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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Manitu e Alce Pensativo


Manitu e Alce Pensativo
(Certo dia na América do Norte, há muitas luas)


È nos momentos mais difíceis da vida das sociedades que as soluções mais inusitadas aparecem. Não são exatamente soluções, mas dão esperanças por algum tempo, acalmando a sociedade, e quando os problemas insolúveis voltam, já se tem a quem pedir ajuda: Aos longínquos, mudos, surdos e cegos deuses que vivem no além, por detrás de todas as coisas, onde não se podem ver, escutar e de onde não vem som nem eco. Mas uma coisa é certa: Quem fez a paisagem que se vê e que não se vê, entendia muito de mecânica celeste e de engenharia genética. “Por acaso” dá-se ao resultado de uma pequena quantidade de variantes, como o resultado de uma loteria, mas jamais para tantas quantas as leis da natureza e da vida.  

Muitas luas atrás, quase uma infinidade delas, Alce Pensativo, da tribo dos Sioux andava preocupado como sempre. A tribo lhe dera esse nome porque meditava muito, andava quase sempre apático, meio que rejeitado pela tribo, onde apenas homens fortes tinham valor e eram desejados pelas mulheres. No entanto o respeitavam porque tinha idéias sobre algo mais poderoso que poderia atemorizar a tribo e dominá-la, dando-lhe uma unidade, protegendo-a, e não permitindo que apenas um chefe ditasse as ordens e as leis:

Pensava sempre no chefe da tribo, Urso Feroz, que mandava e desmandava em tudo, em todos os aspectos daquela sociedade de pouco mais de mil indivíduos. A tradição Sioux era que apenas um chefe mandava neles. Nenhuma tribo tinha dois chefes. À noite, por vezes, reunia em sua tenda os mais fortes guerreiros para decidirem sobre castigos a dar a algum indivíduo que havia transgredido as suas leis. Nessa hora, puxava de um cachimbo, enchia-o de tabaco, prendia-lhe fogo com a brasa que sempre ficava acesa para garantir o fogo da tribo, e dava enormes baforadas em silêncio. Só ele fumava o cachimbo e só alguém falava depois que ele começasse a falar. Urso Feroz não era admirado: Era temido.  Na verdade, o que Alce Pensativo desejava era que Urso Feroz sumisse da paisagem. Mas não sabia como, porque ele tinha todos os fortes guerreiros de seu lado. 

Naquela noite decidia-se a sorte do irmão de Alce Pensativo, Rato da Pradaria, que abusara sexualmente de uma mulher da tribo, linda, família de um nobre guerreiro adulado por Urso feroz. Uns diziam que a moça, Flor da Pradaria, olhava languidamente para o réu e de certa forma o incitara ao abuso. Outros diziam que não, que ela era apenas simpática e ria-se para todos os homens da tribo. Seja como tenha sido, nessa noite Rato da Pradaria seria muito provavelmente condenado a ser enterrado na areia, com a cabeça para fora, esperando os corvos lhe virem comer os olhos, logo depois que sua cabeça se abatesse de sede sobre a areia quente, os lábios estalados pelo sol, a pele vermelha e cheia de bolhas. Era uma morte horrível, e quem não morria ficava para exemplo. Alce Pensativo providenciaria para que, pelo menos uma vez na história da tribo, se fizesse justiça contra um chefe que ele e outros na tribo julgavam injusto. A oportunidade apareceu antes do esperado. Foi nesse instante que um dos guerreiros saiu da tenda, e disse aos que esperavam do lado de fora pelo resultado do julgamento:

- O tabaco de Urso Feroz acabou e ele quer mais...

Alce Pensativo foi o primeiro a responder:

- Eu tenho uma reserva de folhas secando, à espera, para oferecer ao grande chefe Urso Feroz. Vou buscar.

Saiu correndo, foi até sua tenda, pegou as folhas de tabaco quase secas e misturou-as a outras folhas também secas de uma planta conhecida como trombeta ou figueira-do-diabo [1] e as levou para a entrada da tenda. Ao guerreiro que as recebeu, disse-lhe:
- Vou rezar ao deus da natureza para que se faça justiça. Meu irmão é inocente. Deus falará hoje a toda a tribo provando que isto é verdade.

- E como esse deus que nunca vimos, de que você fala, poderia afetar a decisão de nosso chefe? – perguntou o guerreiro.

- Vai...Depois explico. Primeiro o grande chefe deve ser atendido com o tabaco, o mais puro da planície que cultivamos junto aos montes.

Na tenda, o grande chefe sem dizer nada, cheirou o tabaco. Era de primeira. Mordeu um pouco de uma folha e sentiu-lhe o sabor apimentado. Amassou o restante das folhas com as mãos e foi-as introduzindo em seu cachimbo. Depois pegou a brasa e acendeu-o. Nesse instante ouviu-se do lado de fora uma cantilena gutural, de som ondulante, dizendo Manitu. O chefe perguntou o que era aquilo. Um dos guerreiros disse que era Alce Pensativo. Ele achava que o irmão era inocente e estava rezando a um tal de deus da pradaria, Manitu, que faria sua justiça no caso. O chefe encolheu os ombros e deu suas baforadas, longas, retendo o fumo nos pulmões até quase não poder respirar. Então foi ficando relaxado, suas pupilas se abriram, seus olhos ficaram vermelhos e iniciou o conselho, sob os sons externos de Alce Pensativo entoando seu mantra “Manitu”. Então gritou extasiado, os olhos esbugalhados, levantando as mãos para os céus:

- O que o guerreiro Rato da Pradaria fez foi inaceitável, contra as regras da nossa nação sioux. Deve ser enterrado até que os corvos lhe comam os olhos!

Em seguida, num rompante, foi como se tivesse levado um soco no estômago. Levantou-se, tirou a roupa, pulava feito doido, até que, exausto caiu para nunca mais se levantar. O chefe estava morto. Quando os guerreiros saíram para dar a triste notícia, segurando o chefe com os braços, mantendo-o no ar, depararam-se com Alce Pensativo, ainda ajoelhado, que interrompeu seu mantra. Apenas disse:

- As leis quem faz é Manitu. Hoje se fez justiça. Aprendam com isso. Não é só a força do chefe que manda na grande nação Sioux. É preciso alguém mais que decida em conjunto com o chefe.

Levaram Urso Feroz para o meio da pradaria, para o alto de uma pequena colina e pela primeira vez levantaram estacas sobre as quais esticaram peles unidas de bisão para que o corpo pudesse ficar estendido contemplando o céu e a paisagem, a paisagem de Manitu. Seria comido pelos abutres, seus olhos pelos corvos mais ágeis que chegariam primeiro, reciclando a natureza, mas enquanto seu espírito não desaparecesse, teria tempo de aprender sobre seus atos, manteria a aldeia atenta em torno de sua ainda existência, que faria exatamente o mesmo.  

Na noite seguinte os guerreiros se reuniram em conselho. Pela primeira vez convidaram Alce Pensativo que também, pela primeira vez, ofereceu o cachimbo a todos os guerreiros começando pelos menos importantes da tribo, os que tinham menos penas em seus cocares, selecionando-os por tipos de pena. Penas de águia eram os mais fortes. Se de coruja, os mais fracos. Declinou o convite para se tornar o chefe da tribo alegando que não era suficientemente forte, mas que aceitaria uma nova posição que dividiria o poder do chefe: O de conselheiro espiritual, sob a inspiração de Manitu, o deus da nação Sioux.
Rato da Pradaria foi enterrado vivo. O conselho reiterara a sentença de Urso Feroz, dando como inadmissível o seu comportamento.

E assim foi, como de forma diferente também foi em muitos outros lugares da Terra, o planeta onde se “fabricam deuses” [2] que parecem “justos”, por inspiração divina.

Rui Rodrigues




[1] “A erva do diabo” - Datura stramonium - Segundo Carlos Castañeda, a "cabeça" mais forte é a das folhas, que podem matar. As outras três são a raíz, o caule e as sementes. 
[2]  Parece certo que o Universo não pode ter sido construído nem aparecido por puro acaso. Nem há apenas um universo. Então um Deus o terá construído ou dado inicio a sua formação. Mas são tantos os deuses, e as suas características, que não pode um Deus único ter tantos perfis diferentes em nosso planeta. Ou todas as religiões estão equivocadas, ou todas elas não têm uma visão perfeita do que é ser DEUS!... 

terça-feira, 7 de maio de 2013

Sexo e filhos.



