Já não conheço este Brasil. Onde anda o zarolho?
Esqueci o hino!... Porque não faz mais sentido...
Restaram-me os amigos tão incrédulos quanto eu. Não é sonho, é realidade.
Nem há fronteiras... Drogas, armas, mercadorias entram e
saem sem controle, no que pese a tecnologia moderna que se despreza por que a
lei é ainda mais permissiva do que as frágeis e inúteis fronteiras onde não há
guarda credível e eficiente.
Grupos armados de traficantes, ladrões e ativistas agem
impunemente espalhando o terror, porque presos, a lei solta em troca de fianças
mesmo para crimes inafiançáveis. Presos, podem usar telefones das prisões e
continuar comandando os crimes. Suas contas em bancos não são devassadas, e na
saída da prisão têm o “futuro” garantido. Morrem mais cidadãos dentro das
risíveis fronteiras do que em guerras pelo mundo afora. Se tivéssemos
terroristas confessos no governo, não nos seria pior a vida, mas ligeiramente
igual. O crime parece compensar aos olhos esbugalhados de uma população
temerosa da própria vida.
O povo vulgo ao ouvir tiros morro acima, morro abaixo e
pelas cidades florestas e prados, chega a pensar que é coisa das elites contra
o governo e que este merece ser defendido, mas por vulgar, não percebe que é o
próprio governo o grande inimigo da cidadania que não protege, não cuida,
desdenha. Crêem, os do governo, que por eleitos podem fazer o que querem,
porque as forças da nação os protegem. Partidos se locupletam na divisão das
verbas públicas que, distribuídas documentadamente, não chegam ao seu destino
incólumes. As que chegam, chegam estropiadas, insuficientes, caem em saco roto
que mãos ávidas desnecesitadas, apressada e dissimuladamente escamoteiam, tudo
sob os olhares de boi morto da lei. A lei não é cega: tem olhos de boi morto. Confunde-se
socialismo social com socialismo partidário, democracia com concordância quando
interessa e discordância livre sem obrigação de se ser ouvido em reclamações. A
liberdade de imprensa tem pernas curtas e jornalistas são assassinados. Presos
que são também políticos são mancomunadamente considerados como presos
políticos. Confundiram o socialismo social com o direito de roubar impunemente.
A pena aplicada, considerando a devolução das verbas roubadas considerou não o
total, mas pequena parte, não fizessem eles parte do partido no poder e que
lhes nomeou juízes. Aqueles que compraram com as verbas roubadas, continuam
votando tudo no Congresso nacional. Nem se sabe quem são, mas eles, os que
estão no governo, sabem.
Há hospitais, médicos e enfermeiros, transportes,
professores, escolas e merenda escolar. Mas reza-se para não se precisar deles,
e mesmo quando se paga, a peso de ouro, não há garantias de nada. Joga-se a
vida nos dados viciados do azar do momento. A propaganda do governo está tão
viciada quanto eles. A Ordem se perdeu sem Progresso. O Progresso se perdeu na
Desordem. O socialismo se corrompeu mais do que o capitalismo porque não sabe
lidar com o capital: Gasta enquanto há e arranja desculpas para o gasto. Quando
acaba, pede emprestado, não paga, dá calote, culpa o passado, o capitalismo.
Temos agora um socialismo completamente capitalista, ignorante e selvagem. Viadutos caem um atrás do outro ainda em fase
de construção. As valas de esgoto continuam a céu aberto, as estradas
esburacadas. Urubus do FMI estão de
malas prontas, cheias de dinheiro para empréstimos. Já vimos isso antes, e
veremos de novo em breve.
O Brasil mudou-se para fora das permissivas e descontroladas
fronteiras e não se sabe onde está. As forças armadas estão muito ocupadas no
morro do alemão, o crime tem armas iguais às do policiamento, derrubam
helicópteros, a aviação nacional voa promessas de fé no futuro. A base da
Antártida queimou-se, a barreira do Inferno perdeu a tecnologia nacional de
foguetes. O salário de aposentados não consegue pagar os remédios e os alimentos já comidos por inflação e impostos. A turba malta, crédula e crente, acredita que vive
momento de glória porque a esquerda chegou finalmente ao poder. Como se Jesus
tivesse ressuscitado. De porre de vinho e empanturrado de pão feito com trigo
ainda argentino. Reduziram o tamanho das hóstias, em breve as bocas ficarão
menores. É o milagre da divisão do nada entre todos os famintos.
Ar e água são vendidos ao mesmo preço pelas tubulações
residenciais, mas entra mais ar do que água; os sinais de concessionárias para uso de Internet são
interrompidas a todo o instante, não cobrem o território que dizem cobrir, e é
tanto mais fraco quanto mais caro que ao redor do mundo. País pobre que é
cobrado como se fosse rico. E nem temos frota de respeito, não temos uma Nasa,
importamos armas para defesa nacional. O orgulho das vitórias no futebol, que
antes serviam de “mas” para nosso atraso geral internacional, perdeu de sete a
um. Está lanterna.
O país do futuro ficou no passado. O futuro chegou com
futuro imprevisível, alheio, ausente talvez. Que o diga a juventude. A inflação
não inflacionou a confiança, a fé, a vontade de continuar progredindo na ordem
para o progresso. Ou com progresso na ordem...
Que pesadelo é este, se não é um sonho? Mas, se em terra de
cego quem tem um olho é rei, onde anda o zarolho?
® Rui Rodrigues