A tensão da vida moderna e os programas da TV
pública.
(Só para você... Que já
nasceu na era da Televisão e das telecomunicações...)
Antigamente não havia nada do
que dispomos hoje nesse campo da inventiva humana. Só se conhecia o rádio e o
telégrafo. Quando quis falar com meu pai desde Lisboa até o Rio de Janeiro, na
década de 50, onde ele estava, fui até o edifício da Marconi com meus tios e
falei de lá. Eu tinha sete anos. Só cerca de cinco anos depois a TV estaria ao
dispor de meia dúzia de portugueses e mesmo assim só funcionava em cerca de um
terço do dia: De cerca das seis horas da tarde até a meia noite. Tudo a preto e
branco. Já em 1962 ouvi as transmissões da Copa do Mundo no Chile, logo aqui ao
lado, por rádio. Tínhamos TV, mas não havia como transmitir em direto. Os
lances do jogo víamos através do Canal-100, uma empresa que transportava
curtas-metragens com os principais fatos ao redor do mundo e os “publicava” um
pouco antes do inicio dos filmes nos cinemas do Brasil. O mundo andava mais
devagar, as comunicações eram lentas, e os locutores punham ênfase exagerada em
suas transmissões para “botar pilha” na moçada e atrair a preferência da
audição para as suas respectivas emissoras. Sobretudo gritavam muito. Nossa
adrenalina atingia níveis extremos através de nosso canal auditivo. Já na
década de 70 era comum andar pela rua com um rádio colado à orelha
preferencialmente para ouvir música. Outros tempos... Era necessário “botar
pilha” para dar a emoção – exagerada- que os patrocinadores aconselhavam, e a
ausência de imagem exigia para parecer “ao vivo” transmitindo para uma multidão
de “cegos”... E muito pior, quando nos botam pilha dizendo uma coisa e nós vendo outra...
Mas algo ficou. Fausto
Silva, o Faustão, é dessa época, ou parece ser e não evolui nada. Ele bota
pilha pelos ouvidos de formas exageradas, cansativas, irritantes. Silvio
Santos, que é mais idoso que o Faustão, muito mais, consegue ser bem mais
moderno: A pilha está na ação a que assistimos em seus programas, e sua voz é
pausada, calma, relaxante, embora ele mesmo faça parte do programa. Experimente
assistir e comparar se ainda não o fizeram... A “pilha” está na ação e cada um
de nós bota a pilha que quiser, sozinho ou acompanhado em sua casa, no bar,
onde quer que o assista. Claro que quem não gosta não assiste e para isso basta
dar um “clique”, mas há muitos lugares no Brasil onde o único canal com sinal
disponível é o da emissora à qual o Faustão “pertence”. E não é só o Faustão
que grita de forma exagerada, abusa da entonação vocal e “bota pilha” como
vendedor de baba da cobra na Treze de Maio ou na Saara do Rio de Janeiro... Os
que transmitem jogos de futebol ou qualquer esporte pela TV botam pilha de
forma indiscriminada. Os lances podem não ser excitantes, o jogo pode estar
quase parado, mas lá estão eles gritando, botando pilha, irritando a ponto de nos
obrigar a dar um clique para acabarmos com aquela poluição auditiva. E eu dou
sempre que me sinto irritado pela transmissão. A propaganda segue o padrão com fundos
musicais “excitantes”, pesadamente sonoros, como hinos nacionais tocados em
meio a batalha sangrenta.
Num mundo cada vez mais
agitado que nos gera tensões a cada instante, ou os senhores que estão á frente
das programações dos canais de TV pública aprendem a geri-los de acordo com a
vida moderna, ou estarão fadados à queda de audiência, à ineficiência das
propagandas. A NET dá alternativas de escolha que a TV pública não dá. A
juventude está se afastando da TV e eu sou um jovem de 70 anos...
Se desejar ver programas engraçados
que não “invadam” agressivamente a sua opção sexual, religiosa, ou política,
assista o “Chaves” no SBT ou” a Praça é Nossa”. Zorra Total é apenas para um
público muito em especial, assim como a maioria das novelas, uma poluição
visual herdada ainda dos tempos do rádio em que se precisava de “pilhas”. Hoje
cada um bota a pilha que quer mesmo que dure menos.
® Rui Rodrigues