Sexo e filhos.
 John Lennon e Yoko Ono

Quando eu tinha quatro anos uma mocinha de sete, passeando a sua mascote com uma amiga, me levou para um recanto e fiquei conhecendo a diferença entre um homem e uma mulher. Ela disse que o meu órgão ainda era muito pequeno, mas que iria crescer como os dos meninos de dez anos. Sexualidade infantil existe, sempre existiu. Nossa percepção é que não nos permite perceber quando uma criança está ou não preparada. Somos todos deficientes em percepção, e falar em sexo aos nove anos parece um absurdo. Filho de pais separados, e conhecendo bem os problemas de um casamento que não deu certo, além, evidentemente, de ver e ouvir o que acontecia à minha volta, tomei minhas providências quando pela primeira vez namorei a sério e daí em diante. Há muitas formas de demonstrar amor e fazer sexo sem penetrar, igualmente prazerosas para o casal. O uso de camisinhas que naquela época eram alvo dos olhares das beatas em farmácias, quando compradas por menores de idade ou mesmo adolescentes mais velhos, hoje já não é desculpa para não serem usadas, e a AIDS contamina de forma irreversível. Além dos problemas de saúde, há a possibilidade de gerar um filho não desejado.

Quando meus filhos tinham respectivamente 10 e 12 anos, e contra todas as prescrições de como ensinar crianças sobre a atividade sexual levei para casa seis camisinhas, chamei as crianças, contei-lhes de onde vinham os bebês, e dei três para o meu filho e mais três para minha filha. Informei em que condições deveriam fazer sexo, coisa que seria muito mais tarde, mas que já ficavam sabendo. Minha mulher, hoje ex-esposa, fez coro comigo na primeira aula sexual de meus filhos, ainda preocupada se era cedo ou não. Por experiência própria sei que não era cedo. Deu certo!

Aos sete anos entrei para a escola. Nem pensar naquela época fazer o maternal aos três ou cinco anos. Talvez o maior problema fossem dois: Meu pai não tencionava pagar-me os estudos por aquela época, nem mesmo com 17 anos apesar de sempre ter sido primeiro ou segundo aluno das turmas. O outro problema era o dinheiro. Não dava para tudo. Mas aos 11 anos ouvi uma aula de geografia sobre a China e a Índia. Como faziam filhos... Eram extremamente populosas e suas diversões, suas horas de relaxamento para compensar a dura vida parecia ser mesmo a atividade sexual. Então começou a correr voz sobre o “perigo amarelo”: O mundo temia uma expansão territorial chinesa pelo excesso populacional. Já não se fala mais nisso, mas ainda tenho uma pulga atrás da orelha sobre o assunto. Hoje sei que este planeta não se estica, não se expande como o Universo e que em decorrência não há lugar para fazermos mais filhos. O planeta está ficando cheio, empanturrado, lindas crianças enchem o mundo de alegria. Serão pessoas tristes quando forem adultas, porque quanto mais gente, mais difícil é a vida pela competição por alimentos e oportunidades de emprego. A competição é enorme e a cada dia piora. Uma das formas de controle populacional é o capitalismo: Só pode ter filhos quem tem consciência e dinheiro e quem não tem, tem filhos e cria problemas. Quem tem dinheiro faz ainda mais ou se diverte mais porque não gasta com filhos, ou gasta apenas com um ou dois. Em função disso, a população de alguns países está decrescendo. Parece evidente que quanto mais cresce a população de um país menor é a “renda per capita”, o que obriga a maior desenvolvimento da nação. Se a nação não se desenvolve como necessário para comportar tanta gente, gera pobreza, e quanto mais pobres têm filhos, mais pobres nascem. Estatísticas indicam que por volta do ano 2.500 o planeta estará atulhado de gente que, colocada ombro a ombro, cobriria toda a superfície deste pequeno e ínfimo planeta mirim.
Prostituição infantil - Uma praga 
Por falta de educação, em todos os níveis, famílias de classes menos beneficiadas costumam ter índice maior de natalidade. Os filhos vêm geralmente a partir dos doze anos, mas há casos de moças bem mais jovens que engravidam. Não tanto por falta de educação, mas também e principalmente por outros fatores cujos principais são a oportunidade das moças saírem de casa e começarem nova vida, ou para obterem no sexo uma compensação para as tristezas. O maior deles talvez seja a insegurança e as faltas, muitas vezes de alimentos, que um estranho mais velho e maduro lhes pode proporcionar durante o seu “namoro”. A falta de educação sexual, nesses casos, é problema comum a jovens rapazes e meninas. No que tange à prostituição infantil, com a falta de educação, e portanto de oportunidades de emprego, fica evidente que vender o corpo parece ser o modo mais simples e imediato de conseguir se alimentar, vestir, ter um lugar para dormir. Como a maior parte de nós perde a sua infância para se tornar um adulto, um “homem”, à luz das escrituras e de tradições ancestrais, uma boa parte entende que a mulher foi feita para o homem, que a este pertence, e que deve ser explorada como mãe, como mulher, como filha, ou como “estranha”. Os livros religiosos, de qualquer religião, não são adequados à libertação da mulher, à igualdade da mulher perante os homens. Todos os livros fazem a apologia do homem sobre a mulher. E são as mulheres que engravidam e parem. É preciso fortalecer a mulher sob todos os aspectos desde a nascença, torná-las mais “homens” sem, contudo, perderem a feminilidade (as que quiserem)...


Freud já falava no inconsciente coletivo: Sentimentos de verdades dos quais não se tem conhecimento consciente, mas que residem no mais profundo da nossa mente em estado latente, mais ou menos como se fosse uma “intuição” não perceptível, mas que nos conduz na vida sem termos consciência disso. Ora, todos temos consciência de que este mundo está ficando superlotado, e o pressuposto do aumento da população gay em função do inconsciente coletivo não perderia muito em consistência para sua explicação.  Como vivemos num universo que prima pela simetria, que só foi quebrada no inicio da fase de sua maior expansão exponencial, é natural que, em oposto ao inconsciente coletivo da homossexualidade como controladora da expansão populacional, crianças de apenas nove anos [1]de idade já estejam mantendo relações sexuais e gerando filhos: Como se a natureza se incumba, através de suas leis, de manter uma determinada natalidade. Isto é preocupante na medida em que nós, os mais idosos, pais dessas crianças, não estejamos preparados para lidar com este novo problema.
 Menina grávida aos nove anos
Por outro lado, e não menos preocupante, o mundo finalmente entendeu o valor do dinheiro e já não se fala em comunismo, socialismo, a não ser por uma meia dúzia atuante de enganados políticos. Todos nós, cerca de sete bilhões e meio de pessoas amamos o dinheiro, incluindo a Rússia, a China, o Vietnam, Cuba, Venezuela, Argentina... Sendo assim, e como urge ganhar dinheiro para se gastar, fazem-se filmes, musicas, incitando ao sexo como terapia de vida. Crianças escutam musicas com a “dança da garrafa”, “ai se eu te pego”, “mexendo o bumbum”, canais de TV, rádios, fazem propagandas “inocentes” destas musicas tentando vender, vender, vender... E a curiosidade das crianças as desperta mais cedo para o sexo, como que sendo algo “permissível” e “aconselhável”. Gangues organizadas em todo o mundo promovem a exploração e a prostituição infantil, bandidos já se atrevem a estuprar menores com ônibus dominados em movimento e para tudo isto não há ordem nem lei que realmente se imponham... Mulheres e homens fazem plástica porque não querem envelhecer, vestem-se como mais jovens... A qualidade de vida parece voltada para uma meta de obtenção de sexo e dinheiro, e pior, a qualquer preço.

