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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O ultimo encontro com Fidel Castro

O ultimo encontro com Fidel Castro


(Não sou fonte, não indico a fonte e não sou jornalista, nem sob julgamento, mas entre o real e a ficção não vai tanta distância, nem no tempo, nem no espaço. Fiquemos então assim, mas o que ouvi foi o que segue, contado por alguém: )




Nos velhos tempos em que o mundo se dividia entre esquerda e direita, a esquerda tinha um atrativo a mais que a direita: Era um desafio baseado na fraqueza com intelectualidade contra a força com capital. Era como se fosse uma luta de S. Jorge contra o dragão, ou de David contra Golias. A juventude torcia pelo dragão, por Golias. Era bonito, o sonho era morrer pela causa independente do campo de batalha, se nas colinas de Sierra Maestra em Cuba, na Serra da Lunda em Angola, ou na Coréia ou Vietnam. Era tempo da guerra fria e conheci Fidel quando, como agente da CIA, comecei a mediar com ele a transição entre o governo deposto de Batista e o seu governo ao final da revolução cubana quando ainda se pensava que Fidel fazia apenas uma revolução para troca de governo e não para mudar para o regime comunista. Na CIA havia o “intermediário oficial” e o “intermediário real”. Os dois conversávamos com Fidel, mas só eu e Fidel sabíamos quem era quem e quem poderia negociar com ele. Uma forma de preservar a confidencialidade, caso algo desse errado sem me queimarem e sem comprometerem Fidel. Eu era o oficial, o que não aparecia para ninguém. Acompanhei Fidel desde 1958 em Sierra Maestra e nossos encontros terminaram abruptamente em 16 de abril de 1961. Nunca mais nos vimos até alguns dias atrás.




Hoje Cuba está num processo de abertura. O mundo comunista ruiu por completo, sobrou o socialismo que sempre era visto como um comunismo mais leve, mais próximo do mundo ocidental, mas nos últimos tempos o socialismo tem dado mostras de que tem que se modificar também ou irá perecer como o comunismo. Foi-se a ideologia, ficou a corrupção, o dinheiro fácil à sombra do poder das democracias representativas.  Um mundo entregue ao capitalismo sem freio parece ser um cenário tão feio quanto o comunismo sem fronteiras. O governo americano me chamou apenas para me aproximar de Fidel e dar-lhe um nome. Não havia ninguém mais conhecido e de sua confiança  que pudesse aproximar-se dele em nome do governo dos EUA. O nome que eu teria de dar-lhe era o do próximo negociador para a reabertura das relações entre EUA e Cuba e do comércio entre os dois países. Quando a CIA me avisou, eu estava em Lisboa. Era um sábado 25 de janeiro de 2014. Dilma Rousseff estava com seu Airbus 319 pronto para viajar para La Habana, mas só o faria pela manhã de domingo. Eu também, mas num voo da KLM que chegaria às 15h35min ao aeroporto de José Martí a La Habana. Ela chegou um pouco mais cedo por volta das 14h50min. Ela não me conhecia. Eu conhecia todos aqueles com os quais se encontraria de forma indireta. O único que eu conhecia pessoalmente, e muito bem, era Fidel.




Eu poderia ter tentado entrar em contato com ele durante a reunião da 2ª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), mas preferi estudar o ambiente, fazer meus contatos, escolher o melhor momento. Teria que ser depois da inauguração do Porto cubano com dinheiro do povo brasileiro. Cuba jamais pagará, mas isso não era problema meu. Decidi que veria Fidel quando visitasse uma nova galeria que fazia sua inauguração expondo obras de artistas cubanos sob o título de "Lam, eres imprescindible”. Embora já tivesse visto fotos recentes de Fidel, sua decrepitude era notável. Estava agora com 87 anos. Entrei como correspondente credenciado sem direito a tirar qualquer foto. Fui revistado como se me estivessem fazendo um exame de próstata, minhas roupas minuciosamente revistadas. Na primeira oportunidade que tive, aproveitando aquele momento em que, depois das apresentações, Fidel se deteve para apreciar as obras de arte, e no silêncio que se fez, balbuciei por detrás dele, a primeira das quatro palavras de código a que estávamos habituados décadas atrás: - “Três eme”.

Voltou a cabeça devagar e me olhou com o mesmo olhar que eu já conhecia e que se podia traduzir facilmente: É verdade, mas faço de conta que não conheço para ver o que acontece. Então me vi obrigado a confirmar que eu era “aquele ” em quem ele agora pensava, porque eu também envelheci, e lhe disse a segunda palavra: - Martí, ao que seus olhos se abriram, seus lábios esboçaram um sorriso, e ele mesmo proferiu a terceira – Maestra... E eu completei com a quarta, quando sua mão já se dirigia á minha para um aperto de mão:- Muerte!

Com um gesto fez sinal para que ficássemos a sós numa das salas da galeria. Ele falou primeiro:

- Sem segredos?
- Como sempre, entre nós, sem segredos! – respondi-lhe.
- Que fazes em Cuba?
- O governo americano quer a abertura, mas tem condições.
- Certo. Também tenho as minhas.
- Eu sei. Mas não vou negociar contigo. Será outro. Minha função é apenas a de te informar quem será o próximo negociador. Poderás negociar com ele ou indicar-lhe alguém, mas terás que o conhecer primeiro e apresenta-lo a quem irá negociar em teu lugar como se fosses tu.
- Concordo. Mas diz-me. Que tens feito, e em que enrascadas te tens metido desde Sierra Maestra?
- Já estou aposentado há mais de vinte anos. Chamaram-me agora por tua causa. É serviço único. Posso fazer-te uma pergunta?
-Podes. Sem segredos.
- Sem segredos, como sempre. Como aguentaste todos estes anos sendo socialista sem nunca teres sido comunista nem socialista?

