma. Calma. Senhores pais e mães... Por favor... Tenho notícias.
Fez-se
silêncio que até dava para ouvir as moscas se houvessem moscas na delegacia. (E
continuou) – Dona Maibi e a filha dela Maya, nos deram a placa do carro do
último rapto, o da menina Maralice, Maya, fez uma excelente descrição do
bandido, com um belo desenho que fez. Esse bandido usa uma tatuagem no braço
que Maya também identificou. Graças a ela, conseguimos identificar o bandido. É
um sujeito foragido da justiça e em breve o apanharemos. Confiem na polícia.
Tudo vai acabar bem.
- As
crianças pensam rápido
Felipe
avisou que se não tinham ouvido o barulho do estouro das cabeças de nego, ou
era porque os bandidos não estavam em casa, ou por que não tinham ouvido mesmo
e deveriam aproveitar o momento para derrubar a porta com as ferramentas.
Poderiam fazer barulho à vontade, menos na ultima porta, porque essa estava bem
de frente para a casa onde os bandidos moravam e bem perto. Pegaram as
ferramentas e começaram a bater na fechadura até que os parafusos se soltaram.
A porta abriu. Primeiro ficaram meio cegos pela luminosidade. Depois que se
habituaram, viram a segunda porta. Incrivelmente só estava encostada. Empurraram
a porta bem devagar, e foram saindo sem fazer barulho. Abriram o portão da rua
que também só estava encostado e caminharam juntos como se estivessem
passeando. Quando chegaram a uma rua maior onde passavam ônibus, fizeram sinal
para o motorista e contaram rapidamente que tinham sido raptados e que haviam
fugido. Queriam uma carona até a delegacia mais próxima. O motorista disse que
não, mas aí o povo começou a gritar:
-
Que é isso, motorista? Vai deixar as crianças sozinhas sem ajudar? Não
senhor!... Vamos até a delegacia mais próxima...
O
motorista se convenceu e as levou até a delegacia. O ônibus e os passageiros
foram liberados em seguida. Uma viatura da polícia as levou até a Central onde
o capitão Pires já as esperava junto com os pais delas.
A
história saiu nos jornais e nos noticiários das redes de televisão, com o
desenho de Maya estampado na primeira página. Uma cópia está na delegacia de
Polícia bem por detrás da mesa do capitão Pires que conta a história para todo
mundo que pergunta que desenho é aquele:
-É
o desenho da mais jovem detetive mirim desta delegacia. Ela desvendou o crime e
os bandidos estão presos. Só tem três anos e oito meses...
Fim
da história... Gostou? Pede para ler de novo!
Rui
Rodrigues