Não, não sou moralista e muito menos falso moralista. O mundo caminha como caminha e temos que nos adaptar educando melhor as crianças em nossos lares. Apenas creio que estamos caminhando por um caminho de pétalas de flores que nos levam a um mar de espinhos e de urticantes caravelas portuguesas. E se pensam que a religião é uma solução... É ledo engano. As religiões também mudaram e nem foi para melhor ou para pior[2]: Foi para terem mais dinheiro.

Ao prepararmos as nossas crianças para o “mundo”, para qual mundo, exatamente, as estamos preparando?


Rui Rodrigues
(Este artigo tem muito mais de política do que aparentemente se possa pensar. Governos já não são paternais nem nos protegem, se é que algum dia o foram. No Brasil, drogas, prostituição infantil e corrupção estão incontroláveis)




O despertar do monstro humanidade


O despertar do monstro humanidade





O Adamastor
Cada um de nós costuma olhar para si mesmo, fechar todas as portas e analisar o mundo que vê e sente. O problema maior de nossa incompreensão do mundo é exatamente esse: O que vemos e o que sentimos não é o mundo real. É apenas aquele que nossa percepção permite “entender”, fruto de nossa ignorância. A realidade está escondida. Uma forma muito simplista de mostrar essa nossa ignorância, é que dividimos o mundo entre “paisagem“ e ”humanidade“, sem percebermos que a humanidade faz parte da paisagem, e que é ela, a humanidade, que nos guia.
Mas o que é então a humanidade, o que faz, o que pensa?
A mais adequada forma de entendermos o que é a humanidade, da qual fazemos parte, parece ser assemelhá-la com uma enorme nuvem que aparece no céu, e que avistamos a bordo de uma embarcação. Se nossa embarcação é um bote, temos que ter muito receio da enorme nuvem escura. A bordo de uma caravela, também, mas um pouco mais seguros. Se estivermos navegando num porta-aviões, ainda nos podemos dar ao luxo de sairmos de avião ou helicóptero, dar uma olhada na nuvem, tirar algumas conclusões e nos sossegarmos ou tomarmos algumas providências. Se formos algumas gotas de água da nuvem, olharemos para baixo, para o ínfimo porta-aviões e nem nos questionaremos sobre o que seja “aquilo”. Se enfrentarmos a tripulação do porta-aviões, da caravela ou do bote, seremos imobilizados ou no mínimo ignorados. Estes dois castigos nos dão o sentimento de não pertencermos a um “grupo”, de nulidade, de quase não existência. É este sentimento de “existir”, pertencer a um grupo que nos aglutina à humanidade, fazendo parte integrante dela como a tal gota de chuva. E mesmo sendo apenas uma pequena gota de chuva da nuvem, não podemos nos comportar de forma muito diferente do restante das gotas, sob pena de cairmos ao mar, regarmos a terra para que a vida nela floresça. Mesmo não sendo gotas de chuva, também fertilizamos o solo com nossos corpos inertes. 
E a própria nuvem se desfaz em gotas: Chove na Terra e a fertiliza.

A humanidade é uma nuvem de gente
Agora, com esta imagem, já podemos imaginar o que é a humanidade, o que faz, e o que pensa.
A humanidade é o conjunto dos seres vivos, cada um com sua dose de conhecimento, de preferências de comportamento, de músicas, de arte, de trabalhos, de tudo o que compõe este mundo como num supermercado, onde cada um compra o que pode e o que quer. De cada unidade de humanidade a que chamamos de seres vivos, pessoas, alguns despontam por qualquer qualidade particular apreciativa ou depreciativa. Muitas vezes apreciamos algum indivíduo, masculino ou feminino por alguma qualidade particular, mas somos obrigados a rejeitar e empurrar lá para o fundo de nosso inconsciente, bloqueados por conceitos de família, de grupo, de nação, ou da própria humanidade. Outras vezes seguimos o que alguém diz, os seus modos, a sua filosofia, algo que nos chamou a atenção, não fere a humanidade. Foi assim com René Descartes, um francês que disse que neste mundo nada se cria nada se perde, tudo se transforma. É verdade! Mas René Descartes referia-se à química das partículas. Porém se olharmos para o Universo vemos a mesma lei: nuvens de poeira se transformam em estrelas, as estrelas explodem depois de fabricarem os elementos pesados, os elementos pesados geram planetas e novas estrelas, e o ciclo recomeça. A Terra, como planeta “Gaia”, também não foge à regra: Corpos mortos, árvores mortas, fertilizam o solo, geram novas plantas, as plantas evoluem, alimentam novos e outros seres, que também evoluem, e a água segue o mesmo caminho: Vem das nuvens, cai no solo, purifica-se, evapora, forma nuvens, chove em terras e oceanos.

De vez em quando alguém, ou uma parte da humanidade desperta e toda ela fica iluminada, transparente. O céu fica azul, há esperanças para o futuro porque a solução para algo, por menos importante que possa parecer, foi descoberto por alguém, por alguma nação. Somos uma sociedade cuja sobrevivência necessita de novas descobertas a cada dia, como as de Einstein, Newton, Sabin, Madame Curie e tantos outros.

Religiosos apenas nos deram esperanças para um novo mundo, normalmente situadas para lá das fronteiras da morte, mas nós vivemos neste mundo, e é deste mundo que temos que cuidar. Temos de fazer deste mundo o paraíso que perdemos enquanto não nos preocupamos com a educação, com as descobertas da técnica. Não estaríamos agora com sete bilhões e meio de indivíduos se não tivesse sido descoberta a agricultura, o pau de plantar, o arado, a engenharia genética. Já teríamos perecido todos em guerras por sobrevivência.
Tempestades fazem a história da humanidade 
É neste aspecto que a humanidade é um monstro que se pode destruir a si mesmo, como a nuvem Adamastor, desfeita em gotas de água que os ventos da história empurraram para longe. Somos gotas de água da humanidade, a humanidade é uma enorme nuvem feita de gente. Por isso a preocupação com o seu despertar. Parece que vivemos um momento histórico onde a pressão financeira de uma crise criada em 2008 por banqueiros, empurra para debaixo da ponte e para as ruas da amargura milhões de pessoas na Europa e já fez os seus estragos nos EUA. Na América Latina, mais inculta, políticos inescrupulosos aproveitam-se da crise para fazer renascer esperanças vãs de que o comunismo, o esquerdismo de Mao e Lênin podem ser implantados e resolver a situação. Políticos e empresários do apocalipse aproveitam o momento para roubar tudo o que podem como se o mundo fosse acabar amanhã. As forças públicas já não dão conta de tantos bandidos que agem em qualquer lugar, a qualquer hora e matam sem sequer ter motivo, certos de que não há lugar na prisão para todos e que a justiça se compra. Esta é a face da crise na América latina. Políticos vão para as televisões com caras de anjo, dizendo que fazem progressos e que se forem eleitos ou seus recomendados se elegerem a vida ficará melhor.

Mas se virmos a nuvem negra Adamastor como um conjunto de placas de nuvem, aglomeradas, veremos que se uma delas se desfizer em água, jogando suas gotas sobre o oceano, a nuvem toda pode desintegrar-se e, de igual forma se desfazer em água. Costuma ser terrível o despertar do monstro chamado humanidade

Há uma responsabilidade inerente a cada um de nós, porque fazemos parte da nuvem, fazemos parte da humanidade.  

Rui Rodrigues

sábado, 4 de maio de 2013

Desvendado o mistério da Atlântida!





Atlântida - A verdade à luz de Platão.

A verdade é que a Atlântida nunca existiu... Ooopsss... Mas Platão disse que sim, e ele tem “peso” de credibilidade.
Platão – ou Arístocles - o filósofo e matemático grego, sabia da verdade, mas apenas ele sabia se a Atlântida existira ou não. Foi o fundador da Academia de Atenas, discípulo de Sócrates e criou os fundamentos da moderna filosofia. Vejamos como ele chegou à Atlântida, porque certamente esteve “lá”. Quer ela existisse de fato, ou apenas em suas “idéias”.
Sigamos os passos de Platão e tentemos “viver” como se fossemos ele, em seu tempo, cercado das suas realidades e interpretemos os fatos à luz de sua filosofia.

