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sábado, 1 de fevereiro de 2014

O homem, a macieira e a macaca

O homem, a macieira e a macaca. 


O homem e a macieira nasceram praticamente juntos. Cresceram juntos, pelo menos a partir do descobrimento da agricultura, há cerca de 12.000 anos atrás. A agricultura não poderia ter sido descoberta nas pedregosas faldas das montanhas dos Andes, nem nas geleiras dos polos, nem nas areias do deserto. Somente em lugares perto de rios, com água abundante. Por isso não é de estranhar que a fruta escolhida para o enredo da origem do homem no Paraíso e suas tribulações no lidar com ordens, ainda que divinas, tenha sido a maçã. Deus teria ordenado para não comerem da árvore da vida (a macieira) e tanto ele quanto Eva, comeram a maçã, não uma, mas provavelmente várias. Conhecendo o espírito “machista” da época, não é de admirar que tenha sido Eva a escolhida no enredo para tentar o coitado do Adão. A partir daí criou-se o mito que os Adões são sempre levados a errar – ou são enganados – pelas Evas de nossas vidas.

Na verdade, é muito fácil sermos enganados, homens e mulheres, por outros homens e outras mulheres, sendo o bastante que não esperemos, desses, que nos enganem. Até criança nos pode enganar, idosos podem enganar-nos, assim como amigos e amigas. Por isso quando nos dizem: “Mas você é muito desconfiado!...”, prepare-se: Estão querendo que relaxe para darem o bote. Mas porque teriam escolhido a maçã como catalizador do pecado, e não outra fruta qualquer como melão, cereja, pera, uva, marmelo?

Porque a maçã tem um cheiro muito agradável, uma cavidade junto ao pedúnculo que a prende à árvore e é arredondada e vermelha. Lembra um tronco de mulher de curvas generosas, a cor dos lábios, dos mamilos, da vagina e é suculenta. Mais do que isso, deveria ser talvez a fruta preferida das mulheres de 12.000 anos atrás. A cavidade junto ao pedúnculo lembra tanto o ânus quanto a vagina e naquelas latitudes e altitudes entre os rios Tigre e Eufrates, onde as primeiras civilizações apareceram, não havia bananeiras para fazerem as delícias da garotada masculina, nem as mangas para serem chupadas. Nem bananeira nem mangueira despertaram a imaginação dos povos americanos e hindus para a origem da traição humana a seus deuses. Só onde existia a sensual maçã, fazendo lembrar peitos femininos, bundas femininas, corpos femininos, ânus e vaginas.



Mas Adão e Eva não estavam sós no paraíso. Havia uma tal de Lilith [i] que teria sido na verdade a primeira mulher do Adão, mas se Lilith foi a primeira e Adão e Eva foram expulsos do paraíso, então quem teria oferecido a maçã a Adão não fora Lilith - coisa ruim – como muitos acreditam, mas a própria Eva, a segunda esposa. Após serem expulsos do Paraíso, Adão e Eva tiveram muito mais que dois filhos (Caim e Abel), pois Adão teria vivido por 930 anos. Mas o fato interessante, é que ao se associar a maçã ao sexo, somos levados a concluir que só depois de comerem esse fruto proibido os dois teriam praticado sexo, o que não é uma verdade necessariamente... É muito provável que praticassem o sexo, mas sem a conotação de “pecado” que lhe foi erroneamente atribuído ao longo dos séculos. É bem provável que Caim, o que matou Abel e foi proscrito, o judeu errante, tenha sido um filho “bastardo”.  

Porém, se as mulheres sempre gostaram de maçãs, é provável até que tenha sido o Adão a oferecer a fruta à Eva. Mas deixemos a interpretação da Bíblia e da Torá para os experts [ii], e sigamos com a nossa maçã e sua relação com o homem e a mulher.

Como sabemos sempre foi prática da humanidade manter tradições orais, quer através de histórias que são recontadas de geração em geração, quer através de cantigas. Algum fundamento tinham, alguma função teriam, como a de classificar, alertar, ensinar a viver, como deve ser o caso de não misturar a carne com o leite da cria (Torá) ou não misturar leite com manga (no Brasil). Era assim que funcionava antes da invenção da escrita e até pouco antes da descoberta da máquina de imprimir de Gutemberg. Por isso não se estranharia se, oferecer uma maçã, nas priscas eras da humanidade, fosse uma ação correspondente a uma declaração de amor ou desejo, uma forma de simbolismo como as alianças de casamento atuais. Que a cor e a forma, assim como o cheiro fazem parte da “atração” sexual, não nos restam dúvidas, e os batons, blushes, esmaltes para unhas, a cor rosa nas roupas das mulheres, são um atestado disso, lembrando sempre a cor mais viva e saudável das partes íntimas, que realçam da cor mais suave e rosada ou escura da pele humana.

Mas isto não é atributo apenas dos humanos. Macacos, incluindo babuínos, mostram em suas partes sexuais a cor vermelha de carnes polpudas e lisas como indicativo de que estão aptos para fecundação. A maçã teria o mesmo efeito, e podemos imaginar as espécies que antecederam o homo sapiens e mesmo os desta, oferecendo uma maçã para demonstrar que estavam aptos e dispostos ao ato sexual... Hoje basta um piscar de olhos, meia dúzia de letras num papel, um leve acenar de cabeça, um chapéu na janela.Mas há outras formas de testar a maturidade sexual, tal como quem apalpa maçãs... 


 Vamos comer muitas maçãs enquanto temos dentes... Quando não tivermos, tomemos suco...

© Rui Rodrigues




PS – Vale a pena ler os links das notas de rodapé. Podem surpreender....










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