Tive a impressão de que me iria mentir, porque seu olhar ficou vago e seu cenho se franziu levemente, as mãos procuraram um apoio fictício e desnecessário nos braços da cadeira, porque já estavam apoiadas, mas o sorriso lhe voltou aos lábios sem que estes tomassem a forma de “u” como quando costuma falar para enganar. E disse como se estivesse num confessionário com seu sacerdote de confiança:



- Quando fiz a revolução, eu pertencia ao partido “Povo Cubano” Também chamado de  “Partido Ortodoxo”. Tu te lembras... Mas conhecia a podridão de todos os outros desde os tempos de antes de Batista. Confesso que esse partido tinha algo de socialista porque exigia reforma agrária supressão do latifúndio, nacionalização dos serviços públicos. Porém, eu tinha raiva mesmo era da prepotência dos ricos, da classe média. Detesto classe média mesmo sendo cubana. Eu nem conseguia vingar como advogado. Então, para mim, ou é todo mundo rico, ou todo mundo pobre. Quando Eisenhower se recusou a me receber em minha visita aos EUA logo após a revolução, preferindo ir jogar golfe, nesse dia caí para a esquerda. Definitivamente. Passei a odiar os EUA, o povo de classe média. Daí meu grito de “Pátria ou morte”. Bem mais tarde, Che Guevara estava ficando mais famoso do que eu. Mandei-o para a Bolívia. Não houve problemas de sucessão em Cuba. Era um sanguinário. Eu mandei gente para o paredón, mas  quase obrigado pelo pessoal do partido. Ele não. Matava com ternura. Era um filho da puta. 




Falava com certa dificuldade, bem devagar, mas continuou:

- No começo pensei que os blocos comunistas me ajudassem, e estava disposto até a usar os mísseis russos contra os EUA, embora os russos só quisessem ter apenas uma presença forte à porta dos EUA não só como arma de persuasão, como também para incentivar as populações da América do sul para o comunismo. Depois que o comunismo começou a cair no mundo, e senti isso em Angola com Eduardo dos Santos caindo para a direita e arrecadando dinheiro, temi mais pela minha vida. Se o regime caísse em Cuba, eu seria um homem morto com requintes de crueldade. Como fizeram com o duce italiano na segunda guerra mundial.  Sei que a população me odeia, ainda mais com essa permissividade da internet. Sabem mais do que me informam, e Yoani Sanchez é um exemplo desse ódio escondido por palavras que denotam oposição comedida e educada.  Enfim... Sobrevivendo, meu caro. A revolução nunca existiu e está morta. Questão de dias, um par de meses mais. 

- Posso fazer-lhe só mais uma pergunta, Comandante? A última, prometo. É uma questão apenas para medir minha capacidade de entender.

- Em frente... faça-a...
- E Maduro, Dilma Rousseff e Lula, Chávez, Cristina... Pensam como você ou são realmente socialistas ou comunistas?

- São tontos. São apenas tontos. São como os que tentaram fugir de Cuba em botes, pneus de caminhão, barcos de pesca atolados. Veja que eu tenho uma formação. Sou advogado. Eles não. São aproveitadores de situações e nunca trabalharam duro aliando o trabalho físico ao intelectual. Apenas usaram a velha esperança dos que têm menos do que os outros, ainda que tenham muito, para galgar o poder: A sede de “justiça” para angariar apoio popular, votos. Nos países comunistas como Cuba, trocamos favores, bens e cupons como objeto de troca. Nos outros países trocam favores por dinheiro. É tudo igual. Mas se eu perder o governo me matam, trucidam. A eles não. O que eles querem é poder, tirar fotografia com o velho comandante como turista tira fotos com o Mickey da Disneylândia... Cuba precisa de dinheiro para os novos tempos, porque já não temos quem nos envie ajuda como antigamente a China e URSS... Quem nos emprestaria dinheiro senão os tontos dos falsos comunistas e socialistas latino-americanos que não têm nem conhecimento nem cultura para governar? Uma viúva, um torneiro mecânico, uma ex-terrorista, um caminhoneiro bronco de estrada e um homem de armas de posto baixo...  E acabam levando a parte deles, mas não sou eu quem lhes paga... Uma mão lava a outra. Todos eles são ignorantes. Dilma é completamente burra e vaidosa como nova-rica. Mas... E quem negociará comigo?




Sua pergunta ao final da sua resposta punha fim à entrevista. Disse-lhe um nome no ouvido e mostrei-lhe uma foto discretamente, enfiada no jornal que eu levava na mão.  Ele aquiesceu. Conhecia a pessoa das fotos nos jornais e nem era americano. Na sua frente rasguei a foto em pedaços e os distribui por dois bolsos de meu paletó. Seriam jogados fora logo que saísse dali.

Fidel olhou-me nos olhos enquanto nos apertávamos as mãos. Se o conhecia bem, eu tinha sido naquele momento uma nave do tempo. Ele era uma nave do tempo também para mim, e em nada sua figura pública ficara arranhada por suas confissões honestas. Todos os lideres eram assim, cada qual com seus motivos para assumir e pretender ficar no poder por longo tempo, mas sempre por misturas de alguns ingredientes fundamentais em maior ou menor grau: Vaidade, poder, dinheiro, sobrevivência.

Apertamos as mãos. Saí da exposição aliviado, tranquilo. Missão cumprida. Os “paredóns” tinham acabado. Fidel e Cuba já não eram os mesmos, o Comunismo só existia agora na Coréia do Norte e também não era real. Lá era também a sobrevivência de um líder, que aos poucos ia eliminando até a sua própria família, começando pela mulher, pelo tio e pela família do tio.  Tal e qual como na Roma antiga.