Estátua de Platão                                                                                  
  1. A Grécia e o mundo de Platão.
Grécia: Um pequeno país, uma potência mundial na península do Peloponeso.  
Como lidar com isto a nível psicológico nos idos de 428 AC, com uma outra potência, Roma, ali bem ao lado em uma outra península, a Itálica, rosnando todos os dias pela disputa de territórios e mercados?
Era preciso organizar tudo na vida dos gregos: Os empreendimentos, as campanhas, a preparação com treinos físicos, a mente com exercícios, o soldado ateniense e espartano tinha que ser o melhor, o que tinha mais instrução, o mais bem armado e organizado. A ordem deveria prevalecer sobre o caos. Sócrates tinha suas próprias idéias e a transmitiu a seu melhor aluno: Platão. Mas Platão também tinha sua própria filosofia. Vivia num mundo em guerra em que raro se faziam prisioneiros, e não havia a menor consideração com velhos, mulheres e crianças. Quando Platão nasceu, Péricles o grande general vencedor ateniense tinha falecido no ano anterior. Os ecos das disputas e guerras ainda ecoavam pelas ruas de Atenas, que buscava um substituto para Péricles.  

  1. Platão e sua filosofia
 Universidade de Atenas- Pintura de Rafael Sanzio
Para ele havia que romper com a superficialidade das coisas e penetrar na realidade mais profunda. Sua preocupação maior era com a justiça e o ser humano. Para se ser justo, havia que conhecer todas as coisas não pela sua aparência, mas pela realidade imutável (realidade inteligível), esta sem os “adornos” (ou realidade sensível) que nos desviam a atenção – conhecida como a “teoria das idéias”. Esta filosofia era tão séria e importante para Platão que criticava e menosprezava as artes, que via como representações da realidade, e não a realidade em si, por mais belas que fossem. Para ele as artes não tinham a importância que a realidade deveria ter na vida. Podemos dizer que Platão tinha demasiadamente os “pés no chão”, a vida era uma coisa séria e muito importante. A realidade intrínseca das coisas, para Platão era atemporal, não sensorial. Os nossos sentidos podem enganar-nos[1]. A guerra para Platão deveria ser um instrumento de defesa, não de ambição. A república deveria beneficiar os cidadãos, não apenas particulares. Contrariamente a Sócrates era um homem de família e sempre discutiu a relação pais e filhos sob o ponto de vista de ter como finalidade a educação para que os filhos viessem a ser bons cidadãos.

Em “Platão, carta sétima, 326b” ele afirma sobre a política: "Os males não cessarão para os humanos antes que a raça dos puros e autênticos filósofos chegue ao poder, ou antes, que os chefes das cidades, por uma divina graça, se ponham a filosofar verdadeiramente”.

E, sobretudo, quando Sócrates disse “conhece-te a ti mesmo”, Platão ainda seu discípulo entendeu que o conhecimento era o conhecimento da alma, não do resto que se “vê”, e que encobre toda a verdadeira realidade.


  1. A Oligarquia (tirania) dos trinta e a perseguição a Platão e a Sócrates.

Trinta tiranos de famílias ricas, pró Esparta, estabeleceram uma oligarquia e passaram a dominar em Atenas. Restringiram os direitos, apenas 500 cidadãos poderiam participar de cerimônias legais, e 3.000 podiam usar armas ou receber um julgamento com júri. Os demais eram escória que não valia nada para os oligarcas. A pena de morte normalmente, largamente aplicada, se cumpria pela ingestão de cicuta, um poderoso veneno que causa morte lenta. Milhares de cidadãos foram exilados. Condenados pelo sistema, Platão foi salvo por amigos que lhe pagaram a fiança[2]. Sócrates preferiu a morte pela cicuta. Foram acusados de “corromper” – na verdade apenas politicamente - a juventude.

Atenas vivia momentos de guerra com outras potências, uma guerra de unificação de ideais entre Atena e Esparta pelo predomínio da península, e uma ditadura representada pela Oligarquia dos Trinta. Numa época em que o Acordo de Genebra ainda estaria longe de ser aprovado pelas nações da terra, o ambiente era de puro terror, de incerteza pelo dia de amanhã. Completa insegurança. E isso porque razão?

No entendimento de Sócrates e Platão, porque os governantes não analisavam as realidades intrínsecas, voltadas para o cidadão e a família, e se fixavam na aparência das coisas. Nenhum governante era suficientemente conhecedor de filosofia, e nenhum deles aceitava a divisão da alma em três partes como Platão: A racional, na cabeça; a irascível no tórax; a concupiscente no baixo ventre. E muito menos, por mais difícil de entender, que havia três virtudes aplicadas ao Estado: A sabedoria, que deveria (estar na cabeça) ser o governante, que deveria ter caráter e dominar a razão; a coragem que deveria ser o peito do estado, ou seja, os soldados imbuídos de vontade; a Temperança que deveria estar no baixo ventre do estado, isto é, nos trabalhadores com seu desejo das coisas sensíveis.
Morte de Sócrates por cicuta -com seus amigos 

  1. Como dar aulas de filosofia, ou expor idéias e ideais, num ambiente como o de Atenas no tempo de Platão?

Cerca de 488 anos depois de Platão, quando este tinha 30 anos, outro homem de 30 anos sofria o mesmo problema na palestina. Como falar ao povo que se devia unir para impor a ordem na palestina, derrubar o monstro romano, ter a paz divina na Judéia? Jesus Cristo acreditava que o fim dos tempos do domínio romano estavam no fim. D’Us, seu pai, o ajudaria no empreendimento, não fosse ele o Messias. Para não apressar sua morte, Jesus falhou-lhes, aos discípulos – não fossem traí-lo - por parábolas. Assim falava também ao povo nos seus sermões. Jesus não temia os sacerdotes do templo, porque estava destinado, por ser da tribo de Levy, a sumo sacerdote do templo de Salomão. Temia os romanos que o poderiam crucificar. As parábolas tiravam a conotação de discurso político e asseguravam que não pudesse ser julgado como terrorista ou dissidente, ou revoltoso.

Jesus já ouvira falar de Sócrates e de Platão. Platão fizera o mesmo em Atenas para não ser condenado à morte sem apelação: Contara a parábola de Atlântida.


  1. Atlântida – a parábola de Platão.
Atlântida tal como descrita por Platão 
Em duas obras suas Platão se refere à Atlântida: no Timeu, ou a Natureza, e em Crítias ou Atlântida. Nelas Platão descreve uma ilha situada para “além” das colunas de Hércules, que um sacerdote egípcio da cidade de Saís teria contado a Sólon, um legislador, jurista e poeta grego, considerado um dos sete sábios da Grécia antiga. A história teria acontecido há 9.600 anos atrás. A ilha era rica em ouro, cobre, minerais, e num metal cor de fogo chamado de “oricalco”. Era dividida em círculos concêntricos atravessados por pontes. Nela havia uma jovem órfã chamada clíto [3] , por quem Poseidon se apaixonou. Habitaram no centro da ilha numa casa cercada de muros e fossos aqüíferos, e tiveram cinco pares de gêmeos[4]. Ao mais velho, Poseidon chamou de Atlas. A ele lhe deu o controle da ilha rica também em vegetais.
O sacerdote egípcio contou mais: Que se reuniam os governantes, todos filhos de Poseidon, para falarem de si, entre si, sem lutas, quando aproveitavam para maltratar um touro e beber-lhe o sangue em comemoração. Não há referências a como vivia o povo, os atlantes. A ilha desabou e mergulhou no oceano, num dia e numa noite, devido a uma catástrofe.
Colunas de Hércules, ou seja, Gibraltar
Porque razão considerar a história de Atlântida contada por Platão como uma parábola? Por alguns motivos lógicos - seguindo a filosofia de Platão -  e muito simples.

