Um dia numa agência do SUS em Cabo Frio...
Um amigo
meu me contou. Não direi qual a agência, mas creio no meu amigo. Ele é
equilibrado, e embora tenha muita coisa contra o sistema atual, sabe que
ninguém nem nenhuma instituição é totalmente perfeito ou imperfeita. Há de
tudo.
Esta
semana foi a Cabo Frio para tratar dos dentes. Procurou o número do prédio e não encontrou... Foi e voltou no carro de um amigo, até que descobriram... O prédio tinha pintura clara e o número diminuto, quase de anotação à mão, estava disfarçadamente pintado de branco.
O posto
Chegou
cedo, preparado para tudo. Tinha marcado com antecipação sua consulta, mas, por
motivos de não se ter preparado adequadamente para o caos do trânsito e dos
serviços de transportes, chegou dez minutos atrasado. Eram 8:10 da manhã quando
adentrou o posto. Foi direto ao balcão. Disseram-lhe para se sentar e assistir
Televisão que o chamariam.. Não disseram
a que horas o chamariam.
Assim que
viu chegar uma senhora que chamou apenas dois nomes e eram de mulher. Como não
era mulher, deixou passar, pensou que estavam chamando para ginecologia e foi
beber um copo de água. Não havia copos disponíveis. Dirigiu-se novamente ao
balcão... Deram-lhe um. Foi o segurança do posto, sentado ao balcão que lhe
doou o copo, tirando com suas mãos e emborcando-o sobre o balcão... Claro que
meu amigo percebeu logo que as mãos do segurança não deveriam estar assim tão
limpas, e nem o balcão seria lugar propício para botar os lábios, beijar e
dizer:
- Mamãe
estou com sede!!!! Por isso, dirigiu-se com o copo até o aparelho de água
gelada e recolheu uma água morna que aproveitou para passar na borda do copo
antes. Como não tinha recipiente de lixo, abandonou a ideia de lavar a borda do
copo e tomou aquele restinho de água de pretensa lavagem para matar a sede.
- O que
não mata engorda, pensou ele pensando em sua avó, e vupt!.. Tomou de uma vez
só...
Lá pelas
nove e meia, levantou-se para esticar as pernas movido pela senhora que se
moveu de uma cadeira quase a seu lado para uma mais perto dele. Ela disse:
- É para
fugir deste buraco da parede... Nunca se sabe que tipo de vírus e coisas se
escondem nestes buracos...
O amigo
olhou. Era uma parede escalavrada, bem por detrás do “centro de esterilização”.
Foi olhar. Lá no centro – na verdade uma saleta de dois e meio por dois metros –
uma senhora avantajada colocava artefatos dentro de uns saquinhos plásticos que
ela mesma, sem luvas, também fechava com durex, aquela fita colante. Ela olhou
o amigo, olhou as mãos e procurou as luvas que sempre usava presas na
cintura... Só encontrou uma. O amigo então se dirigiu ao balcão. Tinha algumas
coisas para dizer, mas só encontrou duas: Entregar a luva da moça da
esterilização que encontrara no meio do caminho, e perguntar porque seu nome
não tinha ainda sido chamado...
Agradeceram
as luvas e disseram que não sabiam por que não tinham chamado o amigo, mas que
ele era o penúltimo... Meu amigo ficou fascinado pelas mágicas do SUS... Como
funcionavam bem!... Sabiam dele, mas não lhe tinham comunicado sua existência no
posto, Era um sujeito desclassificado mas existente. Então o amigo procurou
saber porque razão isso acontecia.
Gente
entrava e saía do posto, com uma bata branca nos braços ou dentro da mala, da
bolsa.., Chegavam no posto e se abraçavam esfuziantemente como se não se vissem havia anos, quem sabe
havia mandatos... Gente sem bata médica também se abraçava esfuziantemente.
Todos passavam pela segunda porta.
A segunda porta
A segunda
porta é a que separa o conjunto do balcão de atendimento, a sala de espera e o
centro de esterilização, das salas de atendimento médico. A esterilização está
ali mesmo para todos verem que “tudo é esterilizado” mesmo que a esterilizadora
tenha deixado cair a sua luva, e feche embalagens com as mãos nuas, usando fita
adesiva sem ser esterilizada. Crente acredita em água benta, usuário do SUS
acredita em esterilização.