Fui até o aeroporto. No bar pedi uma “cristal” e teclei um numero de meu celular. Quando atenderam eu disse- Embarco no horário. Tres eme. Escutei o Ok. Então tirei o chip do celular, dobrei-o até quebrar e joguei metade na cesta do lixo. A foto picada já estava espalhada pelas ruas de La Habana empurradas pela brisa do mar. A outra metade do chip joguei no vaso do banheiro do aeroporto. Yoani estava chegando de um voo. 




(Minha fonte não sei por onde anda. Provavelmente jamais voltarei a vê-la. Porque contei isto? Porque já não faz diferença alguma se o mundo sabe ou não sabe. O mundo não é comunista. Se fosse, o muro de Berlim não teria caído e a China e URSS ainda seriam ferrenhamenta comunistas, ao lado dos EUA. Ora.. Nada disso aconteceu. Os lideres sul-americanos não são tontos. Gostam é de dinheiro e dizer: Cheguei, vi e venci!... Embora não tenham chegado a lugar nenhum, não tenham visto nada e não tenham vencido de ninguém. Apenas convenceram a massa ignota com promessas que jamais poderão ser cumpridas)

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© Rui Rodrigues 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Breve explicação do Brasil para ignorantes como eu [i].

Breve explicação do Brasil para ignorantes como eu [i].

Eis senhoras e senhores a linda história que tenho para vos contar a propósito do reino do Brasil e de sua idiossincrasia, moldada a beijos, tapas, pescoções e chibatadas, na senzala, no trabalho, nas forças armadas e nas igrejas, quando de repente o Brasil se viu simultaneamente invadido e livre de coisas estranhas.



O Brasil é um caso absolutamente único na História Mundial: Foi o único reino europeu com capital fora do continente. Dom João VI não fugiu da Europa para se salvar das tropas de Napoleão que afinal derrotou com a ajuda da Inglaterra. Foi uma retirada estratégica do reino principal para um reino associado de escravos. Ele era rei de Portugal, Brasil e Algarves. O ser rei de Portugal e Algarves, já mostrava certa discriminação, porque Algarve é uma parte continental de Portugal, mas como tinha pertencido a um reino mouro, isso se explica, assim como as piadas de alentejanos, mais geneticamente mouros do que os portugueses do norte, com 47% de sangue judeu.



Então imagine-se o acolhimento quando, assim do nada, porque era sigilo absoluto, surge na baía de Guanabara uma frota de naus, fragatas e galeões, com bandeiras inglesas e portuguesas... Imaginem o rebuliço.




Primeiro foi o espanto, o burburinho, costureiras e alfaiates preparando vestidos e roupas para agradar à corte, mas sentindo falta de teares mais equipados, gente apanhando as naus que voltariam para ir à Europa importar teares, outros indo para os EUA para importar o melhor algodão e as melhores tinturas. Gente rica vestindo seus escravos com roupas novas, todos de ouvidos atentos aos trejeitos e modo de falar da corte. O governador Geral e seus amigos perderam sua força política porque agora era o rei quem mandava e sua corte escolhia o melhor, o mais conveniente. Artistas se prepararam, deram tudo de si. Nas ruas os cariocas adquiriram o “chiado” das ruas de Lisboa, exagerando nos “esses” da língua, um sussurro agradável de confidências de amor. O povo estava preparado para agradar.  



Povo, indústria, comércio, forças armadas, tudo em geral se preparou para agradar à Corte. Por sua parte e mostrando sua superioridade por ter chegado recentemente do centro cultural europeu esta se preparava de forma condescendente para “perdoar” as pequenas falhas: Brasil era reino mas não era Europa, assim como Algarves era Portugal, mas um Portugal menos “Portus Cale” [ii].  Desta forma, entendia-se que as panelas não tivessem aquele requinte europeu, que as ferraduras não tivessem forma tão perfeita, que os panos tivessem uma ou outra linha embolada da tessitura. O mais complicado de fazer ou produzir importava-se da Europa.

Na Europa, a igreja cuidava da moral em perfeita cooperação com a corte e o Estado. No Brasil, logo nas primeiras semanas, também. Por isso, enquanto na Europa se impunha a moral rígida, aqui, para mitigar as saudades da pátria longínqua, a permissividade começou a mostrar seus frutos: Havia sempre uma escrava linda e sedutora para emprestar, vender ou doar aos senhores poderosos, coisa que na Europa nem pensar. Lá não havia escravos. Mas havia muita corrupção, e podemos imaginar como teria sido por aqui, que senhores de terras comerciavam o pau-brasil com frotas de piratas que invadiam as suas costas, que o preferiam a comerciar no próprio reino, coletor de altos impostos para garantir a ajuda inglesa do reino português e do Brasil, agora por extrema necessidade. Na própria igreja, o termo “santo de pau oco” advém do fato de fazerem estátuas em tamanho um pouco maior do que o normal, ocas, onde padres se ocultavam para pregar aos índios, mostrando que santos falavam. Quer na metrópole quer no Brasil, o povo era fácil de enganar porque educação era coisa de senhores poderosos, nobreza, comerciantes, eclesiásticos. Os níveis de deseducação eram praticamente iguais nos dois reinos.