  • Platão não podia falar abertamente sobre sua filosofia. O Estado poderia mandar matá-lo definitivamente, e ele não tinha pretensão de agir como Sócrates que aceitara de bom grado a própria morte, envenenando-se com cicuta na frente de seus seguidores. Platão nem foi à solenidade, alegando estar doente.
  • Atlântida tinha invadido Atenas – Como as histórias verbais – tradição oral - transmitida ao longo dos séculos não era do conhecimento dos atenienses?
  • Onde ficava exatamente a Atlântida? A única informação do Egípcio é que ela se situava para “além” das colunas de Hércules, mas dependendo de onde estava o sacerdote egípcio, a situaria para dentro ou para fora do Mediterrâneo, já que as colunas de Hércules correspondem a dois maciços ou montanhas, uma de cada lado do estreito de Gibraltar que separa o Mediterrâneo do Atlântico[5]. Platão, ou o Egípcio não pretendiam informar a localização exata. Poderia até ser num reino vizinho à Grécia se fosse o caso de uma parábola para instrução dos atenienses.
  • Atlântida era uma nação organizada, rica, coberta de ouro, tudo o que um povo pode desejar. Por isso se lutava, no mundo real, num esforço incessante em ter tudo o que os “olhos” vêm: Poder, riqueza, paz e tranqüilidade. Será isto uma “coisa” alcançável? Não era este o problema dos governantes espartanos e atenienses?
  • Segundo o sacerdote egípcio, contado por Platão, os deuses helênicos partilharam a terra: Atenas ficou para a deusa Atena e para Hefesto, e a Atlântida para o reino de Posidon, o deus dos mares. Como não entender que se refere a Atenas e a Esparta, se a própria Atlântida fazia parte da herança dos deuses helênicos?
  • A história é contada por um sacerdote egípcio – que tinha credibilidade no meio helenístico – e não por Platão por motivos óbvios já expostos. Para os efeitos da “censura” da oligarquia, Platão estaria apenas contando “uma história”.
  • Que importância poderia ter a festa em que matavam um touro – ou qualquer outro animal - e lhe bebiam o sangue, em Atlântida, não fosse pelo valor intrínseco de chuparem o sangue de algo? O povo, por exemplo!...
  • E as cores das casas fabricadas com pedras amarelas, vermelhas e brancas, poderiam ser de outra cor qualquer que não mudaria a moral da história. Mas para quem vê apenas a superficialidade das coisas, a paisagem identificaria a Atlântida com um país qualquer, como por exemplo, a ilha de Creta - Civilização cretense - onde a fama de tourear já era conhecida.
  • A implosão da ilha e de todos os seus habitantes sem deixar rastro, não é uma prova mais do que evidente de duas coisas? Ninguém sobrou para contestar ou suportar a história de Platão; E que todas as civilizações têm um fim, porque se fixam nas aparências (a realidade sensível) e não na realidade imutável (a inteligível).

Não encontrei nenhuma referência a que a história de Atlântida fosse uma parábola de Platão, mas fiquei convencido de que só poderia ser. Jesus conhecia as obras de Platão que tinha vivido cerca de 480 anos antes. Dos 12 aos 30 anos não se conhece a história de Jesus nem de sua influência com a seita de Quram. Esta também conhecia os escritos de Platão cujas obras estavam, em cópia, em Alexandria. E, definitivamente, nossos ancestrais humanos da época de Platão eram realmente tão inteligentes quanto nós somos. Seus conhecimentos é que ainda eram restritos. Platão foi o terror da Igreja católica medieval e foi proibido de ser lido. Entende-se a razão: a fé não é uma razão e muito menos uma realidade inteligível: É sensível. O pensar era igualmente proibido, baseado na célebre frase sem sentido “faz o que te digo, não faças o que eu faço”. Ficou até nossos dias.

Rui Rodrigues


[1] Nos tempos modernos, votar em J.F. Kennedy porque é um homem “bonito”, ou em Lula que promete de forma simpática e paternal, ainda que não cumpra e desperdice mais do que está destinado ao povo do que o que lhe dá.
[2] Não esquecer que Platão era filho de famílias ricas e influentes, com contatos inclusive com Ciro, rei da Pérsia.
[3] Possível nome do qual derivou clitóris.
[4] Jesus também seria fruto de uma relação entre a mãe e D’Us. D’Us jamais faria uma coisa dessas com um homem tão santo quanto José, esposo de Maria.  A semelhança é originada da mitologia grega e romana em que deuses transavam com seres humanos. Algo como nos dias de hoje, extraterrestres transarem com “abduzidas”.
[5] O Oceano atlântico é assim denominado devido à Parábola de Platão sobre os atlantes, que habitavam a Atlântida por sua localização – se olhássemos apenas o superficial e não a alma de Platão. 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O futuro político do Brasil – Sem muita filosofia.



O futuro político do Brasil – Sem muita filosofia.
 Votar apenas para legitimar ???
Já chegaram os tempos frenéticos da propaganda política. Lula e Dilma – o casal 13 da política – já começaram a propaganda. O Senado continua sendo tão problemático quanto as câmaras de deputados e os demais poderes da Ré-Pública. Ré-pública, porque deveria estar no banco dos réus, publicamente, sendo julgada. Há divisões gritantes entre os poderes, e não são por divergência política, mas por corrupção. E corrupção não é uma filosofia política. É uma deturpação da ética, da moral, da filosofia, execrável até nos antigos países comunistas onde ela corria solta, e nos sistemas capitalistas onde ainda é um modo de “crescer” na vida... Parece estarmos assistindo a uma inversão total dos padrões morais e éticos. Não se pode pensar de forma diferente vendo condenados agindo livres no Congresso, dando a impressão – e a certeza – de que a lei mudou. Mudou para pior, tirando dos cidadãos o resto de confiança que tinha em seus governos. Grande parte dos congressistas, eleitos por força de compra de votos e enganos políticos sobre uma população que sofre de falta de instrução, nem sabe no que vota nem no alcance das propostas a votar. Vota por “fidelidade” aos partidos.

Há um aparente alinhamento do PT, agora no governo, com sujeitos como o presidente da Síria Bashar Al-Assad que dinamita bairros matando indiscriminadamente; o primeiro ministro do Irã Ahmadinejad falastrão que odeia o ocidente; com o Hamas palestino desejando a independência da Palestina sem, entretanto, lutar com o mesmo ânimo para que este reconheça o Estado de Israel; com o “chavismo” que só existe na cabeça de um grupo de venezuelanos e que ninguém sabe exatamente de que se trata; além de simpatias “políticas” com regimes falidos como o da Argentina, do Peru, da Bolívia, e de Cuba, onde sob todos os “n tons de cinza” de regimes ditatoriais, os mesmos políticos se perpetuam no poder sob o rótulo de “eleições democráticas”. Claro que, usando as verbas públicas para comprar votos e as forças policiais para conter multidões de indignados, vão ganhar sempre. As demais prioridades de estado não têm a menor importância porque os povos já estão habituados à falta de tudo, e até de democracia. Tal como os crentes, os petistas “populares” montam no povo como almocreve em burro, acenando com a cenoura da “revolución”, mas mantêm tudo como estava, desmentindo através de propaganda como no tempo do Stálin. O PT não tem filosofia política. Usa a filosofia da esquerda da guerra-fria para se perpetuar no poder. Os russos queriam dachas e vodka, os petistas querem direito a casa sem trabalhar, a salários sem trabalhar, a diplomas sem estudar, a status sem educação... É o “socialismo besta”, sul-americano – único lugar do mundo onde existe - nos anos 2.000. Os empresários protegidos agradecem, os outros vão à falência. O povo, iludido, reza ao PT como se Jesus tivesse ressuscitado. É a “alopradação” da política, a esperança na “promessa”, a fuga da realidade. O crime anda à solta pelas ruas das cidades sul-americanas: os partidos no governo não podem atacar e reprimir os seus simpatizantes que podem vir a ser de grande utilidade em caso de futura “luta armada”.

E o que temos para combater isto?
Não temos nada! Usaram a democracia para comunizar. O poder tem as forças armadas que são obrigadas a atender uma constituição remendada com uma infinidade de remendos a que chamam de MP - Medida Provisória. A constituição que as forças armadas juram, é a original sem emendas. Mas nem esta está atualizada. Deveria ser substituída por outra submetida a voto popular, item por item, para ser realmente democrática (uma proposta que pode agradar a gregos e troianos, está emhttp://conscienciademocrata.no.comunidades.net/).

