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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Um dia numa agência do SUS em Cabo Frio...





Um dia numa agência do SUS em Cabo Frio...

Um amigo meu me contou. Não direi qual a agência, mas creio no meu amigo. Ele é equilibrado, e embora tenha muita coisa contra o sistema atual, sabe que ninguém nem nenhuma instituição é totalmente perfeito ou imperfeita. Há de tudo.

Esta semana foi a Cabo Frio para tratar dos dentes. Procurou o número do prédio e não encontrou... Foi e voltou no carro de um amigo, até que descobriram... O prédio tinha pintura clara e o número diminuto, quase de anotação à mão, estava disfarçadamente pintado de branco. 




O posto

Chegou cedo, preparado para tudo. Tinha marcado com antecipação sua consulta, mas, por motivos de não se ter preparado adequadamente para o caos do trânsito e dos serviços de transportes, chegou dez minutos atrasado. Eram 8:10 da manhã quando adentrou o posto. Foi direto ao balcão. Disseram-lhe para se sentar e assistir Televisão que o chamariam..  Não disseram a que horas o chamariam.

Assim que viu chegar uma senhora que chamou apenas dois nomes e eram de mulher. Como não era mulher, deixou passar, pensou que estavam chamando para ginecologia e foi beber um copo de água. Não havia copos disponíveis. Dirigiu-se novamente ao balcão... Deram-lhe um. Foi o segurança do posto, sentado ao balcão que lhe doou o copo, tirando com suas mãos e emborcando-o sobre o balcão... Claro que meu amigo percebeu logo que as mãos do segurança não deveriam estar assim tão limpas, e nem o balcão seria lugar propício para botar os lábios, beijar e dizer:

- Mamãe estou com sede!!!! Por isso, dirigiu-se com o copo até o aparelho de água gelada e recolheu uma água morna que aproveitou para passar na borda do copo antes. Como não tinha recipiente de lixo, abandonou a ideia de lavar a borda do copo e tomou aquele restinho de água de pretensa lavagem para matar a sede.

- O que não mata engorda, pensou ele pensando em sua avó, e vupt!.. Tomou de uma vez só...

Lá pelas nove e meia, levantou-se para esticar as pernas movido pela senhora que se moveu de uma cadeira quase a seu lado para uma mais perto dele. Ela disse:

- É para fugir deste buraco da parede... Nunca se sabe que tipo de vírus e coisas se escondem nestes buracos...

O amigo olhou. Era uma parede escalavrada, bem por detrás do “centro de esterilização”. Foi olhar. Lá no centro – na verdade uma saleta de dois e meio por dois metros – uma senhora avantajada colocava artefatos dentro de uns saquinhos plásticos que ela mesma, sem luvas, também fechava com durex, aquela fita colante. Ela olhou o amigo, olhou as mãos e procurou as luvas que sempre usava presas na cintura... Só encontrou uma. O amigo então se dirigiu ao balcão. Tinha algumas coisas para dizer, mas só encontrou duas: Entregar a luva da moça da esterilização que encontrara no meio do caminho, e perguntar porque seu nome não tinha ainda sido chamado...

Agradeceram as luvas e disseram que não sabiam por que não tinham chamado o amigo, mas que ele era o penúltimo... Meu amigo ficou fascinado pelas mágicas do SUS... Como funcionavam bem!... Sabiam dele, mas não lhe tinham comunicado sua existência no posto, Era um sujeito desclassificado mas existente. Então o amigo procurou saber porque razão isso acontecia.

Gente entrava e saía do posto, com uma bata branca nos braços ou dentro da mala, da bolsa.., Chegavam no posto e se abraçavam esfuziantemente  como se não se vissem havia anos, quem sabe havia mandatos... Gente sem bata médica também se abraçava esfuziantemente. Todos passavam pela segunda porta.




A segunda porta

A segunda porta é a que separa o conjunto do balcão de atendimento, a sala de espera e o centro de esterilização, das salas de atendimento médico. A esterilização está ali mesmo para todos verem que “tudo é esterilizado” mesmo que a esterilizadora tenha deixado cair a sua luva, e feche embalagens com as mãos nuas, usando fita adesiva sem ser esterilizada. Crente acredita em água benta, usuário do SUS acredita em esterilização.