No fundo se contentavam com pouco porque isso lhes dava muito. Aos poderosos. Dava exatamente dinheiro, sexo e poder. Abriram-se os portos até então fechados. 
Quando instalaram os primeiros transportes públicos, encheram-se de usuários. Então alguém perguntou: - Vamos encher o Brasil destas conduções para que o pessoal possa produzir mais? E alguém respondeu: Para quê? Então não está na cara que o que esse pessoal quer é passear, que a produção está lá fora no campo e que tanto o poder como os produtores têm suas próprias carruagens? E quando chegou o automóvel, aconteceu exatamente a mesma coisa, com uma resposta diferente: - fabricar motores próprios? Mas vocês estão loucos, por acaso? Com tanto ouro, compramos até a fábrica deles. Não vamos gastar dinheiro à toa. Vamos passear na Europa para ver onde param as modas.
Quando se inaugurou a primeira linha férrea, o reino ficou satisfeito e disse: Temos linhas férreas. Alguém perguntou: - Vamos encher o Brasil de linhas férreas? E alguém respondeu: Com escravos e burros, vamos precisar de linhas férreas para quê?
Quando instalaram as primeiras linhas de telefone, alguém perguntou: - Vamos encher o Brasil de linhas de telefone? E alguém respondeu: Para quê? Instalem apenas onde houver instituições, indústrias, comércio e gente importante...



Passados quatrocentos anos continuamos como estávamos: Importamos tudo, não fabricamos quase nada, ou nada inventado aqui, somos um povo sempre preocupado em agradar à corte, não temos vias férreas, compramos telefones importados, não temos ainda o nosso primeiro motor a explosão, vendemos nossa terra, o que ela produz e reclamamos de espionagem... Por Deus... Espionar o quê se até eles sabem dos poços de petróleo do pré-sal que não dão mais de 20 mililitros de petróleo em cada barril extraído [iii]?
Somos ainda um povo que se julga rico, desejando agradar a uma corte, que tendo um cesto achamos que já temos um cento. O calor apela a um banho molhado em agradável companhia, sendo que a porcentagem de calcinhas e cuecas, embora se mantendo a mesma, aparentemente, o gênio dos gêneros nos possa demonstrar haver controvérsias.



Ordem e Progresso sempre... Um dia saberemos onde iremos parar. Mas tenho como certo que precisamos de novo Tiradentes, alguns inconfidentes e um rei que mesmo devasso possa gritar novamente: “Libertas Que Sera Tamen, Mantenham os laços verde e amarelos, joguem fora as estrelas”. Eles não estavam preocupados em agradar à Corte.
A corte hoje é vermelha e não é de vergonha. 

A corte já se foi e os impostos para nada são ainda mais elevados do que antanho até para fazer mais do que hoje. Continuamos a contentar-nos com o pouco que nos dão. 

© Rui Rodrigues
http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/















[i] Todos os dados são baseados em fatos históricos, nenhum é ficção.  Aceitam-se críticas, que serão bem vindas. Sempre! No entanto, surgindo dúvidas, recomendo que procure na net (mesmo achando que tem certeza do contrário).
[ii] Primeiro nome do Reino de Portugal, ainda usado nos tempos de Afonso Henriques, o primeiro rei.
[iii] Corre voz. Corre voz sobre os campos de Vermelho. 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Um dia numa agência do SUS em Cabo Frio...





Um dia numa agência do SUS em Cabo Frio...

Um amigo meu me contou. Não direi qual a agência, mas creio no meu amigo. Ele é equilibrado, e embora tenha muita coisa contra o sistema atual, sabe que ninguém nem nenhuma instituição é totalmente perfeito ou imperfeita. Há de tudo.

Esta semana foi a Cabo Frio para tratar dos dentes. Procurou o número do prédio e não encontrou... Foi e voltou no carro de um amigo, até que descobriram... O prédio tinha pintura clara e o número diminuto, quase de anotação à mão, estava disfarçadamente pintado de branco. 




O posto

Chegou cedo, preparado para tudo. Tinha marcado com antecipação sua consulta, mas, por motivos de não se ter preparado adequadamente para o caos do trânsito e dos serviços de transportes, chegou dez minutos atrasado. Eram 8:10 da manhã quando adentrou o posto. Foi direto ao balcão. Disseram-lhe para se sentar e assistir Televisão que o chamariam..  Não disseram a que horas o chamariam.

Assim que viu chegar uma senhora que chamou apenas dois nomes e eram de mulher. Como não era mulher, deixou passar, pensou que estavam chamando para ginecologia e foi beber um copo de água. Não havia copos disponíveis. Dirigiu-se novamente ao balcão... Deram-lhe um. Foi o segurança do posto, sentado ao balcão que lhe doou o copo, tirando com suas mãos e emborcando-o sobre o balcão... Claro que meu amigo percebeu logo que as mãos do segurança não deveriam estar assim tão limpas, e nem o balcão seria lugar propício para botar os lábios, beijar e dizer:

- Mamãe estou com sede!!!! Por isso, dirigiu-se com o copo até o aparelho de água gelada e recolheu uma água morna que aproveitou para passar na borda do copo antes. Como não tinha recipiente de lixo, abandonou a ideia de lavar a borda do copo e tomou aquele restinho de água de pretensa lavagem para matar a sede.

- O que não mata engorda, pensou ele pensando em sua avó, e vupt!.. Tomou de uma vez só...

Lá pelas nove e meia, levantou-se para esticar as pernas movido pela senhora que se moveu de uma cadeira quase a seu lado para uma mais perto dele. Ela disse:

- É para fugir deste buraco da parede... Nunca se sabe que tipo de vírus e coisas se escondem nestes buracos...