Não temos políticos novos. Todos estão “velhos”, alguns de antes do tempo da ditadura, senadores vitalícios. Parece incrível, mas é verdade. Há senadores e deputados vitalícios no Brasil, sem necessidade de aprovações no Senado como aconteceu com Pinochet no Chile. O Brasil parece um rebanho de ovelhas tocado por cães “pastores”, obedientes convictos. O rebanho acredita na “palavra”, espera a qualquer instante que Jesus volte em todo o seu esplendor. Depois do feijão com arroz, o que movimenta a nação brasileira é a fé. Fé em qualquer coisa. Então, agora, que chega a nova oportunidade de expressar nas urnas a vontade popular, novamente se comprarão votos. E quem está com maior poder de compra? O PT, que está no governo. Já compraram votos com a bolsa-família e outros engodos, porque o bolsa-família não tira ninguém da pobreza. Pode tirar da miséria, mas não da pobreza. A propaganda e os shows pagos a peso de ouro, enganam muito. Tudo parece bem, mas a crise financeira internacional vai cobrar seu preço e os desperdícios governamentais irão aparecer em toda a sua perversidade. Os próprios adeptos do PT acabarão com o PT, mas para isso será necessário que a nação chegue ao fundo do poço, para que se veja e entenda. Hoje, a falta de instrução não permite ver nem entender. É preciso que se “desenhe” o fundo do poço.

José Serra, além de fazer parte de um partido associado – financeiramente - ao PT, não goza de popularidade e tem alto índice de rejeição. Não é candidato. Marina Silva, com sua candura de política infantil está longe de resolver os problemas da democracia, mas seria uma bela opção para pelo menos se tentar. Aécio Neves deve uma fábula à justiça, coisa de bilhões de reais. De modo geral, os Partidos políticos nos “empurram” os candidatos que querem, sem consultar os cidadãos. E os políticos que nos “empurram”, são sempre as mesmas “putas velhas”, os mesmos “macacos velhos” que vêm na política a sublimação de suas ambições que jamais seriam conseguidas com trabalho honesto e duro. Num país de cego, quem tem um olho, pelo menos, é político. Lula sabe disso.

E a propósito de Lula, e de Dilma, provavelmente ganharão as próximas eleições, com o apoio do povo, mas o povo não ganhará nada... Só mais propaganda para continuar tendo fé no futuro, que um dia Jesus Cristo ressuscitará, e iluminará os políticos. Talvez possamos receber alguma ajuda dos intelectuais do PT que já o abandonaram. Não sobrou nenhum, prova de que o PT não é um partido de “ideologia política”.

Até lembra a antiga oração: “Deus... Convertei a Rússia”... E como a Rússia não se convertia, a Rússia viu o fundo do poço de seu capital, ficou sem dinheiro e se converteu!...

Que venha logo o fundo do poço. Vamos lá, PT...Mostra-nos o fundo do poço, para podermos logo recomeçar a resolver a nossa vida como cidadãos democratas, livres, construindo o Brasil do futuro e não do passado masoquista da esquerda "ideotógica"! Uma grande demonstração de inconformidade seria a ausência maciça às urnas, tirando do governo a força da representatividade.

Rui Rodrigues

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Feminino masculino ou as histórias de Hatshepsut e Joana.


Feminino masculino ou as histórias de Hatshepsut e Joana.

Pasmem, senhoras e senhores, com a história que lhes vou contar, pois que tem mais de verdadeiro do que possa parecer, e que em tudo sendo verdade, não faltará quem a recrimine por lhe balançar a fé, mas também que, a analisarem a fé, verão que o que os olhos não podem ver e a mente avaliar, por fé se poderá entender o que se desejar, assim a alma se sinta confortável, prescindindo-se da veracidade. Mas esta história é verdadeira, e há que rever a intrincada urdidura do tecido da fé para se entender porque razões plausíveis não poderiam as mulheres, desde o começo dos tempos, terem sido iguais aos homens em tudo, poupando-nos milênios de discussões fúteis para gáudio de enriquecidos advogados. A palavra aos senhores dos “livros sagrados”. Aos leitores, o meditar sobre “como se interpreta este mundo”, e o que realmente vale a pena, quer no passado, quer no presente.


  1. Num deserto poeirento em 1482 AC.

 Vista aérea das pirâmides de Gizé
O sol escaldante do meio dia fazia arder a pele. Quem podia desfrutar de sombra em suas casas, da temperatura amena de seu interior, eram poucos. Muitas tinham jardins, pequenas fontes ornamentais de água que refrescava e relaxava. Nestas, seus proprietários dormiam a sesta. As outras eram simples, e só tinham mulheres, crianças e velhos sufocados pelo calor. Os homens geralmente estavam trabalhando na fabricação de tijolos, construção de pirâmides, na lavoura, exercitando-se para a guerra. Mas não nos templos e nos palácios, onde a riqueza e o bom gosto na decoração eram a representação do paraíso. Comum a todas, a preocupação: Tutmés I, seu faraó, havia falecido recentemente. Era necessário substituí-lo ao final das cerimônias de enterro, e havia um grande problema para a fé egípcia: Tutmés I só foi aceite como faraó por ter casado com a irmã de Amen-Hotep I, Ahmose, sendo ele mesmo filho de Amen-Hotep com uma concubina do pai, não sendo assim seu sangue tão puro como deveria ser, embora fosse aceitável. Para os egípcios, os faraós tinham uma ascendência divina, sangue de deuses, que não deveria ser conspurcado. A aceitação de sangue menos puro se dava geralmente por falta de sucessor que tivesse feito um filho homem com mulher ambos descendentes de faraós. O sangue dos faraós egípcios precisava ser purificado o mais breve possível, através do casamento de uma de suas duas filhas, ou de um dos seus dois filhos. Mas não era tão simples assim.
                 Hatshepsut Faraó egípcia
Nos templos, por todo o Egito, e pelos lares, não se falava em outra coisa: A sucessão do trono. Os sacerdotes de Amon não perderam muito tempo e resolveram apoiar Tutmés II. Para resolver o problema, bastava que Hatshepsut casasse com seu meio-irmão, ele um pouco mais jovem do que ela que tinha entre 14 e 17 anos, mas para uma esperança de vida de cerca de 35 anos, era considerada como uma mulher adulta. Então casou e se deitou com seu meio-irmão de quem foi esposa “principal”. A esposa secundária era Mutnefert, a quem Tutmés II fez um filho, o futuro Tutmés III, bastardo como o pai, mas que já nessa época, pelo que podemos entender, não tinha nada de pejorativo: Os bastardos apenas ficam em segundo plano na sucessão de tronos ou na divisão de heranças. Não se sabe ao certo quando o termo “concubina” deixou de ser aceite nas sociedades modernas e passaram a ser “a outra”, mas pelos vistos, as sociedades antigas curtiam concubinas como se fossem “as outras”, e certamente também não poderiam garantir de quem era o filho, se dele ou dos “concubinos” das “outras”, porque não existia ainda o exame de DNA. A humanidade é promíscua desde o tempo de Adão, mas somos muito lentos para aceitar que sim, que isto é verdade. No dicionário o termo “concubino” nem existe, o que é uma falha machista de primeira ordem.     

E Hatshepsut se deitou com o meio-irmão e tiveram dois filhos. Ele teve três: Neferure e Neferubiti (duas moças) e Tutmés III, este com a “outra”. Tutmés II durou pouco como faraó. Apenas cerca de 03 anos para uns historiadores e para outros 13, e logo após a sua morte, o Egito voltou a ter a mesma preocupação: Quem governaria em nome de Tutmés III, filho de uma concubina? Os sacerdotes não tinham dúvida alguma, e ajudaram com suas prédicas nos templos, para que Hatshepsut fosse aclamada regente até a maioridade do enteado, o filho da “outra”. A certeza dos sacerdotes em apoiá-la residia num fato sólido: Tutmés II tinha uma constituição fraca e não sabia governar. Na realidade, durante seu reinado, quem reinou mesmo fora Hatshepsut, sufocando uma revolta na Núbia, acabando com o reino do Kush, e outra de beduínos ao sul da Palestina.
 Hatshepsut
Era a primeira vez que uma mulher governava, de fato, a maior potência do planeta, algo como os EUA de hoje. Por isso foi “devagar” na administração. Quando se sentiu mais forte, logo após a morte de Tutmés II que se apressou a legitimar a sucessão de seu filho bastardo em testamento para impedir a ambição de Hatshepsut, assumiu uma nova postura: Aplicou em seu queixo feminino as barbas postiças que todos os faros usavam, como costume, e passou a usar roupas masculinas. Tanta determinação e desembaraço, certamente lhe deu a condição, como filha dos deuses, de ter seu próprio harém de mancebos, porque não se pode explicar que passasse a usar barba postiça e roupas masculinas, se não tivesse seu próprio harém. A menos que tivesse passado a ser, não só a primeira faraó mulher da história como também a primeira faraó lésbica. Mas parece que não. Ela gostava mesmo era de homem. Administrou muito bem o Egito, assumindo mesmo, com o apoio dos sacerdotes de Amon, o título de faraó.

