Brasil em impasse político
Uma breve passagem pela história do Brasil pode constatar a improbidade no trato da “res pública”, ou coisa pública, desde os tempos das capitanias, passando pelo Império, chegando à república desde Marechal Floriano até os dias de hoje.
Já houve rebeliões de todos os tipos, movimentos de secessão, e Vargas já amarrou o cavalo no Obelisco do Rio de Janeiro quando esta cidade era a capital da República. Nem houve tiros na revolução de 1964, quando o Brasil estava caminhando para a esquerda política. Depois de décadas sob governo liderado por militares, a esquerda e os terroristas do passado tomaram o poder, não por mérito, mas por esperança de uma igualdade que não existe em lugar nenhum do mundo. Difícil dizer se foi Lula que usou a esquerda ou a esquerda que usou Lula para a consecução desta tomada de poder, mas sabe-se e é patente que foram os amigos empresários de Lula que mais se aproveitaram e ainda se aproveitam. Os escândalos bradam aos céus, ainda mais quando se sabe que com a economia controlada, obras que custavam milhões passaram a custar bilhões, algumas levadas a concorrência com projetos feitos às pressas e equivocados. Obras paradas custam dinheiro porque os juros altos correm. Sucessivos escândalos e perdões de dívidas, com serviços de saúde decadentes, ensino sufocado, transportes públicos deficientes e em estado de sucata, segurança deficiente com dezenas de mortes todos os dias sem solução, aliados a uma inflação na casa dos dois dígitos porque a Petrobrás resolveu aumentar os combustíveis para cobrir furos de administração, levaram o povo para as ruas.
A Constituição foi sistematicamente alterada por Medidas Provisórias, verbas públicas foram colocadas à disposição de amigos da presidência como Eike Batista que se tornou bilionário e agora está à beira da falência, e uma verba gorda foi colocada à disposição da presidência sem que tenha de fazer comprovação dos gastos. Parlamentares aumentaram por várias vezes os seus salários e estabeleceram que somente trabalhariam de terça a sexta, recebendo horas extras para resolver os problemas da nação, exatamente o trabalho que são obrigados a fazer em tempo hábil devido à preferência dos que os elegeram. São esses mesmos que usam a força aérea brasileira para fazer as suas viagens, porque resolveram não se mudar para Brasília, onde fica a sede do governo.
Uma política de juros altos, os mais altos do mundo, como são os da Selic, provocaram juros de até nove por cento ao mês em empréstimos bancários e com um povo com um IDH tão baixo, um dos menores da América Latina, clientes de banco não sabem fazer contas de juros nem de juros compostos, devendo até a alma, sem diabo para quem a vender. Boa parte ainda paga dízimos a Igrejas. Cartões corporativos são um poço sem fundo para pagar despesas evitáveis e até particulares e os amigos do regime que se beneficiam regozijam diariamente e desfilam por shoppings e aeroportos o seu “status” de comunistas de rolex.
Com os cofres do Estado abertos, e uma das maiores taxas de impostos do mundo, o dinheiro desaparecia como que por um só canal. Ainda havia oposição, até o dia em que resolveram se associar. Os partidos políticos se associaram, deixou de haver oposição, o fluxo de esvaziamento de caixa público aumentou. Quantidades maciças de dinheiro público injetadas na Caixa Econômica Federal e no BNDES foram usadas a pretexto de obras de transposição do Rio São Francisco, em estádios e obras para a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, para “tapa buracos” de estradas e para financiamento de empresários com o pretexto de gerar empregos. As obras atrasaram, algumas nem saíram do papel, as estradas estão ainda mais esburacadas do que nunca, um monumento de mais de um milhão de reais em homenagem a um ET em Varginha nunca foi acabado. As verbas se perdem e jorram mais que água canalizada para o Rio S. Francisco. Numa viagem para a posse do Papa, a presidente do Brasil, ex-terrorista, agora com rolex, carregou amigos em magote gastando milhões em hotéis de luxo, uma rica comitiva de um país sem educação, sem saúde, sem segurança, sem estradas, sem transportes dignos e compatíveis com a sétima colocação no ranking das nações mais ricas.
Ufanando-se de ter tirado da miséria cerca de 50.000.000 de cidadãos, verifica-se que na verdade isso não aconteceu. O que aconteceu é que com uma bolsa-família dividida por família de cerca de 4,2 pessoas em média, ninguém saiu da miséria e continuam vivendo nas mesmas casas, tendo os mesmos problemas, o dinheiro recebido gasto em qualquer coisa, até em drogas. Não se investiu em praticamente nada do setor produtivo. O PIB decresceu enquanto os demais países cresciam – os BRICS - o capital estrangeiro começou a tomar outros rumos. É notória a incompetência do ministro Mantega, mas continua sendo mantido no governo porque atende os interesses dos que governam a nação, o que inclui os políticos eleitos, os substitutos não eleitos, os que andam pelos corredores de Brasília, do tipo dos que escondem dinheiro no sutiã, nas meias, nas cuecas.
No senado, condenados não perderam seus cargos, o que colocou em oposição o povo indignado, cada vez mais, contra o Senado que os acolheu e alguns juizes do Supremo que defenderam tão ansiosamente os réus como se fossem advogados de defesa de baixo calão em defesa da honra de marido violento, jogando sobre a esposa traída a pecha da indecência.
Com o movimento das ruas, laivos perdidos de moral e de ética passaram a ser comentados mais por medo de perderem eleições do que pela própria moral e ética. A oposição pareceu renascer, mas de forma tímida até que foi atacada com a questão do metrô de S. Paulo, para contrabalançar os efeitos do Mensalão. Posição e oposição mentem, os demais partidos são fracos exatamente por isso: Em vez de serem oposição saudável, denunciando os podres a que certamente assistem e se calam, além de ter um bom e inovador programa de governo, tentam tirar partido da disputa partidária dos dois maiores partidos, no intuito de dividir o poder.
Assistimos assim a um Brasil dividido entre a posição da OAB, do Ministério Público, dos partidos políticos, do Senado, forças armadas da reserva dividem-se entre direita e esquerda, o povo observando o resultado de seu movimento nas ruas. Todos uns contra os outros. Se a moral e a ética forem muitas, não importa o quanto ainda há no caixa, nos cofres. Se a moral e a ética não forem suficientes, o caixa se arrombará por completo como caixas 24 horas de Bancos assaltados pela madrugada, como costumavam fazer os vereadores, os deputados e os senadores quando votavam coisas de seu próprio interesse.
Ó Pátria amada, salve, salve...
Se salve, Pátria Amada!
Até que todo o povo vá para as ruas, com uma só bandeira:
A do Brasil, verde, amarela, cor de anil,
Com o universo de estrelas de todos os Estados da Nação,
E onde esteja escrito “ordem e Progresso” em que se possa acreditar.
© Rui Rodrigues