O amigo olhou. Era uma parede escalavrada, bem por detrás do “centro de esterilização”. Foi olhar. Lá no centro – na verdade uma saleta de dois e meio por dois metros – uma senhora avantajada colocava artefatos dentro de uns saquinhos plásticos que ela mesma, sem luvas, também fechava com durex, aquela fita colante. Ela olhou o amigo, olhou as mãos e procurou as luvas que sempre usava presas na cintura... Só encontrou uma. O amigo então se dirigiu ao balcão. Tinha algumas coisas para dizer, mas só encontrou duas: Entregar a luva da moça da esterilização que encontrara no meio do caminho, e perguntar porque seu nome não tinha ainda sido chamado...

Agradeceram as luvas e disseram que não sabiam por que não tinham chamado o amigo, mas que ele era o penúltimo... Meu amigo ficou fascinado pelas mágicas do SUS... Como funcionavam bem!... Sabiam dele, mas não lhe tinham comunicado sua existência no posto, Era um sujeito desclassificado mas existente. Então o amigo procurou saber porque razão isso acontecia.

Gente entrava e saía do posto, com uma bata branca nos braços ou dentro da mala, da bolsa.., Chegavam no posto e se abraçavam esfuziantemente  como se não se vissem havia anos, quem sabe havia mandatos... Gente sem bata médica também se abraçava esfuziantemente. Todos passavam pela segunda porta.




A segunda porta

A segunda porta é a que separa o conjunto do balcão de atendimento, a sala de espera e o centro de esterilização, das salas de atendimento médico. A esterilização está ali mesmo para todos verem que “tudo é esterilizado” mesmo que a esterilizadora tenha deixado cair a sua luva, e feche embalagens com as mãos nuas, usando fita adesiva sem ser esterilizada. Crente acredita em água benta, usuário do SUS acredita em esterilização.

Gente entrava e saía das salas de atendimento, e que nem tinham passado pelas salas de espera, onde o amigo só viu quatro ou cinco... Mais de vinte foram atendidas sem passar pela sala de espera ou balcão... Ou seja, essa coisa de chamar às oito e às nove, é para quem não é amigo ou do partido.

E em dúvida, há sempre muito mais gente para atender do que para ser atendida... 

O atendimento

Sabendo das coisas, meu amigo chegou alegre, fazendo gracinhas com o pessoal. Foi muito bem atendido, esclarecido, e até a moça da esterilização brincou com ele. Ela trabalha também com a médica que atendeu o amigo e faz a chamada de pessoal às oito e às nove... Com tanta gente empregada como que alguém pode acumular cargos e funções? Sinal de que deve ter muita gente mamando no SUS...

Saiu satisfeito do atendimento, sabendo que tem gente capacitada e expert. Uns arrancam dentes do sizo, outros os caninos, outros os molares, e provavelmente outros arrancam dentes já arrancados há anos.. Basta ver nos comprovantes de quem tirar xerox da guia de encaminhamento e mandar para um centro de espionagem do partido inimigo e ver quantos foram declarados terem sido arrancados por moças e moços simpáticos. Aquela parecia cara, mas quem vê máscaras de dentista e corações nunca sabe o que lhes passa pela cabeça. 

A sala com equipamentos limpos e completos, deu tranquilidade ao amigo. Se a moça não fosse casada, pediria em casamento. 

A marcação de consultas...

Aí foi um dó só... A moça até que era simpática, mas lidava com umas quarenta agendas daquelas compradas em papelaria no formato 20 x 30, que a uma página por dia obriga a letra miúda (por isso ela usava óculos de grau), amontoavam-se sobre sua exígua mesa logo na entrada (e saída) do posto. Enquanto  procurava por agendas, tirando umas de cima das outras, uma delas caiu. Apanhou-a e anotou algo. Procurou mais algumas e anotou mais... Deveria ser o horário da consulta...

Meu amigo logo pensou: Quando eu voltar aqui, vou logo chegar na avantajada que faz a chamada, que cuida da esterilização, eu atende a moça da observação de dentes, e levo um par de rosas para ela. Direi em frase cantante: Meu nome é “fulano de tal”... Estou na lista querida? As rosas foi o prefeito que mandou...

Mas pelo sim pelo não, o amigo voltou lá na moça simpática que olhou seus dentes e informou: Marcaram consulta com os extrativistas dentários beltrano e cicrano...

E ela respondeu: O primeiro é o do ciso... O outro é o do canino...

Meu amigo saiu feliz. Não lhe extrairiam nem um rim, nem o fígado, nem um dos olhos, nem a narina esquerda, nem as gônadas... Ninguém no posto falava cubano... Isso seria coisa de interior, para quem não entende espanhol nem com “aciento” cubano, para quem empurram esses médicos..  

E saiu do posto do SUS, com muita sorte, às 11:45... Ainda sobrava dia. Aproveitou para pagar suas dívidas de contas mensais mais o empréstimo bancário com seu salário de aposentado e ficou duro...

Gastar agora, só mês que vem... Só vai poder comparecer às consultas porque não paga transporte público. Mas em compensação, terá que viajar em pé porque os ônibus estão curtos em tamanho e são poucos... Se continuarem tascando fogo em ônibus velhos, não vai sobrar nenhum em Cabo Frio.




Alô Prefeito!.. Tem 0-800 pra conversar? Ou isso é assunto da casa civil da república, assunto do Departamento de comunicação visual ou porta-voz como quem porta-bandeira, porta-pratos ? 


Quem administra mesmo os postos do SUS ???? tem capacidade ou foi simplesmente "indicado" ou "indicada" por ser de confiança ? 



© Rui Rodrigues 

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segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

WORLD CUP 2014 - UNIVERSAL WARNING - To whom it may concern

WORLD CUP 2014 - UNIVERSAL WARNING - To whom it may concern - personal safety at risk




Brazil is currently ruled by a former terrorist who has no political capacity to maintain order and  by a bunch of corrupt politicians entrenched in Congress to govern in its own interests ... 