Fez um ótimo governo, diferentemente de Dilma Rousseff, porque nunca se deslumbrou com o poder, nem precisava atender aos pedidos de nenhum crustáceo analfabeto que nunca trabalhou na vida[1]. Durante os 22 (vinte e dois) anos de seu reinado, o Egito conheceu enorme prosperidade econômica paz em todo o reino.
 Múmia de Hatshepsut
Um brinde a Hatshepsut, que antes de acabar seu reinado, trocou seu nome para Maatkare (Ma’at significava a ordem no Cosmos para os egípcios). Morreu de uma infecção na gengiva. Os dentes eram um problema. Ramsés III, o grande faraó, morreu também de uma infecção dentária.


  1. A papisa do Tarô num nebuloso dia do ano de 855 DC.
 Arcano do Tarô - Papisa
O Tarô é um baralho especial que não tem naipes. Tem arcanos, que resumem propriedades da idiossincrasia humana, ou fatos mais correntes do dia a dia. Acreditam os especialistas que, ao embaralhar as cartas e dispondo-as segundo agrupamentos pré-estabelecidos, o consulente transmite seus segredos, sua vida ao baralho que então, ao ser lido apropriadamente, revela os segredos que se deseja saber. Uma dessas cartas, um arcano, é a papisa, e significa por ela mesma a sabedoria, o conhecimento, a intuição e a chave dos grandes mistérios. Mas isso tem uma razão, já que neste mundo nada é por acaso nem o próprio mundo foi feito por acaso: A certeza desta afirmação é que seria necessário muito acaso para que o mundo fosse apenas uma casualidade. Neste mundo de incertezas, com muita ou pouca fé, muitas vezes ficamos em cima de um muro imaginário sem podermos decidir para que lado deveremos cair. É o caso da história da papisa que originou o decano do Tarô. Uns dizem que realmente existiu e mostram até documentação de fontes fidedignas. Outros dizem que nunca existiu e que é apenas uma lenda, mas das duas uma: Ou o eleito era afeminado ou extremamente frouxo na administração, ou a papisa foi eleita.

Capa do livro de Lawrence Durrell - A papisa Joana 
Naquele ano de 855 DC a igreja católica tinha muitos problemas. Desde o ano 200 DC, data em que o Papa Natálio foi considerado antipapa por se opor ao Papa Zeferino - com quem posteriormente se reconciliou - até o ano 855, nada menos do que 14 papas tinham sido considerados antipapas. O ultimo deles exatamente naquele ano de 855. Era o papa Anastácio III por oposição a Bento III, que sucedia a Leão IV. Morreu envenenado pelo próprio clero de Roma. A história da eleição dos papas sempre foi conturbada até recentemente, pontilhada de assassinatos de cardeais candidatos, de compra de votos, de eleições por pressão de imperadores de potências internacionais, de outros interesses alijados da fé que por duas vezes já obrigaram papas a renunciar. Alguns foram “eleitos” por pressão de populares.

Mas, o curioso daquele ano de 855 e os três seguintes, é o fato de Anastácio III ter governado até ser considerado antipapa. Nem seu antecessor, nem ele, nem Bento III teriam nada de afeminados, a julgar por suas obras, época em que os Papas tinham exércitos e combatiam o povo muçulmano. Contudo sabemos como é a plebe, como todos nós somos quando não gostamos de alguém: Atacamos nos predicados morais, físicos, intelectuais, em que se julgam mais fortes. Então, a partir de algum momento, por estes anos a notícia começou a correr de boca em boca e se tornou lenda: O papa era uma mulher! Mais exatamente, Joana. Referir-se-ia o povo a Anastácio III?  Mas há uma outra história, segundo a qual, Joana, nascida como Giliberta em Constantinopla, ou em Mainz, na Alemanha, e neste caso, filha de pais ingleses, se teria apaixonado por um monge a quem seguiu até a Grécia e depois até Roma. Ilustrada, com conhecimentos de teologia e filosofia, usava roupas masculinas e tornou-se cardeal com o nome de Johannes Angelicus, (de Ângelo, anjo, bento), o que até poderia levar a supor, pela forma critica da plebe, que identificavam o papa Bento, que sabemos ter sido realmente muito calmo, de falas mansas, boa gente, como a papisa Joana... Esta teria sido desmascarada numa procissão entre o Coliseu de Roma e a Igreja de Roma, quando deu à luz uma criança que seria filho - ou filha - de um guarda suíço. Teria sido morta por apedrejamento.

Mas neste caso, não importa se há ou não verdade (e parece que não há) nesta lenda. O que importa é o “subconsciente coletivo” da “populaça”... O que teria de errado uma papisa na igreja? Não havia mulheres no meio reclamando do fato de terem sido enganados e em vez de Papa terem uma papisa? E se olharmos mais pela realidade, isto é, não havia nenhuma papisa e se tratava de “crítica” a um papa existente, então há muito mais coisas para se colocarem em cima da mesa, principalmente dogmas, conceitos, preceitos, preconceitos e até onde a Igreja tem realmente o poder que apregoa sobre seus “fieis”...

Mas voltando ao feminismo masculino de Hatshepsut e da papisa Joana, é de pensar... Quantos séculos foram necessários até que mulheres fossem aceitas como governantes? E quantos mais serão necessários para que possam ser papisas?


Rui Rodrigues

Se desejar, assista o filme “A papisa Joana”, grátis – legendado, em:http://www.onlinefilmes.net/assistir-a-papisa-joana-legendado/



[1] O povo brasileiro sabe muito bem quem é o crustáceo que nunca trabalhou, que tem aposentadoria gorda, participou do mensalão e ainda ganha outra por não ter um dedo que perdeu numa época em que tinha fama de beber cachaça. Dizem que ele perverteu a ordem no Brasil, sufocou o progresso e que indicou a Dilma.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

O semeador de painço de olhar perdido nas estrelas


O semeador de painço de olhar perdido nas estrelas




plantação de milho paínço 

Nas planícies do Oriente Médio, há cerca de sete mil anos atrás se cultivava o painço[1] , uma espécie de milho, a única conhecida. O pão dos egípcios e desse povo todo que constituía a humanidade, era feito de farinha de painço. Havia planícies cultivadas com este cereal por toda a China, Oriente Médio até o mar de Aral, e também no Egito e na Mesopotâmia. A humanidade não conhecia outro tipo de milho. Por entre os cultivos crescia a papoula, uma planta daninha que reduzia a produção de painço. Era preciso separar este joio[2] do painço. Depois veio o trigo e também do trigo era necessário separar o joio. Muito do joio era de papoulas que invadiam os campos.