Gente entrava e saía das salas de atendimento, e que nem tinham passado pelas salas de espera, onde o amigo só viu quatro ou cinco... Mais de vinte foram atendidas sem passar pela sala de espera ou balcão... Ou seja, essa coisa de chamar às oito e às nove, é para quem não é amigo ou do partido.

E em dúvida, há sempre muito mais gente para atender do que para ser atendida... 

O atendimento

Sabendo das coisas, meu amigo chegou alegre, fazendo gracinhas com o pessoal. Foi muito bem atendido, esclarecido, e até a moça da esterilização brincou com ele. Ela trabalha também com a médica que atendeu o amigo e faz a chamada de pessoal às oito e às nove... Com tanta gente empregada como que alguém pode acumular cargos e funções? Sinal de que deve ter muita gente mamando no SUS...

Saiu satisfeito do atendimento, sabendo que tem gente capacitada e expert. Uns arrancam dentes do sizo, outros os caninos, outros os molares, e provavelmente outros arrancam dentes já arrancados há anos.. Basta ver nos comprovantes de quem tirar xerox da guia de encaminhamento e mandar para um centro de espionagem do partido inimigo e ver quantos foram declarados terem sido arrancados por moças e moços simpáticos. Aquela parecia cara, mas quem vê máscaras de dentista e corações nunca sabe o que lhes passa pela cabeça. 

A sala com equipamentos limpos e completos, deu tranquilidade ao amigo. Se a moça não fosse casada, pediria em casamento. 

A marcação de consultas...

Aí foi um dó só... A moça até que era simpática, mas lidava com umas quarenta agendas daquelas compradas em papelaria no formato 20 x 30, que a uma página por dia obriga a letra miúda (por isso ela usava óculos de grau), amontoavam-se sobre sua exígua mesa logo na entrada (e saída) do posto. Enquanto  procurava por agendas, tirando umas de cima das outras, uma delas caiu. Apanhou-a e anotou algo. Procurou mais algumas e anotou mais... Deveria ser o horário da consulta...

Meu amigo logo pensou: Quando eu voltar aqui, vou logo chegar na avantajada que faz a chamada, que cuida da esterilização, eu atende a moça da observação de dentes, e levo um par de rosas para ela. Direi em frase cantante: Meu nome é “fulano de tal”... Estou na lista querida? As rosas foi o prefeito que mandou...

Mas pelo sim pelo não, o amigo voltou lá na moça simpática que olhou seus dentes e informou: Marcaram consulta com os extrativistas dentários beltrano e cicrano...

E ela respondeu: O primeiro é o do ciso... O outro é o do canino...

Meu amigo saiu feliz. Não lhe extrairiam nem um rim, nem o fígado, nem um dos olhos, nem a narina esquerda, nem as gônadas... Ninguém no posto falava cubano... Isso seria coisa de interior, para quem não entende espanhol nem com “aciento” cubano, para quem empurram esses médicos..  

E saiu do posto do SUS, com muita sorte, às 11:45... Ainda sobrava dia. Aproveitou para pagar suas dívidas de contas mensais mais o empréstimo bancário com seu salário de aposentado e ficou duro...

Gastar agora, só mês que vem... Só vai poder comparecer às consultas porque não paga transporte público. Mas em compensação, terá que viajar em pé porque os ônibus estão curtos em tamanho e são poucos... Se continuarem tascando fogo em ônibus velhos, não vai sobrar nenhum em Cabo Frio.




Alô Prefeito!.. Tem 0-800 pra conversar? Ou isso é assunto da casa civil da república, assunto do Departamento de comunicação visual ou porta-voz como quem porta-bandeira, porta-pratos ? 


Quem administra mesmo os postos do SUS ???? tem capacidade ou foi simplesmente "indicado" ou "indicada" por ser de confiança ? 



© Rui Rodrigues 

http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/

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