Brazilian citizens are not represented in the Congress, now a dark join-venture of political forces to distribute collected taxes, in part to help Fidel Castro to keep Cuban way of life.  

Please be aware that this is a year of political elections and the weather is very hot... There are no adequate security and manifests of repudiation are expected throughout Brazil in the period. 

Better you Wait for the 2018 World Cup tickets.  

Sorry, but we are working to change this Brazil. 

₢ Rui Rodrigues

Please check this.. 
http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/ 

Tradução:

COPA DO MUNDO DE 2014 - AVISO UNIVERSAL - A quem possa interessar - segurança pessoal em risco 

O Brasil está atualmente governado por uma ex-terrorista que não tem capacidade política para manter a ordem e por um bando de políticos corruptos entrincheirados no Congresso que governam em seus próprios interesses ... 

Cidadãos brasileiros não estão representados no Congresso, agora uma escura join-venture de forças políticas para distribuir os impostos recolhidos, em parte para ajudar Fidel Castro a manter a maneira cubana de vida. 

Por favor, esteja ciente de que este é um ano de eleições políticas e o clima é muito quente ... Não há segurança adequada e  manifestações de repúdio são esperadas em todo o Brasil no período. 

Melhor você aguardar a venda de ingressos para a Copa de 2018. 

Desculpe, mas estamos trabalhando para mudar este Brasil. 


RR


domingo, 2 de fevereiro de 2014

From Russia with Love


São Petersburgo


A Rússia Emergente – História, Idiossincrasia e Democracia.
 
 
O lindo e inteligente povo russo é fruto de invasões de outros povos sobre uma base étnica predominantemente eslava. Afora o estado Persa da antiguidade, a Rússia sempre foi e é o maior país - ou império – do planeta. São 17 milhões e setenta e cinco mil quilômetros quadrados com 145 milhões de habitantes e uma história rica no cenário mundial. Mas para entendermos melhor o que se passa nesta grande nação temos que retroceder na história e resumir o passado em algumas linhas.
 
 
  1.  Um pouco de História

 
Logo após um povoamento inicial na pré-história, e o degelo da era glacial, o território do sul da Rússia foi ocupado pelos Citas, povo indo-ariano de língua iraniana no século VI AC. Por outro lado, em suas investidas, os Vikings já faziam escravos a um povo que habitava os Montes Cárpatos e a sul da atual Bielorússia bem como a leste de onde hoje se situa Kiev. Os Vikings chamavam a este povo “Rus” e os utilizavam como “Slav” ou escravos. Talvez daí os nomes de Rússia e Eslavos. Até o século II DC os Citas eram o povo dominante, mas a partir daí e até o século IX DC a região foi invadida por hunos, avaros e magiares. Apesar de dominados, estes eslavos sempre foram a população dominante. O alfabeto russo, conhecido como cirílico, deve-se a um diácono cristão de Constantinopla que evangelizou os eslavos no século IX DC e criou esse alfabeto.
 
Em 1223 o povo mongol com um exército de 25.000 homens invade a Rússia e derrota as coligações na batalha do Rio Kalka fragmentando-a em pequenos principados como conseqüência. De 1236 a 1241 os Mongóis tomaram todo o território russo. Somente no século XIV, com a batalha do Rio Ugra o povo russo se livrou do domínio tártaro a quem pagava impostos regulares. Começou então uma expansão da Rússia iniciada pelo príncipe Ivan III. Ivan IV – O terrível – foi o primeiro a usar o título de Czar. Morreu louco em 1584, depois de ter sido obrigado na infância a assistir a torturas e execuções pelos nobres que mantinham a ferro e fogo os seus feudos, fez o mesmo quando assumiu o poder, tornando-se chefe da Igreja da qual expropriou os bens, perseguindo os boiardos. Tinha certamente um transtorno bipolar. Perdeu o único filho e não deixou descendência. A consolidação do território russo se deve em parte á sua gestão.
 
No século XVII a Rússia já era considerada uma grande potência européia expressa pela expansão territorial, pelo desenvolvimento da indústria e pela criação de um senado e ministérios nos moldes ocidentais. Em 1682 Pedro I ascende ao poder e em 1721 torna-se imperador do Império Russo com fortes laços comerciais com a Inglaterra e junta-se à Prússia e á Áustria contra Napoleão em 1805. Pedro I sentindo o atraso russo em termos de desenvolvimento, viaja 18 meses pela Europa e volta com idéias renovadas, começando um franco desenvolvimento russo em todos os campos da técnica, das artes e das filosofias de governo.  Expande as fronteiras do Império até a Moldávia, a Valáquia, toda a região de Amur e na Ásia central até a fronteiras da Índia.
 
Somente em 1864 foi decretada a emancipação dos servos, criando-se uma assembléia e uma junta executiva - a Zemstvo. Alexandre III voltou a reduzir as liberdades do povo russo: desprezava a influência externa que via como desnecessária e aditou princípios nacionalistas. Seu ideal era o de uma Rússia homogênea na língua, na religião e na administração. Envolveu-se em políticas anti-semitas restringindo-lhes até as profissões. Isto resultou numa emigração de judeus para os Estados Unidos da América no período de 1880 a 1920. Monarquia absolutista desde o século XVI, A Rússia chegou a 1894 tendo à frente o Czar Nicolau II num sistema absolutista tão forte e enraizado, que 25% das terras pertenciam à nobreza, rica, e 80% da população, completamente pobre, estava ligada à terra.
Sob o domínio do Czar Nicolau II, e em disputa pelos territórios da Manchúria e da Coréia, o Império Russo envolveu-se numa guerra com o Império Japonês. Com um território imensamente maior, a Rússia foi derrotada perdendo a guerra no mar em 1905. Sucederam-se revoltas populares exigindo uma mudança radical na forma de governo e aconteceu a revolta no navio de guerra - O Encouraçado Potenkim. Além de consolidar o Japão como um Império, teve esta guerra a conseqüência de demonstrar a fraqueza do governo do Czar e de ser um dos motivos que daria origem ao levante de 1917.
 