Zarath nasceu perto do mar de Aral, numa vila com casas de adobe por volta do ano 1.700 AC. Seu pai deu-lhe um camelo (Ushtra) quando ele tinha ainda sete anos de idade. Era precoce, um menino diferente dos outros. Fraco, magro, tinha o olhar perdido nos astros pela noite, e durante o dia seu olhar continuava perdido no céu como se os pudesse ver mesmo com toda aquela luz ofuscante do Sol. Logo começaram a associar Zarath ao camelo que sempre o acompanhava[3]. Incompreendido em sua aldeia e em sua família, sem servir para nada de útil, logo percebeu que seu lugar tinha que ser longe da sociedade, das pessoas que viviam no lugar onde nascera. Aos vinte anos passou a viver numa caverna. Ali perto não havia propriedades cultivadas. Com a ajuda de seu camelo passou a plantar seu painço numa das margens do rio. Nunca comeu carne.
                          Criação de papoulas no Afeganistão 
Zarath tinha que separar o joio - as papoulas - do painço em sua cultura, e o fazia no começo da primavera quando as plantas já têm estatura suficiente para que se possam diferenciar umas das outras. Já ouvira falar dos poderes da papoula, mas não a experimentara. Sabia dos sacerdotes e de seus pais que poderia ver os deuses que os sacerdotes também viam se os usasse, mas teria que estar preparado, porque somente o poderia fazer uma única vez em toda a sua vida. Se isso se tornasse um hábito seria tomado pelos demônios que jamais o largariam. Eram conselhos de sacerdotes egípcios, iranianos, judeus. Todos sabiam que o poder da papoula dominava a vontade dos mortais e os reduzia a um lixo que se deteriorava pelas esquinas das ruas, pelos campos, rejeitados por toda a sociedade.

Havia mais de dez anos que saíra de casa de seus pais para se confinar à caverna. Ficaria lá até que sua mãe o viesse buscar. Mas nunca voltou. Chegar aos trinta e cinco anos era difícil naqueles tempos. Zarath sabia disso. Ou se morria por armas de exércitos ou de bandidos, por febres, feridas que se transformavam em pústulas, por acidentes fatais. Era muito difícil chegar aos trinta e cinco anos, e embora alguns vivessem muito mais do que isso ficavam velhos, de cabelos brancos aos trinta. As águas de nascente pertenciam aos grandes senhores aquemênidas, e a água que se consumia era de poços que muitas vezes eram poluídos pelas fossas das casas, e trabalhava-se desde o nascer do dia até o chegar da noite. Os dias de verão eram os mais difíceis pelo calor do sol e pela duração dos dias, bem mais longos do que as noites, quando mais se trabalhava.  Sobretudo, o que incomodava Zarath era a forma como o descriminavam por estar sempre com o pensamento longe da realidade. A sociedade e principalmente sua família não o aceitavam dessa forma. Queriam um Zarath concentrado na realidade, nas coisas da vida.
                Ahura Mazda
Em sua trigésima primavera resolveu comunicar-se com os deuses, como o faziam os sacerdotes.  Buscava as razões da vida, algo que explicasse o mundo em que vivia, a justiça. Numa tarde, depois da hora do almoço, quando o Sol estava a pino, recolheu a seiva dos bulbos das papoulas nos quais fizera incisões dois dias atrás. Era uma seiva branca que logo ficara marrom. Depois enchera uma pequena taça de argila e levou um pedaço recolhido com o dedo à sua boca. Era um gosto amargo. Ficou olhando a sua seara verde, ainda palmilhada de papoulas, para lá das margens do rio onde se encontrava, perto da caverna. Esperava os deuses. Sentiu uma onda de felicidade, muito maior do que a que o vinho lhe costumava dar. E então o viu e ele lhe falou. Disse chamar-se Ahura Mazda. Era brilhante, como uma névoa branca em meio a brancos raios de luz. Mas não era nenhum dos deuses conhecidos. Este era diferente: Sorridente, paternal, transmitia confiança, tinha o límpido e firme olhar dos justos fortes. Só um deus poderoso poderia ser calmo, tranqüilo, sem se arrepender de sua obra. Viu-se então transportado para um lugar muito belo onde o esperavam sete seres magníficos. E lhe disse que tudo o que precisava saber estava dentro dele mesmo. Bastava olhar o mundo à sua volta, e perceber seus movimentos e suas razões. Então lhe indagou da razão de ter sido escolhido para essa conversa, e ouviu como resposta dos sete seres em coro que era porque Zarath tinha boas ações, bons pensamentos e boas palavras. Nos sete dias seguintes limpou todo o joio do painço. Jamais deixaria de plantar[4]. Então Zarath pegou em suas coisas, saiu da caverna e voltou para casa, para a aldeia. Vinte e dois [5]o seguiram, convencidos de suas palavras. Os outros queriam matá-lo por ter um novo deus e acharem que os seus se podiam melindrar. Nem repararam que Zarath usava como base os mesmos deuses que então faziam parte do panteão aquemênida, herdados dos indo-arianos, conforme o Rig Veda: os ahuras, do bem, e os daivas, do mal.

Perdeu dois anos tentando convencer Vishtaspas, rei da Báctria, no atual Afeganistão, a seguir a nova religião com o deus único que descobrira, Ahura Mazda, e nos anos seguintes toda a região a adotava. Por essa época já o chamavam de Zaratustra[6], o menino do camelo. Os gregos o chamavam de Zoroastro, o homem que observava os astros. Um livro sagrado foi escrito: O Avesta, do qual fazem parte 16 versos, os Gathas, a parte mais importante do livro.  Como era comum a todos os sacerdotes, também Zoroastro precisava comunicar-se com Ahura Mazda. Aproveitava para fazê-lo na primavera, quando o joio das papoulas invadia as suas plantações de painço. E foi assim que começou a alargar o seu panteão, segundo o qual Ahura Mazda passou a ter deuses menores, exércitos de anjos no céu. Já não era único, porque não se bastava a si mesmo. Precisava de pequenos deuses, exércitos de anjos. Zoroastro acabara por admitir que havia algo neste mundo que dificultava a “vida” do deus único: Era o mal, Arimã, representado por uma entidade na forma de serpente que descobriu através de seus transes com a seiva da papoula, o joio do painço. Anjos guerreiros, depois de mais algumas mascadas de seiva de papoula se transformaram em pequenos deuses, os Amesha Spentas.
                      fumando tabaco
Se alguém quiser seguir os passos dos sacerdotes antigos, dos quais nem os pacíficos egípcios escaparam, basta ir num campo de trigo, milho, ou painço, pela primavera, extrair a seiva dos bulbos de papoulas, mascar e passar uma semana nisso. Verá coisas horripilantes mas também paraísos com sete virgens que esperam heróis, virgens gays que esperam heroínas, mancebos que esperam heróis e mancebos que esperam heroínas. Verá de tudo. Sacerdotes que fumavam tabaco descobriram Manitu; os que tomavam o Peyote, que dá ondas terríveis, macabras, descobriram que era o Sol o deus a adorar, ávido por corações humanos pulsantes depois de extraídos do peito dos fiéis. Quem fumava maconha descobriu os deuses dos Vedas.

A Torah judaica seria compilada e estabelecida quase mil anos depois do Avesta pela época do profeta Josias, e certamente deve ter sofrido influência, porque até então o povo judeu não tinha uma noção assente, solidificada, sobre o monoteísmo. O cristianismo, baseado na Torah e no monoteísmo, também evoluiu tal como o Zoroastrismo, para um panteão de santos e imagens. Enquanto viveu Zoroastro foi lançando sementes de seu painço. Somente vingaram as que foram lançadas no Irã, mas por pouco tempo. Outras religiões chegaram à região. Hoje persiste ainda em reduzidas comunidades da Turquia (zerviches) que ainda vêm Ahura Mazda quando dançam com sua roupa branca, rodopiando a cabeça e o saiote até ficarem em transe.

Rui Rodrigues.



   






[1] Sobre as características do painço, ver em http://vidaequilibrio.com.br/painco-conheca-os-beneficios-desse-cereal
[2] Nos tempos de Jesus também de separava o joio do trigo.Mas então se cultivava mais o trigo do que o painço.
[3] Zarath passou a ser conhecido como o “Zarath do camelo” ou Zaratustra. Quando os gregos souberam de sua existência o chamaram de Zoroastro, o menino que observava os astros.
[4] Os seguidores de Jesus, os apóstolos, largaram o trabalho que tinham. Zarath achava que se podia evangelizar e também cultivar o sustento. Uma atividade não prejudicava a outra.
[5] Jesus tinha 12 apóstolos. Boa parte era de familiares.
[6] Zaratustra foi casado duas vezes e teve vários filhos. Faleceu aos setenta e sete anos assassinado por um sacerdote.