Gente
entrava e saía das salas de atendimento, e que nem tinham passado pelas salas
de espera, onde o amigo só viu quatro ou cinco... Mais de vinte foram atendidas
sem passar pela sala de espera ou balcão... Ou seja, essa coisa de chamar às oito
e às nove, é para quem não é amigo ou do partido.
E em dúvida, há sempre muito mais gente para atender do que para ser atendida...
E em dúvida, há sempre muito mais gente para atender do que para ser atendida...
O atendimento
Sabendo
das coisas, meu amigo chegou alegre, fazendo gracinhas com o pessoal. Foi muito
bem atendido, esclarecido, e até a moça da esterilização brincou com ele. Ela
trabalha também com a médica que atendeu o amigo e faz a chamada de pessoal às
oito e às nove... Com tanta gente empregada como que alguém pode acumular
cargos e funções? Sinal de que deve ter muita gente mamando no SUS...
Saiu
satisfeito do atendimento, sabendo que tem gente capacitada e expert. Uns
arrancam dentes do sizo, outros os caninos, outros os molares, e provavelmente
outros arrancam dentes já arrancados há anos.. Basta ver nos comprovantes de
quem tirar xerox da guia de encaminhamento e mandar para um centro de
espionagem do partido inimigo e ver quantos foram declarados terem sido
arrancados por moças e moços simpáticos. Aquela parecia cara, mas quem vê máscaras de dentista e corações nunca sabe o que lhes passa pela cabeça.
A sala com equipamentos limpos e completos, deu tranquilidade ao amigo. Se a moça não fosse casada, pediria em casamento.
A sala com equipamentos limpos e completos, deu tranquilidade ao amigo. Se a moça não fosse casada, pediria em casamento.
A marcação de consultas...
Aí foi um
dó só... A moça até que era simpática, mas lidava com umas quarenta agendas
daquelas compradas em papelaria no formato 20 x 30, que a uma página por dia
obriga a letra miúda (por isso ela usava óculos de grau), amontoavam-se sobre
sua exígua mesa logo na entrada (e saída) do posto. Enquanto procurava por agendas, tirando umas de cima
das outras, uma delas caiu. Apanhou-a e anotou algo. Procurou mais algumas e
anotou mais... Deveria ser o horário da consulta...
Meu amigo
logo pensou: Quando eu voltar aqui, vou logo chegar na avantajada que faz a
chamada, que cuida da esterilização, eu atende a moça da observação de dentes, e
levo um par de rosas para ela. Direi em frase cantante: Meu nome é “fulano de
tal”... Estou na lista querida? As rosas foi o prefeito que mandou...
Mas pelo
sim pelo não, o amigo voltou lá na moça simpática que olhou seus dentes e
informou: Marcaram consulta com os extrativistas dentários beltrano e
cicrano...
E ela
respondeu: O primeiro é o do ciso... O outro é o do canino...
Meu amigo
saiu feliz. Não lhe extrairiam nem um rim, nem o fígado, nem um dos olhos, nem
a narina esquerda, nem as gônadas... Ninguém no posto falava cubano... Isso
seria coisa de interior, para quem não entende espanhol nem com “aciento”
cubano, para quem empurram esses médicos..
E saiu do
posto do SUS, com muita sorte, às 11:45... Ainda sobrava dia. Aproveitou para
pagar suas dívidas de contas mensais mais o empréstimo bancário com seu salário
de aposentado e ficou duro...
Gastar
agora, só mês que vem... Só vai poder comparecer às consultas porque não paga
transporte público. Mas em compensação, terá que viajar em pé porque os ônibus
estão curtos em tamanho e são poucos... Se continuarem tascando fogo em ônibus velhos,
não vai sobrar nenhum em Cabo Frio.
Alô Prefeito!..
Tem 0-800 pra conversar? Ou isso é assunto da casa civil da república, assunto do Departamento de comunicação visual ou porta-voz como quem porta-bandeira, porta-pratos ?
Quem administra mesmo os postos do SUS ???? tem capacidade ou foi simplesmente "indicado" ou "indicada" por ser de confiança ?
© Rui
Rodrigues
http://conscienciademocrata.no.comunidades.net/
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