Em 1917 dá-se a revolução russa com forte e decisiva participação de Lênin que assistiu à morte de seu irmão mais velho Alexandre Uliánov por ter participado de um atentado contra o Czar Alexandre III em 1887. Stalin governou a Rússia com mão de ferro. Matou, assassinou, tudo em nome de uma ideologia que ruiu exatamente por falta do que criticava: o capital. Sem capital, a URSS começou a ruir, incapaz de manter os seus programas e planejamentos de governo. Perdia também a corrida espacial. Em 1985, Mikhail Gorbatchev assumiu o poder e lançou o livro “Perestroika” com idéias inovadoras na direção de uma reestruturação da economia e a “glasnost” no sentido de aliviar a intromissão do estado em assuntos civis. Boris Yeltsin em 1992, com o Partido comunista já na ilegalidade assume o primeiro governo liberal numa nova Rússia. Em 1999, com Vladimir Putin no governo, a nova Rússia começou a mostrar os primeiros sintomas de recuperação.
 
 
  1. Apenas um pouco sobre Idiossincrasia
 
A densidade demográfica russa é relativamente baixa. Para a riqueza do País, que tem área cultivável imensa, petróleo, diamantes, minerais, e é praticamente auto-sustentável, com indústria moderna, o que tanto se desejava no comunismo poderia ser agora possível com o capitalismo: Um país enorme, com recursos naturais, produzindo de forma inteligente, com uma população muito abaixo da superpopulação como o Japão ou Índia, uma grande classe rica e absolutamente nenhum pobre, nenhum russo excluído nem dependente do Estado. Não é isso, no entanto, o que se vê. Como em qualquer país do mundo, a ambição humana é sempre exagerada e sem fundamento realmente válido. Exigem-se cada vez maiores taxas de lucros visando o crescimento da empresa. Crescer para dominar o mercado. Nesse sentido, retém-se o capital que pára de girar e fica retido nos bancos esperando a oportunidade para “crescer”, ampliar a empresa. Perdem-se postos de trabalho. O progresso fica contido. Sobem os preços porque há menos quem compre. Segundo relatório do Banco Mundial A Rússia tem hoje cerca de 40% de sua população abaixo do limiar da pobreza, ou seja, vive com cerca de 1.000 rublos mensais, menos de 38 dólares. As expectativas são de aumento do número de pobres.
O passado russo demonstrou uma enorme capacidade de seu povo de “agüentar” situações de estresse por falta de alimentos, dinheiro, condições, tudo em nome da mãe Rússia. Fazem-se sacrifícios em nome de uma nação, mas na verdade os sacrifícios canalizam-se para uma classe que a cada dia fica mais rica. Desde 1990 cerca de oito milhões de russos morreram prematuramente. Para se ter uma idéia das discrepâncias, a Rússia ocupa o terceiro lugar no mundo pelo número de bilionários, e o 13º pelo número das maiores empresas.
A renda russa não está sendo distribuída de forma razoável pela população, e corre no ocidente a desconfiança da legalidade das eleições em que Putin foi eleito.
O povo russo é um grande povo, inteligente, e tem seus limites de aceitação do que é certo ou errado, mas tal como em qualquer outro povo, o poder embriaga e Putín, para mostrar que tem poder, deixa Bashar Al-Assad da Síria, um tirano déspota e ditador, abater 170.000 cidadãos sem que se decida a contribuir para acabar com tal genocídio. Uma faceta de Pedro – O grande – demonstram a idiossincrasia de quem governa a Rússia, como Krutchev batendo com os sapatos na mesa em plena sessão da ONU: Em sua viagem de 18 meses pela Europa e assistindo a um plenário na sessão de visitantes em Londres, Pedro foi convidado pelo governo inglês a habitar uma moradia de um aristocrata inglês. Deixou a casa com móveis quebrados e retratos utilizados como alvos de tiro. Pedro indenizou o proprietário com um enorme diamante bruto envolto num papel sujo.
 
 
3.      Um pouco ainda menos sobre democracia
 
Creio que já abordei sobre democracia na Rússia e seu histórico de povo dominado de forma cruel por seus governantes ao longo da história. Esta forma de dominar o povo é uma tradição russa. É um povo habituado a ser dominado ora por idealistas que se perderam no gozo do poder, ora por capitalistas que se perdem da mesma forma. Somente Stalin foi responsável pela morte de dois milhões de pessoas por perseguição política e oito milhões pela fome devido à sua ineficiência em proporcionar disponibilidade de alimentos, num total de dez milhões. Há quem diga que foram vinte milhões de mortes. A Rússia tenta reaprender o que é democracia mas não a encontrará nos exemplos das demais nações do mundo exceto nas dos países nórdicos, da Islândia e da Suíça, que fizeram aprovar uma nova constituição votada item por item pela população via redes sociais. Os políticos democratas já não fazem o que querem nesses países: fazem o que o povo manda ou aprova.
Em particular, Putín ainda acha que um aparente antagonismo com o Ocidente lhe dará credibilidade junto a seu povo, uma áurea de poder.
 
Rui Rodrigues

sábado, 1 de fevereiro de 2014

O homem, a macieira e a macaca

O homem, a macieira e a macaca. 


O homem e a macieira nasceram praticamente juntos. Cresceram juntos, pelo menos a partir do descobrimento da agricultura, há cerca de 12.000 anos atrás. A agricultura não poderia ter sido descoberta nas pedregosas faldas das montanhas dos Andes, nem nas geleiras dos polos, nem nas areias do deserto. Somente em lugares perto de rios, com água abundante. Por isso não é de estranhar que a fruta escolhida para o enredo da origem do homem no Paraíso e suas tribulações no lidar com ordens, ainda que divinas, tenha sido a maçã. Deus teria ordenado para não comerem da árvore da vida (a macieira) e tanto ele quanto Eva, comeram a maçã, não uma, mas provavelmente várias. Conhecendo o espírito “machista” da época, não é de admirar que tenha sido Eva a escolhida no enredo para tentar o coitado do Adão. A partir daí criou-se o mito que os Adões são sempre levados a errar – ou são enganados – pelas Evas de nossas vidas.

Na verdade, é muito fácil sermos enganados, homens e mulheres, por outros homens e outras mulheres, sendo o bastante que não esperemos, desses, que nos enganem. Até criança nos pode enganar, idosos podem enganar-nos, assim como amigos e amigas. Por isso quando nos dizem: “Mas você é muito desconfiado!...”, prepare-se: Estão querendo que relaxe para darem o bote. Mas porque teriam escolhido a maçã como catalizador do pecado, e não outra fruta qualquer como melão, cereja, pera, uva, marmelo?

Porque a maçã tem um cheiro muito agradável, uma cavidade junto ao pedúnculo que a prende à árvore e é arredondada e vermelha. Lembra um tronco de mulher de curvas generosas, a cor dos lábios, dos mamilos, da vagina e é suculenta. Mais do que isso, deveria ser talvez a fruta preferida das mulheres de 12.000 anos atrás. A cavidade junto ao pedúnculo lembra tanto o ânus quanto a vagina e naquelas latitudes e altitudes entre os rios Tigre e Eufrates, onde as primeiras civilizações apareceram, não havia bananeiras para fazerem as delícias da garotada masculina, nem as mangas para serem chupadas. Nem bananeira nem mangueira despertaram a imaginação dos povos americanos e hindus para a origem da traição humana a seus deuses. Só onde existia a sensual maçã, fazendo lembrar peitos femininos, bundas femininas, corpos femininos, ânus e vaginas.



Mas Adão e Eva não estavam sós no paraíso. Havia uma tal de Lilith [i] que teria sido na verdade a primeira mulher do Adão, mas se Lilith foi a primeira e Adão e Eva foram expulsos do paraíso, então quem teria oferecido a maçã a Adão não fora Lilith - coisa ruim – como muitos acreditam, mas a própria Eva, a segunda esposa. Após serem expulsos do Paraíso, Adão e Eva tiveram muito mais que dois filhos (Caim e Abel), pois Adão teria vivido por 930 anos. Mas o fato interessante, é que ao se associar a maçã ao sexo, somos levados a concluir que só depois de comerem esse fruto proibido os dois teriam praticado sexo, o que não é uma verdade necessariamente... É muito provável que praticassem o sexo, mas sem a conotação de “pecado” que lhe foi erroneamente atribuído ao longo dos séculos. É bem provável que Caim, o que matou Abel e foi proscrito, o judeu errante, tenha sido um filho “bastardo”.  

Porém, se as mulheres sempre gostaram de maçãs, é provável até que tenha sido o Adão a oferecer a fruta à Eva. Mas deixemos a interpretação da Bíblia e da Torá para os experts [ii], e sigamos com a nossa maçã e sua relação com o homem e a mulher.

Como sabemos sempre foi prática da humanidade manter tradições orais, quer através de histórias que são recontadas de geração em geração, quer através de cantigas. Algum fundamento tinham, alguma função teriam, como a de classificar, alertar, ensinar a viver, como deve ser o caso de não misturar a carne com o leite da cria (Torá) ou não misturar leite com manga (no Brasil). Era assim que funcionava antes da invenção da escrita e até pouco antes da descoberta da máquina de imprimir de Gutemberg. Por isso não se estranharia se, oferecer uma maçã, nas priscas eras da humanidade, fosse uma ação correspondente a uma declaração de amor ou desejo, uma forma de simbolismo como as alianças de casamento atuais. Que a cor e a forma, assim como o cheiro fazem parte da “atração” sexual, não nos restam dúvidas, e os batons, blushes, esmaltes para unhas, a cor rosa nas roupas das mulheres, são um atestado disso, lembrando sempre a cor mais viva e saudável das partes íntimas, que realçam da cor mais suave e rosada ou escura da pele humana.

Mas isto não é atributo apenas dos humanos. Macacos, incluindo babuínos, mostram em suas partes sexuais a cor vermelha de carnes polpudas e lisas como indicativo de que estão aptos para fecundação. A maçã teria o mesmo efeito, e podemos imaginar as espécies que antecederam o homo sapiens e mesmo os desta, oferecendo uma maçã para demonstrar que estavam aptos e dispostos ao ato sexual... Hoje basta um piscar de olhos, meia dúzia de letras num papel, um leve acenar de cabeça, um chapéu na janela.Mas há outras formas de testar a maturidade sexual, tal como quem apalpa maçãs... 


 Vamos comer muitas maçãs enquanto temos dentes... Quando não tivermos, tomemos suco...

© Rui Rodrigues




PS – Vale a pena ler os links das notas de rodapé. Podem surpreender....